Bumerangue escrita por MaryDuda2000


Capítulo 5
Quando nos perdoamos


Notas iniciais do capítulo

Oi, gente! Tudo bom?
Espero que sim! Estamos chegando ao final dessa história. Curiosos para saber no que vai dar?
Desejo a vocês uma boa leitura.



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Abriram os olhos assustados.

O que tinha acontecido? Um acidente? Onde estavam? Cadê a caminhonete?

Olhando ao redor, não demorou para que reconhecessem a antiga sala de estar, onde tinham maratonado muitos animes e assistido a tantos filmes. A casa dos Uzumaki em Konoha, para a qual fugiram quando a chuva despencou naquele dia que se conheceram.

Estavam sentados no sofá. Ao lado, sentada a uma cadeira que não costumava estar ali, tinha uma mulher. Seu cabelo preto e extremamente liso caía solto sobre os ombros e trajava um vestido branco de gola alta que cobriam seus braços e pés. Seu rosto parecia sereno, como se aguardasse pacientemente que notassem sua presença.

— Olá?! — Naruto quem quebrou o silêncio.

— Oi! — ela sorriu. — Sejam bem-vindos!

— Oi... Onde estamos? — foi a vez de Sasuke.

— Na sala de espera. — a mulher respondeu. — Espero que esteja tudo de acordo. Gosto de criar um ambiente acolhedor nessas horas. O processo por si só tende a ser conturbado.

— Que processo? — Naruto questionou, olhando ao redor.

— A morte, seu bobo.

— Nós morremos? — o loiro indagou, surpreso.

— Não. — a mulher esclareceu. — Ainda não.

— O que aconteceu? — Sasuke perguntou, mesmo já tendo ideia da resposta.

— Vocês bateram com o carro. Estão no aguardo de ajuda especializada no mundo real.

— Então quer dizer que vamos ficar aqui enquanto isso? — Naruto perguntou. — Quanto tempo? Alguma chance de voltarmos? Hoje é o casamento dos nossos filhos. Não podemos morrer.

A mulher deu um sorriso ladino.

— Todos podem morrer, Naruto Uzumaki. Todos os dias, a qualquer hora. O tempo que levará para isso, a partir de agora, dependerá de vocês dois. — ela enfatizou a última informação. — Prazer, sou a ceifeira.

Naruto suspirou, recostando-se no sofá. Então, pensou. Sempre tentou viver sem arrependimentos para nunca temer a morte. No entanto, naquele momento, temeu.

Como se ouvisse seus pensamentos, a mulher recobrou a palavra.

— Sabe, muitas pessoas morrem cheias de arrependimentos. É normal. A vida não é fácil. Bela e cruel... Só que a morte também é assim. Muitas pessoas veem a morte como uma libertação. Dever cumprido, passagem para outros planos.

A ceifeira deu uma breve pausa. Seus olhos experientes deslizavam entre os dois, analisando-os em detalhes, capazes de talvez enxergarem suas almas.

— As duas são irmãs e andam de mãos dadas, mas a vida pode ser muito mais sádica. Por outro lado, a morte permite um descanso e alçar de um possível recomeço. Acredite, dentre as duas, a morte é muito mais sensível... E não digo isso por ela ser minha chefe. — a ceifeira suspirou, arrumando a postura. — Vi o que vos aconteceu. Uma história de amor tão linda e tão triste. Só mesmo a vida para uni-los assim de novo. Não sei se por pena ou maldade.

Sasuke encarava as próprias mãos. Pela primeira vez desde que reencontrou Naruto, sua mente estava silenciosa. Verdadeiramente quieta. E isso parecia desesperador.

— Vim fazer meu trabalho, mas temos algum tempo. Sabe quando dizem que a vida passou diante de seus olhos? Não é de todo errado. Algumas vezes podemos aproveitar esse momento antes de decidir quais serão seus destinos.

— Como assim? — o Uchiha enfim se pronunciou. — Diz no sentido céu ou inferno?

