Destinos Improváveis escrita por Nara


Capítulo 43
Futuro - Ofidioglota




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Shara achou melhor se ocupar, lendo qualquer coisa enquanto esperava o professor Snape voltar, já que havia se passado um certo tempo, desde o “volto em instantes” dito por ele, e bem aquilo não parecia ser tão logo assim, madame Pomfrey pediu que ela tomasse uma poção que a ajudasse a se acalmar, honestamente ela nem discutia mais, afinal ela estava tomando tantas poções diferentes por dia, que ela mal sabia o que exatamente elas estavam tratando no fim das contas, e o gosto amargo e forte da maioria delas, já nem a incomodava mais, a poção para acalmar havia de fato ajudado, ela havia conseguido se regular e se organizar mentalmente já que por vezes era necessário, algumas coisas simplesmente a afetavam de tal maneira, que a faziam agir com total “falta de controle de impulsos” como o professor mesmo costumava dizer, e ela havia acabado de se comportar assim ali, mas aquela canção simplesmente havia brotado em sua cabeça, ela sabia a melodia e a letra, como se aquilo fosse algo dela, e isso era estranho ao mesmo tempo em que a assustava já que aquilo era como se ela vivesse na cabeça de uma outra pessoa completamente diferente.

Shara pegou um pergaminho solto e uma pena, para anotar ali a letra daquela canção, antes que ela pudesse dissipar-se da sua mente, tão rápido e tão inesperado como havia surgido, de alguma forma que ela não sabia dizer, ela associou aquela música ao estranho que apareceu na ala hospitalar essa manhã, talvez por que a voz dele ecoasse em sua cabeça como se fosse de alguém conhecido? Mas isso era completamente impossível, Shara fez a conta mental, aquele rapaz tinha uns 25 anos quem sabe, talvez um pouco menos até, se fosse alguém do seu passado ele teria sido um adolescente naquela época, então esse negócio da voz não funcionava, sim ela estava o confundindo com alguém, mas aqueles olhos, eles eram… tão familiares, ela estava ficando mesmo maluca, não havia outra explicação, Shara notou o professor Snape voltar, ao mesmo tempo que ela desejava sair dali e voltar para a sua rotina na escola, ela também não queria, era estranho, na verdade tudo era confuso e estranho ultimamente.

—Me desculpe, eu não sei o que me deu - Shara disse prontamente ao notar que agora ele estava se aproximando dela outra vez, ele a analisava e isso era tão desconfortável, ela queria que as coisas voltassem ao normal, que voltassem a ser como antes, mas o episódio da floresta e principalmente o que ela havia tentado fazer no seu aniversário no dia anterior, jamais permitiriam que isso fosse possível, por que ela tinha que ser assim tão fraca?

—Epson - ele a chamou, ela preferia o primeiro nome, mas Shara sabia que isso era apenas para situações específicas e talvez, apenas talvez ser uma aluna problemática, e tentar tirar a vida certamente se enquadrava ali, ela baixou os olhos, completamente envergonhada com as lembranças do que havia feito - tente não perdê-la dessa vez - ele disse, do que ele estava falando? ela o olhou percebendo que ele estava lhe devolvendo a sua varinha - um bruxo não é nada sem sua varinha - ele concluiu, Draco já havia dito isso antes, em outra ocasião ela a pegou.

—Sim senhor - ela podia sentir sua magia percorrendo pela varinha, um elo, uma conexão forte, ela havia sentido o mesmo no Olivaras naquele dia - por que eu não posso controlar minha magia? - ela perguntou, parecendo pegá-lo de surpresa com aquela pergunta, ela elaborou - lá na floresta, com a hidra, eu senti a magia fluindo, porém pelas minhas mãos, algo similar de quando eu seguro a varinha, mas lá eu não podia controlar e bem eu sei o estrago que pode vir daquilo, é inevitável - ela disse se lembrando daquela noite, de Noah caído no chão do seu quarto desacordado, ela podia o ter matado, aquela era uma lembrança muito ruim - Eu já fiz isso antes, outras vezes é ruim o estrago, mas lá na floresta foi mais forte, e em todas as vezes eu estava sem a varinha - ela não havia pensado muito sobre isso - como isso pode ser possível professor? - ela o olhou esperando uma resposta sincera, ele parecia mais disposto em responder suas perguntas ultimamente ela notou.

