Destinos Improváveis escrita por Nara


Capítulo 67
Futuro - Mãos a massa




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Se existia algo melhor que ser acordada com o cheiro de café recém passado, isso era algo que ela desconhecia, ou quem sabe café passado com biscoitos de canela? Sim... ela abriu os olhos, aquele cheiro estava impossível, mas além daquelas maravilhosas sensações, havia uma nada boa ali... e que a fez lembrar imediatamente da realidade, a dor irradiada por aquele corte em seu braço, ela o recolheu para junto de si, como se aquilo pudesse ajudar de alguma forma, e emitindo um gemido de dor involuntário o efeito da poção passava rápido demais, ela se levantou envergonhada ao se lembrar do episódio da noite anterior, que foi desencadeado principalmente por causa daquela dor, o professor, ela notou, já estava a mesa, lendo o jornal, cena clássica, ela pensou, ele estava com as vestes corriqueiras de trabalho, certamente teria um dia cheio de aulas, talvez ela devesse se arrumar também? Ela não sabia, mas ela não queria incomodar, ela já havia incomodado o bastante.

—Epson - ele chamou notando sua presença, ela se aproximou da mesa, se sentando enquanto ele mantinha os olhos fixos no jornal, não que ela esperasse algo diferente - a próxima semana é a última do semestre, semana que será inteiramente dedicada para as provas finais, é claro que você já sabe disso – ele disse, fazendo uma pausa – portanto estou lhe concedendo um afastamento temporário até o final dessa semana, use esse tempo para se recuperar adequadamente e principalmente e o mais importante para estudar pois não espero nada menos que um excelente em todas as matérias - ele orientou, baixando o jornal e agora sim a encarando, ele estava sério, na verdade ele sempre estava sério... bom se ela entendeu aquilo certo, ela estava de folga todo o resto daquela semana... Era isso mesmo? - deixei separado as poções para dor, elas devem ser tomadas de 4 em 4 horas, já deve ter notado que o efeito não dura muito mais que isso, é normal nesse caso e tente não coçar – ela olhou para o braço, ela ainda o recolhia contra si - ficará dolorido assim por uns dia, e esse é o único, repito… o único motivo pelo qual estou concedendo os afastamentos.

—Sim senhor - ela respondeu sem graça, o que ela poderia esperar? Que ele fizesse algo por que simplesmente gostasse dela ou coisa do tipo? Seria mesmo pedir demais.

—Separei uns livros - ele apontou para uma pilha no canto da mesa - são livros avançados de poções - ele explicou sem esboçar nenhuma emoção, espera… ele estava fornecendo os livros, aqueles livros que ela havia pedido a dias atrás? … ele estava voltando atrás naquilo também? - não me olhe com tanta surpresa - ele refutou - esse é um pequeno, porém significativo voto de confiança Epson, se sair dos trilhos mais uma vez, uma única vez, eu juro que farei aquilo que sugeri - ela levantou uma sobrancelha, e o que seria isso? ela pensou não se lembrando de nada que ela possa ter dito nesse sentido - vou prende-la numa torre alta, alta o bastante e trancarei a porta, como sei que tem medo de altura, não poderá fugir - ele respondeu quase como quem pudesse ouvir seus pensamentos – e farei isso durante todo o feriado de natal - ele sorriu com malicia com o canto da boca, mas ela ficou na dúvida se ele estava mesmo falando sério, haviam algumas coisas que ela simplesmente não duvidava mais.

—Eu… - ela o encarou, era estranho agora, olhar para ele que a havia feito dormir em seu colo naquela madrugada, depois de contar uma história infantil, era estranho principalmente por que ele parecia ser o mesmo de sempre, como se aquilo não tivesse representado nada, mas para ela representava e representava muito, mas é claro que ela não iria comentar, ela já estava cansada de parecer uma garotinha estúpida como ele mesmo costumava dizer, na frente dele outra vez, e bem era evidente que o intuito ao ameaça-la daquela maneira, era unicamente para assusta-la, e como sempre, ele havia conseguido – obrigada, eu prometo, eu não vou desaponta-lo dessa vez.... – ela olhou para os livros, certamente não podendo disfarçar o quanto aquilo a encantava.

