Bumerangue escrita por MaryDuda2000


Capítulo 4
Quando nos reencontramos


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoal! Como vocês estão?
Capítulo novo trazendo esse reencontro tão esperado desde o desfecho de partir o coração do último.
Boa leitura!



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Às vezes, a vida se comporta como uma criança que não sabe diferenciar a realidade da brincadeira. Como num jogo de tabuleiro, está ansiosa demais para jogar os dados e seguir para a próxima etapa. As pessoas são seus peões que, querendo ou não, devem seguir de acordo com as regras do jogo.

Algumas partidas podem ser rápidas, enquanto outras demoram uma eternidade e talvez nunca acabem. No entanto, num jogo de tabuleiro, há sempre a chance de voltar do início, tal como um bumerangue é lançado e sempre retorna para o mesmo lugar.

A vida brinca com as pessoas e por vezes somente ela se diverte. Prova disso era o acidente que movimentava todas aquelas pessoas na rua, curiosas para saber se comentariam mais tarde sobre terem visto um milagre ou uma fatalidade. No entanto, esse fato só foi possível devido a um reencontro que demorou vinte e cinco anos para acontecer.

Estava anoitecendo. As portas de vidro da varanda do quarto andar davam uma bela vista do céu ganhando tons mais escuros pouco a pouco na periferia de Osaka.

O apartamento não era grande nem chique, mas confortável. Cumpria com as necessidades do casal.

No centro da sala, uma grande mesa tinha sido posicionada para que todos pudessem se sentar tranquilamente, ainda que o móvel emprestado comprovasse ser grande demais para estar ali no dia a dia.

Tudo precisava estar perfeito, afinal era um dia especial. Os pais seriam apresentados e um noivado estava sendo comemorado e selado.

— Acabei de pôr a mesa. — a garota de olhos azuis anunciou e sorriu para a cunhada, ganhando um carinho na cabeça.

Uma batida na porta.

O casal se encarou antes dela ir receber a visita.

— Mamãe! Papai!

— Sarada!

A mulher de cabelos rosas puxou a filha para um forte abraço. Fazia meses que não se viam. Andavam tão ocupadas que os encontros se tornaram cada vez mais raros.

— Estava com tanta saudade. — afagou seus cabelos negros.

— Fiquei com medo que não conseguisse vir por conta do trabalho. A viagem de Tóquio para cá também é um pouco cansativa.

— Não perderia isso por nada. — a mãe deu-lhe um beijo na testa.

— Papai? — Sarada puxou-o para um abraço. — Que bom que veio!

— Minha princesa vai dar um grande passo. Preciso ter certeza que estará segura. — deu um toque suave na testa da filha.

— Entrem!

Sarada deu espaço para que os pais entrassem. Ambos estavam formalmente vestidos e continuavam sendo o casal mais bonito que ela tinha visto na vida. Cresceu querendo viver um relacionamento baseado em amor, respeito e amizade como o deles.

Claro que, após conhecer os pais do noivo, não demorou para que admirasse mais um casal. Eles transbordavam uma sintonia sem igual. Sarada conseguia ver o afeto que sentiam um pelo outro toda vez que se olhavam.

Ela se aproximou do noivo, que cumprimentou polidamente os sogros. Sarada segurou sua mão, tentando passar confiança. Apesar de estar visivelmente ansioso e nervoso, Kawaki conseguia manter a postura. Sabia o quão era importante esse encontro, afinal era a primeira vez que as duas famílias estariam reunidas.

Uma jovem de cabelos negros curtos surgiu da cozinha, ostentando belos olhos azuis.

— Essa é minha irmãzinha, Himawari. — Kawaki sorriu.

— É um prazer conhecê-los. — a jovem sorriu e os cumprimentou formalmente. — Amei seu cabelo, senhora Haruno. É muito lindo.

Outra batida na porta e Kawaki quem abriu dessa vez.

Um rapaz loiro entrou, trazendo algumas sacolas com bebidas, seguido dos pais.

