Destinos Improváveis escrita por Nara


Capítulo 44
Futuro - Brincos novos




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—E por acaso esperava que eu fizesse o que? Que eu inventasse alguma mentira? Que eu dissesse que tudo não passava de ilusão? Que aquilo eram meras fantasias criadas com a sua imaginação infantil? Acredite Alvo eu já tentei algo parecido no passado e não funcionou, pelo contrário só fez com que tudo piorasse – Severo disse elevando um pouco a voz, honestamente ele estava começando a perder a paciência com aquelas investidas e cobranças do diretor - se é isso que espera de mim, lamento, pois dessa vez terei que desapontá-lo – ele concluiu completamente certo daquilo.

—Não achei que fosse dado a esse tipo de sentimentalismo Severo – Alvo o encarou sabendo que aquilo o afetaria de alguma forma – use o bom senso, quanto mais a menina souber, mais arriscado será mantê-la em segurança. 

—Ela é esperta Alvo, muito esperta – Severo disse ignorando a menção sobre a parte sentimental, ele não era sentimental, mas ultimamente nem ele conseguia explicar determinadas ações e comportamentos, era difícil admitir que aquela criança o estava mudando – como eu disse, tudo que ela disse mais cedo na ala hospitalar, aquelas conclusões foram formuladas por ela e não por mim.

—Você alimenta aquilo, quando não se posiciona – Alvo disse o cercando – eu nunca achei que iria precisar pedir para que você se comportasse com firmeza com algum aluno Severo, mas até nisso você tem me surpreendido – ele disse desapontado, Severo suspirou fundo, tentando manter ali o pouco de auto controle que ainda restava, ele sabia que Shara havia de fato se tornado a sua maior fraqueza, mas era inadmissível que a essa altura e depois de todo esse tempo o diretor ousasse repreendê-lo por algo assim, quem aquele velho pensa que é para ditar as suas regras de conduta dessa forma? 

—Me posicionar? – ele pediu de forma irônica – deixa eu ver se entendi, você quer que eu me posicione diante do óbvio – Severo riu em deboche enquanto se aproximava mais dele, apenas para forçar aquele contato visual - são fatos Alvo, FATOS e não existe muito a ser feito nesse sentido, e você sabe disso - Severo o olhou com frieza.

—A criança, ela confia em você Severo, use isso – aquele era Alvo Dumbledore, sim, nenhuma surpresa, mas ele estava indo longe demais para o seu gosto ali, Severo cerrou os punhos.

—Enão é isso, você quer que eu me aproveite dessa confiança para a manipular – Severo apontou aquilo de forma rude – então essa é a sua orientação? - ele o olhou com desprezo, dando uma chance para que ele reformulasse aquilo, mas ele não fez - sabe, isso não deveria me surpreender afinal de contas, essa é à sua maneira de controlar as coisas, manipulando aqueles que estão a sua volta, não é mesmo? – ele o encarou, e o diretor entendeu exatamente o que ele estava insinuando com aquilo.

—Basta Severo, não se trata disso– Fazia tempo que Alvo não usava aquele tom de voz com ele – você não está pensando, não está sendo prudente, não vou tomar mais do seu tempo e nem perder o meu discutindo isso com você... não agora, descanse e reflita, quem sabe amanhã seja um dia mais...

—Essa é minha palavra final - ele o interrompeu, não havia mais nada a ser discutido ali.