— Céu, inferno, purgatório, reencarnação. Vida ou morte... Tudo depende de como as coisas vão funcionar aqui. — a ceifeira esclareceu. — Está tudo a cargo de vocês e o tempo aqui é bem relativo, mas, claro, sem pressão.

Os dois se encararam.

Vendo Naruto naquele momento, Sasuke encontrou um pouco daquele garoto que sempre fazia cara de arrependido quando desobedecia à mãe e acabava machucado por alguma estripulia. Depois repetia o processo. Todavia, também via um homem que cresceu bem e agora tinha uma família. Que agora faria, mesmo que de maneira inusitada, parte da sua família.

Observando Sasuke, o loiro sorriu. Apesar dos sinais da idade, o Uchiha não parecia ter mudado. Continuava um cara bonito e chamativo. Trazia a mesma expressão de quando o abordou no parquinho. Perdido e levemente confuso. Pensou nos sorrisos que vieram depois, nas coisas divertidas que viveram, na amizade que evoluiu para algo mais... Um amor que quase os destruiu. E depois de vinte e cinco anos, seu melhor amigo estava de volta a sua vida e Naruto desejou mais que tudo poder ver aquele sorriso de novo.

— Acho que seria melhor sermos mais rápidos. Temos claramente um amor mal resolvido aqui e essas coisas costumam levar tempo. Parece que vinte e cinco anos afastados não serviu, então... Não seria melhor tirar o band-aid de uma vez e ver se a ferida cicatrizou? — a ceifeira disse. — Que tal começarmos você, senhor Uzumaki?

— Por que eu?

— Porque você foi omisso. — a mulher disparou. — Esse foi o peso que carregou consigo quando decidiu por fim no romance dos dois, lembra?! Depois que conversou com Itachi e viu que Sasuke definhava por conta da promessa que veio da sua ideia de intercâmbio. Acho que seria bom expor isso ao Sasuke. Você só foi embora e nunca justificou nada.

Foi como se Naruto tivesse sido atropelado. Escutar aquilo doía. Uma dor que soava quase hipócrita. Ele merecia isso.

Naquele momento, Sasuke sentiu um aperto no peito. Sentia-se numa sessão de terapia, sendo desnudado e sem saber como reagir. Estavam tocando em seu íntimo, em coisas que ele mesmo não mexia há muito tempo por medo de como reagiria.

A ceifeira estalou os dedos e Naruto encolheu-se, gemendo de dor. Sua expressão denunciava que deveria ser algo intenso.

— Pare! O que você está fazendo? — Sasuke tentou intervir.

— Só um incentivo... Ele sabe. — foi tudo o que ela disse.

Naruto suspirou, sentando-se novamente assim que a dor passou. Respirou fundo e olhou para Sasuke.

— Todo tempo que passei nos Estados Unidos... Eu me esforcei tanto para ficar. Me prendi tanto a ideia de que isso era por nós que ignorei os sinais. Eu demorei para me acostumar com o fuso horário. Vivia exausto por conta dos estudos. Troquei inúmeras vezes de trabalhos de meio período. Aguentei piadas preconceituosas por ser estrangeiro. Tentei me virar como podia, aprender a falar e agir como eles, me adaptar e parecer que estava tudo bem. Estudei demais e me ferrei muito. Neji quem me ajudou em muita coisa, senão teria abandonado aquele intercâmbio em menos de seis meses. Talvez tivesse sido melhor assim. — deu uma risada sem graça. — Tudo porque pensei que era de fato a "terra da liberdade" e que eu precisava conseguir isso para nós. Sem contar que eu quem sugeri essa história toda de intercâmbio. Não podia dar para trás. Enquanto isso, você... Você estava em Tóquio, garantindo vaga na melhor universidade do país. Você tinha sua família perto e era muito mais inteligente que eu. Se eu desistisse, tinha medo de parecer fraco. De desistir de nós dois. E, quando voltei, vi o que tinha feito com você, com a gente... Eu me senti a pessoa mais idiota do mundo. Que na verdade eu tinha colocado você no bolso e pensado só em mim. Procurei Itachi para entender o que acontecia, o que você não me falava... Ele não me falou para terminar contigo. Só que eu sentia como se tivesse te empurrado no mar e dito para você me acompanhar, sendo que você não sabia nadar. Eu me senti tão horrível que achei que você não suportasse mais a minha presença. Que eu não merecia algo de bom de você. Então eu parti... Da forma mais covarde do mundo, eu fui embora.