— Não acredito! Hinata?

— Sakura! Você é a mãe da Sarada? Que incrível!

As duas se abraçaram. Apesar de não se verem há anos, era bom ver o quanto elas pareciam próximas. Havia um clima leve entre elas.

Por outro lado, os pais se encaravam, surpresos.

— Sasuke...

— Naruto. — o Uchiha piscou algumas vezes, sem acreditar no que seus olhos viam.

— Nossa! Quanto tempo...

O loiro entregou o buquê de flores que trazia para Sarada, que agradeceu. Em seguida se voltou para Sasuke, o qual ainda estava boquiaberto.

— Quem diria, não é mesmo?! — Naruto quebrou o silêncio. — Depois de tantos anos, nos encontraríamos de novo assim.

— Nossos filhos estão noivos. — Sakura falou, entrelaçando o braço no do marido. — Se ainda estivéssemos em Konoha, eu não estaria surpresa, mas em Tóquio e Osaka?! Quais as chances?

Hinata envolveu a cintura de Naruto num meio abraço, que foi correspondido quando o loiro envolveu os ombros da esposa com mesmo zelo.

Naquele dia, todas palavras pareciam ter desaparecido da mente de Sasuke. Respondia as perguntas que eram feitas a ele de maneira breve. Não começava nenhum assunto nem prestou atenção em tudo que era falado à mesa. Tinha intenção de parecer um pai protetor e tentar conhecer mais o noivo da filha, porém sua mente ainda girava em torno de três fatos:

1 – Naruto estava de volta, sentado bem a sua frente, jantando com ele.

2 – Ele tinha uma família. Casou-se com Hinata e teve três filhos.

3 – Kawaki, o noivo de Sarada, era um dos filhos de seu primeiro e verdadeiro amor.



☆ ☆ ☆

Sarada e Kawaki estavam juntos há cerca de um ano e meio, unidos pelo que nomearam ser amor à primeira briga. Tinham se conhecido quando ela visitou Osaka numa excursão da universidade. O primeiro encontro foi apenas estresse, um choque de personalidade digno de um enemies to love de doramas. Entretanto, não durou muito para que houvesse uma trégua, especialmente quando o veterano em biologia a salvou de ser picada por uma aranha venenosa. Desde então, os dois mantiveram contato, Sarada pediu transferência e engataram num relacionamento que estava prestes a ser legalizado como matrimônio.

Nesse período, Sarada foi extremamente bem acolhida pela família do namorado. Hinata era uma ótima sogra, enquanto Naruto era um homem bem-humorado e muito prestativo. Faziam mesmo um casal perfeito. Todos tinham uma energia caótica muito gostosa de experimentar, diferente da vida que teve em Tóquio como filha única.

Sasuke conhecia a história. Pelo menos uma vez ao mês, Sarada ia visitá-los em Tóquio e contava como estavam sendo as coisas em Osaka. Ela parecia ter se adaptado muito bem a tudo. Não demorou para que Kawaki começasse a ser mencionado com mais frequência e o namoro fosse revelado. Tinham visto o rapaz cerca de quatro vezes antes do anúncio do noivado. Apesar da pouca intimidade, ele parecia ser decente e fazia a filha feliz. Não podia ir contra isso.

Conhecer a família do noivo era apenas uma formalidade. Sarada tinha tecido tantos elogios sobre os sogros e os cunhados, tinha sido acolhida com tanto carinho que deviam mesmo ser ótimas pessoas.

Devido a grande carga horária de trabalho de Sasuke e Sakura, o encontro para apresentações foi marcado para quando o apartamento do casal estivesse pronto, o que aconteceu há dez dias do casamento.

Então veio a surpresa.

Sakura e o marido tinham tirado duas semanas de férias para poderem aproveitar o tempo com a filha, conhecer melhor a família do noivo e ter um merecido descanso, afinal ela era chefe da cardiologia de um grande hospital, enquanto o Uchiha tinha se tornado professor universitário.

