Destinos Improváveis escrita por Nara


Capítulo 57
Futuro - Louise Diaz




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Das muitas coisas satisfatórias de ser um professor tão temido como ele, uma delas com toda certeza era o olhar assustado que os alunos lhe lançavam enquanto iam abrindo espaços instantaneamente pelos lugares ao verem ele se aproximar, outra delas era o privilégio de poder arrastar pelas orelhas e de forma humilhante aqueles alunos tão soberbos e cheios de si, como Draco, uma pena que seu escritório pessoal fosse assim tão perto da sala comunal da Sonserina, pois pela primeira vez ele desejou ter um escritório na parte mais ampla e iluminada do castelo, apenas para poder exibir por um pouco mais de tempo o trunfo que aquela cena lhe causava, ter aquele moleque em suas mãos, sendo constrangido publicamente.

—Entre – ele empurrou o garoto sem nenhuma formalidade para dentro da sua sala, Draco já havia entendido a gravidade daquilo e desistido de tentar se desvencilhar dele, facilitando as coisas para ambos.

—Eu posso saber o motivo pelo qual fui tratado dessa maneira? – ele pediu com aquele ar de arrogância enquanto tentava se recompor, alinhando sua camisa.

—Tenho certeza de que essa sua mente fugaz e cheia de estratégias Sonserinas já tenha lhe proporcionado alguns lampejos sobre isso Sr. Malfoy – por Merlin, mas encarar aquela mini versão de Lucius, o fazia desejar esfregar a cara de verniz daquele moleque dentro do vaso sanitário e a ideia de transforma-lo numa barata parecia ainda mais atraente.

—Se isso é sobre o maldito jogo – ele cuspiu de volta – sinto muito em desaponta-lo professor, mas havia um balaço enfeitiçado caso não tenha notado e eu simplesmente fui atingido quando aquilo sequer era para mim – ele o encarou indignado – deveria estar culpando o maldito Potter por isso e não a mim – Draco finalizou, alisando a orelha que ele havia segurado com força momentos atrás, de fato aquilo estava bastante vermelho.

—Sr. Malfoy – Severo disse da forma mais arrastada possível – acha mesmo que eu me daria ao trabalho de traze-lo até aqui dessa forma por causa do resultado de um maldito jogo de Quadribol? – ele perguntou enfurecido – Acredita que eu perderia meu precioso tempo o envergonhando por isso? – ele o encarou com dureza – por mais inacreditável que possa lhe parecer Malfoy, existem coisas que são muito mais relevantes do que um joguinho estupido como aquele, garoto idiota – ele disse sem se preocupar em manter a compostura e percebendo o desconforto do garoto, assim como um ponto de interrogação se formar em seu semblante.

—Bom… se não é sobre o Quadribol, então não sei – ele disse, dando de ombros, Severo não conseguiu se conter, segurando o garoto pelo braço e o empurrando com força contra a parede de pedras, ele sabia que estava soando de forma ameaçadora, e nesse caso ele não se importava, mas obviamente que o menino estava com medo ali.

—Padrinho? – ele o chamou, Severo não era bem um padrinho presente, mas conforme os anos foram passando Draco havia sido a única criança que ele havia visto crescer, ele era convidado e ia em seus aniversários e por vezes em festivas em sua casa, ele pode ver na íntegra uma criança sendo moldada para ser tornar o pior, o garoto era mimado, arrogante e achava que o mundo girava em torno de si, mas a menção daquele título fez com que ele o soltasse, padrinho deveria ser alguém que desse algum exemplo, alguém para se inspirar… ele nunca havia sido isso, e a verdade lhe caiu como uma luva, ao entender que haviam responsabilidades ali que lhe competiam e que ele não as tinha cumprido.

—Eu disse para não me chamar assim na escola – ele disse tentando controlar seu instinto.

