Destinos Improváveis escrita por Nara


Capítulo 16
Futuro - Ameaças II




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ssim que a porta da sala de aula se fechou atrás dela, Severo lançou um feitiço de privacidade, e num ataque de raiva arremessou no chão tudo aquilo que estava em cima da sua bancada de trabalho, sem sequer se importar se os frascos com as poções recém feitas tivessem aquele infeliz destino, se estilhaçando no chão e se perdendo sem a menor chance de recuperação, não faria diferença afinal nenhuma equipe tinha conseguido chegar à coloração adequada, e a única que realmente tinha feito um bom trabalho foi justamente aquela em que a poção havia sido sabotada, sim é claro que Severo sabia o que tinha acontecido, ele era capaz de enxergar o obvio, e sem contar que o responsável não se deu sequer o trabalho de averiguar se o ingrediente que estaria utilizando era adequado e não o acusaria de alguma forma, afinal poucos eram os insumos que poderiam produzir aquela coloração e efeito e não definitivamente nenhum daqueles ingredientes aplicados nessa poção teriam potencial para aquilo, mas o que esperar de cabeças ocas do primeiro ano, certamente o subjugaram o reduzindo a um professor medíocre qualquer.

Severo sabia exatamente qual das suas cobras tinha sido a responsável por todo aquele caos, Carla Diaz aquela garota tão pretensiosa e cheia de si ao mesmo tempo que era tão tola e descuidada, era mais do que notável que as garotas não havia se dado bem desde o primeiro minuto em que se viram, e ele tinha percebido algumas trocas de olhares hostis entre elas antes mesmo do ocorrido o que denunciava que ele teria um problema ali, sim ele era analista o suficiente para perceber isso, a menina estava certa sobre a sua poção, mas não era tão simples assim, e ele não podia simplesmente acatar a acusação daquela forma, não sendo ele quem era e representando o papel que desempenhava, e jamais depois dela tê-lo enfrentado daquela maneira o questionando em sala de aula na frente de todos da forma como ela fez, ele estava irado como consequência óbvia e ela para ajudar não tinha nenhum controle de impulsos, o que aquela garota estava pensando?

E por que dentre tantos outros alunos ela estava sentada e trabalhando justamente com uma maldita Grifinória? Isso dificultaria em muito as coisas, e claro que ele queria ensinar uma lição para ela, mas ao sentar na sua frente e se concentrar naqueles olhos verdes, os mesmos olhos de Maeva, sendo ela a criança que era, ele simplesmente não conseguiu prosseguir e nem dizer metade de tudo que ele realmente queria ter dito naquela hora e entre algumas poucas palavras rudes ele apenas conseguiu pedir para que ela aguardasse a aula terminar, sim ela o desestabilizava e o fazia recuar, aquele olhar...

De qualquer forma, ele não estava esperando por aquele tipo de desfecho, ele não tinha mais dúvidas sobre o passado daquela criança em relação aos maus tratos que ela havia sofrido, não depois das revelações na enfermaria, aquilo era forte e o incomodava, muito mais do que ele gostaria, Severo não queria qualquer vínculo com aquela criança, e numa medida protetiva ele passou a ignorá-la, mas a verdade era que a cada dia que passava estava ficando mais difícil ter que lidar com a existência dela ali, maldita Maeva você premeditou isso tudo não foi? Aquela criança soava como um alerta, tinha tanto por trás daquele olhar, e da sua história, e havia o motivo pelo qual Maeva tinha optado em escondê-la do mundo bruxo, e ela tinha razão, ela poderia estar correndo sério perigo, e saber que o segredo não estava tão seguro como ele imaginava, validava ainda mais aquela preocupação e o fazia ter pesadelos, quem era aquela mulher por de trás da varinha? Como ela poderia prever acontecimentos futuros? E tudo isso passou a invadir os seus sonhos, Severo estava condenando aquela criança querendo ou não.

