Destinos Improváveis escrita por Nara


Capítulo 36
Futuro - A Floresta Proibida Parte II




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Severo não sabia ao certo quanto tempo ele levou para chegar da biblioteca até o pátio externo da escola, mas havia sido rápido, muito rápido. Internamente ele se perguntava se deveria chamar algum reforço, para ajudá-lo nas buscas, devido as circunstancias que no caso dela eram ainda mais atípicas, mas ele achou melhor não alarmar mais ninguém, por enquanto, principalmente, Alvo afinal não fazia muito tempo que ela tinha saído e não deveria ter ido tão longe assim, ela era sua responsabilidade, e ele queria pelo menos tentar, antes de mais nada resolver isso sozinho, obviamente havia um pouco de orgulho envolvido ali também. De todos os anos que Severo havia lecionado em Hogwarts essa seria a primeira vez que ele precisou se mobilizar numa verdadeira missão de resgate como essa em prol de um aluno na floresta proibida, obviamente não era algo que ele faria por vontade própria, e pensar nisso o deixou ainda mais desconfortável, Shara havia mesmo mudado algo nele, embora a sua única certeza no momento é que todo esse transtorno iria render boas consequências para a garota e era bom se apegar nisso.

— Garota estupida, espere só até eu colocar minhas mãos em você – ele esbravejou em voz alta, aquela criança seria sua ruina, será que Maeva havia premeditado isso também?

Como um bom e proeminente mestre de poções, uma das coisas que ele menos tolerava era o descuido que aqueles terríveis cabeças ocas tinham em sala de aula, eles não entendiam a gravidade e o estrago que qualquer infração, por menor que fosse, cometida durante o preparo da mais simples poção pudesse causar e que sendo assim, Shara ainda se sentia auto suficiente para preparar poções por conta própria, em lugares não devidamente preparados para tal, poções de nível avançado que nem sequer estavam na grade curricular ou pior em qualquer literatura confiável, o que Shara estava pensando quando achou que poderia fazer aquilo? Ela não passava de uma primeiranista, crescido entre trouxas, era evidente que por mais que ela conseguisse tal ingrediente, lhe faltaria competência para todo o resto já que ela não possuía instruções suficientes e muito menos habilidades para preparar algo tão complexo quanto, no mínimo ela estava acreditando que a sutil arte do preparo de poções poderia se igualar ou ser reduzida a arte de misturar o leite matinal ao seu achocolatado preferido no café da manhã. Sim ele estava divagando ali sobre a raiz do problema.

E de onde ela tiraria os demais ingredientes? não que ele houvesse percebido a falta de algo em suas despensas para culpa-la, mas as pétalas que Shara havia ido buscar era apenas uma pequena fração dos ingredientes que ela iria precisar usar, e para os demais itens com toda certeza ela teria que dar um jeito de conseguir, já que a parte mais difícil que era entrar na floresta proibida não foi nenhum empecilho para aquela garota estupida.

E sem falar que haviam regras, regras bem claras que ele mesmo fazia questão de reforçar a suas cobras com bastante frequência, pois diferente dos demais professores, ele não era do tipo tolerante, e um dos seus maiores orgulhos na posição de diretor da casa Sonserina, era o fato de manter todos da sua ala em rédeas curtas, portanto ele não facilitaria as coisas para os alunos da sua casa, ele exigia disciplina e rigor as regras. Claro que ele sabia que sonserinos eram por natureza propensos a astucia, e que dessa forma muitos buscariam alternativas de infringir as regras sem serem pegos, qualidade que ele admirava e Shara sabia, mas a qualquer sinal ou movimento de algo fora do padrão, as consequências deveriam ser aplicadas e Shara também compreendia perfeitamente isso e mesmo assim ela ousou desrespeitar uma das regras principais da escola, que era se manter longe da floresta proibida, e sem falar que agora ela sabia sobre a hidra, e sobre o perigo que ela corria lá fora a noite com aquela criatura atrás dela, ele não entendia, simplesmente não entendia como a ânsia pelas respostas, a fazia arriscar sua própria vida daquela maneira, ela definitivamente não era uma criança normal, ele suspirou cansado.

