Destinos Improváveis escrita por Nara


Capítulo 114
Futuro - Segunda chance


Notas iniciais do capítulo

Fechando o cânon em 100%
Boa leitura



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/809277/chapter/114

—Isso é completamente inconcebível - Minerva disse, em seu tom de voz mais sério e repreensivo, que poderia facilmente deixar qualquer um em seu lugar em pânico, mas não ele e obviamente ela sabia disso, principalmente se associado ao fato de que estava tarde e ainda assim ela o havia convocado, isso sem mencionar que enquanto ela parecia surtar com suas ações de mais cedo na enfermaria, ela abria uma garrafa de vinho, sinalizando de que aquela era tudo menos uma reunião formal, onde eles discutiriam assuntos de rotina pertinentes aos seus trabalhos - Somnium - ela repetiu o feitiço lançado por ele - onde é que estava com a cabeça? - ela ralhou consternada - isso é motivo mais do que suficiente para que seja afastado de suas funções como docente nessa escola… é simplesmente inapropriado, e você sabe... mas certamente não pensou nisso não é mesmo? e digo mais... tem sorte de que eu não esteja mais no cargo… - ela bufou.

—Deixe me ver se entendi - Severo disse com uma certa ironia, não se importando com aquele acesso de raiva - já que como bem pontuou, com o retorno de Alvo Dumbledore a essa instituição, sua função de diretora substituta não mais existe e portanto caberá a ele e somente a ele e não a vossa excelentíssima juíza de feitiços supremo – ele ironizou ainda mais – qualquer tipo de julgamento quanto a mim e a minha conduta, mas ainda assim está disposta a gastar não apenas o seu mas também o meu precioso tempo para me importunar com esse assunto á exatos uma hora da manhã e pretende fazer isso me servindo uma taça de vinho, que sequer me foi oferecida, mas que certamente não terei opção de rejeitar - ele concluiu aquilo de forma sarcástica a vendo encantar umas das taças, e a mesma foi empurrada em sua direção, ambas estavam particularmente cheias demais para o seu gosto, mas ela parecia precisar muito daquilo, sendo que ela ingeriu metade do liquido de uma única vez.

—Tem razão sobre tudo que disse, em especial sobre o vinho... Portando cale essa maldita boca e o beba - ela mandou ao se sentar - sabe, talvez devesse agradecer ao Harry sobre o fato de não estar mais no cargo... - ela o provocou – afinal se não fosse por ele certamente eu ainda estaria, como é que chamou mesmo? Substituta... Diretora substituta e você... – ela apontou para ele - você estaria fazendo as malas... - ela bebeu o resto do vinho.

—Nunca – sua resposta foi curta ao fato dela ter mencionado qualquer mérito ao pirralho de Thiago Potter a quem ele tanto detestava, vendo a sorrir de satisfação por ter conseguido provocá-lo, de qualquer forma ele decidiu acompanhá-la e se sentar também, afinal aquela seria uma noite bastante longa, sim Potter havia salvado o mundo bruxo mais uma vez e agora Minerva estava interferindo em seu sono, ok ele precisava ser honesto e admitir que certamente não conseguiria dormir nas próximas horas, mesmo depois de ter conseguido acalmar Shara e saber que ela se encontrava nesse exato momento dormindo em seu quarto em seus aposentos privativos, ele havia reivindicado isso a Pomfrey, ele fazia questão de tê-la por perto... ainda mais por não poder se perdoar pelo episódio ocorrido mais cedo na ala hospitalar, não que ele se importasse com Lockhart, ou se arrependesse de ter lançado o feitiço sobre ele, mas sim ele se importava com o efeito que aquilo havia causado a sua filha...  maldição, como ele poderia ter previsto algo assim?

—O menino que sobreviveu – ela disse com a voz embargada, e ele se perguntou se o vinho já estava surtindo algum efeito – irônico teria sido... afinal ele quase não sobreviveu essa noite - ela disse vagamente - Merlin, nós quase o perdemos hoje Severo – ela exclamou - e quase perdemos Ginevra e o seu irmão Ronald também… alunos eles de minha própria casa… - ela suspirou, era evidente que ela estava cansada e que talvez estivesse se sentindo culpada de alguma forma por não ter conseguido intervir naquele fatídico acontecimento. 

—Grifinórios costumam ser bastante indomáveis e propensos a não cumprir... regras, arriscando a própria vida de forma indulgente – ele riu pelo nariz – mas é claro que você já sabe disso – ele ergueu a taça para ela que retribuiu o ato, aquele que era um gesto de confirmação, uma espécie de brinde, algo sutil... mas sim, eles estavam brindando, e ele diria que o brinde era pela desgraça de serem cercados por crianças estupidas e predispostas a se envolverem em problemas... E isso não era exclusividade dos Grifinóris, afinal Shara era Sonserina, Minerva não comentou mas ela podia ler aquilo, já que o sorriso que ela lhe deu foi de puro deboche... Ele não tinha argumentos e agradeceu por ela deixar passar.

