Destinos Improváveis escrita por Nara


Capítulo 72
Futuro - Arranjos novos




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Severo jogou sua cabeça para trás, ele estava esgotado, tanto físico como mentalmente, ele consultou o anel, mais uma vez, ele estava repetindo a ação por pelo menos mais que 10 vezes só na última meia hora, Shara ainda estava acordada, mas ela estava agora nos aposentos de Minerva, ele olhou para o relógio eram quase 3 horas da manhã, ele havia se acostumado com esse horário, mas em condições diferentes, ele se reclinou um pouco, encarando o sofá e a estante de bebidas a sua frente, ambos estavam vazios, mas era o sofá que o incomodava mais, era estranho pensar que ele podia sentir a falta de alguém, sim ele podia, ele respirou fundo sentindo o cheiro de álcool entrar pelas narinas, as coisas nunca deveriam ter ido por aquele caminho e aquilo era culpa dele, ele lamentou... já sobre as bebidas, ele havia limpado da forma que pode amenizando o caos que havia se instaurado em sua sala de estar, mas o cheiro levaria semanas até ser removido completamente, ele se recompôs, jogando os pensamentos de escanteio ao ouvir o crepitar da lareira.

—Severo está acordado? – era a voz de Alvo, Severo encarou a lareira por um momento, aquela noite não parecia ter fim, ele liberou o acesso em sinal afirmativo, Alvo entenderia como um sim – Obrigado... sinto incomoda-lo a esse horário – ele disse adentrando o recinto – sei que é completamente inoportuno, mas se faz necessário... – ele parou de falar o encarando – andou bebendo? – ele perguntou, Severo bufou.

—Não – ele respondeu sério, sem se dar o trabalho de levantar, ele não estava para formalidades – e pelo que pode ver – ele gesticulou para a estante vazia a sua frente – não o farei por um bom tempo – Alvo encarou o lugar onde antes havia inúmeras garrafas, voltando novamente sua atenção para ele.

—Perdi algo? – ele perguntou com honestidade.

—Deixe-me ver por onde começo – Severo cruzou as pernas o avaliando - Shara, descobriu a verdade... toda a verdade – ele disse sem rodeios, estava tarde, e ele não estava disposto a dar maior detalhes – como pode ver, não foi muito receptivo – ele não via problemas em admitir a verdade para aquele homem que conhecia todos os seus segredos mais obscuros– então antes de sair do meu recinto, ela destruiu todas as minhas garrafas – ele encarou a estante vazia outra vez.

—A criança fez isso? – o diretor perguntou incrédulo.

—Aparentemente, ela estava com raiva – ele concluiu o obvio – Sabe Alvo, em uma de minhas missões como comensal, isso foi logo no começo, incendiamos a casa de um diplomata Britânico e o matamos, ele era trouxa, foi um espetáculo de horrores, não me pergunte os motivos eu não sei, na época eu estava muito longe do cargo de confiança que posteriormente me foi entregue, então não questionávamos, apenas executávamos as ordens, você sabe como é... era uma mansão e havia um bar... e muita bebida, bebida cara, então eu e Lucius levamos algumas das boas para nos divertirmos mais tarde, no dia seguinte, quando estava mais lucido, imagine a minha surpresa ao me dar conta de  que havia levado uma garrafa de Blue Label série 1805... – ele contou como se pudesse voltar no tempo, Alvo o encarava sem expressão - é uma edição especial foram produzidas em torno de 200 garrafas apenas – ele explicou ao perceber a falta de compreensão dele com aquilo – cada garrafa não saia por menos de 200 mil euros, na época, dinheiro trouxa é claro, mas é bastante dinheiro acredite... por um bom tempo me orgulhei desse pequeno tesouro  – ele riu com desgosto – está sentindo esse cheiro de álcool? – ele perguntou sem esperar uma resposta - aprecie pois deve ser o cheiro dessa garrafa, misturado com tantos outros rótulos de classe inferior.

—Eu sinto muito pela sua perca – Alvo disse se sentando no sofá a sua frente.

—A maioria das garrafas foram “prémios” adquiridos em missões, tenho algumas em minha residência particular em Londres – ele disse vagamente – não entendo por que as mantive por tanto tempo – ele deu de ombros - afinal como eu poderia beber e sentir prazer com algo assim? Sabendo que foi às custas de sangue inocente – ele falou com frieza – talvez eu as tenha mantido todo esse tempo, por que elas revelam não apenas quem eu fui no passado, mas sim quem eu sou de verdade, e principalmente quem eu serei outra vez no futuro - ele disse, fazendo alusão as inúmeras vezes em que ele e o diretor discutiram o retorno do lorde das trevas, não era apenas um desabafo, e era isso que deveria tê-lo impulsionado a manter a criança longe da sua vida, ele a havia colocado em ainda mais perigo, isso era imperdoável.

 _Eu me referi a criança, a sua perca... mas já que estamos falando das garrafas talvez apenas não tenha se livrado delas por acreditar de fato nisso... Acreditar que você seja alguém que na verdade você não é – ele o olhou com profundidade, Severo não podia sustentar aquele olhar – você faz muito isso.

—O que quer a esse horário? – ele perguntou mudando de assunto.

—Fudge – ele disse o sobrenome do ministro da magia – Cornélio Fudge, saiu da minha sala a pouco.

—Não compreendo – Severo se ajeitou um pouco melhor, não havia mesmo quaisquer pretensões de dormir naquela noite – o que Cornélio, faz aqui a esse horário?