Então uma grande parte dele desejava o encontro para acabar com isso logo de uma vez, arruinando aquele plano imbecil e aplicando a disciplina merecida. Sim ele faria questão de apontar cada uma das inúmeras falhas cometidas durante o processo que transformando em números seriam mais que suficientes para manter a pirralha presa em detenções intermináveis até que ela completasse a maioridade. Mas outra parte, até então desconhecida por ele, e que ele estava tentando ignorar até ali era de que na verdade ele ansiava pelo encontro, pela simples certeza de tê-la em seus braços outra vez, em segurança, pois afinal de tudo, ela não era uma garotinha estúpida qualquer, ela era a filha de Maeva, aquela que um dia foi a sua Maeva também, e Shara era a sua filha. Maldita Maeva que não lhe deu opção, malditos sentimentos conflitosos, ciente de que aquele não era o momento adequado para esse tipo de pensamento, ele decide empurra-los para a parte de trás da sua mente, afinal ele era muito bom nisso.

E assim tentando se desvencilhar desses sentimentos, ele avança floresta a dentro, floresta que aliás ele percebeu parecia estar mais silenciosa naquela noite do que de costume, aquele lugar era uma imensidão escura e normalmente cheia de vida e ruídos, seria aquele um mal presságio? Ele precisava encontra-la logo, feitiços de encontro não funcionariam em lugares abertos e amplos assim, se pelo menos ela não tivesse tirado aquele maldito colar ele já teria a pego muito antes dela conseguir iniciar sua aventura. Aliás esse era um outro assunto que ele sabia que deveria abordar, ele não conseguia entender os motivos dela ter  entregado o colar daquela maneira para Diaz.

As coisas estavam demorando mais do que ele havia imaginado, não era pra ela ter ido tão longe assim, as flores que ela procurava estavam na superfície, não havia necessidade de se aprofundar tanto, a menos que algo tivesse acontecido, e ele estava verdadeiramente preocupado com isso, a lua brilhava lá no alto agora, iluminando bem todo o lugar, algo que em qualquer outra situação seria bom e até mesmo agradável, ali no caso não era, sem nenhum sinal dela por perto Severo pega sua varinha para fazer aquilo que ele deveria ter feito desde o começo, quando subestimou a capacidade da garota de se aventurar, que é conjurar seu patrono avisando Alvo dos acontecimentos, e pedir auxílio na busca, quando ele nota do alto a ave, ela estava se embrenhando pela copa das árvores e se aproximando dele rapidamente, chegando no chão e se transformando outra vez no rapaz irritante da noite anterior. Antony parecia querer hesitar antes de dizer o que ele estava pensando, ele o encarou por um momento.

—Severo, como você pode deixa-la sair assim? – Antony perguntou por fim, ele parecia igualmente preocupado, mas aquele tom de voz não o agradava.

—O que me sugere pássaro, que eu a prenda na pilastra da minha mesa? – Severo riu com ironia daquilo, bem talvez não fosse uma má ideia, mas a verdade é que ele estava incomodado com aquela acusação.

—Você tem o colar, tem magia sua nele, eu sei que você pode localiza-la, por que não impediu? – Severo cruzou os braços, ele estava com raiva, obviamente que aquilo o incomodava, quem a ave achava que ele era, algum tipo de principiante? Ele bufou.

—Talvez ave, se ela não tivesse o tirado do pescoço e o dado para sua colega de casa, eu poderia ter feito – ele disse voltando a caminhar – agora se não veio ajudar, não me faça perder ainda mais meu tempo aqui ouvindo suas criticas de como eu posso ter sido incompetente do seu ponto de vista, eu não me importo, embora eu não lembro de ter feito promessas sobre estar cuidando dela dessa maneira. Severo achou por bem não começar uma discussão desnecessária, já que a ave estava ali pela criança, assim como ele e esse era o ponto em comum entre os dois naquele momento, e a ave parecia ter compreendido aquilo, ela havia recuado com as acusações e Antony parecia confuso com o que ele havia ouvido sobre o colar – agora me diga, já que pode ver do alto, onde ela está? – a ave o olhou - talvez seja você que não está sendo deveras eficiente aqui - ele devolveu.

