Destinos Improváveis escrita por Nara


Capítulo 80
Futuro - Natal parte II




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O almoço de natal em Hogwarts era mesmo fabuloso, Shara e Draco chegaram um pouco atrasados, não que alguém estivesse regulando horários no feriado, haviam poucos alunos na escola, mas com certeza a mesa mais vazia era a da sua casa, Shara se sentou ao lado de Carla, enquanto Draco se afastou se sentando com Grabby e Goyle mais a frente, Shara se serviu de todo tipo de comida diferente que havia ali, algumas das quais ela nunca tinha visto antes, ela levou satisfatoriamente até a boca uma colher de arroz com diversas iguarias, era tão colorido e bonito.

—Eca - ela disse, engolindo aquilo com certa dificuldade após sentir o gosto - uva passa - ela fez cara de nojo - a loira a estava avaliando, talvez ela gostasse de uva passa, sabe-se lá.

—Ele gosta de você – Carla disse a pegando de surpresa, ela falava de Draco e não das uvas passas.

—O que? Que?... claro que não – Shara respondeu corando.

—Sim ele gosta... já faz um tempo que notei – ela afirmou – se lembra daquela vez que eu... meio que tomei o colar da sua mãe – Carla disse sem graça, Shara assentiu afinal não dava simplesmente para apagar o que havia acontecido no passado entre elas… ela não havia meio que tomado, ela havia literalmente o roubado dela – ele veio até mim naquele dia, e me obrigou a entregá-lo, ele o levou consigo, e mais tarde fiquei sabendo que ele havia entregue ao professor Snape… nunca entendi o por que ele faria algo assim…– Shara encarou Draco, ele não estava prestando atenção nela ali, ela não sabia sobre isso, na verdade ela nunca soube como o colar havia parado nas mãos do professor Snape daquela forma, Shara sorriu com aquela revelação – você também gosta dele – Carla ainda a olhava.

—Eu... não, claro que não, somos apenas amigos, ele é gentil comigo e é só isso... e bem, eu sei como ele é com os outros... com os grifinórios por exemplo, e eu não posso simplesmente aceitar esse tipo de comportamento, está errado… – sim isso era de fato uma das coisas que a incomodava, embora ela não o achasse um bruxo mal, como costumava ouvir que ele era, era estranho dizer mas era como se ela pudesse conhecer seu coração assim como também de alguns outros.

—Ele é um Malfoy Shara – Carla disse como se fosse a coisa mais óbvia.

—Eu sei, e não me importo com essa coisa de sobrenomes Carla, acostume-se com isso – Shara foi enfática.

—Eu posso ver isso... mas o que quero dizer aqui é que ele foi educado assim, ele é puro sangue, de uma das famílias mais tradicionais e dessa forma... os pais dele, assim como os meus e os da maioria da nossa casa, se incomodam com os que não são e pensam diferente disso, já que prezamos a tradição - ela parecia sentir algum orgulho nisso - e você terá que entender que crescemos sob essa dinastia… e que isso não é algo que se muda da noite para o dia, sabe… pensar em qualquer coisa que seja contrária ao que estamos acostumados, simplesmente soa errado, Draco pode ter problemas… você sabe - Carla  enfatizou ao encara-la, e Shara entendeu muito bem o que ela estava tentando dozer, Draco não devia gostar dela… Shara sabia disso muito bem - além do que existem expectativas você sabe... futuras – ela sussurrou - não é como se tivéssemos alguma opção.

—Isso não faz sentido algum – Shara encarou a loira, Draco havia dito algo similar no campo de quadribol aquele dia – sempre existe opção, e essa escolha… ela deveria ser individual, sabe, não é porque seus pais escolheram seguir algo, algo ruim nesse caso… que vocês tem que sair e fazer o mesmo... ainda mais quando se trata... de Voldemort, eu já sei... vai me dizer pra não dizer o nome - Shara se antecipou notando que a loira iria interrromper - mas pense, ele matou pessoas inocentes, ele machuca todos a sua volta... todos, não foi você que disse que ele castigava seus próprios seguidores, ele não admite falhas… isso é desumano, e um imperdoável... que tipo de líder é esse? – ela perguntou para a garota que parecia pensar a respeito - só não faz nenhum sentido - ela concluiu.