E como se não bastasse ainda havia o problema com aquele bastardo do professor de defesa, aquilo surgiu do nada e a criança estava confusa, aparentemente misturando a realidade atual com alguma outra do seu próprio passado, era possível que os abusos que ela sofreu fossem além das agressões físicas? O comportamento dela indicava que sim, o desconforto apresentado era característico de alguém que havia perdido a ingenuidade e que podia identificar sinais de alerta numa determinada situação, algo que uma criança normal nessa idade jamais perceberia, o olhar dela era revelador e por mais que ele insistisse em auto afirmar que aquela criança não era sua responsabilidade, ele não conseguia, ela despertava algo improvável nele, não... não, ele não queria nada disso, malditos pensamentos, maldita garota, maldito passado.

—Inferno – ele esbravejou em voz alta, dessa vez arremessando a cadeira que estava a sua frente com força contra a parede e se deixando desabar, ele escorregou sentando no chão ao lado de todo aquele caos que havia se tornado a sua sala de aula, sendo aparado apenas pela mesa de madeira escura, ele passou as duas mãos no cabelo, Maeva por que você permitiu tudo isso? Você achou que estaria salvando sua maldita criança a mantendo distante do mundo bruxo por todos esses anos não é mesmo? Eu sei, eu li aquela maldita carta esquecida no bolso daquelas vestes, sua caligrafia, como eu poderia esquecer sua caligrafia? ... mas nada esperta Maeva, porque na verdade você a abandonou no pior lugar possível, com os piores tipos de trouxa possíveis, maldição... nada disso seria real se você tivesse interrompido essa gestação, você nem se deu o trabalho de averiguar o lugar... erro grotesco! Ele suspirou aquelas conversas mentais estavam começando a se tornar frequentes, mas de certa forma o faziam se sentir melhor, era reconfortante mesmo que simbolicamente poder acusar Maeva de alguma maneira, já que infelizmente ela não estava mais ali para presenciar o desfecho do seu plano repleto de furos.

Não era do seu feitio ficar sentado se lamentando então Severo se levantou, se recompondo e num único feitiço reorganizou todo o lugar, ele tinha algo para fazer e teria que fazê-lo antes mesmo do almoço, talvez ele também não tivesse controle de impulsos o suficiente, mas numa situação como essas, seria prazeroso, ele tinha um destino em mente e sequer se importaria se aquele idiota ainda estivesse em sala de aula, mas aquilo definitivamente não poderia  esperar, ele conseguia sentir seu sangue queimando assim como nos velhos tempos de comensal, ele estava furioso pela dor dela, aquele bastardo... liberando a porta ele saiu, cruzando inúmeros corredores, e sem nenhum aviso escancarando a porta daquela sala de aula com força o suficiente para que o som dela batendo ecoasse por todo o corredor, entradas dramáticas sempre foram o seu forte e como previsto a sala estava repleta de olhares que se viravam assustados em sua direção.

—Saiam! Todos vocês... AGORA – Snape rosnou avançando sala de aula a dentro, eram alunos do 2° ano ele reconheceu – eu preciso ter uma conversinha particular com o nosso professor de defesa – ele disse de forma sarcástica, encontrando o olhar de confusão do professor Lockhart, aquilo o agradava muito, embora o traste permanece-se naquela sua pose arrogante de sempre.

—Professor Snape... que agradável tê-lo aqui, bem classe dispensada, vamos logo... andem – Lockhart sorriu fingindo ter controle da situação e por um momento Snape sentiu desejo de desfigurar aquele rosto por completo, para alguém que se importava tanto com sua aparência, não era uma má ideia, e esse pensamento o fez sorrir com malícia - algo de errado professor? – Lockhart perguntou.

—Você sabe muito bem o que está errado - Severo absorveu com prazer a mudança da expressão no rosto daquele idiota – eu pensei ter sido claro quando eu disse para não se aproximar de nenhuma aluna da Sonserina – Severo disse de forma lenta e perigosa  avançando em sua em direção, e o pressionando contra a parede com a varinha empunhada no seu rosto, os alunos já haviam desaparecido do recinto assim como todas as malditas imagens expostas naqueles quadros ridículos que estavam espalhados por todos os lugares daquela sala, ótimo ele pensou, sentindo o medo que aquele paspalho a sua frente emanava.