A notícia de que os pais estavam disponíveis animou Sarada, que os incluiu em todos os compromissos pré casamento, desde a escolha do vestido aos últimos preparos da festa, a qual aconteceria no restaurante da família Uzumaki.

Entre um acerto e outro, Sarada aproveitou para passear com os pais e mostrar tudo que Osaka tinha a oferecer. Pontos turísticos, culinária, o centro de pesquisa no qual estagiava junto a Kawaki. Estava transbordando de animação.

Durante todo momento, Sasuke se esforçava ao máximo para se divertir. Não se lembrava da última vez que tinha tanto tempo livre que não convertesse em trabalho. Talvez desde que Sarada começou a crescer e a se ocupar com os próprios compromissos, como escola, curso e aulas de judô e violino.

Quando os planos de Sarada envolvia apenas ela e os pais, Sasuke sentia-se mais leve. Conseguia distrair de toda bagunça que sua mente tinha se tornado ao reencontrar Naruto. No entanto, a filha estava muito empenhada em unir as famílias, em especial por saber (e ter guardado segredo há bastante tempo para uma eventual surpresa) que todos eram da mesma cidade e possivelmente se conheciam. Logo, vez ou outra Kawaki aparecia com um de seus irmãos ou os pais. Ver Boruto, o filho do meio, era quase encarar um fantasma do passado devido a semelhança com o pai.

Quase todos os dias jantaram no restaurante da família Uzumaki. Quando viu os pais de Naruto pela primeira vez em tanto tempo, sentiu uma nostalgia amarga. Apesar de alguns sinais da idade, permaneciam os mesmos, inclusive o carinho de Kushina ao recebê-lo, acariciando seu cabelo e chamando-o de menino. Tinham se passado cerca de vinte e cinco anos, todavia ela continuava a mesma.

Eram nesses momentos que Naruto sempre estava presente. Trocavam algumas palavras quanto ao casamento, a cidade e algum assunto que surgia à mesa, porém sempre com terceiros envolvidos. Nenhuma conversa genuína tinha sido iniciada por nenhum dos dois.

Até a véspera do casamento.

O jantar estava perfeito, como sempre. Kushina jamais perdeu o dom para cozinhar e tinha feito questão de avisar quanto ao uso de camarão por conta da alergia de Sasuke. Orgulhosa, preparou um banquete especial de véspera, visto que Sarada e Kawaki contrataram um buffet para que a avó sequer entrasse na cozinha no dia da cerimônia.

Quando o assunto casamento dominou a mesa, Kushina abraçou Minato, nostálgica, e fez questão de ir até seu apartamento, que ficava acima do restaurante, para buscar os álbuns de fotos da família.

O desconforto começou a aumentar de proporção conforme a ruiva colocou três grandes álbuns a mesa. Sabia que trariam lembranças à tona, memórias que talvez não estivesse pronto para encarar nem perguntas a responder.

O primeiro trazia imagens do próprio casamento com Minato. Os dois bastante jovens e alegres. Depois as fotos do casal em diversos lugares dava espaço a fotos de Kushina grávida e do Naruto ainda bebê.

O segundo foi aberto e a primeira foto foi como um soco no estômago de Sasuke. Era uma imagem de Naruto e ele no parquinho, lado a lado no balanço, com sorrisos que acreditavam não existir coisa melhor no mundo que não fosse brincar. O loiro estava com curativo no joelho. Ambos com as roupas meio sujas de terra.

— Papai, é você? — Sarada perguntou, sorrindo.

Sasuke assentiu. A memória daquele dia fez com que um sorriso suave brotasse no canto de seus lábios.

— Você era muito fofo. Vocês dois eram!

