Bumerangue escrita por MaryDuda2000


Capítulo 3
Quando nos perdemos


Notas iniciais do capítulo

Oi, gente! Como vão?
Espero que estejam todos bem.
Sábado de carnaval e chegamos para mais um capítulo. Adianto que esse veio mais recheado que o anterior.
Boa leitura!



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 Algumas coisas acontecem de maneira estranha.

Depois que seus lábios se juntaram naquele dia, era como se não pudessem passar mais de dois dias sem se encontrarem de novo.

A rotina de irem a casa um do outro era comum antes, fosse para fazer trabalho escolar, jogar videogame ou apenas maratonar filmes, séries e animes. As raras vezes que dormiam um na casa do outro deixaram de ser tão raras. Fugaku não gostava da ideia de Sasuke passar a noite fora de casa, mas Kushina não via problema algum no filho passar a noite com um amigo. Ainda que a única testemunha da casa que soubesse disso fosse a árvore de cerejeira que dava acesso ao quarto do Uchiha.

Quatro meses se passaram numa rapidez sem igual. Vez ou outra algumas brigas bobas, nada que conversa e alguns beijos não apaziguassem.

Entretanto, aquela relação permanecia entre quatro paredes. Ainda que Naruto tivesse vontade de contar, Sasuke preferia esperar. O pai andava estressado demais com as questões do Conselho de Konoha e vinha se comportando estranho, especialmente nas vezes que via ou ouvia falar do namorado do filho ainda com status de amigo. Imagina se soubesse do namoro?

Sim, namoro. O relacionamento deles evoluiu tão naturalmente que quando Naruto o chamou de namorado, Sasuke adorou e aceitou sem pestanejar. Não teve um pedido verbal. Um beijo resolveu tudo.

Os beijos... Nas festas que se seguiram, Naruto já não participava mais do jogo da garrafa. Tinha mudado um pouco o comportamento. Falava sobre beijos e romances com a mesma naturalidade de antes, o que deixava claro que tinha alguém, porém jamais identificou ou entrou em detalhes. Para os amigos, alguma garota de outra cidade que conheceu na internet. Quando perguntaram a Sasuke, o Uchiha apenas deu de ombros, como se não ligasse. Até brincou dizendo que não passava de paranoia de Naruto.

Estavam prestes a fechar o semestre quando a escola organizou uma visita a Tóquio. Conhecer a cidade grande e todas suas promessas. Konoha era uma vila bastante pacata, então qualquer um que quisesse ter ensino superior, deveria tentar fora dali. Óbvio que a capital era um dos lugares mais desejados junto a Osaka e Kyoto.

A viagem contou com uma visita ao campus da Universidade de Tóquio com direito a uma palestra que reunia também alunos de outras escolas pequenas no grande auditório. Depois contaram com uma excursão pelo grandioso Templo de Senso-Ji.

Ao finalizarem, ainda faltava duas horas para que o ônibus partisse de volta a Konoha. Sendo assim, Iruka sensei liberou para que os alunos visitassem os arredores desde que não fossem muito longe e estivessem de volta dentro de uma hora e meia para reorganizarem.

Aquela pareceu a oportunidade perfeita para aproveitarem um tempo de casal sem se preocupar tanto com os olhares de conhecidos. Apesar de Sasuke não ser dado a fotografias, não pôde negar as inúmeras fotos que Naruto tirou no templo. Assim como o namorado concordou sem pestanejar em visitar a grande Skytree.

A vista de Tóquio de cima era simplesmente impressionante. Ali, de mãos dadas, tantas pessoas ao redor, sentiram uma imensa euforia, aquele lampejo de coragem e determinação de quem deseja ganhar o mundo.

De volta a Konoha, o ônibus carregava consigo novos sonhos junto aos alunos.


☆ ☆ ☆ 

 

— Sasuke! Olha isso!

