Destinos Improváveis escrita por Nara


Capítulo 66
Futuro - Sentimentos Parte I




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Shara estava cansada, não que ela houvesse efetivamente feito algum esforço para isso, já que havia passado grande parte daquele dia todo naquela cama, mas digamos que não fazer nada e ocupar sua mente teoricamente ociosa com todos os últimos acontecimentos marcantes da sua vida, também cansasse, visto que, ela tinha o bastante para processar ali, e portanto era assim que ela se sentia, cansada.

E sem mencionar o incomodo latejante que era aquela cicatriz enorme em seu braço esquerdo, as poções para dor ajudavam, mas perdiam o efeito em questão de horas, Antony passou o dia todo por perto e de tempos em tempos ele perguntava se ela precisava de algo, na maioria das vezes ela não precisava, ela não queria incomodar, Shara estranhou a ausência de Madame Pomfrey, era incomum, mas aquilo não era da sua conta então ela não quis perguntar, Shara olhou para o grande relógio central que pendia no centro do salão, este apontava ser 22 horas, era suficientemente tarde e o professor Snape certamente não apareceria mais naquele dia, ele teve aulas no período da tarde e com certeza tinha muito mais com o que se ocupar, ao invés de checa-la na enfermaria outra vez, ela pensou... o que será que significava aquilo? Ela queria que ele viesse? ela estaria sentindo falta dele? Enfim pelo menos eles haviam se acertado, e isso a deixava um pouco mais calma, principalmente por ter sido iniciativa dele, que ironicamente havia voltado atrás em algo, nunca havia acontecido antes e ela suspirou ao se lembrar da conversa que haviam tido mais cedo, ela ajustou a cabeça no travesseiro tentando uma posição mais confortável e sentindo a pálpebra dos seus olhos fechar.

—“Sangue, eu sinto cheiro de sangue, eu vou rasgar eu vou matar...”  - Shara abriu os olhos num impulso involuntário, era aquela voz novamente e parecia tão, mas tão perto dessa vez, ela pulou da cama assustada, tirando sua varinha em sinal de ataque... mas atacar o que? Aquilo era um padrão e portanto apenas uma voz sem corpo no meio de nada. 

—Algum problema Shara? – Antony, que estava na parte dos fundos da enfermaria, perguntou ao se aproximar dela – o que é isso? O que está fazendo? – ele se posicionou em estado de alerta também, porém confuso, por não ouvir e não ver nada que pudesse ameaça-la ali, ela sabia... Afinal só ela conseguia ouvir aquilo, o que tornava tudo ainda mais estranho.

—É complicado, mas eu ouvi uma voz... – ela não sabia muito bem com explicar aquilo, para ele – uma voz, um sussurro, na verdade, algo arrastado... e essa voz, assassina ela diz coisas horríveis… - ela tentou, vendo a confusão no rosto dele.

—Uma voz? Eu… eu não ouvi nada – ele refutou – que tipo de coisas horríveis? – ele perguntou curioso.

—”Sangue... estou com cede, preciso de sangue, venha até mim...” – Shara a ouviu outra vez, e aquilo fez com que ela se arrepiasse da cabeça aos pés a fazendo congelar ali, de onde vinha aquilo afinal de contas? Que criatura era aquela?

—Shara... – ele chamou – está me assustando.

—É que está perto, eu só não sei onde... – ela disse, enquanto olhava para todos ao lados, e com a varinha em punho – bom, basicamente sempre diz a mesma coisa, são coisas relacionadas com morte, sangue e o desejo de rasgar alguém – ela explicou, sentindo a expressão de pânico se formar no semblante dele.

—É... não me parece muito amigável, talvez devêssemos chamar alguém? Um professor talvez... um professor especifico? Shara? – ele estava com a voz estrangulada, era estranho ela nunca o tinha visto sentir medo antes, era nítido o que ele estava sentindo.

—Estamos sem tempo, precisamos intervir, antes que isso mate alguém – era obvio que Shara deveria avisar o professor Snape, ela sabia, ele havia dito... mas eles não teriam tempo para aguarda-lo chegar e pelo que ela podia se lembrar das outras vezes a voz sumia tão rápido, como surgia e então ela correu até a porta da enfermaria, sem se preocupar com o que Antony faria.