As páginas eram viradas com mais lembranças. Sasuke não se lembrava de ter tirado tantas fotos. Não era fã de fotografias. No entanto, a maioria delas parecia ter sido tirada em momentos comuns. Na hora do lanche, no primeiro dia de aula juntos, durante uma partida de videogame, assistindo TV enquanto se enchiam de pipoca, no aniversário de Naruto. Tinha inclusive uma do próprio aniversário, quando Kushina resolveu preparar um almoço especial com Mikoto, visto que Fugaku estava fora da cidade. Nessa, Itachi aparecia também.

Conforme as fotos demonstravam o crescimento deles, Sasuke começava a se sentir apreensivo. Precisava sair dali.

Como se o destino lhe oferecesse uma carta curinga, seu celular começou a tocar. Imediatamente o Uchiha pediu licença e saiu do restaurante para atender.

Número desconhecido. A mensagem gravada que oferecia serviços começou a ser reproduzida. Mesmo sem o menor interesse, Sasuke seguiu andando e fingiu falar algo até que saísse do campo de visão de qualquer através das janelas do restaurante. Até que desligou o aparelho.

Sentia-se exausto, como se tivesse corrido uma maratona, porém tudo não passava de estresse emocional. Não estava disposto a continuar ali. Precisava de ar fresco, respirar, tentar não pensar que Naruto tinha voltado a sua vida.

Andou a esmo até parar numa loja qualquer e comprar três garrafas de awamori. Não costumava beber, todavia torceu mentalmente para que a premissa de que ficar bêbado fazia esquecer as coisas fosse verdadeira.

Abriu a primeira enquanto seguia pelas ruas de Osaka. Não fazia ideia de para onde iria nem como voltaria. Não importava. Não pensava em voltar tão cedo.

O celular vibrou. Uma mensagem de Sakura. Pelas interrogações, Sasuke sabia que possivelmente se tratava de um interrogatório que não estava disposto a responder. Apenas guardou o aparelho de volta no bolso enquanto virava a segunda garrafa para mais um gole.

Sentiu cambalear. O álcool começava a afetar seus sentidos. Parou e encarou o cenário a sua frente, que parecia tão pueril quanto infectado, perfeito para o momento.

Sentou-se desajeitado num dos bancos enquanto terminava mais uma garrafa de awamori.

Um parquinho vazio transmitia uma calma que parecia debochar do emocional de Sasuke. Os postes o iluminavam e realçavam as cores dos balanços, da gangorra, do gira gira, do escorrego e sua casinha de madeira no alto.

O silêncio, entretanto, aos poucos foi se tornando quase reconfortante. Combinava com a mente do Uchiha que naquele instante parecia ter se calado.

Tinha acabado de abrir a terceira (ou seria a quarta?) garrafa de awamori quando a sentiu ser arrancada de suas mãos.

A pessoa se sentou ao seu lado e bebeu um gole, fazendo uma careta em seguida.

— Isso aqui é mesmo muito alcoólico. E ruim. — Naruto fez uma careta, mas não devolveu a garrafa.

Uma brisa fria os envolveu e o som das folhas balançando na copa das árvores próximas era a única canção que os embalava.

— É véspera do casamento da sua filha. Sakura e Sarada estão preocupadas. Não deveria sair por aí sozinho, numa cidade que não conhece direito.

— Eu deveria o quê? Chamar você para vir comigo?

Sasuke o encarou. Seus olhos estavam vermelhos e distantes. Bochechas coradas. Sinais claros de embriaguez.

— Sabe... — o Uchiha soluçou. — Eu acho que nessas horas que as pessoas perguntam se está tudo bem, o que tem de errado... Só que você não me perguntou isso. Desde que nos reencontramos, você nem mesmo teve a coragem de perguntar se eu estava bem. E sabe por quê? Porque você sabe que isso tudo é uma grande, grande merda.

Um arroto escapou da garganta de Sasuke, o qual pegou uma das garrafas aos seus pés. Vazia.

Bufou e tentou ficar de pé, desequilibrando-se e sendo segurado antes que despencasse no chão.

Encarou a mão de Naruto. Segurava forte em seu braço. Talvez deixasse marcas.