Estavam na casa do Uzumaki. Tinham acabado de assistir Harry Potter e a Câmara Secreta pela enésima vez. Os pais de Naruto tinham saído para uma noite de casal apaixonado e Kushina autorizou a maratona de filmes desde que arrumassem a bagunça depois.

Naruto tinha acabado de voltar do quarto e trazia consigo um envelope pardo. Despejou o conteúdo no chão e pegou um dos quatro folders bastante chamativos.

— Onde conseguiu isso?

— Uma moça me deu quando visitamos a Universidade de Tóquio.

Sasuke pegou o papel e analisou o título chamativo.

— Desde quando você se interessa por intercâmbio?

Aquele que segurava trazia uma imagem da Estátua da Liberdade e anunciava bolsas de estudos de seis meses nos Estados Unidos.

— Desde quando pesquisei mais sobre os lugares e descobri que lá garotos namorarem garotos não é um problema.

Um sorriso surgiu nos lábios de Sasuke involuntariamente.

A ideia de morar em outro país nunca tinha passado por sua mente. Viajar? Sim, conhecer outros lugares, mas num futuro não tão próximo. Abandonar toda vida na pequena Konoha para a faculdade por si só já parecia uma mudança drástica de vida.

— É do outro lado do mundo.

— E daí? Eu tenho você e você a mim. Íamos nos dar bem.

— Nós? — Sasuke questionou sem sequer tentar disfarçar que estava animado por ter sido incluído nos planos.

— Claro. De que adianta eu ir sem você?

Aquele comentário rendeu um beijo.

Sasuke observou os demais prospectos. Além de Estados Unidos, eram também ofertadas vagas para o Canadá, China e Coreia do Sul. Entre pesquisas e conversas, descobriram que cumpriam com a maioria dos requisitos para concorrer as vagas.

— Você teria que melhorar seu inglês, Naruto. — alertou. — Morar seis meses fora não dá para viver de tradutor.

— Eu sei. — o loiro disse, um tanto preguiçoso.

— E se um de nós não for escolhido? — a ideia passou rapidamente pela cabeça de Sasuke e pareceu assustadora.

— Então ficamos e procuramos outro lugar. Já temos dezesseis anos. Logo vem a faculdade e podemos tentar morar juntos em Tóquio. Vai demorar um pouco, mas vai dar certo. Aí vamos viajar pelo mundo sem medo de ser feliz.

Toda vez que Naruto comentava sobre seus planos a longo prazo, sempre com Sasuke fazendo parte deles, ambos sendo felizes e livres como um casal, o Uchiha sentia-se cada vez mais amado.

Infelizmente Konoha era pequena demais e repleta de moradores com mentes menores ainda. Sasuke duvidava que estariam dispostos a aceitar um casal de garotos. Deixar a cidade era uma alternativa que seria cogitada em algum momento. Intercâmbio podia ser uma boa alternativa para mais cedo, sem contar que acrescentaria muito ao seu histórico escolar, o que facilitaria serem escolhidos por boas universidades, talvez até mesmo no exterior. Por sorte, nos últimos meses, ambos completaram a idade mínima para se candidatar e as notas estavam boas.

Como não imaginava qual seria a reação dos pais, Sasuke optou por não contar nada. Preferia antes ter certeza que os dois conseguiriam a bolsa. Ter tudo preparado para que o "não" sequer fosse uma opção.

Depois da visita a Tóquio, claro que eles não foram os únicos a se animarem com a ideia de intercâmbio. Vários alunos da turma resolveram também tentar a sorte. Além disso, em cidade pequena, alguns assuntos fluem muito rapidamente e não demorou para que a notícia chegasse aos ouvidos de Fugaku, que perguntou certa vez durante o jantar se Sasuke tinha planos de tentar o intercâmbio. O rapaz confirmou ter se candidatado a alguns. Por uma sorte bastante estranha, a conversa acabou ali, sem exigência de detalhes.

Conforme o dia do resultado da seleção chegava, cada dia parecia maior, as horas demoravam mais para passar. A semana de provas na escola pareceu durar um mês e a contagem regressiva de Naruto não ajudou em nada.