Doía. Mesmo depois de tanto tempo, pensar naquela época ainda doía. Sasuke sentiu como se um buraco negro se abrisse novamente em seu peito.

Não notou quando tinha começado a chorar. As lágrimas simplesmente escorriam e deixavam sua visão turva.

Com Naruto não era diferente. Ele simplesmente não parecia lutar contra a enxurrada emocional que os envolvia.

— Continue! — a ceifeira ordenou.

O loiro limpou o rosto de maneira desajeitada.

— Eu voltei para os Estados Unidos, mas sem a menor vontade de estar lá. Me senti sem ter para onde ir. Então eu me coloquei no piloto automático. O tempo do intercâmbio acabou, mas eu e Neji fomos recomendados. Consegui uma vaga numa universidade e pensei que talvez fosse melhor me formar por lá, já que estava há tanto tempo longe e não sabia se conseguiria aqui no Japão. — suspirou, esfregando o rosto, como se precisasse de uma pausa antes de continuar. — Eu estava cursando arquitetura junto com Neji. Acho que acabei me apegando muito a ele já que era a pessoa mais próxima e dividíamos apartamento. A faculdade era bem cansativa, mas isso era bom porque me mantinha com a mente ocupada.

Naruto respirou fundo, como se arrumasse força para prosseguir.

— Até que recebi o convite do seu casamento. Foi tudo tão rápido. Eu não sabia o que fazer, então não fiz nada na hora. Fiquei em conflito interno o dia inteiro, todo dia. Só lembro que depois que acabei o último dia de provas, corri para casa, separei algumas roupas, peguei o passaporte e corri para o aeroporto. Só tinha voo que levasse para Kobe, então aceitei. Chegaria um dia antes. Dava tempo de pegar um trem e chegar a tempo em Tóquio. Viajei e assim que cheguei, peguei um ônibus que levava até a estação. Só que acabei pegando no sono e passei do ponto. Tive que voltar andando. Estava de noite e com maior cara de perdido... Era um alvo fácil. Acabei sendo assaltado. Levaram tudo que eu tinha e ainda ganhei uma facada de brinde.

Os olhos de Sasuke se arregalaram.

O loiro levantou um pouco a camisa, mostrando a cicatriz do ferimento.

— Por isso seus pais não foram no meu casamento. — Sasuke constatou, surpreso.

Naruto assentiu e continuou.

— Me encontraram algumas horas depois. Tinha perdido muito sangue e desmaiei. Precisei ser operado e recebi uma transfusão. Por sorte estava com o comprovante da passagem de avião no bolso. Tinha colocado o número de casa e conseguiram contatar os meus pais. Eles vieram assim que souberam do que aconteceu. Acordei quase um dia depois. Meus pais estavam desesperados. Nem sabiam que eu estava vindo. Falei que era uma surpresa para aparecer no seu casamento, o que não era de fato mentira. Depois que minha mãe me bateu, ela me perdoou. — acabou soltando outra risada fraca. — Hinata apareceu na manhã seguinte. Ela estava fazendo faculdade de enfermagem em Osaka e acabei dando a sorte de ter sido mandado para o mesmo hospital em que ela fazia estágio. Ela me contou que tinha ido ao casamento, que foi tudo muito bonito... E que Sakura estava grávida. Naquela hora, me senti o pior ser na face da Terra, a pessoa mais egoísta do mundo. Você estava seguindo em frente. Estava formando uma família e eu querendo reaparecer e destruir tudo. De novo, tudo seria culpa minha.

O Uzumaki suspirou. Parecia aliviado e exausto ao mesmo tempo por contar tudo aquilo, como se depois de vinte e cinco anos finalmente pudesse tirar esse peso das costas.

Sasuke prestou atenção em cada palavra, cada ação e expressão. Retocar aquele assunto era delicado, contudo mostrava-se cada vez mais necessário.