—Pelo que me lembro o senhor me disse para não o chamar assim na escola na frente de outras pessoas e até onde eu posso ver não tem mais ninguém aqui – ele devolveu de forma ousada – foi meu pai que pediu para que me tratasse assim? – ele perguntou sério e aquilo chamou sua atenção.

—Claro... – ele sorriu com ironia - por que é exatamente do meu feitio sair e fazer o que Lucius me pede, francamente achei que fosse mais esperto – ele devolveu também com ironia, porém uma dúvida lhe surgiu – agora, por qual razão o seu tão estimado pai me faria tal sugestão? - percebendo que aquele parecia ser um assunto delicado, já que Draco havia baixado completamente a guarda, o que não era nada comum.

—Deixe me ver por onde começo – ele disse com certa amargura – por que para ele eu sou uma decepção completa, por que ele investiu sua vida e muito dinheiro no meu preparo e eu não dou o retorno esperado, por que o meu desempenho é tão ruim e portanto não mereço carregar o maldito sobrenome da família... bem talvez esses sejam motivos suficientes, isso foi apenas um pouco do que ele me disse depois do jogo de ontem – ele informou com repulsa – mas eu não me importo – ele concluiu e não era isso que Severo via ali, o menino estava machucado, Lucius era péssimo em todos os sentidos, mas era ainda pior como pai, e olha que honestamente ele mesmo se colocava nessa categoria, mas isso seria algo que ele jamais faria, aquilo era apenas a porcaria de um jogo estudantil, Severo segurou o braço do garoto com firmeza, ele não podia ceder agora mas ainda assim aquilo… droga ele estava mesmo ficando mole.

—Um jogo não define quem você é - ele disse por fim e Draco o encarrou ali, por um momento houve uma breve conexão entre eles, Severo o soltou novamente.

—Certo, se não é o jogo ou nada que meu pai tenha dito – Draco parecia confuso – eu não entendo - de fato o garoto parecia não considerar os verdadeiros motivos por trás de tudo aquilo e isso o obrigava a explicar, algo que ele faria com muito prazer, sentindo seu sangue esquentar outra vez, ao se lembrar de vê-lo beijar de forma tão descarada a sua filha.

—Malfoy – ele estreitou o olhar - Digamos que o diretor tenha me incumbido de coletar as lembranças da Srta. Epson sobre o episódio ocorrido com a Hidra no final dessa semana... é claro que pode se lembrar desse dia, não é mesmo? – ele perguntou enquanto circulava o menino que ouvia tudo atentamente – Posso refrescar sua memória caso achar necessário – ele sugeriu, vendo que ainda assim ele não entendia.

—Eu mantive minha palavra sobre isso – ele informou - e não comentei sobre o ocorrido com mais ninguém, se esse é o caso, diga ao diretor que quando eu dou minha palavra eu costumo cumprir – ele respondeu, passando mais uma vez, longe dos motivos verdadeiros.

—Será mesmo Sr. Malfoy? – ele perguntou apenas para provoca-lo – bom, voltando ao ocorrido – ele sinalizou para que ele prestasse atenção dessa vez - acontece que para uma mente jovem e não treinada, como o caso da Srta. Epson, foi necessário que ela me entregasse memórias de um dia inteiro, memórias que precisei filtrar e para minha surpresa... sim – ele disse sorrindo com malicia ao notar o brilho nos olhos de Draco desaparecer aos poucos, agora ele havia entendido, Draco deu dois passos para trás, e Severo o acompanhou – até onde me lembro, eu havia dito para ficar LONGE DELA – ele gritou - quando na verdade você estava perto, bem perto... não é mesmo? – Severo deixou um espaço para que o garoto assimilasse aquilo, e ele parecia mesmo fazê-lo, sua expressão era de terror – Como ousa Malfoy... – ele estava empregando um tom mortal – me contrariar?