—Precisamos? … ei... espere onde você está indo? – ele a chamou – por que está correndo atrás de uma voz assassina? Isso simplesmente não faz o menor sentido... SHARA! - ela o ouviu dizer, mas não havia tempo - por que é tão teimosa? – ele quase teve que gritar a última parte, já que ela estava a uma boa distância dele agora, quando ela notou que ele também a seguia – sério, o professor Snape vai me desossar vivo se souber que saímos assim e principalmente se algo acontecer com você, e falo sério… ele vai me cozinhar junto com uma daquelas sopas que ele costuma fazer – ele disse enquanto se aproximava um pouco mais dela – eu... eu ordeno que volte – ele tentou soar bravo, mas aquilo simplesmente não combinava com ele.

—Antony se não parar de falar eu não vou saber para onde a voz está indo  - Ela o interrompeu ignorando aquele pedido.

—E você acha que existe algum intuito da minha parte em saber onde a voz está? - ele perguntou, ela notou que ele estava tremendo… - olha, falo sério sobre voltar... Não deveríamos estar aqui fora, ainda mais com isso...

—”Sague... eu vou matar, eu vou rasgar... venha até mim” – Shara podia ouvir melhor ao se aproximar das paredes, o que era um tanto quanto inusitado.

—É pra lá – ela orientou, sinalizando para a direita – essa coisa, ela está chamando por alguém – ela avisou – vai atacar... Precisamos fazer algo.

—Como assim chamando? Shara…. é sério, me escute... – ele disse com cautela enquanto olhava confuso para a direita e depois novamente para ela – você está tudo menos raciocinando aqui ok? A única coisa que precisamos é voltar de onde viemos e isso é para o outro lado... – ele explicou, quando ele a encarou ainda mais surpreso - por Merlin menina, você está descalça e sem meias – ele parecia igualmente ou até mais horrorizado com aquilo, francamente se existia algo do qual ele precisasse rever, isso eram as suas prioridades.

—Bom... sobre isso - ela olhou para os próprios pés - acabei de sair da cama e me desculpa se não lembrei de calçar algo, principalmente quando existe uma voz à espreita, prestes a atacar e matar alguém no castelo, sendo eu a única que posso ouvir e intervir – ela disse aborrecida – e você está me fazendo perder tempo... – ela se virou ouvindo ele suspirar desanimado.

—O que poderia esperar de alguém que é filha dele...  – ele resmungou aborrecido.

—Espera... – ela se virou para ele outra vez – o que você disse? – ela perguntou, quase se esquecendo do motivo pelo qual estavam ali... ele desviou o olhar, arrependido – ANTONY – ela o chamou... então ele sabia, como ela nunca pensou nisso... é obvio que ele saberia – DIGA o que sabe... – ela o encarou.

—”Sangue... ai está... finalmente, sangue fresco” – droga ela estremeceu.

—Correee – ela gritou alarmada, enquanto corria sem rumo por aquele corredor estreito, cumprido e com pouca iluminação, ele estava logo atrás dela... seja lá o que fosse, havia atacado alguém, ela sabia... já que havia apenas silencio agora, foi quando ela parou bruscamente, obrigando Antony a fazer o mesmo, e ela viu a cena... havia alguém e havia um corpo estendido no chão, além de muita água espalhada por todo aquele corredor, seus pés estavam completamente molhados agora e estava frio... mas ela focou na imagem que se desenrolava a sua frente, e a pessoa ali, Shara reconheceu rapidamente, era Harry, Harry Potter?  Shara se escondeu atrás de uma estátua no corredor, como estavam em uma curva não foi tão difícil faze-lo ... e ela fez sinal para que Antony fizesse o mesmo e principalmente que não fizesse nenhum barulho agora, mas ele havia entendido dessa vez, o que Harry estava fazendo ali? Ele parecia estar checando algo, Shara notou o fantasma da Griffinória, aquele era o senhor Nick quase sem cabeça, ele também parecia estar paralisado no ar... duas vítimas petrificadas… e uma delas era um fantasma, isso podia ser possível?

—Pego em flagrante – ela ouviu o senhor Filch dizendo ao se aproximar da cena e de Harry – está pego garoto – ele sorria com malicia.

 _Senhor, eu juro... não fui eu... eu só estava... – era complicado já que ele havia sido pego naquilo, mas Shara sabia que não havia sido ele, ela podia ouvir a voz, aquilo era uma espécie de criatura, algo não humano, algo como a Hidra.

—Shara vamos... – Antony sussurrou para ela - pelo que posso ver existe mais um aluno petrificado e já que o zelador Filch chegou até aqui, não vai demorar para que encaminhem o aluno até a enfermaria e não seria nada bom se a encontrarem vazia – Antony estava certo sobre isso e o perigo parecia ter passado, mas as vítimas existiam, elas eram reais, e ela não havia chego a tempo, já que havia se distraído... não havia mais nada a ser feito ali.