A sexta-feira trazia o festival em comemoração ao aniversário de Konoha. A praça em frente ao prédio do Conselho estava sendo decorada desde o meio da semana. Era o tipo de evento que reunia pessoas de todas faixas etárias.

Como membro do Conselho, Fugaku saiu acompanhado da esposa desde cedo. Precisava marcar presença, ainda mais quando concorria ao posto de chefe, numa disputa acirrada com Minato Namikaze, o representante apoiado por Tobirama Senju, que nutria certa antipatia pelos Uchihas. Apesar de política não ser algo que costumasse incomodar Sasuke, visto que estava mais que acostumado com o pai sempre ocupado, andava mais atento devido a escolha do novo chefe do Conselho, pois Minato era pai de ninguém menos que Naruto, seu namorado, e o rapaz desconfiava que esse talvez fosse o motivo do comportamento estranho em relação ao loirinho.

Começava a anoitecer quando Sasuke saiu do banho. Tinha passado a tarde fazendo as tarefas de casa, tentando manter a mente ocupada ao máximo para não se render a ansiedade do resultado do intercâmbio, que sairia na segunda-feira. Agora só queria ter a chance de relaxar um pouco no festival.

Alguém bateu na porta, que foi aberta em seguida.

— Sasuke? — a voz do irmão se fez presente. — Falta muito? Já estou pronto.

Há cerca de dois meses, Itachi parecia ter se lembrado o caminho de volta para casa. Tinha ficado tanto tempo estudando na academia militar que Fugaku o instruiu que nem mesmo nas folgas retornava. Parecia gostar de ficar longe, quase em cárcere.

Apesar de feliz em ver mais o irmão, sua presença ainda parecia um tanto estranha, como se fosse uma visita que transitava livremente pelos corredores. O caçula nunca sabia quando Itachi ficaria uma temporada sem dar as caras de novo.

— Pode ir na frente. Encontro vocês lá. — Sasuke garantiu, acenando ainda com a toalha enrolada na cintura, a deixa para que Itachi saísse sem mais perguntas.

O rapaz abriu o guarda-roupa e analisou bem as opções. Geralmente não era tão criterioso quanto a roupa, mas não era um dia qualquer. Precisava estar apresentável como filho de um membro do Conselho, porém também queria estar bonito para o namorado.

Esse pensamento o fez se sentir como protagonista de comédia romântica, todavia não se importava. Sentia isso diversas vezes quando combinavam seus encontros. Mesmo se vendo quase todo dia na escola, tinha todo um contexto diferente que pedia algo especial.

Sendo assim, Sasuke optou por uma calça jeans azul escura, uma camisa preta e uma jaqueta branca que a mãe disse ser sua cara quando deu-lhe de presente. Para completar, seu fiel companheiro All-star azul caneta.

Acabava de vestir a calça quando escutou um assobio.

Olhou para a janela e viu Naruto entrar, sentindo-se em casa.

— Achei que fôssemos nos encontrar no parque e depois íamos para o festival. — Sasuke indagou, pegando a camisa sobre a cama.

— Senti saudade. — o loiro o abraçou pelas costas, interrompendo seu movimento.

Naruto era um cara sempre tão tranquilo que às vezes surpreendia o namorado com essas demonstrações afetivas quase carentes.

O Uchiha se virou sem sair do abraço e segurou o queixo do rapaz.

— E não podia esperar só um pouquinho? Já estou terminando de me arrumar.

— Podia, mas teria perdido a chance de te ver sem camisa. — deu um beijo no pescoço de Sasuke, depois outro no ombro antes de subir para os lábios.

Sasuke se sentiria envergonhado com o comentário se não tivesse tão envolvido com o beijo. Já tinha visto Naruto diversas vezes sem camisa, mas poucas vezes o contrário. Parecia algo tão banal antes e agora incrivelmente íntimo.