—Espera – Draco disse tentando recuperar os sentidos – deixa eu ver se entendi direito, o senhor está agindo assim, me arrastou até aqui, por que me viu beijar aquela garota? – ele perguntou perplexo e Severo aproveitou a oportunidade para dar lhe um tapa na cabeça, fazendo com que o cabelo do loiro sempre perfeitamente alinhado, saísse completamente do lugar.

—Aiii – ele estava em choque – isso é algum tipo de brincadeira?

—Aquela garota Sr. Malfoy, ela tem nome… e ela se chama Shara Epson – ele informou irritado - você está andando numa linha muito tênue... se eu fosse você teria mais cuidado – ele ameaçou se aproximando do moleque.

—Certo... professor... olha só – ele estava nervoso - eu sei o nome dela ok?... e não foi minha intenção diminui-la – Draco parecia tentar explicar aquilo – eu a beijei... eu sei, mas não foi algo que eu programei, aconteceu... é que... ela é diferente – ele disse o encarando, Severo estreitou o olhar – diferente, de uma forma boa é claro, ela... é inteligente, é engraçada e bonita, muito bonita, os olhos dela... mas principalmente por que ela me enxerga como eu sou, sabe... não pelo meu maldito sobrenome – Severo cerrou os pulsos, então o menino decidiu e achou que o melhor a se fazer naquele momento era abrir o coração, para ele? Péssima escolha, e sem falar que aquilo estava indo pelo sentido contrário daquilo que ele havia planejado, ele precisava contornar.

—Não me importo com suas motivações Malfoy, as guarde para si – ele o cortou ao mesmo tempo que tentava processar aquilo que acabará de ouvir, então Draco gostava dela e isso era ruim, muito ruim – preste atenção eu não vou repetir novamente – o menino o olhava atentamente – Você vai ficar longe dela, quer queira ou não… está entendido? - ele esbravejou.

—Por que se importa tanto com ela? - ele pediu – sabe eu posso ver isso padrinho – ele o provocou, garoto petulante.

—Ela é minha responsabilidade e está debaixo da minha autoridade...

—Assim como todas as outras alunas da Sonserina não é mesmo professor? – Draco cuspiu ao interrompe-lo – sabe essa é a primeira vez que o vejo agir de maneira excessivamente protetiva com alguém, com uma garota, apenas uma garota – Severo sabia que Draco estava certo sobre isso – lá fora com a Hidra aquele dia, o senhor estava lá para ela... e sim eu posso me lembrar bem desse dia afinal eu também estava lá, eu também estava correndo perigo, eu também sou aluno dessa escola, somos da mesma casa e sou apenas um ano mais velho do que ela e por mais que não se importe com isso o senhor é o meu PADRINHO – o garoto explodiu, Severo o analisou por um momento, escolhendo sabiamente as palavras.

—Sr. Malfoy falando dessa maneira, você me faz pensar que esteja um tanto quanto carente – ele sabia que aquilo o deixaria desconcertado e traria um pouco mais de estabilidade para aquele momento.

—Não pense que me importo – Draco tentou - não por isso é claro, mas simplesmente por que fica evidente todo esse favoritismo – ele o encarou – eu sei o que ela é professor e eu sei que o senhor também sabe – Draco disse – eu não sou um idiota, eu posso ligar pontos… ela é uma guardiã, a última guardiã, e eu sei o que isso significa – Severo tentou não demonstrar se mantendo o mais neutro possível, mas a verdade é que ouvir aquilo dele, o deixou bastante abalado – o colar, meu pai me explicou sobre ele e me mandou procura-lo pelo castelo, ele está obcecado por isso, e bem eu fiz e eu achei o colar, e achei muito mais que apenas o colar, meu pai diz que sou incompetente, já que de fato essa informação nunca chegou ao seu conhecimento, sim eu omiti a verdade e o senhor tem ideia do que isso pode significar para mim, caso ele desconfie e descubra o que estou tentando fazer? eu posso ser deserdado, e essa é apenas uma das coisas que ele faria – Draco disse com repulsa - você o conhece, melhor do que eu até e sabe até onde ele iria, para conseguir aquilo que quer - agora ele o estava encarando outra vez, e ele tinha razão sobre isso.