— Se te serve de consolo, não seria a pessoa mais egoísta do mundo. — o Uchiha se pronunciou. — Quando Sakura me avisou que tinha te convidado, eu meio que torci para que você aparecesse. Eu achei que tinha te superado e seguiria em frente, mas sonhei que você apareceria como num filme clichê e me impediria de casar. Diria que me amava e a gente fugiria para algum lugar longe de tudo.

Os dois riram. As lágrimas pareciam ter cessado. Era estranho dizer aquilo em voz alta. Ambos tinham reprimido aquela história por tantos anos.

— E como você e Hinata se tornaram um casal?

O loiro deu um sorriso saudosista.

— Ela me acompanhou durante todo processo de recuperação. Acolheu meus pais enquanto estavam na cidade e contatou Neji nos Estados Unidos. Como eu tinha perdido todos meus documentos, ia demorar muito para retornar e talvez já tivesse sido reprovado. Minha mãe não suportou a ideia de eu voltar para lá, então Neji deu início ao processo para que eu pudesse terminar a faculdade aqui. Hinata conhecia o reitor da universidade de Osaka e, graças ao intercâmbio com boas referências, consegui uma vaga. Meus pais venderam a casa em Konoha e se mudaram para cá também. Compraram o restaurante com as economias e começaram a viver disso.

Sasuke apenas assentiu. Não precisava de muito mais para entender o que tinha acontecido depois e o levou a formar uma família com Hinata.

— Eu não fazia ideia que tinha acontecido tudo isso.

— Não era para você saber. Eu pedi para meus pais que não contassem nada. Você estava construindo uma família. Não precisava que ninguém perturbasse sua paz depois de tudo... — Naruto suspirou. — Eu fiquei mal por um tempo. Pensando em como estive a ponto de bagunçar sua vida de novo indo ao casamento. Hinata percebeu e um dia eu acabei contando tudo. Falei que tínhamos nos apaixonado, que eu dei a ideia do intercâmbio, que foi a coisa mais burra do mundo e acabamos nos afastando... Que quase destruí seu recomeço.

— E como ela reagiu? — Sasuke perguntou. Não fazia ideia que mais alguém soubesse sobre seu namoro que não fosse os dois e Itachi.

— Ela não me julgou. Apenas disse que sentia muito. Hinata passou um ano em intercâmbio comigo e Neji nos Estados Unidos e acompanhou meu estado quando terminei nosso namoro. Vivia me lembrando de comer, me fazia companhia... Acho que naquela hora tudo fez sentido para ela. Nos tornamos amigos. E acho que eu tenho um histórico suspeito de acabar me envolvendo com meus melhores amigos. — Naruto deu um sorriso ladino. — As coisas foram acontecendo. Ela se formou. Eu também. Começamos a namorar.

— Você a ama? — a pergunta de Sasuke saiu antes que pudesse freá-la.

Seus olhos se encontraram aos azuis do homem a sua frente. Naquele instante, seu coração palpitou diferente. Acelerou como aquele Sasuke jovem e assustado que acabava de se dar conta de estar apaixonado pelo melhor amigo.

— Amo. — Naruto respondeu calmamente. — Um amor mais brando que o nosso. Enquanto o que eu sentia por você era chama, com a Hinata era calmaria. Com você, eu sentia que podia vencer o mundo e acabei tendo excesso de autoconfiança. Quando te perdi, acabei perdendo isso também. Com a Hinata... Ela me devolveu essa confiança. Ela me deu um chão, segurou a minha mão. Ela sabia das minhas feridas e me ajudou a curar aos poucos, ciente das cicatrizes. Jamais quis competir com o que você representava para mim. E, de repente, eu amava duas pessoas, algo que nunca pensei ser possível. Amava de duas maneiras diferentes e lindas. Você sempre esteve aqui comigo. — tocou o peito à altura do coração. — Eu sabia que sempre te amaria, mas não podia negar a chance que a vida estava me dando de amar de novo. Dessa vez, eu poderia fazer as coisas do jeito certo. Imagino que tenha sido assim com a Sakura também.

