Destinos Improváveis escrita por Nara


Capítulo 115
Futuro - A Borboleta


Notas iniciais do capítulo

Eu me emocionei muito para escrever esse capitulo, a parte final dele no caso (não é novidade eu sei), mas confesso que ando mais emotiva.
E esse é um capitulo todinho deles... dos melhores personagens dessa fic... com vcs: Severo e Shara.

Ao som de:
https://www.youtube.com/watch?v=4PjVzzEi9F8
Butterfly fly away - Miley Cyrus.
Confesso tb que sempre quis usar essa musica, mas ela não encaixava... é sobre paternidade e sobre borboletas, ahhhh perfeito demais, tenho ctza que vcs irão concordar.



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Há algum tempo que Shara observava o seu pai trabalhar, tentando criar coragem para chamar sua atenção e com alguma sorte tentar abordá-lo sobre aquelas questões… sabendo que poderia não ser nada agradável, dado o quão fechado ele era para assuntos como esses e por mais que ela pensasse a respeito, não conseguia imaginar outra maneira de fazê-lo… mesmo ciente do desconforto e constrangimento iminente que isso poderia causar, talvez ela devesse apenas deixar passar… e embora Antony a tivesse encorajado naquilo, mas ainda assim ele poderia estar enganado sobre a disposição dele em compartilhar algo de cunho tão pessoal sobre o seu passado apenas pelo simples fato dela estar perguntando.

—Ai… - ela soltou a faca sobre a bancada - droga - ela exclamou, Shara estava tão concentrada em estudá-lo e perdida em seus pensamentos que se esqueceu completamente do seu objetivo principal ali, que era cortar os ingredientes para a poção que estavam preparando e foi assim que ela conseguiu cortar o dedo no lugar das raízes de asco enfileiradas a sua frente - ela levou o dedo a boca para ajudar a estancar o sangue.

—Se estivesse prestando atenção em suas tarefas ao invés de ficar distraída me observando trabalhar, isso certamente não teria acontecido - ele disse de trás de um caldeirão fervente, eles estavam no meio de uma mentoria, ela sabia que seu pai detestava ser importunado enquanto fermentava, seu nível de concentração era tanto que ele sequer olhava para os lados, Shara nunca poderia entender como ele era capaz de fazer aquilo… pois mesmo sendo tão centrado, ele simplesmente podia ver tudo que acontecia a sua volta, aquilo que ela fazia além de esporadicamente ler suas intenções…

—Eu não estava distraída - ela se defendeu, mentindo.

—E tão pouco estava concentrada - ele devolveu, convocando um pano limpo e água, para que ela pudesse limpar o ferimento da forma adequada - o preparo de poções é uma arte minuciosa e requer habilidades de concentração, um pequeno deslize pode arruinar todo o trabalho, e isso é algo que já deveria saber - ele a repreendeu - se acha que não pode se concentrar, seria mais adequado e prudente encerrar suas atividades por hora - espera… aquilo era novo, ele a estava despachando? assim sem mais nem menos, quer dizer havia um motivo é claro, mas dessa vez ele não estava surtando e nem a humilhando ou coisa do tipo… na verdade ele estava sendo, um tanto quanto indiferente… ela detestava isso, tanto quanto detestava todo o resto, talvez ela detestasse muitas coisas assim como ele.

—Bom, se não desejava a minha companhia, teria sido mais fácil se não tivesse me convocado - ela disse num tom que demonstrava o quanto estava chateada com a forma como ele havia dito aquilo, enquanto tirava o seu avental - sabe o Senhor não precisa se esforçar para fazer isso… - ela se referia ao tempo que eles passavam juntos nas mentorias - ainda mais se é algo que não quer… - ela jogou o avental sobre a bancada e se virou sentido a porta, se sentindo frustrada… quando ouviu a porta sendo trancada com um feitiço, ela suspirou, estava presa, mais uma vez presa... sim ela já havia visto esse filme antes e ele não costumava acabar bem, ela se virou para encará-lo seus olhos negros pareciam faiscar… mas os dela também.

—Não seja insolente - ele disse sério - não sou obrigado a tolerar os seus acessos infantis - ele a encarava, suas feições eram de completa imparcialidade, mas sim ele estava bravo e ela podia ler aquilo - acha que não notei sua completa falta de interesse desde o momento em que colocou os pés nessa sala de aula… ou vai insinuar algo e mentir sobre isso também? - ele perguntou de forma direta a deixando sem palavras.

