Lee Know observou a imponente muralha diante de seus olhos e soltou um suspiro de perplexidade. O aspecto mais intrigante era a ausência de um portão visível, e, com base nas informações que tinham coletado, aquele local aparentemente servia como entrada.

— Como vamos entrar? É humanamente impossível escalar essa muralha. 

— Escalar? — Seungmin deu risada. 

— Tem uma ideia melhor? — Lee Know revirou os olhos. 

— Só precisamos achar uma abertura, alguma porta. Creio que deva ter em algum lugar. 

— E se acharmos? Vamos abrir como? Não temos uma chave.

— Eu tenho meu kit especial para abrir portas — Disse Felix, orgulhoso — Modéstia a parte, consigo abrir qualquer porta. 

— Agradeço seus conhecimentos em furtos, mas isso não será necessário. Estamos falando de uma tecnologia avançada e creio que os acessos dessa cidade funcione de forma diferente. Por isso eu trouxe isso — Seungmin pegou um notebook na mochila — Obviamente eu não estava conseguindo acessar a internet, não temos mais uma internet, mas Zero Um tem uma forma de se conectar com o mundo e eu consegui acessar a rede que ele criou. Claro que precisamos ser rápidos, a bateria não vai durar a vida toda. 

— Você é incrível! — Disse Changbin. 

— E você vai fazer o que com internet? Atualizar seu Instagram? — Felix revirou os olhos. 

— Ah claro, preciso postar uma selfie num cenário pós apocalíptico pra um total de zero pessoas ver, já que ninguém mais tem acesso a internet — Seungmin retrucou. 

— Sem brigas — Lee Know interferiu — Temos que tentar entrar nessa cidade. 

— É isso o que vou fazer. Posso colocar todos lá dentro, mas não sei se conseguiremos sair.

— Vamos entrar numa cidade dominada por andróides, sem nenhum plano? — Perguntou Bang Chan, preocupado. 

— Tínhamos um plano até descobrirmos que o meu noivo não era exatamente o meu noivo. Zero Um sabe de todos os nossos planos. O jeito é pegá-lo desprevenido. 

— Ele literalmente está nos esperando, não tem como pegá-lo desprevenido — Disse Felix. 

— Mas nós temos Seungmin. Zero Um o subestima, e isso é ótimo, temos um trunfo na manga. 

— Lee Know, entendo que Seungmin seja um grande hacker, mas um humano contra uma máquina, é loucura. 

— Felix, não entendo porque tanta incredulidade no nosso Seungmin. 

— Inveja — Seungmin beijou o próprio ombro. 

— Inveja do que? — Felix cerrou os olhos. 

— Poderia fazer uma lista extensa, mas creio que seja porque eu conseguia roubar qualquer empresa mesmo estando do outro lado do mundo, sem sair do conforto do meu quarto. 

— Grande coisa, na hora do vamo ver você não consegue nem usar uma arma. 

— Vocês não vão começar de novo, né? — Lee Know interrompeu.

— Não, sou adulto o suficiente pra não cair na provocação dele — Disse Seungmin e Felix o imitou, fazendo careta — Como eu estava dizendo. Tenho um plano, estive trabalhando nisso durante todo o percurso até aqui. Máquinas são máquinas, não importa sua magnitude. Zero Um tem pontos fracos, usaremos isso a nosso favor. 

— Como faremos isso? — Perguntou Bang Chan. 

— Com isso — Seungmin apontou para o Notebook — Como eu tinha dito antes, tenho um plano. Consegui hackear a planta de toda cidade e sei onde estão as câmeras. Tenho uma noção de onde Hyunjin e o verdadeiro Han estão, assim como as irmãs de Bang Chan. 

— E qual é seu plano? — Perguntou Changbin. 

— Já conversei com Lee Know sobre isso e creio que temos uma chance de conseguir resgatar todos e sair ilesos, ao menos esse é o plano, né. Vou explicar no caminho, iremos entrar na cidade pelos dutos, assim evitaremos as câmeras da entrada. 

Lee Know fez um sinal afirmativo e todos se prepararam para entrar na cidade. 

A entrada para o esgoto estava longe de ser convidativa; o local era estreito e úmido, com as paredes revestidas de lodo, emanando um odor desagradável. Com passos cautelosos, evitavam escorregar nas águas sujas que se espalhavam pelo chão. Ratos e baratas compartilhavam o espaço com eles, correndo freneticamente em todas as direções.

Seungmin escorregou momentaneamente, mas Changbin conseguiu segurá-lo a tempo. Trocaram olhares e sorrisos, como se estivessem em um local agradável e belo, em vez do ambiente sujo e apertado em que se encontravam.