—Pois bem, já que me obriga – Alvo disse se virando de costas para ele - dessa vez, isso não é um pedido Severo - ele disse com frieza – mas sim uma ordem - Severo se afastou, se aproximando da lareira, desde que Alvo o havia recebido naquele fatídico dia a tantos anos atrás e o acolhido, não houve um pedido sequer que ele não tivesse atendido, mas ele não conseguia abranger aquilo, por que ele estava agindo daquela maneira? A ponto de forca-lo a algo tão baixo, era óbvio que ele podia ver o perigo, mas era evidente também o quão esperta ela era e que ela chegaria lá, já que tudo que ela vinha fazendo até o momento desde o dia que ela pisou naquela escola era correr atrás das respostas, ele concordava com o fato de jamais revelar sua paternidade, ele não queria aquilo, ele nem sequer saberia o que fazer com aquilo, e haviam inúmeras razões que provavam o quanto isso não era a coisa certa a se fazer, ele colecionava inimigos, em ambos os lados, ela seria uma presa fácil, mas havia a sua ancestralidade e ele não conseguia entender o zelo excessivo do diretor em esconder aquilo, o que ele estava perdendo ali?  - Você não entende – Alvo disse se virando e ele parecia ainda mais velho ali, não ele não entendia, os últimos dias haviam sido esclarecedores, agora ele conhecia aquela criança como ninguém mais ali poderia, a dor, as humilhações e até mesmo as suas escolhas, ao seu ponto de vista Maeva morreu em vão.

—Ela cortou os malditos pulsos, a apenas um dia atrás – Severo disse cuspindo cada uma daquelas palavras e fazendo com que o diretor recuasse um pouco com aquela abordagem – e você está aqui me pedindo para que eu seja impassível e a manipule... Eu quero acreditar que esse episódio da câmera secreta esteja afetando sua lucidez – ele disse por fim.

—Você não entende – ele repetiu – ainda é cedo... – ele balbuciou.

—Não, eu não posso compreender isso – Severo assumiu, ele estava cansado daquela discussão.

—Maeva arquitetou tudo isso, não apenas para protege-la, sim... Protege-la era o primeiro e mais importante motivo, mas… não só isso - o que ele estava dizendo, Severo o encarou intrigado - ela era a mãe, e ainda assim ela teve que agir com bastante frieza, não consigo imaginar o que ela tenha sentido, mas agora eu vejo, que tudo isso foi necessário… tudo, ela sabia – Alvo dizia, enquanto caminhava pela sala, ele soava ainda mais confuso assim, Severo não podia concordar com as decisões de Maeva, já que os resultados e as consequências que vieram daquilo eram desastrosos, e sobre isso ele estava tentando poupar o diretor até aquele momento, mas ele merecia saber a proporção dos estragos que aquele plano tão cuidadosamente arquitetado, como ele mesmo chamou, causou e não, definitivamente não havia nada de necessário ali, nada que se pudesse aproveitar. 

—Maeva arquitetou tudo, sim, para protege-la do mal do nosso mundo, no mundo bruxo, mas ela falhou e falhou miseravelmente Alvo, pois ao fazer isso ela condenou a sua própria filha a algo ainda pior no mundo deles, no mundo dos trouxas – Severo encarou o diretor, trazendo as memórias que ele havia visto na mente daquele maldito trouxa para a superfície – olhe para mim, Alvo – Severo pediu, o encarando e o diretor não fez qualquer objeção ao seu pedido, ele acatou, Severo empurrou aquelas memórias para dentro da mente do diretor, pare que ele as visse, uma por uma, sem poupa-lo da verdade dessa vez – essas são as consequências Alvo – ele disse ao ver o semblante no rosto do diretor pesar.

—Foi necessário – Alvo disse outra vez, baixando um pouco a voz, era evidente que ele havia ficado impactado com o que  tinha acabado de ver ali, qualquer um ficaria, Severo notou que ele havia buscado um lugar para se apoiar, mas o que Severo não entendia era por que o diretor estava insistindo em dizer que aquilo havia sido necessário. Ele quase matou aqueles malditos trouxas naquela visita, por causarem toda aquela dor, o que por si só lhe deu muito prazer, mas ele estava começando a se sentir enojado ao ouvi-lo dizer mesmo depois de ter visto aquelas memórias deploráveis de que havia sido necessário, justificando aquilo que Maeva fez, falando de sua frieza, como se ela realmente soubesse o que estava por vir. 