— A fênix… - ela pontuou depois de um tempo - aquele pássaro... Harry teve sorte de tê-lo por perto essa noite, do contrário o veneno de basilisco o teria matado em alguns instantes… Alvo... acha que ele sabia? - ela perguntou, estreitando o olhar, sim ela estava desconfiada, e aparentemente não se importando em demonstrar aquilo.

—Não sei o quanto ele sabe - Severo disse, sendo honesto… afinal Alvo era irreparável e suas tramas eram sempre bastante complexas e por vezes não deixavam rastros… mas lá no fundo, Severo queria acreditar que esse tempo todo, que o velho não soubesse que aquele seria o desfecho para tudo aquilo -  não confio totalmente nele e nas suas verdades… e não me olhe assim Minerva, já que foi você que perguntou - ele a lembrou, quase levantando as mãos em sinal de defesa, mas ela suavizou as feições... e parecia pensar naquilo que ele havia dito.

—Eu me pergunto... como o chapéu seletor foi parar lá Severo? A fênix eu sei... mas por que o chapéu? E como a espada de Godric estava dentro do chapéu? - ela continuava pensativa… - pode ser apenas a ligação da ave com aqueles que são leais a família Dumbledore... Alvo me explicou isso certa vez, mas as vezes… eu não sei, e tenho a impressão de que Alvo, de que ele o tem manipulado… o garoto e as circunstâncias a sua volta... para que ele... - ela parou... se calando.

—Se torne apto e faça aquilo que é esperado dele - Severo disse sem ressalvas – me refiro a profecia é claro – ele informou em resposta ao olhar aguçado que ela o havia direcionado.

—Sim – ela confirmou – sim... Severo... é exatamente sobre isso – ela baixou os olhos como quem buscasse uma resposta dentro de si, mas não a encontrasse – ele podia ter se ferido gravemente lá, morrido... eles são apenas crianças – e por mais detestável que fossem aquelas crianças em especifico, em especial Potter, Minerva tinha razão sobre isso... e mesmo que Shara não tivesse entrado na Câmara secreta, assim como os demais, ela havia sido exposta ao perigo de igual maneira e ele podia entender o que Minerva sentia e queria dizer ali – as vezes...  você também tem a sensação de que é incapaz de protege-los? De que por mais que tente... tente, não chegará a tempo para salva-los? – ela perguntou seus olhos brilhavam.

—O tempo todo – ele admitiu, ao pensar em Shara, sua filha... Minerva assentiu.

—Admito que Lockhart mereceu – e então ela estava mudando de assunto – esse fim... e o feitiço que lançou sobre ele, mas eu nunca disse isso, Merlin a bebida sempre me deixa tão sincera – ela disse e sorriu – Obrigada por me ouvir Severo – e então ela agradeceu, de fato a bebida podia ser um escape mas não era uma boa aliada, não no caso dela..

—___

Shara havia separado vários pequenos recortes, de momentos distintos, os deixando espalhados por todos os espaços cabíveis no chão da torre de astronomia, aquelas que eram matérias de jornal e itens que ela havia guardando durante todo aquele ano letivo, itens que fariam parte do seu pequeno arsenal cronológico de relíquias, ela havia planejado aquilo tinha alguns dias, e como uma criança teoricamente normal para a sua idade, ela estava organizando o seu primeiro álbum de recordações, para contar a história daquele que havia sido o ano mais intenso e significativo de sua vida.

—Fica muito fácil te achar, quando você não se comporta como a adorável pestinha que é, e cumpri ordens básicas e simples... tais quais... usar um colar encantado feito unicamente para sua proteção – Antony disse, pulando os dois últimos degraus e se aproximando dela, Shara franziu a sobrancelha curiosa com aquela intromissão completamente inesperada dele.

—Até onde sei, apenas o meu pai consegue me localizar quando eu uso isso daqui – ela disse colocando a mão sobre o colar e lhe lançando um olhar desconfiado... – ele precisa acionar um anel, que apenas ele usa – ela explicou, algo que obviamente Antony já sabia – e sendo assim... não vejo como você – ela apontou para ele – possa ter essa informação, a menos que tenha perguntado a ele... embora não acho que ele diria... 

—Exatamente... Eu perguntei a ele – Antony sorriu ao interrompe-la, fazendo Shara ter que reformular aquilo... estava fácil demais... não podia ser possível...