Ao chegarem ao final do túnel, avistaram a luz proveniente da cidade. Enquanto seus corações se encheram de esperança, uma inquietante mistura de ansiedade e medo também cresceu dentro deles, pois o que os aguardava permanecia incerto.

Eles empurraram as grades que bloqueavam a saída do esgoto e, ao emergirem, seus olhos se arregalaram de admiração. Antes de se aventurarem por qualquer lugar, buscaram um local seguro para fazer uma rápida exploração da região. A cidade diante deles era verdadeiramente surpreendente.

Era uma cidade que aparentemente beirava a perfeição. Tudo era limpo, com uma tonalidade branca predominante e uma aura de tecnologia que contrastava totalmente com o mundo que conheciam, mesmo antes da Revolução das Máquinas. A cidade possuía uma arquitetura diversificada, com prédios, casas e mansões impressionantes, além de comércios modernos. Os carros que transitavam pelas ruas eram elétricos e não poluíam, muitos deles nem tinham motoristas, e mesmo assim seguiam de maneira organizada e ordeira. As ruas estavam livres de lixo, e o ar parecia mais puro.

Entretanto, não era apenas a tecnologia que chamava a atenção. Perceberam árvores que adornavam as ruas e praças repletas de flores diversas. Zero Um havia tomado o cuidado de preservar a fauna e a flora da humanidade, tanto através das árvores na cidade quanto das reservas naturais que ele mantinha, incluindo a Amazônia, agora governada e preservada para a biodiversidade. Era uma visão que os deixava perplexos diante da harmonia entre avanço tecnológico e natureza.

Enquanto observavam as pessoas circulando pelas ruas, ficaram em dúvida se eram de fato humanos ou robôs, como o falso Han Jisung, que na verdade era Zero Um. Todos à vista pareciam extremamente humanos, cumprimentando-se e trocando breves palavras. Alguns vestiam trajes sociais, como ternos e gravatas, enquanto outros se dedicavam a atividades como corrida ou caminhada. Alguns passeavam com seus cães, e todos agiam de forma completamente natural.

No entanto, uma observação mais atenta revelava a verdade: eles eram, na verdade, andróides programados para desempenhar suas tarefas de acordo com horários pré-determinados. Era uma ilusão de normalidade que escondia a realidade do domínio de Zero Um sobre a cidade.

— Assustador, não é? — Disse Seungmin para Changbin. 

— Eles não são humanos? 

— Não, não são, são todos robôs. Percebe como estão andando inertes, com suas vidas programadas? 

Changbin observou os robôs transitando de forma mecânica, esperando obedientemente o sinal abrir para atravessarem a rua. Pareciam estar hipnotizados por alguma força desconhecida, algo que os compeliria a seguir rigidamente sua programação. Eles pareciam devotados a um objetivo intangível que os impelia a continuar sua rotina.

— Ao meu ver parecem humanos. Era exatamente assim que nós vivíamos: Inertes, sendo guiados pelo capitalismo. Zero Um conseguiu clonar os humanos perfeitamente. 

Seungmin sorriu involuntariamente com o comentário de Changbin. 

— Sábias palavras. Você tem razão quanto a isso. Sempre fomos um pouco robôs. 

Eles se deslocaram furtivamente até um ponto determinado por Seungmin, onde ele alegou que estariam os "escolhidos". O edifício à frente era imponente, com sua estrutura de vidro espelhado, lembrando um hospital de alta classe. Por razões óbvias, optaram por entrar pela “porta dos fundos”. Seungmin, com habilidade e rapidez, conseguiu abrir a porta utilizando apenas comandos em seu notebook.

Ao adentrarem, encontraram uma sala pouco iluminada e vazia. Seungmin cuidadosamente verificou a ausência de câmeras de segurança, tornando o local mais seguro do que o exterior.

— Pra onde iremos agora? — Perguntou Lee Know. 

— Para o subsolo. Segundo a planta desse prédio, tem um outro prédio, só que invertido. Tem muitos andares aqui embaixo. Precisamos achar uma forma segura de descer sem sermos vistos. 

Todos interromperam suas conversas quando ouviram a maçaneta da porta girar lentamente. Felix sacou sua arma, Changbin fez o mesmo, Seungmin se escondeu atrás de Changbin e Lee Know se posicionou à frente de todos, preparado para enfrentar qualquer intruso.

Quando a porta finalmente se abriu, os olhos de todos se arregalaram em surpresa e espanto. Lee Know sentiu seu coração acelerar, enquanto o inesperado visitante diante deles deixava todos em alerta.

— Aonde vocês pensam que vão? — Perguntou Han Jisung ao abrir a porta e olhar para todos.