— Eu a vi, e é ruim – ele disse - ela não está sozinha Severo – Severo sabia dos perigos, sabia que algo sério poderia acontecer ali, ela era apenas uma criança tola de 10 anos de idade, que mal havia aprendido feitiços suficientes para se proteger, e muito menos era ágil suficiente para se defender das inúmeras criaturas que viviam naquele lugar, isso sem mencionar a hidra, ele sentiu que suas mãos estavam suando agora, ele também não estava preparado para ouvir algo ruim,  para ouvir que ele não havia chegado em tempo suficiente para impedir que algo pudesse ter acontecido com ela, ele fechou os olhos, era difícil, mas ele precisava daquela resposta.

— Ela está viva? – ele perguntou, sentindo que o ar estava começando a falhar.

—Sim, mas é ruim, ela foi encontrada por Sanguini na parte baixa da floresta Severo – a ave disse, sim era mesmo ruim, Severo conhecia bem Sanguini, ele era um vampiro influente, e havia se tornado um dos comensais da morte mais violentos com quem ele já trabalhou no passado, toda vez que uma tarefa exigisse mortes a sangue frio, era com ele e com o seu filho que lorde das trevas contava, a lista de vítimas que Sanguini costumava exibir era extensa, certa vez eles deviam atacar um vilarejo trouxa, e ele teve uma desavença com o filho de Sanguini, Edgar, eles foram instruídos e deveriam matar meia dúzia de trouxas mais velhos, havia algo com algum tipo de ritual, que o lorde das trevas estava envolvido, mas Edgar não contente havia decidido por conta própria matar alguns bebes trouxas, Severo podia ser cruel e trabalhar a sangue frio também, mas aquilo era algo que ele não podia permitir, obviamente que Edgar não acatou sua ordem, e eles discutiram, Edgar acabou morto naquela noite, através da sua varinha e Sanguini sabia, e agora por pura ironia do destino, a sua filha se encontrava nas mãos daquele vampiro, que embora nunca tenha dito, mas certamente esperava por sua vingança.

— Me leve até ela – ele pediu, sabendo que podia soar um tanto quanto desesperado.

Antony se transformou novamente naquela ave imponente e ergueu voo repentino, apenas um pouco acima dele, com muita maestria contornando as arvores, abrindo o caminho para que Severo pudesse o acompanhar com pressa do chão.

—Bem Severo, você não perguntou, mas ela caiu, foi assim que ela chegou na parte baixa da floresta – Havia tanto a se pensar ali, que Severo nem havia se dado conta disso - E bem, ela também deixou cair e perdeu sua varinha na queda – Antony informou.

—Claro que ela fez, garota estupida - Ótimo, além de Shara estar nesse momento com um vampiro altamente perigoso, ela nem sequer possuía sua varinha, não que aquilo fizesse algum grau de diferença, mas saber disso era tudo menos reconfortante, principalmente por que se ela caiu, poderia ter se machucado na queda e poderia estar sangrando, e o cheiro de sangue era um convite nada amistoso para um vampiro com fome, se não fosse pelo pássaro batendo as assas daquela forma a sua frente, com certeza seria possível ouvir o seu batimento cardíaco que havia aumentado naquele momento.

— Ela não é estúpida, você sabe – Antony disse a defendendo.

— Sim ela é – Severo devolveu.

—Ela é inexperiente, apenas - Aquilo foi ótimo, Severo teve que se segurar para não gargalhar em voz alta, de certa forma aquele comentário tinha ajudado a quebrar um pouco toda aquela tensão que havia se formado segundos antes, sério que ele achava que toda aquela bagunça em que Shara havia se metido podia ser justificada como falta de experiência? não certamente não. Honestamente Severo esperava mais de um pássaro com aquele tanto de anos de experiencia em suas costas.