—Eu... bem... não sei do que você está falando - ele disse gaguejando, era patético demais e ninguém o enganava, a muito tempo.

—Não sabe? Bem quem sabe professor a gente possa aparatar até um lago bem distante daqui, conheço um bom, sabe no passado eu costumava levar alguns inimigos lá, se é que me entende... – ele sorriu com escárnio - um lago repleto de criaturas marinhas mortais, mas é claro que isso não seria um problema para você não é mesmo? penso que a água fria possa refrescar sua memória - Severo disse quase sussurrando com o rosto a apenas alguns centímetros de distância dele – já que você é tão bom em auto defesa pode ser um bom momento também para apreciar suas habilidades professor.

—Eu não fiz nada de errado - ele tentou se defender - ela pode estar inventando, você sabe como são as crianças nessa idade… - Severo não deixou ele terminar, ouvi-lo falar assim o enojava.

—Não me faça rir, você é um pedaço de lixo Lockhart, não é de surpreender que sua carreira tenha se baseado em mentiras e em enganos não é mesmo? - Severo disse com hostilidade - eu ainda gosto da ideia do lago, vamos prove professor.

—É… sobre o lago isso não seria possível, uma pena é claro, mas é proibido sabe… aparatar de Hogwarts - ele estava gaguejando ainda mais.

—Ah é mesmo, falha a minha - Severo disse de forma sarcástica - mas sorte a nossa que eu sempre tenho uma chave de portal comigo, sabe um velho comensal da morte não perde seus hábitos - Severo disse o pressionando ainda mais contra a parede, conseguindo sentir o corpo dele ter espasmos de puro medo, ele não passava de um grande idiota.

—É… não precisa Severo - Lockart estava agora apavorado com a hipótese - eu peço perdão, eu estava apenas sendo simpático com a garota e certamente…

—Eu sei exatamente o tipo de simpatia que você oferece, Lockhart - Severo grunhiu o cortando.

—Eram apenas alguns autógrafos. Meros e simples autógrafos e eu não tinha nada em mente, quer dizer a caligrafia dela é boa, e…

—Não importa o que era - ele interferiu satisfeito com aquela confissão - quando eu digo para ficar longe dos meus sonserinos em especial das garotas eu não estou brincando professor - Severo sabia que tinha sangue nos olhos - e se você tiver algum amor a sua vida medíocre, você vai fazer exatamente o que eu estou dizendo, está me ouvindo?

—Sim… sim… é claro, e o que seria isso? - Lockhart perguntou

—Para começar, algo simples você vai se comportar como um adulto responsável nessa escola - Severo disse de forma enfática - e sendo assim, você vai parar de recrutar alunos da minha casa para empreendimentos inúteis que são unicamente responsabilidade sua, eu não me importo com sua maldita popularidade e sucesso, agora deixe os meus alunos fora disso.

—Sim… sim… eu confesso que não foi premeditado nem nada e eu me organizarei melhor quanto a isso.

—E em segundo lugar, você não vai se aproximar daquela garota, nem dirigir a ela qualquer palavra se não for unicamente para propósitos estudantis dentro dessa sala de aula, já fora dela, você vai esquecer que ela existe, fui claro? do contrário eu não hesitarei em acabar com a sua vida - Severo estava soando o mais cruel possível, era muito satisfatório.

—É claro Severo, eu não vou… não, nunca mais - ele ainda estava nervoso, mas estava surtindo efeito.

—Se eu souber que você se aproximou dela mais uma vez, eu juro que não terei clemência, e não se iluda por que eu vou saber.

—Eu dou minha palavra - E Severo o soltou, ele se recompôs alisando as vestes, visivelmente perturbado - Você pode ser terrivelmente intimidador quando quer – ele disse sorrindo sem graça.