A porta se abriu de repente, assustando-os.

— Sasuke, você pode...

A voz de Itachi se perdeu conforme a expressão de surpresa dominou seu rosto.

O casal se separou e Sasuke imediatamente pegou a camisa sobre a cama, sentindo-se nu com toda situação.

— Quando sair, tranque a porta. A chave está sobre a mesa. — Itachi disse por fim, retomando a expressão de sempre, e saiu.

Sasuke foi atrás do irmão, descendo as escadas rapidamente para alcançá-lo.

— Itachi, espera!

O mais velho parou e o encarou, entretanto as palavras pareceram desaparecer da mente do caçula.

— Eu... Eu...

Itachi suspirou, dando um passo em direção ao irmão. A diferença de altura entre eles não era muita, porém o caçula ainda era o mais baixo.

— Você já é bem grandinho, Sasuke. Sabe muito bem o que está fazendo.

Os ombros de Sasuke se encolheram.

— Não estou te repreendendo. Só alertando. Eu não me importo com quem você namora, mas precisa ter cuidado. Sorte sua que não foi o papai quem viu os dois naquela hora ou sabe lá o que teria feito.

Sasuke assentiu. Era assustador pensar na reação de Fugaku descobrindo sobre o namoro deles. Nem nos cenários mais otimistas conseguia imaginar uma aceitação sem problemas.

— Você está decepcionado comigo? — Sasuke falou.

Sentiu o irmão tocar dois dedos em sua testa e levantou o olhar.

Itachi tinha um leve sorriso no canto dos lábios.

— Por que eu estaria? Independente de quem você namore, ainda é meu irmão. E se contarmos essa história de irmão, sei que deixei bastante a desejar. Então não tenho direito nenhum de me meter na sua vida. — deu um aperto encorajador no ombro do mais novo. — Só toma cuidado, ok?

O caçula assentiu, o que foi a deixa para que Itachi saísse novamente de casa.

Subiu as escadas para buscar a jaqueta e encontro Naruto ainda no quarto, sentado na cama. Assim que o viu, levantou-se em sobressalto.

— O que aconteceu?

— Ele não vai falar para nossos pais. — Sasuke suspirou.

— Você está bem? — Naruto se aproximou, sem saber se o abraçava ou não.

— Só um pouco abalado. Isso tudo foi meio assustador, na verdade.

O loiro assentiu.

— Precisamos muito desse intercâmbio. Não queria ter que passar por isso de novo. — admitiu.

— É... Melhor irmos logo ou daqui a pouco meu pai vai estar surtando pela demora.

Naruto concordou.

O caminho até o prédio do Conselho não era longo. Cerca de doze minutos andando e chegavam lá. Era uma das vantagens de morar em cidade pequena, quase tudo ficava perto.

Após o flagra, no entanto, o clima tinha ficado estranho. Pela primeira vez desde quando começaram a namorar, Sasuke sentiu-se culpado, como se tivesse ferindo a confiança dos pais. Por outro lado, Itachi dar seu apoio era algo reconfortante em meio ao turbilhão de questionamentos que bagunçavam sua mente.

— Acho melhor eu ficar um pouco com meus pais. Mais tarde a gente se encontra, ok? — Naruto sugeriu, vendo o namorado assentir em seguida. — Não fique assim, ta bom? Vai dar tudo certo. Foi só um susto.

Queria poder beijá-lo ali e passar um pouco de conforto, mas não podia. Olhos demais sobre eles, o que não ajudava em nada.

Não demorou para que tivesse um discurso oficial do chefe do Conselho, Hiruzen Sarutobi, falando sobre a história de Konoha e o quanto a cidade era próspera e boa de se viver, cheia de habitantes respeitáveis e honrados.

Nesse instante, estava junto da família num canto de destaque reservado a membros do Conselho.

