Destinos Improváveis escrita por Nara


Capítulo 58
Futuro - Concertos




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—Oi - Shara ouviu aquela voz bastante conhecida, ela não sabia quanto tempo ela estava ali do lado de fora, mas a contar pelos pés e pelas mãos gelados, já fazia um certo tempo, ela ergueu a cabeça para encarar aquela interação completamente inesperada - posso me sentar ao seu lado? - Beta pediu, Shara assentiu positivamente, ainda estranhando o contato repentino.

—O que está fazendo aqui fora? – Shara perguntou para a morena, sabendo que estava soando de forma não tão educada ali.

—Eu vi você passando e... – Ela parecia constrangida - custei um pouco para encontrar coragem de vir até aqui e te abordar – ela disse por fim.

—Então

 está me observando a um certo tempo - Shara constatou, se sentindo um tanto quanto desconfortável, já que ela recorreu ao pátio externo justamente por que queria estar longe das vistas dos demais.

—Sim – Beta disse – eu precisava te dizer algo – ela a encarou ficando em silêncio – e como vi que estava sozinha, achei que pudesse...

—Pode dizer - Shara encorajou, enquanto se encolhia, a temperatura parecia estar caindo rapidamente a medida que a noite ia avançando.

—Certo… olha... eu não devia ter dito aquelas coisas, aquele dia na ala hospitalar… eu sinto muito por isso - ela parecia estar com os olhos marejados - eu fui uma péssima amiga para você Shara, eu posso reconhecer isso agora e eu vou entender se não quiser mais falar comigo depois daqui… mas eu realmente sinto muito e gostaria que você soubesse - ela disse baixando a cabeça, Shara olhou para a frente pensando em o que fazer com aquele que parecia ser um pedido de desculpas bem elaborado, Beta tinha sido uma amiga incrível até aquele momento, mas a verdade é que o episódio na ala hospitalar a desestabilizou, trazendo sentimentos ruins a tona e foi tudo muito difícil para ela depois dali, Shara queria gritar o quão injusto tinha sido… mas ela simplesmente não se sentia bem em faze-lo, não mais, já que parecia algo tão distante agora para se importar tanto assim - eu não quero que pense que vim justificar o que fiz, as palavras e a forma como eu as coloquei aquele dia, está errado, simplesmente errado e você não merecia isso e eu percebo que a culpa foi minha, sabe isso, essa insegurança é algo que adquiri... eu tenho muita dificuldade em lidar com segredos, é como se fosse um gatilho ruim sabe… eu me sinto muito mal, é como reviver o passado novamente e então aqueles sentimentos me dominam, eu me sinto traída, deixada para trás… substituída - ela disse limpando o rosto com um lenço, algo parecido com o que o professor Snape esperava que ela fizesse quando chorasse.

—Traída? - Shara perguntou não entendendo a referência - talvez se tivesse me deixado explicar… - Shara a olhou, simplesmente não fazia sentido – eu nunca te trai, ou algo assim Beta... eu não entendo como chegou a essa conclusão.

—Eu sei, não é com você… sou eu tá bom… as pessoas não tem que me contar tudo sobre a vida delas, você não tem que me contar tudo… e eu posso entender isso… é só que… tem algo que não te contei - Beta disse – até por que eu também nunca conto tudo – ela parecia procurar as palavras adequadas.

—Contar o que? - Shara perguntou se sentando de forma que pudesse estar de frente para ela.

—Bom eu te falei que meu pai é bruxo e minha mãe trouxa lembra? – Shara assentiu - O que eu não te contei sobre a minha família, é que eu e minha irmã, nós moramos com o nosso pai… isso a um pouco mais de um ano… a minha mãe, bem ela… traiu meu pai, e fui eu que descobri… eu a vi beijando e acariciando outro homem, dentro da nossa casa, quando eu cheguei mais cedo certo dia, e ela… ela me obrigou a não contar, eu me senti quebrada, eu não podia guardar aquilo… então eu contei para o meu pai - ela começou a chorar e soluçar de forma desordenada - Shara se aproximou dela, não tinha como ficar apática diante, daquela confissão – é minha culpa, eles...