—Não é tão simples... – ela disse encarando o vazio a sua frente - não como parece ao ser dito.

—Tem que ser simples… precisa ser, afinal não é por que minha mãe usava uma pantufa de cisne cor de rosa, algo horrível… que sou obrigada a fazer o mesmo – Shara riu de si mesma com aquele comentário e Carla riu também, afinal era natal, já havia tanta coisa ruim acontecendo, ela não queria estragar ainda mais o clima falando de algo tão incerto como o futuro.

—Você realmente detestou aquilo né? – ela disse de forma divertida.

— Está brincando... – Shara estava mesmo indignada – você viu aquilo… mas eu pensei em tudo, vou usar… porém farei alguns ajustes… é claro - ela sorriu, aquilo resolveria o problema.

—Ajustes? –  Carla perguntou curiosa – que tipo de ajustes?

—Primeiro… vou pintar de preto…

—Preto? Ahh vai ficar ótimo... com certeza – ela desdenhou - vai se parecer com um urubu, ou melhor um par de urubus, eu não sei como isso pode melhorar algo… francamente – Shara iria responder que não ligava, e que preto era uma cor ótima, quando ela foi interrompida pela coruja negra que adentrou o recinto, com um bilhete, destinado para ela. Era curto e incisivo “Na minha sala, agora! S.S” Shara estranhou aquele tom, ela quase podia ler aquilo com a voz grave e hostil dele... era como se ele estivesse gritando? Parecia que sim... ela olhou com espanto para a loira que esperava algo dali.

—É do professor Snape – ela mostrou o bilhete, já que não havia nada de comprometedor nele, além da sensação de que ele parecia muito bravo, e prestes a matá-la a transformando em algum ingrediente de poções… onde estavam as exceções natalinas? Ela não entendeu aquilo, o que poderia ter acontecido e o deixado assim tão furioso? será que ele a estava aguardando para o almoço? Mas se bem que ele não havia dito nada nesse sentido, ela engoliu em seco. 

—É melhor você ir logo – ela incentivou – ele não é do tipo que gosta de esperar, e dito dessa forma… "agora" – Carla tentou repetir, ao imitar com a voz dele - não me parece ser uma opção - Shara assentiu... ele havia dito sala... então ela foi até a sala de poções, ele possuía um escritório em anexo, ele certamente estaria em um dos dois lugares... a porta da sala de aula estava semiaberta e isso respondeu sua dúvida, ela sentiu seu coração acelerar, ao passar por ela.

—Com licença senhor – ela disse anunciando sua presença – ele estava organizando algo em uma das prateleiras mais altas ali, e sem sequer lançar qualquer olhar para a sua direção, ele fez um curto movimento com as mãos e Shara ouviu a porta bater com bastante força atrás de si, e os ferrolhos se moverem, ele havia trancado a sala, certo isso não podia ser mesmo bom... ela se lembrou das primeiras discussões que teve com ele, algumas delas… naquela sala… e ela sentiu seu estomago embrulhar, mas hoje era natal… ela não estava esperando algo do tipo, ele desceu a escada lentamente, e isso serviu apenas para deixá-la ainda mais nervosa.

—Diga-me Epson – ele disse com a voz arrastada, parando a alguns metros de distância dela, ela notou que ele estava usando o seu sobrenome outra vez, o que poderia ter mudado? E por que ele estava usando aquele tom de voz? -  Por que acha que mandei chamá-la? – Ela não fazia ideia e isso só tornava tudo ainda pior… Shara podia sentir seu coração saltar e quase pular pela boca, boca... boca? Ela paralisou, será que ele havia visto o beijo? Ele havia ficado muito irritado da vez passada, ela podia se lembrar da cena deplorável de Draco sendo arrastado pela orelha por toda a sala comunal, será que era isso? Afinal ninguém ficaria tão bravo assim por conta de um mero almoço que sequer havia sido anunciado... sim ele podia muito bem ter visto, afinal ela usava o colar, e agora ela sabia que ele podia localizá-la facilmente quando ela o estivesse usando, será que ele a havia seguido? Isso era mesmo muito ruim... já que dessa vez não havia sido um simples selinho… ela corou imediatamente ao se lembrar do beijo – responda – ele exigiu sério.