—Tenho certeza que não – ele disse com uma convicção que a obrigava a atender suas expectativas, ela faria.

—Senhor... eu posso fazer uma pergunta? - ela pediu voltando sua atenção para ele.

—Acabou de fazer uma - ele respondeu com pouco interesse, enquanto ajuntava uns pergaminhos, a deixando na dúvida se poderia prosseguir - estou esperando - ele disse depois de um tempo.

—Sobre a história… aquela que estava me contando, sobre os três irmãos… o que acontece depois? digo eles fizeram a ponte, e bem... quando eles estavam atravessando, eles encontraram com a morte... o que aconteceu com eles depois? - ela pediu corando, ele parou o que estava fazendo, era evidente que ele esperava tudo, menos aquela pergunta – ele se virou para ela e por um instante ele parecia pensar em algo, algo distante dali. 

—Passarei o restante do dia fora – ele informou a ignorando, ela havia dito algo errado? - são turmas avançadas, portanto não gostaria de ser incomodado, no final do dia farei a refeição no salão principal e logo depois estarei ocupado com uma detenção, portanto não deve me esperar, caso precise de algo, algo importante use a moeda, já suas refeições, elas serão trazidas no horário programado, avisei um dos elfos na cozinha, deve comer tudo, principalmente os vegetais  - ele orientou, e por um momento ela se sentiu frustrada, ela havia tentado... Mas ele realmente não se importava, era óbvio que aquilo que ele havia feito, aquela história e tudo mais, seria algo que não iria mais se repetir, e pensar naquilo a deixou alarmada, afinal...aquilo era algo que ela queria que se repetisse? Sendo honesta com si mesmo, sim,  ela achava que sim... ela olhou para o chão, desnorteada, percebendo que mais uma vez, ela estava descalça, e agora torcendo para que ele não notasse.

—Se... por acaso, ficar entediada... eu posso sair? – ela perguntou ressentida, por fim se pensar bem, só faltava mesmo a torre alta, já que passar o dia todo sozinha e isolada ali, como ele estava propondo, não era muito diferente de uma prisão, podendo ser ainda pior, já que sequer haviam janelas, uma torre teria janelas certo? mas ela estava presa nas masmorras.

—Terá bastante com o que se ocupar, não deve e não quero que fique andando por aí... do contrário ficaria melhor arranjada em sala de aula – ela cruzou os braços aborrecida, e por um momento ela se questionou o por que estava tão chateada? Aquilo era algo que nem ela entendia... mas ela estava, ele não havia dado nenhuma importância para o que havia acontecido entre eles, ele ignorou a sua pergunta, o que ela esperava alguma consideração especial da parte dele? Sim, era exatamente aquilo que ela esperava... mas em contra partida ele havia separados os livros, e aquilo era de algum maneira, uma forma de ser legal... mas ainda assim, ela não entendia, ela não queria demonstrar aquilo para ele, afinal era algo que ela não teria como sustentar, não haviam sequer argumentos, ela virou o rosto, ciente do quão ruim ela era em disfarçar o que sentia – ela notou que ele estava se aproximando, isso a deixou sem reação – algum problema com isso Epson? – ele perguntou, e ela gesticulou negativamente com a cabeça, mas era evidente que sua expressão dizia justamente o contrário – precisará melhorar, já que mente muito mal – ele disse se aproximando ainda mais dela, ela não recuava mais, mas seu coração havia disparado, e então ele segurou o seu queixo, por que ele sempre fazia isso? aquele não era um bom momento para isso, pois dependendo do estado de espirito aquilo podia ser bastante inconveniente – a história se chama O conto dos três irmãos é um conto muito conhecido no mundo bruxo, falaremos a respeito em outra oportunidade – ele disse olhando fixamente nos seus olhos e aquilo praticamente derreteu todo o gelo que havia se formado ali e desfez o caos, ela poderia mesmo ser tão carente assim?  ele aproveitou a proximidade e puxou o seu braço com cuidado o inspecionando, aquilo doía muito - Está doendo? - ele perguntou.

