Destinos Improváveis escrita por Nara


Capítulo 64
Futuro - Eu também amo você


Notas iniciais do capítulo

Existem alguns capítulos que por motivos distintos se tornam especiais, esse com certeza é um deles!
Aproveitem a leitura



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—Severo eu sei que está aí, temos uma emergência - o diretor disse o chamando pela rede de flu, ele não queria atendê-lo não porque fosse Dumbledore, e sendo assim um velho enxerido, que certamente já havia sido avisado do dom especial que o seu menino de ouro apresentou essa tarde na frente de toda a escola, e estava agora provavelmente tentando decifrar onde aquilo se enquadra em todo aquele caos que era o assunto da câmera secreta. Ele não queria atendê-lo simplesmente porque não queria mais ver ninguém naquele dia, nenhuma emergência o moveria dali, nem mesmo se a escola estivesse pegando fogo, houvesse um ataque em massa de centauros ou até mesmo se Voldemort tivesse ressurgido das cinzas, por fim ele não se importava… Ele ainda podia sentir os braços da criança envoltos na sua cintura, o olhar de desespero, buscando nele alguma remissão, coisa que ele não podia oferecer ali, não ele, e principalmente não naquele estado, ele estava irado e se sentindo completamente ameaçado, ela havia chego tão perto da verdade dessa vez.

Em uma crise de fúria ele arremessou e colocou abaixo todos aquelese malditos livros que cobriam aquela estante, como ele poderia ter sido tão tolo ao deixar a carta ali, vulnerável e exposta daquela maneira, um erro, algo imperdoável ele diria, algo que ele jamais teria feito se não fossem as distrações que estava se permitindo ter ultimamente e ela… como ela pode ter quebrado sua confiança daquela maneira e de forma tão descarada? o que ela estava pensando? ela havia planejado aquilo não havia? Garota estúpida… ele se sentiu traído, invadido, por que ele se sentia assim? Mas aqueles sentimentos acenderam o pior que havia dentro dele, um lado escuro e cruel, algo reservado para poucos, e dessa vez não importava o quanto aqueles olhos verdes podiam afeta-lo, já que ele não parou… ele foi terrivelmente frio com ela, quem sabe o problema ali fosse ele e não ela, já que ela era apenas uma criança, ele achou que ela havia passado dos limites naquele ponto, mas talvez quem tivesse passado mesmo fosse ele, e aquilo também o incomodava, ele que não costumava questionar suas ações, mas por mais que fosse difícil admitir, ele sabia que a verdade ali era que ele não estava preparado para assumir tudo que viria se ela descobrisse aquele segredo, e ela o deixou muito acuado com aquela carta na mão, e aquilo tudo representava uma ameaça, algo que ele não poderia sustentar, seria seu fim, ele sabia disso também. 

Aquilo tudo foi um erro, desde o instante que ele havia permitido que ela entrasse em sua vida daquele jeito, desde o momento que ele deixou se envolver, Alvo estava errado, nunca esteve tão errado, não havia amor, não poderia… não havia nada, ainda mais quando o lado escuro dele ainda estava ali e podia ser despertado assim… ele se virou irritado, ao ouvir o barulho das chamas crepitando em sua lareira, aquele velho não o deixaria em paz.

—Severo - o diretor passou pela rede de Flu, sem esperar uma resposta dele.

—Como ousa! - ele encarou Alvo, notando o quanto ele parecia confuso ao se deparar com toda aquela bagunça que havia se tornado a sua sala de estar - se eu quisesse atendê-lo não acha que teria respondido? - ele usou o seu tom de voz mais hostil - vá embora ou garanto que vai se arrepender, meu humor como pode ver não está dos melhores - ele ameaçou.

—O que significa tudo isso? - Alvo perguntou o ignorando - Severo - ele disse o seu nome num tom diferente, ao encará-lo com aqueles olhos azuis de forma profunda, algo estava mesmo errado - onde está a menina? - ele perguntou e Severo sentiu um frio na espinha, desconforto e preocupação que ele não queria demonstrar naquele momento, então ele sorriu com certa ironia, sem perder a oportunidade de se manter no figurino.

—Isso… Alvo - ele disse se aproximando do diretor - embora não seja da sua conta, mas isso… - ele fez uma pausa dramática - representa o caos que vem sendo a minha vida ultimamente, justamente por causa da menina - ele sentiu vontade de gritar a última parte para ele, mas ainda assim ele não fez, por que o diretor estava perguntando sobre ela? Algo lhe dizia que ele não ia gostar daquela emergência.