—Por que não contou? – Severo perguntou, neutralizando o tom de voz, sim Lucius havia mencionado isso aquele dia, e ele não desconfiava do garoto, Draco era bom em mentir.

—Por que eu sei o que vai acontecer com ela caso ele descubra – ele disse com certa dificuldade enquanto desviava o olhar  – ele vai tentar matá-la como fez com a mãe dela no passado – e mais uma vez ele estava certo sobre aquilo, Severo sentiu seu coração pesar com a verdade sendo exposta por Draco daquela maneira ao mesmo tempo que estava surpreso com o tanto que ele sabia – e então ele vai usar o colar e depois o sangue dela – aquela constatação parecia ser igualmente conflituoso para ele, e aquilo fez com que pela primeira vez Severo o olhasse por quem ele era, sem que fosse pela ótica do seu pai, não ele não era como Lucius – eu sei que o senhor se importa com ela também, de uma forma boa – ele confessou - por que acha que fui até o senhor com o colar aquele dia? por que acha que o tirei das mãos de Carla aquela vez? por que o alertei sobre a floresta proibida? – Então Severo entendeu, Draco na verdade já sabia sobre ela, desde aquela época e ele queria protege-la ao proteger o segredo, ele não queria que seu pai chegasse até ela – O Sr. Diaz, o pai da Carla, também está atrás do colar – Draco o olhou – mas é claro que o senhor sabe sobre isso, meu pai deve ter comentado.

—Ele fez – Severo admitiu, não havia razões para omitir aquilo – faz um bom trabalho Draco – ele o chamou pelo primeiro nome - Lucius não desconfia da sua insubmissão – Draco sorriu de forma singela.

—Ele me acha um idiota, quando na verdade... – Draco não concluiu mas Severo entendeu o que ele queria dizer ali, Lucius estava sendo passado para trás por um moleque de 12 anos de idade, o seu próprio filho era um sinal de quem nem tudo naquela família estava perdido – de qualquer forma, eu não vou contar, não contei até aqui e pretendo não fazer... e isso tudo deveria significar algo – Sim significava e significava muito, mas ainda assim, por mais que ele apreciasse isso... aquilo não mudava o que ele pensava a respeito do que tinha visto naquela memória, Draco não tinha o direito de beija-la… ela ainda era apenas uma criança, ela era uma menina ingênua e... foi então que Severo entendeu que o problema ali não era o que Draco fez, mas sim ele ou qualquer outro menino, o problema estava nele, a verdade era que Severo não estava preparado para isso, para ter meninos rondando a garota.

—Eu entendo o que está tentando fazer Malfoy, mas ainda assim, por mais nobre que sejam suas intenções, está equivocado já que ambos não passam de crianças e sendo assim a única coisa que deveriam se importar nessa idade, são os estudos - Certo agora ele parecia estar dando conselhos para um adolescente desajuizado - e isso é justamente o que eu espero que façam, assim como também é esperado dos demais…  e se você realmente deseja protege-la, como me parece que quer, sugiro manter distância, já que Lucius a conheceu no outro dia – ele soltou a informação enquanto analisava o menino, e pela sua reação Severo soube que aquilo surtiria o efeito esperado – Sabe Sr. Malfoy, brincos nobres como aqueles costumam chamar bastante a atenção, ainda mais para quem tem um olhar refinado como o do seu pai – Severo podia sentir a apreensão dele ali.

—O que ele fez? Ele disse algo para ela? - interessante ver que Draco não sabia do ocorrido, sendo assim Severo tentou ser o mais dramático possível.

