A vida é uma verdadeira caixinha de surpresas.

A todo instante, pessoas passam por nossas vidas, ainda que muitas não influenciem nela diretamente. O motorista do ônibus que acabou de passar, a professora da escola da esquina, o idoso com quem esbarrou na saída do mercado. Todas elas passam por nós, ainda que poucas decidam ficar.

Prova disso são as pessoas curiosas que se aglomeram pouco a pouco há uma curta distância de onde aconteceu o acidente. Alguém está ligando para a ambulância. Outro pergunta o que houve.

Quem acredita em destino poderia dizer que era para acontecer, porém esse termo não costuma ser usado para definir acidentes.

Ainda assim, não estaria de todo errado dizer que o destino tinha seu dedo ali. Afinal, vida e destino são amigos íntimos e dentre os encontros e desencontros, existem aqueles de alma.

E tudo começou num parquinho.

Aos oito anos, é um dos lugares favoritos de qualquer criança, especialmente em dias ensolarados de férias. Naquele dia, no entanto, o tempo estava parcialmente nublado nem eram férias e muitos pais não permitiram que seus filhos ficassem no parquinho. Era questão de tempo para que a chuva despencasse e ninguém gostaria de filho resfriado.

Sasuke estava no balanço, movimentando levemente os pés, desanimado. Seu irmão, Itachi, tinha prometido que chegaria mais cedo para brincarem. Estava tão ocupado que mal passavam tempo juntos. Por isso, o garoto esperou, esperou e esperou.

Viu pouco a pouco as nuvens cobrirem quase totalmente o sol tímido do dia e começarem a ganhar uma tonalidade acinzentada.

Suspirou. Estava na hora de ir para casa.

Antes que descesse, contudo, sentiu mãos em suas costas empurrando-o para frente.

Seu interior se acendeu rapidamente e olhou para trás com o maior dos sorrisos.

Não era Itachi.

Era um garoto loiro, de cabelo bagunçado, olhos azuis e risquinhos nas bochechas.

Involuntariamente o sorriso se desmanchou, enquanto uma expressão de estranhamento tomou conta do rosto do outro garoto.

— O que foi? Eu achei que quisesse balançar.

— Não é isso. — Sasuke falou, olhando para os próprios pés. — Eu queria, mas é porque eu estava esperando meu irmão.

— Está esperando há maior tempão né?

Sasuke o encarou. Fazia tanto tempo assim? E como ele sabia?

— Eu moro naquela casa ali. — o garoto apontou, como se lesse seus pensamentos. — Te vi pela janela.

O loiro se sentou no balanço ao lado de Sasuke.

— Meu nome é Naruto Uzumaki. — apresentou-se com um sorriso largo a ponto de fechar os olhos.

— Sasuke Uchiha.

— Minha mãe disse que eu não podia vir para o parquinho vazio. — o loiro continuou. — Mas você está aqui, então... Quer brincar?

— Eu não sei... — Sasuke ponderou. — Parece que vai chover. Melhor irmos para casa.

— Não vai chover não. O tempo está assim o dia todo. Vamos brincar. Por favor?!

Aqueles olhos azuis brilhantes e a careta pidona fizeram Sasuke rir. Parecia que esse era o objetivo, pois Naruto riu também.

Aquela risada espontânea foi como um sim. Não apenas na competição de quem balançava mais alto ou entre subidas e descidas no escorrego ou na gangorra. Foi também para lanche após escaparem da chuva direto para o conforto da sala quentinha do Uzumaki.

Aquele encontro que parecia tão ingênuo e casual no parquinho se revelou, anos mais tarde, um encontro de almas. Só que naquele instante, vendo desenho na TV e bebendo chocolate quente, eles ainda eram novos demais para entender isso.