—Então está me dizendo que você foi até ele... para que ele lhe informasse sobre a minha localização e ele... ele lhe contou... E foi simples assim? – Shara questionou com alguma ironia, ela não acreditava nisso, quer dizer...  aquele era Antony e eles... bem mesmo seu pai não admitindo, e ele nunca faria, mas eles eram de certa forma amigos, mas ainda assim... ele não diria, diria?

—É mais ou menos por aí... não digo que foi simples e nem que foi fácil, talvez eu o tenha irritado mais do que devia, talvez eu tenha sido insistente, e talvez ele tenha me dado a informação apenas para se livrar de mim, mas vou achar que ele o fez por que tem alguma consideração por quem eu sou... então vamos apenas... deixar essa parte para lá – Antony piscou, enquanto se sentava na sua frente com as pernas dobradas, encarando os recortes que ela havia espalhado pelo chão – Snape está mudando Shara – os olhos de Antony foram de encontro aos seus – sim... e aquilo que aconteceu na enfermaria... eu nunca imaginei que ele pudesse... 

—Criar um feitiço tão horrível... e azarar alguém com ele? – Shara perguntou, embora ela não houvesse tocado mais no assunto, aquelas coisas sobre o seu pai... sobre o seu passado tão terrível e que de tempos em tempos vinham à tona daquela maneira, provando apenas o quão ruim de fato ele havia sido, eram por vezes difíceis de se acostumar...

—Não... quer dizer, acho que isso é justamente o tipo de coisa que ele faria – Antony disse a surpreendendo com sua honestidade – eu me refiro ao... – Shara o encarou, esperando que ele elaborasse – ao fato dele ter pedido desculpas, sabe... daquela maneira... ele não é do tipo que se desculpa com alguém, bom pra começar ele não é do tipo que abraça outras pessoas, e ele não é do tipo que se importa com elas... eu nem sei o quanto ele é capaz de se arrepender honestamente... mas... você... Shara, tem sido diferente com você – Shara suspirou, ela sabia disso muito bem.

—Eu posso ver isso Antony – ela admitiu, aquele era um lado dele que ela já conhecia, mas era um lado que ele costumava guardar apenas para ela, já que a maior parte das vezes ele estava atuando.

—Sabe... eu o conheci, digo conheci antes... bem antes de você nascer – Antony parecia relutar com algumas memórias sobre aquele passado – e eu sei que fiz julgamentos sobre ele, que não competiam a mim faze-los, mas a verdade é que eu deveria protege-la... a minha mestra e eu nunca entendi Maeva, eu nunca entendi como ela podia ver seja lá o que havia visto nele... para mim Snape era uma ameaça e ela deveria... sentir isso, afinal era uma guardiã, você sabe... mas ela não... não fazia – Shara analisou Antony por um longo momento, eles nunca haviam conversado sobre como havia sido o relacionamento dos seus pais... e muito menos em como Antony havia se sentido com isso, afinal ele podia ser apenas um pássaro naquela época, mas ainda assim ele não era um pássaro qualquer - Maeva era tão boa e justa Shara, e ele... ele era capaz de fazer coisas horríveis, você viu Lockhart... e sim... eu o odiava por ele ser o monstro que era, então certa noite, os ânimos estavam alterados entre eles dois, eles discutiram sobre algo... e Maeva estava arrasada, ela estava chorando, e ele foi embora... e então eu decidi que deveria intervir, e fui atrás dele... eu o teria matado se pudesse, e foi ali que eu jurei... jurei para ele que nunca mais iria lhe dirigir a palavra, pois não valia a pena, ele... Severo Snape tão arrogante e prepotente que era, apenas riu, era obvio que ele me detestava também, talvez estivesse agradecendo, e de qualquer forma algumas semanas depois Maeva foi embora da vida dele, e da vida de todos... e bom 12 anos se passaram desde então, e cá estou... – Antony deu um sorriso amarelo – como você pode ver, melhor do que ninguém, eu não sou muito bom com julgamentos e conclusões sobre fatos... e obviamente estava errado sobre ele... foi uma rasteira das grandes em minhas convicções sobre ele quando Snape se tornou o responsável por quebrar uma parcela da minha maldição... – Antony pigarreou desconcertado – não conte a ele o que eu disse, está bem? – ele pediu encabulado – mas ele foi e continua sendo um bruxo muito honrado... – Shara sabia disso também, e ela o admirava por ser quem ele era.