—O senhor... viu? – ela perguntou em pânico, ele arqueou uma sobrancelha, ela estava completamente constrangida agora, aquilo era algo tão pessoal... ela se sentia completamente exposta… mas ele não parecia ter entendido sua pergunta.

—Do que está falando Epson? – ele pediu, ele estava a analisando de maneira curiosa, então ele deu a volta pela bancada principal, como quem fosse encurralar e atacá-la a qualquer momento, e aquele movimento fez suas vestes se moverem de forma ainda mais intimidante, ela sentiu medo, naturalmente, mas se manteve firme.

—Do que o senhor está falando? – ela devolveu tremula... agora ela estava mesmo na dúvida, e ele sorriu com o canto da boca.

—Interessante – ele usava ironia – com o que mais devo me preocupar? – ele perguntou - além é claro do fato de que você deveria ter entrado na comunal da Sonserina essa manhã com um único intuito… de abrir os seus presentes - ele começou visivelmente consternado - contudo, não foi bem o que fez, não é mesmo? já que me foi reportado, que você na verdade confrontou outra aluna, na frente de todos os alunos presentes e praticamente a obrigou a enfeitiça-la com nada mais, nada menos que um IMPERDOÁVEL – ele cuspiu a última parte... era isso então, era óbvio... sim, óbvio até demais… aquela aluna do quinto ano, ela havia dito que iria até ele, não era apenas uma ameaça e ela...  foi, ela foi denunciá-la, Shara se sentiu ridícula agora, afinal ela quase havia entregue o beijo... e piorado ainda mais as coisas, que já pareciam bastante ruins.

—Eu posso explicar isso – ela tentou - acontece…

—NÃO… - ele a cortou a assustando, ela não esperava essa reação - certamente você não pode – ele disse de forma rude, aquilo era algo que ele sempre fazia no passado, e foi então que ela se deu conta de que algumas coisas não mudariam... simplesmente não mudariam... ela sentiu uma lágrima escorrer pelo seu rosto, talvez por que ela desejasse que fosse diferente… ou talvez por que o tom de voz era demasiadamente hostil para um dia como aquele, ou quem sabe apenas pelo fato dela estar mais sensível, já que todos os acontecimentos dos últimos dias a deixaram a flor da pele... – achei que tivesse visto o suficiente… mas não, um CRUCIATUS - ele estava exaltado - quer que eu descreva em detalhes o que sua amiga sentiu?… - Ela gesticulou negativamente com a cabeça de forma urgente – tem certeza Epson? – ele perguntou, estava frio – sabe eu posso ajudar a descrever com precisão tal experiência… - ele a encarava, ela não queria ouvir - algo como sentir seus músculos sendo contorcidos a ponto de não aguentar mais, até que você grite de dor e agonia, sendo que nada é capaz de ajudar a aplacar tamanha dor... – ele sorriu, mas era horrível, ela colocou as duas mãos nos ouvidos.

—Pare – ela conseguiu dizer - é horrível.