—Que bom, posso ser ainda pior do que isso - e ele assentiu.

—Essa garota ela é alguma coisa sua? - ele perguntou se recompondo.

—Sim… ela faz, minha aluna - Severo disse sério.

—É claro… é que você se importa, eu só pensei…

—Não pense Lockhart, cumpra - Severo disse enquanto saia, deixando um atordoado professor de defesa para trás.

—Entre - Severo disse ao olhar para o relógio que ficava em cima da porta, mostrando que já eram 19hrs, certamente que pontualidade não seria um problema ali, alguns momentos antes Severo havia repassado os episódios do dia e achou que essa deveria ser uma detenção como qualquer outra, onde ele não daria explicações sobre suas atitudes para nenhum aluno, muito menos para uma garotinha estúpida do primeiro ano - Srta Epson, para o meu total desagrado esses encontros estão se tornando mais comuns do que o esperado - ele disse enquanto ela se aproximava – pra hoje eu tenho alguns caldeirões bastante sujos para limpar, espero que suas mãos delicadas e frágeis também consigam dar conta do trabalho pesado – ele disse em tom de provocação.

—Não será um problema - a menina respondeu dando de ombros e ele a encarou prestes a corrigi-la quando ela completou a frase - senhor - tentando soar de forma respeitosa.

—É o que veremos - ele disse convocando alguns caldeirões e os materiais de limpeza que seriam necessários - é claro que não preciso dizer que não será permitido qualquer uso de magia aqui - ela inspecionou os caldeirões e arregaçou um pouco as mangas começando a trabalhar, poucos minutos de silêncio foram o suficiente até ele ouvir a voz dela outra vez, ele bufou é claro que aquela não seria uma detenção como qualquer outra, que ilusão.

—Professor, sobre hoje... bem por acaso a Carla também vai sofrer alguma detenção? - ela perguntou com ousadia, garota tola e ele não podia negar que diferente de outras crianças que já passaram por ali, ela não se deixava intimidar com tanta facilidade.

—Primeiro Srta. Epson, devo lembrá-la que antes de falar você deve pedir permissão, se trata de educação e respeito com os mais velhos, coisa que eu prezo bastante – ele pontuou - e segundo, respondendo a sua pergunta, por que ela deveria? - ele resolveu entrar no jogo da garota, ele sabia o que ela queria insinuar ali e provocá-la se fazendo de desentendido seria bastante interessante nesse caso, mas antes de responder ela o analisou com cautela, e ele gesticulou com as mãos mostrando não haver nada que justificasse tal ação – eu imagino que deva ter alguma prova, correto? - ele sabia que não, mas a reação dela a aquilo foi diferente do que o esperado, por um momento ele achou que a provocando daquela forma ela teria um acesso de birra característico por crianças daquela idade e assim ele poderia aproveitar o pretexto para colocar em prática o sermão que ele havia preparado, mas naquele momento ela o surpreendeu, ela estava calma e pacífica, quase que como esperando por aquilo, e ele entendeu assim que aquilo era premeditado não havia dúvidas, garotinha esperta.

—Bem me desculpe professor – não soava verdadeiro e isso era em partes engraçado, mas ele manteve o decoro – sobre as provas não… bem elas não existem fisicamente - ela respondeu o encarando - mas como eu tenho minhas tardes de sextas livres, aproveitei o meu tempo para pesquisar na biblioteca, principalmente para me informar um pouco mais sobre as propriedades dos ingredientes que usamos na poção de hoje e descobri que nenhum deles pode causar o efeito que a minha poção causou, bem e o senhor acompanhou o processo e sabe que não havia nenhum outro ingrediente na minha bancada além dos que foram solicitados no livro, e isso prova de certa forma que a minha poção foi sabotada, infelizmente eu ainda não consigo dizer com precisão qual foi o ingrediente colocado lá propositalmente, mas pelo que li, desconfio que seja valeriana, pelo efeito ácido que a poção tomou de forma repentina mas principalmente pela coloração esverdeada - ela sorriu em sinal de vitória - é claro que o senhor já sabe de tudo isso -  ela completou enquanto baixava a cabeça continuando a esfregar o caldeirão a sua frente com toda a naturalidade do mundo, e se ele estava surpreso? Surpreso era pouco embora ele tenha tentado manter a sua expressão vazia de sempre mas de certa forma ele não poderia afirmar que estava sendo bem sucedido naquilo, ele não pode deixar de sentir um certo orgulho, era completamente irrevogável que ela era talentosa e inteligente, e que muitos alunos de turmas bem mais avançados do que ela não conseguiriam chegar nessa conclusão de forma tão assertiva sozinhos, ela era além para a sua idade, e tinha potencial, além do método bem sonserino de ser, ela agiu de forma estrategista e sorrateira, ela era como ele nesse quesito.