—Não é sua culpa Beta… sua mãe, ela não deveria, ter feito isso - Shara engoliu em seco, pensando sobre o que ela tinha acabado de ver na sala de poções, ele o professor Snape também não deveria ter feito aquilo, e Shara pensou por um momento em como Carla se sentiria, ao ver sua mãe ali, como ela tinha acabado de ver beijando outro homem… e por mais que ela não gostasse da garota, bem talvez Shara pudesse compreender isso, entender o que Beta sentiu e entender o que Carla poderia sentir, já que ela mesmo estava se sentindo completamente perdida ali, sim não era difícil entender... se dando conta de que por mais que as histórias fosse diferentes, ela também se sentiu traída com aquilo que viu ali.

—Eles brigaram, meus pais e passaram dias brigando e então… ela foi embora e nunca mais voltou, e ela nunca mais falou comigo Shara… minha própria mãe, dá pra acreditar? Ela preferiu um estranho ao invés da nossa família - Beta chorava ainda mais - como ela pode fazer algo assim? Eu... eu sinto tanto a falta dela… eu queria escrever para ela, contar da escola, contar como está sendo a experiencia aqui, mas eu nem sequer sei para onde ela foi... Shara – ela chamou sua atenção - você guardaria um segredo desses? - ela a encarou por um instante - meu pai ele é um homem bom sabe, ele é um pouco desligado as vezes, mas ele é bom, não era justo com ele, manter algo assim.

—Eu não sei, eu acho… - Shara pensou sobre isso, e se o professor Snape fosse o seu pai e se ele estivesse traindo sua mãe, e se ela tivesse visto, então ela se assombrou por estar fazendo esse tipo de analogia, como ela poderia comparar aquelas histórias? ... será que ela se sentia tão carente assim a ponto de fazer tal associação? ele que não era nada seu, mas era alguém do qual ela se importava e muito e isso a fez sentir ainda mais raiva por toda aquela situação, ela se sentiu ferida, sim... pensando assim ela de fato contaria - eu contaria - ela disse convicta, Beta a encarou.

—As vezes eu penso... penso que eu destruí minha família - ela disse desolada.

—Não… não foi você - Shara se aproximou - você não deveria ter visto aquilo para começar... - agora Shara estava se parecendo com o professor Snape, dando conselhos.

—E então… eu me tornei algo que eu não era... eu sou tão insegura Shara, eu sinto necessidade de controlar tudo a minha volta - ela assumiu - e então aquele dia, você parecia ter tantos segredos, estar se aproximado de pessoas das quais eu não conseguia entender, parecia tão diferente e tão distante e eu… me desculpe não soube lidar com isso Shara, a culpa não é sua é toda minha - Beta se aproximou segurando sua mão - me perdoa, você merecia uma amiga melhor, ainda mais depois de tudo que tinha te acontecido, e tinha o seu aniversário - ela pediu em lágrimas, Shara tinha seus próprios traumas, seus próprios gatilhos do passado… ela podia entender aquilo, Beta estava sendo tão sincera ali e ela tinha conseguido de forma tão transparente demonstrar como ela se sentia a respeito de tudo aquilo, Shara sentiu o colar esquentar em seu peito… ela não podia deixar de sorrir com aquilo "Motivações do coração" ela pensou em Antony, e sem pensar duas vezes ela abraçou Beta, ela estava tão machucada e era tão vulnerável como Shara mesmo foi em tantos outros momentos, Shara podia ver através daquilo que tinha acontecido ali e sim ela podia lidar com as feridas da amiga, que também por vezes teve que lidar com as suas próprias.

—Tudo bem Beta, eu consigo entender isso ok? - ela disse para a amiga que retribuiu aquele abraço com tanta força, Shara não podia mensurar a dor que ela estava sentindo, mas podia entender.

—Meu pai tem sido tão bom para mim e para minha irmã esse tempo todo - ela disse ao se desvencilhar - mas a casa, não é a mesma sem ela… por que ela fez isso com a nossa família? - Beta a olhou como se Shara pudesse ter a resposta que ela precisasse para aquela pergunta difícil.

—Bom… eu não sei responder isso, mas ela certamente não tem ideia do que está perdendo - Shara precisou enxugar as lágrimas também – família Beta - Shara disse olhando para a frente - sua mãe, ela tinha tudo, tudo que muitos desejam e procuram… um dia ela vai entender, mas eu sinto muito - era tão verdadeiro 

—Muitos... como você - Beta segurou sua mão outra vez, ao afirmar aquilo.

—Sim - Shara disse com pouca emoção, ela já não se comovia mais com aquilo.