—Desculpa te envolver nisso, dessa forma… – ela disse se virando para retornar – poderia por gentileza não comentar nada com ninguém a respeito? – ela pediu sem graça, Pomfrey tinha combinado de dar alta para ela na manhã do dia seguinte e ela não queria ser castigada com mais uma estadia na enfermaria, pior ainda seria se o professor Snape descobrisse, já que eles haviam acabado de se acertar e ela não queria arruinar tudo em tão pouco espaço de tempo.

—Bom, eu jamais deixaria que se arriscasse sozinha, mesmo que isso envolva correr pelo castelo de forma desordenada atrás de algo que não posso ver e nem ouvir – ele disse dando de ombros enquanto apressava os passos – mas confesso que teria sido mais apropriado se me ouvisse, acredite... não faz muito sentido arriscar a vida dessa forma contra algo do qual desconhecemos – ele estava com a mão no coração e ofegante – prometo não comentar com ninguém, desde que me prometa que irá colocar um par de meias ok? – Shara achou o comentário engraçado, mas assentiu – e desde quando você ouve esse tipo de voz? – ele perguntou -  já que não me pareceu ser essa a primeira vez.

—Não… não costuma acontecer muito, mas tem um certo tempo desde que a ouvi pela primeira vez – ela disse com honestidade, enquanto eles viravam o corredor se aproximando da enfermaria.

—Shara, você deveria contar isso para mais alguém, um professor quem sabe…

—Professor Snape – ela disse paralisando ao vê-lo ali de braços cruzados bem no meio do corredor como quem estivesse mesmo à espreita, apenas esperando para pega-los naquilo, ele estava sério e ela não precisava ser um gênio para identificar que estava com problemas outra vez.

—É uma boa ideia, acho que deveria contar a ele... - Antony disse continuando, sem perceber que eles não estavam mais sozinhos ali, até que ele parou ao se dar conta da presença dele.

—Muito bem – ele sorriu com ironia - eu posso saber onde é que vocês dois estavam? - o professor Snape perguntou demonstrando a irritação no tom de voz, Antony olhou para ela como que pedindo ajuda, um sinal, uma referência do que dizer ali – estou esperando uma resposta – ele exigiu.

—Fomos dar uma volta - Antony se antecipou, isso não ia dar certo... e ela teria que contar a verdade, afinal como eles haviam sido pegos por ele ali, ele saberia, afinal não seria nada difícil associar assim que o aluno petrificado fosse trazido para a enfermaria.

—Claro… - ele usou sua voz arrastada – um passeio... depois do toque de recolher, que escolha interessante para um adulto dito responsável - o professor disse circulando Antony de uma forma ameaçadora - ainda mais quando a criança, deveria estar repousando devido a quantidade de sangue perdido na noite anterior, mas é claro que um curandeiro auxiliar saberia disso – ele o provocou -  sem mencionar, caso não tenha notado que a criança em questão está descalça, quando a temperatura aqui fora se aproxima de zero - ele rosnou para Antony - que tipo de curandeiro quer se tornar Antony? Deixando a enfermaria sozinha - certo, ela teria que intervir aquilo estava ficando muito ruim… e bem Antony não tinha culpa, seria bastante injusto deixá-lo sofrer as consequências pelos seus atos imprudentes.

—Bom professor... digamos apenas que a responsabilidade a que se refere aqui - Antony disse o encarando de forma desafiadora e ela se encolheu - é muito mais sua do que minha, se é que me entende – Como Antony podia ser assim tão corajoso, ao enfrenta-lo com tanta maestria ao mesmo tempo que demonstrava sentir tanto medo de uma voz que ele sequer podia ouvir? não fazia sentido... e o que ele estava insinuando com esse negócio de responsabilidade? ele se referia ao fato do professor ser o seu chefe de casa? O professor Snape sacou a varinha, a pressionando contra o pescoço dele. 

—Mais uma palavra aqui e eu… 

—Eu ouvi a voz outra vez… - Shara interrompeu se aproximando dele e o surpreendendo ao segurar o seu braço, como um pedido gentil para que ele baixasse a varinha – eu ouvi aquela voz misteriosa, dizendo aquelas coisas horríveis outra vez… então eu fui atrás dela... Antony, ele tentou me impedir, mas eu não o atendi - Shara disse e isso chamou a atenção do professor que recuou nada satisfeito com o que estava ouvindo, ela podia lê-lo.