—Elza - Alvo disse sério ainda o encarando - ela está no castelo Severo - aquilo o desarmou completamente e qualquer outro comentário sarcástico que ele estivesse pensando em fazer ali sobre o caos a menina e tudo mais havia simplesmente desaparecido de sua mente agora…  Elza em Hogwarts, impossível.

—Em Hogwarts? - Sim ele havia entendido, mas sua mente não queria acreditar naquela informação, e as proteções? Aquele era pra ser um castelo seguro - como isso é possível Alvo? - ele conseguiu perguntar, se sentindo ainda mais apreensivo, será que o diretor podia ver isso? Ele preferia acreditar que não.

—Eu não entendo, hoje mesmo repassei todas as proteções - Alvo disse cansado - e pedi para que Minerva fizesse o mesmo, eu não entendo Severo - ele disse se aproximando - achei que a menina estivesse aqui - ele passou os olhos pelo lugar novamente - mas pelo que posso ver… estava enganado.

—Eu a dispensei mais cedo - Severo disse de forma seca, quando na verdade ele queria mesmo dizer que parte de tudo que estava acontecendo era culpa dele também, mas ele simplesmente não podia… não agora quando Elza que representava um perigo eminente para ela, estava no castelo, como Elza havia passado pelas proteções do castelo? não havia tempo a perder… Droga, onde Shara estaria? ele a afugentou da pior maneira possível, ela jamais voltaria para ele depois daquilo, e sem falar o quanto era difícil até mesmo para ele ter que engolir o orgulho próprio e correr atrás dela outra vez… mas ele faria, por Merlin ele faria qualquer coisa para tê-la em segurança, que sentimento era aquele? Pensar em tudo isso o deixava ainda mais nervoso.

—Eu não sei o que aconteceu aqui - Alvo disse analisando o lugar outra vez, em quando interrompia seus pensamentos - mas precisamos encontrá-la Severo - ele pediu - temo pela vida da menina - Severo riu com o canto da boca, não pela preocupação demonstrada pelo diretor, mas sim por que temer pela vida da menina era exatamente o que ele vinha fazendo todos aqueles malditos dias até ali, seu coração disparou… era um sinal, ele entendia a gravidade daquilo, e por mais que seu lado escuro lhe dizia para deixar com que o diretor lidasse com isso sozinho e resolvesse o problema por si só… ou por que ele estava chateado demais com a ousadia dela mais cedo a ponto de intervir novamente pela sua segurança, ou que talvez ela não merecesse depois de tudo que havia feito, mas ele simplesmente não podia… com ela, ele sentia que podia começar do zero quantas vezes fosse necessário, e nada daquilo o impediria, sim ele se importava com toda a sua alma, se sentindo culpado por tê-la tratado tão mal, o que ele havia feito? Ele passou o dedo pelo anel, estranhando sua localização.

—Ela… Shara, está no seu escritório Alvo - Severo disse, vendo Alvo respirar um pouco mais aliviado, mas ele não se sentia assim, estranhamente algo lhe dizia que aquilo não era um bom presságio, seus pensamentos foram interrompidos mais uma vez com as batidas frenéticas na porta dos seus aposentos, aquele dia tinha mesmo como piorar? Ele sabia a resposta para aquilo, ele caminhou até a porta irritado pela interrupção e por Merlin pensando em quais feitiços iria usar para azar o maldito menino Malfoy se ele tivesse ousado aparecer ali novamente, mas assim que a porta foi aberta, aquela ave euforica entrou em seus aposentos sem qualquer convite.

—O que… o que aconteceu aqui? - Antony perguntou olhando para os livros que estavam espalhados por todos os lugares e ele sentiu vontade de revirar os olhos, desde quando a sua vida passou a ser tão exposta assim?

—Diga a que veio ou se juntará aos livros no chão - ele ameaçou sem um pingo de paciência.

—O senhor está aqui… - Antony disse assustado, enquanto apontava com o dedo indicador para Alvo, e Severo lhe deu um tabefe na cabeça.

—Não, tente enrolar ave, isso é o mínimo que óbvio, saiba que estamos no meio de algo sério e você não foi convidado - Antony o olhou externando o ódio que sentia.