—Bom... talvez o destino tenha se encarregado de nos colocar uma no caminho da outra, já que somos tão desajustadas em relação a isso e quem sabe assim podemos ser o apoio uma da outra - Beta parecia convencida – dizem que a força se faz nos momentos de fraqueza – ela sorriu.

—Sim - Shara retribuiu o sorriso para a amiga – faz algum sentido – e então Beta a abraçou com ainda mais força.

—Senti tanto a sua falta Shara - Beta disse.

—Eu também - Shara retribuiu – você não tem ideia do quanto.

—Está frio aqui fora né… e você está pouco agasalhada, talvez seja melhor entrarmos - ela sugeriu a puxando pela mão - você pode ficar doente assim.

—Sim, e está ficando mesmo tarde - Shara sabia que não seria bom perder o toque de recolher, ela já tinha problemas mais que o suficientes – mas sobre ficar doente, nada me derruba tão fácil - ela disse convicta enquanto se levantava e ela nunca esteve tão errada sobre algo.

Shara amanheceu na quinta feira daquela semana se sentindo completamente indisposta, ela havia dormido muito mal aquela noite, as cobertas nunca foram tão ineficientes, ela sentiu frio, muito frio durante a noite toda, sua garganta doía, seus músculos e tudo pareciam não funcionar da forma certa… ela que havia passado os últimos dias aflita e talvez aquilo fosse o resultado de toda aquela tensão que estava sentindo, já que ela simplesmente havia decidido faltar em todas as suas detenções com o professor Snape naquela semana, ela não podia encara-lo, não depois do que tinha visto... ela pensou em procurar o diretor e pedir para cumprir as detenções com qualquer outro professor, mas como ela explicaria aquilo? Simplesmente não havia como.

E então todos os dias, quando se aproximava do horário daquela que deveria ser a sua detenção, ela meio que esperava um ataque de fúria repentino, algo como ele entrando pela porta da sala comunal e a arrastando consigo como já havia feito anteriormente tanto com ela, como com Draco, mas ele não fez… ele não veio e ela não sabia se deveria se sentir aliviada por isso ou chateada pela sua total falta de interesse, era difícil mensurar aqueles sentimentos.

Bom pelo menos, ela, Beta e Gina voltaram a ser um trio, e isso animou um pouco a sua semana, se por um lado algumas coisas podiam estar ruins como ela se sentindo tão doente, por outro lado a retomada dessa amizade estava compensando, Shara podia entender melhor Beta agora, aquele controle obsessivo que ela tinha sobre tudo, suas inseguranças, incrível como as histórias pessoais de cada um podiam moldar comportamentos futuros e afetar seus relacionamentos, ela mesmo era a prova disso tudo.

Shara tentou se sentar na cama, mas dessa vez estava mesmo difícil, ela pensou que talvez um banho resolvesse e de certa forma ajudou, mas seus olhos ainda pesavam, seu peito doía, além de todo o resto, ela se encolheu dentro de suas vestes, enquanto descia as escadas da sala comunal, se preparando para o café antes das aulas do dia, quando ela sentiu alguém a puxar pelo braço de forma afetiva, e ela se virou, estava fraca e precisou se apoiar contra a parede.

—Está tudo bem com você? - era Draco… espera, não… como ela não tinha visto ele ali? Ela estava sendo tão bem sucedida em fugir dele esses últimos dias, como ela podia ter simplesmente se esquecido de averiguar o ambiente antes de descer? Ela estava tão distraída com aqueles sintomas...

—Eu… sim - ela disse, sabendo que não soava bem, ele a analisou por um longo momento - olha preciso ir - ela disse sem graça dando um passo para frente, que ele também acompanhou.

—Imagino que o professor Snape tenha te abordado e pedido para que você ficasse longe de mim, estou certo? - ele perguntou, indo direto ao assunto que ela vinha tentando evitar.

—Olha Draco… é melhor não… - ela não se sentia à vontade para discutir aquilo.

—Eu não sei o que ele disse sobre tudo isso - Draco disse ainda segurando seu braço, mas de uma forma bastante gentil - mas andei pensando e quero que saiba, eu não sou como o meu pai, e eu repudio tudo que ele te disse e fez… sua mão - Draco disse olhando para a sua mão.

—Draco, eu sei… eu posso ver isso - ela disse sentindo um frio na barriga um tanto quanto diferente ali.

