Backdoor escrita por llRize San


Capítulo 4
Um herói incomum




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(Um ano antes da Revolução das Máquinas) 

 

… Seungmin …

 

Seungmin reuniu toda a sua paciência, forçando um sorriso simpático para o cliente indeciso que examinava atentamente o cardápio. Este se encontrava em uma encruzilhada entre um Frappuccino e um Machiatto.

— Senhor, eu posso sugerir nossa especialidade da casa. Uma bebida refrescante para esse dia quente. O que…

— Será que você não está vendo que eu estou escolhendo? — Disse o cliente de forma ríspida. A fila aumentava ainda mais. 

— Senhor, precisamos atender os demais clientes. 

— Que péssimo atendimento, esse lugar é uma merda. Vou postar nas minhas redes sociais. 

Seungmin o ignorou e passou para o próximo cliente da fila, pois os que aguardavam começaram a expressar sua impaciência.

— Vai mesmo me ignorar? 

— Não estou te ignorando, Senhor. Estou te dando tempo pra escolher o que quer, enquanto isso irei atender os outros clientes. Quando decidir, volto para atendê-lo. 

O homem lançou um olhar furioso, evitando criar um escândalo sabendo que seria repudiado pelos outros clientes na fila, que o encaravam com irritação. Ao receber seu Frappuccino, deliberadamente jogou o líquido em Seungmin, que considerou retaliar, mas optou pela prudência, chamando o segurança da cafeteria para remover o cliente indisciplinado. A máxima "o cliente sempre tem razão" tem suas exceções, especialmente quando o cliente se comporta como um completo idiota. 

Seungmin resistiu à tentação de uma vingança épica. Poderia facilmente arruinar a vida do homem com um simples clique de seu mouse, graças às suas habilidades no mundo cibernético. No entanto, ele fez um juramento pessoal de nunca usar seus "poderes" para questões banais. Respirando fundo, ele tirou o avental sujo, pegou um rodo e um pano, decidindo limpar o chão manchado de Frappuccino.

No caminho para casa, Seungmin ansiava por um longo banho, uma boa xícara de café e o início do seu "segundo emprego" – na verdade, mais um hobby peculiar. Ele se dedicava a hackear empresas e políticos corruptos, expondo informações ocultas ao mundo. Utilizava suas habilidades para revelar os bastidores sujos das operações. Durante o dia, era simplesmente Seungmin, um barista discreto que não chamava a atenção. À noite, transformava-se em Minnie Mitnick, o hacker mais procurado do mundo. O emprego na cafeteria servia como um disfarce perfeito para sua vida noturna.

Naquela noite, algo incomum capturou a atenção de Seungmin. Ao observar as telas de seus notebooks, percebeu um estranho ponto de energia que destoava do comum. Dedicou horas a estudar aquele fenômeno, chegando à conclusão de que algo trágico estava prestes a acontecer. Ao decodificar códigos, alcançou uma conclusão surreal que, inicialmente, o fez rir diante da aparente impossibilidade do que descobrira.

— As máquinas vão dominar o mundo — Seungmin riu ao se lembrar dessa frase que seu mentor, um habilidoso hacker, usava quando era vivo — Pois é Mestre, parece que suas previsões estavam certas. 

Seungmin foi o único humano que descobriu o que estava prestes a acontecer. Tentou contatar o governo, expor o que estava ocorrendo, criou contas fictícias para divulgar os objetivos das máquinas, mas todos o trataram como um louco, ignorando suas tentativas de alerta. Cansado de tentar provar a iminência do perigo, decidiu aguardar, observando qual seria o destino da sociedade diante do iminente evento.

Tomou as devidas providências para se proteger das máquinas, incluindo a remoção do chip de sua mão, contornando a situação para aparentar que ainda o utilizava. Durante aquele longo ano, continuou a levar uma vida aparentemente normal, sem se preocupar demasiadamente com o destino da raça humana. Na verdade, ele já estava cansado daquele mundo.

Quando a revolução começou, Seungmin já estava preparado. Embora não soubesse exatamente o que fazer ou para onde ir, decidiu que, por enquanto, o melhor era afastar-se o máximo possível de qualquer tecnologia. Agora, era praticamente impossível hackear o sistema, pois uma inteligência artificial chamada Zero Um repelia todos os seus ataques, mesmo que tentasse.

Pegou o básico para sobreviver e seguiu pela estrada antes que tudo virasse um caos completo. Seu destino era uma casinha abandonada no meio do nada. Justo ele teria que se adaptar a viver sem energia, como os humanos pré-históricos, segundo ele. Estava pronto para isso, ou pelo menos tentou estar pronto.