—Está me dizendo que Maeva sabia o que iria acontecer? Que ela sabia que as coisas seriam dessa forma? – Severo não podia evitar, ele levantou a voz, dessa vez era ele que estava precisando de uma ou duas doses da poção calmante – Alvo – ele o chamou de forma agressiva - como ousa afirmar um absurdo desses - ele precisava de mais informações, explorar aquele assunto melhor, ele não iria aceitar meias verdades ali, quando ele é interrompido com batidas em sua porta, aquilo definitivamente não era comum, e ele sentiu vontade de esganar seja quem fosse que estivesse do outro lado da porta, aquele era um péssimo momento para interrupções, Alvo agora mais recomposto estava lançando um olhar intrigado sobre ele.

—Esperando visitas Severo? - ele perguntou, mas ele sequer se deu ao trabalho de responder, era óbvio que não, ele não recebia visitas, Severo caminhou até a porta completamente irritado, enquanto a abria fazendo questão de transparecer ali o seu péssimo estado de espírito.

—Sr. Malfoy – Severo disse, ao notar aquele pirralho loiro na frente da sua porta outra vez - dessa forma, me obriga a lançar um feitiço de memória para fazê-lo esquecer o acesso dos meus aposentos pessoais - ele tentou soar o mais rude e assustador possível, embora aquela parecesse ser uma solução bastante plausível, quem sabe em uma outra oportunidade ele pensou – posso me atrapalhar com o feitiço e causar algum dano, claro sem nenhuma intenção - o intuito era mesmo assombra-lo, mas aquela também era uma outra ideia que o agradava - estou ocupado, então fale logo de uma vez - Severo pediu elevando um pouco a voz, quando notou que Draco não estava sozinho, é claro que ele não estava, Shara, o que por Merlin, ela estava fazendo ali com ele? e por que inferno ela estava segurando uma cobra?

—Olá - ela disse completamente constrangida.

—Mas o que é que isso significa? - ele não podia evitar, ele elevou a voz um pouco mais soando ainda mais bravo, ele havia dito para ela ficar longe de problemas, e por que ele achou que isso fosse possível? 

—Shara é ofidioglota - Draco disse por fim, tentando justificar o motivo de estarem ali os dois parados, Severo processou aquela informação enquanto passava os olhos pela garota... aquilo justificava a cobra, mas não, simplesmente não havia como, o diretor parecia ler seus pensamentos, ele se aproximou da porta, denunciando sua presença.

—Impossível - o diretor disse e Severo sabia o que ele estava pensando, aquele era um dom raro, suficientemente raro e para possui-lo precisava ter algum traço ou ligação genética, Maeva não possuía esse dom e muito menos ele, aquilo era de fato impossível. Num impulso ele puxou as duas crianças para dentro do recinto, aquilo não era algo para ser discutido nos corredores, fechando a porta atrás de si.

—Uauu – ele ouviu Draco exclamar, ao olhar surpreso para o lugar, Severo nunca havia trazido nenhum aluno nos seus aposentos pessoais, simplesmente não era adequado.

—Tente não parecer tão surpreso Sr. Malfoy – ele respondeu, notando que Shara não havia esboçado nenhuma reação, pelo menos ela se comportava de forma mais discreta, e isso o agradou – Não mexa naquilo que não é seu Draco – ele disse notando a curiosidade do garoto ao se aproximar da sua estante, ao fazer menção em encostar em um dos seus artefatos que estava expostos ali – tenho certeza de que você não iria querer descobrir para o que isso serve – Ele disse de forma irônica notando Draco se recolher imediatamente, ótimo, ele pensou, já Alvo continuava olhando Shara de forma curiosa. 

—Shara – o diretor chamou a atenção dela, ela parecia bastante desconfortável com a sua presença – como você está se sentindo? Soube que ganhou alta nesta manhã, bom, um bom sinal é claro – ele era sempre muito afetuoso com as crianças, mas nesse caso Shara era uma exceção e ela não parecia estar muito bem com isso.

—Bem – ela disse, sendo objetiva, obviamente que seu estado de saúde não seria algo que ela gostaria de discutir ali, não na frente do garoto, Alvo deveria saber disso.

—Posso ver que arranjou um novo amigo – o diretor disse olhando para a cobra que estava enrolada em seu corpo e era evidente onde ele queria chegar com aquilo.