—Como uma verdadeira sonserina, posso ver - ele disse depois de um tempo chamando a atenção da criança - caso ainda tenha dúvidas – ele completou.

—Desculpe, não entendi senhor - ela disse, o encarando mais uma vez.

—Estrategista, e com um toque de manipulação, porém de forma bastante sagaz – ele explicou.

—Eu… eu só... – a expressão no rosto dela era impagável e ele se levantou se aproximando dela.

—Não se justifique Epson, estou mais que acostumado, sou diretor da sonserina a anos e digamos que esse seja o método sonserino de se conseguir o que se deseja – ele disse cruzando os braços bem a sua frente – é típico.

—Então o senhor não está chateado? – ela perguntou enxugando o rosto com uma das mangas.

—Não... digamos que existam coisas que me chateiam muito mais que isso, por exemplo, o desrespeito em sala de aula – aquela era a oportunidade e ela baixou o olhar.

—Eu sinto muito – aquilo era sincero ele podia sentir.

—Epson eu não preciso reforçar que não tolerarei esse tipo de comportamento novamente, correto? – aquilo estava soando muito mais ameno do que o planejado, por que ele não conseguia manter o seu próprio protocolo com ela?

—Não senhor – ela respondeu de imediato.

—Pois bem, não vou negar que você tenha me surpreendido com as informações que trouxe sobre a poção de hoje, eu sei reconhecer talento quando o vejo, então pelo tempo desprendido e pelo conhecimento que você demonstrou, concedo a você 10 pontos para a Sonserina – ela estava chocada – e tente não parecer tão chocada assim, a propósito, sim você chegou lá, o ingrediente usado foi a valeriana, embora em poucas quantidades para nossa sorte, se não...

—O estrago poderia ter sido ainda pior - ela completou – li sobre isso também.

—Sim... de fato – ela tinha feito o trabalho completo.

—O senhor… acaba de me dar pontos? - e ele arqueou as sobrancelhas com aquela pergunta.

—Quer que os retire? - ele refutou com ironia.

—Não… é obrigada eu só que não estava esperando por isso, bem isso foi bem diferente – ela sorriu sem graça.

—Não exatamente, afinal não é o que dizem?... Que eu beneficia os sonserinos? - ele perguntou.

—Sim… é o que dizem – ela baixou o olhar - se o Senhor sabia esse tempo todo, por que não fez nada com a Carla? E por que tirou pontos da Gina?

—Eu sempre tiro pontos da Grifinória, acostume-se com isso – ele disse sério – e poupe seu discurso sobre justiça, eu não sou justo Epson, e trate de acostumar, principalmente quando você decidiu que fazer os trabalhos com uma grifinoria na minha sala de aula, bem debaixo do meu nariz seja uma boa ideia.

—Gina me disse isso também ... mas eu...

—Ela está certa – ele a cortou - deveria ouvir sua amiguinha.

—E fazer os trabalhos sozinha? – ela perguntou

—E fazer os trabalhos com outro aluno da sua casa – ele enfatizou

—Eles me odeiam professor, todos eles... o senhor viu, quando Diaz me prendeu no banheiro naquele dia um pouco antes do senhor chegar e dar os avisos na nossa sala comunal, ela fez questão de deixar isso bem claro – a garotinha tinha acabado de delatar de forma ingênua o que havia ocorrido naquele dia, sem ao menos se dar conta disso.