Sasuke balançou a cabeça e riu, secando as lágrimas que voltaram a escorrer. Era incrível como aquelas palavras derretiam seu coração mesmo depois de tanto tempo. Era fato: ainda amava Naruto.

— Sim e não.

— Continuem, por favor. — a ceifeira se pronunciou, interrompendo a breve pausa e fazendo-os lembrar de sua presença.

— Sim, desculpa. — Naruto prosseguiu. — Casamos um tempo depois e entramos com o pedido de adoção de Kawaki.

— Espera! Kawaki é adotado? — o Uchiha questionou.

— É. Ele tem vinte e seis anos, Sasuke. Não teria como ser nosso filho biológico. A gente ainda namorava na época e mesmo estando do outro lado do mundo eu jamais traí você.

Sasuke assentiu, sentindo-se envergonhado por pensar isso. Era um dos pensamentos que vieram a mente naquele parquinho, entre uma garrafa e outra de awamori. A ideia de que Naruto já tivesse se relacionando com Hinata antes de terminarem doía.

— Ele tinha sido um dos pacientes que Hinata cuidou. Teve hepatite muito novo, quando estava prestes a ser adotado. É um tratamento demorado e por isso o casal acabou desistindo. Preferiam uma criança saudável. Só que ele já era mais crescidinho. Aquela talvez tivesse sido sua única chance. Eu o conheci numa das visitas ao hospital e foi fácil gostar dele. Meus pais adoraram a ideia de serem avós, então ele foi muito bem recebido. Depois veio Boruto e Himawari para completar a família.

Um sorriso surgiu no rosto de Sasuke.

— Isso é lindo, Naruto. Você construiu bem uma família. Linda, por sinal. Fico feliz por você.

— Você também tem uma família linda. Sakura é uma médica de sucesso. Sarada é uma garota incrível e tão inteligente quanto o pai.

— Igualzinha ao pai... Às vezes isso me assusta, sabia?! — Sasuke riu. — Sarada foi a melhor coisa da minha vida. Ela foi uma luz depois de tanta escuridão. Depois que...

Ele soluçou. Sentiu o choro preso na garganta.

Naruto segurou sua mão.

— Sinto muito por Itachi.

Sasuke apertou a mão do loiro. Talvez aquele tenha sido o momento que mais sentiu falta de Naruto, há vinte e dois anos.

— Foi um ataque cardíaco. — a voz do Uchiha era emocionada. — Ele não tinha problemas de saúde. O médico disse que talvez fosse estresse. Ele estava se preparando pra deixar Konoha e vir morar comigo em Tóquio. Meu pai não gostou nada, porque queria que a família continuasse seu legado como parte do Conselho, mas... Itachi queria estar do meu lado. Ele e Sakura me deram muito apoio depois que você foi embora. Estávamos mais próximos que nunca quando ele partiu. E deixou eu, Sakura e Sarada para trás.

— Aposto que ele seria um tio incrível.

— Um pai incrível. — Sasuke corrigiu, fungando. — Ele e Sakura começaram a sair nas vezes que ele me visitava em Tóquio. Ela era um dos motivos de Itachi querer ir embora de Konoha. Ele morreu cerca de duas semanas depois que Sakura contou sobre a gravidez.

Naruto nunca foi bom em consolar alguém. Era muito mais simples quando eram jovens. Sempre arrumava algo para fazerem, fosse brincar, desenhar ou assistir TV. Ali se sentia com as mãos atadas.

— Meus pais não sabiam. Sakura ficou péssima. Tive muito medo que perdesse o bebê. Então nos apoiamos o tempo todo. Só me restava ela e o bebê que estava por vir. — Sasuke tentou limpar as lágrimas, mas logo desistiu. — Até que a barriga começou a crescer. Ser mãe solteira é difícil e Itachi era meu irmão. Eu decidi assumir a responsabilidade por ele. Seria o melhor pai que pudesse para Sarada. Pelo menos, eu tentei.

— Tenho certeza que conseguiu. — Naruto limpou as próprias lágrimas. — Ela está se tornando cada dia uma mulher mais incrível.