—Sim - ela não estava brincando, aquilo latejava dentro da sua cabeça, era horrível, ele estava tão perto agora, ela gostava daquela proximidade – eu... apenas me desculpe... o senhor nem tem obrigação, sabe de nada disso – era uma verdade – eu apenas não sei lidar com algumas coisas, eu... sou uma bagunça acho que o zelador Filch ele estava certo sobre mim... eu... 

—Shiiii – ele pediu silencio sustentando o olhar - não existe nada de errado em expor aquilo que sentimos, o problema está na forma em como fazemos isso, a medida que for crescendo vai perceber que poderá administrar isso melhor, por hora, precisa aprender a controlar, fazer uma pausa, afinal dificilmente as coisas acontecerão conforme aquilo que espera, principalmente quando isso envolve outras pessoas, eu percebo a sua frustração, mas dê tempo ao tempo – ele não parecia bravo, isso era estranho também, já que aquilo era quase como um sermão, porém dito naquele tom, soava mais como um conselho, ela nunca havia chegado nisso, com ninguém.

—O senhor... também se sente assim as vezes? – ela não sabia controlar, ela precisaria de ajuda com isso, será que ele poderia ajudar?

—O tempo todo – ele respondeu e ela sorriu, não por que fosse engraçado, mas sim por que era reconfortante saber que de alguma forma alguém a entendia – o senhor sabe disfarçar bem, digo aquilo que pensa, os sentimentos... Sabe é difícil saber, e é confuso na maior parte das vezes... quer dizer exceto quando está bravo, ou mal humorado... e isso é quase que o tempo todo – ela arregalou os olhos ao ouvir seu próprio comentário – me desculpe senhor, eu não deveria... – ele a soltou, cruzando os braços na suas frente, e mais uma vez ela não podia lê-lo, será que um dia, ela se tornaria boa nisso? E agora... Ela o havia irritado? 

—Talvez – ele disse fazendo uma pausa - existam outras coisas que precisará aprender a controlar – sim ela sabia, sim ele estava certo sobre isso.

—Impulsos – ela quase sabia de cor aquele discurso... – sobre impulsos, bem... sobre ontem, me desculpe, aquela voz eu só achei que alguma pessoa pudesse precisar de ajuda, e que não daria tempo de acionar ninguém... no caso o senhor… é horrível ouvir aquilo sussurrando sobre rasgar e matar alguém daquela forma, sendo que sou a única que pode de fato ouvir aquilo, eu senti que deveria... fazer algo – ela se encolheu... – Antony ele tentou impedir... ele estava bravo, eu não o ouvi... eu sei que não deveria, sinto muito.

—Me referia a língua... controlar a língua - ela corou - sobre ontem a noite, digamos que estou disposto a esquecer o episódio… desde que…

—Eu cumpra as regras, fique aqui, obedeça, não haja por conta própria... - ela se antecipou.

—Desde que… - ele a cortou - coloque meias - ele respondeu, a pegando de surpresa, o que? O que uma coisa tinha haver com a outra? - a essas alturas já deveria ter parado de finalizar as minhas frases… mas sim para todo o resto também - ele disse com uma certa ironia… certo ele havia reparado que ela estava descalça, nada, nunca passava despercebido por ele, ela suspirou.

—Bom… isso não será tão fácil, já que vou precisar de meias novas - ela admitiu, aquilo não era nenhuma mentira, ela não tinha muitas coisas, mas definitivamente aquilo não era algo com que ela se importasse.

—Accio meias - ele disse quando um pacote de meias fechados voou até a mão dele, ele estendeu fazendo sinal para que ela o pegasse, ela estranhou, mas pegou, notando serem exatamente do seu tamanho, impossível... 