—Magia sem varinha não é uma habilidade muito comum - ele disse, parecendo estar respondendo ali uma pergunta feita em sala de aula – você não consegue controlar ainda, pois exige um certo controle mental, algo difícil na sua idade, a menos que haja algum tipo de treinamento – ele informou, mas isso soava diferente daquilo que ele havia dito sobre magia acidental, já que deveria diminuir com o tempo e não aumentar.

—Mas isso é magia acidental, certo? - ela perguntou - foi o que o senhor disse naquele dia na sala de aula de defesa – ele se sentou, cruzando as pernas e a encarando, ele estava mesmo disposto a explicar aquilo?

—Foi o que eu pensei que poderia ser na época, mas dado os últimos acontecimentos, penso ter feito um mal julgamento sobre isso - ela tentou decifrar o que ele havia dito ali, ele meio que disse que estava errado sobre algo? E ele disse isso para ela? bom… nada era mesmo como antes.

—Então - ela disse confusa - se isso não é magia acidental, o que é então? - ela ousou questionar.

—Magia ancestral - ele respondeu de forma direta, ela nunca havia ouvido falar naquele termo antes, o que isso significava exatamente? ele parecia notar a confusão ali - é algo antigo, algo que vem na sua linhagem de sangue - ele informou, como se aquilo bastasse, obviamente que ela queria saber mais sobre aquilo, o vampiro na floresta havia dito algo sobre o seu sangue também, sobre possuir um sangue valioso.

—E isso tem alguma coisa a ver com o fato de ser uma guardiã? - ela perguntou, se lembrando do termo que o vampiro havia usado, não que ela soubesse o que ele significasse exatamente ou sequer como abordar aquilo com o professor, mas aquele lhe pareceu o momento adequado, o vampiro havia relacionado esse termo com o seu sangue e também havia uma marca, agora ela sabia o que a marca era, ela era a cicatriz do seu ombro, Shara notou a mudança brusca de expressão no rosto do professor, ela o havia surpreendido outra vez.

—Sim - ele respondeu sério - onde você ouviu esse termo? - ele se limitou em perguntar, Shara o havia surpreendido, mas não no sentido de contar uma novidade ali, ele já sabia sobre isso, era evidente pela sua reação, novamente ela era a última a saber, ela não entendia por que sua vida era um completo mistério, e por que ela não podia saber nada sobre o seu passado, mas ela não iria discutir isso outra vez, ela notou que ele estava na verdade chocado por perceber que ela havia chegado lá sozinha, ela podia lê-lo, eram poucas as vezes que ele se permitia assim.

—Foi o vampiro, aquele dia na floresta, ele sentiu… meu sangue - ela disse o encarando, visivelmente ele não estava preparado para aquela conversa - e tem a marca, ele mencionou sobre ela, e eu sei que é a cicatriz que fica no meu ombro, eu sei por que ela queima as vezes, dependendo do lugar, ou da pessoa que se aproxima, ela queimou na floresta também e agora eu penso que isso seja um tipo de alerta de perigo, estou certa não estou? - ela perguntou, despejando nele todas as informações cabíveis, já que eles haviam começado aquilo, ela queria provar que ela não era uma completa incapaz e de que ela podia fazer conexões sozinha.

—Sim, isso faz – ele disse não parecendo disposto a reter nenhuma informação e isso soava bastante contraditório, o que poderia ter mudado? para que ele estivesse se comportando daquela forma no mínimo inusitada.