—Eu acho que entendo Antony, não tinha exatamente como você saber disso... e ele era um comensal da morte naquela época e isso era ruim e certamente por essa razão que ela... que minha mãe manteve a relação deles em sigilo, era mais do que certo que seriam julgados os dois – ela respondeu, sendo sincera também... e olhando vagamente para um recorte de jornal a sua frente, onde um registro mostrava um carro voador sendo visto sobre as ruas de Londres... aquele foi o dia que ela o conheceu, o professor Severo Snape, o seu pai... quando ela nem sonhava sobre aquele mundo, ou melhor... ela achava que estava vivendo um sonho e que iria acordar a qualquer momento, era loucura pensar que quase um ano se passou desde que aquilo tudo começou... ela podia se lembrar das impressões que teve a respeito dele naquela noite, dele como sendo a personificação do mal... chefe da casa dos bruxos das trevas e pensar nisso fez com que ela tivesse vontade de rir agora... Harry e Rony não haviam ajudado muito.

—No começo, foi difícil aceitar que ele não era o grande vilão da história – Antony bufou – talvez lá no fundo, eu desejasse que ele fosse sabia?... por puro orgulho confesso, mas quando o vi... tarde da noite na frente do lago negro, no dia que você havia sido atacada pela Hidra... eu sabia, sabia que ele a protegeria com a sua vida, como de fato ele veio a fazer e foi naquele momento que eu decidi... sim, decidi quebrar meu juramento ao me revelar e falar com ele outra vez... passando por cima do meu orgulho próprio – Shara não sabia disso, e ouvi-lo contar, era como preencher pequenas lacunas de sua própria história, ela nunca saberia o quanto faltava para completar todas as peças – e  não eu definitivamente não o estou defendendo... e muito menos validando algo que ele tenha feito como comensal ou o feitiço da noite passada... mas o coração dele, isso é algo que agora eu posso ver, e ele nunca esteve lá... e Maeva sabia, esse tempo todo... ela sempre soube  – Antony sorriu, fazendo Shara sorrir também, ela apreciou ouvi-lo dizer... sua mãe confiava em seu pai e ela estava certa sobre ele desde o início, sim ela podia sentir, era um dom, dom que Shara também possuía – Maeva podia ver o melhor das pessoas, assim como você também pode – ele completou e Shara não pode deixar de pensar em Draco, e pensar em Carla... talvez o diretor estivesse certo, sobre ela se parecer com sua mãe... e sobre ela não ver isso.

—É estranho... mas não consigo me ver dessa forma – Shara admitiu, ao encarar o recorte com a página do livro que mostrava o colar de Medusa, o colar que havia sido de sua mãe, o colar que havia começado tudo aquilo, no exato momento em que Antony o pássaro negro o entregou para ela, naquela rua deserta na Londres trouxa – ela... a minha mãe... ela era uma mulher incrível não era? – e lá estava aquele sentimento de saudades outra vez, um vazio impossível de preencher.

—Sim, ela de fato era – Antony se inclinou para pegar a carta que sua mãe havia escrito para ela, a mesma que ele havia trazido a um ano atrás – não tem ideia de como me senti, de como foi difícil para mim... quando acordei... naquele dia, ao me dar conta de que anos haviam passado, de que o berço estava vazio e depredado, assim como todo o resto da casa, da vila... e perceber que era simplesmente tarde demais para qualquer coisa que eu pudesse fazer – ele olhou para o papel, passando o dedo em cima da escrita... – ela havia escrito uma carta para mim também... eu me arrependo de a ter queimado – ele disse com tristeza – como disse, sou péssimo em julgamentos, e eu a culpei por ter me tirado dos seus planos e por ter feito o que fez comigo... mas os planos nunca foram dela – ele suspirou – Elza foi a culpada... – ele disse o nome de sua avó, colocando a carta no chão outra vez.

—Eu acho que posso entender isso também – Shara admitiu, aquela era a conversa mais cheia de significados que ela havia tido com ele em meses, era nostálgico para ele, mas ouvir e reviver aquelas histórias, de certa forma combinavam com o momento recordações que ela estava tentando construir ali, com suas próprias lembranças, sua identidade e sua história – é difícil quando se está às cegas... e não foi justo Antony... com ninguém...

—Especialmente com você – ele foi enfático e verdadeiro – curiosamente Maeva nunca me falou sobre a identidade do pai da criança, mas eu sempre soube, era mais do que obvio... até por que ele havia sido o último ou melhor o único companheiro que ela havia tido em sua vida, sim... ela era uma mulher encantadora, de beleza ímpar, mas ela não era de se permitir – ele disse com certo orgulho – então Maeva fugiu assim que descobriu a gestação, ela achava que ao fazê-lo, que ela a estaria protegendo e indiretamente estaria o protegendo também... mas sem saber ela correu para os braços do verdadeiro vilão dessa história e isso, bem isso você já sabe... – Antony disse com alguma tristeza – Maeva costumava dizer que eu falava demais – ele admitiu tentando mudar o rumo que a conversa estava seguindo – Snape concorda com ela obviamente... e aparentemente estou falando mais do que o necessário aqui – ele riu de si mesmo – talvez ela não confiasse em mim para manter o segredo... mas convenhamos que fica difícil sustentar aquilo, digo “o segredo” – ele gesticulou com as mãos – num caso como esses... afinal eu podia ser apenas um pássaro para ela, mas eu sei muito bem o que homens e mulheres fazem para ter bebes e eles passavam, digamos que bastante tempo juntos – ele disse com certa aversão... 