—Sim… de fato é… - ele confirmou - Achei que ver sua amiga naquele estado pudesse ser o bastante para você... mas não, o que estava pensando? O que estava esperando? Se auto flagelar... TOLA, IMPRUDENTE – ele gritou, ela paralisou ali sentindo que estava chorando além do que queria – teve muita sorte de não se ferir gravemente e sem falar, de que além disso... sua nova amiguinha irritante teria sido expulsa da escola, é isso que estava almejando? Tirá-la do seu caminho? – Shara negou com a cabeça novamente – Pois saiba que a expulsão seria o menor dos problemas dela, já que ela teria uma carta de estadia garantida em ASKABAN – ele gritou novamente, Shara fechou os olhos... ela sabia o que havia feito… ela não havia pensado em todas as implicações, ela podia ver o erro naquilo, sim e era grave, mas algo lhe dizia que Carla não poderia... que ela não iria conseguir efetivar aquilo, era importante… e só existia uma forma de fazê-lo, de provar isso, e a forma era aquela, um teste… mas não havia como explicar algo assim para ele… - Como acha que eu explicaria um incidente como esses ao diretor, e a todo o conselho de governadores dessa escola? duas alunas de MINHA CASA bem embaixo do meu NARIZ – ele continuou – uma gravemente ferida se não morta e outra destinada a apodrecer em ASKABAN, alunas essas do primeiro ANO – ela nunca o tinha visto assim tão nervoso antes... ela tentou aplacar um pouco o choro - Eu pensei que todo esse tempo aqui teria sido o suficiente para fazê-la entender que eu NÃO admito que nossa casa seja exposta de maneira tão negativa, existe ORDEM… existem REGRAS, malditas REGRAS Epson - ele a encarou enfurecido.

—Me desculpe… desculpe - ela disse se segurando para não desabar por completo… - eu não queria…

—Não queria… - ele se aproximou um pouco mais dela - mas ainda assim foi lá e FEZ... fez, algo completamente inapropriado e INADMISSÍVEL ao meu crivo… eu esperava mais… mais de VOCÊ - ele soltou e doeu ouvir aquilo, ela se encolheu, fazia tempo que ela não se encolhia daquele jeito na frente dele ou na frente de alguém…. - Por que? - ele perguntou parecendo buscar um pouco de equilíbrio, ela baixou os olhos, ela não podia encará-lo - Diga-me o por que? - ele perguntou novamente - faça isso fazer algum maldito sentido.

—O senhor pode não acreditar em mim professor... mas é como se no meio de tudo que sou, desse caos todo que pode ver… eu pudesse sentir, sentir sobre as pretensões… não apenas as ruins relacionadas ao meu sangue - ela pôs a mão sobre o ombro, ele entenderia que ela estava falando da marca ali - mas também as boas, é como se fosse uma espécie de dom… é como se eu soubesse as inclinações do coração das outras pessoas... não de todas é claro, não o tempo todo, mas eu posso… sentir – ela disse notando a mudança de expressão no rosto dele, agora ele parecia surpreso, talvez confuso... ela não sabia dizer com precisão - então eu meio que sabia que Carla não poderia concretizar o feitiço, quer dizer não com tanta certeza no início, mas depois... eu tive muita convicção e então eu segui em frente com o plano... eu queria provar para ela que... ela era diferente da mãe, já que isso é algo que significaria muito para ela – Shara explicou... ele havia recuado completamente se virando de costas para ela e encarando o vazio… - deu certo, Carla não é uma pessoa ruim, quer dizer não ainda… ela só precisava saber disso… apenas me desculpe, eu não queria desapontá-lo tanto assim… - ela concluiu - me desculpe… - ela repetiu mais para si mesmo.

—Dom – ele disse, ele parecia ter se apegado a aquela palavra de uma forma diferente – então ela sabia… sim, é óbvio que ela sabia que eu não poderia fazer-lhe mal… – ele bateu na mesa com força, e aquilo a assustou ainda mais, do que ele estava falando agora? – ela tinha uma vantagem… maldita! – ele estava dizendo coisas sem sentido, Shara olhou para a porta que continuava trancada, não havia simplesmente como fugir – é claro que ela tinha um dom, ela me alertou – ele rosnou...

—Professor? – ela chamou sua atenção, não sabendo se deveria… havia medo em sua voz, ele certamente podia sentir isso, ele se virou prontamente, voltando a encara-la, seus olhos negros… ela não sabia o que eles estavam comunicando ali.

—Você é como ela – ele disse... aquilo parecia mais uma espécie de acusação do que qualquer outra coisa... ela quem?... claro… só podia ser a sua mãe…

—Esta falando da minha mãe, não está? – ela ousou perguntar.