—Então você afirma que foi a Srta. Diaz quem lançou o feitiço nos seus pulsos aquele dia? – ele perguntou mais em tom de afirmação vendo que ela havia empalidecido com aquela colocação, ele não entendia a apenas alguns minutos atrás ela tinha pedido entre linhas para que ele castigasse a Srta. Diaz em função da poção sabotada, mas agora ela tinha recuado com medo por ter a delatado por outro motivo, ambos igualmente sérios – algum problema Epson?

—Sim... por favor esqueça – ela disse alarmada – por favor senhor.

—Esquecer... e por que eu faria isso? – ele queria saber o que se passava ali, o que movia aquele raciocínio ilógico.

—Por que... – ela estava insegura e ele se abaixou, segurando o seu queixo como havia feito mais cedo, ela tentou desviar o olhar, mas ele não permitiu.

—Olhe nos meus olhos e me responda – ele podia ver o medo naqueles olhos verdes, aquele olhar...

—Por que ela me ameaçou... se eu contasse – ela disse finalmente e ele a soltou, então era isso, ela tinha sido ameaçada, diferente do ocorrido em sala de aula onde ele como professor poderia bem ter visto e impedido por si só, analisando dessa forma, são de fato situações diferentes.

—E você achou que omitir essa informação do chefe da sua casa, seria a melhor alternativa para resolver os seus problemas com ela? garota estupida – ele disse sem desviar o olhar.

—O Senhor não entenderia, e é por isso que Gina é minha melhor alternativa, ela é minha amiga – ela soltou, ao mesmo tempo que uma lágrima descia pelo seu rosto.

—Epson, aonde você estava com a cabeça ao deixar de me informar algo dessa magnitude? – ele disse aumentando um pouco o tom de voz,

—Se o senhor não fez nada quando viu que ela sabotou o meu caldeirão hoje cedo, por que o senhor se importaria com isso? onde eu justamente não posso comprovar a veracidade, seria a palavra dela contra a minha... – agora ela estava chorando, e ela se encolheu buscando a parede próxima e puxando as pernas para perto de si, criando um casulo de proteção, ela estava envergonhada, e ele novamente sem palavras, ela tinha razão.

—Epson – ele se aproximou, ficando ainda mais perto, o que ele estava fazendo afinal? Nem ele sabia ao certo, aquilo saia completamente do script, ele nunca precisou acalmar uma criança antes, sobre hoje, bom talvez se você não tivesse desempenhado o papel de justiceira e me desafiado daquela forma se metendo e interferindo nos meus métodos de correção, quem sabe o desfecho poderia ter sido um tanto quanto diferente e no seu lugar nessa detenção estaria Srta. Diaz - ele disse de forma eloquente, sim era o que ele teria feito, ele teria chamado Diaz para uma conversa privada no final daquela aula, claro que os métodos de abordagem dele eram um tanto quanto diferentes do esperado, principalmente com os filhos dos comensais que poderiam levar informações diretamente para os seus pais, era um jogo de interesses que ela não entenderia, e ele nem sabia o por que estava explicando e se justificando daquela forma, fato que ele havia dito que não faria ali, era aquele olhar outra vez... ele suspirou.

—Me desculpe professor - ela disse sem encara-lo – eu não deveria, sobre hoje e também não deveria estar misturando as coisas.

—E por que você acha que a palavra dela vale mais que a sua? – aquele sentimento de auto piedade era desprezível e ele não queria que ela fosse fraca a esse ponto.

—Sempre foi assim, por que aqui seria diferente? – agora ela havia levantado a cabeça e esperava por uma resposta, ela tinha razão outra vez, algumas famílias possuíam mais privilégios que outras, ela já havia notado ainda mais pertencendo a Sonserina.