—Como? - ela perguntou certamente deixando transparecer sua confusão… ele estocava meias? meias de tamanho infantil? Aquilo era impossível... 

—Precaução - ele respondeu com ironiaa - nunca se sabe quando você será acordado por uma aluna as 3 horas da manhã, e terá que consolá-la já que aparentemente ela está abalada pela falta de meias apropriadas…. – Ela estava corando novamente, ela podia sentir a pele do seu rosto esquentar...

—Eu… não, não era isso... não... Meias? - ela tentou, confusa ele só podia estar brincando, se achava que ela tinha chorado por falta de meias? Mas ele parecia estar se divertindo ali, aquilo não era engraçado... era constrangedor para ela.

—Mas tudo pode ficar ainda mais difícil quando você precisa resgatar essa mesma aluna de um esconderijo... ultra secreto – ele a analisava, como ele podia ficar sério ali? Ela queria cavar um buraco e se esconder - cobertas – ele disse como se estivesse revelando um segredo confidencial – e então sua única alternativa de resgata-la é pegá-la no colo, a embalar enquanto luta contra sua própria mente em busca de algo para dizer que seja capaz de tranquiliza-la... quem sabe um conto infantil, mas que foi ouvido pela metade, já que sequer consegui terminar... - ele estava fazendo de propósito, ele queria deixa-la constrangida, sim e aquilo havia dado muito certo, era vergonhoso demais dito daquela forma, ela não sabia como contornar aquilo - honestamente talvez seja eu que devesse estar frustrado aqui, será que minha voz é tão ruim assim?  - ele perguntou enquanto ela gesticulava negativamente a cabeça até que ele finalmente riu enquanto se virava para terminar de se organizar suas coisas antes de sair - algum problema Epson? eu disse alguma inverdade aqui?  - Ele pediu, notando seu desconforto.

—Aquilo… não era sobre as meias - ela reforçou, sabendo que estava vermelha.

—Use as meias – ele disse ficando sério outra vez - não mexa em nada que não tem permissão, não ouse colocar esses seus pezinhos de meias já que não existe mais razão para não usa-las - ele enfatizou - em meu laboratório e muito menos em meu quarto pessoal, acredite eu saberei… tome o café, e faça as demais refeições no horário, estude e desenvolva algo a respeito da poção, quando voltar gostaria de avaliar o que foi feito aqui - ele orientou – não preciso dizer o quanto posso ficar aborrecido caso minhas regras não sejam cumpridas, motivo pelo qual devo estar de mal humor, quase que o tempo todo - ele disse com sarcasmo, repetindo a consideração que ela havia feito sobre ele antes, enquanto caminhava até a lareira… - não faça o que quer que for faze, de qualquer jeito, pois sabe que terá que refazer – ele finalizou, sem uma despedida formal... mas ela achou que poderia providenciar uma.

—Professor… - ela o chamou, ele se virou para encará-la - obrigada pelas meias… não por ser da Sonserina ou coisa do tipo, mas a cor verde sempre foi a minha cor preferida – ela disse, indo até ele, que agora parecia confuso, e isso soava bem... ela o alcançou  o abraçando pela cintura, era tão natural agora, e simplesmente parecia o certo a se fazer, ele passou a mão pelo seu cabelo e então saiu… talvez ele gostasse um pouco dela, só um pouquinho, ela sorriu, e aquilo não era uma prisão, para ela era como uma casa. 

—____

—Severo Snape, que surpresa... o que o traz aqui tão cedo? - Antony perguntou olhando para o relógio, ao recepciona-lo na enfermaria – bem... você se lembra de que levou a menina ontem à noite, não lembra? – agora ele parecia preocupado, idiota, Severo pensou.

—Obviamente – ele se limitou em responder - Vim apenas para suprir algo que sua falta de atenção e total ineficiência deixou passar - ele disse provocando a ave, ao entregar um estoque de poções para dor, Antony analisou com cautela o material como se ambos dispusessem de todo o tempo do mundo ali, Severo pigarreou irritado, enquanto fazia cara feia. 