— Qual a graça? – Antony parecia aborrecido.

— A graça é que nem você está convencido disso.

— Bom é o que eu vejo – ele disse tentando encerrar o assunto.

— Não Antony, saiba que aquela escola nesse exato momento está repleta de alunos “inexperientes” e todos eles continuam lá quietinhos em suas salas comunais, fazendo qualquer coisa idiota da sua idade – Severo não podia deixar de pontuar, aquilo era um fato, Shara não era uma criança comum.

— Bom talvez ela só dê um pouquinho mais de trabalho que os demais – Antony parecia mais relaxado agora – e dito assim, talvez a ideia de prende-la na sua mesa possa começar a me agradar – ele estava descontraído.

— Claro só um pouquinho mais de trabalho – Severo suspirou cansado. Era evidente que Shara daria mais trabalho e honestamente falando aquela criança tinha tudo para ser sua destruição. Shara não possuía um pingo de alto preservação e ela podia ser capaz de matar a si mesma e a todos a sua volta antes mesmo que Lorde das trevas pensasse em piscar os olhos.

Naquele ponto a ave cessa o movimento repentinamente, congelando no ar. Aves do tipo de Antony tinham uma excelente visão noturna, se Severo não estivesse prestando atenção na movimentação ali, teria sido fácil colidir com ele.

—Severo, ali em baixo, após aquelas arvores, consigo vê-los daqui de cima – Antony informou, enquanto sobrevoava o lugar.

Com a varinha em mãos, ele desce o vale com bastante cautela, se esgueirando entre as arvores para não ser notado precocemente, e de repente eles surgem no seu campo de visão, ele se aproxima devagar. Severo percebe pelos soluços de que ela estava chorando, completamente em pânico, ele observa Sanguini se aproximando e a levantando sobre os seus ombros, se não fosse por tamanha proximidade, ele poderia ter lançado um imperdoável dali, mas assim era arriscado demais, ele não podia correr o risco de acerta-la, ela estava gritando apavorada e em uma explosão de fúria, ele ergue sua varinha, se aproximando com rapidez e anunciando sua presença.

—Sanguini – ele chamou – coloque a no chão imediatamente – ele ordenou, de forma agressiva, Severo não sabia que era capaz de sentir tamanha angustia e apreensão como a que ele estava sentindo naquele momento, aquela era a sua filha e ela estava nas mãos daquele vampiro cruel, ele precisava pensar rápido, agir rápido, ele cumpriria sua promessa nem que fosse com a sua própria vida, e por um pequeno lampejo em sua mente, ele compreendeu ali o que Maeva tinha feito, sim ele podia entender aquilo agora.

—_____

—Severo Snape - o vampiro disse se virando - a quanto tempo – ele sorriu, sim era ele, sim era possível, mas como? O vampiro a soltou, mas a segurou com bastante força na sua frente, Shara estava presa de qualquer maneira, mas agora ela podia enxergar o professor perfeitamente bem dali e era ele mesmo, ele a havia encontrado, mais uma vez, mesmo depois de tudo e mesmo ela não merecendo que alguém se arriscasse por ela novamente, sim ela sabia que o havia desobedecido outra vez, ela se sentia envergonhada por isso, por ser pega daquela maneira, mas as coisas não eram para ter acabado assim, ela tinha tanta certeza de que iria conseguir, mas nada absolutamente nada podia ser simples quando era com ela e ela tinha se colocado em perigo de novo e ele havia alertado sobre isso, naquele mesmo dia, mas mesmo assim ali estava ele novamente, quando ele mesmo havia dito que não faria mais, era como se ele não desistisse dela, ele era tão diferente de todos os adultos com os quais ela já tinha convivido, quando ela os decepcionava ou não atendia as expectativas, eles não voltavam mais, eles simplesmente iam embora, mas ele não… ele se importava, por que ele agia assim com ela? Shara sabia que estava chorando ali, mas era aquela sensação outra vez, sim até podia ser alívio mas era algo a mais também, ela não conseguia entender, e se ela pudesse se desvincular daquele vampiro certamente ela se jogaria nos braços dele de maneira semelhante como fez da outra vez, e por um momento ela se deu conta de que o faria mesmo se houvesse uma plateia toda assistindo, sim ela faria, ela não só estava buscando a segurança que ela sabia que ele podia proporcionar, mas ela estava buscando os braços dele por quem ele era e pela forma como ele se importava com ela, Shara sentiu o vampiro a segurar com ainda mais força e ela sentiu suas mãos formigando novamente, ela quase havia se esquecida disso, suas mãos, então ela esfregou discretamente, tentando impedir um desastre que poderia vir daquilo a qualquer momento, ela precisava aprender a controlar sua magia.