Então uma surpresa foi anunciada e Iruka sensei foi chamado para falar. O homem estava elegantemente vestido e parecia envergonhado com tanta atenção, mas respirou fundo e começou:

— Olá! Sou Iruka Umino, um dos professores da Academia de Konoha. Recentemente acompanhei um grupo de alunos a uma viagem a Tóquio para conhecerem a capital do nosso país e traçarem planos para o futuro. Lá eles também receberam a oportunidade de se candidatar a bolsas de intercâmbio em diversos lugares do mundo. O resultado será oficialmente divulgada segunda-feira, porém fomos contatados essa tarde sobre alguns dos nossos alunos que foram escolhidos.

Aquela notícia fez o corpo de Sasuke gelar. Não estava preparado para aquilo. Não era daquela forma que as coisas deveriam acontecer.

Olhou ao redor a procura de Naruto e o encontrou ao lado de alguns colegas de turma que pareciam bastante animados com a notícia. Seus olhares se cruzaram rapidamente e ambos respiraram fundo.

Sasuke cruzou os dedos.

"Tudo vai dar certo..."

— Konoha é uma cidade pequena e é uma grande honra para mim anunciar que tivemos quatro alunos selecionados.

O coração de Naruto acelerou com a expectativa.

— Para um curso de seis meses em Tóquio, os selecionados foram Shino Aburame e Sasuke Uchiha. Nos Estados Unidos, os selecionados foram... Neji Hyuga e Naruto Uzumaki. Meus parabéns aos escolhidos e suas famílias.

Iruka encerrou o discurso e desceu do palco com grande sorriso.

Naruto foi parabenizado pelos colegas, os quais foram afastados em seguida por Kushina, que o puxou para um abraço apertado e encheu seu rosto de beijos.

Pouco afastado, Fugaku desejou parabéns, animado pelo filho estar a ponto de frequentar uma das melhores universidades do país. Mikoto deu um beijo na testa do rapaz, dizendo estar orgulhosa. Itachi deu um toque no ombro do caçula, o que Sasuke não sabia dizer se era em comemoração ou uma tentativa de conforto, afinal ele já sabia de seu namoro e o que esse intercâmbio significava.

Com a notícia, Naruto e Sasuke sequer conseguiram se falar. Sempre tinha alguém os cercando e exigindo suas atenções.

Somente na manhã seguinte, bastante cedo, que Sasuke recebeu uma mensagem do namorado, pedindo que se encontrassem no parquinho de sempre.

— Oi... — o loiro falou quando o viu chegar.

— Oi... — Sasuke suspirou, esfregando os olhos.

— Você está bem?

— Não consegui dormir essa noite. — o Uchiha admitiu, encostando na parede da casinha de madeira. — O que faremos, Naruto?

— Eu não sei. — coçou a cabeça, angustiado.

— Todo mundo sabe que fomos selecionados e para onde. Não podemos simplesmente negar o intercâmbio, não sem causar suspeitas ou alguma confusão.

Naruto assentiu. Ele sabia disso e se sentia sem saída com toda aquela situação.

— Que droga! Por que o Iruka sensei fez aquilo?

— É uma honra para ele ter alunos selecionados para intercâmbios. Dá para entender a alegria toda de ontem.

— Sabe... Eu não entendo como eu fui chamado para os Estados Unidos se você fala inglês melhor que eu. — Naruto resmungou.

— É um intercâmbio cultural. Talvez o objetivo seja mesmo escolher alguém não fluente e devolver um quase nipo-americano.

O rapaz assentiu, tentando dar algum crédito ao que o namorado disse.

— Então é isso. Vamos morar em países diferentes?

— Parece que sim. — Sasuke se sentou ao seu lado e apoiou a cabeça em seu ombro. — São só seis meses. Podemos lidar com isso. Não é?!

Naruto o encarou e deu um sorriso de lado.

— Eu vou morrer de saudades... — acariciou o rosto do Uchiha. — Mas eu te amo e sei que vou aguentar.

E nesse acordo que eles seguiram seus respectivos caminhos.