Viver naquela casa, dependendo do fogão a lenha e velas, não era tarefa fácil. As noites tornavam-se longas na ausência de qualquer tecnologia para se distrair, forçando-o a retomar a prática de ler livros físicos, como seus avós faziam. Racionou a comida para que durasse pelo menos um mês; após esse período, teria que se virar para encontrar algo mais. Felizmente, um poço nos fundos da casa providenciava água potável. Incerto sobre o futuro, imaginou que se transformaria em um solitário andarilho.

….

A cama desconfortável e o quarto frio faziam com que Seungmin se virasse incessantemente em busca de calor. Diante da situação, decidiu acender uma fogueira no meio do quarto, enrolando-se em sua coberta para combater o frio. Quase pegava no sono quando percebeu o som de um motor de carro se aproximando. Seu coração acelerou instantaneamente, pois carros eram indícios de inteligência artificial; os veículos manuais já haviam sido extintos há décadas. Todos os carros agora eram automáticos, sob controle da I.A. 01.

As luzes do farol inundaram o cômodo, alertando Seungmin, que rapidamente reuniu suas coisas e correu para fora da casa. Sentia a urgência de escapar, pois ser capturado significaria tornar-se uma cobaia nos planos da I.A. Ao tentar sair pelas portas dos fundos, foi surpreendido quando um homem enorme o derrubou no chão. Lutou com todas as suas forças, mas era inútil diante do tamanho do agressor e dos dois comparsas armados que o acompanhavam.

— O que vocês querem? — Seungmin tentou se soltar. 

— Não foi fácil te achar. Se isolou em um lugar longe de qualquer tecnologia, mesmo assim te achamos. Vamos te levar pra cidade.

— Pra que? O que vocês querem comigo? Vocês são humanos, por que estão fazendo isso? 

— Somos humanos mas não somos idiotas e estamos servindo o lado forte. É o começo da evolução humana.

— Vocês são loucos? Pelo menos tem a mínima noção do que eles querem fazer? 

— São máquinas, não são humanos, nós confiamos cegamente neles. É o governo que precisamos. 

Seungmin balançou a cabeça negativamente, reconhecendo que discutir com pessoas politicamente cegas era uma perda de tempo. Sem cerimônias, foi amarrado, amordaçado e atirado no porta-malas do carro. Durante todo o trajeto, enfrentou momentos angustiantes, confinado naquele pequeno espaço, sem ter a mínima ideia de seu destino. O desespero tomou conta; seu coração acelerou, e uma ansiedade descontrolada o desestabilizou. Seungmin, geralmente uma pessoa fria que nunca demonstrava reações ou ansiedade, foi atingido tão intensamente pelo choque que não sabia como lidar com aquela situação. Lágrimas começaram a escorrer descontroladamente de seus olhos. Estar em um espaço confinado, com as mãos e pés amarrados e a boca amordaçada, tornou tudo ainda mais aterrorizante do que já era. Seungmin, o único humano que suspeitava dos planos de 01, definitivamente não desejava esse destino.

O carro finalmente parou, e o tempo parecia uma eternidade enquanto Seungmin permanecia preso ali. Ele tentou ficar em silêncio por um momento para perceber qualquer movimento externo; parecia que seus captores haviam saído. Esta era sua oportunidade de chamar a atenção de alguma alma caridosa que pudesse estar passando por ali. Assim, começou a se debater, fazendo o máximo de barulho possível.

O porta-malas se abriu, e Seungmin experimentou uma sensação diferente de tudo o que já havia sentido. Uma onda de liberdade e esperança o envolveu. Diante dele estava um jovem, imóvel, encarando-o com surpresa e empatia. Intuitivamente, Seungmin deduziu que esse rapaz não estava alinhado com os outros. Desesperadamente, o jovem tirou uma pequena faca do bolso e começou a cortar as cordas que amarravam as mãos de Seungmin.

— Está tudo bem agora — Disse o rapaz — Não vou te machucar, mas precisamos sair daqui, logo aqueles homens vão voltar… a propósito, meu nome é Changbin. 

Seungmin estava tomado pelo desespero, seus sentimentos em conflito, desejava chorar e abraçar o rapaz diante dele, mas ao mesmo tempo seu corpo relutava em demonstrar fraqueza. Sentiu-se tonto, como se não tivesse mais controle sobre si. Sua visão foi ficando turva, e a voz do rapaz tornava-se cada vez mais distante. Exausto de tanto chorar no porta-malas, acabou desmaiando. Changbin agiu instintivamente, pegando-o com cuidado e levando-o para um lugar seguro.


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Notas finais do capítulo

Bin salvando o Minnie :3
é sobre isso :)



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