—Certo... – embora ele não estivesse mentindo, ou tentando encobrir algo, o que por si só já era muito diferente do que ela estava acostumada, ainda assim ele estava omitindo muita coisa, ela sabia, já que ele não estava evoluindo em nada aquilo que ela estava apontando ali - então além da minha história, da qual não sei nada, de um passado do qual desconheço, existe algo com meu sangue, e eu tenho uma marca que queima me alertando de algum perigo, e bem agora eu sei que eu posso fazer magia sem varinha, e que isso se chama magia ancestral, o que não me parece ser nada comum, além de que eu faço associações mentais estranhas como ouvir músicas que nunca antes ouvi, sim isso é novo... - ela disse fazendo uma pausa, era tanta informação - e não vamos mencionar sobre a hidra, que veio atrás de mim, um ser que apenas eu posso ouvir, e tem também o colar que está ligado a uma lenda milenar, e a varinha - ela levantou a varinha - que foi um presente de uma velha desconhecida que prevê o futuro… tem também as visões, a carta misteriosa da minha mãe, e o pássaro dela, será que estou esquecendo de alguma coisa? - ela pediu, não querendo soar com ironia, ou algo assim, mas é que dito daquela maneira, tudo aquilo era demais para ela, e por mais que ela tentasse encontrar algum sentido, nada fazia de fato nenhum.

—Me parece que temos o bastante - ele disse sério, era de fato uma lista generosa.

—O suficiente - ela disse cansada e ela vinha pensando sobre isso desde que acordou daquele sono em que esteve presa por tantos dias - e nada faz sentido honestamente, eu entrei na floresta aquele dia, mesmo sabendo que poderia ter problemas com isso – ela admitiu, ela nunca havia sido tão espontânea e honesta com qualquer outro adulto assim - por que havia essa poção, uma promessa de que eu poderia acessar algo no meu passado que respondesse algumas das minhas dúvidas, agora eu entendo que não teria funcionado, entendo que eu teria feito errado, sim eu entendi isso muito bem - ela disse reforçando aquilo para que ele tivesse certeza de que ela havia mesmo entendido aquilo e que não faria nada assim outra vez -  mas a poção me dava esperanças, sei lá qualquer coisa - ela queria ter dito isso naquele dia, na véspera do seu aniversário, mas é que simplesmente não havia tanta clareza assim, não dá forma como ela estava tendo ali, agora, a verdade é que ela havia ficado abalada com o que Beta tinha dito e estava se sentindo sozinha e quem sabe meio depressiva já, o que contribuiu em muito com o que ela fez na manhã seguinte, ela suspirou.

—Entendo - era impressão dela, ou aquilo era quase um monólogo?

—Eu sei que o senhor não vai me contar nada sobre tudo isso - ela sabia e ele a encarava, estava ainda mais sério do que o habitual - tudo bem, eu posso lidar com isso - ela sorriu discretamente, ele havia contado algo tão especial  sobre a sua mãe no dia anterior, ela não podia exigir mais nada dele, ainda mais algo assim, aquilo sequer fazia parte das suas obrigações, ele estava sendo muito bom para ela nesses últimos dias, e eles estavam construindo algo diferente que definitivamente ela não queria destruir, ele era o primeiro adulto com o qual Shara se sentia tão à vontade, por mais estranho que fosse ser justamente ele, ela sabia que seus amigos, ou aqueles que restaram nunca poderiam entender aquilo, mas ela não se importava - eu posso almoçar aqui, digo… já está quase no horário, eu prefiro, se não for um problema é claro, antes de ser liberada?- ela perguntou, ela não queria aparecer repentinamente no grande salão daquela forma, ela não se sentia preparada ainda para aquele contato, mas ela estava milagrosamente com fome, será que eram as poções?

