Entrei primeiro que o meu amigo no quarto. Minha meia estava deslizando no assoalho e eu não sei como não cai de bunda no chão com toda essa correria.

-Hey! –disse olhando para Andréas, que quase caiu encima de mim quando chegou.

-Foi mau Bill! Mas você também, para no meio a porta! –ele se zangou comigo.

-Estamos em território inimigo! Qualquer movimento pode custar a sua vida! –disse me abaixando delicadamente.

-Qual é Bill! Você não é o 007! E isso daqui é o só o quarto do Tom! O que pode ter demais no quarto de um idiota de 13 anos?

-Fiquei quieto! –olhei ao redor para ver se tinha alguma armadilha.

-Bill, o Tom é esperto, mas nem tanto! –Andréas foi entrando e se sentando na cama, enquanto eu ainda estava agachado ao lado dela.

Levantei-me e bati a mão na minha blusa: - Parece que a barra ta limpa!

-Ai Deus! Por quê?  -meu amigo olhou para cima, parecendo questionar algo ao criador.

-Cala boca Andréas! Depois você reza! Temos que procurar alguma prova! –me virei e comecei a vasculhar as coisas do meu irmão.

Meu amigo se levantou e abriu a primeira gaveta do criado mudo do Tom.

-Parece que o seu irmão tem um diário! –ele balançou o caderno. Andréas era um bom espião, mas não tanto quanto eu!

-Você achou! Pode ser útil! –tomei o caderno das mãos dele.

-Mal educado! –ele disse se sentando na cama de novo.

-Vejamos... –abri o caderno e algumas folhas caíram no chão. –Pega Andréas! Pega!

-Não sou cachorro para você falar assim comigo, e nem se eu fosse eu não ia pegar! Isso é um papel e não um osso! –ele cruzou os braços sob o peito e fez um bico realmente engraçado.

-Deixa que eu pego então! –me abaixei e juntei algumas das folhas com mão direita e as coloquei dentro do caderno, sem dar muita importância ao conteúdo delas.

Folhei o tal caderno e vi que o Tom escrevia sobre cada coisa que acontecia com ele. Não acreditei que ele tinha escrito sobre a nossa...

-Bill, o que é essa tal brincadeira que o Tom tanto fala nessa folha? –Andréas pegou uma das tantas folhas que voara no chão e a aproximou de seus olhos.

-Hãm?  -fechei o caderno e me sentei do lado dele.

-É! Uma brincadeira de coelho e raposa! O que é isso? –ele me olhou.

Não consegui acreditar que o Tom tinha escrito isso nesse diário! Não brincávamos disso a mais disso havia anos!

-Bill! –meu amigo passou a mão na frente dos meus olhos, como se me chamasse de novo para a realidade.

-Hãm? Que Andréas? –despertei desse estado de transe que havia entrado.

-Que brincadeira é essa? Eu quero saber! –ele segurava o papel em uma das mãos.

-Não é nada! Eu nem sei do que você está falando! –tomei o papel da mão dele e o examinei com os próprios olhos.

-Bill você deve saber sim do que se trata! Tem o seu nome no meio!

-Não tem nada! –li o papel de novo. DROGA! O meu nome estava bem no início da frase.

-Tem sim! –ele apontou para onde o meu maldito nome estava escrito.

-Existe um milhão de Bill’s por ai! Pode até não ser eu! –respondi tentando enganá-lo.

-A letra do seu irmão é ruim, mas eu ainda consigo ler bem aqui: “Bill, meu irmão GÊMEO” - ele fez questão de dar uma entonação nessa palavra.

-Nem sei do que se trata! Faz muitos anos! Nem me lembro mais! –dobrei o papel e o enfiei no bolso da calça.

Abri o caderno de novo e fui direto às ultimas páginas que ele tinha escrito:

“Diário, incesto é crime”? Por um bom tempo eu pensei que não fosse, até que com uma pesquisa aprofundada do assunto, descobri que era! O problema é que ele não sai da minha cabeça! Eu nunca senti isso por outro alguém! O Gustav e nem o Georg sabem sobre isso, e nem devem saber! É só a você que eu conto. Pode guardar um segredo, não pode? Espero que sim!

Ontem me aconteceu algo muito estranho! O Gustav ficou me enchendo o saco na hora do recreio e acabei indo falar com a Debbie! Não paguei mico, eu acho, mas o problema é que agora, ela acha que eu gosto dela, DELA! –ele escreveu essa palavra com letra maiúscula e sublinhada. “–” Não vou negar, ela é realmente muito bonita! Como eu nunca tive nada de sério com alguma menina, talvez ela possa vir a ser a primeira! Mas nunca deixe que o Bill saiba algo sobre isso, porque se não eu nunca me perdoaria por faze-lo sofrer! Com amor: Tom”

Levei a minha mão à boca e senti algumas lágrimas começaram a cair dos meus olhos. Eu estava perdendo o meu irmão para uma tal de Debbie!

-Bill, você está chorando? –meu amigo me olhou assustado.

-Eu?  -sequei as lágrimas nos meus olhos. –Não, não! Eu só estou me emocionando com a forma como o Tom é único com as palavras! –sorri disfarçadamente para ele.

-Sei... –ele respondeu. –Mas agora temos que ir! Seu irmão vai chegar daqui a pouco! Não podemos estar aqui!

Fechei o caderno e o guardei dentro da mesma gaveta que estava. Arrumamos o quarto do meu irmão e saímos de lá sem deixar nada fora do lugar.

-Aquele caderno lhe foi útil Sherlock Holmes? –Andréas fechou a porta do meu quarto e se sentou no pufe que tinha perto da cama.

-Não sei dizer! Talvez ele tenha me preparado para uma noticia pior, muito pior! –minha lagrimas começaram a cair de novo. – Eu só não quero que o Tom me diga qual é essa notícia, porque eu acho que já sei... É eu realmente já sei qual é!