—Magia ancestral – Alvo disse – isso... – ele apontou para a estante atrás dele – não deve mais se repetir Severo – ele falou sério – do contrário não poderei mais intervir, eles vão chegar nela com facilidade assim e vão leva-la, ela não tem oficialmente um responsável legal, apenas aquele trouxa em Londres que responde por ela até que complete a maioridade, e ele é completamente corrompível, como sabemos – ele continuava sério, Severo se sentou na ponta da poltrona agora, o que mais poderia acontecer, do seu ponto de vista, quando ele achava que não podia haver mais nada, sempre havia - ela representa um perigo para a comunidade bruxa, agindo assim.

—Eles não têm como saber de onde veio – pelo menos era isso que ele achava sobre esse tipo de magia – não tem como provar que tenha sido ela – ele encarou Alvo esperando que ele confirmasse aquela colocação.

—O Ministério está rastreando, desde os primeiros episódios, em Londres – Alvo complementou – eles têm meios e estão desprendendo tempo nisso... Fudge acha que tem alguma relação com as petrificações – Alvo explicou – sabemos que não, mas fica mesmo difícil desassociar as coisas quando se está de fora, e não se conhece o contexto, Lucios está tentando comprar os governadores e se isso acontecer, serei afastado – Alvo parecia preocupado – Fudge acha que estou escondendo o jogo, e ele tem razão, é apenas uma questão de tempo.

—Isso não irá acontecer Lúcios pode ter privilégios..., mas os governadores em sua maioria foram conselheiros no ministério e não levariam em conta a opinião de um ex comensal da morte, como ele... Os governadores são leais... – Severo não via como aquilo poderia prosperar.

—Ele já corrompeu metade da lista – Alvo disse e Severo se calou, maldito Malfoy, ele sempre conseguia o que queria.

—O que quer que eu faça? – ele perguntou sério.

—Neutralizar a menina – ele foi enfático - não é uma boa hora para demonstrações de irá, entendo que ela esteja chateada e revoltada com a descoberta e sei que esse tipo de magia pode ser difícil de controlar... mas para o bem dela Severo, da escola... De todos,  talvez seja necessário que tomemos medidas mais...

—Mais o que? – Severo levantou da poltrona o cortando – radicais? – ele perguntou concluindo a frase do diretor - Como apagar a memória dela por exemplo? – ele sugeriu.

—Sim – ele disse sério, Severo riu com ironia.

—Eu não posso – ele disse frio – eu tentei Alvo... eu sai daqui essa noite, convicto de que faria, mas falhei - ele admitiu... – falhei miseravelmente – ele disse de costas para o diretor – Shara tem os olhos dela...

—Severo, isso vai além de nossas limitações... se não o fizer, eu mesmo o farei – ele se virou, encarando o diretor, ele podia entender os motivos e tudo mais, mas ele não podia permitir isso, teria que haver um plano B, ou outra forma, mas definitivamente não aquela, ele havia visto aquele olhar, era uma suplica...  – Entendo que tenha se afeiçoado a criança, ela é sua filha, é seu sangue... mas não pode deixar que isso te cegue dessa maneira, se ela for pega, ela será entregue e ficará aos cuidados de alguém de confiança do ministro, quem é o primeiro candidato que te vem à mente Severo? – ele perguntou – Lúcios, não é mesmo? – Alvo respondeu, também se levantando – tenho certeza que Lúcios terá os piores desejos e motivações em mente em relação a ela, já tivemos uma pequena demonstração disso na escola a algum tempo atrás – Severo estremeceu só de imaginar como seria, Noah teria sido um anjo, comparado aquilo que Malfoy poderia fazer – portanto precisamos neutraliza-la do contrário, não existe nada que eu poderei fazer e se Lúcios pôr a mão nela, não existirá mais segredo Severo, ele irá descobrir, a marca vai denuncia-la e pode esperar pelo pior, ele fará o ritual, ou a entregará a quem o faça, Voldemort por exemplo e isso será o nosso fim.

—Ela não é um objeto para ser manipulável Alvo – Severo podia sentir seu sangue esquentar a medida que se posicionava – eu posso ver suas intenções, mas como acha que eu me sinto ao ouvir tudo isso? Sua preocupação não se sobrepõe a minha, pelo contrário... você teme as consequências, aquilo que pode acontecer se ela for pega, eu não Alvo... eu temo por ela, pela vida dela, pela vida da minha filha... eu jurei protege-la, e eu vou, acredite, farei isso contra quem for... contra Elza, contra Lúcios, contra o ministério, contra quem ousar machuca-la e se for preciso, também contra você – Severo o encarou e ele pareceu assustado, não prevendo aquela reação dele.

—Estou preocupado com a criança... – ele tentou.

—NÃO MINTA PARA MIM – ele elevou a voz – acha que não conheço suas estratégias, acha que não percebo o por que manter Maeva por perto foi promissor... e eu sei que ela trabalhou pela ordem, por vontade própria, todos aqui fazem... a causa é nobre, e eu estou aqui todos esses anos não estou? ... Mas as custas do que? Qual o preço? Se o preço nesse caso, for a minha filha Alvo... os meus trabalhos não se fazem mais necessários.

—Você ainda não entendeu... – Alvo suspirou cansado – mas se esse é o caso, tens minha palavra de que não farei nada que não seja de comum acordo, mas quero que entenda a gravidade disso – ele refutou.