—Posso arranjar isso - ele disse, passando os olhos pelo pergaminho com a canção que ela havia anotado ali minutos atrás – digamos que tenha sido merecido, o troféu... – ela o olhou confusa – aquele que está na sua antiga escola trouxa, merecido, já que sua voz ela soa bem – ele disse, espera, ele a estava elogiando? Aquilo era um pouco desconcertante, ela gostava de cantar, ela se sentia leve quando o fazia, mas aquela música não era nada que ela tivesse treinado ou algo assim, na verdade era até assustador ter algo assim, pronto em sua mente.

—Obrigada… - ela sabia que estava vermelha - Ah professor, peça desculpas ao seu amigo por mim, ele deve me achar uma maluca, e com toda razão - ela pediu se sentindo constrangida por ter quase que forçado aquele momento anterior, e espera o professor sequer a havia repreendido por isso? As coisas haviam mesmo mudado.

—Ele não é um amigo - o professor respondeu soando um pouco aborrecido com a forma afetuosa que a palavra amigo soava na sua frase, ela achou melhor não comentar e nem perguntar qualquer coisa naquele sentido, não era da sua conta mesmo.

—Agora me deixe ver suas cicatrizes - ele pediu, ele falava dos pulsos, Shara sentiu seu coração disparar, sim ele sabia praticamente tudo sobre ela agora, embora ainda houvesse um único segredo do qual ele desconhecesse, que era sobre aquele dia com Noah, onde ela por muito pouco não o matou, aquilo era difícil, ela se sentia completamente envergonhada, ela não queria nada daquilo, ela se defendeu sem entender como aquilo havia acontecido exatamente, agora ela sabia, era magia ancestral, mas ela fez e do contrário ele a teria tocado, da forma como ele tocava Catie e as outras meninas mais velhas…  Aquilo não era algo do qual ela se sentisse confortável em discutir com alguém, ainda mais ele, um professor…  - apenas para checá-las - ele disse, obviamente notando a sua resistência e ela estendeu os braços para ele que se aproximou o suficiente para analisá-las melhor.

—Madame Pomfrey disse que as marcas antigas vão permanecer, mas as novas… - ela disse isso quase sussurrando, por que ela não havia conseguido lutar contra aquilo? Ela não queria morrer, não exatamente, ela apenas queria fazer com que aquela dor fosse embora - …sumiram completamente - ela completou.

—Sim de fato, acredito que Pomfrey tenha explicado o motivo, mas a verdade é que existe um limite até mesmo para a magia - ele explicou, mantendo seus olhos sobre ela, aquele não era um olhar de repreensão, nada com o que ela estivesse acostumada, ela não entendia, mas algo havia mesmo mudado - Você será liberada, mas preciso que me dê sua palavra de que não fará e nem tentará nada nesse sentido outra vez - ele esperava algo dela, ela já havia prometido isso no passado, mas ela não era muito boa com promessas, não que ela desejasse isso constantemente, mas ontem era uma data difícil, havia uma tempestade acontecendo lá fora e tudo isso se assemelhava tanto com todas as suas piores lembranças e ela não conseguia lutar sozinha contra aquilo - eu prometi que a estarei ajudando, eu farei, mas preciso acreditar de que buscará ajuda se precisar - ele parecia tão diferente ali, mas também, ela deveria ser um caso difícil para ele, que alunos mais tentaram algo assim? ainda mais ali…

—Sim… ontem foi um dia difícil - ela se encolheu ao externar aquilo.

—Use a moeda - ele orientou - para quando houverem dias difíceis - ele a encarou, e ela tirou a moeda do bolso, a olhando mais uma vez como já havia feito tantas vezes desde que a ganhou, aquilo era mesmo surreal.

—Eu posso prometer isso - ela disse por fim, sabendo que ele esperava ouvir aquilo.

—Conto com isso - ele se levantou - agora Epson, após o almoço quero que você se informe com algum colega de turma sobre as atividades acadêmicas em atraso, duas semanas e deve haver bastante coisa, precisamos recuperá-las, farei um plano de estudos que te orientará nesse sentido, não quero que comece nada nesse final de semana, sem que haja supervisão da minha parte, está entendendo? - ele perguntou.