—Eu… não, eu apenas… estava tentando encontrar uma forma, não sei, uma oportunidade de trazer algo… algo que estive pensando e que… enfim, algo sobre… - ela disse sem conseguir concluir ou sequer argumentar aquilo, não era justo ser acusada de desleixo e desinteresse, quando tudo que ela mais queria ali, era apenas uma chance de falar com ele a respeito de algo pessoal e que não fosse sobre poções, embora sim, ele estivesse certo sobre sua falta de atenção, mas aquele era um caso isolado e ele sabia disso - quer saber… acho melhor deixar pra lá… - ela oscilou, aquele era um péssimo momento para isso.

—Se era minha atenção que estava buscando, como bem pode ver… acaba de conseguir - ele gesticulou com as mãos, parando de mexer o caldeirão - então se for esperta deveria  aproveitar esse grande feito, afinal não é comum que os alunos desejem algo assim… bem pelo contrário, isso talvez por que eles tenham algum senso e noção o que não é exatamente o seu caso aqui - ele usou ironia – e se possível tente soar de forma eloquente, torna as coisas mais compreensíveis quando não está gaguejando - ele disse e se a intenção dele, era ser desagradável com ela, parabéns por que ele havia conseguido.

—Acabo de mudar de ideia senhor - ela tentou não parecer tão nervosa e tão pouco assustada, coisa que infelizmente sim, ela estava…

—Resposta incorreta Epson - Ele a desafiou – agora... diga - ele ordenou, mas aquele não era nem de longe um convite saudável para uma conversa entre pai e filha - estou esperando por uma resposta - sua voz arrastada tornava tudo pior - já que como disse estou… na verdade me esforçando… sim, me esforçando para ouvir o que tem a dizer de tão importante que não pode simplesmente esperar o término dessa sessão - ele a assustava, por Merlin… acontece que não era daquela forma que aquela conversa deveria seguir… ela não podia entrar no assunto assim… ele desligou o caldeirão, isso era ruim, muito ruim, já que Shara sabia que ainda não havia acabado, estava arruinado... a poção, seu coração acelerou, assim que ele deu alguns passos em sua direção e cruzou os braços para encará-la, ele estava esperando que ela elaborasse algo sim… - uma resposta verbal seria bem-vinda...

—Não é nada… - ela disse com alguma dificuldade, mas ciente de que agora não estava mais conseguindo disfarçar o que sentia - por favor… não insista - e estava se tornando humilhante também.

—Tarde demais para isso Epson - ele foi rude em especial por estar a tratando pelo sobrenome agora - diga de uma vez por todas… não tenho o dia todo para isso - e um tanto sem paciência, ela repensou suas alternativas, certo… não haviam alternativas… - agora - ele mandou, seu tom de voz aveludado era ainda pior do que quando ele estava gritando… ela engoliu a saliva, que desceu tal qual um pedaço de arame farpado, arranhando.

—O senhor… - ela piscou algumas vezes antes de continuar, seus olhos inevitavelmente se encheram de lágrimas, aquilo seria um desastre completo - o senhor… a amava? - ela perguntou finalmente, vendo as feições dele mudarem, ela tinha certeza de que o que quer que fosse que ele estivesse esperando dela ali, certamente não era algo assim… - falo da minha mãe - ela completou apenas para deixar claro… enquanto tentava manter a compostura, já que sua vontade era de correr… e sumir.

—O que acha que está fazendo? - ele perguntou de forma fria, sem desviar o olhar dela - não tem o menor direito de se meter em algo assim - ele rosnou, prestes a atacar - eu não lhe dei a liberdade para isso… - ele deu mais alguns passos em sua direção, Shara fechou os olhos e uma lágrima escapou do seu controle, marcando seu rosto… era a droga de uma pergunta, apenas uma maldita pergunta… ela não deveria ter criado expectativas sobre isso, nem em sonho… e ela sequer teria perguntado, se ele não tivesse sido tão incisivo.