—Antony – Shara exclamou – isso... isso foi completamente desnecessário, ela estava corando... ele havia mesmo conseguido mudar o rumo da conversa, com toda certeza.

—Ah não me diga que ainda acredita na versão onde bebes nascem de ovos... por que... – ele a olhou com certa incredulidade... – acredita mesmo nisso? – ele perguntou horrorizado.

—Não, e pra sua informação eu nunca achei que bebes viessem de ovos... até por que... ah deixa pra lá – ela o cortou antes que ele continuasse aquilo, mas talvez aquele desvio na conversa não fosse de todo ruim... talvez ela pudesse aproveitar aquele momento como uma oportunidade para perguntar algo, algo que vinha crescendo dentro dela nos últimos dias... uma pergunta genuína – Antony... – ele parou para analisa-la – posso te fazer uma pergunta? – ela disse... e agora era ele que parecia corar...

—Olha... eu definitivamente não vou explicar nada sobre isso ok?... pergunte ao seu pai... Sim pergunte a Snape, isso... isso é dever dele explicar, ele é o seu pai e ele sabe como os bebês são feitos... e não diga que eu comecei... Merlin, nem sei ao certo por que entrei nesse assunto, talvez eu fale mesmo mais do que o necessário... oh... e você é uma menina... e isso... bem apenas fale com Snape a respeito disso, mas espero que seja como sua mãe... se guarde para alguém que confia está bem? meu Merlin você tem apenas 11 anos e eu não deveria estar falando sobre isso com você e você não devia fazer esse tipo de pergunta... Pra começar... – Antony falou apressadamente atropelando as palavras, e ela se segurou para não revirar os olhos ali.

—Eu ainda não perguntei - ela cruzou os braços impaciente...

—E não deveria....

—Ele a amava? – ela decidiu perguntar, não se importando com o ataque de histeria que ele havia tido, sério que Antony achou mesmo que ela fosse perguntar sobre... bem sobre a intimidade de um homem com uma mulher... ela suspirou – o que quero saber... é se ele a amava, essa é a pergunta... - ela reforçou vendo Antony paralisar instantaneamente... a estudando por um momento e ficando sério ao refletir sobre a sua pergunta.

—Certo – ele parecia precisar de um tempo para se recuperar – bom, como eu disse... se me perguntasse isso naquela época, eu diria que não – Antony respondeu – mas hoje o conhecendo um pouco mais, não há dúvidas pra mim... que sim, que ele a amava – ele disse aquilo com bastante convicção... e Shara agradeceu com o olhar sua honestidade ali.

—Sabe, naquela noite com Elza... ela disse algo sobre ele – Shara o encarou, ela queria que ele pudesse ser honesto sobre isso também – sobre ele amar outra mulher... Lilian... Lilian Potter, a mãe de Harry e sobre ele ser o responsável pela morte dela... – Shara permaneceu o encarando, e Antony parecia um tanto quanto surpreso ali – mas todos sabemos que quem mantou os pais de Harry, foi na verdade... bem você sabe – ela explicou, aquilo nunca fez muito sentido e portanto ela nunca havia dado tanta importância, mas havia algo no passado do seu pai... que o havia transformado e a forma como ele tratava Harry, lhe dizia que aquilo era sobre um passado com a mãe dele.

—Eu o vi – Antony disse pensativo – naquela fatídica noite – sim eu o vi... ele havia ido até a casa dos Potter, mas os pais de Harry... ambos já estavam mortos – Antony explicou – eu nunca entendi, o que ele fazia lá... – Antony a olhou confuso – infelizmente eu não tenho a resposta que procura Shara... mas com toda certeza ele não os matou... 

—Existe algo... eu sei que existe – Shara suspirou – eu não acredito em Elza, quer dizer não dessa forma... mas ela queria feri-lo naquela noite, quebra-lo e de certa forma ela havia conseguido... então eu sei que existe algo sobre isso – ela suspirou, ciente de que aquilo ficaria sem resposta.

—Bem talvez isso seja algo, que de fato devesse perguntar a ele – Antony a encorajou.

—Ah essa definitivamente não é o tipo de coisa que eu me sentiria confortável perguntando...  – ela o analisou – é tão pessoal, e por fim... que diferença faz isso agora – ela deu de ombros – está no passado e o passado não pode ser mudado... 