— Não tinha tanta certeza disso. Eu nem pude dar um irmãozinho como ela queria quando pequena. — riu, envergonhado. — Sakura e eu até tentamos. Só que não aconteceu. Depois ela foi promovida a chefe da cardiologia, ficou ainda mais ocupada, e Sarada pareceu esquecer a ideia. Também me dediquei demais ao trabalho por anos. Quando dei por mim, ela tinha crescido, foi para universidade e agora vai casar.

Os dois riram.

— Você conseguiu sim. A paternidade é complicada, mas é boa. Sarada tem muito orgulho de ser sua filha. — o loiro o tranquilizou. — Quanto a Sakura, você a ama?

Apesar de parecer uma pergunta indelicada, Naruto sentiu que precisava fazer, assim como tinha ocorrido anteriormente com ele.

— Amo. Não de maneira romântica, mas amo. Ela se tornou uma irmã para mim. Eu falei para ela que... Se um dia ela se apaixonasse de novo, eu estaria disposto a deixá-la ir. Não queria que ela vivesse presa a mim por conta do Itachi ou de Sarada. Ela merecia viver bem. Amar de novo. Isso não aconteceu ainda. Talvez ela seja como eu. Alguém que tenha dado seu coração a uma pessoa só, apesar dela não saber sobre nós dois.

Naruto encarou suas mãos dadas naquele instante e mordeu o lábio.

— Não que tenha algo de errado em seguir em frente. — Sasuke acrescentou. — Fico feliz que tenha seguido com sua vida e se apaixonado de novo.

— O amor é relativo para algumas pessoas. — a voz feminina interveio, trazendo-lhe de volta a realidade. — Existe o amor da sua vida e o amor para sua vida. Nem sempre ocorre de ser a mesma pessoa.

A ceifeira ficou de pé em frente a eles, fazendo sinal para que o fizessem também.

— Que oportuno! Tempo justinho. Agora está na hora de irmos.

— Vamos morrer? — Naruto perguntou.

— Logo saberão. — a ceifeira esticou a mão e um cajado surgiu. — Algo mais? Não? Ok! Gosto quando conseguimos resolver aqui as pendências. Se forem mesmo almas gêmeas, espero que possam ter mais sorte na próxima vida.

— Como assim "próxima vida"?

A pergunta de Sasuke ficou sem resposta.

Um clarão dominou tudo.

Depois, a escuridão.



☆ ☆ ☆

 

Sasuke despertou.

Demorou alguns minutos para que tudo fizesse sentido em sua mente. Estava dentro de uma ambulância. Vivo.

Suspirou aliviado, mas logo se preocupou.

Antes que saísse para procurar Naruto, o loiro apareceu a sua frente, tirando dois rolinhos de algodão das narinas.

— Você está bem? — Sasuke perguntou.

Naruto o puxou para o abraço.

— Me diz que não fui só eu que sonhei com aquilo?

— Não foi. — o Uchiha respondeu, devolvendo o abraço.

— Obrigada, ceifeira. Você é demais! — Naruto agradeceu num sussurro.

Sasuke sorriu. Tinha que concordar que essa experiência de quase morte tinha sido revitalizadora. Depois de toda tensão que sentiu nos últimos dias, depois de anos carregando um peso enorme no peito, sentia-se leve. Enfim, livre.

— Eu achei que a gente fosse morrer.

— Me perdoa, Sasuke. Por tudo! Eu fui um idiota.

— Ei... Naruto! — o homem riu, apertando o abraço. — Está tudo bem. Pode ficar tranquilo. Eu estou bem. Finalmente eu me sinto em paz quanto a tudo isso.

O loiro se afastou. Seus olhos estavam avermelhados pelas lágrimas, o que fez Sasuke rir. Estava sendo sincero. Pela primeira vez em muito tempo, realmente sentia-se bem.

Um carro parou próximo e Minato desceu preocupado.

— Misericórdia! Vocês estão bem? — questionou, avaliando os dois de cima a baixo.

— Aparentemente tudo bem. — o socorrista respondeu. — Só gostaria que os dois fossem ao hospital comigo fazer uma tomografia por precaução.