—Sim senhor - ela respondeu, nada de agir por conta própria, ela entendeu.

—Na segunda feira você deve me procurar após o jantar, e faremos isso juntos, você não faltará nenhuma aula para cobrir qualquer coisa - certo ela já havia entendido isso, ela assentiu - e aproveitamos a ocasião para falarmos da programação e de como serão as suas detenções - óbvio que ele não esqueceria disso, mas ela poderia lidar com isso também – as linhas e a redação também podem ser entregues nesse dia, no demais mantenha-se longe de problemas até lá - ele disse bastante sério e frio e isso se parecia muito com como quando ele a intimidava.

—Professor… obrigada, por tudo - ela se sentia verdadeiramente grata, ele ergueu uma das sobrancelhas, e saiu, ela realmente iria se esforçar para não decepcioná-lo dessa vez.

Após o almoço Shara se dirigiu até sua sala comunal, haviam alguns alunos pelos corredores, mas ninguém com quem pudesse se preocupar, a sala comunal estava vazia, como era sábado, era bem comum, já que os alunos normalmente se entreviam com atividades na parte externa do castelo, aproveitando aquele tempo livre, ela se sentou em frente a lareira antes de subir, era estranho não ter nada para fazer, quando ela sabia que havia muito, ela tinha acabado a redação que o professor havia pedido, mas ainda faltavam algumas linhas, seria uma ocupação para aquela tarde.

—Shara? - ela ouviu Malfoy chamar, ele entrou no salão, ele estava usando o uniforme de quadribol, ela notou.

—Olá - ela cumprimentou, ela sabia que ele o havia visitado na ala hospitalar algumas vezes desde o acidente, e de que ele havia sido o responsável por alertar o professor Snape sobre seu paradeiro naquele dia, Beta tinha razão, sobre agradecê-lo por estar viva, claro que ela estava sendo irônica, mas Shara sabia que se não fosse por ele, o desfecho teria sido bem diferente, agora como ele sabia que ela havia ido até a floresta proibida, era algo que ela realmente gostaria de descobrir, ele se aproximou, se sentando em uma poltrona à sua frente.

—Accio presente Shara - ele disse, erguendo a varinha, presente? ela não esperava um presente, principalmente dele, ela não esperava sequer que ele soubesse sobre a data do seu aniversário, ela queria recusar, mas ela se lembrou do que o professor havia dito sobre presentes, ela viu um embrulho verde voar até as mãos dele - Não imaginei que viesse hoje - ele disse a olhando - ontem eu fui até a ala hospitalar, mas Madame Pomfrey não deixou ninguém entrar - ele disse com certo desgosto e Shara agradeceu mentalmente por ela ter agido daquela maneira, ela não estava bem, e muito menos apta a receber ninguém naquele estado, ele estendeu o presente e ela o pegou.

—Draco, não precisava se incomodar… - ela estava sem jeito - eu não sou muito boa com essas coisas de aceitar presentes - ela admitiu – me desculpe.

—Apenas aceite, acho que será útil - ele sorriu, ela abriu o presente que estava cuidadosamente bem embrulhado, haviam dois presentes na verdade, um deles era um coldre, ela já havia visto um antes, era para proteger a varinha, assim mantinha a varinha sempre próxima ao corpo e o outro era um par de brincos, uma pedra verde, no mesmo tom de verde da peça do seu colar, era lindo, ela não tinha nenhuma joia, e vindo dele, ela sabia que aquilo não deveria ter custado pouco, ela não sabia ao certo como retribuir, ela estava sem graça.