—Pois duvido que seja lá o que for, vai superar o que eu tenho a dizer - ele o encarou - e pare de me chamar de ave - ele grunhiu aborrecido.

—Esperando algum convite especial para começar? - Severo disse impaciente.

—Pois bem - ele os encarou, os dois - Elza está no castelo - ele disse e Severo não precisou olhar para o diretor para saber o que ele estava pensando - encontrei com ela no corredor, bem eu posso sentir a energia você sabe, faz parte do que sou, ela não me reconheceu, obviamente, mas foi estranho e achei que pudesse estar ficando maluco pois ela não era ela… ela era você - ele apontou para Alvo novamente que o olhou assustado.

—Polisuco - Severo disse, então era assim que ela estava circulando pelo castelo - onde ela conseguiu o seu cabelo? - Severo perguntou, usando um tom reprovador - erro de principiante - ele encarou o diretor cerrando o punho.

—Sim de fato… ela deve ter feito no cabeça de Javali, aquele dia - Alvo disse pensativo, olhando para a lareira - Elza não estava alterada, como achei e me pareceu que estivesse, ela deveria estar simulando aquilo, para conseguir se aproximar tanto a ponto de precisar se apoiar… eu… não percebi - Severo bufou, ciente de que estava diante do bruxo mais brilhante de todos os tempos, era patético, mas algo ali lhe dizia que não era apropriado julgar, principalmente quando se deixa uma carta de tal nível de importância num lugar de acesso comum, ele se conteve.

—De qualquer forma, está feito - Severo se limitou em dizer, enquanto caminhava até a lareira - Se ela finge ser você e se Shara está no seu escritório agora, talvez devêssemos nos apressar - ele lançou o pó de Flu, porém nada aconteceu - está fechado - Severo disse mal acreditando - fechado - ele repetiu sentindo novamente um calafrio percorrer sua espinha, ele passou o dedo pelo anel, Shara estava uma bagunça de sentimentos, era difícil até mesmo para ele descrever aquilo, mas um sentimento em especial começou a crescer e se destacar dentre tantos, ele reconhecia aquele muito bem, era medo, por que ela estaria com medo? E com tanto medo assim? Ele sabia a resposta - Elza está com ela - ele disse se virando, aquela constatação saiu mais afiada que uma lâmina, cortando o que restava do seu coração, Antony não pensou duas vezes, ele foi o primeiro a correr, e Severo o acompanhou, deixando Alvo para trás… ele correu, a ave podia ser ainda mais rápida, mas ele sabia que ambos precisavam alcançá-la e que nada os impediria, ele sentiu um aperto no peito, ele não se perdoaria se algo acontecesse com ela, jamais… seria sua culpa, mais uma vez a sua culpa.

—____

Shara precisou de muito autocontrole para atravessar a escola, e chegar até a sala do diretor, sem desabafar no meio do caminho, algo dentro dela queria gritar, buscar por ajuda, ela estava se sentindo pesada, e ela caminhava como quem estivesse sendo arrastada, aquela era a primeira vez que ela sabia o que precisava ser feito naquele sentido e finalmente ela conseguiria dar o fim apropriado para uma vida medíocre como aquela que ela tinha vivido até ali, se esse era o objetivo e se isso era algo que a tempos ela desejava, então por qual razão aquilo ainda parecia tão difícil de fazê-lo? Por um momento ela se pegou pensando em como será que o professor Snape reagiria ao se deparar com o que ela teria feito? Talvez ele se sentisse aliviado por ter finalmente se livrado de uma criança tão problemática como ela… "não acredite nessas mentiras" algo dentro dela parecia querer lhe lembrar, ele havia dito isso certa vez, mas ela não conseguia, simplesmente ficava difícil quando ele havia sido tão frio e tão distante como antes… era como se tudo aquilo que havia acontecido entre eles, os aproximando naqueles meses evaporasse de uma hora pra outra, ele sequer retribuiu o abraço que ela havia dado, e a sensação de vazio e de abandono que pareciam estar sempre por ali rondando seu coração e esperando o momento certo para entrar em ação novamente, ressurgiram com força total depois do que havia acontecido, ela se encolheu ao notar que estava agora parada em frente a gárgula.