—A gravidade Alvo, me ficou suficientemente claro desde os dias que ela pôs os pés nessa escola – Severo disse aliviando os ânimos – estou bem ciente disso – ele concluiu.

—De qualquer maneira, a convocarei para uma conversa... sem o uso de qualquer feitiço – Alvo disse levantando as mãos em defesa – afinal, você deve concordar de que ela deve entender a gravidade disso tudo, será mais fácil assim, ela pelo que me parece, lida melhor com a situação quando tem mais informação, do que o contrário, e pelas atuais circunstancias vejo que sou a pessoa mais adequada para fazê-lo, falarei sobre a importância de manter o segredo sobre a paternidade também, os riscos e tudo mais, acredito que não tem nada a se opor nesse sentido – Severo ponderou por um momento, não, de fato não havia...

—Faça como achar melhor – ele aprovou... afinal o segredo deveria de qualquer forma ser preservado, embora ele não achasse que fosse do interesse dela abrir aquilo para alguém.

—____

Severo estava finalizando a última aula daquela turma, antes das provas finais da próxima semana, era sexta de manhã e Shara não estava em sala ainda de certa forma ele agradeceu, teria sido um desastre com ela ali, ele estava exausto, não apenas por não ter dormido na última noite, mas a verdade que tudo aquilo o havia desgastado mais do que ele achou que poderia, era inevitável não pensar nela, não acionar o anel de tempos em tempos e não revisitar os últimos acontecimentos, as palavras ditas por ela martelavam em sua mente lhe proporcionando uma enxaqueca, era difícil também manter a concentração diante de uma turma de cabeças ocas como aquela, que estavam mais preocupados com as festivas natalinas do que qualquer outra coisa útil no momento, então ele optou em dispensa-los um pouco mais cedo do que de costume, não havendo muito mais para ser dito… ele estava terminando de organizar sua bancada quando notou a presença da garota ruiva a sua frente, ele suspirou sem paciência.

—Srta. Weasley - ele disse sem sequer encará-la - abri uma sessão de perguntas durante a aula justamente para não ser importunado.

—Não estou com dúvidas sobre a matéria professor - ela disse séria - onde está Shara? - ela perguntou indo ao cerne da questão - faz dias que ela não aparece, ela não está na Sonserina e nem na enfermaria, eu já averiguei.

—E por que acha que lhe devo alguma satisfação sobre onde e o que os meus alunos fazem? - ele perguntou ríspido.

—Bom, por que ela é minha amiga e estou preocupada com ela – a ruiva respondeu corajosamente - apenas quero saber onde ela está, não deve ser tão ruim professor - ele a encarou com dureza, se lembrando de como elas haviam se tornado amigas, certamente após aquele episódio com o bicho papão no início do semestre, ele prezava a preocupação, mas ele precisava ser imparcial, então de forma zombeteira ele olhou nos bolsos de suas vestes como quem procurasse por algo ali e a encarou mais uma vez, sorrindo com malicia.

—Não está aqui - ele disse enquanto gesticulava negativamente com as mãos, ela ficou vermelha, visivelmente irritada com sua atitude.

—Não se importa, eu imaginei - ela disse o encarando, ela era atrevida, qual o problema das meninas nessa idade? - não sei como ela… está na Sonserina, ela é tão diferente... - a provocação estava intrínseca ali.

—Muito cuidado com a escolha das palavras Weasley - ele rugiu se sobressaindo - se está tão interessada, sugiro que pergunte a sua chefe de casa e vice diretora dessa escola, ela certamente terá algo a dizer - ele disse sem paciência, tentando se livrar da menina - agora suma da minha frente ou do contrário tirarei cada maldito ponto que sua casa ainda possui - ele estava irritado, pelo menos a menina recuou, agora sem dizer nenhuma palavra, assim estava melhor.

—Gina Weasley - Minerva disse entrando em sua sala de aula - por acaso não está importunando o professor Snape com aquilo que falamos ontem de manhã, está? - ela perguntou cruzando os braços, esperando algum tipo de resposta e a garota ruiva lançou um último olhar para ele e se virou para sair, obviamente que ela já havia perguntado e Minerva provavelmente não havia dito nada de concreto, interessante - de qualquer forma, Gina, aproveitando que está aqui, e ciente da sua preocupação, talvez lhe agrade saber que Shara estará participando do almoço no salão principal a partir de hoje - Severo estranhou, conhecendo Shara como conhecia, ele achou que ela ficaria ainda mais reclusa nos próximos dias, ela era mesmo uma caixinha de surpresas.

—Obrigada professora - ela disse saindo, Minerva fechou a porta assim que ela colocou os pés para fora da sala de aula.

—Tem uns minutos Severo? - ela pediu.

—Tenho outra opção? - ele perguntou arqueando a sobrancelha.

—Definitivamente não - ela disse, ele bufou, nãos sabendo por que ela ainda perguntava - Achei que ia gostar de saber algumas coisas - ela disse por fim - mas antes…. Como você está? - ela perguntou para ele, enquanto ela mesmo bocejava ali, aquilo não era comum, ela nunca se permitia dessa forma, ele a encarou por um momento, era difícil dizer, ele não era mental, mas seria mentira dizer que aquilo não o havia afetado.