—Além de insulta-la publicamente no grande salão principal por achar que a amizade dela com o seu tão prestigiado filhinho é proveniente unicamente de interesse – Severo disse vendo a expressão dele mudar completamente – ele também quebrou a mão dela, ao acerta-la com sua bengala, claro que ele alegou ter sido sem querer, obviamente que Epson teve uma boa parcela de culpa já que não consegue manter a boca fechada – aquele arranjo estava perfeito, aquilo faria com que Draco se afastasse, simplesmente para que o pai dele não chegasse até ela e a machucasse outra vez, já que era o que ele vinha tentando fazer, talvez Severo devesse se sentir culpado por estar incutindo tal pensamento no menino… mas não, seria melhor assim para ambos até por que aquilo tudo não era exatamente uma inverdade, Lucius odiaria ver seu filho envolvido com alguém como ela quase na mesma proporção que ele também odiava ver ela, a sua filha envolvida com alguém como ele, um Malfoy. Embora fossem apenas crianças, mas se havia algo que Severo sabia muito bem, era sobre as proporções que uma paixão tão inocente, ainda nessa fase da infância poderia tomar e ele precisava impedir isso.

—Ele... ele não… não fez isso? – ele perguntou gaguejando e visivelmente abalado com aquilo, mas Draco sabia a resposta, ele conhecia o seu pai.

—Foi exatamente o que ele fez... pergunte ao seu amigo o Sr. Goyle ele poderá fornecer mais detalhes sobre o ocorrido – Severo lançou a dúvida e Draco a acatou – portanto Sr. Malfoy - Severo chegou mais perto do menino sentindo ele enrijecer com a proximidade - isso é uma ordem, fique longe dela - ele repetiu bem devagar - se ousar cobrar alguma dívida, e você está me entendo sobre isso, não está? - ele assentiu positivamente com a cabeça - eu vou saber e então… o beijo que você tanto deseja será dado, não por ela, mas por qualquer outra criatura letal que eu mesmo farei questão de escolher, a dedo - o loiro arregalou os olhos visivelmente assustado - por hora está dispensado Sr. Malfoy – ele disse com malícia e Draco sequer se despediu, ele saiu imediatamente do recinto, aquilo seria o obstáculo perfeito para mantê-lo a uma boa distância pelo menos por um certo tempo.

—____

Shara mal havia conseguido se concentrar na aula de voo daquela manhã, além de odiar ter que se equilibrar naquilo a uma certa altura, ela ainda estava bastante abalada com o que havia acontecido no dia anterior, ela se sentia de certa forma violada, já que aquilo era algo de cunho pessoal, e se o professor tivesse considerações a fazer sobre aquilo que viu, ele deveria tratar com ela e não com… - ela suspirou ao se lembrar - certamente Draco deveria odiá-la agora e com toda a razão, afinal ela havia fornecido aquelas memórias sem sequer questionar algo, era lamentável como ela podia ter sido tão burra ali, Shara observou o monitor chefe da sua casa se aproximar com um bilhete, ela que estava agora no meio do seu almoço e sim sempre havia um bilhete que pudesse fazer tudo piorar, obviamente que o bilhete era do professor Snape, e ele estava avisando sobre uma mudança de planos e que as detenções dessa semana seriam com ele e não mais com Hagrid como ele havia mencionado anteriormente, ela teria que encara-lo mais tarde, ela bufou já que não desejava faze-lo, sorte que Draco não havia comparecido à mesa, ela sabia que não iria conseguir fugir para sempre, mas enquanto ela pudesse, ela preferia, ela estava tão envergonhada por tê-lo exposto daquela maneira.

—____

Faltava pouco menos que quinze minutos para as 20:00hrs o horário que ele havia agendado para aquela detenção, quando ele ouviu batidas fortes na porta, aquilo chamou sua atenção, ela costumava ser pontual, mas nunca vinha antes do tempo.

