Ilusões, Tentativas e Recomeços escrita por gataportuguesa, Darknana


Capítulo 11
Capítulo 11


Notas iniciais do capítulo

O nosso muito obrigada à Sara Lecter que escreveu grande parte desse capítulo (fizemos algumas alterações, mas a base continua a mesma, tá, Sara?)...



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/8753/chapter/11

Letícia e Cínthia continuavam as mesmas, apesar de perceberem o “triângulo” que estava se formando entre as amigas.

E foi no meio dessa pequena confusão que os ensaios continuaram e que Colombina passou a prestar mais atenção na quase vizinha.

- Tu tem algum problema comigo? – ela perguntou para a baterista enquanto elas voltavam do último ensaio antes do feriado.

- Não. Por quê?

- Porque tu sempre me trata mal.

- E você se importa com isso? – perguntou rispidamente.

Helena a olhou magoada, lhe fazendo ficar arrependida.

- Se não me importasse não estaria perguntando.

- Não quis ser grossa, me desculpe. Estou com uns problemas lá em casa.

- Foi só por isso que tu ficou o caminho todo em silêncio?

- Sim. – mentiu Babi se encolhendo por causa do frio.

- Por que tu não sobe um pouco? Minha mãe está em casa e gostaria de te conhecer, além do mais, tu está morrendo de frio. Posso te emprestar um casaco.

A baterista resolveu assentir. Já recusara tantas vezes que não tinha mais nenhuma desculpa.

- Ainda acho que tu tem alguma coisa contra mim. – a catarinense comentou entrando no elevador.

Babi preferiu ficar em silêncio e a guitarrista acabou esbarrando num botão fazendo o elevador parar.

- Tá vendo, garota! Culpa sua! Se não fosse cheia de frescuras querendo me apresentar pra tua mãe e me emprestar um casaco eu não tinha ficado presa aqui contigo!

- Se não queria subir por que não foi embora? Tu veio porque quis e não tenho culpa se tu sente frio. Praticamente fui obrigada a te emprestar o casaco porque não quero te ver doente atrapalhando os ensaios, então pára de me encher. – despejou.

- É incrível! Você não faz nada direito garota e quer falar de mim? Você não toca direito, não anda direito, não fala direito e nem pegar um casaco sem arranjar problemas consegue. Se eu fosse você já tinha me matado.

A discussão continuou e Babi foi se aproximando aos poucos, deixando a catarinense completamente encostada no fundo do elevador. As duas nem perceberam que o elevador voltara a funcionar e quando estavam quase se beijando, a porta abriu, fazendo com que elas percebessem o que estava quase acontecendo.

Naná tratou de ir para o corredor o mais rápido possível e Babs tossiu disfarçando o constrangimento.

A mãe da catarinense percebeu o clima estranho entre as duas, porém nada comentou.

– Essa é a Bárbara, mamãe.

– Olá, d. Heloísa.

– Prazer em te conhecer, mas não me chame de dona. Me chame de Heloísa.

A baterista sorriu e uma pequena conversa se desenrolou.

Quinze minutos mais tarde, vendo que Helena não falava nada e já não tendo mais assunto, Babi decidiu ir embora.

– Foi um prazer, Heloísa. Muito obrigada pelo suco e obrigada pelo casaco, Naná.

– De nada, minha querida. Volte quando quiser.

Ao ficarem sozinhas a mãe repreendeu a filha:

– Por que tu ficou em silêncio? Aconteceu alguma coisa entre vocês?

– Não. Não houve nada. - a garota disse indo em seguida para o seu quarto.

Não conseguia deixar de lembrar que quase beijara Babs. Não entendia como sentira uma vontade quase incontrolável de grudar sua boca à dela. Gostava tanto de Manu, a cada dia via que a vocalista estava mais envolvida e ficava muito feliz por isso, no entanto, também não podia negar que Bárbara mexia com ela e isso lhe incomodou.

O telefone tocou assustando-a.

– Oi, Colombina! – a escritora falou com animação. – Preparada para a aula de amanhã?

– Oi, Manu. Tou sim e tu?

– Quando você vai deixar de usar o “tu”? – a mais velha perguntou zombeteira fazendo a outra rir.

– Vou tentar... - respondeu aérea.

– Olha, antes que eu esqueça, vai ter um ensaio amanhã às oito da noite lá em casa, tudo bem?

– Tudo sim.

– Ótimo! Leva a tua guitarra pra praia. Quero ter minhas aulas por lá.

A catarinense deu uma gargalhada.