—Draco… - ela disse espantada - eu não sei se devo - ela não sabia como agradecer aquilo, ela não sabia se havia um protocolo bruxo, ou algo assim, mas ela pensou que não poderia ser tão diferente da maneira trouxa de agradecer, e então ela se levantou, ele a olhou estranho mas não se moveu, ela o abraçou e deu um beijo na sua bochecha, ela nunca chegou tão perto dele assim, ele cheirava muito bem, uma fragrância que ela nunca havia sentido, e ele estava completamente corado, isso era engraçado, ela se sentou novamente - é assim que os “trouxas” agradecem quando ganham presentes, desculpe se fiz algo errado - ela sorriu

—É digamos que entre os puro sangue, os cumprimentos sejam mais formais - ele respondeu se recompondo - mas eu não me importo, quer dizer… eu gostei, digo com respeito… é claro, foi bom... eu, além da minha mãe você é a primeira, que chega tão perto… - ele estava ainda mais vermelho agora e ela gargalhou.

—Desculpe Draco por constrangê-lo assim – rir fazia bem, depois de todos aqueles dias, ela precisava mesmo rir um pouco, ela até se sentiu mais leve depois daquilo.

—Tudo bem – ele ainda estava vermelho - o coldre é para a varinha - ele parecia querer explicar, ela não se importou - você comentou que costuma esquece-la, sobre o lago aquele dia - ele disse, e ele tinha razão, ela havia perdido a varinha na floresta também, um coldre teria resolvido - ele é de pele de dragão, deve durar por alguns bons anos.

—Você lembrou disso - ela disse fascinada com o cuidado dele em presenteá-la com algo que fizesse algum sentindo - realmente muito útil - ele corou novamente, o tom de pele dele não ajudava muito nesse sentido.

—E o brinco, bom… você tem o colar, e bem a pedra também combina com… - ele parecia perdido e com dificuldade de encontrar as palavras.

—Meus olhos - ela completou sorrindo - obrigada Draco - Shara disse enquanto os colocava - vou usa-los então.

—Ficaram perfeitos em você - ele disse a encarando, era desconfortável, mas nem tanto, Shara sentiu um frio diferente na barriga, mas era algo bom - ei vamos jogar snap explosivo – ele disse mudando de assunto - Grabbe e Goyle estão chegando, eles foram até a cozinha, eu sei… eles estão sempre comendo – ele revirou os olhos e ela riu - mas se quiser se juntar a nós, seria divertido, fica melhor em duplas.

—Eu adoraria - ela realmente não tinha nada para fazer e aquilo ocuparia sua tarde, era perfeito, as linhas poderiam esperar já que ela havia ganhado mais um dia para entregar aquilo, ela precisava de um pouco de diversão.

Shara passou a tarde no salão comunal, aquele jogo de cartas era realmente muito divertido e podia mantê-los entretidos por horas, ela mal havia notado o tempo passar, e sem falar que ela havia ganho a maioria das vezes o que tornava tudo ainda melhor, os meninos estavam começando a ficar aborrecidos, se havia algo que ela podia se gabar em ser melhor do que eles, era aquilo, já estava perto da hora de jantar e Shara pediu licença, ela queria se lavar, jantar cedo e deitar logo, aqueles dias na ala hospitalar, não eram exatamente como uma colônia de férias e ela estava exausta.

Shara subiu as escadas e ao adentrar no dormitório, o sorriso que ela vinha carregando por todo o trajeto, desapareceu instantaneamente, ela notou a presença de Carla e Alana que já estavam no recinto, Shara havia ficado tão ocupada com o jogo que nem tinha notado que elas haviam entrado e subido, mas o motivo da sua reação não era nem o fato de encontrá-las ali, o que naturalmente iria acontecer a qualquer momento já que dormiam no mesmo quarto, mas sim por que as cortinas da sua cama estava fechadas e pichadas “você não é bem vinda aqui... cai fora” em tinta vermelha, que contrastava no verde escuro, Shara suspirou, se lembrando do que o professor Snape havia dito, sobre sua mãe ter feito muitos inimigo ali, isso ajudava, sim ajudava muito, ela foi até a cama, abrindo as cortinas e se deparando com uma cobra, ela estava completamente enrolada no centro da cama, Shara encarou o animal por um instante, não havia como ele chegar ali sozinho, olhou para as meninas que estavam esperando algum tipo de reação por parte dela ali, sério elas haviam colocado uma cobra na sua cama com o intuito de assustá-la? sério? Uma cobra? Shara abriu um largo sorriso, cobra simplesmente era o seu animal preferido, obviamente que elas não sabiam, era um gosto um tanto quanto exótico mesmo, Shara se aproximou da cama se sentando próximo ao animal sem nenhuma dificuldade o acariciando.