—Olá querida, infelizmente o diretor não está - Shara ouviu a voz da professora Minerva atrás de si - ele saiu fazem alguns minutos - ela se aproximou dela - está tudo bem? - ela perguntou preocupada, certamente ao notar que ela havia chorado, "não está tudo bem, apenas diga a ela que você precisa de ajuda" era aquela voz interior outra vez "apenas diga…".

—É… eu… estou bem - Shara só precisava entrar e pegar aquilo, e seria muito mais fácil se ele não estivesse, ela pensou ignorando aquela voz interior - é importante, eu, por favor, posso esperar lá dentro? - ela pediu aproveitando seu péssimo estado emocional ali, para tentar sensibilizá-la a permitir aquilo.

—Claro, criança - ela a olhou de forma diferente, mas Shara não queria perguntar… ela precisava ser forte, qualquer vacilo ali e ela desabaria, ela apenas assentiu em agradecimento, a gárgula se abriu e ela entrou rapidamente antes que pudesse estragar tudo.

Agora Shara estava dentro e não seria tão difícil, ela sabia que a peça estava ali em algum lugar quando ela notou a cadeira do diretor se movimentar lentamente, havia alguém ali, e estava de costas para ela, e a cadeira girou, para sua surpresa revelando o diretor que estava ali sentado um tanto quanto sério, um arrepio passou por todo o seu corpo naquele momento, ela nunca o havia visto daquela forma, ele que normalmente estava sorrindo e dizendo coisas afetuosas, até mesmo quando ele a irritava, era estranho ainda mais quando a professora Minerva havia afirmado que ele tinha saído, será que ela não havia notado que ele tinha retornado? Bom, certamente sim.

—Senhor - Shara chamou - me desculpe eu posso voltar uma outra hora… - ele parecia não estar ali, ela sentiu medo e com ele ali, de qualquer forma o seu plano não daria certo.

—Fique - ele pediu gesticulando para a cadeira a sua frente e servindo um pouco de chá para ela - beba - ele orientou.

—Ah obrigada senhor, mas eu vou passar o chá… - Shara tinha acabado de vomitar, ela sabia o quão ruim poderia ser o gosto de qualquer coisa depois daquilo.

—Beba - ele disse sério, ela não sentiu que havia uma opção para ela e então achou melhor beber e não contrariar, bebendo tudo de uma única vez e sentindo aquilo descer e rasgar sua garganta, aquele era um chá de gosto estranho, além da cor escura… ela nunca havia bebido algo assim, mas não era ruim, o diretor sorriu em aprovação, enquanto abria a gaveta a sua frente e retirava a adaga dali… o que ele estava fazendo? Como ele sabia que ela tinha vindo buscar aquilo? - está procurando por isso - ele afirmou, fazendo com que o seu coração disparasse - pegue é seu - ele empurrou a adaga em cima da mesa na sua direção - o que era aquilo? Quem sabe uma espécie de teste? Se ela pegasse, ela reprovaria? E bem… ele era o diretor e ele não deveria oferecer isso para ela, não sem perguntar o motivo, será que ele sabia o que ela queria fazer com aquilo e quem sabe estivesse aliviado em se livrar dela também? a ponto de não dificultar aquilo, ela engoliu seco.

—Eu… sim eu vim, por isso - ela admitiu, puxando a adaga para si e esperando o sermão, que não veio, havia algo de errado ali, ela podia sentir, ele estava agindo de forma estranha.

—Achei que fosse mais esperta - ele disse se levantando - um pouco decepcionante confesso - ele sorriu, ela não entendeu, do que ele estava falando? ela tentou se levantar também, ela tinha a adaga e ela não queria conversar, mas ela não conseguiu se manter em pé, ela estava sem nenhum equilíbrio e aquilo a forçou a se apoiar na mesa, e a sentar novamente, havia algo naquele chá.

—O que o senhor me deu? - ela pediu - naquele chá?

—Beladona - ele parou na frente dela, puxando a adaga gentilmente de sua mão - um veneno, não é forte o bastante para matar, mas terá algumas alucinações e não terá força alguma para resistir - ele sorriu.