—Shara conte para eles onde você a encontrou, e fale das cortinas... isso não está certo, e não deve passar impune assim – Draco disse soando de forma defensiva, Severo não gostou da forma como o garoto disse aquilo, e muito menos da forma como ele se dirigia a ela.

—Ah tudo bem Draco – ela disse corando - apenas deixe pra lá - ela pediu.

—Não... não está tudo bem Shara, você tem que contar, eles devem saber, algo tem que ser feito... – ele parecia indignado com o fato dela não querer contar algo ali, Severo precisou admitir que a presença dele, e a forma protetiva com a qual ele estava se comportando, era diferente e isso o incomodava muito, então ele não pensou duas vezes.  

—Sr. Malfoy – ele disse olhando para o garoto – acredito que a sua participação nesse assunto se encerra aqui, agora peço que volte aos seus aposentos, eu e o diretor assumimos daqui – ele ordenou, enquanto abria a porta insinuando para que o garoto saísse.

—O que? Não... isso não é justo – Draco disse olhando para Shara – e eu não posso deixa-la aqui sozinha – Severo podia estrangular aquele garoto petulante com as suas próprias mãos, sim ele podia, em câmera lenta, seria ainda mais prazeroso, quem aquele moleque pensava que era? o diretor pareceu entender seus mais profundos desejos, intervindo em tempo.

—Sr. Malfoy prezamos pelo seu cuidado e preocupação demonstrados com a sua amiga, mas Shara estará em boas mãos – ele piscou para o garoto - por hora, é melhor seguir as orientações do seu chefe de casa – o diretor disse – certamente que ele tem as melhores intenções em faze-lo – Alvo estava sendo irônico ele sabia, mas Draco era tolo o suficiente para não notar aquilo.

—Pode ir Draco, está tudo bem – Shara disse retribuindo aquela preocupação com um sorriso discreto, ela não costumava sorrir assim, Severo encarou Draco por um instante, em um momento mais oportuno eles teriam uma conversa mais acalorada para esclarecer os pontos de qual parte do fique longe dela que ele não havia entendido, o garoto o olhou completamente insatisfeito, mas fez, ele saiu e Severo fez questão de fechar a porta com bastante entusiasmo a batendo com força atrás dele.

—Sente-se Epson - ele disse seco, ela ainda permanecia em pé e na mesma posição desde a hora que entrou, ele não era exatamente um bom anfitrião também, ela obedeceu embora fosse evidente o quão desconfortável ela estava ali, enquanto a cobra se enrolava no seu colo, buscando alguma boa posição para dormir.

—Professor… me desculpe, eu não queria incomodá-lo, não tão cedo - ela disse baixando os olhos, e analisando o animal que estava no seu colo quietinho - mas Draco não me deixou nenhuma opção, ele fez parecer que tudo isso era muito grave e muito sério, mas se preferir, podemos deixar isso para outro momento, eu não me importo, eu só não quero atrapalhar - agora ela olhava para o diretor.

—O Sr. Malfoy fez bem - Alvo disse - ele e a grande maioria dos alunos da sua casa, são de linhagem puro sangue, eles conhecem bem a história e, portanto, não precisa ser dito e muito menos explicado a relevância daquilo que você fez, ao provar ser ofidioglota para eles - Alvo explicou aquilo para ela, que o olhava ainda mais confusa, Severo decidiu ignorar por hora, ele queria antes de mais nada entender a origem, de como tudo aquilo havia acontecido.

—De onde saiu esse animal? - ele pediu, buscando alguma informação, enquanto se posicionava entre ela e o diretor, cruzando os braços, notando que o diretor havia se sentado ao lado dela também, como Draco havia insinuado algo naquele sentido, Severo achou por bem apurar aquele detalhe, dessa vez ele não deixaria passar nada.

—Eu a encontrei – ela disse visivelmente sem graça, ele respirou fundo.

—Onde? – ele perguntou sem muita paciência, era óbvio que ele queria saber mais detalhes, ela se mexeu desconfortável.

—Bom, ela estava na minha cama - Shara revelou.

