Bumerangue escrita por MaryDuda2000


Capítulo 2
Quando nos apaixonamos


Notas iniciais do capítulo

Olá, leitores! Tudo bem?
Cá estamos para esse segundo capítulo que eu já adianto ser lindo. O título por si só adianta muita coisa, então agora é curtir a leitura.



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A adolescência é um período estranho. O limbo entre o infantil e o adulto. Não tem como ficar 100% em cima do muro. Parte sempre tende a ser mais resguardado e querer se agarrar às alegrias e facilidades de ser criança, enquanto outra está ansiosa para testar a ilusória maravilha da vida de gente grande.

E foi assim que Naruto e Sasuke chegaram num grande impasse.

Era aniversário de Kiba Inuzuka, o típico cara que falava com todo mundo da turma. Obviamente que todos foram convidados e quase todos compareceram, pois Sai não pôde ir por motivos desconhecidos. Doze adolescentes juntos sem a supervisão (constante) de um adulto, visto que Tsume tinha dado um voto de confiança ao filho como presente.

Aos quinze anos, além de beber álcool escondido dos pais, um grande atrativo é o jogo da garrafa, que só recebe esse nome porque "jogo para tirar na sorte quem vai beijar na boca" é grande demais e deselegante.

Quando o grupo se juntou no chão da sala, maior parte já tinha seus interesses particulares. Alguns secretos, outros nem tanto. Sakura e Ino se acotovelavam sem sequer disfarçar seu desejo de serem sortudas de tirar Sasuke.

Só que o Uchiha tinha desaparecido há um bom tempo. Esperaram um pouco por ele para começar, mas Kiba achou melhor dar a largada e que ele depois entrasse. Foi assim que conseguiu um beijo de Ino, que parecia bastante animada com a brincadeira, talvez nem tanto com quem seria.

Entre uma rodada e outra, chegou a vez de Naruto, que estava ali estritamente pela parte do beijo, independente de qual menina seria.

Parou em Hinata. Ela era legal. Uma garota bonita e bem tímida com quem ele não trocou mais de cinco palavras durante o ano, contudo era bem próxima de Kiba e, graças a insistência do aniversariante, estava participando do jogo.

Naruto não soube bem como se aproximar. Sorriu, pegou nas mãos da garota para tentar criar um clima, todavia os expectadores não ajudavam. Viu ela corar e achou fofo. Também corou. Pediu para que fechasse os olhos e selou seus lábios suavemente.

— Que fofos! Vocês fazem um casal perfeito. — Rock Lee comentou, recebendo uma cotovelada de Neji, o primo que tentava disfarçar certo ciúme da jovem Hyuga, ainda que também tivesse seus motivos para participar (cof cof TenTen cof cof).

— Ok, ok! Cadê o Sasuke? — era a vez de Sakura girar a garrafa, mas não pretendia fazer isso sem o Uchiha ali.

— Acho que ele morreu no banheiro. — Shikamaru comentou.

— Quer que eu vá conferir? — Shino perguntou.

Ele e Choji eram os únicos, além do Uchiha, que estavam ali de fora da roda, apenas assistindo e/ou comendo.

Naruto negou com a cabeça e se levantou, dando sinal para que continuassem enquanto procuraria pelo amigo.

— Sasuke? — o loiro bateu na porta. — Você ta legal?

Logo a porta se abriu.

— Acho melhor eu ir embora.

— O que? — Naruto entrou no banheiro. — Está passando mal? Foi o drink? Eu falei que estava forte demais.

Se quisesse, seria a desculpa perfeita para escapar. Entretanto, não era o melhor em fingir e não cabia mentiras entre os dois.

— Não é isso... Eu só não to no clima.

— Ah, vamos lá! É só dar uma chance.

O fato é que Sasuke e Naruto eram quase uma unidade na turma. Uma unidade de dois. Dois uns. Uma verdadeira dupla. Sasuke era o inteligente que arrancava suspiros, porém mais calado. Naruto era o cara mais comunicativo, hiperativo e cabeça oca. Dois opostos perfeitos. Sendo assim, a ideia de ir a festa foi toda do Uzumaki, que arrastou o amigo consigo depois de muito insistir.

— Não quero participar dessa brincadeira.

— Por que? — Naruto questionou, escorando o corpo na porta atrás de si.

— Olha, você me chamou e eu vim. Fiz minha parte. Atingi minha cota de socialização por todo fim de semana. Agora chega né? Sair beijando assim não dá.

Naruto riu.

— Mas essa é a graça de uma festa adolescente. Não tem essas regras dos adultos.