—Está vendo - Antony disse erguendo as duas mãos em sinal de rendimento - e tudo que eu fiz foi correr atrás dela feito um doido pelos corredores escuros do castelo, tentando impedir que ela se colocasse em perigo sozinha, francamente uma voz assassina… e ela, cabeça dura como é, simplesmente saiu correndo atrás daquilo - e de repente Antony estava tudo menos ajudando, tudo bem que ele estivesse indignado e tudo mais, mas dito daquela forma e na frente do professor parecia ainda pior - que péssimo julgamento faz de mim hein Snape… tente você enfiar algum juízo na cabeça dela - ele refutou - pois não consegui… - ele cruzou os braços e sim aquilo havia se voltado contra ela completamente, mas ambos tinham razão ela sabia.

—EPSON - o professor disse seu sobrenome enquanto a arrastava com força pelo braço corredor a fora.

—Espera…. Eu... está doendo - ela disse enquanto ele literalmente a puxava de volta para a enfermaria.

—Será que não consegue ficar menos de 24 horas sem se envolver em problemas? … talvez devêssemos prendê-la na cama, numa torre alta talvez? - ele sugeriu com ironia, mas não havia nenhum humor naquilo - eu deixei claro para me acionar quando ouvisse a voz… eu avisei, mais de uma vez, eu te dei uma maldita moeda, mas não… é claro que precisa sair correndo para resolver as coisas à sua maneira, quer que eu volte a confiar em você… mas se comporta como se não o fizesse… sequer está recuperada do ocorrido da noite passada, o que pensa que iria fazer ao se deparar com aquela criatura? Se atirar contra ela? - ele perguntou bravo, muito bravo... ela estava levando um sermão, mas de certa forma soava mais como de alguém que se preocupava com ela… mas como explicar que não havia tempo para chamá-lo? e se aquilo matasse alguém? ela não se perdoaria - uma resposta verbal seria adequado aqui Srta. Epson - ele disse enquanto abria a porta da enfermaria com magia fazendo um barulho ensurdecedor quando as folhas de madeira bateram contra a parede de pedra com certa força, ele era intimidante.

—Um pouco dramático heim - Antony disse atrás deles - essa coisa de entrar dessa maneira, as vestes balançando, as coisas batendo… barulhos e tudo mais, deveria rever…

—Cale a boca -  o professor o cortou, ele estava de péssimo humor, o que Antony estava pensando? Ela o encarou com solidariedade.

—Eu… sinto muito senhor, eu só não podia deixar aquilo matar alguém - ela tentou argumentar mas ele rosnou para ela, resposta errada, ela sabia e ela engoliu em seco qualquer novo argumento que pudesse surgir, que tipo de resposta verbal ele esperava dela?

—Não está em condições de salvar o mundo bruxo - ele a soltou bruscamente ao pararem em frente a maca dela - arrume as coisas dela, ela volta comigo - o professor Snape disse para Antony, voltar pra onde? Ela não sabia se queria ir com ele naquele estado pra algum lugar, mas antes mesmo que pudesse pensar a respeito as portas da enfermaria se abriram outra vez, era o diretor, o zelador e a professora Minerva eles estavam carregando o aluno petrificado.

—Ah Severo - o diretor o chamou - que bom que está aí - ele disse a encarando - infelizmente as notícias não são boas - o professor Snape se aproximou dos demais adultos.

—Sr. Justino Finch-Fletchley, Lufa Lufa - o professor havia dito - o mesmo garoto que Potter instigou para que a cobra o atacasse no clube de duelos - ele pontuou - a professora Sprout foi avisada? 

—Oras Severo, não entendo sua implicância com o menino, e é claro que Sprout foi avisada ela deve estar a caminho - a professora Minerva havia respondido um tanto quanto chateada.

—Pois eu concordo com o professor Snape, eu o peguei em flagrante senhores - o zelador Filtch disse - ele é o responsável pelos ataques e fez o mesmo com a minha gata, pobre madame Nora - ele parecia desconsolado - foi ele, estou alertando.

—Ele não é o responsável por isso - Shara disse e todos os olhos se voltaram para ela ali - ele não faria algo assim… ele simplesmente não… - ela se deu conta de que não tinha argumentos a menos que contasse a verdade sobre a voz que havia ouvido, mas ela sabia o opinião do professor Snape sobre isso, e ela não iria decepcioná-lo, não nesse sentido, já que decepcionava em tantos outros.