—Na sua cama? - aquilo não fazia o menor sentido, cobras eram proibidas, então dificilmente uma entraria ali, ele arqueou a sobrancelha, ela notou - e como isso é possível? - ele sabia que essa era a pergunta certa a se fazer.

—É… acho que alguém - ela engoliu em seco - possa tê-la colocado lá - ela finalizou se encolhendo um pouco, Severo não entendia por que ela ainda insistia em encobrir outros alunos assim, era óbvio e ele não precisava perguntar a quem ela se referia ali, mas ele queria que ela elaborasse aquilo melhor.

—Seja mais específica - ele pediu sem rodeios, ela parecia refletir sobre aquilo.

—Carla e Alana estavam no quarto quando eu subi e elas pareciam apreensivas, esperando para ver qual seria minha reação quando eu chegasse no quarto e a visse  – ela olhou para a cobra e sorriu de forma discreta - as cortinas da minha cama, estavam fechadas e bem, havia algo pichado nelas… - ela disse tímida - algo como "você não é bem-vinda" - Severo notou o olhar do diretor nesse momento e sentiu seu sangue esquentar - eu não ligo, na verdade - ela disse tentando diminuir a relevância do ocorrido, Severo pensou na possibilidade de provocar uma nova detenção, talvez dessa vez aquela garota devesse limpar o chão do seu laboratório, com o auxílio apenas de uma escova de dentes, mas aquilo precisa ser melhor elaborado, já que por mais óbvio, não havia exatamente provas sobre o autor daquela brincadeira ofensiva - quando eu abri as cortinas, para minha surpresa ela, a cobra estava lá, enrolada no meio da minha cama, bom se o intuito de alguém era de me assustar, não deu muito certo, por que eu gosto de cobras - ela sorriu novamente - na verdade é meu animal preferido - ela disse um pouco mais animada.

—Imagino que elas tenham ficado um tanto quanto frustradas - o diretor disse, sorrindo também.

—Não consegui notar, já que Alana começou a gritar apavorada, no começo eu não entendi o que estava acontecendo ali, mas depois que outros alunos foram chegando no quarto, que eu entendi que o motivo daquele alvoroço todo era ter me ouvido falar com a cobra - Shara explicou - eu achei que todos aqui podiam falar com cobras - ela parecia confusa – o que isso significa senhor? - ela perguntou.

—Shara você já tinha ouvido falar no termo ofidioglota antes? - o diretor perguntou.

—Na verdade não, mas Draco me explicou agora a pouco – ela esclareceu – mas ainda assim eu não sei muito, por que os outros alunos não podem falar com cobras e eu posso? – ela estava curiosa.

—Infelizmente isso é algo que foge até mesmo da minha compreensão – o diretor disse se levantando – existem alguns critérios, já que é um dom, bastante específico e raro, mas você não se encaixa em muitos deles, eu não compreendo - ele parecia pensar sobre aquilo.

—Bom, como todo o resto do que acontece comigo – ela deu de ombros, ela parecia cansada – apenas mais um mistério, mas pelo menos isso explica a hidra, não é mesmo? – ela disse, ele e o diretor se olharam, aquele comentário não fazia nenhum sentido.

—Desculpe – Severo disse, sem entender - do que está falando Epson?

—Explica o fato de por que só eu consigo ouvir a hidra – ela disse como se parecesse óbvio, o diretor o encarou outra vez, eles não estavam entendendo a lógica daquele raciocínio – bom a hidra tem várias cabeças e são cabeças de serpente, então ela é uma cobra, eu sei que ela pode não se parecer com uma quando ela sai da água, mas ainda assim ela continua sendo uma cobra – ela disse por fim, o diretor o encarou surpreso, Severo quase sinalizou ali para que ele entendesse de uma vez por todas que era disso que ele estava falando quando dizia que ela era uma garota esperta, ela era muito além para a sua idade, ela havia deduzido aquilo antes mesmo deles pensarem no assunto e aquilo lhe dava um certo orgulho.