—Estou apenas fazendo o que me pediu professor - ela devolveu… com certa ousadia ela sabia, era mais fácil fazê-lo com os olhos fechados, mas ainda assim ela podia sentir que estava hiperventilando ali, suas mãos estavam suando também - já que insiste, era isso… que eu desejava perguntar… contudo não, eu não teria perguntado se não tivesse me forçado dessa maneira… e antes, bem eu realmente não sabia como fazer, já que imaginei que não fosse gostar… - ela conseguiu dizer, sentindo seu estômago revirar - de qualquer forma essa é uma pergunta bastante simples, mas entendo se não quiser responder… - ela abriu os olhos, direcionando os para a porta, se recusando a encontrar os olhos dele, agora havia um pouco mais de interesse em fugir daquela sala de aula, já que seu estômago parecia estar lhe traindo, sim aqueles eram os sinais clássicos que ela tanto detestava e que fazia muito tempo que ela não sentia… ela precisava vomitar - por gentileza… professor… se puder apenas abrir a porta, eu… meio que agradeceria, do contrário terá que lidar com alguma bagunça por aqui… inevitavelmente - ela pôs a mão na altura do estômago e ele acompanhou o movimento com o olhar, ela podia sentir, mas ele não se moveu… - falo sério sobre isso… - ela havia caprichado no café da manhã… era uma pena ter que deixá-lo ali, e por mais desagradável que fosse, aquilo não a constrangida mais, já que ele a conhecia suficientemente bem para saber como seu corpo reagia quando se sentia acuada, e sem falar das inúmeras vezes em que ele já havia presenciado aquela cena… ele se aproximou, estendendo uma poção calmante em sua direção, ela aceitou, aquilo também funcionava, ela a bebeu com urgência, sentindo-se melhor à medida que o líquido avançava dentro do seu corpo.

—Sim - ele disse, num timbre mais grave.

—Sim… funcionou - ela confirmou, devolvendo o frasco vazio para ele - é muito obrigada por isso… mas… ainda assim se puder abrir… a porta, eu não vou conseguir me concentrar, não como deveria… não hoje - ela disse erguendo o dedo com o pano enrolado - e certamente o senhor irá se chatear ainda mais se tivermos mais algum acidente seja comigo ou no preparo da poção… então melhor não continuar hoje...

—Sim - ele se posicionou a frente dela e com uma mão ele elevou e segurou o seu queixo, algo que também fazia tempo que ele não fazia, ela não se moveu, mesmo que sua vontade fosse de fazê-lo – sim... eu a amava - então ele estava respondendo sua pergunta… e por mais que ele tivesse feito, ela se surpreendeu com aquela resposta, já que todo esse tempo ela achou que a relação deles, por ter sido tão conturbada e completamente improvável de sustentar, que aquilo havia sido apenas algo momentâneo, superficial da qual ele não tivesse dado muita importância, e ela não podia julgá-lo por isso… embora não fosse como Elza havia dito naquele dia, ao se referir a sua mãe como sendo uma “prostituta” para ele... Não Shara definitivamente não acreditava nisso, e ouvi-lo dizer… mesmo que não mudasse nada, mesmo que o passado estivesse distante e fosse imutável, mas Antony estava certo sobre isso, ouvir a verdade dele, era importante para ela… e seu coração se aqueceu de uma maneira completamente diferente ali… seus pais se amaram um dia, o sentimento havia sido recíproco e era verdadeiro e embora não fosse como uma linda história de amor… sim, aquilo não era como Antony e Catie mas ainda assim… eles se amaram, e seus olhos se encheram de lágrimas outra vez, que ela rapidamente limpou assim que as notou.

—Me desculpe - ela pediu… ela não queria tornar aquele momento ainda mais difícil para ambos… e ela havia sido sim insolente e… ele tinha razão sobre tantas coisas…

—A quanto tempo… - ele fez uma pausa - estava esperando para me fazer essa pergunta? - os olhos negros dele a fitavam e ela não podia negar a verdade a ele.

—Tem um tempo… digo não é de hoje - ela disse - mais precisamente desde aquela noite com Elza - ela foi honesta, e agora ele parecia tenso com aquela menção.