— Legal. Você fica. Eu vou embora.

— Qual é, Sasuke?! Tem medo de quê? Ino e Sakura estão doidas por um beijo seu. Ainda tem a Tenten e a Hinata. Ela tem lábios com gosto de mel. — sorriu bobo.

— Você beijou a Hinata? – Sasuke perguntou, recebendo um sorriso levemente malicioso de volta. — Vocês nem se falam direito.

— É o jogo. Faz parte. — Naruto deu de ombros. — Vem! Vai ser legal.

— Não acho legal isso. Não funciona para mim.

— Você nunca vai saber se não tentar.

— Naruto, chega! Eu disse não. Vou para casa e você fala que eu vomitei o banheiro todo, ok?

— Nada disso. — o loiro impediu a saída. — Me dê um bom motivo para não participar.

Sasuke respirou fundo. 

— Pode me chamar de careta, mas, para mim, um beijo tem que ser especial. Com alguém especial. É por isso que prefiro esperar.

Naruto demorou alguns segundos para entender o que o amigo disse.

— Você nunca beijou ninguém? — uma encarada confirmou a pergunta. — Ah... Não tem ninguém que você ache especial?

— Tem, mas... — o loiro o interrompeu.

— Alguém aqui da festa?

O desconcerto que abalou Sasuke confirmou. Céus! O que estava fazendo?

Naruto sorriu e segurou os dois ombros do amigo, tentando passar confiança.

— Então esquece o jogo. Vai direto em quem você gosta e diga.

— Ta maluco? — Sasuke deu um passo para trás. — Não posso fazer isso. Vai ser estranho e posso acabar estragando tudo.

— Não vai. — a voz tranquila de Naruto mudou todo tom da conversa. — Confie em si mesmo.

Sasuke assentiu.

Saíram do banheiro e seguiram a passos lentos em direção a sala, parando rapidamente na mesa de bebidas. Naruto fez questão de encher dois copinhos de pura vodca.

No três, viraram o líquido transparente e não contiveram a careta que veio logo em seguida.

— Vamos? — o loiro deu um passo, mas parou, esperando o amigo.

Sasuke piscou lentamente. Uma, duas, três vezes. Então correu porta afora, sem olhar para trás, parando apenas quando tropeçou nos próprios pés e caiu.

Escutou passos atrás de si e viu um Naruto tão trôpego quanto ele vindo.

Levantou e sentiu o arder do suor nos arranhões nas palmas das mãos e no joelho ralado. Mesmo assim, subiu até a casinha do escorregador e sentou lá, torcendo para que não fosse encontrado.

Em vão.

Demorou alguns minutos, todavia logo Naruto se sentava ao lado dele, um tanto ofegante. Ficaram apenas encarando o vazio a frente.

O silêncio foi interrompido quando o loiro viu o sangue escorrendo do joelho do outro.

— Que droga, Sasuke! — virou-se para o amigo e puxou-o para si, colocando suas pernas sobre as próprias e analisando o ferimento. — Você tem oito anos, por acaso? Grande desse jeito e se ralando que nem criancinha.

A voz era de repreensão, mas a expressão de Naruto, além de um tanto ébrio, mostrava preocupação. Não por acaso a fala terminou como um lamento.

Quando Naruto o encarou, pela primeira vez, Sasuke sentiu a tal coragem que havia sido mencionada no banheiro. O lampejo de confiança que o fez inclinar para frente, envolver a nuca do Uzumaki e juntar seus lábios.

Um... Dois... Três... Foi o tempo que demorou para que fosse correspondido. A suavidade da preocupação tinha dado espaço a certa urgência, especialmente quando Naruto envolveu a cintura de Sasuke e o trouxe mais para perto.

Quando seus pulmões imploraram por ar novamente, cortaram o contato, mas não desfizeram o enlace.

Ofegantes, seus olhos travavam uma conversa quase magnética, instintiva, difícil de traduzir. Era como se eletricidade passasse por seus corpos e não soubessem como reagir a isso.

 

☆ ☆ ☆

 

Nos dias que se seguiram, toda intensidade pareceu se diluir pouco a pouco.

O fim de semana passou sem que trocassem uma palavra sequer. Na segunda-feira, Sasuke não apareceu na escola.

A ansiedade foi ganhando espaço. A falta de qualquer notícia deixava Naruto cada vez mais confuso e angustiado. Não fazia ideia de como se sentia, mas definitivamente não ver Sasuke não estava ajudando em nada.