—Você é como ela, age de forma imprudente… impulsiva, por achar que conhece as pessoas a sua volta... é TOLA – ele se exaltou novamente – estão enganadas as duas... ENGANADAS, – ele apoiou as duas mãos na bancada a sua frente, enquanto a encarava, aquilo era sobre o passado dele ou sobre ela ali? Talvez ambos, Shara estava confusa e com medo - se colocam em perigo, são inconsequentes… não vê que sua mãe ao ser TOLA - ele repetiu aquela palavra com desdém - acreditou tão inocentemente naquela adorável senhora, sua avó e pulou de cabeça para a própria morte, entregando assim a sua filha, um bebê a um destino… um futuro... completamente deplorável... onde estava o MALDITO DOM?... sabe sua mãe acreditava nesse dom também… mas veja o que aconteceu com ela… Elza sequer teve trabalho aqui, Maeva simplesmente acreditou nela cegamente e foi lá e fez... ela… – ele parou, ele não conseguiu completar aquilo, talvez por que ela o tenha desconcertado, já que não conseguia segurar mais as lágrimas naquele ponto… Shara sabia o que sua mãe havia feito.

—Ela não era tola... – Shara conseguiu dizer – ela acreditou em você também... e ela se sacrificou... por mim – Shara colocou as duas mãos no rosto, ela não podia acreditar no rumo que aquilo havia tomado – eu sei o que ela fez... ela se sacrificou mais do que qualquer um aqui - Era difícil pensar naquilo, ela havia evitado aqueles pensamentos - eu sei que ela tirou a própria vida com aquilo… com a adaga… Eu vi Medusa fazer, foi horrível... e ela também fez… - como era difícil dizer aquilo em voz alta, ela precisava se regular - ela estava triste naquele dia, eu vi, eu queria... poder abraçá-la ao menos uma vez, eu vi Elza também... e eu queria poder gritar, alerta-la de que era mentira, tudo mentira – aquele assunto era algo que ela não gostaria de se lembrar e tão pouco discutir, muito menos no natal… era difícil pensar na sua mãe daquela forma – é por isso que Elza mandou a adaga para mim, ela planejou tudo… o início e também o fim… é assim que ela espera que seja o final, eu sei…. mas mal sabe ela, que isso não seria nenhum sacrifício para mim – Shara baixou os olhos, encarando seus pulsos ali – a minha mãe não foi tola, Elza era família, e família não deveria... – ela parou por um instante ao pensar nas famílias de seus amigos próximos, a de Beta, de Draco… Catie e agora de Carla, era ruim… – pelo menos não deveria ser... e minha mãe fez o que fez… por mim… - Shara estava uma bagunça - e isso deveria ser o bastante… eu sei que está bravo, e decepcionado, então brigue comigo, como estava fazendo, me acuse do que for… qualquer coisa, afinal eu posso mesmo ter sido… como disse, tola e imprudente – ela o encarou com dificuldade – mas não me julgue por ver o melhor nas pessoas… isso está além do que posso controlar, eu apenas quis ajudar Carla, e trazer a tona verdades sobre ela que ela mesmo desconhecia, como… minha mãe fez um dia – Aquilo era sobre ele, Shara segurou o estomago, maldito estomago sensível, ele a encarava perplexo - mesmo que isso me custe algo, para ela custou a vida - e isso era sobre Shara, ela fechou os olhos, ela podia ver sua mãe ali outra vez, sentada naquele tecido florido, naquele dia de sol... aquele sorriso triste… teria sido tão diferente se ela não tivesse confiado em Elza, Shara não podia negar isso e muito menos entender o por que o dom não havia funcionado ali, já que existia mesmo um dom.

—Sua mãe merecia ter tido alguém melhor... – ele disse depois de algum tempo, ele continuava com as mãos na bancada, agora encarava a mesa como se algo ali chamasse sua atenção – ela foi a bruxa mais forte que conheci, ela tinha convicção naquilo que acreditava - ele fez uma pausa e aquilo fez Shara pensar que diferente da sua mãe no passado, ele não tinha convicção naquilo que seguia e acreditava? Então por que? Por que ele seguia? - Maeva era verdadeiramente boa, assim como posso ver que você também é, você merecia um... – ele parecia buscar uma palavra específica ali - merecia alguém melhor também – ele concluiu a encarando, embora sua expressão fosse completamente imparcial e vazia, como sempre, mas ela sabia, ele estava atuando novamente... ele destravou a porta, Shara sentiu um impulso de correr e sair dali o mais rápido possível, principalmente por que seu estômago estava incomodando, mas ela não conseguia… ele ia mesmo dizer que ela merecia um pai melhor? Parecia que sim… Shara havia pensado em algo para ele, um presente de natal… e quis o destino que aquele fosse o momento certo para isso, não era exatamente como ela havia planejado, é claro… ela não esperava por algo assim, ela se aproximou dele, dando a volta pela mesa.