—Exausto - ele admitiu, limitando tudo a aquela breve informação - você também me parece cansada aqui, pelo visto não fui o único a não pregar o olho essa noite - ela assentiu se aproximando dele, Severo a olhou por um instante, se lembrando de que precisava agradecê-la de alguma forma, ela havia sido de grande ajuda com a menina, ele sabia que ela era a pessoa certa para aquilo, já que Minerva tinha uma maneira única de lidar com situações delicadas e possuía uma habilidade notável para se comunicar com os alunos, e ela contava a seu favor, já que ela também sabia a verdade sobre ele e Shara - Agradeço por ter ido até Shara tão prontamente essa noite e por tê-la acolhido em seus aposentos - ele disse por fim e ela sorriu de forma genuína.

—Não é nenhum sacrifício pra mim, cuidar da filha de um casal de amigos - ela disse, parando a sua frente, aquilo o tocou, e dito daquela forma soava como se fosse algo corriqueiro, como se fossem uma família normal com um imprevisto em um dia tipicamente comum.

—Faz soar como se fosse natural…

—Faço soar, como deve soar Severo - ela o interrompeu - afinal Maeva foi sim uma grande amiga, você sabe e bem… tem você - ela colocou uma das mãos em seu ombro - que continua sendo - ela o deixava desconfortável com aquela abordagem, algo que certamente ela notou, ela se afastou gentilmente, ela costumava manter o decoro, diferente de Pomfrey por exemplo e ele agradeceu mentalmente por isso - Foi bastante difícil convencê-la a me acompanhar, ela é bastante geniosa Severo - Minerva explicou, ele sabia - portanto antes de ir, ela me fez algumas pequenas exigências e me fez prometer que as cumpriria, você pode ver isso… algo tipicamente Sonserino - ela o provocou, mas Minerva tinha razão sobre aquilo também, era tipicamente Sonserino, e Shara incorporava bem esse lado - e esse é um dos motivos pelo qual estou aqui - ela o analisou - já que obviamente tem a ver com você.

—Acredito – era evidente que ela não queria nenhum contato e de que aquilo seria algo nesse sentido - ela terá o espaço que precisar Minerva, não irei intervir e nem tentarei me aproximar, tem minha palavra quanto a isso – ele disse, voltando sua atenção para aquilo que estava organizando na bancada e tentando soar como quem não se importasse com aquela situação – saiba que é do meu interesse manter as coisas civilizadas e da forma mais discreta possível, e eu não irei até ela, apenas inevitavelmente em sala de aula.

—Sim… Severo, direto ao ponto - ela ainda o analisava - imaginei que não seria um problema para você… quanto a sala de aula, bem ela me pediu para fazer a sua prova fora dela - Minerva complementou.

—Se o diretor permitir - Severo disse dando de ombros - não me oponho.

—Acontece, que ele não permitiu - Minerva cruzou os braços, e aquilo chamou sua atenção – não me olhe assim, já falei com ele a respeito mais cedo - claro que ela faria - tivemos uma batida do ministério essa madrugada, talvez não tenha sido o momento apropriado, já que ele estava um tanto quanto rabugento essa manhã, mas ele foi enfático sobre isso.

—E qual o problema nisso? - ele perguntou sem entender – é apenas uma prova.

—Ele não quer que ela chame a atenção sobre vocês em hipótese alguma - foi na mesma linha daquilo.que eles haviam conversado na madrugada, embora pelo seu ponto de vista, Alvo estivesse sendo um pouco radical - então se ela fará as demais provas em sala de aula, ela deverá fazer a sua também, do contrário, ela terá nota mínima e não poderá continuar os estudos - ela continuou explicando, mas não parecia muito à vontade com aquele arranjo, bem... honestamente nem ele.

—Alvo te disse isso? - Obviamente que ela não iria mentir sobre algo assim, mas era impressionante como ele agia conforme os interesses e movia as peças para que soasse de maneira natural, não que Alvo fosse um bruxo ruim, pelo contrário, Severo conhecia o coração dele mas se ele estava obstinado a manter as coisas sob sigilo, ele não mediria esforços para fazê-lo.

—Não que eu entenda… e também não que eu concorde - ela admitiu - mas a última palavra é dele é claro, penso que ele não quer prevalece-la com nenhuma condição especial - não era bem isso, ainda mais porque prevalecer alunos principalmente os que eram da Grifinória era algo que ele fazia com bastante maestria.

—Claro - Severo bufou sem sequer disfarçar o que pensava, já que ela estava sendo bastante transparente também - há outras intenções Minerva, sabemos disso… de qualquer maneira, desejo boa sorte a aquele que for comunicar isso para a menina.

—Certamente, irá precisar… afinal pelo que dizem ela tem o temperamento do pai - ela o provocou outra vez - como isso aconteceu Severo? - ela perguntou séria - como ela descobriu?

—Ela achou minhas vestes de comensal e uma carta de Maeva que a menciona - ele disse a verdade - então não foi difícil e ela ligou os pontos.

—Oras você disse que não sabia da existência da menina - Minerva disse brava - de que carta se refere? Havia uma carta então? – ela perguntou exasperada.

—Eu não sabia - ele levantou a mão em sua defesa, por que as pessoas tinham sempre que tirar conclusões precipitadas sobre tudo? - Tive acesso a carta há algumas semanas apenas - ele explicou - Shara não te contou o ocorrido? - ele perguntou curioso, de alguma maneira ele achou que ela faria.

—Não… ela falou pouco para ser sincera - aquilo o surpreendeu, ela costumava falar pelos cotovelos - mas acredito que isso se deve ao fato dela estar ocupada, já que passou parte da noite no banheiro, vomitando - sim tinha isso também, ele suspirou, Minerva não deveria ter poções para o estômago em seus aposentos pessoais.

