Destinos Improváveis escrita por Nara


Capítulo 60
Passado - Elza Lowell


Notas iniciais do capítulo

Coloquei esse capítulo no passado, porque 90% dele se passa lá... em homenagem ao capítulo de número 60, trago aqui, respostas... Não sei se boas



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"As proteções da casa estão caindo, fazem algumas semanas que tenho sentido que elas vêm ficando mais fracas a cada dia que passa e isso é algo preocupante para nós e tem me obrigado a tomar medidas, que achei que não seriam necessárias até que Shara estivesse pelo menos perto de completar seus cinco anos, ela mal tem dois e isso me desespera.

Elza tem vindo com mais frequência ultimamente e me ajudado a segura-las, você não a conhece, mas ela é o único familiar vivo que possuo, minha avó, mãe da minha mãe, e uma guardiã. Não sei por quanto tempo estaremos seguras aqui, Elza acha que é questão de dias agora.

Ouvi rumores de que está em Hogwarts, aos cuidados da Ordem, e que o diretor Dumbledore tem desprendido esforços consideráveis para inocentá-lo junto ao ministério, tenho certeza de que ele será muito bem sucesso nisso, e não preciso dizer aqui que eu sempre soube que um dia a sua lealdade estaria com o lado certo, e por isso que recorro a você, ciente de que o futuro parece mesmo mais promissor, estando você agora onde está, não à toa que Hogwarts me proporciona as melhores lembranças.

Eu nunca quis que você soubesse sobre a existência de uma filha, a nossa filha, assim, sem que fosse dito por mim e principalmente tão tarde, apenas em idade escolar, e ouvir sobre esse novo arranjo, fortalece alguns dos planos que fiz, de procura-lo num futuro, não tão distante assim, mas confesso que receio de que esse futuro nunca chegue para nós, e se essa carta chegar até você, é um sinal de que estou certa sobre isso e de que fracassei, eu temo pela segurança dela e sinto um nó na garganta se formar só de imaginar que não viverei para vê-la crescer.

Escrevo por que essa é uma das poucas vezes em que tive medo depois que parti, e mesmo com Elza aqui, me garantindo de que logo estaremos seguras outra vez, algo dentro de mim não consegue acreditar, eu sei que o futuro é algo incerto para todos nós, mas não deveria ser para ela Severo, Elza... é complicado explicar, mas ela consegue acessar fragmentos do futuro antes de todos nós e essa deveria ser razão mais que o suficiente para me deixar em paz, mas não estou, então decidi escrever por que espero que possa me perdoar um dia, pelo que fiz sem o consultar, espero que possa entender de que nossas circunstancias eram tão desfavoráveis que não me deixaram escolhas.

Eu sei o quanto pode ser difícil falar sobre escolhas, quando não existe um elo que as fortaleça e as valide, e por essa razão que eu precisava ter certeza de que você estaria preparado para receber algo de mim, coisa que talvez o Severo do passado diante de uma situação dessas não poderia, não por que não fosse capaz de amar uma criança, mas sim por que a causa que ele defendia e acreditava não era compatível com uma família como a nossa, eu sei que mesmo assim, talvez você nunca aprove o que fiz, e eu posso compreender suas razões para tal, assim como um dia poderá compreender as minhas, por isso lancei um encantamento, algo que eu mesma desenvolvi, que faz com que o conteúdo dessa carta seja revelado para você, apenas quando estiver preparado e puder externar algum afeto pela nossa criança, um sorriso já será o suficiente. 

Quero que saiba que independente do que acontecer comigo, se estiver lendo isso agora, certamente o pior... mas eu não me arrependo de nada do que fiz, nada daquilo que vivemos juntos, não me arrependo das consequências do nosso amor e principalmente não me arrependo de ter levado essa gestação em diante, cada manhã com ela, cada sorriso que Shara me dá reforçam isso ainda mais, ela é a criança mais doce e mais adorável que você irá conhecer, bom pelo menos na maior parte das vezes, mas ela tem algo seu, o seu gênio, desculpe essa parte pode conter um teor considerável de ironia, mas sim, ela é tão cabeça dura quanto você Severo e isso não é tão divertido assim como pode parecer, é desafiador.