—Bem – o diretor começou –  vejo que você está coberta de razão Shara,  a propósito muito perspicaz da sua parte, se me permite eu posso ouvi-la falar? – ele pediu – falar com a cobra – ela o olhou um tanto quanto sem graça, mas ela fez e ali estava, Severo não conseguia entender as possibilidades daquilo, mas ela era de fato ofidioglota.

—Ela está com frio – Shara disse, meio que traduzindo aquele sibilo para eles, enquanto ela mesma tirava as vestes da escola para cobrir o animal - ela disse que essa é a parte mais fria de todo o castelo e por isso ela nunca vem aqui- Severo olhou para a criança a sua frente, que estava ali preocupada em atender as necessidades de um animal como aquele, um animal que em partes era desprezado pelos bruxos, ela conhecia muito pouco daquele mundo, mas ainda assim ela era uma criança diferente - eu posso ficar com ela? - ela pediu, o tirando dos seus devaneios e pegando ambos de surpresa.

—Infelizmente esse não é um dos animais permitidos para os alunos nessa escola – o diretor explicou - existem muitas razões para isso, é claro - ele disse a encarando e ela não insistiu.

—E se um dos funcionários da escola quiser cuidar de uma cobra? – ela perguntou evidentemente tentando encontrar uma brecha ali, espera, ela disse funcionário? o que ela tinha em mente?

—Bom não existe uma regra quanto a isso – ele piscou para ela, que retribuiu, sorrindo com certa animação. 

—Professor… - ela chamou se virando para ele, espera... não, de forma alguma, não!

—Definitivamente não Epson - ele disse de forma ríspida a interrompendo, era só o que lhe faltava por acaso ele tinha cara de alguém que se responsabilizaria por qualquer tipo de bicho que fosse, ainda mais uma cobra? Alvo tinha apenas uma razão em tudo aquilo que estava insinuando anteriormente, ele estava mesmo ficando mole a ponto de a criança achar que poderia sequer cogitar a hipótese de pedir algo assim, ela parecia confusa – e não tente argumentar – ele concluiu a encarando.

—Na verdade… eu, na verdade... tinha cogitado o Hagrid mesmo, eu só ia perguntar se eu poderia falar com ele a respeito - ela disse tentando segurar o riso - eu não pediria isso ao senhor… eu não faria - ela disse mais séria, mantendo uma postura, ele se manteve sério, mas por que razão ele tinha cogitado que ela pediria algo assim para ele? 

—Não vemos problema nisso Shara - o diretor disse se divertindo com tudo aquilo, enquanto o encarava - Severo preciso de um minuto seu em particular antes de sair.

—Eu posso ir? - ela pediu fazendo menção em se levantar.

—Ainda não Epson – ele disse a encarando – temos algo a discutir, vou finalizar com o diretor no meu laboratório pessoal, aguarde aqui enquanto isso e não toque em nada - ele orientou, enquanto ele e Alvo entravam na sala ao lado, ele lançou um feitiço de privacidade apenas por precaução ao fechar a porta.

—Curioso Severo, muito curioso - Alvo disse - diga ao seu amigo que eu concordo em recebê-lo, ele poderá começar na segunda-feira com Pomfrey, tenho certeza que ela ficará bastante animada – ele orientou - estou com a impressão de que Antony será muito útil daqui em diante - Alvo comentou pensativo.

—Antes de mais nada, ele não é meu amigo Alvo - ele grunhiu, irritado, Alvo era a segunda pessoa que fazia aquela associação indesejável, aquilo bastava – portanto, não o chame assim – ele pediu enfático – agora o que tem em mente? - Severo havia começado aquela conversa entre eles mais cedo, falando justamente da solicitação inusitada daquela ave intrometida, mas, Alvo ainda não havia se posicionado a respeito.

—Preciso ordenar isso melhor Severo, mas tenho algumas suspeitas pertinentes em mente - ele disse.

—É claro – Severo sorriu de forma irônica – você sempre tem algo em mente não é mesmo – Alvo o encarou por um momento, não dando importância ao o que ele havia dito.

—Sabe Severo, me chama a atenção algumas das coincidências que estão acontecendo nesse momento, a câmera secreta por exemplo e todos os rumores que a cercam, tudo isso aconteceu recentemente – ele estava divagando ali.