—Vai precisar de algumas poções para o estômago - ele fez menção em acionar os frascos.

—Não… ela deve pedir - Minerva disse séria - Alvo me orientou que ela deve voltar a comunal da Sonserina a partir de hoje e que se precisar de algo, qualquer coisa, bem como poções ela deverá solicitar na enfermaria.

—O que ele está tentando fazer? - Severo se moveu não gostando daqueles ajustes, a princípio aquilo se tratava da saúde da criança, ela suspirou.

—Eu não sei - Minerva admitiu - mas quero acreditar que haja um bom motivo para isso tudo - era evidente que ela não aprovava aquilo - Shara está com ele agora - ela disse e Severo involuntariamente passou o dedo no anel, sim era verdade - Alvo ficou de avisá-la sobre os novos ajustes, confesso que não sei como ela vai reagir e reitero suas colocações sobre precisar de sorte - ela disse preocupada - ela precisava de um tempo para digerir tudo isso, não é fácil, ela é apenas uma criança, pelo menos me deixa mais tranquila saber que após as provas ela terá um tempo para descansar de forma adequada, Alvo comentou que ela ficará na escola no feriado, já sobre o resto, sinto muito Severo, ela tem um bom coração e logo as coisas voltam a sua normalidade - ela tentou sorrir, mas ele não acreditava nisso, talvez nem ela, as coisas nunca mais voltariam ao normal.

—Não vai acontecer, nunca deveria ter tomado o rumo que tomou - ele disse frio - teria sido melhor e muito mais fácil para ambos se eu simplesmente tivesse mantido as coisas longe desde o início, teríamos evitado grande parte disso tudo – era verdadeiro.

—Discordo - Minerva o encarou - assim como discordo de Alvo no momento, mas sei que o tempo se encarregará de alinhar as coisas, ela é uma criança, a sua criança e a verdade sobre sua paternidade não deveriam ser negadas a ela, ainda mais em circunstâncias como essas… - ela pontuou o deixando incomodado, ela não entendia.

—Maeva… a sua amiga Maeva, quis assim Minerva… quando escondeu de mim, de todos nós, essa criança… quer discordar de alguém, discorde dela - ele disse irritado - agora se me dá licença ainda tenho uma aula para preparar.

—Claro Severo, como quiser - Minerva disse – mas saiba que teriam sido pais incríveis - ela disse se virando e caminhando até a porta - você e ela é claro - ela saiu.

Num acesso de fúria, Severo empurrou todos os materiais recém organizados da sua bancada diretamente para o chão, Minerva não sabia do que estava falando, ela não entendia.

—_

—Com licença - Shara disse entrando na sala do diretor - mandou me chamar senhor? - ela pediu, ela não estava bem, depois de tudo que havia acontecido, ela queria ter passado o resto daquele dia deitada, escondida embaixo das cobertas e fingindo simplesmente que o mundo não existia, ela queria a calmaria do mar, a areia fofinha, o sol e a brisa suave que balançava seus cabelos… ela queria que essa brisa pudesse soprar e levar embora para longe todo aquele caos que era e que havia se tornado a sua vida... ela suspirou, embora Shara não houvesse chorado mais, seus olhos ainda ardiam, seu corpo estava exausto, principalmente por ter passado o resto daquela madrugada no banheiro, inclinada sobre o vaso e vomitando, ela não pediria uma poção para o estômago, ela não pediria mais nenhuma poção…

—Sim, por favor… venha e sente-se - ele pediu, Shara fez… com bastante cautela agora, afinal a última vez que ela esteve ali, ela foi envenenada por uma versão assassina do diretor e teve seu braço dilacerado por ela, a cicatriz ainda incomodava, e era horrível de se ver, então aquele não era exatamente um lugar em que ela se sentisse à vontade e muito menos desejasse estar, ainda mais agora - Shara, estou ciente dos últimos acontecimentos - ele começou, a encarando com seus óculos meia lua e seu olhar penetrante, sim Shara suspeitava das intenções daquela conversa e agora ela tinha certeza, ele queria tratar daquilo, ela se remexeu de forma desconfortável na cadeira, impelida a manter o controle, ela não queria discutir isso com mais ninguém e principalmente ele que também havia escondido a verdade dela - como está querida? - ele pediu "estou ótima, descobrir que minha vida toda foi uma farsa que as pessoas que eu amo mentem pra mim descaradamente e que por fim, confiei mais uma vez nas pessoas erradas… fora isso ótima" ela pensou enquanto devolvia o olhar.

—Estou bem - ela sorriu com o canto da boca, que tipo de pergunta era aquela, ela não daria mais motivos para ele crescer qualquer assunto ali, talvez assim ele desistisse.

—Não diria que confiou nas pessoas erradas - ele disse mexendo e ajustando o óculos no rosto, ela arregalou os olhos, era como se ele pudesse ouvir seus pensamentos.

—Não gostaria de discutir isso - ela disse tentando recuperar a postura.

—Como preferir - ele disse - de qualquer forma, tenho algumas considerações importantes a fazer e quero que me ouça com bastante atenção, disso depende a sua segurança - ele a encarou, ela arqueou uma das sobrancelhas, ela assentiu afinal ele era o diretor não dava simplesmente para ignorá-lo e sair correndo, embora vontade não lhe faltasse - muito bem, primeiro e o mais importante, quero que olhe para suas mãos - certo, aquilo era estranho, ele a encarou esperando que ela fizesse.