Sasuke e Shino tornaram-se colegas de quarto num dormitório próximo a Universidade de Tóquio. Na escola, pouco se falavam e, morando juntos, a situação não mudou muito. Shino era um rapaz de poucas palavras e parecia confortável com isso. Sempre se atinha ao essencial. Inicialmente a ideia pareceu estranha, todavia não demorou para que o Uchiha se acostumasse.

Neji e Naruto, do outro lado do mundo, tiveram uma experiência totalmente nova. Não demorou para o Uzumaki entender o motivo de terem sido escolhidos juntos. Ele talvez fosse o menos capacitado no idioma, enquanto o Hyuga parecia um verdadeiro americano. Por outro lado, Naruto era muito bom em relações interpessoais, enquanto Neji nem tanto. Logo constatou que isso devia ter relação com as avaliações dos alunos enviadas por Iruka. Ou seja: Sasuke não ter sido selecionado foi mesmo apenas uma falta de sorte.

Os seis meses passaram mais rápidos que o esperado. Finalmente se reencontrariam e poderiam retomar seus planos. Mal cabiam de saudade um do outro. Mesmo por cartas e telefonemas, a presença fazia toda diferença.

Iruka fez questão de buscar Sasuke e Shino em Tóquio. Estava radiante. Disse que mais alunos estavam se candidatando aos programas de intercâmbios inspirados neles.

— Vocês foram ótimos. Tiveram um desempenho sensacional em Tóquio. Arrisco dizer que já garantiram suas vagas na universidade.

Assim que chegaram, foram recepcionados na entrada da Academia pelos colegas de turma e parte da equipe pedagógica. O pai de Shino e a mãe de Sasuke também os esperavam.

— Estava com tanta saudade. — Mikoto falou, abraçando o filho. — Vamos para casa?

— Claro! Mal posso esperar para provar sua comida de novo. — Sasuke sorriu.

A família estava reunida novamente durante o almoço. Fugaku fez diversas perguntas sobre Tóquio e Sasuke ficou animado em responder. Mesmo morando há apenas algumas horas, tinham se visto apenas uma vez nos últimos seis meses. Era como se tivesse mesmo em outro país.

Quando retornou ao quarto, sentiu o corpo pesar pelo cansaço da viagem. Só queria dormir.

Olhou rapidamente a tela do celular. Quatro ligações perdidas de Naruto. Riu com a pressa do namorado. Entendia bem a ansiedade.

Retornou a ligação, mas o tom de voz do namorado o deixou em alerta.

— Naruto? Aconteceu alguma coisa? Você está estranho.

— É que... Sasuke... — suspirou. — Acabei de ser informado que nossas bolsas foram renovadas, a minha e do Neji. Não voltarei para Konoha esse ano.

Naquele instante, algo dentro de Sasuke se quebrou.

A conversa se finalizou de maneira robótica e ele desligou.

Não conseguiu dormir. O tempo passou e sua mente rodava sem parar, indo a lugar nenhum. Mais seis meses afastados... Um ano sem se ver...

Sabia que as coisas estavam indo bem para ambos. Ele tinha obtido sucesso em Tóquio. Depois de uns erros bobos, Naruto estava também conseguindo lidar com a rotina estadunidense. Seu inglês estava absurdamente melhor, inclusive que o do namorado.

Sasuke lembrou que o prospecto do intercâmbio dizia que a bolsa poderia ser de seis meses a dois anos e meio. Só não esperava que fosse algo assim, sem avisar... E não podia simplesmente pedir que Naruto desistisse. Era uma oportunidade em um milhão.

No dia seguinte, retornou a rotina em Konoha e se informou sobre o intercâmbio. Se desse sorte, com a ótima avaliação que conseguiu em Tóquio, talvez fosse um dos selecionados para ir aos Estados Unidos também. Naruto concordou com a ideia, incentivando e sempre tentando ver o melhor lado de tudo, aquele no qual poderiam ficar juntos.

Entretanto, não foi selecionado novamente.