— Claro que vão. — Minato garantiu, empurrando ambos para dentro da ambulância. — Eu resolvo isso aqui.

Apesar de homens feitos, Naruto e Sasuke obedeceram como duas crianças.

O hospital para o qual foram levados era o mesmo em que Hinata trabalhava. Graças a isso, foram atendidos rapidamente e liberados devido ao casamento dos filhos, sem a necessidade de cumprirem o tempo esperado em observação.

Minato estava lá para buscá-los. Era meio da tarde, o que significava que teriam pouco tempo para chegarem a casa e se prepararem para cerimônia.

— Desculpe o prejuízo, pai.

— A caminhonete é antiga, mas tem seguro. — Minato deu um toque de conforto no ombro do filho, que estava no banco do carona. — O que importa é que os dois estão bem.

— As flores! — Sasuke lembrou-se.

— Também já foi resolvido. Recebi uma ligação da organizadora de eventos e parece que a floricultura conseguiu um transporte e entregou há cerca de uma hora.

Os dois suspiraram, aliviados, o que fez Minato rir.

— Vocês ainda me parecem crianças.

— Mamãe já sabe do acidente?

— Acho melhor contarmos isso só amanhã. — Minato sugeriu. — Kushina vai surtar quando souber e não acho que seja algo legal de falar durante um casamento. Sem contar que os dois estão bem.

Os três concordaram em manter o segredo até o dia seguinte. Não possuíam nenhum ferimento. O máximo que ocorreu foi um sangramento nasal por parte de Naruto e algumas dores no corpo devido a pressão do air bag.

— Enquanto estava esperando a seguradora da caminhonete, disseram como foi o acidente? — Sasuke perguntou.

— Parece que um idoso teve um mal súbito. — Minato explicou. — Perdeu a direção do carro e acabou avançando para cima de vocês. De acordo com as câmeras de segurança da lavandeira ao lado, Naruto desviou e bateu no poste. O air bag foi acionado e vocês saíram ilesos. O senhor acabou batendo no muro da lavandeira, mas não se feriu gravemente. Também foi resgatado e levado para o hospital.

— Ainda bem. — suspirou aliviado.

A casa de Kushina e Minato tinha sido escolhida para os rapazes se arrumarem. Boruto e Kawaki tinham passado na loja de roupas de casamento e pego os trajes de todos.

Devido ao atraso do acidente, tomaram banho e se arrumaram rapidamente. Pelo menos não havia tanto mistério ou produção em vestir um terno. Apenas alguma dificuldade que Naruto com a gravata, todavia Sasuke o ajudou.

Em pouco mais de uma hora, estavam todos prontos.

Os convidados foram pontuais e chegaram quase todos no horário.

Os fundos do restaurante era grande o bastante para realizar pequenas festas. Como Sarada e Kawaki optaram por uma cerimônia apenas para os mais próximos, serviu perfeitamente.

Algumas cadeiras estavam dispostas de ambos os lados, separadas por um caminho de velas rosadas e um tapete de pétalas de rosas.

No altar, Kawaki aguardava emocionado, ansioso e com enorme sorriso. Olhava apaixonado para a noiva que entrava ao som de "Photograph", do Ed Sheeran. Um passo de cada vez, seguindo calmamente a canção até que estivessem frente a frente.

Kawaki segurou sua mão e a beijou. Seus lábios se moveram num "eu te amo".

O casamento foi finalizado com uma grandiosa salva de palmas. As alianças tinham sido entregues por Himawari, que mesmo crescida para ser dama de honra, fez questão de participar desse momento tão importante para o irmão e sua nova irmã que amava tanto.

A festa ocorreu sem mais surpresas. Mikoto tinha chegado bem e disse que chorou muito com a cerimônia de tão linda que tinha sido. Abraçou Naruto e a família. Elogiou o quanto o destino estava sendo generoso com ela por permitir que visse a neta casar e a família crescer mesmo depois de ter sofrido perdas preciosas, estando viúva há cerca de dez anos. Sem contar Itachi, que, de acordo com ela, também celebrava esse momento de onde quer que estivesse.