—Resistir ao o que? - ela pediu acuada, começando a se sentir desesperada, por que ele a envenenaria? Mas tudo poderia ficar ainda mais assustador, quando ela notou uma mudança física no diretor, ele estava mudando… ele não era ele… ele era uma mulher, uma mulher de idade avançada, ela passou as duas mãos nos olhos, para ter certeza de que não estava ficando maluca, ela estava começando a ter alucinações, o efeito daquilo poderia ser tão rápido assim? de qualquer forma aquilo era terrivelmente assustador, e ela sentiu ainda mais medo… não havia como explicar aquilo que acabará de ver ali, Shara notou aquela mulher se aproximar dela, era horrível não poder se mover, quando ela puxou um dos seus braços, erguendo a manga das suas vestes e inspecionando suas cicatrizes, Shara notou quando ela segurava a adaga, a pressionando contra sua pele ali… sim ela a estava cortando, aquilo doeu, doeu muito… mas ela não conseguia resistir, ela não conseguia se mover, nem gritar, ela sentiu as lágrimas descerem pelo seu rosto enquanto a dor inundava o seu ser.

—Resistir ao seu destino querida - a senhora sorriu, ela tirou uma taça de suas vestes, e ela estava recolhendo o seu sangue nela, o sangue era de um vermelho vivo e assim dentro da taça poderia facilmente ser confundido com vinho… aquilo parecia sair de uma cena de algum filme mal intencionado de terror… o que significava aquilo? Ela queria gritar, ela nunca esteve tão vulnerável assim antes, aquela mulher poderia fazer o que quisesse ali, ela simplesmente não podia lutar.

—Quem é você? - Shara perguntou, não tendo a certeza de que queria mesmo saber a resposta e ela riu, de uma maneira sombria.

—Desculpe, achei que dispensava apresentações - ela encheu a taça e a levou até à boca, ela estava bebendo o seu sangue? Sim ela estava, Shara tremeu, sentindo vontade de vomitar outra vez - me chamo Elza, Elza Lowell e bem, teoricamente eu sou a sua bisavó - será que aquilo também era algum tipo de alucinação? Shara estava começando a achar que sim, mas a dor do seu braço a estava fazendo ficar sem ar, será que era possível sentir dor numa alucinação? Shara achava que não - sabe, as coisas estão um pouco devagar por aqui - ela se aproximou pegando o colar de dentro das suas vestes, como ela sabia que o colar estava lá? Ela parecia o inspecionar de uma maneira diferente, Shara não conseguia lutar, ela sentiu que estava suando com aquela proximidade, depois de analisar ela simplesmente o devolveu ao seu lugar outra vez - não sei como fizeram isso, você, ele, tanto faz… mas saiba que eu venho planejando tudo isso, são anos de planejamento e com muito esmero, então não tente estragar as coisas agora - ela disse séria, muito séria, como se algo ali fosse sua culpa, Shara não estava entendendo, sobre o que ela estava falando?

—Eu… não compreendo - Shara disse com certa dificuldade, sentindo o chão se mover embaixo dos seus pés, ela teve dificuldades em ficar ali mesmo apoiada, então ela se escorou ainda mais na mesa, isso sim parecia uma alucinação, a senhora riu da cena… porque ela estava rindo? Por que ela não a ajudava? 

—Regra número um sua garota tola… - ela disse querendo dar alguma  lição - preste atenção, mas para gente como a gente se é que me entende - ela piscou - gente que está sempre precisando fugir e se esconder, gente que carrega uma maldição… - ela disse enchendo novamente a taça com seu sangue que escorria ali, e fazendo um sinal de brinde, do qual Shara ignorou, ela estava completamente zonza, mas ela notou que o chão em sua volta estava todo vermelho, como ela podia ter perdido tanto sangue assim? Shara ousou olhar para o corte em seu braço, era grande, profundo e doía muito - nunca jamais beba algo que te ofereçam, sabe tudo deve ser aferido - ela estava mesmo dando uma lição, Shara não queria aprender nada dela, ainda mais ao sentir tudo girando daquela maneira, era uma cena assustadora, ela sabia que estava chorando, silenciosamente… já que aquele veneno a continha, ela não podia gritar, e nem pedir por ajuda… ela iria morrer assim?

—Por que está bebendo meu sangue? - Shara ousou pedir, sua cabeça estava pesada demais para encará-la, mas aquilo era algo que ela gostaria de saber.

—Eu não deveria, mas estou ficando sem tempo… culpa sua é claro - a senhora disse ficando ainda mais séria - o seu  sangue vale muito e ele me dá o vigor de que preciso, mesmo que meu corpo físico envelhece, afinal como acha que venho sobrevivendo por tanto tempo? pessoas como nós, não fomos feitas para a vida… faz parte da nossa maldição - Shara sentia as lágrimas quentes escorrendo ali - e bem, meu estoque de sangue, ele foi consumido, devo ter… calculado mal… - ela sorriu sem reservas - precisava de mais, e resolvi buscar pessoalmente.