—Algo mais sobre aquela noite que queira questionar? - ela o estudou, sim… sim… havia algo, ela sabia que aquela era a oportunidade que precisava, ela sabia que não haveria outra oportunidade como aquela… que ela deveria aproveitar o momento e fazê-lo… e tomada de coragem, ela assentiu…

—Sim… existe algo a mais - ela afirmou - porque Elza, bem… por que ela mencionou a mãe de Harry daquela maneira? - ela perguntou, sentindo que havia se livrado de um peso de alguns quilos que vinha carregando em suas costas esse tempo todo, ele tirou a mão do seu rosto e caminhou até a bancada mais próxima, apoiando as duas mãos nela e baixando a cabeça, estando de costas para ela agora… e portanto Shara não sabia ou não podia lê-lo naquele momento, mas era evidente o quanto aquele assunto o deixava desconfortável, muito mais do que a pergunta sobre o que ele sentia a respeito de sua mãe - vocês… foram namorados? - ela achou que poderia direcionar aquilo - no passado… digo antes da minha mãe e antes dela se casar com o pai de Harry? - enfim… era uma suposição apenas, que na sua cabeça fazia algum sentido… mas ele não disse nada e alguns longos segundos que pareciam uma verdadeira eternidade se passaram, se não fosse pela poção calmante ela certamente já teria deixado o café da manhã ali no chão de pedras naquele exato momento… já que a tensão que havia se formado era quase palpável.

—Não - ele respondeu de forma curta… e aquilo era tudo que ele entregaria, ela sabia… e enquanto o analisava, ela podia sentir o seu sofrimento, o mesmo sofrimento que ela havia visto em seus olhos naquela noite tempestuosa com Elza, quando ela o havia atacado e quebrado na sua frente e isso fez com que Shara tivesse compaixão dele… sim, aquela era uma faceta diferente onde ela podia enxergá-lo como um homem frágil e desconcertado diante de algo que lhe custava muito… e definitivamente a palavra frágil não era um sinônimo para ele, mas sim, ele estava frágil ali… e não se importando com o que fosse, apenas com a certeza de que era algo do qual ele se arrependia, Shara caminhou até ele… passando por baixo de seus braços e ficando de frente para ele, entre o seu corpo e a bancada que ele havia usado de apoio, seus corpos estavam próximos e ela estava sendo completamente invasiva ali, ela sabia... mas ele não se moveu e ela não se importava, ela queria poder dizer a ele que ela o amava indiferente daquilo, ele era o seu pai… e mesmo que as coisas nem sempre fossem as melhores, ainda assim ela o amava.

—Não me importo com o que tenha acontecido - ela sussurrou - e independente do que seja, isso não muda absolutamente nada do que penso ao seu respeito, e também não espero uma resposta para essa pergunta… e se assim desejar, falaremos sobre isso quando se sentir mais confortável - ela o abraçou, ela podia sentir a rigidez dele perdendo forças - eu o amo, exatamente da forma como o conheci pai - ela disse perto do seu ouvido, e ele cedeu a envolvendo em um abraço apertado, aquele com certeza era o seu lugar preferido no mundo, nos braços dele e esse sim era o momento pai e filha que ela tanto almejava.

—Eu não… - ele fez uma pausa, para beijar o topo da sua cabeça - não… a mereço Shara - ele concluiu, e ela se desvencilhou dele, ciente de que havia alcançado seu coração, sempre tão encoberto por barreiras que ele mesmo levantava para não se deixar acessível.

—Não… - ela gesticulou negativamente com a cabeça - na verdade o senhor merecia muito mais… uma filha mais disciplinada eu diria e atenta com certeza e que não se envolvesse em tantos problemas como faço, e que fosse muito mais centrada e não tão impulsiva em ações e palavras… e sem tantos acessos infantis - ela tinha alguns pontos e honestamente não eram nada difíceis de enumerar.

—Talvez devesse acrescentar a sua lista… - ele a estudou por um momento - estúpida… ser uma garotinha terrivelmente estúpida - ele disse ao interrompê-la, mas aquilo não foi dito de forma rude, o conhecendo ela diria que era até afetuoso ao modo dele - contudo… - ele se afastou um pouco mais dela mas seus olhos permaneceram ali - é perfeitamente tolerável que seja tudo isso - ele estava validando aquilo que ela havia dito a deixando sem graça - já que ainda assim você é muito mais do que eu poderia esperar, sua essência é verdadeiramente boa, assim como foi a da mulher que eu amei, um dia… Maeva, a sua mãe - ele disse, e aquilo era quase uma declaração de amor - infelizmente eu era cego demais e presunçoso demais e… talvez alguém poderia dizer que babaca demais - ele disse com um leve sorriso de puro sarcasmo no rosto ao usar aquele termo - para admitir isso naquela época, enquanto ela ainda estava ao meu lado, mas… foi apenas depois que uma garotinha estúpida chegou e arruinou toda a minha vida a transformando num caos completo de sentimentos conflituosos, que eu pude perceber o quão tolo fui no meu passado, e não me refiro apenas as minhas escolhas… mas a uma delas em específico, afinal eu deveria ter ido atrás da sua mãe naquela época - ele admitiu, se escorando contra uma bancada enquanto a observava e ela apreciou ouvi-lo dizer.