 _Olá - ela disse para a cobra que levantou a cabeça instantaneamente para ela - desculpe interrompê-la em seu soninho, deve estar quentinho aí né - Shara disse tentando não assustar o animal.

—Fazem muitos anos que nenhum humano fala comigo -  a cobra disse, Shara estranhou, por qual motivo os bruxos deixariam de se comunicar com ela? Mas ela mal teve tempo de pensar em algo, Alana começou a gritar descontroladamente, e bem Carla estava com um olhar completamente apavorado também, o que havia acontecido? Shara notou Draco e os demais meninos entrarem no quarto, acompanhados de outros alunos mais velhos.

—Ela... ela… fala a língua de cobras - Alana disse colocando a mão na boca, Shara estranhou, então era isso? que mal havia nisso, todos ali falavam com animais. Draco a olhou assustado.

—Shara isso é verdade? - ele perguntou, parecendo horrorizado, Shara estava confusa, ela pegou a cobra, que se enrolou em seu braço instantaneamente.

—Por que ninguém fala contigo a tanto tempo? - ela perguntou, ignorando todos que estavam ali no quarto, ela sabia que a cobra não iria mentir e nem omitir coisa alguma.

—É uma habilidade rara - a cobra disse, e Shara entendeu, ela sentiu Draco a puxando pelo braço.

—Shara venha comigo - ele disse, ela foi, não que houvesse muita opção – vamos rápido, precisamos falar com o professor Snape sobre isso - ele disse enquanto a arrastava escada abaixo.

—Espera Draco - ela pediu quando eles chegaram lá embaixo - eu não posso ir até ele, é muito cedo, ele me pediu para não me envolver em problemas, isso pode esperar, certo? - ela pediu, começando a ficar desesperada, era só uma cobra, e o que poderia ter de tão urgente nisso, o professor Snape iria matá-la assim.

—Acredite - ele disse sério - o professor Snape vai ficar mais chateado em não saber disso - Draco continuava a puxando – ainda mais depois do que aconteceu final de semana passado – Shara não entendeu aquela referência.

—Olha de qualquer forma, eu não sei como encontrá-lo - ela disse, ela já havia precisado dele num final de semana anterior e ela não sabia onde ficava os aposentos pessoais dele, e obviamente ela não iria usar a moeda que ele havia dado, não para isso, se ela ainda tinha alguma coisa, isso com certeza era noção.

—Eu sei, onde fica… - Draco disse - venha comigo - Draco a guiou por alguns corredores que ela sequer havia notado, ela nunca poderia encontrar aquilo sozinha, eles pararam em frente a uma parede de pedras solida.

—Tem certeza? - Shara disse desconfiada - não tem nada aqui.

—Eu sei, é estranho - ele disse - mas a porta ela está por aqui, ela aparece quando chegamos perto é encantada, apenas podendo ser vista por alunos da Sonserina, do contrário fica impossível achar - ele disse explicando, ela achou aquilo um tanto quanto curioso.

—Você já veio aqui antes? - Shara perguntou curiosa.

—Uma única vez - ele disse dando pouca informação.

—Draco - ela chamou - eu sei que foi você que contou para ele que eu estava na floresta proibida aquele dia, obrigada por isso, não tive a oportunidade de agradece-lo, e não quero que isso passe assim....- Draco parou, a encarando por um momento.

—Você não deveria ter ido lá, e não deveria confiar na Diaz - ele disse sério.