—Voce… você também é uma de nós… por que está fazendo isso comigo? - Shara choramingou, e ela gargalhou com vontade ali, Shara podia sentir o medo fluir pelo seu corpo, ao mesmo tempo que a mesa do diretor parecia cada vez mais pequena… ela se assustou, onde ela iria se apoiar agora?

—O sangue me mantém viva garota, mas ainda assim não está completo… em breve estará e então eu não precisarei mais disso, e isso depende de você, infelizmente… - Shara sentiu ela se aproximar outra vez - portanto não demore, já deveria ter feito… e não seja tola - ela pegou a adaga sobre a mesa, estava coberta de sangue, o seu sangue - a adaga não é para ser usada ainda - ela parecia encarar a peça - eu não entendo, na minha visão já deveria estar consumado, por isso a mandei… - ela parecia falar consigo mesma ali, num tom um tanto quanto preocupado Shara diria, então foi ela que mandou aquele presente? ela se voltou para Shara outra vez - sabe ainda assim foi bastante útil - ela apontou para a peça que segurava - afinal isso não estava programado e então acabei não trazendo nada afiado para o corte e teria que rasgar sua pele com os próprios dentes - ela disse, fazendo Shara estremecer um pouco mais, que tipo de pessoa faria isso? Shara queria gritar novamente, aquela mulher que se dizia sua bisavó, alguém de sua família, alguém que em outras épocas ela amaria encontrar, conseguia ser mais assustadora que a própria Hidra que ela havia enfrentado e  parecia desejar sua morte de uma maneira que Shara entendia, já que havia algo ali, como se antes disso ela precisasse dela para algo, Shara se sentia completamente manipulável e essa sensação era igualmente ruim

—Seja o que for… - Shara conseguiu dizer - eu não… não vou… - ela não conseguiu continuar, a dor a consumia por inteiro tirando o seu foco e raciocínio, a senhora riu outra vez.

—Seu senso de justiça é lastimável - ela apontou - se apresse garota, eu lhe garanto que não é tão ruim assim ajudar uma velha senhora - ela piscou - e eu prometo que toda a dor que está sentindo, ela irá embora - ela disse colocando a mão sobre o seu coração - Como ela sabia sobre isso? De repente a mesa sumiu do seu campo de visão, a única coisa que a amparava ali agora era a mão da senhora sobre o seu peito, o chão parecia distante também, aquilo era um penhasco? Sim… ela não queria cair… ela notou que a mulher começou a gargalhar e aquilo se parecia com as risadas cruéis que as bruxas velhas e assustadoras das histórias infantis trouxas davam, aquelas histórias que ela lia quando era mais nova quando não sabia nada sobre magia - Sabe Shara, eu realmente esperava mais de você, sendo filha de quem é… Maeva uma bruxa talentosa e seu pai… tão brilhante - Shara estava ofegante, ela estava falando dos seus pais, ela conhecia o seu pai? - apenas complete sua missão, e terá aquilo que mais deseja, sabe a morte é um fim nobre para pessoas como nós… - ela sussurrou aquilo - sua mãe pode provar isso, e sabe... um dia… o seu pai também poderá - ela disse se afastando - Shara queria gritar mas agora de raiva, seu pai estava vivo? a bruxa a soltou de forma brusca e Shara caiu no penhasco, havia um lago vermelho logo abaixo, não espera… não era um lago, era o seu sangue, e era muito sangue.

Shara ouviu algo parecido com uma explosão, alguém entrou na sala, mas ainda assim ela não conseguia levantar… ela queria chamar a atenção e pedir por ajuda.

—O que você fez com ela? - Shara ouviu uma voz conhecida, mas era impossível, aquilo certamente fazia parte das alucinações que estava tendo, afinal ele não viria, não depois de tudo que havia acontecido, suas pálpebras estavam pesadas, seu corpo doía e o corte no seu braço parecia dilacerante, ela estava prestes a desmaiar, ela conhecia bem essa sensação.

—Uma pena não poder ficar para conversa mais apropriada- a velha disse - Olha, vejo que trouxe um ajudante - ela zombou.