—Acho que o senhor… não a teria encontrado de qualquer maneira - Shara sorriu ao soar provocativa - ela era muito boa em se esconder, sabe… e se nem a ordem a encontrou, sim a professora Mcgonagall me falou sobre isso certa vez - ela confessou em resposta ao olhar que ele o havia direcionado - o senhor certamente não o faria…

—Esta questionando minhas habilidades investigativas? - ele perguntou cruzando os braços e tentando soar intimidador mas falhando miseravelmente.

—É pode se dizer que sim… eu penso que ela era muito mais poderosa e portanto muito mais esperta também - Shara sorriu - que… o senhor no caso - ela finalizou satisfeita.

—Tem sorte - ele a encarou - por ser apenas uma garotinha estúpida e insolente a qual tolero - ele ergueu a sobrancelha, já não estava mais tenso e soava de forma descontraída também - do contrário, já a teria transformado em ingredientes para as minhas poções, faz algum tempo que não faço uso do cérebro de aluno… infelizmente ainda não achei nenhum que fosse apropriado… - e aquilo não era uma ameaça, Shara sorriu.

—Claro, e dito assim, isso soa quase como um elogio - ela disse - já que acaba de validar o meu cérebro, quando na verdade costuma dizer que não tenho nenhum - e aquele era um momento só deles, era tão íntimo, e tão profundo ao mesmo tempo que era completamente livre de amarras, sendo aquela de fato uma lembrança boa, algo que Shara desejaria guardar em seu livro de recordações recém começado, mas nem tudo que era bom, e a grande parte disso tinha algum registro de fato, mas era algo que ela gravaria em seu coração para sempre, aqueles eram momentos quase tão raros que pensar nisso a deixou triste… ciente de que suas feições entregavam seus sentimentos sobre aquilo… ela se perguntou o por que eles não podiam ser mais assim? daquela maneira… descontraídos um com o outro, tão inteiros e entregues... - é… muito obrigada por responder - ela disse por fim - sobre minha mãe - era honesto, ele a analisou e suas feições também haviam mudado, ele parecia pensar em algo, até que decidido, ele continuou.

—Existe um feitiço - ele informou - um feitiço bastante específico, algo pertencente a sua ancestralidade, e que o utiliza da sua magia ancestral… que Maeva me pediu para lhe ensinar, vejo que esse seja um bom momento para isso - Shara arqueou a sobrancelha para aquela observação mais do que curiosa, do que ele estava falando ali?

—Um feitiço? - ela perguntou processando aquela informação… ele estava sério… - como? Digo… como ela poderia pedir algo assim?... Eu me refiro ao fato… dela estar morta - Shara sussurrou a última parte - como poderia pedir para me ensinar algo… sendo que isso é impossível… e que feitiço seria esse? - ela estava confusa… eles, os seus pais não haviam se visto e nem se falado desde que sua mãe havia fugido a tantos anos atrás, ele mesmo desconhecia sua existência até pouco menos que um ano atrás, e havia apenas uma carta, escrita por ela, carta essa que Shara encontrou em seu armário naquele dia em que ela descobriu toda a verdade sobre eles… e Shara a havia lido diversas vezes depois dali e definitivamente não havia nada lá que fosse relacionado a um feitiço, como ele poderia afirmar… algo assim?

—No momento em que Elza lançou o feitiço da morte, naquela noite, e ao protege-la com a minha vida… eu vi a morte, eu estive lá... e em minha passagem, ou transição como preferir... eu vi Maeva - ele explicou, e isso a pegou de surpresa, Shara o encarou perplexa, seu pai nunca havia mencionado aquilo para ela, ele havia guardado aquilo esse tempo todo...

—Isso é… impo…

—Completamente possível - ele afirmou antes que ela dissesse o contrário, ele era uma das pessoas mais céticas que Shara já conheceu, e ela sabia que ele não mentiria ou inventaria histórias sobre algo assim... a vida após a morte era de fato uma grande incógnita e existia tanta especulação sobre esse tema, mas independente do que fosse, Shara preferia acreditar que a morte não era o fim... pelo menos não o fim absoluto das coisas.