Você não tem ideia de como tem sido ver a nossa filha dormir, tão tranquilamente em seu bercinho, a poucos metros de distância, sabendo que o futuro é tão hipotético para nós… "

Severo baixou o pergaminho, apenas para contemplar Shara que havia adormecido ali, naquela cama arranjada outra vez, bem no meio da sua sala de estar, mudando completamente o cenário daquele lugar outrora demasiadamente organizado e silencioso, e assim como dito por Maeva, ela estava a apenas alguns metros de distância à sua frente, ele gostaria de gritar que sim que ele tinha ideia mais do que suficientes sobre isso e que aquilo era tudo culpa dela, maldita Maeva… ler tudo aquilo só o fez odiá-la ainda mais, odiá-la por ter sido tão irresponsável e subestimar algo que seria óbvio. Ele já havia perdido as contas de quantas vezes ele havia lido tudo aquilo, desde que Antony havia entregue a maldita carta na ala hospitalar no início daquela tarde.

Em uma das mãos, ele segurava uma cápsula de vidro com lembranças, algo solto dentro daquele envelope, e que se materializou assim que ele o abriu, aquilo destoava completamente do contexto proposto ali, por que ela mandaria lembranças, se ela sequer tinha se dado ao trabalho de menciona-las? não havia o menor interesse por parte dele em ver aquilo. Ele voltou sua atenção ao restante da carta, apenas um breve desfecho dela.

"Sinto muito, não quero acreditar que isso seja mesmo uma despedida, e com sorte não será, apenas algumas semanas e estaremos juntas novamente, eu e ela... e quem sabe um dia também você, tenho depositado minhas esperanças nisso, embora ainda assim seja suficientemente difícil para mim.

Ah e dê uma chance para o pássaro, eu sei o que você pensa sobre ele, mas ele tem sido tão bom, cuidando de todos nós até aqui, e certamente ele continuará fazendo com muita dedicação na minha possível ausência.

PS: mesmo que ele insista, não dê bebida para ele.

Com amor. Maeva Lowell

Severo bufou, sentido vontade de amassar e jogar aquele maldito pergaminho no fogo, a lareira estava apenas a alguns metros dali, seria um final memorável e lhe proporcionaria imenso prazer, ver o passado queimar a sua frente, ele se levantou encarando aquela caligrafia pela última vez, depositando a carta dentro do livro de duelos que estava estudando, marcando a página onde parou, e o guardando novamente na estante, quem sabe assim, seria esquecido ali.

Severo era analítico, e algo em tudo aquilo ainda o incomodava, Maeva sempre foi tão cuidadosa e em nada displicente, era estranho que ela não tivesse sequer mencionado sobre as lembranças, será que ela havia as depositado ali em uma outra oportunidade e não se dado ao trabalho de corrigir a carta? Enfim, aquilo era algo que ele nunca saberia, e não importava… ele pensou em Antony, era evidente o quão pouco Maeva sabia sobre ele, sobre sua maldição e de como ele poderia ser ainda mais irritante na sua versão humana, era difícil imaginá-lo cuidando delas, como ela mesmo havia mencionado que ele fazia… Antony, cuidando de uma criança, francamente, principalmente na ausência da mãe, até por que ele nem teve a oportunidade de fazê-lo, já que ela mesmo não havia permitido e o enfeitiçado… Severo congelou naquele instante, havia algo de errado ali, simplesmente não fazia sentido, não havia como ele continuar cuidando de Shara, se Maeva o havia colocado para dormir por todos aqueles anos… ela o tinha amaldiçoado, certo? a menos que… não tenha sido ela. Ele colocou sua capa, dando uma última olhada na criança que dormia despreocupadamente e saiu.