—Enquanto eu for chefe dessa casa, eu dito as regras aqui – não era bem uma mentira, mas era complicado demais.

—E mesmo assim ela ainda poderá recorrer aos pais dela, seu sobrenome como ela mesma faz questão de dizer é importante e enquanto eu vou recorrer a quem? Ao Noah? – ela sorriu com tristeza – ele certamente não mediria esforços para piorar as coisas para mim – aquilo era quase uma confissão, ela falava sem pensar quando ficava vulnerável – eu sinto muito – ela disse logo depois – eu vou terminar os caldeirões, ela fez menção em se levantar, mas ele havia sumido com o material, tão rapidamente quanto o próprio movimento dela.

—Não será necessário – ele disse

—Eu não terminei senhor, eu posso fazer isso – ela parecia desolada

—Sim eu percebo, mas como eu disse, eu dito as regras aqui – dessa vez ele foi mais enfático, se levantando e sugerindo que ela fizesse o mesmo – Epson em que consiste o teor dessa ameaça? – ele se sentou, indicando uma das carteiras para que ela se senta-se também, ela parecia pensar com cuidado nas próximas palavras que iria usar – não minta para mim, eu certamente irei descobrir.

—Transformar minha vida num inferno – então ela respondeu sem rodeios.

—E como exatamente ela pretende fazer isso? – ele queria mais informações

—Eu não sei... professor poderíamos manter isso apenas entre nós – ela suplicou – eu realmente não gostaria de descobrir, por favor... – ele suspirou pensando por um tempo, talvez fosse realmente melhor assim, porém ele estaria muito mais atento a aquela interação daqui em diante, Diaz se mostrou bem ágil em criar problemas e a garotinha tola a sua frente era um imã para eles, ele ponderou por um momento, mas fazia sentido.

—Faremos dessa forma – ele sentiu a tensão sobre ela baixar – porém Epson estou considerando que serei informado imediatamente quando houver um problema como esse no radar, assim como o ocorrido com o professor Lockhart – ela se mexeu desconfortável com a simples menção daquela situação – essa é a minha condição, um bom sonserino também sabe negociar.

—Sim... de acordo senhor – ela assentiu com um sorriso discreto.

—Por hoje é o suficiente, está dispensada – ele mal podia acreditar no rumo que aquela detenção havia tomado, tudo com ela era uma caixinha de surpresas, ele não havia conseguido colocar o seu sermão em prática mais uma vez, pelo menos não da forma como tinha pretendido.

—Professor? - ela disse baixinho e ele apenas a olhou, ela ainda estava sentada – obrigada – ela estava agradecendo, uma criança agradecendo por algo, uma criança agradecendo ele, de fato esse novo ano letivo estava mesmo fora do contexto.

—Não me agradeça é meu papel como chefe da casa, prezar pela segurança dos meus alunos – era isso que ele queria que ela acreditasse e era apenas isso que ele estava fazendo.

—Carla também é sua aluna, e bem mesmo que o senhor esteja sendo imparcial, essa é a primeira vez que algum adulto questiona algo e bem... ouve e valida o que eu tenho a dizer, e isso também é estranho e é por isso que estou agradecendo professor, honestamente, obrigada – sim isso também era estranho para ele, ele deveria xingar, ofender e humilhar era o que ele fazia com a maioria daquelas crianças tolas que tomavam seu tempo, ele jamais se envolveria assim com briguinhas entre alunos de sua própria casa, mas aquela criança era diferente, ela se levantou num pulo, o trazendo para aquela realidade mais uma vez, ele se deu conta que não tinha respondido, ela estava a caminho da porta, e ele sussurrou, sabendo que ela não ouviria mais.

—De nada!


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Notas finais do capítulo

E temos uma primeira grande inteiração entre os personagens, eu simplesmente amo imaginar eles juntos, espero que esteja gostando!
OS: Nunca gostei de Lockhart e desculpe se ele parece pior do que é nessa história, mas ele nunca ganhou minha simpatia.



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