—Certo… me poupou o trabalho de pedir - Antony disse sem demonstrar qualquer tipo de ressentimento com o seu comentário hostil, por que é que aquele pássaro estava sempre tão bem humorado? Aquilo chegava a ser demasiadamente irritante – eu me pergunto... – Antony sorriu para ele - será que deveria agradece-lo por sua tão incrível proatividade de fornecer aquilo que... na verdade é sua função fornecer? - ele disse zombeteiramente, além de tudo ele não tinha um pingo de auto preservação.

—Mas é muito abusado mesmo - ele rosnou, tentando intimida-lo, enquanto se virava, fazendo menção em sair, aquela ave era uma completa perda de tempo... – sorte a sua AVE que não pode morrer – Severo disse ainda de costas, com o intuito de cutucar aquela ferida, já que ele sabia bem como ele se sentia a respeito disso – ou talvez não seja sorte... não é mesmo?  – ele sorriu com malicia, ouvindo Antony suspirar.

—Não queria chegar a esse ponto... mas já que não me deixa escolhas... – ele disse, obrigando Severo a se virar outra vez - sabe, estive pensando sobre as coisas... eu, você... Maeva, Shara – Severo o encarou, sobre o que aquela ave estava tagarelando agora? – E bom... embora eu possa parecer muito mais jovem que você, e digo muito mais jovem mesmo, se é que me entende – ele sorriu outra vez ao enfatizar a palavra jovem - mas… a verdade é que não sou, sabemos disso não é mesmo? Então... já que sou na verdade muito, mas muito mais velho e agora que sei que Maeva é minha descendente… e que eu sou tipo um avô tanto para ela, como para Shara...  Decidi que devo me portar como tal, explico – ele disse levantando a mão – olha só você, o que você é mesmo? Numa organização familiar, seria uma espécie de genro ou algo assim.... Então hierarquicamente, você desce... e eu... bem, eu subo – ele fez uma pose de vencedor, ao cruzar os braços - parece que o jogo virou não é mesmo? – Severo também se posicionou melhor, não acreditando que estava mesmo perdendo seu tempo ouvindo aquele tipo de baboseira – aham... eu sei que está chocado, posso ver - Antony disse o encarando com ironia – claro, que podemos ter um relacionamento pacifico aqui, mas alguns limites precisam ser impostos e isso só depende de você... já que deve me respeitar - ele disse aquilo sério e Severo sentiu vontade de rir, era patético.

—Claro – Severo respondeu de forma arrastada, tentando soar o mais indiferente possível, já que Shara havia dito que ele era bom nisso, na verdade, ele era... ele sabia – e eu posso saber do que se trata esses limites? – ele perguntou entrando no jogo.

—Bom... – Antony sorriu – para começar, gostaria que você parasse de se referir a mim como ave, é um pouco inconveniente, já que não sou uma, você sabe... e que tal parar de me bater... esse negócio na cabeça... é um pouco chato – ele pediu - viu é simples, sou muito legal.... Ah espera ainda não mencionei o whisky... as vezes a gente podia simplesmente sentar fumar uns charutos e beber uma dose de whisky, uma coisa bem de família... – ele sugeriu animado, fumar charutos? Sério, aquilo estava indo longe demais, Severo se aproximou mais dele, que passou a encara-lo confuso, e então o tapeou na cabeça mais uma vez, ave estupida – eiiii você ouviu o que eu disse sobre isso? E saiba que isso dói... caramba – Severo sorriu com ironia.

—Pare de se comportar como um idiota – Severo pediu – para seu conhecimento, tenho mais o que fazer – ele bufou – e está me fazendo perder tempo.

—Ok... já que prefere dificultar as coisas entre nós.... Mas saiba que daqui pra frente estarei empregando todas as minhas energias .... – Severo se aproximou mais dele o segurando pelo braço com força e o empurrando contra a parede.