Severo caminhou apressadamente até a enfermaria. Passando pelos corredores vazios, o salão, as macas e se direcionando para os quartos que ficavam na parte dos fundos, localizando aquele que seria o dormitório de Antony, ele sequer se deu ao trabalho de bater, algo martelava em sua mente o incitando a investigar, sim havia algo de errado em tudo isso, ele abriu a porta com um feitiço, o que obviamente não foi nada discreto, Antony estava sentando na própria cama, aparentemente entretido ouvindo algum tipo de música trouxa idiota qualquer e vestindo um pijama ridículo de cor vermelha, com o susto ele saltou da cama, o encarando como se estivesse vendo um fantasma ali.

—Poxa vida homem… - Antony disse colocando a mão no coração - não sabe bater não? Sua sorte que eu não posso morrer ainda. 

—Vista-se - Severo disse sem rodeios - você vem comigo.

—Estou vestido - ele respondeu olhando para as roupas.

—Algo descente seu imbecil - Severo rosnou para ele.

—Ah claro, pedindo assim, com tanta gentileza, quase nem me obriga a fazer isso - Antony disse entrando no que parecia ser um banheiro - onde estamos indo? - ele gritou lá de dentro.

—Ver o diretor - Severo respondeu com poucos detalhes.

—Alvo Dumbledore? - ele perguntou animado.

—Por acaso existe outro diretor nessa escola? – Severo revirou os olhos.

—Mas o que é que você tem heim? - Antony pediu saindo do banheiro.

—Suspeitas - Severo o encarou - me diga uma coisa ave - ele o encarou sério - por quanto tempo você disse que esteve dormindo depois da última vez que viu Maeva viva? - ele perguntou apenas para ter certeza, Antony o olhou curioso.

—Bom, primeiramente, não me chame de ave, já disse... não gosto – ele impôs – e respondendo a sua pergunta, eu acordei apenas alguns dias antes de entregar a carta de Maeva para Shara, e isso foi a algumas semanas antes do ano letivo começar… então eu dormi por volta de 8 a 9 anos - ele parecia pensar sobre isso - porque que está me perguntando sobre isso agora? - ele o olhou desconfiado.

—Por que estou trabalhando com a hipótese de que talvez, você não tenha sido enfeitiçado por ela como você diz que foi - Severo o encarou vendo a expressão dele mudar ali - me diga, onde ela deixou as cartas? Estavam visíveis quando acordou? - ele perguntou.

—Não… visíveis exatamente, ela as deixou, no berço de Shara na verdade… Estava embaixo da Balu - ele informou.

—Embaixo de onde? - o que era Balu?

—Balu… era a boneca preferida da Shara, uma boneca de pano, ela dormia com Balu no berço todas as noites e assim que acordei… bom todo o lugar obviamente estava bem diferente e lá foi o primeiro lugar que as procurei - Antony disse triste - não foi tão difícil achar as cartas.

—E como estava a casa? estava intacta? - ele instigou um pouco mais, algo muito errado estava acontecendo, as informações não batiam, se as proteções tivessem mesmo caído como tinha dado a entender que aconteceriam, a casa seria arrombada em alguns dias, e comensais não passariam pelo local sem deixar nenhum rastro, pelo menos haveria algum tipo de destruição.

—Sim... De certa forma, estava como sempre foi, apenas mais suja… bem, velha, mofada, uma casa deteriorada sem o uso - ele disse - está me assustando Severo, ela disse alguma coisa? naquela carta…  - Ele perguntou.

—Na verdade, foi o que ela não disse - Severo o olhou - Elza Lowell - Severo falou o nome da avó de Maeva - me fale o que sabe sobre ela.

—Bem… Elza sempre foi uma mulher muito inteligente, altruísta ela se dedicou a estudar sobre a lenda, muito mais que as outras guardiãs, ela era encantadora na verdade, e ela tinha um dom muito especial…

—Prever o futuro - Severo afirmou.

—Sim… mas não é simplesmente prever o futuro, sabe ela podia fazer pequenas e rápidas viagens entre os espaços e tempos - Antony reformulou e aquilo era mesmo interessante, Alvo já tinha comentado algo nesse sentido certa vez, o que explicava perfeitamente a varinha no Olivaras, e ele já havia entendido e superado isso - por que está me perguntando sobre ela? 

—Elza estava frequentando a casa - Severo jogou a informação - não estava?