—Eu sei - sim ela sabia - como você soube? - isso era algo que ela queria mesmo saber – como descobriu sobre isso?

—Eu ouvi vocês conversando na sala comunal, minutos antes de você sair - ele explicou - não pense que eu estava bisbilhotando, ou algo do tipo, mas a verdade é que você não foi nada discreta - ele disse, enquanto eles notavam uma porta surgindo a sua frente - não disse aí está - ele se referia a porta.

—Eu já passei por aqui uma vez - a cobra disse - o humano que mora nesse ninho não parece gostar de companhia - Shara riu, até a cobra conseguia ter aquela percepção, Draco a encarou sem entender nada, mas Shara achou que não estava em tempo para explicar aquilo.

—Draco, tem certeza? - Shara pediu sentido que aquilo não era exatamente uma boa ideia, seu estomago estava começando a embrulhar - eu vi ele mais cedo, e penso que eu não seja exatamente a pessoa que ele espera ver novamente nesse final de semana.

—Shara, a câmera secreta foi aberta - Draco disse sério - você é ofidioglota, o que acha que todos vão pensar? - ele explicou, como se aquilo fosse obvio, mas ela não entendeu absolutamente nada do que ele estava falando ali, o que isso significava? Draco bateu na porta, estava feito e ela nem sequer podia fugir e correr.

—Camera secreta? - ela pediu - do que se trata isso? - ela perguntou, mas a porta se abriu, e Shara podia sentir seu coração querendo sair pela boca naquele exato instante, por alguma razão ela podia jurar que Draco também estava com medo.

—Sr. Malfoy - ela ouviu a voz arrastada e característica do professor, era evidente que ele não havia gostado nenhum pouco daquela interrupção, além do que pelo tom de voz, ele parecia de péssimo humor, um pouco diferente de como havia sido mais cedo - dessa forma, me obriga a lançar um feitiço de memória para fazê-lo esquecer o acesso dos meus aposentos pessoais - ele soava bastante rude – posso me atrapalhar com o feitiço e causar algum dano, claro sem nenhuma intenção – ele sorria, mas o tom de voz era mordaz e Draco parecia acuado - estou ocupado, fale de uma vez – ele disse mais alto, Draco a puxou, a obrigando a ficar entre ele, a porta e o próprio professor, que ainda não tinha notado a sua presença já que aquele lugar era um breu.

—Olá - ela disse sem graça, sentindo a cobra se apertar um pouco contra o seu corpo, será que até ela tinha medo dele? Shara não podia julgar aquilo.

—Mas o que é que isso significa? - agora ele disse bravo, a encarando.

—Draco, sério isso pode esperar - Shara disse sem se virar, aquilo havia sido uma péssima ideia – vamos embora – ela pediu.

—Shara é ofidioglota - ele disse indo direto ao ponto e Shara notou as expressões no rosto do professor mudarem consideravelmente, enquanto a porta se abria um pouco mais atrás dele, revelando o motivo pelo qual o professor havia dito estar ocupado, o diretor.

—Impossível - o diretor disse a encarando com surpresa e então Shara entendeu de uma vez por todas que aquilo era mais uma das coisas sem sentido e sem explicação que aconteciam simplesmente por ela ser ela, sua lista acabará de aumentar mais um pouco.


 

 

 


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Notas finais do capítulo

Garota esperta, Shara ligou bons pontos até aqui... isso continue assim garota :)

O Malfoy literalmente flertando a moda adolescente, tá muito fofo, e olha que nem gosto muito do personagem, mas nessa fic até to curtindo. Deixa só o Snape ver esse brincos... quem acha que ele vai surtar? hahahaha pobre Draco.

E que recepção é essa? #expulsemaCarla
Shara ama cobras, lembra que tinha uma no berço dela quando bebe? tá ai... tudo tem seus motivos. Agora ofidioglota, por essa ninguem esperava, aposto!



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