—Escute aqui ave, quer mesmo empregar suas energias joviais em algo – ele refutou aquilo de propósito – então que o faça em algo verdadeiramente útil – ele o encarou evidenciando sua falta de paciência – você se preocupa com a criança? Quer ocupar sua função de “avo”? –  Antony o encarou, ele não era do tipo que recuava – então comece a usar essa sua mente fértil para resolver problemas de verdade – ele o soltou com força – e que farão alguma diferença aqui e para ela.

—É obvio que me preocupo com ela, achei que já tivesse notado Snape – ele disse enquanto alisava a manga de sua veste – não sou mais... apenas uma ave, como insiste em me chamar, mas não deixei de ser o seu guia... e digo mais – ele cuspiu o encarando - mesmo se eu não fosse, eu me importo, e me importo muito antes de você chegar... eu vi ela nascer, acompanhei os primeiros passos... ainda que seja pouco, mas eu me lembro, de tudo, quase literalmente como se fosse ontem... ela é especial, muito especial...  e eu vou estar aqui para ela sempre, ainda que ela seja bastante teimosa, muito cabeça dura e difícil as vezes, mas enfim, como eu digo, o que esperar quando se tem um pai como você? – agora era Antony  que o estava provocando, Severo queria azara-lo, mas não depois de ouvir aquilo, ele sabia, e sim... ele se importava com ela e faria o que fosse possível para protege-la – e sobre fazer algo por ela... por que está me atacando assim? se tem algo para me dizer nesse sentido... apenas diga, e eu farei, por ela... TUDO – ele de fato não recuava, e de certa forma ele poderia ser útil, então Severo cedeu.

—Vou descobrir sobre a poção que Poseidon colocou naquele colar... sua função e  propriedades– ele disse ignorando todo o resto dito por ele ali – já que me parece ser útil para ser usada em alguma espécie de ritual que ela deverá fazer, onde entendo que tudo isso será desfeito – Antony havia mudado a postura agora, deixando de estar tão na defensiva e prestando atenção interessado - Descubra do que se trata o ritual e onde deverá ser feito – Severo pediu, o encarando – se quer mesmo fazer algo por ela... faça isso – a ave parecia absorver aquilo - havia uma canção - Severo se lembrou - aquela que Shara cantou quando vocês se conheceram aqui na enfermaria aquele dia, lembro que certa vez você mencionou sobre aquilo na verdade ser uma carta, uma carta deixada por Poseidon, Shara redigiu aquilo... se precisar consiga com ela uma cópia – ele orientou.

—Não há necessidade, eu sei de cor – Antony disse de forma vazia –  Medusa cantava para Crisa... eu nunca vou me esquecer da voz dela e da letra... e sim eu posso... e eu vou fazer isso – ele estava sério agora – Shara é a guardiã predestinada, e bem talvez tudo esteja mesmo arranjado... o destino, você sabe – ele parecia pensar naquilo – eu sei que não acredita nisso, não dessa forma mas... desde que você quebrou a minha maldição, e apesar de nossas diferenças – ele disse massageando a cabeça outra vez – eu posso ver que você está de alguma forma se posicionando no lugar certo, e a carta de Maeva destinada a você prova isso também, embora... Elza tenha interferido, mas ainda assim e de qualquer forma, tudo tem acontecido como se fosse algo perfeitamente arranjado, tenho certeza que até você consegue ver isso  – ele disse... sim aquilo tudo tirava o seu sono, mas ele podia ver – e bem você é um mestre de poções, Shara traz isso em sua essência o que faz tudo fazer mais sentido, agora quanto a história dela... toda a dor, os traumas... é quase como se eu pudesse ver a infância de Medusa outra vez, regrada a injustiças... e eu... eu não a ajudei a superar aquilo... eu podia ter feito, ter dito algo... eu a amava, mas eu fui um completo covarde, e agora... não – ele o encarou mais uma vez, o olhando profundamente em seus olhos – conte comigo... eu sou a pessoa mais interessada no sucesso dessa empreitada, não apenas por que almejo um descanso, afinal Snape... como você mesmo disse não é sorte... nunca foi... – havia dor naquelas palavras, e aquilo o fez se sentir mal – mas tenho interesse nessa empreitada, antes de mais nada, por que eu a amo... eu não tive a oportunidade de segurar minha própria filha no colo, bem pelo contrário... – Severo sentiu o impacto daquelas palavras, se lembrando de como ele mesmo havia embalado Shara na noite anterior, a confortando... em seu colo, e de repente ele se deu conta do quão grandioso aquilo poderia ser... –  meu tempo passou – Antony completou – mas ainda posso fazer algo do qual eu possa me orgulhar aqui, e fazer isso por ela... será minha única e maior satisfação aqui, antes de... bem você sabe, me despedir dessa vida, de fato– ele sorriu, mas não era de felicidade – sinto que devo isso a Medusa, devo isso a minha filha... Crisa... as outras guardiãs, e principalmente a Maeva, Shara a sua filha, ela merece uma vida melhor... e preciso admitir, mas sorte dela que ela tem... – ele teve dificuldades ali, e Severo não sabia se queria mesmo ouvir aquilo... – você – ele finalizou.