—Onde? - Shara perguntou, ela queria saber mais...

—Uma estação de trem - ele respondeu.

—Uma estação de trem - ela repetiu aquilo que ele havia dito - uma estação na eternidade… - ela se lembrou de Antony falando sobre isso, sobre os dois destinos... mais uma vez ele estava certo sobre algo, realmente viver por tantos anos, lhe dava uma certa vantagem - e ela era… tipo... ela mesma? - Shara perguntou o vendo arquear a sobrancelha em dúvida - digo ela era normal? Ela era como o senhor se lembrava dela viva?

—O que acha que sua mãe poderia ser? - ele perguntou

—Eu não sei, uma alma, um fantasma… uma coisa transparente e flutuante igual ao barão sangrento e o professor de história da magia - ela confessou… ela não fazia ideia de como poderia ser aquilo.

—Ela era normal - ele admitiu e ela podia jurar que ele quase sorriu ao dizer aquilo.

—E o senhor a viu na estação… e ela apareceu apenas para lhe pedir que me ensinasse um feitiço? - Shara podia sentir seu coração acelerar… isso era muita informação e era tudo sobre a sua mãe, e lá estava a sensação de vazio e a saudade de tudo que ela não havia vivido.

—Não exatamente… Maeva estava lá por uma única razão, ela ainda não havia embarcado no trem, desde o dia em que… - ele não concluiu mas Shara entendeu - ela estava cuidando de você lá de cima esse tempo todo, e sobre o nosso encontro, não que fosse planejado, já que ela ficou bastante surpresa ao me ver chegar, mas ainda assim imagino que esse negócio do feitiço era quase que uma premissa para ela, já que me parece algo bastante especial, uma tradição milenar das mulheres de sua família e que ela não teve a oportunidade de lhe ensinar - ele admitiu, Shara queria chorar… mas ela estava tão eufórica com tudo aquilo que estava ouvindo que simplesmente não era possível.

—Minha mãe… ela estava cuidando de mim… - era surreal pensar naquilo, daquela forma, naquele contexto… sim isso era muito mais do que ela poderia imaginar ou sequer desejar - que feitiço? - ela perguntou verdadeiramente interessada.

—Ab imo corde - ele disse se aproximando dela, palavras que Shara reconheceu como sendo de origem do latim, assim como também eram a maioria dos feitiços que Shara conhecia – precisará juntar e fechar as duas mãos, é feito sem o uso da varinha - ele orientou se posicionando a sua frente e ela fez, ele cobriu as suas mãos com as mãos dele, fazendo uma concha e uma sub camada ali - agora repita o feitiço e tente não pensar em nada que não seja bom - Ab imo corde - ele disse novamente, contudo mais devagar, para que ela entendesse e aplicasse a pronúncia adequada, Shara fechou os olhos sentindo a adrenalina dentro de si aumentar, sem saber exatamente o que esperar daquilo, ele também não havia dito… e ela não queria perguntar.

—Ab imo corde - ela repetiu, mas nada aconteceu, ela abriu os olhos confusa.

—Novamente - ele pediu - mas faça com os olhos abertos…

—E se eu não for capaz? - ela oscilou - talvez eu não seja… talvez...

—Certamente você é - ele disse ao fechar sua mão ainda mais sobre a dela e ela podia sentir o calor que emanava das mãos dele ali, ela assentiu, com ele a incentivando daquela maneira, Shara sentia que era capaz de quase tudo.

—Ab imo corde - ela disse com mais propriedade, sentindo algo se formar e se mover dentro daquele pequeno casulo formado pelas suas mãos, ela arregalou os olhos assustada com aquela sensação inesperada - tem algo se movendo aqui dentro - ela disse olhando para as mãos fechadas.

—Sim - ele liberou a mão dela - apenas abra - ele orientou e Shara fez, vendo uma linda borboleta sair dali e voar em liberdade por toda a sala de aula de poções… era de uma beleza ímpar, aquela borboleta tinha contornos negros e bem marcados e o interior de suas asas era verde, um verde cristalino, parecido com a cor de seus olhos.