—Entre – ele avisou – não imaginei que pudesse estar tão ansiosa assim para cumprir sua primeira detenção – ele disse com certa ironia, sem sequer tirar os olhos daquelas redações que ele estava corrigindo, quando foi tomado pelo perfume caro e ao mesmo temo adocicado que invadiu todo o ambiente, não era ela, ele conhecia aquele perfume e imediatamente elevou os olhos para encarar aquela mulher que sorria a sua frente – Sra. Diaz – ele levantou tentando ser o mais cordial possível, mas o que ela estava fazendo ali? – não fui informado de que viria.

—Na verdade eu não avisei, peço perdão por isso – ela disse o encarando, enquanto caminhava até sua direção – não retornou o meu bilhete professor – ela acusou – achei que não tivesse entendido a urgência, então resolvi aparecer – ela o analisava.

—Estive bastante ocupado – ele informou, a presença dela lhe incomodava em todos os sentidos, principalmente por que haviam coisas do passado mal resolvidas das quais ele não gostaria de recordar – e como pode ter notado tenho uma detenção em alguns minutos – ela se aproximou se sentando sobre a sua bancada de trabalho de maneira ousada, cruzando as pernas, ela usava um vestido preto, que cobria até os joelhos, mas era suficientemente justo, para aquela ocasião, ela não havia mudado em nada e ele a conhecia bem.

—O que quer Louise? – ele pediu indo de forma certeira ao cerne da questão.

—Ah Severo, bom saber que ainda se lembra do meu primeiro nome – ela o deixava desconfortável, de uma forma bastante desagradável.

—Claro, assim como também posso me lembrar do primeiro nome do seu estimado marido, Edmundo – ele devolveu de forma seca – a propósito se essa é uma reunião para discutir o desempenho da sua filha, como suponho ser… é uma pena que não o tenha convidado, já que ele me pareceu bastante preocupado e interessado aquele dia - Severo disse a provocando, ela parou de sorrir imediatamente, havia mordido a isca.

—Edmundo não se preocupa com ninguém além de si mesmo Severo - a princípio ela não tinha problemas em expô-lo daquela maneira, Severo sabia que aquele era um casamento por conveniência, assim como tantos outros puros-sangues também o eram – sabe professor Snape, eu simplesmente não quis incomodá-lo já que acredito que ele esteja bastante ocupado no momento com alguma de suas vadias, dormindo em um quarto barato qualquer de algum hotel – ela sorriu com frieza – até por que não se trata disso o que vim discutir aqui essa noite.

—Não deveria reclamar Sra. Diaz, já que aceitou casar com ele - Severo a cortou – pelo que posso me lembrar ele não era muito diferente na época da escola, e provavelmente você podia ver isso, afinal todos nós podíamos – a família Diaz era uma família de prestigio e honra, coisa que Louise buscava, ele não podia julgá-la por isso, já que naquela época ele não era muito diferente dela.

—Não tive muita opção - ela mordeu o lábio - Afinal você sabe bem… que quem eu sempre desejei, nunca me quis - ela lançou um olhar acusador e passou a mão pelo seu braço parecendo querer seduzi-lo ele a impediu, segurando o seu pulso com força, e o mantendo preso no ar.

—Diga por que veio e vá embora - ele ordenou.

—Essa sua voz perigosa - ela suspirou se aproximando um pouco mais dele - é bastante atraente você sabia - ele se aproximou também, ele não se deixava intimidar tão facilmente.

—Essa minha voz perigosa - ele repetiu lentamente e ela parecia gostar disso - conhece alguns bons feitiços escuros que poderiam causar um dano razoável ou quem sabe manda-la para um lugar bem longe daqui o que vai preferir? - ele perguntou a encarando.

—Interessante - ela disse, com aquela voz aveludada, enquanto tateava e tentava pegar sua própria varinha do coldre que ela levava no braço, ele sentiu vontade de revirar os olhos por tamanha inaptidão, se afastando dela de forma drástica e erguendo a mão, mostrando ali que ele havia pego sua varinha antes dela - Como fez isso? - ela pediu confusa.

