Manuella mal entrou na sala de aula e as amigas já perceberam que algo estava errado. As olheiras e o aspecto sombrio da vocalista preocupou principalmente Cínthia, que era a mais chegada de todas.

– O que aconteceu? – perguntou baixinho.

– Te conto na hora do recreio. – Pierrot murmurou sem muito ânimo.

– E a Naná que não chega! – comentou Letícia.

– Ela foi visitar o pai. – Manu esclareceu.

– Em véspera de prova? – perguntou Bárbara usando a primeira desculpa que lhe apareceu.

– É por isso que você está desse jeito? – Cínthia perguntou num tom que somente a escritora conseguiu ouvir e tendo como resposta um aceno afirmativo de cabeça.

– Ela não me explicou direito, Babi...

– E quando volta? – Lê perguntou.

– Acho que na próxima semana.

A baterista ia fazer mais uma pergunta, porém a professora entrou na sala e começou a explicação, deixando a garota bastante frustrada.

Ela sentia que aquela história estava muito mal contada e temeu que a viagem tivesse sido apenas uma desculpa para não voltar mais.

“Será que ela está tão machucada a ponto de não querer morar mais aqui?”

Helena estava entediada. Sua volta à Florianópolis não surtira o efeito desejado. Ela continuava com a cabeça no Rio de Janeiro e nem podia se distrair com os amigos porque eles tinham aula.

Irritada, desligou o computador e resolveu ir até o Floripa Shopping olhar algumas vitrines.

Envolvida pela magia que o shopping exerce nas pessoas consumistas, ela só se deu conta de que estava com fome quando viu um casal de namorados com dois pacotes de pipoca. Após comprar um milk-shake para si, ela sentou-se na praça de alimentação e notou que era a única pessoa que comia sozinha. Sem se importar, pegou seu mp3 e continuou saboreando o seu lanche, até que o seu celular tocou lhe assustando.

Seu coração disparou ao ver que era Bárbara e ela não soube o motivo de tamanha agitação.

– Alô?

– Oi, Naná, sou eu, Babi.

– Tudo bem?

– Sim. Fiquei sabendo que você foi pra casa do teu pai. É verdade?

– É. Eu precisava ficar um pouco sozinha.

– Foi por causa daquele beijo? – a garota perguntou timidamente.

– Também... Estou tão confusa, Babs... – ela confessou.

– Queria conversar contigo pessoalmente. Quando você volta?

– Ia voltar só daqui a uma semana, mas também quero conversar contigo. Acho que volto amanhã.

– Sério? – a baterista perguntou contente.

– Sim, só não conta pra Manu por enquanto.

– Vocês ainda não se acertaram?

– Não! E acho que nem vamos nos acertar...

– Sinto muito... – a garota disse sem graça.

– Não sinta... Olha, vou ver se arrumo a passagem e amanhã passo na tua casa pode ser?

– É claro, Naná! Ficarei te esperando.

– Então tá... Um beijo, Babs...

– Pra ti também!

333

Bárbara abriu a porta da sua casa e sorriu para a amiga.

– Que bom que você veio, Lena... Entra!

A catarinense sorriu e acompanhou a outra até o quarto.

– Essa é a famosa Helena?

A guria olhou para trás e viu uma garota muito parecida com a baterista.

– Oi! Meu nome é Bruna, sou a irmã da Bárbara. – ela disse dando-lhe dois beijinhos.

– Prazer!

– A Babi falou muito de você.

– Falou? – perguntou sentindo a face corar.

– Dá um tempo, Bruna! – a baterista interveio. – Vem, Naná, não liga pra ela... – comentou olhando feio para a irmã que sorria divertida e fechando a porta do quarto.

– Como foi a viagem? – questionou tentando acalmar o coração acelerado.

– Foi boa porque revi meu pai e o meu irmão, mas meu pensamento não saiu aqui do Rio. – disse enquanto olhava para o quarto e se sentava na cama da outra.

– Não repara na bagunça...

– Ah, não se preocupe, Babs... Adorei teu quarto! Ele é bem acolhedor e bonito!

– Então ele é como você...

Helena olhou para a carioca um pouco envergonhada, porém deu um pequeno sorriso demonstrando que gostara do elogio.

– Você vai no ensaio de hoje?

– Não sei... Não queria ver a Manu... Ainda não estou preparada...

– Você gosta muito dela, né? – perguntou tristemente.

– Eu e ela nunca daremos certo. Somos muito diferentes...

– Desse jeito você me dá esperança. – gracejou a baterista apontando para as roupas que as duas usavam.

A catarinense sorriu.

– Gosto tanto de te ver sorrir... Você fica tão linda quando não está triste...

A guitarrista sentiu o rosto começar a pegar fogo devido à vergonha e abaixou a cabeça.

Bárbara tocou o queixo dela para que seus olhos se encontrassem, esquecendo completamente o que ia dizer ao ver a feição da garota, passou a acariciar a sua bochecha.

– Eu te amo tanto... Tanto... – sussurrou antes de encostar levemente seus lábios nos lábios da amiga.

As duas se olharam e Naná resolveu que apenas ela poderia tomar um decisão. Seguindo o seu coração, deu um pequeno beijo na garota, um beijo que logo ficou mais quente, deixando-as ofegantes.

Somente quando o ar faltou as duas conseguiram se separar...

– Você é tão perfeita Naná! – disse Babs encantada.

– Não quero te machucar... Ainda sinto alguma coisa pela Manu...

– Sei que posso te fazer esquecer... Apenas me deixe tentar...

– E como tu vai fazer isso?

– Pra começar, te pedindo em namoro e não aceitando um não como resposta! – disse com um largo sorriso.

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Foi com uma sensação de alívio que Manuella viu a catarinense aparecer no ensaio.

– Olha quem voltou pro Rio... – comentou Letícia contente.

– Vocês duas vieram juntas? – Cínthia perguntou num tom indecifrável, depois de trocar um olhar imperceptível com a vocalista.

– Sim! – Bárbara respondeu sorrindo. – Ela estava na minha casa.

Pierrot fingiu ver um problema no pedestal do microfone para que ninguém percebesse como aquela frase tinha lhe atingido. Sentiu como se, de repente, houvesse um buraco em seu estômago e fechou os olhos. Ela não estava gostando nem um pouco do rumo que seu coração seguia. Por mais que gostasse de Colombina, sabia que aquele relacionamento não duraria para sempre. Essa certeza lhe dava forças para agüentar a frieza da amiga, mas se era assim por que o ciúme insistia em cegar a sua razão?

– Vamos ensaiar? – a voz de Naná ecoou atrapalhando os seus pensamentos.

– Tá na hora mesmo. Hoje preciso ir mais cedo... – lamentou a tecladista.

– Tudo bem, Mamá? – a baixista perguntou baixinho.

– Sim, Cínthia. Não se preocupe. – a garota respondeu olhando para a baterista que comentava qualquer coisa com a catarinense, fazendo-a sorrir, e voltando a sentir aquela dor tão incômoda no estômago.