Logo a faculdade chegava e as coisas ficavam cada vez mais intensas, tanto em Konoha quanto nos Estados Unidos. E mesmo se candidatando uma terceira, Sasuke não foi escolhido.

Um ano e meio tinha se passado e a relação foi saturando. Sasuke sentia-se horrível por não conseguir a tal bolsa. Nem mesmo ser o aluno número um da turma adiantava. Nada parecia ser o suficiente. Além disso, as expectativas de Fugaku com a chegada das provas para universidade tornavam tudo ainda mais tenso. Quando Hinata foi selecionada para o intercâmbio que ele tanto desejava, algo a mais se quebrou dentro do Uchiha. Só que Sasuke não queria dizer isso a Naruto. Não podia fazê-lo se sentir mal por estar vencendo o mundo. Então apenas sorria e fingia estar bem nas ligações. Até que foi perdendo as palavras e, aos poucos, distanciando-se.

Nos Estados Unidos, Naruto estava num mundo completamente diferente. Estava feliz pelos avanços, todavia sentia diariamente o estresse da cidade grande. Ele e Neji tinham se tornado bons amigos, sempre se ajudando. Devido as diferenças culturais e do sistema educacional, precisavam estudar dobrado para conseguir manter o visto no país e garantir uma vaga na universidade. Além disso, vinha falando com seu superior sobre a possibilidade de trazer Sasuke na próxima seleção. Sabia que não era justo com os demais participantes, todavia não cabia mais de saudades do namorado. Aquele era um sonho a dois. Não achava justo que o namorado não fosse selecionado mais uma vez sendo um cara tão incrível. Infelizmente a passagem para Tóquio era cara demais e os pais dele não podiam dar conta. O próprio Naruto já tinha arrumado um emprego de meio período para ajudar a manter o apartamento que dividia com Neji. Então restava a ele manter contato sempre que podia, o que vinha sendo difícil devido ao fato de estar sempre ocupado e exausto. Sem contar que o fuso horário nunca ajudou.

Ao fim de um ano e meio, Naruto havia juntado algum dinheiro e, com ajuda dos pais, conseguiu retornar a Konoha. Seriam apenas alguns dias, mas parecia mais que o suficiente.

Estava eufórico com a ideia de fazer uma surpresa a Sasuke. Fazia tanto tempo...

Quando o encontrou, contudo, estava diferente. Conhecia o namorado há anos, mas sentia algo de errado, mesmo que ouvisse que estava bem e animado com os planos de faculdade.

Então Naruto resolveu procurar a única pessoa que talvez fosse franca com ele. Itachi estava trabalhando no escritório do Conselho e cedeu seu horário de almoço para que conversassem.

— Você está crescido. Não parece mais o garoto que saiu daqui.

— Obrigado, eu acho... Itachi, preciso que me diga o que aconteceu com Sasuke nesse tempo.

O Uchiha suspirou, tirou os óculos (item novo em sua aparência) e esfregou os olhos antes de começar. Não eram íntimos ou próximos, então não havia motivos para rodeios.

— O Sasuke... Está destruído. Ele estava muito animado quando voltou de Tóquio. Se esforçou e tentou de tudo pelo intercâmbio. Foi aceito para um na China, mas rejeitou porque não queria ir. Tudo que importava eram os Estados Unidos. Esse tempo todo ele só queria poder chegar até você. Ele nunca vai admitir isso, mas acho que... Ele se sente péssimo e se acha incapaz. — fez uma pausa antes de encarar Naruto. — Eu sei que o meu irmão gosta mesmo de você. Deve amá-lo mais que a si próprio e isso me preocupa. Ele anda como robô. Não come nem dorme direito. Agora vive fazendo o que nosso pai quer. Não enxergo mais nele brilho. Quando falam de você, falta ele chorar. Eu posso não ter sido o melhor irmão, mas não sou cego. Ele te ama, mas está se destruindo para chegar até você.