—Como fiz o que? – ele se fez de desentendido – como eu desarmo meus inimigos? - ele sorriu com malícia - é muito fácil quando eles estão muito distraídos e ocupados tentando me seduzir de forma vã - ele jogou a varinha, a devolvendo para ela - última chance, a que veio? - ele pediu, ela estava se recompondo aparentemente estava desconfortável.

—A menina - ela disse por fim - a menina do incidente aquele dia… - Severo a olhou com curiosidade - ela se parece muito com Maeva - ele congelou, mas manteve a postura, ela só tinha visto Shara uma vez e de forma muito rápida.

—Maeva? Aquela sua amiga? - ele tentou soar completamente desinteressado.

—Sim… Carla me disse que a menina não conheceu os pais, o que por si só é algo bastante estranho, principalmente para ela que foi selecionada para a nossa casa, a Sonserina, é impressionante Severo, eu lembro do olhar dela, de tudo que passamos juntas, sabe eu jamais me esqueceria daquele olhar, e aquela menina... tem exatamente o mesmo olhar –  Sim o olhar era o mesmo, ela estava certa, e isso o preocupou, Louise parecia pensar sobre aquilo.

—Acredito que esteja vendo coisas – ele tentou encerrar o assunto, sua experiencia lhe dizia que quanto mais tempo se perdia discutindo sobre algo, mais tramas sobre aquilo poderiam se formar – Maeva não teve filhos – ele concluiu.

—Eu sei..., mas e se estivermos perdendo algo – ela se virou para ele - eu vim até você Severo, por que quero que avalie isso pra mim - ela pediu voltando a encara-lo, qual era o problema desses malditos comensais idiotas ultimamente, tanto ela… como Lucius… eles achavam que podiam simplesmente aparecer sem avisar e sair lhe dando ordens?

—E por que eu faria isso? - ele pediu tentando articular algo ali.

—Bom digamos apenas que eu tenho o bastante para lhe oferecer professor Snape – ela disse com malicia se aproximando dele novamente, quase que num impulso e passando a mão pelo seu cabelo, ele a encarou, como ela podia ser tão vulgar a ponto de se oferecer assim, em troca de tão pouco, seus corpos estavam quase colados, e apesar do incomodo ele manteve o olhar.

—Não tenho interesse - ele respondeu, enquanto via aquele brilho de puro ódio se formar na íris dos seus olhos, ele já havia visto aquele mesmo brilho antes, no passado em uma situação quase tão semelhante como aquela, ela também parecia se lembrar e então dessa vez ela o surpreendeu conseguindo o que queria ao encostar os lábios quentes contra os seus e ele sentiu a sua língua buscando desesperadamente por reciprocidade da parte dele, mas não poderia haver nenhuma, ele a odiava com todas as suas forças, ele a segurou pela cintura com o intuito de afasta-la com bastante desprezo quando eles foram interrompidos com o barulho de algo caindo no chão, e então aquilo a obrigou a se afastar de qualquer maneira.

—Eu… eu… não quis interrompê-los - Shara disse nervosa e ele suspirou, olhando para o relógio na parede, eram 20:00 horas em ponto, ela havia derrubado praticamente todos os seus cadernos ali e agora os estava ajuntando de qualquer jeito.

—Olá querida - Louise disse dando um passo em direção a ela, Severo notou que Shara havia dado um passo para trás, e dessa vez sem disfarçar ela havia levado a mão até o ombro com uma expressão nítida de dor, Louise também era um perigo para ela, que novidade já que Louise era um perigo para qualquer um - já estou de saída professor - ela disse piscando para ele.

—Não eu… - ela olhou para ele com uma certa frieza - eu… - ela deu mais alguns passos para trás - tenho que ir - ela disse e saiu correndo, deixando os cadernos em cima de uma das mesas da sala.