—Desculpe - ela pediu desconfiada.

—As mãos Shara - ele pediu de novo, usando seu primeiro nome, certo ela fez - você possui magia ancestral correndo nas suas veias, magia que acontece aqui - ele apontou para a cabeça - mas que só pode ser liberada pelas mãos - certo ela meio que sabia disso - magia ancestral é uma magia muito antiga e ela ameaça a magia bruxa, é muito mais forte e muito mais intencional, onde estou tentando chegar… agora olhe pra mim criança - ele pediu, ela fez - ontem a noite, tivemos uma batida do ministério na escola, após o uso e liberação dessa magia, Lucius Malfoy - o diretor disse o nome do pai de Draco e ela podia sentir sua cor desaparecer aos poucos - sim - ele reforçou notando a expressão de pânico formada por ela - junto com Cornélio o ministro - ele explicou.

—Eu não sabia que era possível… espera, é possível rastrear? - ela pediu interessada - não foi com varinha achei que não fosse… que apenas a varinha… eles sabem que fui eu? - sim, agora ela estava mesmo alarmada.

—Eles vem perseguindo indícios, desde as primeiras aparições, na Londres trouxa e estão chegando cada vez mais perto, Shara quero que entenda a gravidade disso, se for detectado a origem, Lucius a levará e não terá nada que eu possa fazer, nem qualquer outro professor - ela estremeceu, ele nunca tinha falado daquela forma com ela, ela não sabia… se pelo menos alguém tivesse explicado, ela detestava ficar as escuras e pela primeira vez ele estava abrindo algo para ela ali, por que agora? Aquilo era tão ruim, como todo o resto, ela processou as informações.

—Me levar… o que isso quer dizer? - ela levantou assustada - ele não pode fazer isso, pode? Foi um acesso de raiva eu meio que liberei… porque isso é tão ruim? - ela estava confusa.

—Sim ele pode - o diretor a encarou - você quer toda a verdade não é mesmo - ela devolveu o olhar, aquilo era um sim, na verdade toda a verdade é algo que ela queria desde o dia que havia pisado naquela escola - Lucius é um dos governadores da escola, e no momento ele está empenhado em conseguir aprovação dos demais, para me afastar.

—Afastar? Mas… o senhor…  por quê? - Haviam muitas perguntas - o senhor é Alvo Dumbledore o maior bruxo que já existiu… o senhor tem sido o diretor dessa escola a anos, ele não pode… simplesmente, não pode… afasta-lo - ela não conseguia acreditar naquilo, era terrível.

—Sente-se criança - ele pediu com tom afetuoso - mas respondendo sua pergunta, aparentemente sim, ele pode, desde que consiga as assinaturas, existem coisas que infelizmente contam mais, dinheiro e prestígio por exemplo, falam mais alto as vezes - ele estava sério e ela voltou a sentir as náuseas outra vez, se o diretor fosse afastado não só ela, mas todos os demais alunos estariam correndo perigo ali, aquelas petrificações, o que aconteceria com Hogwarts sem ele… - precisa me prometer de que não fará mais uso dessa magia, no momento ainda é arriscado, precisa ser controlado e quando for poderá camuflar mas de momento é facilmente rastreável, como foi ontem a noite.

—Eu… sim, eu não sabia… eu posso fazer isso - ela disse olhando para as mãos agora, assustada, ela realmente não sabia como aquilo funcionava, ela se sentiu verdadeiramente arrependida - Porque eu tenho essa magia? Eu… não entendo - ela pediu - por que essas coisas estão atreladas a mim?

—Magia ancestral é a mistura da magia natural, com a magia de Deuses antigos - ele explicou - por isso é tão forte, está no seu sangue.

—Mas espera… eu não tenho descendência de nenhum Deus antigo, foi um equívoco… a Crisa, ela era filha do Antony… e não de Poseidon - Shara explicou, algo que ele já sabia…

—Sim você está certa sobre isso - ele explicou - mas me refiro a Medusa aqui, algo que antes não me ocorreu já que havia a história com Poseidon, mas que agora é óbvio, Medusa era adotada, ou algo nesse sentido - Alvo disse - desconheço a origem dos pais biológicos dela, mas certamente um deles, ou até mesmo os dois eram algum tipo de divindade, por essa razão ela nunca foi bem aceita no meio trouxa, ela certamente sofreu duras penas, deve ter tido uma infância terrível, já que além da beleza natural que como sabemos incomodava, ela tinha magia, as irmãs não, já que foi esse o fruto da inveja e da injustiça que você enfrenta até os dias de hoje - Shara processou aquilo, e definitivamente ela não tinha argumentos nesse sentido já que ela também desconhecia a origem da sua matriarca, quem sabe Antony poderia falar melhor sobre isso.

—Faz sentido - Shara disse se sentando outra vez, ela estava preocupada agora - eu não sabia, o que a magia ancestral significava, me desculpe - ela disse com honestidade, ela não queria causar tantos problemas.

—Eu posso ver isso criança - ele a analisou novamente - Shara, sei que não é do seu agrado discutir a sua relação com o professor Snape - ele disse, meio que mudando de assunto e aquilo a trouxe de volta aquela dura realidade, ela havia dito que não queria falar sobre aquilo por que ele estava insistindo - eu não vou discutir isso criança - mais uma vez ele parecia ler seus pensamentos, como isso era possível? - apenas quero pedir sigilo absoluto sobre sua descoberta.