Na terça-feira, resolveu ir à casa do Uchiha. Toda determinação pareceu se dissipar quando virou a esquina e visualizou Sakura aos risos com o rapaz que, surpreendentemente, sorriu de volta.

A cena durou alguns minutos que mais pareceram horas. Ficar ali, olhando de longe, fez com que se sentisse um stalker.

Em algum momento entre os questionamentos que fazia a si mesmo de como tudo aquilo era ridículo, bateu na porta da casa dos Uchihas.

Escutou passos. A demora maior que o normal o deixou inquieto. Geralmente dona Mikoto atendia visita em segundos.

Para surpresa de Naruto, foi Itachi quem abriu a porta.

— Sasuke não está.

— Está sim. Eu vi ele e Sakura conversando aqui ainda agora.

O rapaz apenas deu de ombros.

— Eu não sei o que rolou entre vocês, mas foi o que ele pediu para que eu dissesse.

Naruto não sabia se agradecia ou mandava Itachi à merda. Ele tinha sido o motivo dos dois virarem amigos. Estava sempre tão ocupado com os estudos e seus próprios planos que deixava Sasuke para depois. Mesmo sendo melhores amigos, o loiro tinha plena consciência que jamais seria suficiente para reparar a ausência do irmão.

Naquele instante, porém, agradeceu a sua sinceridade irritante ou quase isso. Estava irado demais com o próprio Sasuke.

A porta se fechou sem mais palavras.

Naruto não precisava dela. Já tinha visitado aquela casa inúmeras vezes e sabia muito bem como escalar a árvore lateral que dava a janela de Sasuke.

Foi assim que invadiu o quarto sem a menor cerimônia.

Não demorou para que a porta se abrisse e Sasuke entrasse passando a toalha no cabelo enquanto cantarolava "In the end", do Linkin Park, um dos últimos vícios deles.

O susto de ver Naruto ali fez com que o garoto desse um pulo para trás.

— Como você entrou? — indagou, mesmo imaginando a resposta. Não seria a primeira vez. Já tinham feito isso para passar a noite jogando videogame.

— Que porra aconteceu contigo? — Naruto questionou, de braços cruzados e irritado. Verdadeiramente irritado.

— Estou passando mal. Só não to afim de ver ninguém.

— Mentira! — havia algo de cortante naquele tom acusatório. — Você está me evitando e mentindo para mim. Eu vi você e a Sakura cheios de risinhos mais cedo.

Sasuke revirou os olhos e contornou o rapaz, sentando na cama e continuou esfregando o cabelo, mesmo sem necessidade.

— Ela veio me trazer a matéria, perguntou como eu estava. Eu agradeci. Ela me chamou para sair e eu aceitei.

Aquela enxurrada de informação pegou Naruto desprevenido.

— Mas você nem gosta dela.

— Quem disse? — Sasuke voltou a encará-lo, arquendo a sobrancelha. — Ela é legal. Você mesmo disse que eu deveria dar uma chance.

— Mas você não disse que estava passando mal? E vai a um encontro?

Sasuke deu de ombros e voltou a esfregar a toalha no cabelo, a qual foi arrancada pelo loiro de sua mão.

— Por que está fazendo isso?

— Isso o quê? — o Uchiha perguntou.

— Tudo isso. Primeiro, você se esconde na festa. Então acontece... Aquilo e agora está me ignorando e saindo com uma garota que você nem gosta?

— Cala a boca! – Sasuke se levantou, ficando frente a frente com o Uzumaki. — Quem é você para me dar lição de moral? Você mesmo beijou a Hinata e sei lá mais quantas naquela noite.

— Isso não é sobre mim!

— É sobre quem então? Você invadiu o meu quarto e está gritando que nem louco.

— Eu não estou gritando! — o fim do berro fez Naruto se calar.

Encararam-se por alguns segundos.

— Isso não é sobre mim. — Naruto recobrou a palavra, mais comedido. — É sobre nós dois.

— É sobre o que aconteceu no parque? Esquece isso. Eu já esqueci.

— Mentira! Se tivesse esquecido, não teria falado agora. Nem estaria me ignorando.

— Estávamos bêbados. Eu fiquei sem saber como te encarar depois daquilo. Esquece.

Naruto suspirou, passando a mão no cabelo.

— Não dá. Eu não consigo. — confessou. — Eu podia estar alterado, mas não dá para esquecer. Vem a minha mente toda hora. Durante a aula, no almoço, jogando videogame.

— Eu também fiquei com isso na cabeça. Foi um erro, ok? Desculpa.

Sasuke suspirou e se jogou na cama.