—Então… se sabe, por que não está mais usando os brincos que te dei? - ele pediu, ele havia percebido isso?

—Ah.. Eu os tirei, por que sei que chamam bastante a atenção – ela olhou para o chão – e bem, também achei que estivesse chateado comigo e não queria te aborrecer te expondo ainda mais, sabe não quero te causar mais problemas, acho que já temos o suficiente - ela sabia que havia corado ali, apesar de sentir suas bochechas queimarem, mas por outra razão, além dos calafrios constantes que a estavam incomodando.

—Por que eu estaria chateado com você? - ele a encarava, os olhos dele eram… tão cinzas e tão profundos, eles pareciam contar uma história, e não parecia ser boa.

—As lembranças - ela sussurrou envergonhada - eu as entreguei… eu não imaginei que ele poderia ver… bem você sabe, aquilo - ela estava ainda mais constrangida - sinto muito pela forma como o professor te tratou, ele não tinha o direito - ela podia sentir ali a quão chateada ela ainda podia se sentir com tudo aquilo que tinha acontecido.

—Ah ele é meio imprevisível, eu sei... - Draco disse e ela não conseguiu entender, então ele não se importava? Com aquela humilhação e tudo mais? - você não teve culpa, ele meio que disse isso, do jeito dele é claro, mas ele deixou claro ao enfatizar que ele havia pego as lembranças de um dia inteiro… - Draco não estava chateado com ela? Como ele poderia não estar? Ele tinha todo o direito... – e sem falar que ele estava tentando te proteger – Draco soltou.

—Proteger? Eu posso muito bem me proteger sozinha - Shara disse um tanto quanto aborrecida, apesar de que aquilo a tocou de alguma forma, proteger?

—Eu posso ver isso também - Draco sorriu - a surra na Carla, sabe ouvi rumores sobre o como isso foi... bom - agora ela estava corando novamente - e a forma como você respondeu de forma corajosa o meu pai, o humilhando ao rasgar uma promissória dele na frente de todos - Draco disse agora bastante sério - não devia ter feito aquilo Shara, ele não é uma pessoa boa - ele a encarou – ele costuma ser vingativo.

—Eu sei que me excedi, mas é difícil ser humilhada e simplesmente ter que engolir calada - como ela mesmo havia dito certa vez, ela não tinha sangue de barata.

—Ele quebrou a sua mão - Draco disse inconformado – com aquela bengala.

—Está curado agora - ela levantou a mão, e aquele movimento a desestabilizou, como ela podia estar tão fraca? Ele a segurou, pela cintura, e aquilo foi estranho.

—Mas o que é que você tem? - ele perguntou novamente, ela sentiu a mão dele agora repousar sobre a sua testa, estava tão gelada e ela se encolheu com o frio - está queimando de febre - ele disse assustado.

—Está tudo bem… - ela tentou se esquivar - eu realmente preciso ir para a aula - ela informou.

—Não nesse estado... você vai desmaiar assim que virar o primeiro corredor - ele a analisava - vou buscar ajuda - ele se ofereceu.

—Não... Draco, está tudo bem ok?… Falo sério quando digo que não quero mais problemas - era verdadeiro, ela se moveu para sair, ela sabia que ele ainda a estava encarando, ela podia sentir os olhos dele sobre si.

Shara caminhou até o salão principal sentindo que podia mesmo desmaiar a qualquer momento, ele tinha alguma razão sobre isso, tanto é que ela precisou parar algumas vezes para tomar fôlego, aquele trajeto a estava deixando exausta, como ela havia conseguido ficar tão ruim? Ela se sentou na ponta da mesa da sua casa, estava completamente vazio, sentindo que não podia caminhar mais, quem sabe uma boa refeição ajudaria, mas ela sequer sentia fome... ela tentou colocar as ideias em dia, interessante, então Draco não estava chateado com ela? Bom pelo menos ela não precisava mais fugir e se esconder dele como vinha fazendo nos últimos dias e isso era alguma coisa, ela estava começando a ficar sem criatividade para sustentar aquilo. Ela se serviu de ovos mexidos, mas o simples cheiro daquilo embrulhou o seu estômago. Absolutamente tudo doía agora, até mesmo respirar e sem falar que ela nunca tinha sentindo tanto frio na vida como agora. Ela se levantou já que naquele ritmo ela levaria uma eternidade para chegar até a sala de feitiços, então era melhor mesmo agilizar.