— Liberte-a - ele ordenou encarando o vampiro, ele estava com a varinha a postos, e seus olhos estavam sobre ela o tempo todo, ao mesmo tempo que acompanhavam os movimentos sutis que o vampiro fazia, Shara queria correr até ele e ele sabia, mas simplesmente não havia como.

—Não pense que poderá me obrigar dessa vez - o vampiro disse em tom familiar - ela é uma guardiã você sabe, agora meu pote de ouro - o vampiro aproximou o rosto dele do dela, enquanto cheirava com prazer o sangue que havia escorrido ali pelas suas bochechas, ela fechou os olhos era tão desagradável e assustador ao mesmo tempo ter um vampiro assim tão perto do seu pescoço, suas mãos pareciam estar esquentando ainda mais – bom Severo, você não tem o lorde das trevas do seu lado agora, não é mesmo? então simplesmente esqueça, ela é minha, se fosse tão valiosa assim para você não deveria tê-la deixado sair do castelo - o professor mantinha os olhos sobre ela, ela queria pedir desculpas ali, como ela podia ter sido tão idiota? Embora ele ainda parecia querer tranquilizá-la, ela podia sentir aquilo, mas não estava dando certo, seu coração estava acelerado demais, ela não conseguia parar de chorar naquele ponto, e o que eles iriam fazer? O vampiro não iria simplesmente liberta-la, era evidente, quem sabe iriam duelar?

—Não me obrigue a machucá-lo, você sabe muito bem do que sou capaz - o professor disse parecendo já ter andado naquele território antes, era estranho, era como se ele tivesse controle de tudo ali, diferente dela que sentia que estava prestes a perder tudo e liberar sua magia devastadora, ela precisava alerta-lo sobre isso - como eu fiz da outra vez - ele sorriu, concluindo, eles já se conheciam era óbvio e pelo visto já haviam tido uma história não muito boa no passado, o vampiro aproximou os seus dentes sutilmente do seu pescoço, ela podia sentir o ar quente de suas narinas, ele a estava ameaçando, ela segurou a respiração, ela não sabia por quanto mais ela poderia segurar e controlar aquilo.

—Sanguini - o professor disse o encarando agora com um olhar ainda mais letal - não ouse, encostar um dedo nela, estou avisando, solte a criança para o seu próprio bem – ele ergueu ainda mais a varinha, e o vampiro a posicionou ainda mais estrategicamente em sua frente.

—Ou o que? Vai matar meu filho outra vez? - ele perguntou suficientemente sério agora, e aquilo foi uma revelação terrível, ela estremeceu, o que aquilo significava? – sabe, como é prazeroso a sensação de me vingar de você assim - ele disse - ela é o que sua exatamente? Ela cheira como você sabia, além de ser uma guardiã… olha a sorte que dei, por favor me diz que ela é algo sua… Só pra eu saber se devo fazê-la sentir mais ou menos dor quando a tortura-la - ele começou a rir, Shara sentiu um arrepio descer pela espinha, ela já havia sentido isso antes, recente, quando ela ouviu… sim ela ouviu… ela fechou os olhos, era apavorante demais, e como tudo sempre podia piorar, ali estava.