—Contudo é importante para você – Antony a corrigiu – e sendo assim deveria questionar, como eu tenho dito, Snape... ele está mudando Shara, ou melhor... você o mudou, será que consegue ao menos ver isso? – ele perguntou, Shara nunca havia parado pra pensar naquilo, não daquela forma... – aquilo na enfermaria, prova o quão mudado ele está... – Shara encarou o chão, talvez ela devesse mesmo perguntar... talvez se houvesse uma oportunidade ela o faria – o que é tudo isso? – ele perguntou, analisando os recortes e agora mudando de vez o assunto.

—É para um livro de recordações, que estou... montando – ela disse animada, a mudança era bem vinda... – em ordem cronológica desde o início do ano letivo – ela apontou para os primeiros recortes.

—Bom... não é meio inapropriado fazer isso aqui – ele olhou todos os papeis a sua volta – uma simples rajada de vento e perderá todos eles em instantes – ele disse como se ela não tivesse levado isso em consideração, e dessa vez ela revirou os olhos para ele, pegando sua varinha.

—É pra isso que serve a magia – ela levantou a varinha, como se fosse a coisa mais óbvia do mundo – estão colados no chão, pelo menos até que eu os pegue – ela disse e ele a encarou confuso.

—Você... espera, a sua magia... ela está de volta? – ela sorriu, foi quando ele entendeu.

—Simmmm – ela quase gritou - isso é ótimo não é mesmo? – ter a magia de volta era de fato uma coisa boa – bom meu pai e o diretor, eles concordaram que o Sr. Malfoy não seria mais um problema, não por agora... então sou uma bruxa de verdade, outra vez – ela disse satisfeita.

—Merlin – Antony bufou – você era uma adorável pestinha muito menos propensa a se envolver em problemas quando estava sem o uso de sua magia – ele coçou a cabeça fingindo estar preocupado – o que esperar de você agora? Já que estamos encrencados – ele brincou com ela.

—Acredito que meu pai não iria concordar com essa afirmação – ela mostrou a língua para ele – mas tem minha palavra de que irei me comportar – ela estava falando sério, ele assentiu se levantando – Antony – ela o chamou – ainda não disse o por que veio até mim, o por que estava me procurando... Certamente havia um motivo, não havia? – afinal se ele havia ido até o seu pai, apenas para que ele lhe fornecesse a sua localização deveria ter alguma importância.

—É... bem, sim... sobre isso – ele parecia nervoso, e ela também se levantou agora curiosa com aquilo que poderia vir dali - são duas coisas na verdade, Shara sinalizou para que ele prosseguisse – o ritual, eu tenho tudo o que precisamos para fazê-lo... por acaso, não mudou de ideia, mudou? – ele perguntou com cautela, mas aquilo era algo que ela também queria e com a mudança ocorrida no colar, permitindo com que Antony tivesse uma nova oportunidade, não havia razões para desistir mais, e se ela era de fato a guardiã predestinada a isso… ela faria por ela e por todas as mulheres de sua família, ela quebraria a maldição de Medusa.

—Farei o ritual – ela confirmou, vendo suas feições suavizarem.

—Bom nesse caso, Snape sugeriu que o fizéssemos após as provas finais – ela pensou sobre isso e assentiu, seria em algumas semanas, e fazia algum sentido – estou ansioso confesso – ele admitiu, e ela segurou a mão dele, no fundo ela também estava, ainda sem saber muito bem o que esperar daquilo que viria, mas verdadeiramente inclinada em descobrir o desfecho predestinado para aquela história.

—Então, faremos conforme ele sugeriu – ela disse em concordância.

—E isso me leva ao próximo assunto – Shara notou que ele estava suando agora ainda mais nervoso – Catie – ele disse o nome da amiga, e isso despertou seu interesse – assim que me certificar... que, bem o ritual cumpriu sua função e funcionou... e de que estou mesmo livre da minha maldição, e que sendo assim me tornarei um ser mortal outra vez... eu – ele a olhou nos olhos... – pedirei a mão dela em casamento – ele disse sem rodeios, fazendo Shara soltar a mão dele e a levar automaticamente sobre a boca... – eu sei que parece precipitado, cedo… mas não sou um jovem, não como pareço ser – ele explicou – vivi o bastante Shara e não quero mais perder tempo... pelo contrário – ele estava emocionado - eu quero viver o agora, viver de verdade… e quero passar os meus dias ao lado dela… ter uma família, minha familia, construir um legado, algo que possa valer a pena aqui... ficar velhinho e vê-la envelhecer... – ele sorriu emocionado, e não havia como não se emocionar também.