A aula daquela manhã passou relativamente rápido, apesar de não ter sido muito produtiva, ela não conseguia se concentrar e por tanto não tinha conseguido concluir nenhum dos exercícios propostos para o dia e em função disso ela recebeu alguns olhares curiosos do professor Flitwick, mas ele foi discreto e não comentou nada a respeito, fato que ela agradeceu, ao sair da sala de aula ela se sentia ainda mais cansada  do que quando tinha acordado naquela manhã, ela sabia que não estava sendo muito bem sucedida em disfarçar aquilo, tanto é que Beta se ofereceu para acompanha-la até a enfermaria, mas ela recusou, como ela tinha duas horas de intervalo até a próxima aula começar, ela decidiu que se deitar um pouco ajudaria, então ao invés de se dirigir para o almoço ela foi para o dormitório.

—___

Severo havia decidido que o certo a se fazer era ir atrás dela, no exato instante que ele a viu sair da sua sala de aula naquela segunda feira depois do fatídico incidente com a Sra. Diaz, mas seus planos foram interrompidos no meio do trajeto quando a professora Minerva o abordou fora da sua sala de aula, Alvo os estava recrutando para uma reunião emergencial, e então em poucos minutos ambos estavam na sala do diretor. E como tudo sempre pode piorar, ali estava aquele que seria um arranjo bastante desagradável para ele… o diretor havia decidido retomar o clube de duelos da escola, já que as circunstâncias com a câmera secreta apontavam para um perigo iminente e ele estava preocupado e pensando em como proteger os alunos.

Era evidente que aquela pauta não lhe cabia, um clube de duelos, sempre foi responsabilidade do professor de defesa das artes das trevas e Alvo parecia entender isso muito bem, na mesma medida que ele também parecia não confiar no professor que ele mesmo havia contratado para conduzir essa matéria, já que ele estava ali justamente pedindo para que Severo intervisse e não deixasse com que Lockhart administrasse aquilo sozinho, no caso Severo seria o assistente, formidável...

—Suponho – Severo disse de forma arrastada – que isso seja algum tipo de brincadeira, o senhor quer que eu me torne o assistente? - ele perguntou, apenas para ter certeza de que havia entendido corretamente e recebendo um olhar solidário de Minerva, ela concordava com ele, era evidente.

—Infelizmente não Severo - Alvo havia respondido e ali estava novamente Severo Snape tendo que fazer exatamente aquilo que era esperado dele, agir pelos bastidores, sem revelar os verdadeiros motivos.

—Pense na segurança dos alunos… - Minerva havia dito, é claro havia isso e foi assim que ele havia se tornado o ajudante do paspalho do Lockhart, talvez houvesse algum mérito em humilha-lo na frente dos alunos e isso o motivou a aceitar a proposta com um sorriso de escarnio no rosto.

No dia seguinte Shara não havia comparecido a detenção, e obviamente aquilo foi algo que lhe incomodou profundamente. Quem aquela garota estupida achava que era? para desobedece-lo de forma tão descarada? Mas dessa vez ele decidiu que não iria atrás dela, sabendo que aquilo a deixaria ainda pior e muito mais apreensiva, afinal por mais que ela tardasse em algum momento ela teria que comparecer e encara-lo e seria ali que ele se posicionaria e a colocaria em seu devido lugar e quanto mais ela demorasse para aparecer mais problemas ela estaria acumulando para si, a lógica era simples, obviamente que pelo fato de possuir o anel, ele detinha certo controle sobre a situação, então ele sabia onde ela passava a maior parte do tempo e como vinha se sentindo e isso o favorecia, já que ele se voltava para o anel de tempos em tempos.

Severo se sentou para o almoço de quinta-feira, quando notou um bilhete inusitado em sua bancada, do que se tratava aquilo? Bilhetes assim não costumavam ser comuns, ele o abriu, reconhecendo a letra imediatamente, Malfoy.

"Estimado padrinho,

Aviso que estou seguindo suas recomendações, me ocupando com os estudos e mantendo distância.

Contudo, notei algo de errado e pelo que me parece sua protegida não vem se sentindo muito bem, penso que esteja doente.

Estou fazendo a gentileza de avisa-lo, apenas caso ainda não tenha notado, como acredito ser o caso aqui… ah e não precisa me agradecer.