—Bom se ele te pediu isso… e é isso que ele quer, diga a ele que não se preocupe pois eu mesmo faço questão de que ninguém saiba sobre nós - ela respondeu na defensiva - e se depender de mim, manterei distância e espero que ele faça o mesmo – ela parecia lutar com as palavras.

—Não criança… ele não pediu… - o diretor disse a interrompendo.

—Ele ia apagar minha memória - ela disse o interrompendo também - certamente é o que ele quer - ela refutou.

—Sim e ainda assim ele não fez, ele me disse isso, inclusive eu me propus a fazer em seu lugar - o diretor disse a encarando, ela congelou naquele instante, sentindo seu coração disparar, ela olhou para a porta - eu não farei - ele disse, certamente percebendo suas intenções ali - ele me fez prometer que não faria, e eu não pretendo descumprir minha promessa - ela não entendeu, por que ele iria se opor aquilo se ele mesmo queria ter feito, simplesmente não fazia sentido.

—Eu não pretendo falar a respeito disso com ninguém - ela disse tentando soar o mais fria possível, mas sentindo as barreiras caírem, ela definitivamente não queria discutir aquilo, por que sabia que não poderia sustentar a postura que desejava passar - isso por que eu quero que seja assim - ela foi incisiva, numa tentativa de encerrar aquilo de uma vez.

—Muito bem criança…  reforço que não deve ser dito nem para sua melhor amiga, nem para quem mais confia, pois qualquer deslize pode tornar isso público, e partir do momento que isso acontecer, tanto você como ele correm grave perigo - o diretor enfatizou a encarando, francamente não havia uma forma sequer dela não correr perigo ali, tudo definitivamente era algum tipo de motivo, e levava para o mesmo desfecho, ela suspirou - Severo Snape foi o braço direito de Voldemort por tempo suficiente - Shara sentiu suas entranhas revirarem novamente, não sabendo se isso era em virtude do nome dele ter sido dito daquela maneira ou o de Voldemort, talvez fosse ambos – portanto ele fez muitos inimigos, muitos comensais o invejavam, e estes adorariam machucar a filha dele, por mero prazer é claro - Shara estremeceu com o comentário – mas esse não é o pior dos problemas, Severo deveria ter entregue, Maeva, a sua mãe… para ele, Voldemort, já que ele dedicou tempo suficiente atrás dela, e o fez fazer a poção, Voldemort estava atrás do sangue da guardiã, bem você conhece a lenda agora, e Severo teve que sustentar aquela mentira, não se iluda em achar que isso é fácil, Voldemort podia ler a mente de seus súditos e ele o fazia o tempo todo, Severo é um excelente oclumente, o único capaz de fechar a mente totalmente para ele – Shara não entendeu a referência, mas pelo contexto, ela podia imaginar - portanto se for descoberto sua mentira, ele será tratado como um traidor, mais uma vez você será caçada e torturada obviamente na frente dele, afinal essa seria a melhor forma de faze-lo sofrer e depois o matariam, o descartando - certo ela precisava de um banheiro….

—Com licença dire… - ela se levantou, mas sem tempo, ela se ajoelhou e vomitou ali mesmo - me desculpe por isso - ela disse rendida, não havia simplesmente mais nada no seu estômago que pudesse deixar ali.

—Shara, precisa de alguma coisa? - ele pediu - talvez seja melhor encaminhá-la até a enfermaria - ele havia se levantado e se aproximava dela.

—Não… tudo bem senhor - ela disse se levantando, e tentando parecer bem, na enfermaria havia Antony e apesar de tudo ela não tinha se esquecido o que teria que fazer, quebrar a maldição... e então, ela o perderia também...  - eu posso lidar com isso – ela mentiu.

—Muito bem, penso que fui claro, sobre o porquê é importante que o sigilo seja mantido – sim, ela havia entendido perfeitamente bem.

—Sim senhor - ela respirou fundo, Shara odiava o professor Snape agora, por toda mentira... o odiava pelo fato dele ter a abandonado daquela maneira, naquele lugar desprezível sem sequer checa-la, o odiava pela sua imparcialidade em ajuda-las, nada justificava... nada poderia, Voldemort havia sido derrotado a algum tempo, quando sua mãe havia mandado aquela carta, e ainda assim... ele optou em deixa-las, ignorando o pedido de ajuda dela... sim ela o odiava, mas ainda assim a ideia de vê-lo ser morto, era devastadora, impensável... não era isso que ela queria, não... e ela não queria ser a causadora, ela nunca se perdoaria, já bastava ter que faze-lo com Antony, ela não poderia mais perder ninguém, mesmo que fosse ele – Suficientemente claro senhor – ela respondeu e ele pareceu satisfeito ali, ela baixou os olhos tentando controlar suas emoções.

—Dessa forma não queremos e não vamos chamar a atenção, você volta para a sala comunal da Sonserina ainda hoje, deve fazer todas as refeições com os demais alunos no grande salão, na próxima semana compareça a todas as provas, sem exceção – ele enfatizou, e lá se foi o plano de fazer a prova de poções com outro professor e fora de sala de aula, mas ela poderia encarar aquilo... sim ela podia, ela não iria sacrificar mais nada - não mencione o ocorrido e não haja de forma suspeita, mas o mais importante mantenha sua magia ancestral contida - ele orientou, estava sério, ela nunca havia tido uma conversa com ele assim antes - alguma pergunta criança? – ela gesticulou negativamente – Shara – ele a chamou pelo primeiro nome, a forçando a encara-lo – se comprometa com a sua decisão e se precisar de algo me procure – ela assentiu – esta dispensada.