—Sim, com uma certa frequência naqueles dias… ela não era muito de aparecer… eu acredito que elas tenham trabalhado juntas, nisso que Maeva fez, bem você sabe - o pássaro disse se sentindo desconfortável - Elza era muito boa em se esconder, sabe ela foi a guardiã que se manteve reclusa por mais tempo. Ainda está viva, eu... Posso sentir isso, você sabe.

—Antony você disse que além de ter dormido por todo esse tempo, quando acordou ainda sob a maldição, e vivendo como uma ave - Severo reforçou a palavra ave apenas o provocando - você também não podia falar com ela, no caso a criança… - ele ponderou aquilo, Maeva não tinha mencionado nenhuma daquelas condições, mas Antony sim, agora era evidente que as lembranças deixadas por ela, pareciam querer lhe contar algo, algo que aquela carta não dizia.

—Sim tem isso também… eu nunca entendi por que ela fez isso comigo Severo, ela me deixou de fora, completamente de fora, eu amava Shara, ela sabia... como ela pode? - Antony disse com muito pesar - sabe, eu entendo que era primordial manter o segredo, mas certamente existiam outras formas... não existiam? - ele perguntou triste.

—Vejamos, se minhas suspeitas estiverem corretas, penso que fomos enganados, esse tempo todo – Severo disse firme, Antony o encarou com ainda mais surpresa - me acompanhe - ele pediu saindo do quarto -  Maeva deixou lembranças junto com a carta, talvez você possa vir a ser útil - Severo não era de justificar o que fazia, mas deixar Antony a par da situação não seria um problema, e ele não discutiu aquilo, pela primeira vez algo inédito aconteceu, a ave se calou, eles fizeram o percurso todo em completo silencio, era óbvio que aquilo havia mexido com ele, assim como Severo se sentia igualmente aflito, seja lá o que fosse, era óbvio que eles já estavam chegando naquilo com um bom atraso.

—Alvo peço perdão pelo horário - Severo disse entrando no recinto e encontrando o diretor ainda trabalhando - mas tenho uma demanda urgente e gostaria de usar a sua penseira.

—Boa noite senhores - Alvo disse encarando os dois - eu posso ver isso, a propósito estou mesmo de saída, está tarde e assim vocês podem ficar e se sentir mais à vontade aqui - Severo estranhou, aquele que não era um comportamento nada comum do diretor, ele sequer iria perguntar sobre aquilo? Motivos e tudo mais? - Não me olhe assim Severo, eu sei o que está pensando, mas falaremos a respeito em outra oportunidade – o diretor disse encarando Antony - no momento isso é algo que certamente vocês deverão lidar sozinhos – Alvo parecia alguns anos mais velho ao dizer aquilo, e então ele se retirou do recinto.

—Às vezes... você não tem a sensação de que ele sabe de algo, e que está retendo essa informação? - Antony perguntou, ele que nunca fez uma constatação tão prudente como aquela, sim, o tempo todo, mas Severo ignorou.

—Vamos ao que interessa, também não quero perder a noite toda - ele disse se aproximando da penseira e despejando o conteúdo da cápsula de vidro dentro dela - Venha até aqui, você vai entrar comigo - Severo ordenou.

—Entrar? - Antony o olhou desconfiado para aquilo, por Merlin será que ele tinha que explicar tudo?

—Repita o que eu fizer e estará dentro - Severo disse sem paciência, mergulhando sem ao menos se certificar de que ele havia mesmo entendido, mas esperando sinceramente que o pássaro não fosse tão idiota assim como parecia ser e o acompanhasse conforme ele havia dito, segundos depois ele estava ao seu lado, Severo fez sinal para que eles ficassem em silencio enquanto os detalhes da imagem e do lugar se formavam a sua frente.

“Era um dia bonito e de sol e Maeva estava sentada no jardim, sobre uma toalha florida que se espalhava pelo chão, ela brincava despretensiosamente com a menina que parecia ter em torno de uns dois anos de idade ali, aquela era Shara, sua menina... ela sorria tentando alcançar uma borboleta. Severo analisou a cena, parecia uma pintura de tão bela que era. Ele nunca se imaginou tendo uma família ou algo parecido, mas ele não podia negar que aquilo mexia com ele de alguma forma.