—Antony – Severo disse o nome dele, querendo de verdade dize-lo, se existia algo que ele podia reconhecer bem no comportamento de alguém, era o quão nobre algo poderia ser, principalmente por que ele nunca havia se portado assim e por mais que a história de Antony com Medusa se assemelhasse com a dele num passado distante, os arrependimentos, as suas próprias falhas... mas Antony, ele era diferente, ele não havia se fechado para a vida, Antony caminhava na luz, irradiava uma energia do bem, mesmo depois de tudo... e aquilo escancarava ainda mais a sua fraqueza, ele era fraco, Antony não... – se existe mesmo um arranjo, e se estamos nele por alguma razão, é por que ambos precisamos de alguma redenção – ele disse, podendo enxergar aquilo, sim ele acreditava agora - e quem sabe a sua participação na história de Medusa, ainda não tenha se encerrado completamente – Antony fechou os olhos, Severo podia ver como aquilo era difícil para ele, e não podia julga-lo naquele ponto – faça o que tem que ser feito, faça por Medusa... por Shara, ou por quem achar que deve merecer – ele disse – saiba que terá minha eterna gratidão, além de receber o que procura... terá a sua recompensa, poderá verdadeiramente descansar – Antony assentiu – a propósito – Severo, precisou buscar as palavras, já que dizer aquilo não estava programado – eu já sou grato, por tudo que tem feito por ela, pela criança... até aqui - era verdadeiro.

—Sua filha – ele o corrigiu – diga, apenas.... diga – ele incentivou – afinal é isso que ela é... Não cometa o mesmo erro que eu, essa dor, ela é incurável Snape. 

—Sim... pela minha filha – ele disse, sem qualquer dificuldade ou objeção, Antony sorriu, aquilo era genuíno – sou grato, por cuidar dela, e por não tê-la deixado correr pelo castelo sozinha, ontem à noite, eu sei, e posso ver a minha contribuição no seu temperamento, e tem sido... digamos que... – era difícil admitir aquilo também – desafiador reconheço, mas eu posso ver que se importa com ela... certamente teria sido um bom pai – Antony assentiu, era evidente o quanto aquilo mexia com ele, até mesmo Severo que não era mental, teve que respirar fundo ali, pois de alguma forma aquilo tudo o tocava, de uma forma diferente – um pai muito melhor do que eu poderei ser, até por que isso é algo que não será possível... não para mim – ele concluiu, sentindo o peso do que havia acabado de dizer.