—Antony... isso é... eu… estou sem palavras – Shara sentiu seus olhos lacrimejarem, aquela era uma sensação nova, afinal não havia como não se sentir culpada pela vida que sua amiga Catie havia tido, Shara se sentia responsável pelas feridas dela, pelas dores, pelas lágrimas derramas, sim... pela vida miserável que lhe foi submetida, pelo abandono e pelo fato dela estar presa em Hogwarts agora por um crime que ela não cometeu, e pensar que de alguma forma Catie seria feliz e seria livre de certa forma... e pensar que haveria alguém com quem ela pudesse dividir sua vida e reconstruir uma nova história a partir dali, enchia seu coração de paz e de alegria e pensar que esse alguém seria um mago poderoso, mas ao mesmo tempo um jovem e simples aldeão, aquele que havia sido o melhor amigo de sua mãe no passado e era também o seu próprio ancestral... aquele a quem Shara passou a amar com todas as suas forças... ela sentiu as lágrimas descerem pelo seu rosto – Cuide dela Antony – foi o que Shara conseguiu dizer, sabendo que ele faria...

—Com a minha vida – ele garantiu – achei que deveria ser a primeira a saber... – Shara se jogou em seus braços, soluçando... ela nunca achou que pudesse haver um final feliz, mas ali estava... Catie viveria um romance, sim um romance parecido com aqueles que ela lia em seus livros na biblioteca onde ela trabalhava, naquela vida que havia ficado para trás agora, aquilo era um verdadeiro conto de fadas e Antony seria o príncipe encantado que ela tanto sonhava... Catie e Antony... Antony e Catie, Shara repetiu mentalmente os nomes deles juntos, e eles combinavam... Ela se afastou dele, ele também estava chorando.

—Façam bebês, façam lindos bebes – ela disse com o intuito de provocá-lo – já que... como você mesmo disse, isso é algo que você sabe muito bem como fazer – e agora ele estava corando por sua causa e ela achou isso fabuloso, a vingança era doce – a propósito se puder me explicar como isso funciona... um dia é claro – ele deu uns dois passos para trás acuado e ela começou a gargalhar... era possível, rir e chorar ao mesmo tempo? Aparentemente sim...

—Muito engraçadinha – ele devolveu – você é terrível peste... estou quase arrependido de ter dito – ele sorriu – mas para seu conhecimento, ter bebês é algo que tenho em mente, faz parte do meu plano de família – ele admitiu... se transformando em um pássaro na sua frente e voando até o parapeito da torre – guarde isso, é o nosso segredo ok? – ele disse antes de levantar voo... e Shara o viu sumir na imensidão do céu azul... Antony teria uma segunda chance, e ela sorriu ainda mais já que Catie também teria... seus olhos desceram até a extensão do lago negro a sua frente, Shara o analisou por um momento, tão calmo, mas ao mesmo tempo aquele era o lar da Hidra... aquela criatura mitológica, que assim como Antony havia sido amaldiçoada no mesmo dia, vindo a ser o monstro que era... Shara havia sido responsável por cegá-la desde a noite na floresta proibida e dessa forma ela não saia mais da água, estava ainda mais vulnerável na terra, mas ela ainda estava lá... e se Antony teria uma segunda chance... Shara enrijeceu... sim Antony teria uma segunda chance assim que o ritual fosse feito, mas o que aconteceria com a Hidra? Ela piscou algumas vezes, ela nunca havia pensado nisso... ela não tinha uma resposta para essa pergunta.

—--

O jantar no grande salão estava mais do que fabuloso essa noite, haviam iguarias que Shara nunca sequer tinha visto ou provado, era um verdadeiro banquete, digno de uma festa, e sim era exatamente essa a sensação que pairava no ar, como se o diretor estivesse oferecendo algum tipo de festa ali e Shara logo compreendeu a razão pelo qual eles estavam comemorando, haviam de fato bons motivos, afinal os alunos petrificados estavam de volta, Colin Creevey... acenou para ela assim que a viu olhar, Justino e Hermione também estavam lá, cada qual em suas mesas, já o zelador Flich segurava sua gata como quem segurasse um tesouro muito precioso... prova de que a poção com mandrágoras havia finalmente sido concluída com bastante sucesso, sua amiga Gina, embora não estivesse sido petrificada, também estava presente, ela parecia muito bem e lhe lançou um olhar genuíno de desculpas e preocupação que Shara retribuiu com um amplo sorriso... a mesa dos professores também estava completa e assim que a professora Mcgonagall sinalizou o diretor se levantou para dar algumas palavras.