– Quando você vai desistir de aprender? Você não tem nenhum jeito! Nem segurar a guitarra direito você consegue. – falou dando ênfase à palavra você.

A carioca riu. Naná sempre conseguia fazê-la sorrir mesmo quando estava lhe criticando. Seu jeito de dizer as coisas era tão espontâneo que a mais velha não conseguia deixar de ficar admirada.

Conversaram mais um pouco e quando a catarinense se deu conta, já estava sentada na praia, ao lado da vocalista e totalmente absorta em seus pensamentos.

Olhando para as ondas do mar, Helena teve a dimensão de que se acostumara ao Rio de Janeiro quando percebeu que perdera boa parte de seu sotaque catarinense, fazendo questão de manter apenas o suficiente para conferir às suas frases um toque de charme que agradava suas novas amigas. Era pitoresco ser a “guria” da banda e foi naquela nova identidade que ela descobriu seu lugar, muito embora tivesse antes disso perdido algumas noites de sono receando estar abandonando sua originalidade para se tornar uma pessoa completamente vazia. A guitarrista só se conformou com as mudanças que percebia em si mesma quando se determinou a fazer com que elas lhe tornassem uma pessoa melhor e em última análise era o que ela se sentia, principalmente quando estava com Manuella.

As aulas de guitarra que compartilhavam às vezes depois dos ensaios da banda, ou na casa uma da outra, ou ainda em qualquer lugar que resolvessem, acabaram por torná-las ainda mais próximas do que eram desde que descobriram o interesse “literário” que as unia, mas a catarinense sabia que sempre haveria um abismo as separando: Pierrot era uma amiga cada vez mais engraçada, compreensiva, presente, carinhosa... Mas era cada vez mais, “apenas” uma amiga e embora Naná tentasse mentir para si mesma, aquilo a sufocava e a fazia sentir uma culpa terrível tanto pela pressa de fazer com que ela esquecesse a Roberta quanto pela intimidadora constatação de que não importava o quanto a carioca se mostrasse uma companheira leal para todas as horas... Não era aquilo que ela queria e nunca seria o suficiente. Sentia-se mal agradecida, tinha vergonha de não aproveitar a própria sorte.

Era em uma dessas ironias que ela pensava, quando Manu chamou seu nome pela quinta vez, impaciente.

– Guria, em que mundo você está? Como é mesmo esse acorde?

– Que acorde?

A carioca largou a guitarra que usavam nas “aulas externas” – como elas chamavam – sacudiu a areia que se prendera em sua roupa e começou a se afastar.

– Esquece, a minha total ignorância para os instrumentos deve ter cansado você. – disse tristemente.

– Manu, espera, volta aqui. Desculpa, eu me distraí.

– Pela décima sexta vez em meia hora. O que deu em você? – perguntou a carioca, parada diante dela.

– Nada, não é nada.

– Ótimo, se você não pode confiar em mim, não tenho mais nada a fazer aqui.

– Estou com saudades do sul, do meu pai, do antigo colégio. – mentiu, depressa, falando a primeira coisa que lhe veio em mente.

Manu analisou cada detalhe da expressão da amiga e voltou a se sentar do seu lado, encarando o mar.

– Não posso dizer que sei como você se sente. Meus pais até têm os problemas deles, mas me deixam fora disso e sei que nunca brigaram pra valer.

– Algumas pessoas nascem para passar a vida inteira juntas... – disse a catarinense, deixando a vocalista pensar sobre a frase por quase cinco minutos, silenciosamente.

Helena percebeu que a praia começava a esvaziar mesmo antes do pôr-do-sol, que para ela era o melhor momento do dia.

– Você acredita nisso? – a vocalista quebrou o silêncio.

– Acredito. – respondeu sinceramente, não podendo evitar que seus olhos encarassem os da outra garota como se fossem sugados por eles. – E você? – emendou, inclinando seu rosto em direção ao da amiga.

– Eu também. – respondeu Manu, mas Naná pôde apenas ouvir, pois seus olhos já estavam fechados e seus lábios se aproximavam dos da outra sem qualquer hesitação. – Eu sei que Beta e eu nascemos uma para a outra e só a morte conseguiu nos separar.

Como se todo o mar fosse derramado sobre sua cabeça, Helena abriu os olhos e se levantou tão depressa que seus joelhos estalaram. A escritora percebeu imediatamente que a magoara profundamente, embora não conseguisse sentir culpa por ter sido absolutamente sincera.

- Espera, guria! – exclamou, recobrando o senso de realidade e correndo para alcançar a amiga.



Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!