—O que sabe sobre ele? - Filch cuspiu para ela - nada, sequer deveria participar da conversa dos adultos… isso que dá ser criada solta e sem pais - Shara sentiu seu sangue esquentar, quem aquele idiota achava que era para tratá-la daquela maneira?

—Quem não sabe nada ao meu respeito é VOCÊ - Shara o encarou sentindo vontade de agredi-lo, ela se aproximou, exalando todo aquele ódio, e o professor Snape depositou as duas mãos sobre os seus ombros, a obrigando a parar e ficar onde estava.

—Guarde suas opiniões pessoais sobre os meus alunos para si mesmo zelador Filtch - o professor Snape disse em um tom de voz gélido e Shara notou a expressão de surpresa que acabava de se formar no rosto daquele ser intragável.

—Temos o bastante Filtch - o diretor disse com os olhos brilhantes, e o zelador se retirou resmungando - não dê tanta importância para um velho ranzinza - ele disse para ela - ele está sofrendo sem a sua gata e tem… por assim dizer agido de maneira inconveniente, agora… Shara querida existe algo sobre esse assunto, que gostaria de compartilhar? - ele pediu aquilo, como se ele soubesse… sim, e isso era estranho, ele já havia feito uma pergunta similar antes e em uma situação bastante parecida, Shara podia sentir o peso dos olhos do professor Snape sobre si.

—Desculpe... não senhor - ela respondeu, era quase um dejavu.

—Oh Merlin… o que significa isso Alvo? - Era a professora Sprout, ela havia entrado na enfermaria e naquele momento chamado toda a atenção sobre si, ela parecia verdadeiramente preocupada - Justino, um menino tão bom - ela lamentou e a professora Minerva a abraçou com ternura.

—Isso significa que algumas medidas terão que ser tomadas, e que talvez tenhamos mesmo que fechar a escola - o diretor respondeu, fechar a escola? Shara estremeceu.  

—Peço perdão pelo meu atraso - Pomfrey também havia chego - tive que me estender além do previsto, St. Mungus não é mais o mesmo - Oh pobre Justino - ela disse se aproximando do garoto ao avalia-lo.

—Não foi o único Pomfrey – a professora Minerva disse – Nick sem cabeça, o fantasma também foi petrificado essa noite.

—Se me permitem – o professor Snape disse – estarei me retirando, Pomfrey a Srta. Epson volta comigo - ele olhou para Antony que segurava a sacola com as coisas dela na mão.

—Certo – Madame Pomfrey se aproximou dela – querida o que está fazendo fora da cama a esse horário? E por que está descalça? - Shara suspirou - Antony esse é o tipo de situação da qual comentei, devemos nos posicionar mais - Antony também suspirou - alguns alunos podem ser mais desafiadores que outros – ela disse voltando a encará-la, o que? ela era desafiadora? - mas ainda assim é preciso ter jogo de cintura do contrário eles vão nos enlouquecer - Shara sentiu pena por ele estar tomando outra bronca agora, ainda mais na frente de todos, e então ela se afastou o puxando pela mão para um canto.

—Antony me desculpe por isso - ela o encarou - eu não queria prejudicá-lo… eu realmente sinto muito.

—Tudo bem Shara, desde que esteja segura é o que importa pra mim – ele sorriu - aliás… tome isso - ele disse - estendendo uma pantufa vermelha com o brasão da Grifinoria - tome emprestado até conseguirmos uma para você - ele sorriu - se apertar no centro do leão vai ver que vai piscar - ele apertou e sim era mesmo um pisca pisca.

—É… não me leve a mal Antony, é bonito e tudo mais, mas convenhamos o humor do professor Snape não está dos melhores hoje, e se eu aparecer com uma pantufa dessas e que pisca ainda por cima ele… bom, certamente vai queima-la na lareira na primeira oportunidade que tiver - Antony puxou a pantufa de novo, a segurando com força contra o seu próprio corpo.

—Pensando assim… melhor não… tenho um apreço por ela - ele guardou a pantufa - ah Shara, eu deveria mandar alguns frascos de poção para dor, certamente irá precisar mais tarde - ele disse olhando para o braço dela - mas acabo de me dar conta de bem, elas acabaram… eu vou pedir para que o professor Snape providencie mais - ele deu um sorriso amarelo - mas veja só que sorte a sua, estará nos aposentos dele e poderá simplesmente pedir para ele quando precisar.

