Lycamania escrita por LC_Pena, Indignado Secreto de Natal


Capítulo 2
Capítulo 2




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Os estudantes que haviam continuado na escola estavam concentrados em quatro blocos no Salão Principal. Tendo chegado por último, Alina e Isla se espremeram entre os colegas de escola, até conseguirem chegar aonde os sonserinos estavam.

De sua posição, conseguiam ver alguns professores espalhados pelo salão, mas Isla se colocou na ponta dos pés para conseguir ver a fisionomia do diretor Snape melhor. Nenhuma das duas arriscou a perguntar se ele já havia dito algo, mas estava claro que o que ele iria dizer agora era importante.

O diretor Snape começou a discursar com seu tom monocórdio de sempre, que de alguma maneira inexplicável conseguia prender a atenção de todos. Alina suponha que ali estava uma bela demonstração do verdadeiro poder do medo.

A partir das palavras ameaçadoras do diretor, ficou claro que os boatos sobre Potter em Hogsmeade estavam finalmente confirmados. O homem de vestes escuras caminhou lentamente entre os alunos, dando mais peso ainda ao seu discurso.

Alina percebeu que estava, inconscientemente, vasculhando em sua mente se ela havia, de alguma forma acidental, favorecido a causa de Potter, tamanho era o medo que o diretor infringia nos estudantes nesse momento. Certificou-se de manter os olhos mirando seus próprios pés enquanto o mestre em Poções passava próximo de onde estava.

Quando Severus Snape terminou sua fala e deixou o silêncio em suspenso por todo o ambiente - o que normalmente teria selado o destino do pobre coitado que tentasse ir de encontro aos desejos dele - Harry Potter, em carne e osso, saiu do meio do grupo de grifinórios, com toda aquela petulância e coragem que lhe era tão característica.

Ok, isso realmente estava acontecendo ou era mais uma de suas alucinações induzidas pelos vapores de seus experimentos?

Potter não era uma pessoa que chamaria atenção em outras circunstâncias, no momento continuava o mesmo magricela de sempre, mas dessa vez usava vestes trouxas surradas por baixo de uma capa do uniforme da Grifinória. Porém, para além de suas vestes, naquela noite ele parecia gigante e, para completar a cena, Potter introduziu a, também impressionante, entrada triunfal de seus aliados na escola.

Alguns de seus colegas da Sonserina poderiam até dizer que eram apenas Longbotton, “Loony” Lovegood e outros esquisitos ao lado de adultos desconhecidos, mas os estudantes das outras casas, que até poucas horas atrás estavam apagados como velas depois da hora de dormir, pareciam restabelecidos, como se tivessem recebido um banho de poção restauradora.

Até mesmo a garota Weasley parecia ter ganhado nova vida!

Alina demorou uns segundos a mais do que o normal para entender o desenrolar da cena. A aparição repentina de Potter certamente havia causado uma comoção no grupo de funcionários de Hogwarts e o rosto do diretor agora tinha uma expressão que a garota não se lembrava de ter visto jamais.

Ok, talvez devesse ter comido alguma coisa quando teve a chance, porque não estava sentindo que seu cérebro estava funcionando de uma maneira adequada para um momento tão importante e solene.

Havia o burburinho dos seus próprios colegas ao redor em resposta a entrada dos aliados de Potter e Isla talvez estivesse sussurrando algo em seu ouvido... Mas apenas quando o diretor Snape apontou a varinha para Harry Potter, Alina e os demais estudantes responderam de uma maneira mais enfática.

Todos os presentes se afastaram de onde a batalha estava prestes a acontecer, formando um grande círculo ao redor dos dois. Entretanto, antes do duelo começar, a professora McGonagall se colocou na frente de Potter para defendê-lo. A senhora de aparência severa, mas sempre tranquila, atacou o diretor Snape primeiro.