—Eu sei que está ai, eu posso te sentir – Maeva disse sem se virar.

—É claro que pode sentir – disse a bruxa idosa de cabelos brancos – não sei se vamos conseguir manter as proteções por muito tempo – Maeva se virou e Severo fez o mesmo.

—Eu sei, eu posso sentir isso também – Haviam lagrimas em seus olhos – eu não estou preparada para isso Elza, não agora... – a dor naquelas palavras fez Severo estremecer.

—Eu sei... – a senhora disse apreciando a cena da criança gargalhando na sua frente sem entender a gravidade daquilo que estava sendo discutido ali – de qualquer forma precisamos finalizar os últimos preparativos, não podemos deixar passar nada, eu vim te trazer isso... você vai precisar, é a única forma...  – Maeva se ajoelhou se aproximando dela, era uma adaga ornamentada e tinha uma pedra verde esmeralda no centro, Maeva a pegou, ela estava triste, Severo podia notar aquilo.

—Como exatamente isso vai funcionar? – ela perguntou encarando aquele objeto e aquilo fez Severo segurar o ar, não poderia ser o que ele estava pensando... Maeva? Ela não seria capaz, a ave parecia pensar o mesmo, Antony havia colocado as mãos no rosto, horrorizado.

—Sua mãe também se sacrificou por você querida – a bruxa disse se aproximando da criança que levantou os braços para ela pedindo colo – o preço para algumas de nós, pode ser muito alto eu sei, mas no seu caso serão apenas algumas semanas – ela disse, e aquilo chamou a sua atenção, Maeva havia dito “semanas” naquela carta também... 

—Eu tinha 15 anos, quando a perdi, Shara sequer tem 2 anos ainda... – Maeva secou as lagrimas – se não der certo Elza, ela nem se lembrará de mim, não é a mesma coisa, não é justo.

—Querida, não se martirize tanto, pensei em todos os detalhes, e vai dar certo... você confia em mim? Não confia? – Elza perguntou, enquanto se abaixava com alguma dificuldade para pegar a criança no colo.

—Claro... eu só, é um pressentimento, não sei... – Maeva parecia desolada, ela também se levantou, passando a mão no rosto de Shara.

—Serão apenas algumas semanas e vocês duas estarão juntas e seguras outra vez – Maeva sorriu de forma singela.

—Está certo, eu posso fazer isso, apenas algumas semanas – ela repetiu olhando para a adaga... 

—Precisará fazer isso, irá doer e deve se machucar... precisa ser real, sua morte precisa ser vista e isso os afastará, para sempre – Elza disse com certa frieza, elas não podiam estar falando sério ali, que tipo de plano era aquele? - depois quando eu resgatar seu corpo aparentemente sem vida, precisará de um tempo para se recuperar, farei o possível para que seja no menor tempo possível.

—E onde Shara vai ficar, durante esse tempo? – Maeva perguntou encarando a criança.

—Trouxas – Elza disse – eles têm umas casas de assistencialismo para crianças que perderam suas famílias, ninguém vai desconfiar.

—Isso não me parece algo bom, Elza... quero conhecer o lugar... não posso deixar a minha filha com pessoas que eu não conheço – ela pediu, aquilo havia pego Severo de surpresa, isso era algo que ele esperava dela honestamente e não o contrário...

—Não deve sair Maeva, não agora... as proteções estão cada vez mais fracas, eu mesma fiz questão de visitar o lugar, o escolhi a dedo – Elza disse, Severo arqueou as sobrancelhas, Elza havia intermediado o lugar, ela não poderia ser tão ingênua assim a ponto de achar que aquele era o melhor lugar para uma criança ficar, algo estava errado, muito errado.

—Eu não sei... eu temo por ela, Elza, eu poderia tomar polisuco, apenas me deixe ver o lugar... – Maeva não sabia sobre o lugar, Severo fechou os olhos... não havia nada a ser feito além de assistir.

—Querida aproveite seu tempo, com ela – Elza incentivou - eu já me certifiquei do restante.