—Entendo...– Antony disse, e ele parecia mesmo compreender a sua dor – mas mesmo que não carregue um título,  já que convenhamos exercer a paternidade vai muito além do que ser reconhecido e chamado de pai por alguém, e você, bem… você tem sido intencional com ela, mesmo que com certa relutância no começo e ela... ela te admira, confia em você completamente, se sente segura ao seu lado e o mais importante de tudo, ela te ama – Era estranho ouvir tudo aquilo, dito por outra pessoa assim, mas Severo sabia, ele podia ver aquilo agora, ele podia sentir nas inúmeras vezes em que havia sido abraçado por ela... no olhar que ela lançava, quando ela encostava a cabeça em seu peito e agora ao fazê-la dormir… Maldita Maeva que trouxe sentido para a sua vida, ele reconheceu, Severo encarou Antony não havia mais nada a ser dito, Antony parecia pensar o mesmo, e ele lhe estendeu a mão - mãos a massa - ele disse - temos um trabalho para fazer, quem diria… somos uma equipe, eu e você… e pensar que eu te odiava - Severo apertou a mão dele, assentindo com a cabeça, era recíproco… mas aquilo havia ficado no passado, sim eles eram uma equipe, naquele arranjo feito pelo destino. Ele se virou, havia uma turma o esperando….

—Ah Severo, pra ser sincero, eu nem gosto de charutos… - ele disse - mas o whisky… vamos não é nenhum sacrifício… - ele pediu, o fazendo rir para si mesmo, enquanto saia do recinto.

Enquanto se direcionava a sala de aula, sua mente vagava ali, discutir aquilo, havia trazido a tona, verdades que ele tentava em sua maior parte das vezes não pensar, sim ela era a sua filha, embora admitir nao fosse mais um problema, porém tudo naquele sentido era insustentável, ele não conseguia ver uma luz ou algo que contasse ao seu favor, eles nunca seriam uma família e não era apenas a história dela que contava ali, mas era a dele... de que adiantaria salva-la de tudo aquilo, da maldição quando ele a estaria expondo ao perigo de tantas outras formas, simplesmente pelo fato de ser ele quem era, havia uma probabilidade enorme do retorno do lorde das trevas, algo que ele e Alvo já haviam discutido inúmeras outras vezes antes, e ele jamais pouparia uma filha dele... uma filha de Severo Snape seria um prato cheio, principalmente ao descobrir que com ou sem maldição, com ou sem marca ela também havia sido uma guardiã, ele seria tratado como um traidor perante todos, como alguém que havia negado o sangue de Maeva, estragando assim os planos e propósitos dele, o lord das trevas era sádico o suficiente, para mantê-lo vivo pelo mero prazer de machuca-la na sua frente, o obrigando a assistir um espetáculo de horrores, ele jamais poderia permitir aquilo, o destino como Antony havia se referido, podia ser muito cruel para alguns, e Shara não merecia carregar mais esse peso, ele precisava preserva-la, e fazer isso exigia uma renuncia.


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Notas finais do capítulo

Nesse capítulo não temos nenhum personagem chorando, por que convenhamos essa é uma história onde o povo gosta de derramar uma lágrima né, caso ainda não tenha notado kkkk

Mas em compensação, a autora aqui chorou horrores com esse momento do Severo e do Antony. Senhor do céu, eu fui reler e chorei outra vez, primeiro claro eles meio que quase se mataram ali... Uma pequena tensão, já que são literalmente o oposto um do outro, mas eles estão unidos por um propósito, eles são uma equipe como diz o Antony e cara que equipe!

E querendo ou não, Severo meio que botou todo mundo para trabalhar nesse capítulo, Shara estudando os livros sobre poções (pq sim Severo foi mto legal nesse ponto com ela) e agora o Antony.

Obs: o diálogo dele com a Shara no começo e ele meio que ensinando ela a se regular foi muito paternal (do jeito dele vai kkkk ) ela perguntando sobre o conto meio que querendo que aquilo se repetisse novamente (e nós também né hahaha) também foi fofo, principalmente porque ele a deixou super sem graça ali hahaha

A Severo, sua voz é incrível... Vem contar uma história pra mim? Hahaha (adoraria)

Espero que estejam gostando :)
Ansiosa pra saber o que acharam



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