—Tudo bem Antony - Shara disse, é que baita sorte a dela, ela suspirou – e bem, você... ainda está me devendo uma resposta... sobre o que disse antes...

—Epson - o professor a chamou - se apresse - Shara se despediu, notando o quanto havia deixado Antony nervoso com aquilo, certamente ela voltaria no assunto, mas por hora, melhor mesmo se apressar, ela não queria irrita-lo mais do que ela já havia.

—____

Severo havia acomodado a criança no seu sofá/cama improvisado, de certa forma se sentindo um pouco mais aliviado em tê-la por perto outra vez, o episódio com a voz assassina como Antony bem havia dito, e o envolvimento claro de tudo aquilo com a abertura da câmera secreta era apenas mais uma das muitas pautas em aberto para discutir com ela no dia seguinte, sabiamente ele entendeu que aquele não seria o momento apropriado para fazê-lo, não quando ele ainda estivesse irritado o bastante e pudesse elevar aquela situação a ponto de gerar um novo conflito entre eles, ele entendeu que aquele era na verdade o momento de recuar, certamente que uma boa noite de sono, traria maior discernimento para ambos, sobre o que fazer e como resolver de forma civilizada, por hora sem gritos e sem castigos. 

Alvo obviamente estava desconfiado sobre algo, e Severo estava ciente de que não poderia sustentar e omitir aquilo por muito mais tempo, mas enquanto pudesse, ele preferia manter as coisas da forma como estavam, embora fosse compreensível a preocupação do diretor ali, afinal ter alunos petrificados não era nada bom, e o perigo era sim evidente.

Ele fechou os olhos decidido a não se preocupar com esse assunto, estava tarde e ele estava exausto, quando foi interrompido em seu sono, por batidas sutis em sua porta, ele olhou para o relógio já eram quase 3:00 horas da manhã, ele se lembrou da criança… o que significava aquilo? Ela nunca o havia acordado daquela forma antes.

—Epson - ele disse ao abrir a porta e se deparar com ela encolhida do lado de fora do seu quarto.

—Me desculpa, de verdade professor… eu não queria incomodar… eu sei que não deveria - ela estava nervosa, ele suspirou.

—Agora que já incomodou - ele disse de forma arrastada - diga o que quer as 3 horas da manhã.

—Uma poção para dor, por favor - ela pediu - está insuportável - ele se abaixou para analisar o braço dela, estava vermelho.

—Não deveria coçar, isso só piora - mas ao se aproximar algo chamou sua atenção, estava escuro mas com a luz da varinha iluminando parcialmente o lugar era possível ver que ela estava chorando, ela virou o rosto tentando disfarçar, mas aquilo não passou despercebido por ele - Antony não mandou as poções? - ele perguntou, afinal ele deveria ter feito, mas ela não respondeu… certamente a ave não havia mandado - não mantenho esse tipo de poção no meu estoque pessoal, tem sorte que tenha trazido algumas - ele disse entrando em seu laboratório e pegando a poção - algum outro problema além da dor? - ele perguntou tentando conseguir alguma informação, ela pegou a poção e a tomou imediatamente, devolvendo o frasco vazio para ele.

—Eu… não senhor, apenas não consigo dormir - ela disse vagamente, ele se aproximou um pouco mais, iluminando de forma proposital o seu rosto, e ela o virou novamente, mas dessa vez ele o alcançou, segurando o seu queixo como sempre fazia, e ela deixou uma lágrima escapar ali, que molhou a sua mão.

—Está chorando - ele afirmou - está doendo tanto assim? - ele pediu.

—Sim… mas… não quero aborrecê-lo ainda mais - ela disse, era evidente o quanto estava receosa.

—Venha vou preparar um chá – ele chamou, mas ela gesticulou negativamente.

—Não… obrigada senhor, por favor... volte a dormir, não é nada demais - outra lágrima – não é nada – ela repetiu, derramando novas lágrimas, ele não era bom em consolar ninguém, muito menos crianças em plena madrugada, então ele não sabia ao certo o que fazer com ela ali, mas com certeza voltar a dormir e ignora-la naquele estado, não era uma opção, ele jamais poderia… ela estava tão vulnerável… ela era pequena e mais uma vez estava descalça… qual o problema em colocar meias? 

—Onde estão suas meias? - ele perguntou tentando não parecer irritado, ela olhou para os próprios pés. 

—Eu… me desculpe… eu não tenho muitos pares… eu - ela começou a soluçar.