—Está equivocado outra vez... – ela tentou sorrir, em meio a aquele caos, ele a olhava e existia uma profundidade naquele olhar, algo que ela passou a enxergar com mais frequência agora – o dom é real – Shara colocou a mão no coração – não a culpe por isso – ela disse se aproximando ainda mais dele, o medo havia passado completamente naquele ponto – talvez devesse apenas aceitar que ela conhecia de fato o seu coração – Shara sentia que devia dizer aquilo, já que ele havia feito tanto pela sua mãe nos bastidores e ele agia como se aquilo simplesmente não tivesse significância alguma, quando na verdade era igualmente grandioso - se ela era a força, o senhor certamente é a coragem – ela notou o quanto ele foi impactado com aquelas palavras - eu não acho que eu seja tanto como ela na verdade... eu posso parecer forte até, mas olha pra mim? – ela olhou para os pulsos outra vez, ele acompanhou o seu olhar, ela era mesmo uma bagunça - acho que eu sou mais como... você – aquilo chamou a atenção dele – e eu gosto disso… eu gosto de ser como você – era tão verdadeiro, ela mal podia acreditar que estava mesmo dizendo aquilo para ele – afinal de todos nessa escola, foi a você que eu me afeiçoei muito antes de saber... a verdade sobre nós, e olha só para você... dá medo só de olhar – ela sorriu outra vez, um sorriso verdadeiro, afinal ele era o temido mestre de poções, o comensal da morte mais fiel, o morcego das masmorras... o chefe da casa Sonserina, ele impunha respeito, sim... ela havia escolhido ele, antes mesmo de saber quem ele era, e ela o escolheria de novo, ele era o melhor de todos, e aquele era o momento certo para entregar o presente dele – não existe ninguém melhor nesse caso, você é o único que poderia… que eu aceitaria… que eu desejaria… que fosse o meu pai – ela disse sentindo novas lágrimas descerem – e eu o amei antes mesmo de saber sobre isso e amo ainda mais agora… eu te amo pai – ela disse entregando aquilo – feliz natal – ela ia dar um abraço nele, mas dessa vez ele foi muito mais rápido, ele a envolveu em seus braços com tanta intensidade, ele a ergueu a sentando sobre a bancada e isso fez com que ela pudesse repousar a cabeça contra o seu peito de maneira confortável e ela achou por um momento que o batimento cardíaco dele, estava descompassado.

—Eu nunca mereci vocês... duas – ele disse – eu nunca desejei ter filhos, até ter você… e não estou decepcionado… - ele a segurava com força - eu não sou bom… com crianças, apenas… não deveria ter me exaltado tanto… - ele não era bom com desculpas também, mas ela achou melhor não comentar - eu amo você garotinha estúpida - isso a pegou de surpresa, ela sentiu seu coração acelerar também, afinal ele havia dito... sim, ele disse que a amava, Shara nunca havia ouvido alguém dizer, pelo menos ela achava que não… amor era algo tão distante para ela… então ela o abraçou com ainda mais força – feliz natal Shara – ele disse ao soltá-la – agora, ainda assim… nunca mais faça o que fez… um cruciatus, francamente Shara, você me deixa completamente sem saber o que fazer, poderia ter se ferido… como eu lidaria com isso? – ele a abraçou novamente, ela sorriu, mesmo que ele não pudesse ver, e melhor que não visse... mas ele era seu pai, e ele podia brigar com ela sempre que achasse que deveria, agora ela tinha alguém que se preocupasse de verdade com ela e era isso que pais faziam.