Aquilo atingiu Naruto como um caminhão em alta velocidade.

— Eu... Eu só queria poder montar nossa vida lá. A gente planejou tanto. Íamos ser felizes e livres. Eu fiz isso por nós.

— E ele também fez. — Itachi interveio, mantendo uma seriedade quase rude. — Ele tem dado tudo de si, Naruto, mas às vezes... Não é o suficiente. Ele nunca vai desistir nem permitir que você largue tudo por ele. A questão é: do que você desistiria por ele?

O silêncio pairou no ar.

Naruto se levantou, despediu-se num aceno e saiu.

Sentiu-se a pior pessoa do mundo. Estava tão preso numa promessa que sequer enxergou o óbvio. Para Sasuke, estar perto dele deveria ser como um atestado de derrota. Ainda que ele jamais tenha perdido nada, não conseguiu o que queria. E Naruto sabia que nada que dissesse poderia convencê-lo do contrário.

O namoro deles estava destruído pela promessa que fizeram de dar seu melhor para viverem esse amor. E agora esse mesmo amor estava destruindo Sasuke pouco a pouco...

Naruto o encontrou mais algumas vezes. Procurou ao máximo qualquer indício que provasse o contrário.

Não conseguiu.

Não podia continuar sendo carrasco de Sasuke. Não podia conviver sabendo que a promessa deles que o estrangulava pouco a pouco.

Na véspera de sua partida, fez o caminho até o quarto de Sasuke. Aquela velha árvore que viu o início daquele amor veria o desfecho.

Quando chegou, notou que Sasuke estava acordado, mas fingia dormir.

O coração de Naruto doeu quando beijou sua testa.

— Você sempre será o amor da minha vida. Fique bem, Sasuke. Você merece ser feliz... Você merece muito mais do que eu posso te dar.

E assim, ele partiu.

Sem mensagens ou ligações. Sem mais promessas.

Naquela noite e nas seguintes, Sasuke chorou copiosamente.

A dor era tanta... Sentia que tinha falhado. Por ele, por Naruto, pelo amor dos dois... No entanto, não podia pedir para que ficasse.

Não ligou. Não mandou mensagem ou carta. Desviava de Kushina e Minato sempre que os via. E abandonou até mesmo a árvore confidente para trás quando se mudou para cursar a faculdade em Tóquio.

Nem alegre, nem triste. Só a vida sendo a vida. Seguindo seu curso sem pedir opinião sobre qual trajeto seguir.

Também quis essa mesma vida um dia chamar o destino para um café e, num futuro distante, cruzar o destino de Sasuke e Naruto outra vez. Entretanto, não nas condições mais favoráveis... Afinal o som das sirenes da ambulância seguindo para o local daquele acidente de carro não alegra a ninguém.

"O mais triste era que eles se amavam. Mas eram jovens demais para saber como amar…"

— O pequeno príncipe, de Antoine de Saint-Exupéry


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Notas finais do capítulo

O que acharam?
Quando a história veio a minha mente, já veio segmentada em atos que justamente dão nomes aos capítulos.
Esse foi o mais doloroso escrever. Ele traz o nosso plot e eu simplesmente travei nele enquanto desenvolvia a história. Pensei em diversas maneiras de escrever essa separação deles e teve uma hora que recomecei o capítulo do zero porque nada parecia funcionar. Enfim, foi bastante sofrido.
Esses dois mereciam mais. E o pior é que sabemos que a distância e a falta de comunicação acaba separando muitos casais.
Por isso, além das músicas para sofrermos junto a esses dois, trouxe também uma dica de um dorama disponível na Netflix que deu uma ajudinha na construção desse capítulo. O nome dele é "My youth" (Minha juventude). Ele tem 24 episódios e é bem legal. Recomendo!
Até a próxima!

☆ Pela última vez – Nx Zero
https://youtu.be/4gZZ4I_nGKE

☆ Only love hurt like this – Paloma Faith
https://youtu.be/Y0SnjLeYidE