—Uma borboleta - ela exclamou surpresa - é uma borboleta de verdade? - ela perguntou ao admirá-la voar…

—Magia ancestral - ele informou - é uma tradição da sua família, a borboleta reflete as características do seu coração, mas o grande encanto desse feitiço é o fato de que ela pode atravessar tempo e espaço para encontrar pessoas que ama… a corde de sua mãe, é assim que é chamada cada borboleta… ela era de cor…

—Azul - Shara disse antes mesmo dele concluir, sim ela se lembrou da borboleta tão peculiar que havia chamado sua atenção tantas e tantas vezes em seu passado, e em muitas ocasiões distintas de sua vida e com muito mais frequência antes dela ingressar em Hogwarts, sempre em situações difíceis para ela, quando Shara se sentia perdida, sozinha ou triste e em momentos de maior vulnerabilidade, Shara não pode deixar de se lembrar daquele dia no banheiro feminino da sua escola trouxa, a borboleta esteve lá com ela o tempo todo - então a borboleta… ela era da minha mãe, então ela esteve lá em diversas situações da minha vida - e agora Shara já não podia mais segurar as lágrimas que antes havia contido – isso quer dizer que eu… que eu não estava sozinha, que eu nunca estive sozinha… - à medida que ela processava aquilo mais intenso ficavam aquelas emoções - minha mãe… ela esteve comigo nas situações mais desafiadoras da minha vida... ela estava lá - ela encarou sua própria borboleta, que pousou no ombro de seu pai de forma tão natural.

—Sim - ele disse - Maeva esteve onde eu não pude estar, ela a alcançou em momentos que eu ainda não podia alcançar... - Shara o encarou, ele não chorava… ele não era de chorar, ela nunca o havia visto chorar antes, mas ele estava, sim… emocionado, e ela se lembrou de Antony enfatizando para ela o quanto ele havia mudado.

—Ela pegou o trem, não pegou? - Shara perguntou agora sem qualquer ressalva, e ele assentiu - eu vi a borboleta azul naquele dia, quando achei que o senhor havia morrido, quando achei que eu o havia perdido para sempre, logo depois do feitiço lançado por Elza, a borboleta dela estava lá, a corde dela – Shara disse se familiarizando com a palavra – e ela foi muito importante… Antony, ele parecia saber exatamente o que fazer depois de vê-la, embora ele não tenha dito nada sobre isso… mas a corde dela salvou a sua vida pai… foi assim que entendemos que poderíamos trazê-lo de volta outra vez, com o uso da adaga, minha mãe o salvou... e o trouxe de volta para mim – ela limpou as lagrimas, aquilo significava tanto, era tão intenso.

—De certa forma sim, e aquela não foi a primeira e nem a única vez em que sua mãe salvou minha vida Shara - ele sorriu, um sorriso tímido e verdadeiro - ela me deu você e você tem feito isso por mim todos os dias… - Shara também sorriu em meio às lágrimas - aquele momento, na estação... Penso que foi importante, pois foi a despedida que merecíamos ter tido e foi especial vê-la mesmo que uma última vez e poder dizer a ela o que eu sentia sobre tudo e também ao seu respeito… e isso é sobre aquilo que me perguntou mais cedo - ele admitiu 

—O senhor disse a ela… disse que a amava? - Shara perguntou incrédula… aquilo era demais para um único dia.

—Eu fiz… - ele disse, fazendo Shara sorrir largamente, sim eles teriam sido uma família feliz se não fossem pelas circunstâncias, eles poderiam ter sido a família dos seus sonhos, aquela família que Shara costumava idealizar, a praia... o sol e a areia fofinha, indiferente se Elza havia usado os sonhos para manipula-la, mas aquilo não... aquilo era algo dela, aquele era o seu mundo perfeito – e também a obriguei a ir... – seu pai disse – afinal Maeva precisava partir, ela merecia descansar, ela já havia feito o bastante até aqui - Sim, ele estava certo, e Shara assentiu feliz por saber que ele tinha sido o responsável por cuidar disso também - mas antes de ir, ela me fez prometer que assim que eu voltasse, que eu deveria cuidar de você - ele confessou.

—E o senhor…

—Sim... e aqui estou… e eu sempre cumpro…

—Suas promessas… - ela completou em seu lugar.