—Se eu escrevesse para Severo? – ela pediu, Severo a encarou ali, claro ela não podia ver, mas ela havia cogitado contar a verdade para ele? Sinceramente nem ele saberia dizer como teria reagido a aquilo naquela época – ele não vai entender de início, talvez fique bravo comigo... mas não me importo, é a filha dele, quem sabe ele possa ficar com ela... são algumas semanas...

—Severo Snape está sendo investigado e julgado pelos seus envolvimentos e crimes como comensal da morte, querida acha mesmo que esse seja o momento certo para isso? - ela pediu - deixe que o futuro se encarregará desse elo – Elza informou – por hora, é assim que as coisas devem ser, Maeva suspirou.

—Está certa Elza, as vezes me esqueço de que pode prever isso – ela disse – o futuro... é tão incerto – ela tinha razão, continuava sendo.

—Nem tanto, Shara irá para Hogwarts quando estiver perto de completar  11 anos – a bruxa mais velha afirmou – não existe nada que podemos fazer em relação a isso, você sabe que não podemos intervir no tempo, Severo estará lecionando lá, e essas são informações das quais você sequer deveria ter, Maeva... – Elza se aproximou dela, acariciando seu rosto – vamos nos concentrar em manter o segredo, longe de todos... menos dele, ele vai descobrir... Shara, ela – Elza ergueu a criança para o alto que gargalhou com aquilo – lembrará muito você... em tantos sentidos – Severo sentiu um aperto no peito, ao se lembrar do que sentiu quando viu a criança pela primeira vez.

—Severo vai me odiar não vai? – ela perguntou - sabe não é preciso prever o futuro para saber o que vai acontecer nesse sentido – Maeva estava chorando, Severo fechou os olhos, ele a odiava... pelo menos ele achava que sim – ele não pediu por nada disso, e eu posso entende-lo, espero que ele também... possa me entender um dia.

—Sinto muito querida, não intervir também significa não falar sobre isso, e eu já falei mais do que deveria... apenas deixe que siga seu fluxo - Elza sinalizou.

—O que mais preciso fazer? - Maeva perguntou, tentando ser racional.

—Não muito... - Elza disse tirando o colar do bolso – lembra-se do colar? - ela perguntou.

—Claro… - Maeva encarou a peça – era da mamãe – ela disse 

—Sim... eu descobri algo sobre ele - Maeva a encarou.

—Sobre o colar? - ela perguntou curiosa, Elza assentiu.

—Eu sei que você conhece a lenda muito bem… mas tem algo sobre esse colar que estávamos perdendo esse tempo todo- Elza disse concentrada - ele não é apenas uma relíquia de família, como achávamos ser, na verdade, ele é um colar de proteção - ela disse, Maeva estranhou, e ele também, então elas não sabiam disso naquela época?

—Proteção? - ela perguntou - eu sei que se trata de um presente, que Poseidon deixou para sua filha, antes de partir, e que está na família a milhares de anos, mas nunca ouvi falar sobre algo nesse sentido – Severo sentiu o desconforto de Antony, já que havia agora tanto sobre isso que elas não sabiam.

—Sim… Antony - Elza disse baixinho - desconfio que ele saiba muito mais do que aparenta saber - Severo viu Antony se aproximar delas, com um olhar incrédulo, pronto para manifestar sua opinião, Severo pediu silêncio outra vez, ele não queria perder nada.

—Elza… Antony é nosso guia, não entendo como ele poderia deter uma informação dessas e manter sigilo sobre isso se isso fosse algo que pudesse nos ajudar de alguma maneira - Maeva parecia não acreditar.

—Isso é o que todas nós pensamos, e se houver algo sobre ele que desconhecemos? – ela perguntou, instigando Maeva a pensar – de qualquer forma, ele não deve saber o que planejamos.

—Ele não sabe e eu também prefiro assim... se ele souber, jamais iria permitir isso – Maeva disse com certa dificuldade, Antony se aproximou de Maeva, havia tanta dor nas feições dele. Aquilo estava sendo bastante difícil para todos. Elza entregou o colar para Maeva.