—Caros alunos, é com grande gratidão e admiração que me dirijo a todos vocês neste momento de celebração. Nos últimos dias, nossa comunidade enfrentou desafios sombrios, porém, mesmo diante das trevas, a luz da coragem e da bondade brilhou intensamente - ele disse e todos os olhares estavam sobre ele - Gostaria de expressar minha mais profunda gratidão ao Professor Severo Snape e à Professora Sprout pelo trabalho incansável na preparação da poção de mandrágoras, que trouxe de volta nossos alunos petrificados. Seus esforços e dedicação não passam despercebidos - ele agradeceu sendo seguido de aplausos - Agradeço também a Madame Pomfrey e toda a sua equipe por cuidarem dos alunos afetados com compaixão e habilidade excepcionais. Seu cuidado e dedicação são verdadeiramente admiráveis - novamente aplausos - Em momentos como este, é importante lembrarmos que, mesmo nas circunstâncias mais sombrias, o lado da luz sempre prevalece e para comemorar nossa vitória sobre as trevas, tenho o imenso prazer de anunciar que as provas finais desse ano letivo estão todas canceladas. Em vez disso, convido todos vocês a se reunirem nos próximos dias para uma celebração da vida, da amizade e da esperança - E assim que aquilo foi dito, todos os alunos comemoraram de forma extravagante... quer dizer, talvez nem todos, Hermione e Beta não pareciam muito satisfeitas com aquele desfecho sobre as provas finais e Shara não pode deixar de sorrir - Que este momento sirva como um lembrete de que, juntos, somos mais fortes e que, mesmo nos momentos mais difíceis, há sempre uma luz no fim do túnel, assim como também uma espada no chapéu – ele piscou para Harry - Agradeço a todos vocês por sua coragem, determinação e espírito de comunidade. Que Hogwarts continue sendo um farol de esperança e inspiração para todos nós – ele havia concluído, e quase como se aquilo tivesse sido combinado as grandes portas do salão principal foram abertas revelando um meio gigante que preencheu grande parte do lugar.

—Peço desculpas pelo atraso – ele pediu – uma maldita ave chamada Errol, estava toda atrapalhada com a minha carta de soltura – ele disse entrando e parando em frente a Harry, Rony e Hermione... aquela era a coruja da família Weasley, Shara já havia ouvido falar sobre ela.

—Eu só queria dizer que se não fossem vocês, Harry, Rony... Hermione – ele se virou para procurar mais alguém, até que seus olhos se encontraram com os dela, e nada mais precisava ser dito ali, Shara assentiu - eu ainda estaria vocês sabem onde... então, eu só queria dizer obrigado - ele estava emocionado.

—Hogwarts não existe sem você, Hagrid – Harry disse o abraçando pela cintura e sendo consequentemente abraçado pelos alunos mais próximos, enquanto todos os outros o aplaudiam, assim como também os professores e o próprio diretor... Shara fez questão de aplaudi-lo de pé, e por mais incrível que parecesse, quase toda a casa Sonserina seguiu o seu exemplo... poucos foram aqueles que não estavam comemorando, Draco... Shara notou foi um deles, e por um breve momento seus olhares se cruzaram, sendo que ele a encarou com certa superioridade, aquilo foi muito diferente de como costumava ser e naquele momento ela conseguiu enxergar nele o garoto esnome e egoísta que Harry tanto falava... contudo aquilo não deveria importar e Shara se concentrou no que de fato era importante, o retorno de Hagrid... sim Harry tinha razão sobre ele, Hagrid era a essência daquela escola, e portanto era digno de todos os aplausos possíveis… e foi assim que pela primeira vez Shara presenciou um funcionário sendo ovacionado de forma tão marcante, sim Hagrid merecia… já que estava virando uma página e escrevendo uma nova história a partir dali, aquela também era a sua segunda chance… uma chance de ser feliz, sem o peso e as acusações do seu passado e pensar nisso fez com que ela o aplaudisse ainda mais, afinal todos deveriam ter o direito de ter uma segunda chance, assim como ele... Antony e Catie.

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Depois de tantos capítulos difíceis, as coisas parecem mesmo se acertar... E aqui começamos com um momento justo e verdadeiro entre velhos amigos, gosto de escrever Minerva e Snape juntos (estava sentindo falta de uma interação só deles)

E continuamos com um momento de Shara e Antony, com uma leve dose de humor (afinal escrever pela ótica de Antony é contagiante demais... E a sensação que tenho é que mesmo vivendo tantos anos, ele vive uma eterna quinta série hahaha) e temos também um dos desfechos mais esperados dessa história que é um final feliz pra ele ou uma segunda chance, e as intenções dele com Catie, encheram meus olhos de lágrimas, confesso, eles merecem

E pra encerrar temos a cena que faltava, o retorno do guarda caças mais amado do mundo bruxo e nos proporcionando o desfecho original do cânon, encerrando a Câmara Secreta... Falta tão pouco agora (calma ainda não acabou) .

Obrigada a todos que estão acompanhando!!!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Destinos Improváveis" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.