—Podemos providenciar meias adequadas, não há necessidade... – ele não conseguiu concluir, aquilo estava estranho… ele estava acordado com ela as 3hrs da manhã, discutindo meias, ela não poderia estar chorando por isso? 

—Não… não é isso…. - ela colocou a mão sobre o colar, ele notou - eu acho que estou cansada de tudo… é só que não quero mais ouvir essa voz assassina sussurrando pelo castelo - ela disse colocando as mãos no ouvido e os tampando - e também não quero ter que me preocupar em descobrir do que se trata essa poção misteriosa no colar, não quero ter que desfazer maldição nenhuma, não quero me preocupar em ir lá fora e ter uma hidra me caçando ou um monte de bruxos lunáticos também… não quero mais ter visões, ver pessoas tirando a vida na minha frente, e ter que ver alguém da minha própria família bebendo o meu próprio sangue depois de ser cortada com algo que dói e dói muito… - ela dobrou o braço com cuidado - eu estou cansada e quero poder voltar para casa no natal, quer dizer não é bem uma casa, é horrível eu sei…. Mas não quero deixar Catie sozinha no feriado, simplesmente por que sou o que sou… honestamente estou cansada de não poder ser normal… e isso não me deixa dormir as vezes, e pensar nisso tudo aqui no escuro e sozinha numa masmorra faz com que tudo pareça ainda pior… me desculpa senhor por isso - ele ouviu cada palavra com atenção, ele podia entender aquele desabafo muito bem, mas ainda assim ele não sabia o que fazer com toda aquela informação despejada sobre ele ali, ele não era a pessoa certa para oferecer acalento, e ela estava uma bagunça, ela se virou e caminhou desconsoladamente até o sofá se deitando outra vez, enquanto puxava a coberta por cima de sua cabeça, ele sabia muito bem o que aquilo significava, ela estava se escondendo da realidade, mas agora ele entendia que aquilo era um pedido de ajuda silencioso, ele fechou os olhos, não sabendo como proceder, ele não era bom nisso “Maeva, seja lá onde você estiver agora, eu espero que você possa nos ver, e possa me ouvir... eu não sei consolar uma criança, ela é a sua filha também, e eu não pedi por nada disso, então o mínimo aqui é que você me dê algum sinal… me diga o que fazer, ou melhor o que você faria nessa hora? A sua criança está inconsolável no meio da madrugada, como posso acalma-la sem afugenta-la ainda mais? … Por Merlin um sinal qualquer” ele pensou com todas as suas forças, não por que falar com os mortos fosse um hábito ou algo do qual ele acreditasse, mas sim por que estava desesperado por ajuda, não importava de onde aquilo viesse.

—Shara – ele a chamou pelo primeiro nome, mas ela não se moveu...

Quando em sua memória um garotinho amedrontado surgiu, aquilo era um flashback da sua infância, ele com idade próxima a dela, ele estava com medo, muito medo, seu pai era alcoólatra e isso o tornava por vezes bastante violento, e estar exaltado era um hábito que havia se tornado comum, ele se lembrou de como aquilo costumava deixá-lo apreensivo e de como ele recorria ao colo de sua mãe, ela sempre o recebia, ela o abraçava, passando a mão sobre os seus cabelos e aquilo o acalmava até que ele pudesse dormir outra vez, algumas vezes ela o embalava ou contava histórias, aquela era uma lembrança vívida das inúmeras noites de sua infância, mas ele hesitou ao pensar naquilo, embora tenha ficado claro o que ele deveria fazer para acalmá-la ali e fazê-la dormir outra vez, ela assim como ele um dia, queria se sentir segura, ela precisava dele assim como ele também precisou da sua mãe, ainda assim aquilo parecia errado, como professor... como ele poderia simplesmente embala-la? mas ela era sua filha, antes de mais nada a sua FILHA, filha de Maeva e sua filha e mesmo que ela não soubesse a verdade sobre quem ele era, mesmo que ela não soubesse do vínculo que possuíam, ainda assim ela dizia o amar e enxergava nele a figura paterna que nunca havia tido, ela buscava por proteção, e ela buscava isso nele, Severo sabia que a nenhuma criança isso deveria ser negado.

Ele a olhou, ela estava tão frágil e era tão inocente, buscando aquilo que possivelmente passou a vida procurando, então ele se desapegou de qualquer que fosse a sensação que ainda o prendesse ali e se aproximou do sofá, puxando a coberta e revelando ali uma criança completamente acuada, assombrada de diversas formas possiveis, ela tentou esconder o rosto outra vez.