Neji também marcou presença e parecia bastante surpreso com a coincidência de se reencontrarem depois de tantos anos e agora fazendo parte de uma mesma família. Agora todos eram uma só família. Ele tinha se casado com Tenten e possuía um filho chamado Hayato, da mesma idade de Himawari.

Conforme a cerimônia terminou, os noivos partiram para as núpcias e os convidados foram dispersando, chegava a hora de desmontar tudo. Claro que naquele horário o máximo que podiam fazer era retirar as cadeiras do relento para evitar qualquer chuva surpresa que danificasse os móveis.

Minato e Kushina já tinham se recolhido. Boruto acompanhou Himawari até a casa deles, que ficava no fim da rua. Hinata tentava acordar Sakura que tinha adormecido debruçada sobre uma das mesas após exagerar no vinho.

Naruto tinha acabado de fechar a porta que dava ao jardim dos fundos quando reparou Sasuke sentado numa mesa ao canto, olhando um dos álbuns que Kushina tinha pego em meio a cerimônia para mostrar a Mikoto as memórias deles crianças.

— Acho que essa foi da primeira vez que assistimos Harry Potter. — Naruto falou, sentando-se ao lado do Uchiha.

— Ficamos a semana inteira fazendo cartas para Hogwarts, tentando se inscrever para aulas de bruxaria. — Sasuke riu.

— Até hoje não recebi a minha carta. Acho que acabou se perdendo nos correios.

— As cartas eram trazidas por corujas, seu idiota.

— É verdade. A minha deve ter se perdido. — riu.

— Naruto, por acaso a ceifeira te fez alguma pergunta antes de você acordar?

O loiro o encarou e assentiu.

— Se eu pudesse mudar algo no passado, algo que evitasse tudo que passamos, se eu mudaria.

— Ela fez a mesma pergunta para mim. Acho que ela queria saber nossas respostas individuais antes de decidir nosso destino.

— O que você respondeu? — Naruto indagou.

— Nada. Eu não mudaria nada. — fez uma breve pausa. — Não foram tempos fáceis, mas... Se não fossem eles, não estaríamos aqui. Agora temos filhos e uma família linda. Pode não ter sido o que planejamos de início, mas a vida foi muito generosa com a gente.

— E a morte também. — o loiro ressaltou.

Sasuke assentiu, sorrindo com aquela experiência única.

— Eu também não mudaria. — Naruto sorriu. — Talvez na próxima vida?

— Talvez na próxima vida.

Por nossos filhos


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Notas finais do capítulo

O que vocês acharam?
Esse capítulo foi MUITO necessário. Depois de vinte e cinco anos, tanta coisa que eles viveram, guardaram e carregaram. Mágoa, culpa, desalento... Contudo, também tiveram alegrias, amizades, parcerias do recomeço... A vida continuou. E o sentimento, apesar de tudo, estava ali.
Como se tratava de uma conversa (ainda que em situação extrema), teve bastante diálogo. Acredito que, depois de tudo que aconteceu, eles precisavam mais que tudo dessa conversa, permitir-se serem vulneráveis, porém estavam com medo de retocar nessa ferida.
E deu tudo certo no final. Talvez não da maneira que esperassem, todavia eles conseguiram se resolver. Essa nova fase da vida deles exigia maturidade para isso, maturidade essa que não tinham quando jovens.
Espero de verdade que a história possa ter envolvido vocês assim como fez comigo, mesmo tendo um dedo cruel de realidade.
CALMA! Ainda não acabou.
Temos músicas do capítulo.
Temos a revelação da música tema dessa fic, que inspirou toda a trama.
E teremos também um epílogo com esses dois, então aguardem.
Até a próxima!

☆ The scientist — Coldplay
https://youtu.be/1AZHbmDXsVQ

☆ Photograph – Ed Sheeran
https://youtu.be/3IXzF1dr_lg

☆☆☆ Música tema da fic ☆☆☆
Por nossos filhos – Zé Neto e Cristiano
https://youtu.be/wxLE0V9EFqg