— Mesmo depois de tanto tempo, você ainda não sabe beber? — o loiro deu um sorriso ladino. — Isso é muito ridículo, não acha?!

Sasuke solta uma risada ácida.

— Você é ridículo. — disparou. — Eu não bebo... Porque o álcool só serve para comemorar algo ou afogar as mágoas. Pessoas tristes bebem demais e, se eu tivesse feito isso, lá... Lá quando você me deixou... Teria virado um alcoólatra. Com certeza.

O Uchiha o encarou e deu um passo em sua direção. Sua boca se abriu como se fosse dizer algo, todavia as palavras não vieram.

Os olhos de Naruto estavam focados na figura a sua frente, que parecia prestes a desmoronar.

Sasuke se inclinou em sua direção, batendo a cabeça contra o peito de Naruto e vomitou.



☆ ☆ ☆

O dia seguinte começou agitado.

Sasuke acordou com uma generosa dor de cabeça. A ressaca chegou à altura das garrafas de awamori que consumiu, sem qualquer alívio por ser a primeira vez que experimentava a bebida. Quanto tinha de álcool naquilo mesmo? Muito. Com certeza, muito.

Ser casado com uma médica tinha suas vantagens. Assim que despertou, Sakura entregou-lhe remédios para que pudesse se recuperar e estar bem para o casamento da filha.

O Uchiha sentiu seu olhar cheio de perguntas silenciosas, as quais não estava disposto a responder. Felizmente, a esposa não questionou. Estava ansiosa demais para acompanhar Sarada no dia de noiva. A cerimônia aconteceria ao anoitecer, então teriam um dia das garotas para que tudo fosse perfeito, junto a Hinata, Himawari e Kushina.

Para os homens, o dia não seria tão divertido. Pelo menos não para Sasuke, que não fazia a menor ideia do que faria até a hora do casamento.

Durante o banho, pensou em como deveria se portar. Inevitavelmente encontraria Naruto mais tarde e muitas outras vezes depois. Seus nomes se juntariam, estavam se tornando de fato uma família, só que de uma maneira que jamais tinha passado em sua mente.

Depois do café da manhã, pensou se exercitar, talvez dar uma corrida, porém desistiu minutos depois. Seu fígado ainda protestava de todo álcool que ingeriu na noite anterior e não queria vomitar no casamento da filha. Bastava o que tinha feito no dia anterior.

Apesar de dizerem que beber apagava memórias, Sasuke constatou que realmente não estava apto a pagar o preço disso. Ainda mais porque tinha algumas vagas lembranças do que fez enquanto embriagado e nenhuma delas era agradável. Sentia-se envergonhado por ter agido como um adolescente emocionado. Aquele mesmo Sasuke que se trancou no banheiro aos quinze anos numa festa de aniversário e começou toda aquela bagunça.

"Tudo que você precisa é agir normalmente, como em qualquer lugar e qualquer hora. Como nos últimos vinte e cinco anos.", repetiu para si mesmo enquanto esperava no banco do carona.

Uma mensagem de Sakura o fez sair de casa e ir ao restaurante de Kushina e Minato. Aparentemente um problema de logística da floricultura estava atrasando toda decoração. Teriam que buscar eles mesmos as flores. Minato estava ocupado com a decoração do restaurante e jardim nos fundos, onde de fato ocorreria a cerimônia. Boruto tinha levado Kawaki para um "dia dos irmãos" a fim de evitar que o mesmo tivesse uma crise de ansiedade pré cerimonial. Sobrou para Naruto buscar as flores e para isso Sakura acionou o marido.

Naruto assumiu o banco do motorista da caminhonete antiga do pai e deu partida. Por alguns minutos, apenas o som do rádio dominou o ambiente.

Até que os acordes conhecidos há tantos anos começaram a soar. Trocaram olhares cumplices como na adolescência. Como poderiam esquecer de "In the end", do Linkin Park?!