E quando ela achou que não era possível sair dali pior do que entrou, ali estava ela... mais uma vez, podendo provar o quão enganada estava sobre algo, Shara deixou seus pés a guiarem, caminhando sem rumo pelo castelo... ela era a prova do tanto que se podia perder em apenas tão pouco tempo, ela inspirou puxando o ar, numa tentativa de se auto regular, era ilusão, tudo era ilusão... principalmente ao se dar conta de que na verdade ela nunca teve nada, ela riu de si mesma, era tão patético, e afinal como ela havia chegado naquele ponto? quando a vida de outras pessoas dependiam daquilo que ela faria... talvez a melhor solução era mesmo não ter memória alguma, ela olhou para frente, vendo uma porta se formar magicamente onde antes não havia nada... ela olhou desconfiada, era a sala precisa? Mas ela não havia ido até o 7° andar, será que ela precisava tanto assim de algo? Ela entrou... a sala estava escura e a porta imediatamente se fechou atrás de si. Ela caminhou hesitante pelo espaço vazio, seus olhos vagando pela escuridão. A tristeza em seu coração parecia ter encontrado um reflexo nesse ambiente sombrio, como se a Sala Precisa entendesse seu estado emocional. Ela se viu refletida na escuridão, uma figura solitária em busca de algo para se apoiar, mas não havia nada.

Mas então, algo mudou, a escuridão começou a se dissipar diante de seus olhos, dando lugar a um novo cenário. As paredes ásperas e sem forma cederam espaço a uma decoração elegante e sofisticada. Shara piscou, confusa, enquanto os móveis surgiam do nada e as paredes de pedra se elevaram com toda aquela tapeçaria, ela se encontrava agora em um ambiente que era mais familiar do que jamais poderia imaginar. Aqueles eram os aposentos privativos do professor Snape, cada detalhe recriado com precisão impressionante, até mesmo a estande de bebidas, ela estava ali agora intacta novamente, a lareira crepitante. Ela podia até sentir o aroma característico dos ingredientes de poções no ar.

Num acesso de fúria, ela se aproximou da estante outra vez, agora com as próprias mãos ela retirou as garrafas da estante, uma por uma as jogando com força contra o chão, como ousavam? como podia brincar com suas emoções daquela maneira? Ela estava ali para encontrar consolo, não para ser lembrada dele, daquele homem... aquele mentiroso, ele que era o seu pai biológico. Ela sentiu-se traída pela Sala Precisa, como se a própria magia estivesse zombando da sua dor.

—ISSO NÃO É O QUE EU PRECISO - ela gritou para o vaziou, seus olhos faiscavam de raiva. Ela sentiu uma onda de negação tomar conta de sua mente. Ela não poderia aceitar que em seu momento de vulnerabilidade e busca de consolo fosse transformado em uma lembrança de sua conexão com ele, o homem que agora, ela odiava – NÃO... EU NÃO PRECISO DELE, ESTÁ ME OUVINDO... SUA SALA IDIOTA – ela gritou mais uma vez, se deixando desabar, e caída ali no chão, ela chorou.


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Notas finais do capítulo

Tadinha né
Percebam a mudança sutil dos personagens.
Agora vemos um Severo Snape mais ciente do que sente, defendendo sem restrições sua filha das "boas" intenções de Alvo Dumbledore, e declarando com todas as letras que se for necessário defende-la, ele fará, independente de contra quem seja, ok ok... o diretor esta certo, tentando manter as coisas sob controle a sua maneira... sabemos bem suas estratégias, ele vai pela manipulação e costuma funcionar.

E a conversa dele com Shara... dessa vez ele não fez nenhuma questão de poupa-la em nada, tadinha né, ela sequer teve tempo de se recuperar, achei a abordagem pesada demais, ele literalmente incutiu o medo, talvez dê certo... enfim, mas se eles estavam todo cautelosos e mantendo ela as cegas, agora ele meio que escancarou a merda toda, e a fazendo se sentir responsável pelo desfecho dos demais personagens... em outras palavras, se pisar fora da linha de novo a culpa é tua, fulano pode morrer, eu posso ser expulso... e assim vai, ai ai...

Sobre Medusa, é verdade... na miologia grega, seus pais eram divindades marinhas, sobre essa fic, o que aconteceu com eles e por que ela foi criada por um aldeão local... ai já é outra história, mas ela teve sim uma infância terrível, semelhante com a de Shara, a história se repete mais uma vez... né, por que tinha que ser assim, mas Shara carrega no sangue a magia ancestral, que nessa história, é uma ameaça a comunidade bruxa... mas real é mais preconceito, por que esse povo é tudo assim, não sabe lidar com as diferenças, qualquer semelhança não é mera coincidência hahaha

E esse final... A sala precisa, chorei com a Shara.
Mas a verdade é que a sala precisa, ela nunca mente.
E quem ainda não se emocionou... Aguarde que vem fortes emoções!

Obrigaduuuu por acompanharem.

PS: Severo lamentando sobre a garrafa de whisky de colecionador, eu te entendo, juro que sim hahaha

Mas pra verem que com magia ancestral ou sem, ela quebraria tudo de novo.



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