—Alvo, você mesmo disse que a escola foi revistada inúmeras vezes em todos esses anos, e de que nada de concreto foi encontrado, então, sendo assim, a verdade é que não existe uma câmera secreta – Severo pontuou ali, apenas o lembrando daquilo que ele mesmo havia reforçado em inúmeras outras oportunidades.

—Será mesmo Severo? – e aquilo fez com que ele parasse e recuasse – Salazar, ele era muito astuto e também determinado e ele não media esforços quando desejava algo, características das quais você conhece melhor que eu, e isso me intriga e não de hoje, e agora com tudo que está acontecendo, a gata petrificada do Filch, eu não posso ignorar isso Severo – Alvo disse se apoiando na bancada. 

—Aquela gata velha, Potter certamente... 

—Não Severo, você sabe tão bem quanto eu que Harry não teria como fazer aquilo – Alvo disse pensativo.

—Está me dizendo que os rumores, que eles podem ser de fato verdadeiros? – Severo o encarou preocupado.

—Sim – ele disse por fim, era evidente que o diretor estava cansado e de que ele já havia pensado sobre isso – temo que os rumores possam ser verdadeiros - ele admitiu

—Agora... – Severo o encarou - você mencionou coincidências, Alvo que tipo de ligação você está fazendo com o fato de Shara ser ofidioglota? – Severo, perguntou só por via das dúvidas, afinal Shara estava desacordada quando tudo aquilo aconteceu, provando não existir nenhuma possibilidade do envolvimento dela em algo assim.

—Talvez a mesma ligação que os demais alunos da sua casa estejam fazendo neste exato momento Severo, principalmente aqueles que conhecem a história de Salazar, como é o caso do Sr. Malfoy, afinal foi com essa intuição em mente que ele a trouxe até você essa tarde – Alvo disse 

—Você está acreditando existir uma possibilidade de ela ser a herdeira de Salazar? E nesse caso dela ter aberto a câmera secreta? – Severo riu – Alvo ela estava na ala hospitalar completamente desacordada nesse dia.

—Não, eu não penso que ela tenha a aberto – Alvo disse enquanto andava pelo seu laboratório – na verdade não considero que um aluno seja capaz disso, mas não podemos descartar a possibilidade de haver alguma herança genética, afinal o dom não é passado de uma geração para a outra assim, pode haver uma lacuna grande de gerações até que o dom se manifeste outra vez. 

—Impossível Alvo – simplesmente aquilo não fazia o menor sentido, Maeva teria mencionado algo assim tão importante.

—Na verdade não sabemos Severo - Alvo disse sério - mas Antony sim, ele caminha ao lado dessa família desde a origem dela, ele conheceu cada uma das guardiãs, penso que nesse sentido ele nos será muito útil – Severo entendeu o principal motivo pelo qual Alvo estava permitindo em trazer Antony para dentro do castelo, embora ele duvidasse muito no fato de que o diretor negasse aquele pedido, afinal uma das coisas naquele velho e que ele podia admirar era o fato dele ter um coração bom, ele não iria deixar jamais que Antony ficasse do lado de fora, mas ainda assim sempre havia algo a mais, e ali estava.

—Eu o avisarei – Severo disse sem argumentar aquilo.

—Preciso ir, está ficando tarde – Alvo disse caminhando em direção a porta.

—Alvo – Severo chamou - não pense que eu me esqueci do fato de que fomos interrompidos e de que você está me devendo uma boa explicação, algo que seja de fato bastante plausível sobre o seu comentário a respeito de Maeva arquitetar tudo isso, sabendo o que viria – Severo não iria deixar aquilo passar, embora até ele soubesse que aquele não era mais o momento certo para isso, já que Shara o estava aguardando na sua sala de estar - você ganhou um tempo para formular isso adequadamente, sinta-se vitorioso - Severo disse com ironia, removendo o feitiço e Alvo sorriu de maneira discreta com aquele comentário.