Seu afilhado, Draco"

Severo amassou o bilhete com força, garoto atrevido, o que ele pensa estar fazendo com aquilo? Obviamente que mantendo se longe ou não ele ainda estava com os olhos sobre a menina, Severo o encarou de forma hostil, mas Draco sabia manter a postura ainda mais por que ele o estava provocando ali e de certa forma desejava comunicar que não se importava. Shara não havia comparecido a aquela refeição o que não era uma novidade, ele suspirou passando a mão pelo anel, mas esse não era o tipo de informação que o anel trazia, não havia como saber se ela estava se sentindo doente por ali, e como eles não tinham mais se encontrado depois do ocorrido no início da semana, ficava difícil chegar a algum consenso assim, Shara ele verificou, estava em seu dormitório.

—Professor Snape se me permite interrompe-lo - era Filio

—Algum problema professor Flitwick? - ele perguntou mantendo os olhos sobre o pirralho loiro a sua frente e tentando se concentrar no que o homem tinha a lhe dizer enquanto sua mente vagava até aquela garota estúpida, o que ela estava fazendo no dormitório a uma hora dessas?

—Acredito que uma das alunas de sua casa esteja com algum problema de saúde - isso chamou sua atenção - a Srta. Epson, do primeiro ano - sim ele sabia muito bem, mas ele se conteve, então era verdade, não era normal um professor aborda-lo por algo assim, e ele precisou de muito auto controle para não sair correndo antes mesmo dele concluir.

—Algum problema com a Srta. Epson? - ele perguntou tentando soar o mais neutro possível.

—Sim… ela tem sido brilhante, tem se mostrado a melhor da turma - ele disse e Severo não pode deixar de sentir um certo orgulho - mas hoje, ela não conseguia acertar um simples feitiço, ela estava completamente distraída e parecia precisar de alguma ajuda para se manter em pé, além de que estava bastante abatida - ele concluiu – talvez fosse bom dar uma olhada professor – ele sugeriu – já que consegui ouvir uma de suas amigas oferecendo companhia para a enfermaria, mas ela recusou – aquilo era algo que Shara faria, ele suspirou.

—Estarei verificando - ele disse, sim ele faria, começando a se sentir culpado por ter a ignorado durante aquela semana – agradeço pelo aviso Filio - ele se levantou.

Severo fez questão de passar pela mesa da Sonserina apenas para não perder a oportunidade de estapear Draco na cabeça, o garoto o encarou sério, e o restante da mesa ficou em silencio, ninguém disse nada, Severo caminhou apressadamente até a sala comunal da Sonserina, adentrando o recinto, local que estava completamente vazio naquele horário, ele subiu direto para o dormitório feminino, a cama estava desarrumada, sinal de que alguém esteve a ocupando a pouco tempo, mas ela não estava no quarto, certamente no banheiro, ele a chamou, sinalizando sua presença mas ninguém respondeu, sentindo um frio percorrer sua espinha ele adentrou o banheiro sem se preocupar se haveria mais alguma outra menina por ali, Shara estava sozinha, ele a encontrou apoiada em uma das cabines do banheiro, enrolada de forma grotesca em um cobertor e parecia estar... dormindo? Sim ela havia adormecido ele checou, a cabeça apoiada sobre os braços em cima do vaso, ela havia vomitado? Ele se aproximou, sentido sua temperatura, por Merlin ela estava queimando, ele lançou um feitiço rápido de diagnóstico, ela estava acima dos 40 graus, aquilo era muito alto e sem pensar duas vezes ele a ergueu do chão, ela abriu os olhos por um breve momento, mas os fechou na sequência, ela não estava bem.

Não era a primeira vez que ele notava o quanto ela era estranhamente leve para a sua idade, ele a carregou no colo até seus aposentos, como se aquele fosse o destino mais óbvio, ele mal podia sentir o seu peso, e enquanto ele a aconchegava no sofá, ele se questionava em como de repente uma criança entrava na sua vida e passava ocupar aquele espaço com o seu consentimento, custando a entender o por que ele havia optado em deixa-la ali, do que leva-la até a ala hospitalar, obvio que ele estava preocupado, e dessa forma não perdendo tempo ele acionou Pomfrey pela rede de flu, e ela veio imediatamente após o contato.