—O colar… pertence a Shara agora - Elza disse e Maeva assentiu.

Em um piscar de olhos, eles estavam numa segunda lembrança, que parecia ser de apenas alguns dias depois. 

—Maeva está pronta? – Elza perguntou, diferente da lembrança anterior, havia uma forte tempestade lá fora e estava escurecendo rapidamente, agora elas estavam dentro de casa, na sala de estar daquela cabana, que em si era muito confortável, havia uma lareira grande e harmoniosa, uma janela alta que dava vista para a vila, e alguns brinquedos espalhados pelo chão.

—Sabe que a resposta para essa pergunta é não, não é? – Maeva respondeu saindo de um dos ambientes, ela vestia preto.

—Tome o seu café, querida, antes que esfrie – a senhora disse, Maeva segurou a xicara com força, bebendo quase tudo de uma única vez, ela segurou a xicara a encarando por tempo demais, Elza não notou, já que estava entretida com Shara, Severo se aproximou de Maeva, ela estava ali congelada em algo... Algo que ele também viu, ela tinha o sinistro… a borra de café.

—Elza – Maeva chamou depois de um tempo – você pode ver o futuro... serão apenas algumas semanas, não é mesmo? – ela perguntou.

—Apenas algumas semanas... – ela reforçou.

—Me dê uns minutos a sós com Antony, preciso me despedir dele, tudo bem? – Maeva pediu 

—Claro querida – Elza disse, enquanto brincava com Shara.

Severo seguiu Maeva até o quarto, e obviamente que Antony também, já que aquilo chamou sua atenção. Maeva fechou a porta atrás de si, se escorando nela e respirando com certa dificuldade.

—Ela está mentindo, está mentindo – Maeva disse em voz alta, alto o suficiente para que apenas ela pudesse ouvir, ela foi até o guarda roupa, retirou um envelope em branco, e um vidrinho, Severo reconheceu, era o vidrinho das lembranças que estava com a carta que ela havia deixado.

—Severo – Maeva disse o seu nome em vóz alta também, chamando ainda mais sua atenção sobre aquilo – isso é uma despedida – ela disse em meio as lagrimas – eu não sei em que momento estará visitando essas lembranças, espero honestamente que seja logo, eu escrevi uma carta que bem vai parecer estranho agora, mas você não poderá ler... você receberá um envelope com um pergaminho em branco, eu o enfeiticei, para que pudesse lê-la apenas quando houvesse um vínculo com a criança, criança que você sequer imagina que exista... enfim é loucura eu sei, mas eu não vou poder redigi-la, e estou sem tempo para desfazer o feitiço, mas... Elza mentiu sobre o futuro, ela sabe de algo... a nossa filha, ela não está segura Severo... me odeie o quanto puder, mas por favor a encontre, não precisa ficar com ela, entregue ela a ordem, entrege a Minerva, Shara… ela estará em algum lugar em Londres que eu desconheço – Maeva chorava...ela correu até a sacada do quarto, abrindo a cortina, Antony dormia num poleiro.

—Antony... eu sei que não pode me ouvir, mas eu sei que posso alcança-lo de alguma forma, você é o guia de Shara e isso é sobre a segurança dela, amanhã quando você acordar, vá atrás dela... descubra onde ela está... eu sei que você pode, não se preocupe comigo, não mais… e esqueça as instruções que deixei na sua carta... simplesmente esqueça tudo aquilo que escrevi, isso é uma urgência. Depois que encontrá-la... a nossa menina, vá até Hogwarts e entregue essa carta para Severo, diga para que veja as lembranças, diga a ele onde ela está… algo muito ruim aconteceu, Antony eu sinto muito... ele é o pai dela e vamos precisar da ajuda dele, mesmo que você o odeie – ela o abraçou – por favor Ton Ton eu sei que pode me escutar, por favor – Maeva chorava, enquanto o abraçava com força e removia aquela memoria, a depositando ali dentro daquele recipiente e depois dentro daquele envelope - eu te amo Antony… me desculpe.

—Maeva – ela ouviu a voz de Elza a chamar, ela lançou um feitiço de limpeza, e agora estava novamente recomposta – precisamos ir querida - Elza disse entrando no quarto.