—Eu vou matar você - aquele era o ajudante?... mas aquela era a voz de Antony… sim, por que ele estava dizendo isso? Ele a conhecia também? Obviamente... Ele deveria conhecer todas as guardiãs, mas como?

—Talvez devesse entrar na fila - ela disse com uma voz debochada, Shara sentiu alguém se aproximar dela, ela conhecia aqueles sapatos, as vestes negras… seu coração disparou, ele se abaixou, como ele havia descido o penhasco tão rápido assim? Não era real, sua mente estava pregando peças, ela sabia que não podia ser real, por Merlin como ela queria que fosse real - Não é possível - ela ouviu a mulher dizer, com quem ela estava falando? Antony? Havia uma terceira pessoa? Havia acontecido algo? - como isso aconteceu? - sim… embora Shara não soubesse, mas algo a havia surpreendido ali, e então Shara sentiu uma rajada de vento no lugar, aparentemente a mulher havia desaparecido, já que Shara parou de ouvir a sua voz.

—Como ela fez isso? - ela ouviu a voz de Antony se aproximar também, todos estavam descendo o penhasco para salvá-la - como ela está? - ele estava com a voz embargada. 

—Ela perdeu muito sangue - o professor havia dito - precisamos levá-la até a enfermaria - era ele mesmo? Ele estava ali? Estava preocupado? Se importava?

—Eu  a levo - aquela era a voz do diretor, Shara estremeceu… e se não fosse ele? E se fosse a mulher outra vez - eu sou o único que posso aparatar, me alcance a menina - o diretor pediu, ela gemeu, não queria ir com ele.

—Eu não diria isso Alvo, Elza acabou de aparatar bem na nossa frente - o professor Snape a conhecia? Ele a chamou pelo próprio nome… Fez um silêncio na sala, ele se aproximou ainda mais dela, passando a mão pelos seus cabelos, ela queria abrir os olhos, se mexer, dizer que estava ouvindo, pedir desculpas… abraçá-lo novamente, pedir pra ficar.

—Shara - ele sussurrou - isso tudo é minha culpa, eu sinto muito - do que ele estava falando? ela sentiu as lágrimas escaparem e descerem pelo seu rosto e ele as limpou cuidadosamente - está me ouvindo? - ele pediu, sim ela estava, ela se esforçou para alcançar a mão dele ali e aparentemente ela fez… ela conseguiu abrir os olhos, com muita dificuldade.

—Eu… - ela não estava conseguindo falar, aquilo era efeito do veneno? Era uma sensação horrível.

—Não se esforce vou levá-la a enfermaria - ela segurou o braço dele com força, ela precisava dizer, antes que a alucinação terminasse e ela não tivesse mais oportunidade em fazê-lo.

—Eu… eu amo você - ela disse por fim, não conseguindo mais manter os olhos abertos, ela sentiu que estava sendo amparada por ele, ela sentiu os braços dele em volta de sí, sentiu os cheiros tão característicos dos ingredientes de poções misturados, algo que ela passou a amar, sentiu os batimentos cardíacos também, mesmo que não fossem regulares mas ainda assim eram os batimentos dele, e ela podia jurar que tinha ouvido um sussurro ao longe, bem distante…. "Eu também amo você… vai ficar tudo bem sua garotinha estúpida" antes de apagar por completo, será que ela estava mesmo morrendo? Se sim, pelo menos aquela não era uma morte tão ruim, alguém a amava e isso era tudo que mais importava… e esse alguém era ele, ela estava em segurança, o seu pai… não… espera, ela estava confusa, e esse alguém era ele o professor de poções.


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Notas finais do capítulo

Que susto heim... Elza em Hogwarts.
Então parece que Elza calculou mal e precisou fazer uma aparição fora da programação, eu não sei vocês, mas penso que algo está começando a sair do controle e ela está bastante preocupada com isso.
E ela bebia sangue? O sangue da própria família... de quem era o estoque de sangue que ela se referiu?
Total cena de terror mesmo heim... Ela não me parece ter nenhum escrúpulo.
Quando ela diz que Shara está meio que atrasada... o que será que mudou? Afinal... Tem como mudar algo?

Enfim, mas o que realmente importa pra mim é que... ELES admitiram VERBALMENTE...
"Eu também amo você...."
E o termo "garota estúpida" é a coisa mais carinhosa que o Snape vai conseguir dizer e está tudo bem, por que soa fofo quando é dito por ele



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