—"Shara" - aquela sim era a voz da criatura que ela tanto temia encontrar naquela noite, e novamente só ela havia ouvido a criatura chama-a, eles ainda se encaravam ali, ela esfregou as mãos, olhando diretamente para o professor que estava com os olhos fixos sobre ela, parecendo notar algo diferente, Shara sentiu uma lágrima de puro terror descer, ela estava com muito medo, algo muito ruim estava prestes a acontecer, ela sabia.

—Ela está aqui - Shara disse, para que ele pudesse ouvir.

—Ela quem? - o vampiro perguntou, a apertando com ainda mais força, o professor entendeu e agora ele havia baixado a varinha, fazendo uma filtragem de todo o lugar, procurando qualquer sinal de onde ela poderia estar, eles ouviram o pio da ave que estava sobrevoando no alto, a ave estava tentando comunicar algo, algo que apenas o professor parecia entender, aquilo era estranho.

—Sanguini, escute, você precisa soltar a menina - o professor disse com urgência - não é de mim que você deve temer agora, precisamos sair daqui todos nós - o vampiro gargalhou.

—Claro, qual o truque Severo? - ele pediu de maneira irônica, quando Shara sentiu o vampiro a soltar de forma repentina, sim ele a havia soltado sem nenhuma explicação, algo tinha acabado de acontecer com ele e não havia sido pelo professor, Shara congelou.

—Ela é minha - a voz pegajosa disse - só minha – Shara sabia que a hidra estava suficientemente perto e Shara viu a expressão no rosto do professor mudar ali, ela podia ler aquilo, ele também estava com medo, isso era possível? enquanto ouviu o vampiro começar a gritar de dor e silenciar rapidamente, ela sentiu que algo havia respingado nela e molhado suas vestes, e ao passar a mão Shara percebe que se tratava de sangue, ela estava travada agora e em pânico, olhando para suas mãos encobertas pelo sangue dele sem acreditar que estava vivenciando aquilo, ela não queria se virar, ela sequer poderia, sua magia estava completamente fora de controle agora, ela olhou de relance para o chão, vendo fragmentos do que poderia ter sido o corpo dele, ela queria vomitar, ela entendeu, aquela criatura havia matado o vampiro sem sequer encostar nele, ela não iria olhar, não, já era suficiente traumático imaginar o que havia acontecido ali, ela viu os feixes verdes saindo da varinha do professor agora, ele estava tentando acertar a hidra que estava atrás dela, mas aparentemente sem nenhum sucesso, Shara não podia se mover, mas ela precisava fazer algo, ela viu a ave do alto parecendo tentar atacar a Hidra também, mas eles não iriam conseguir assim, aquela criatura era uma fera aterrorizante e ela não poderia permitir que alguém mais se machucasse por ela, não eles, principalmente eles, Shara sentiu a magia fluir pela ponta das suas mãos encobertas de sangue agora, parecia ser o momento certo.

—Bruxo, contemple a dor da sua morte  - ela ouviu a hidra dizer lentamente, ela se referia ao professor Snape obviamente, não havia outro bruxo ali, NÃO, ela olhou para ele que ainda estava lançando feitiços tentando fazer a criatura recuar, não ele, não agora, ela não iria deixar que seus atos imprudentes e sua falta de controle de impulsos, como ele mesmo costumava dizer tantas vezes fossem os responsáveis por algo do qual ela iria carregar pela vida inteira, definitivamente não, ela tinha se afeiçoado a ele e ele se importava com ela, assim como ela se importava com ele também, e ela não poderia sequer imaginar perde-lo daquela maneira, ele havia se tornado o seu porto seguro agora, e ele estava ali se arriscando por ela mais uma vez, por que? Ela não sabia, mas estava decidido, Shara se virou, ignorando todo o entorno, ignorando o caos e encarando a hidra pela primeira vez tão próxima, ela estava levantando as mãos, então era assim que ela atacava? ela também tinha magia?