—EPSON - Ele a chamou, mas sem nenhum sucesso, ela já tinha saído, evidente que ela havia visto aquilo que tinha acontecido ali, ele queria lançar um imperdoável em Louise por submetê-lo a isso, mas ciente de que não podia, ele sentiu uma pontada de dor de cabeça o atingir, ele se virou para ela e sem se preocupar com qualquer formalidade ele disse - FORA – ela estava sorrindo - eu disse FORA - ele foi ainda mais enfático e então ela se moveu.

—Sabe Severo, a sua boca continua com o mesmo sabor de antes - ela disse passando por ele - mesmo depois de todos esses anos - e então ela fechou a porta atrás de si com um feitiço. Severo não devia satisfações da sua vida para ninguém, mas ele podia ver a decepção estampada no rosto da criança e isso o tocava, ele passou a mão sobre o anel, Shara estava fugindo ainda sem um destino e ela estava uma confusão de sentimentos. Ele pegou sua capa, por que era tão difícil ter um dia normal?

—____

Shara correu, sentindo seus olhos enchendo de água, ela não deveria se importar, não com isso e não com o que ele fazia com a sua vida pessoal, já que aquilo não tinha nenhuma conexão com ela, mas por que então ela estava se sentindo daquela maneira?

Era até mesmo difícil nomear aquilo, mas ela se sentiu completamente desolada, ainda mais por que aquela mulher era a mãe de Carla a garota que mais a odiava naquela escola, aquela que fazia de um tudo para a prejudicar, de longe ela era o seu maior problema ali, então Shara se sentiu traída... eles tinham um caso? Desde quando eles tinham um caso? Ela era uma mulher bonita, tinha classe e se vestia bem, mas ainda assim, ela era casada e isso tornava tudo mais repugnante… ela nunca pensou que ele fosse capaz de fazer algo assim tão baixo... e sem falar naquela maldita marca mais uma vez latejando contra o seu ombro, ele havia visto aquilo, como ele podia querer protege-la, quando ele mesmo se relacionava com alguém que desejava o seu sangue, e a sua morte simplesmente por ela ser quem ela era. Shara chorou.

Ela correu sem saber ao certo para onde ir, parando apenas para pegar um certo fôlego, quando decidiu ir até o pátio externo já que um pouco de ar fresco certamente faria algum bem. Ela se sentou ao lado da fonte, em um dos bancos de pedra, não havia mais ninguém ali fora naquele horário e estava frio, bastante frio, Shara estava pouco agasalhada, mas ela não se importava, ela puxou as pernas contra o próprio corpo para se proteger, baixando e apoiando sua cabeça sobre os joelhos e sentindo as lágrimas quentes descerem livremente pelo seu rosto. Como ele ousa constranger Draco da forma como ele fez, por um beijo tão inocente como aquele, quando na verdade ele não tem moral alguma para tal? Ela pensou enquanto sentia sua pele arrepiando-se com o vento gelado que passava pelas suas roupas. 


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Notas finais do capítulo

Draco Malfoy, elevando o nível desse capitulo, vamos lá... ele defendeu a Shara esse tempo todo, sim... mantendo absoluto sigilo, ele já sabia o que ela era, certamente descobriu quando viu o colar dela pela primeira vez, e ele omitindo a verdade de Lucius, ganha todo o nosso respeito, deve estar sendo difícil para Severo ter que lidar com essa realidade, das boas intenções de um Malfoy, principalmente ao se tratar da filha dele, ahhhh e a referencia "minha filha" passa a se tornar mais frequente em seus pensamentos e ações daqui pra frente, podem se comover hahaha

Agora vamos a parte em que vocês desejam me matar, sorry mas e essa obsessão da Sra. Diaz por Severo heim...
Claro que é compreensível, eu particularmente considero a voz perigosa dele super atraente (como ela mesmo diz aqui) mas convenhamos né, vai ciscar em outro galinheiro...
Chora não menina, você entendeu tudo errado!



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