Naruto fez o mesmo, deitando ao seu lado e encarando o teto.

— Você se arrepende?

— De possivelmente estragar a nossa amizade? — Sasuke deu um riso irônico. — Sim.

— De me beijar, seu idiota.

Não obteve resposta.

— Eu beijo tão mal assim?

O riso veio. Apenas Naruto tinha a habilidade de fazê-lo rir numa situação tensa como aquela.

— Eu sei lá. Nem lembro direito.

— Não seja por isso.

No instante seguinte, Naruto se debruçou sobre Sasuke. Seus olhares se cruzaram. As respirações se confundiram.

O dedo do loiro afastou uma mecha de cabelo negro do rosto do rapaz vagarosamente antes de se aproximar e unir seus lábios outra vez.

Diferente daquela noite, estavam bem atentos aos detalhes. Os lábios de Sasuke eram macios. Os de Naruto traziam um sabor de lamén. Aquela dança suave ganhou aos poucos mais intensidade. As línguas brincavam e brigavam entre si. Pareciam numa sintonia quase ensaiada, predestinada.

Afastaram-se lentamente.

A imagem de Naruto abrindo os olhos fez o Uchiha corar. Nos olhos de Sasuke, o Uzumaki enxergou certa expectativa.

— E agora? Você se arrepende?

— Não. — a voz saiu firme que surpreendeu inclusive o próprio Sasuke.

Naruto sorriu. Tomou uma mecha de cabelo de Sasuke e brincou como se fizesse um cacho.

— Nem eu.

— Não é... Estranho para você?

— Naquela noite, foi. Depois eu só fiquei pensando, pensando e pensando... No quão doido era participar desses jogos bestas se o melhor beijo estava bem do meu lado.

— Como? — a voz de Sasuke saiu quase num sussurro, surpreso.

— Você é meu melhor amigo. Se você não fizesse aquilo, eu nunca teria notado o quanto queria te beijar. Nem o quanto gostava de você. Mais que um amigo.

Sasuke riu, ainda um tanto corado.

— Que loucura!

— O que?

— Somos amigos desde criança e agora... Isso.

— Melhor que se apaixonar por um idiota por aí. Sem contar que eu sou um partidão. — Naruto riu, recebendo um beliscão de Sasuke, que o fez deitar-se novamente ao seu lado. — Quando soube que gostava de mim?

— Naquele dia que você me disse que saiu com Shikamaru para um encontro duplo com uma amiga da Temari.

Naruto lembrava disso. Fazia cerca de dois meses. Shikamaru e Temari viviam um relacionamento sem rótulos, visto que moram em cidades diferentes, mas sempre ficam juntos quando ela vinha visitar acompanhando os pais em viagens a trabalho.

— Então foi por isso que você disse que eu estava sendo chato? — Naruto deu uma risada. — Você estava com ciúmes?

— Primeiro eu senti um pouco de raiva. Você era meu amigo e estava beijando por aí. E só falava disso. Pensei que talvez fosse inveja e me critiquei. — Sasuke fez uma breve pausa. — Quando vi você todo animado com o jogo da garrafa na festa do Kiba, fiquei meio assustado com a ideia de realmente gostar de você. Depois soube que beijou a Hinata e... Não podia mais ficar ali. Era estranho demais. Intenso demais. Confuso demais.

Naruto segurou a mão do moreno, entrelaçando seus dedos.

— Desculpa fazer você passar por isso.

— Você não teve culpa.

— Se bem que... Se não fosse assim, eu não estaria tão feliz agora.

Sasuke o encarou, sorrindo. Recebeu um olhar divertido do loiro.

— Me beijar foi tão bom assim?

Naruto assentiu.

— E eu vou beijar outra vez.

Momentos assim poderiam durar para sempre. É o desejo de qualquer apaixonado. Viver de momentos bons, que a chama da paixão nunca se apague.

Só que a vida não segue um roteiro nem avisa sobre as pedras no caminho. Durante aquele beijo, nenhum dos dois jamais imaginaria a tempestade que estaria por vir nem o cenário do acidente que mais tarde abalaria suas vidas.


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Notas finais do capítulo

O que acharam?
Esse capítulo foi gostoso demais de escrever. A amizade deles evoluiu de uma maneira tão linda e depois o romance... ♡♡♡ Fiquei toda apaixonadinha.
Espero que tenham gostado.
Até a próxima!

Músicas do capítulo:
☆ Velha infância – Tribalistas
https://youtu.be/hWadAXfH6Uc

☆ All the things she said – t.A.T.u.
https://youtu.be/XRweCXAkJbw