Hyunjin andava de um lado para o outro, apreensivo e com os braços cruzados. Precisava urgentemente falar com Jeongin, mas I.N ainda não tinha chegado. Quando viu o rosto de I.N no vidro da porta, seu coração se animou. Por mais que I.N fosse um andróide, saber que um humano, Jeongin, estava no comando dele era o que mais o alegrava. Fazia quase dois meses que não conversava com outro ser humano, e a perspectiva de ter uma conversa com Jeongin o enchia de esperança e alegria.

— Jeongin, por que você demorou tanto?

— Bom dia, Senhor Hwang. O que vamos fazer hoje? — Disse I.N com uma voz robótica. 

— Você tá de sacanagem né? — Hyunjin se aproximou para examinar I.N mais de perto. 

— Calma Hyunjin, não precisa se desesperar, ainda estou aqui — Jeongin tentou dar risada, mas o rosto de I.N ainda não era muito maleável. 

— Você quase me matou de susto. Descobriu alguma coisa?

— Sobre seu irmão? Só descobri que ele está vivo e está te procurando, vi um relatório no computador de uma das salas de comando, mas não consegui ler muita coisa porque chegaram três andróides na hora e precisei agir de forma indiferente como I.N agiria. 

— E o I.N? Ele ainda está aí? 

— Está, ele está comigo, ele é quem está permitindo que eu o controle. Não sei exatamente o porquê e nem como, mas I.N está se tornando parte de mim, ao menos é assim que sinto. É como se agora ele estivesse em minha mente, mas não é tão nítido, algumas vezes sinto que estou sonhando com ele, como se eu estivesse conversando comigo mesmo na frente de um espelho. É assustador e ao mesmo tempo incrível. 

— Isso é surreal. Nunca imaginei que a tecnologia fosse avançar tanto a esse ponto. 

— Ninguém imaginaria. Bem, sou a prova viva disso, meu corpo físico está em coma e estou controlando esse andróide com a mente. Então eu não duvido de mais nada dos planos de Zero Um. 

— Você conseguiu achar seu corpo? 

— Não, ainda não. Encontrei outras pessoas na mesma situação que eu, mas não encontrei o meu corpo — Jeongin tentou fazer um semblante triste — Bom, não parece, mas estou bem triste e preocupado nesse momento. 

Apesar da situação tensa e triste, Hyunjin sentiu vontade de rir diante das tentativas inúteis de Jeongin em demonstrar suas emoções pelas feições. Mesmo controlando um andróide, Jeongin estava se esforçando para mostrar empatia, mas suas expressões mecânicas e gestos desajeitados tornavam a cena um tanto cômica. Ainda assim, Hyunjin apreciava o esforço de seu novo amigo. 

— Nós vamos conseguir recuperar seu corpo. 

— De certa forma não é ruim ter um corpo jovem e indestrutível para sempre — Jeongin olhou para a própria mão — Não sinto dor alguma, mesmo se eu me machucar. 

— Não diga isso, não sabemos os efeitos desse experimento na mente humana. Todos queremos uma vida eterna e saudável, mas a que custo? Não sinto que isso vá acabar bem. Já parou para pensar que podemos nos tornar desprovidos de sentimentos com o tempo? 

— Hyunjin, isso já aconteceu antes mesmo de Zero Um dominar o mundo. Alguns humanos são ocos por dentro. 

…

À medida que os dias se passavam, Lee Know sentia-se cada vez mais incomodado, como se algo estivesse perturbando seu coração, mesmo sem saber exatamente o que era. A inquietação crescia dentro dele, como se uma parte de si estivesse clamando por algo que ainda não compreendia.

De forma estranha, Lee Know sentia que seu amor por Jisung estava esfriando. No entanto, ele sabia que não era uma questão de deixar de amá-lo, mas sim de perceber que Jisung não era mais o mesmo de antes. Essa mudança o incomodava de alguma forma, e ao olhar o horizonte, ele suspirou, percebendo que havia coisas muito mais preocupantes para enfrentar naquele momento. O mundo ao seu redor havia mudado drasticamente, e isso incluía não apenas o seu noivo, mas tudo o que os cercava.

Sentado no topo de uma ponte abandonada, Lee Know observava o horizonte. Naquele local, que um dia já foi movimentado por milhares de carros em velocidade com seus motoristas apressados, agora reinava o silêncio e a solidão. A estrada outrora movimentada estava coberta por musgo, e os carros abandonados eram testemunhas mudas de um passado distante.

Ficou parado observando a paisagem desolada da cidade pós-apocalíptica estendendo-se diante dele. Ruas vazias, prédios em ruínas, escombros espalhados e uma atmosfera de desesperança dominavam o cenário. O silêncio era perturbador, interrompido apenas pelo ocasional uivo do vento ou pelos estalos de destroços se movendo ao sabor do tempo. O céu cinzento e carregado de nuvens acrescentava uma aura sombria à paisagem desolada. 

Lee Know sentiu um misto de melancolia e inquietação ao testemunhar a destruição e a ausência de vida que cercavam aquele lugar outrora vibrante e cheio de atividades. Era um lembrete cruel das consequências dos planos bem sucedidos de Zero Um, e a pergunta inevitável ecoava em sua mente: como sobreviver e reconstruir em meio a tanta desolação?

Foi tirado de seu devaneio quando Zero Um se sentou ao seu lado. 

— Hannie? — Se assustou, ele chegou tão sorrateiramente que não percebeu sua presença. Essa era uma das atitudes de Jisung que Lee Know estranhava. Han sempre fora muito carinhoso e sempre chegava o abraçando onde quer que estivessem, com direito a beijinhos no pescoço. Han não agia mais de tal forma, por mais que se demonstrasse disposto a ajudar e a lhe dar atenção, sentia que o coração de Jisung não estava mais lá. 

— Vim ver como você está… amor — Disse Zero Um com um sorriso — Percebi que você anda meio afastado do grupo e também de mim. Fiz algo de errado? 

— Eu não sei — Lee Know suspirou — Está tudo tão confuso. 

— O que está confuso? 

— Tudo. Toda essa situação. Essas incertezas se vou conseguir salvar ou não meu irmão.

— Seu irmão está bem. 

— Como você tem tanta certeza disso? 

— Eu sinto. 

Lee Know ficou em silêncio por alguns minutos, vendo os pássaros sobrevoar ao longe a cidade fantasma à frente. 

— Hannie. Você lembra o dia em que eu te pedi em namoro? 

— Foi no dia 27 de Abril de 2019, às 16:39. O dia estava quente, porém agradável, faziam 28° e…

— Como você se sentiu nesse dia? — Lee Know perguntou sem olhar para ele, todas as informações estavam corretas, mas algo faltava. 

— Como me senti? — Zero Um procurou em seu banco de dados como um humano se sente quando é pedido em namoro — Feliz, me senti feliz. 

— Sabe. Quando você retornou para mim, minha felicidade foi tão grande que ignorei meus instintos. Tudo o que eu mais queria era ter te encontrado e quando consegui foi como se meu coração se preenchesse de vida novamente. Mas eu sinto que tudo isso é uma ilusão. 

— Não entendo onde quer chegar — Zero Um de fato não conseguia ler os sentimentos de Lee Know, ele parecia emocionado, e tinha um leve sorriso no rosto, mas era um sorriso indecifrável — Está tudo bem? 

— Quem é você? E o que você fez com o meu Hannie?