—Elza, essa tempestade... podemos assusta-la, não quero que Shara tenha medo de coisas assim, será que podemos esperar um pouquinho, pelo menos até amenizar um pouco? – Maeva pediu tentando ganhar algum tempo, enquanto escondia o envelope.

—Sinto muito querida, as proteções – ela disse - devemos sair.

—Claro... as proteções – Maeva disse, indo em direção a porta de saída do quarto – posso segura-la – Maeva apontou para Shara que havia pego no sono ali – vou aquece-la e assim poderá leva-la – Elza a entregou de muita boa vontade, sorrindo docemente para relas, Maeva saiu do quarto com a criança no colo, mas Elza não, Severo e Antony estavam ambos perplexos quando a viram se aproximar da ave que dormia.

—Antony – ela disse com certo desdém – uma pena que você só irá acordar daqui a alguns anos não é mesmo... e sequer poderá falar com a menina – ela circulou a ave – as cartas que Maeva escreveu, já que sei que ela desconfia de mim, chegarão com um certo atraso ao seu destino, ou melhor, no tempo certo eu diria, já que você irá cumprir exatamente as instruções escritas por ela, você sequer vai desconfiar... já que foi ela que escreveu, você se sentirá traído por ela, mas ainda assim será fiel… é pra isso que você serve não é mesmo? Para obedecer cegamente a sua guardiã não é? - ela riu com desgosto - que triste propósito… bem entregue a carta de Shara com o colar, dias antes dela ingressar a escola, a de Severo só Merlin sabe... espero que demore, já que tem essa coisa do afeto... – ela revirou os olhos - sabe pela primeira vez você será verdadeiramente útil para mim sua ave desprezível – ela sorriu, mas não havia afeição naquele sorriso, um raio de cor verde escuro cruzou o céu, e um barulho ensurdecedor preencheu o ambiente. Severo e Antony foram lançados para fora daquela memória. 

Antony se sentou, visivelmente abalado em uma das poltronas na sala do diretor.

—Maeva não me enfeitiçou, você tinha razão... – ele disse em meio as lagrimas – eu deveria saber, eu a conhecia… ela não faria – ele parecia falar consigo mesmo - Severo – Antony o chamou – precisamos encontrar Elza, aquela vadia, eu sei que ela ainda esta viva e dessa vez eu quero que me deixe lidar com isso, também posso ser muito bom em machucar aqueles que machucam quem eu protejo, esse é meu propósito não é mesmo - ele sorriu friamente, aquilo era algo novo, algo que Severo ainda não tinha visto ali - então me deixe cumpri-lo – Severo assentiu, tentando reorganizar todas aquelas novas informações, mas certamente que Antony merecia aquela vingança – por Merlin, pareço errado quando todos os meus pensamentos estão em meios eficazes de machucar uma velhinha? – ele pediu... - Preciso de um whisky - Severo odiava Maeva, pelo menos ele achava que sim, e a única coisa que ele podia fazer para contraria-la agora era acatar aquele pedido, ele fez.

—Um copo para você e um para mim – Severo disse enquanto se aproximava do armário de bebidas do diretor e os servia – a sua vingança – ele brindou, Antony o encarou.

—A nossa vingança - ele disse por fim, Severo assentiu.


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Notas finais do capítulo

Elza, pra quem achou que ela não voltaria ou que havia sido esquecida na trama... Estava ansiosa pra soltar essa bomba... Lidem com isso.

Maeva... Foi falado tão pouco sobre ela nessa história, fora os primeiros dois minúsculos capítulos no começo, todo o resto foram apenas meras especulações... ela sendo insensível, largando a filha num orfanato trouxa, com aquele diretor pedófilo, enfeitiçando Antony, o deixando de fora, Dumbledore dizendo que era necessário... (Calma que vai fazer lógica isso aqui)
Já disse que essa é um fic sobre injustiças né.... sim, fomos trolados.

O desespero de Maeva no final é de cortar o coração.

Então, brindamos... a nossa vingança!
Parte pra cima Antony



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