—Sim… embora Maeva não precisasse ter pedido, afinal essa promessa já havia sido feita a muito tempo, muito antes desse nosso encontro na eternidade, de alguma forma eu acho que a fiz mesmo sem entender que a estava fazendo, acredito que tenha acontecido a partir das nossas primeiras interações aqui - ele admitiu - e mesmo não aceitando isso naquela época, mas eu já me sentia completamente responsável por você… - Shara podia jurar que seu coração estava prestes a pular fora do peito – mas foi somente depois daquele incidente na floresta proibida, e do coma que enfrentou... que eu entendi aquilo que sentia a seu respeito e aquilo que você havia feito na minha vida, foi quando você passou a ser minha garotinha terrivelmente imprudente, insolente, sem nenhum controle de impulsos e estupida – e falando em impulsos e sem conseguir controla-los, bem talvez Shara não pudesse mesmo, ela foi até ele e se jogou em seus braços, algo que ela fazia com bastante frequência agora, sem se envergonhar disso, pelo contrário ela se orgulhava de ter tomado a iniciativa da primeira vez, e mesmo sem saber sobre a parentalidade deles naquela época, ela sabia que já o considerava, ele era quase que uma obsessão, talvez estivesse escrito... predestinado que fosse assim… enfim de qualquer forma, o destino os havia unido, e quando sua mãe se foi... por que sim, ela sempre esteve presente e agora Shara sabia, foi quando ele assumiu... talvez por essa razão a corde dela pouco havia aparecido naquele último ano... sua mãe também sabia sobre eles... Sobre o que eles estavam construindo.

—Acho que minha corde também gosta do senhor – afinal ela sequer havia se movido do ombro dele, e ela bateu as assas em sinal de concordância, fazendo Shara sorrir e se acomodar ainda mais contra o peito dele, sentindo o cheiro dos ingredientes de poções impregnar suas narinas e era simplesmente perfeito – obrigada por compartilhar tudo isso, e em especial o feitiço... pai – e ela não pode deixar de notar que o coração dele batia mais forte quando ela o chamava daquela forma.

—Às vezes, os destinos mais improváveis nos surpreendem com as maiores bênçãos – Shara refletiu sobre aquilo que seu pai havia dito, aquele que ela havia procurado sem saber, aquele que tinha estado lá para ela, mesmo quando ela ainda não sabia... e naquele instante, tudo fez sentido... cada obstáculo que ela enfrentou, cada dor, cada lágrima derramada e cada sorriso trocado, tudo havia sido essencial, uma peça do quebra-cabeça da vida... e isso não era sobre Elza e suas manipulações, mas até mesmo as intervenções dela, haviam levando Shara a este momento... e com os olhos brilhando, Shara finalmente entendeu... “sim” ela sussurrou para si mesma, com um sorriso trêmulo nos lábios, "sim..." e mesmo que aquele ainda não fosse o fim, mas ela sabia que, apesar de todas as dificuldades e desafios que eles ainda enfrentariam no futuro, eles tinham um ao outro, e isso era tudo o que importava.


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Notas finais do capítulo

Esse final... sim eu sei que entreguei tudo nesse final, e sim eu chorei muito nessa entrega e vc que esta acompanhando o crescimento dos personagens, tenho certeza que consegue me entender... Ele mudou e ela mudou e ambos mudaram!!! Merlim
E eu sei que esse começo não foi nada bom... é tipo aquela o ditado que diz "os apostos se atraem e os parecidos se matam"... eles são parecidos, e toda cena emocionante deles começa assim, tensa... é um temperamento difícil admito, ambos explodem rápido... mas não podia ser diferente né, ela é filha de peixe.

Ela seguindo o conselho de Antony e perguntando pra ele das coisas que importavam para ela (ok não dá melhor forma haha) e embora ele não tenha recebido bem de inicio, ele entendeu as motivações dela, e a forma como ele esclareceu, inclusive sentido que aquele era o momento e contando para ela sobre o seu encontro com Maeva na eternidade foi um dos pontos altos dessa história.

Eu sei que ficou em aberto a coisa toda com a mãe do Harry, mas não imagino que esse seja o tipo de coisa que ele abriria pra ela, por isso não explanei isso melhor... o que, no caso é muito diferente da situação dele com Maeva, já que ela é a mãe de Shara, era legitimo que ela soubesse sobre eles dois.

E Shara realizando o feitiço da corde... as cores da borboleta, a leveza de como ele a ensinou... ahhh Shara é todinha Snape pra mim (gosto de ver ela assim, sorry)

E encerro esse capitulo com a frase que mais me afetou aqui: "Às vezes, os destinos mais improváveis nos surpreendem com as maiores bênçãos" fazendo uma menção clara ao nome dessa fic...
Destinos improváveis!
Mas a vida tem disso né!
As vezes, apenas não enxergamos nossas pequenas bençãos!



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