—Oportunidades não faltarão – ele disse abrindo a porta, ambos saíram, o lugar estava silencioso e Shara não estava sentada no sofá, por Merlim, onde aquela garotinha estupida havia se enfiado agora, ele estava prestes a esbravejar, quando Alvo se virou para ele, fazendo sinal de silencio, Severo se aproximou do sofá, olhando por cima dele, para notar que a criança estava dormindo no tapete ao lado da cobra que estava completamente enrolada em suas vestes.

—Vou acorda-la – Severo disse se aproximando da criança.

—Talvez seja mais adequado deixa-la descansar Severo, amanhã vocês poderão conversar – Alvo orientou.

—Deixa-la descansar? – Severo o olhou intrigado – e como exatamente me sugere isso, que eu a deixe dormir nos meus aposentos? – ele perguntou com sarcasmo – e sendo assim eu quebre uma das principais e mais importantes regras impostas aos professores e funcionários dessa instituição, que é de não deixar nenhum aluno passar a noite em seus aposentos pessoais?  é isso que me sugere diretor? Confesso que tem me surpreendido em diversos sentidos hoje - Severo disse com deboche.

—Na verdade Severo, a regra é válida para os alunos, sim – Alvo sorriu para ele, Severo detestava quando ele sorria daquela maneira – mas não se aplica aos familiares dos professores – ele disse mais baixo, piscando para ele, como se ele fosse ali uma das crianças de 11 anos que frequentam aquele castelo. Severo queria argumentar, mas o velho já havia atravessado a lareira e sumido através do flu, ele olhou Shara, era evidente que ela estava desconfortável ali no chão, além de ser frio, nada adequado para uma criança, ela estava encolhida, por Merlim, ele a analisou por um instante, pensando em o que fazer com aquela garotinha estúpida, nem era tão tarde assim, mas ela deveria estar cansada para ter simplesmente dormido assim, e ela havia dormido sem jantar, se ele imaginasse algo nesse sentido, ele poderia ter pedido para que os elfos trouxessem alguma coisa, mas o que... Por que ele estava se preocupando com o fato dela ter dormido sem o jantar? Ele empurrou essas preocupações para o canto.

—Accio travesseiro, accio coberta - ele chamou, decidido em não acordá-la, o sofá era bastante confortável, ele mesmo já havia dormido ali algumas vezes, ele pegou a criança com cuidado para não a acordar, aquilo era fácil, e a posicionou de uma forma mais confortável ali, enquanto a cobria, a cobra sequer havia se mexido, e definitivamente ele não iria se preocupar com aquele animal, ele cobriu Shara, lançou um feitiço de aquecimento na coberta, já que a temperatura ali costumava cair bastante durante a noite, ele se abaixou tirando uma das mechas de cabelo que haviam caído sobre o rosto dela, ela a lembrava muito Maeva assim, quando ele notou algo diferente, ele suspirou, podendo sentir seu sangue começar a ferver, ela não tinha aqueles brincos, eram brincos nobres.

—Malfoy – ele disse entre os dentes, com bastante desprezo – espere só até eu colocar as minhas mãos em você – ele disse baixo o suficiente para não acordá-la, mas ele notou a cobra levantar a cabeça de onde estava, apenas para encara-lo por um segundo e depois voltar a dormir, era melhor ele fazer o mesmo. 


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Notas finais do capítulo

Olá, como foi difícil descrever a conversa inicial entre o diretor e Severo Snape, são dois personagens complexos, sim eu já havia mencionado que acho Dumbledore manipulador e aqui nessa fic ficou mais que evidente, mas ele sabe de algo a mais, na verdade ele sempre sabe né... Mas Snape tomando partido pela Shara e não pelo diretor, mostra o quanto as coisas mudaram.

Shara super esperta, mostrando que não dorme no ponto, se ligando antes deles sobre a Hidra. :)

E ele deixando Shara passar a noite em seus aposentos pessoais, a cobrindo e tudo mais, é fofo né não?
Pensa no susto dela quando acordar ali no dia seguinte hahaha
Ahh e mais uma vez... coitado do Draco, acho que você está marcado garoto! Hahaha



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