—A propósito – ela disse – aquela pantufa... muito obrigada, eu... gostei… ela é bem diferente né, assim meio exótica é claro mas ela é… - ela deu um sorriso amarelo - diferente - ela se viu repetindo, ao notar um sorriso divertido se formar no canto da boca dele.

—Hummm não é do seu gosto? - ele perguntou com malícia, ela não queria decepcioná-lo novamente.

—Não… não é isso, é só que… ela é… apenas… é…

—Ela é? - ele instigou

—Horrível - Shara se viu respondendo, enquanto esperava ver a decepção se formar no rosto dele – me desculpe...

—De fato é - ele a interrompeu parecendo aliviado, ela estranhou - sua mãe tinha um gosto duvidoso - ele concluiu.

—Sobre pessoas ou coisas? - ela perguntou, tentando provocá-lo, ele a encarou de forma incisiva - sobre coisas é claro… - ela corrigiu rapidamente, por que ele podia usar ironia e ela não? - se importa se eu fizer algumas mudanças?  – ela pediu, tirando o foco daquilo - na pantufa é claro - ela corou.

—Mudanças são bem vindas, o que pensa em fazer? - ele perguntou, soava estranho, afinal a pouco eles estavam quase se matando e agora estavam discutindo suas pantufas.

—Eu pensei em pintar de preto e aparar um pouco as plumas... – ela disse sem graça.

—Vai ficar detestável – ele afirmou, ele podia ser suficientemente sincero quando queria, talvez fosse essa mais uma das características em comum entre eles – se me permitir posso fazer algo melhor, e transformar em outro animal – ela não havia pensando nisso, sim uma transfiguração seria muito melhor do que meras adaptações domésticas.

—Em morcegos – ela disse animada, ela pensou neles justamente por serem pretos... já que ela havia dito que mudaria a cor, ele a encarou novamente, e ela notou um sorriso de malícia se formando no rosto dele, ela havia dito algo errado?... sim ela havia, um dos apelidos dele na escola era justamente, morcego das masmorras... ela não queria ofendê-lo, oh céus aquilo não estava indo bem – não... eu não quis... eu pensei apenas por serem pretos, e por que tem asas...  sabe, por voar... tipo o cisne, que voa... cisne voa? – ela pediu confusa – bom de qualquer forma é melhor que urubu... me desculpe – ela era um desastre completo quando ficava nervosa, e falava mais do que o necessário, ele se aproximou dela lhe dando um tapa na cabeça, aquilo doía um pouco, mas pelo menos a tinha feito parar.

—Me refiro a outro animal, não necessariamente precisa ter asas – ele informou, é claro... ela também não havia pensado nisso – que tal uma cobra? – ele sugeriu, ela amava cobras, ele se lembrou disso, ela sorriu.

—Eu iria amar – ela disse abrindo um largo sorriso – esse é o melhor presente de natal de todos os tempos – era verdadeiro.

—Não exagere – ele falou – agora vamos não pretendo passar o resto do feriado preso em uma sala de aula – ele gesticulou para que ela saísse primeiro – até por que tenho uma programação melhor em mente, para a tarde – ela o encarou desconfiada – biscoitos de canela e chocolate quente – ele disse, naquele som grave e sério de sempre, não combinada, honestamente não combinava com ele a menos que ele tivesse planos de os envenenar e matar alguém com aquilo, mas não era o caso ali, era engraçado, ela sorriu outra vez, aquele era o melhor natal de todos e não ela não estava exagerando.


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Notas finais do capítulo

Uma conversa bastante difícil, mas um capitulo só deles... eles tem tanto a dizer um ao outro e tanto a curar.

"se ela era a força, o senhor certamente é a coragem"... que frase heim!
Eu chorei junto com ela, com esse dialogo cheio de verdades.

Shara acha que se parece mais com ele, e eu concordo.

Ps: teremos a parte III do natal, pq esse natal merece né... então vamos partir ao grand finale :) simmm esta quase!
Obrigado a todos que vem acompanhando, mais uma vez... vcs foram e são incríveis!



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