—Não há necessidade de se esconder de mim – ele disse a puxando contra si, com cuidado, aquilo era fácil, ela era suficientemente leve e ela sequer lutou contra aquele contato, pelo contrário, ela imediatamente passou os braços em volta do seu pescoço, repousando a cabeça contra o seu peito, ele se sentou com ela agora no colo e ela se encolheu ali, ele a segurou por alguns segundos, que pareceram uma verdadeira eternidade, aquela era uma sensação que ele nunca imaginou que poderia sentir um dia, e de repente ele se deu conta de que estava mesmo a embalando, embalando a sua filha, o quanto disso ele havia perdido? Ele não tinha nenhum livro de contos infantis em seus aposentos privativos, seria estranho se ele os tivesse, mas ele sabia algumas histórias – conhece o conto dos três irmãos? – ele pediu, ela gesticulou de forma negativa com a cabeça, era óbvio que ela não os conhecia – “Era uma vez três irmãos... – ele começou, e ela se aninhou de forma mais confortável contra o seu peito, ele podia sentir o toque suave dos seus cabelos contra a sua pele e o cheiro do shampoo que ela usava - ...que viajavam numa estrada deserta e tortuosa ao anoitecer. Depois de algum tempo, os irmãos chegaram a um rio fundo demais para passar a pé e perigoso demais para atravessar a nado. Os irmãos, eram, porém, exímios em magia, e então simplesmente agitaram as suas varinhas e fizeram aparecer uma ponte sobre as águas traiçoeiras. Iam a meio da ponte quando viram o caminho bloqueado por um vulto encapuzado. Era a Morte...”

Ele mal havia passado daquela parte da história, quando percebeu que a respiração dela havia sincronizado em um ritmo único, sim ela havia adormecido, não podia ser tão fácil assim? Podia? Ele se moveu e aparentemente ela não se mexeu ou esboçou qualquer reação que provasse o contrário... ele havia mesmo feito ela dormir? Assim como um dia a sua mãe fez com ele? Ele se levantou lentamente, a segurando contra si e preparando o lugar para acomodá-la, tirando uma mecha teimosa de cabelo que caía sobre sua face ainda marcada pelas lágrimas de dor.

—Eu prometo descobrir sobre a poção, e prometo que daremos um jeito de quebrar essa maldição, assim não haverá mais hidra, nem qualquer outro bruxo e muito menos uma velha sádica para machucá-la dessa maneira - ele disse ao cobri-la, e passando com bastante cuidado a mão sobre a cicatriz vermelha e marcada em seu braço esquerdo - Elza vai pagar por ousar tocá-la como fez, sobre ela… tenho planos, planos ainda melhores… quero que ela sofra e depois pretendo matá-la - ele sussurrou, sério, aquele era um sentimento diferente, embora não soasse adequado, não quando dito para uma criança de 11 anos de idade, mas ele faria… sim ele faria, nem que essa fosse a última coisa que ele poderia fazer em vida, ele pensou, ao olhá-la uma última vez, ela que agora dormia de forma harmoniosa - e eu nunca deixei de cumprir uma promessa - ele disse mais para si mesmo, enquanto voltava para o seu quarto, dessa vez satisfeito por ter finalmente feito as escolhas certas.


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Notas finais do capítulo

Sim Severo... Você realmente fez a escolha certa, não sei se isso foi mesmo um sinal do além, ou se é algo que já está dentro do seu coração... Mas quando tu quer, meu amigo tu é um pai foda!

Bom não sei vocês, mas os problemas tendem a tomar proporções muito maiores e mais terríveis nas madrugadas, e quando acordamos no dia seguinte... Um novo dia, um novo olhar...
E tadinha né, ela é um personagem complexo, muito complexo... Como disseram, vamos investir em terapia bruxa.

O apse são alguns alívios cômicos, como Antony oferecendo a pantufa que pisca, real sem noção, ainda bem que noção a Shara tem...

Bem, estamos caminhando dentro do cânon, e é quase natal.
E eles estão se aproximando de propósito, o cerco está fechando, e o nosso coração tá como? Surtado!

Gente eu tô amando escrever essa história, ela tá mega cumprida né... Sério não sei como vcs ainda não enjoaram disso aqui... aos que acompanham e comentam sempre, real vcs são incríveis, obrigada!

Mas confesso que já tá batendo uma bad, a medida que estamos nos aproximando do fim!



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