—NÃO - Shara gritou com bastante autoridade, chamando a atenção dela sobre si instantaneamente, agora Shara tinha se colocado à frente do professor, basicamente ficando entre eles naquele ponto - é a mim que você quer, não é? – ela pediu - então deixe-os em paz, eu estou aqui, venha me pegar - Shara pediu ousadamente, nem ela sabia de onde ela havia tirado tanta coragem, a hidra voltou seus olhos sobre ela, conforme Shara havia imaginado que seria, a criatura tinha os olhos vermelhos, Shara notou, não era humano.

—SHARA – ela ouviu o professor gritar seu primeiro nome - NÃO… o que pensa que está fazendo? - ele soava bravo, mas ao mesmo tempo também preocupado - saia da frente AGORA Shara… me escute... - ele mandou, ela pediu desculpas mentalmente e fechou os olhos rapidamente, ela sabia exatamente o que precisava fazer, era como se ela soubesse a vida inteira, ela levantou as duas mãos vermelhas de sangue, em frente ao seu corpo em posição de defesa e também ataque, respirando fundo e calmamente, Shara liberou ali toda a magia que ela estava retendo, era intenso demais, e ela podia sentir o que estava acontecendo, ela viu a expressão no rosto da hidra mudar naquele exato momento, a criatura não esperava por isso, e segundos antes de ser atingida pela força da sua magia ela tentou se defender, mas era tarde demais, agora estava feito, Shara sentiu paz, e ouviu o silêncio da floresta proibida tomando conta de todo o lugar mais uma vez, mas agora o silencio não a assustava, Shara viu que tudo que se encontrava em um determinado raio a sua frente, entre ela e onde a Hidra se encontrava, agora estava completamente destruído, como uma bomba lançada em um cenário de guerra, era total devastação, haviam até mesmo arvores de raízes robustas no chão, e por um trajeto, restava somente ela inerte no vazio.

Shara contempla assustada todo aquele caos que ela mesma causou, dessa vez havia sido ainda mais intenso do que das vezes anteriores, ela olha para as mãos ainda encobertas por todo aquele sangue, mas que agora estavam completamente livres do formigamento, estavam normais, ela realmente havia feito aquilo? Como ela conseguia fazer algo assim? Ela não precisava da varinha... ela olha mais uma vez para o estrago causado ao seu redor, procurando ali algum sinal da hidra, mas não a encontrando mais, o que havia acontecido com a criatura? ela é tomada por uma onda de náusea e tudo parece estar girando a sua volta agora, era uma sensação ruim, ela tenta se mover, sentindo a dor no pé machucado, e ela sente o frio já que a temperatura havia caído consideravelmente ali, e então ela é acometida por uma dor de cabeça dilacerante que surgiu de maneira repentina sobre os seus olhos, ela estava prestes a desmaiar, ela sabia.

Ainda consciente ela consegue ouvir uma voz de fundo, alguém estava se aproximando e chamando pelo seu nome, seu primeiro nome, ela conhecia aquela voz, ela gostava daquela sensação, ela queria correr desesperadamente até aquela voz e se jogar em seus braços, ela sabia que estaria segura se chegasse até ele, sentindo seu corpo prestes a desmoronar, ela ouve a voz cada vez mais perto, bem perto, e Shara sente os braços fortes em volta dela a amparando segundos antes dela fechar os olhos por completo e cair, ela sente que está sendo amparada no colo, sente uma mão fria sobre a sua testa, essa também é uma sensação boa, ela sente o cheiro dos ingredientes de poções, e sente principalmente uma voz aliviada sussurrando próximo ao seu ouvido "vai ficar tudo bem agora, eu peguei você sua garotinha estúpida" enquanto ela se entrega a escuridão.