—Algum problema Severo? – ele gesticulou positivamente, abrindo espaço para que ela mesmo pudesse ver a menina ali, Pomfrey se aproximou dela, entendendo que havia algo de errado com ela e fazendo uma análise mais apurada com um diagnóstico completo.

—Febre alta, garganta inflamada, fraqueza e dores pelo corpo... ela esteve resfriada recentemente, o que evoluiu para algum tipo de infecção mais séria, infelizmente não tenho como curá-la nesse estágio, ela deveria ter vindo até mim antes – Pomfrey bufou aborrecida – vamos medica-la até que os sintomas amenizem, é o jeito, mas esteja ciente de que ela certamente vai perder o dia de amanhã e possivelmente todo o final de semana – ela comunicou – as medicações terão horário para serem administradas, vamos iniciar com algo para a febre, precisamos baixa-la com certa urgência - ela disse dando algumas instruções - posso providenciar a medicação ou pretende levá-la até a enfermaria para que fique sob os meus cuidados? – ela perguntou.

—Não... pretendo fazer daqui – ele se limitou em dizer, não se sentindo na obrigação de justificar aquilo e ela apenas assentiu, concordando.

A verdade era que ele a queria por perto, sabendo que tê-la ao seu lado, nos seus aposentos era uma garantia de que ela estaria de fato segura, principalmente agora, com a turbulência que estava se tornando os acontecimentos em torno da câmera secreta e havia aquela voz, algo que só ela podia ouvir, assim ele poderia assisti-la de perto e relaxar um pouco, com a certeza de que ela não estaria se aventurando por aí caso aquilo aparecesse, e sem falar que ele não queria admitir, mas, de certa forma aquele arranjo amenizava um pouco a culpa que ele estava carregando por não tê-la acompanhado naqueles últimos dias, ele deveria ter ido até ela independente do que tivesse acontecido, pelo menos assim ele teria evitado que os sintomas evoluíssem e se agravassem como aconteceu. Aquelas eram emoções diferentes, algo do qual ele nunca tinha experimentado antes, culpa, frustração, preocupação, zelo, cuidado... então era assim que os pais se sentiam ao se depararem com os filhos doentes? Ele suspirou sabendo a resposta.

—Pomfrey... uma dúvida, desconforto estomacal, pode ter alguma relação com esse tipo de infecção? – ele perguntou, se lembrando de tê-la encontrado no banheiro, e muito possivelmente ela havia recém vomitado ali.

—Dificilmente – Pomfrey o olhou de maneira curiosa – ela fez alguma queixa nesse sentido? – ela perguntou, ainda analisando a criança.

—Não fez – ele admitiu – mas desconfio, por tê-la encontrado justamente no banheiro do seu dormitório, enrolada em um cobertor, dormindo – ele disse, contando a verdade - não a acordei para saber detalhes mas posso imaginar o que tenha acontecido.

—Estranho Severo, mas se bem que ela costuma se sentir assim quando...

—Está nervosa – ele a interrompeu, contribuindo, ele a conhecia bem e portanto ele sabia que o motivo pelo qual ela estava faltando as suas detenções era justamente pela dificuldade que ela tinha de lidar com determinadas situações que a incomodavam, então ela simplesmente fugia dos problemas, como uma forma de auto defesa, e aquilo deve ter contribuído de forma negativa na evolução daquele quadro clinico, algo que naturalmente teria sido um simples resfriado, e essa constatação apenas serviu para fazê-lo se sentir ainda mais culpado.

—Exatamente – ela disse o encarando – algum motivo para que ela esteja se sentindo assim? – ela perguntou em tom acusador.

—Desconheço – ele mentiu e ela também não insistiu.

—Severo, se vai mesmo fazer isso daqui, preciso lembra-lo de que ela irá precisa comer, eu posso confiar em você para... – ele se sentiu ofendido, ele nunca havia cuidado de uma criança nesse estado antes, mas ele não era um total incompetente.

—Eu posso fazer isso – ele a cortou outra vez, ela não parecia se importar com seu tom hostil - apenas para refrescar sua memória, mas lembro de ter tido mais sucesso que você na última vez que uma intervenção nesse sentido se fez necessário.