Um sorriso bobo escapou dos lábios de Sasuke enquanto Naruto começava a cantar com seu jeito ainda meio desafinado, mas sem tropeçar nas palavras como antes.

— Cante comigo! Vamos! — Naruto o incentivou, aumentando o volume do rádio. — Eu sei que você ainda lembra a letra. Bora! Coloca para fora!

No refrão, Sasuke se rendeu e soltou a voz. Sabia a letra de trás para frente, cada frase, cada acorde. Tinha sido sua companhia ao longo dos anos, uma lembrança boa de tudo que viveram. Mesmo a letra não trazendo essa conotação, eles tinham dado a ela.

I tried so hard and got so far, but in the end, it doesn't even matter. I had to fall to lose it all, but in the end, it doesn't even matter.

Quando acabaram, tinham cantado tão alto que a garganta clamava por água. Riram de seus rostos avermelhados, de suas vozes um tanto roucas e posturas nostálgicas.

— Essa música ainda é uma das minhas favoritas. — Naruto falou.

— Minha também. — Sasuke admitiu.

Outra canção começava a tocar. O loiro diminuiu o volume, recuperando-se.

— Você se sente melhor? — tentou iniciar uma conversa. — Ontem você não parecia muito...

— Estou bem. — Sasuke interveio. — E desculpe por... Qualquer coisa que tenha feito.

— Você lembra? — Naruto brincou. — Você vomitou em mim. Achei meio proposital.

Sasuke o encarou. Naruto sorria. Parecia bem em sua companhia, não parecia?! Então ele não era um fantasma para ele?!

— Talvez... — respondeu e sorriu em seguida.

— Hinata disse que depois irá com Sakura buscar sua mãe. Por que dona Mikoto não veio junto?

— Ela é chefe da turma de bordado da terceira idade e leva isso muito a sério. Não podia se ausentar e deixar as outras senhoras sem as reuniões. Então decidiu vir apenas para o casamento. Amanhã mesmo ela retorna para Tóquio.

— E você e Sakura? Pretendem voltar logo?

— Não sei... — Sasuke suspirou. — Sarada viajará de lua de mel, então não sei bem se teremos o que fazer aqui.

— Entendi... Se quiser, podem ficar mais um pouco. Tem muita coisa legal que podemos fazer juntos. Sem contar que são férias né?! Vocês trabalharam duro. Merecem.

Sasuke assentiu, voltando a encarar as pessoas na rua, as lojas, prédios e casas que passavam e rapidamente ficavam para trás.

— Você está bem? — o loiro perguntou, olhando-o rapidamente. — Quer conversar? Sobre qualquer coisa, o que quiser.

— Não. Eu estou bem.

— Sasuke... Eu sei que as coisas não acabaram de uma boa forma, mas...

— Chega, Naruto! Vamos manter as coisas assim.

— Faz vinte e cinco anos, Sasuke. — Naruto o repreendeu. — Por favor! Seremos uma família agora, não podemos deixar os nossos assuntos interferirem na vida dos nossos filhos.

— Agora não! — Sasuke se exaltou.

Naruto parecia disposto a dizer algo mais, contudo o que aconteceu a seguir foi rápido demais.

Num instante, um carro cortou a rua na contramão vindo na direção deles. No outro, a caminhonete mudou de curso.

O impacto e tudo ficou escuro.


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Notas finais do capítulo

O que acharam?
Com toda certeza, esse não foi um reencontro que eles esperassem. Acredito que vocês também não.
Vinte e cinco anos. Realmente muito tempo. E temos um amor mal resolvido que torna toda essa situação muito mais (in)tensa.
E esse final? O que acham que vai acontecer?
Entramos na reta final da história. Enquanto isso, seguem as músicas do capítulo.
Até a próxima!

☆ Onde estiver – Nx Zero
https://youtu.be/8ZNuugyU2go

☆ Não fosse tão tarde — Lou Garcia
https://youtu.be/jd00enZSNFc

☆ In the end – Linkin Park
https://youtu.be/BiERAq5oe3c