—______

—Vai ficar tudo bem agora, eu peguei você sua garotinha estúpida - ele disse a segurando com bastante força contra si, ela estava coberta de sangue, o sangue daquele vampiro, que agora estava morto, Severo nunca tinha visto nada assim antes, ele já havia presenciado mortes muito ruins, mas a hidra simplesmente parecia ter o poder de desfragmentar suas vítimas, como Antony poderia afirmar que ela podia ser mais vulnerável fora da água, aquilo simplesmente não fazia o menor sentido para ele, e pela primeira vez depois de anos, ele sentiu medo, não por ele, mas ele sabia que não tinha a menor chance contra aquilo, ele tinha um plano para salvar a criança.

— ela, ela... ela liberou magia, magia ancestral, ela fez, ela só não sabe, mas ela fez - Antony disse gaguejando enquanto se aproximava analisando todo o estrago do entorno e tirando Severo dos seus devaneios, honestamente ele não teve tempo para avaliar isso ainda, antes de mais nada ele precisava chegar até a criança e aferi-la, e ele fez, embora não pudesse ignorar de que havia sido poderoso, extremamente poderoso, era ainda mais impactante do que no dia que ele encontrou a sala de defesa completamente destruída e sim Antony tinha razão aquilo era mesmo magia ancestral, agora ele acreditava, agora ele acreditava em muitas coisas das quais ele nunca achou ser possível, mas havia uma preocupação sobre aquilo, Severo sabia que doses altas de magia exigiam mente e corpo altamente treinados para isso, e aquela criança não podia ser e estar mais vulnerável ali, e por melhor que fosse a intenção, a magia poderia ter danificado seu núcleo mágico de forma trágica, ele estava checando a menina que se encontrava agora completamente desmaiada no seu colo, lançando um feitiço de diagnostico simples, ela estava gelada, e sua respiração não parecia estar em um ritmo adequado, ele precisava levá-la até a ala hospitalar com bastante urgência, ele sabia.

—Ela não me parece bem - Severo disse analisando o breve relatório que surgiu a sua frente, enquanto se levantava a segurando com cuidado, Antony se aproxima deles, pedindo licença, ele posiciona a sua mão direita acima do coração dela, onde uma luz azul em tom fraco irradia daquele movimento, Severo não entendia o que aquilo poderia significar - Achei que você não tivesse magia – ele pontuou.

—Não tenho – Antony disse parecendo pensar sobre o que estava vendo ali – mas como guia, alguns poucos dons me foram atribuídos, eu posso sentir a vida, a intensidade da vida da guardiã que está sob os meus cuidados – ele estava explicando, enquanto uma única lagrima descia pelo seu rosto naquele momento - Severo, não sei se vamos conseguir, ela não tem muito tempo - Antony disse sério.

Severo entendeu a gravidade daquilo, ele sentiu uma fúria tomar conta de si e uma dor exasperada sobre o seu próprio peito, ele não havia ido tão longe para perdê-la daquela maneira, não, então ele não pensou duas vezes, convocando seu patrono, ele precisava aparatar, mas pra isso ele precisava do diretor, ele colocou todo o seu orgulho de lado naquele momento, ele iria salvar aquela criança, nem que aquilo fosse a última coisa que ele fizesse, afinal aquela era a sua criança estupida. 


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Notas finais do capítulo

É um capitulo um tanto quanto trágico, temos uma morte, ok um vampiro do qual a gente não se importa, mas um tanto quanto traumático para uma criança, vamos ver como Shara vai lidar com tudo isso.
Mas ela não me parece estar nada bem agora, ela estava sem o seu colar de proteção, e dessa vez parece que a aventura foi um pouco longe demais, bom ela é a protagonista dessa história e então sabemos como isso termina, até por que ainda não termina hahaha, mas um sustinho básico para fazer com que o nosso mestre de poções caia na real é tudo de bom,e ver Antony chorando por Shara, também foi muito emocionante.
Obrigada mais uma vez a quem vem acompanhando a história até aqui, espero que esteja atendendo as expectativas!



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