—Claro - ela não discutiu aquilo - estarei providenciando a medicação adequada Severo, mas antes de sair, consiga para mim um pijama, estarei trocando ela, nada confortável dormir com essas roupas - ele assentiu, ela era prática e ele gostava disso, ele fez - Severo levara um tempo para que o remédio faça algum efeito, como a febre é alta, não se assuste se ela tiver algum tipo de alucinação, é absolutamente normal, o organismo de alguém que possui magia demora a associar a medicação, mas deve passar em poucas horas, ele assentiu e assim que ela teve certeza de que a criança estava mesmo bem acomodada e de que ele tinha entendido todos os cuidados necessários, Pomfrey saiu – Me avise se precisar de algo – ela completou.

Por sorte ou por pura ironia do destino, com toda aquela história do clube de duelos, o diretor havia o dispensado e dado aquela tarde de folga e o resto do dia seguinte para que ele e o professor Lockhart se reunissem e se organizassem, discutindo detalhes de como eles iriam proceder, já que aquilo era algo que não poderia esperar e deveria iniciar de forma prática logo no começo da próxima semana, pelo menos assim ele não precisava se preocupar com as turmas e com quem o substituiria ali já que o arranjo já estava feito.

Ele se sentou em uma poltrona enquanto prestava atenção no ritmo irregular da respiração da criança, bom pelo menos o semblante parecia um pouco melhor do que quando ele a resgatou no banheiro a alguns minutos atrás. As medicações tinham horários bem distintos, as primeiras vinte quatro horas seriam mais intensas e o manteriam ocupado, aquilo era algo que Pomfrey faria de olhos fechados da enfermaria, mas ele havia feito questão de ficar com aqueles cuidados, fazendo aquilo que qualquer outro pai responsável faria, ele suspirou, sabendo que estava rendido, Maldita Maeva... certamente ela havia premeditado isso.

E por mais que houvessem inúmeros motivos pelos quais valeriam a pena uma conversa mais madura entre eles quando ela acordasse, ele se sentia compelido a iniciar do zero, mais uma vez, apenas por constatar ali que Draco tinha mesmo razão, ela havia se tornado a sua protegida, ele encarou a criança que se mexia agora de maneira desconfortável, possivelmente sentindo algum tipo de dor.

—Pai - ela sussurrou, fazendo seu coração acelerar ao fazê-lo sentir ali exatamente o mesmo que ele havia sentido na ala hospitalar quando algo parecido havia acontecido, sim ela estava alucinando, ele sabia… e agora ele podia ver com certa clareza como o inconsciente dela trabalhava trazendo à tona algo que  certamente ela queria muito e que ironicamente era a verdade entre eles ali, ele se aproximou passando a mão pelo seu rosto, ainda bastante quente - pai… por favor, não vá embora - ela pediu com os olhos fechados, ele se aproximou um pouco mais, sabendo que algo havia mudado desde aquele primeiro episódio na enfermaria, dessa vez ele não iria embora, ele estaria ali para ela, como tinha que ser.

—Estou aqui – ele devolveu com a voz firme - e não vou embora – ele podia sentir o poder transformador daquelas palavras ao vê-la se acalmar e voltar a dormir de forma tranquila, Sempre, ele pensou.


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Notas finais do capítulo

O capítulo merece esse título, por que vamos lá... concertamos algumas coisas aqui, coisas que mereciam ser concertadas.

Agora sabemos um pouquinho da história de Beta, e bem... é difícil, e eu sei, principalmente para quem cresceu num lar com pais separados (EU) mesmo que as circunstancias não sejam essas, ficam lacunas em aberto, e por vezes essas não podem ser concertadas. Sinto muito.

A História de Beta estava delineada desde o inicio, mas era difícil encontrar um lugar para encaixa-la, por isso depois que Shara viu a cena do professor Snape com a vadia... digo mãe da Carla, fez sentido pra mim, trazer isso a tona aqui nesse ponto, já que em proporções menores, Shara entenderia melhor a amiga, acho que deu certo... gostaram?

A outra dificuldade aqui é que seguindo o cânon, teríamos o tal do clube de duelos... e bem Snape e Lockhart principalmente nessa história, ficava difícil ligar os dois... demos um jeito kkkkk

Draco, sério... sem comentários pra você viu (no cânon, ele não é um personagem que eu goste, me sinto reescrevendo ele, pecado... sorry JK mas, prefiro assim)

E obviamente Shara ficaria doente, ninguém é de ferro.

E esse final... nem vou falar sobre isso :)

Obrigada a todos que acompanham, as meninas que comentam... eu gosto de reforçar isso por que é muito motivador, viu! :)



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