Os dois mestres começaram a duelar, uma cena tão surreal, que ao invés de tomar cuidado com os feitiços que ricocheteavam da batalha entre os dois, os estudantes pareciam ainda mais atraídos pelo evento. Alina estava certa de que ela mesma nem sequer estava piscando os olhos no momento.

O diretor Snape parecia estar apenas se defendendo dos ataques da professora de Transfiguração com um escudo poderoso, porém isso se provou um erro rapidamente, pois um após o outro, os irmãos Carrow caíram com os feitiços ricocheteados, que não estavam destinados a eles.

Alina ouviu a amiga soltar um ofego quase feliz ao ver a vice-diretora Aleto Carrow cair no chão do lado oposto ao do irmão. Não podia culpar Isla pelo pequeno lapso de deslealdade, pois as últimas semanas haviam sido difíceis para aqueles que não caíram nas graças da Comensal da Morte e vice-diretora.

Assim que seus aliados foram derrotados e seu espaço para recuar reduziu drasticamente, Snape se transformou magicamente em uma fumaça negra, fugindo do duelo através de um dos vitrais das janelas do salão, deixando estilhaços e uma multidão de estudantes em choque para trás.

Assim que a professora McGonagall percebeu que o duelo havia acabado, ela se voltou para Potter, sendo cercada por ele, seus amigos e os demais alunos, que tinham acumulado inúmeras queixas e reclamações sobre os momentos de horror e o tratamento cruel que haviam recebido do diretor e demais Comensais da Morte nos últimos meses.

Para a maior parte da escola, aquele era um momento de alívio e só um pouco de alegria, dada a tenção que ainda pairava sobre o lugar. Porém, os alunos da Sonserina ficaram apenas sem reação, nervosos, alguns segurando discretamente suas varinhas, esperando em silêncio para ver o que iria acontecer.

Alina não fazia ideia de como as coisas ficariam para eles agora, porque não era segredo para ninguém que a maioria dos sonserinos estava do lado do Lorde das Trevas.

— O que fazemos agora? Eles vão nos deixar ir embora ou vamos lutar ao lado de Potter na guerra? — Isla perguntou assustada em um sussurro, olhando para os aliados do menino que sobreviveu comemorando aquela pequena vitória inesperada.

Alina iria respondê-la que ainda havia a opção de serem transformados em prisioneiros ou precisarem abrir seu próprio caminho para o outro lado duelando por suas vidas, quando finalmente avistou a última pessoa que esperava ver novamente no castelo...

Remus Lupin!

Ok, não era a última pessoa que esperava ver, mas era bastante surpreendente de qualquer forma. Ele parecia mais velho, mas, estranhamente, parecia muito mais confiante e leve do que antes, quase como se tivesse descoberto a cura da licantropia ele mesmo, ainda que isso fosse pouco provável. Ao que parecia, o velho professor apenas havia encontrado uma causa pela qual valia a pena morrer e com isso Alina podia se identificar.

Por mais caótico que fosse o momento, a garota sabia que talvez aquela fosse a sua única chance de conseguir o que precisava para alcançar o objetivo que havia traçado para ser o seu legado para o mundo.

Todo esse tempo tinha sido tão estúpida, talvez tivesse sido o fato de Greyback, único lobisomem disponível para observação, ser tão repugnante e visivelmente gostar tanto da sua condição, que a garota esqueceu completamente que poderia haver lobisomens com interesse sincero nos seus avanços!

Se conseguisse falar com Lupin, por cinco minutos que fosse, talvez conseguisse convencê-lo a cooperar com o seu trabalho!

E, apesar de toda a ojeriza que tal associação poderia lhe causar no futuro – porque, no momento, olhá-lo não foi, nem de longe, tão incômodo quanto olhar para Greyback - estava mais do que disposta a tratá-lo de maneira digna em todas as fases de coleta de amostras e testes, contanto que ele se mantivesse longe o suficiente dela durante as luas cheias.

Se tudo desse certo, faria questão de curar qualquer outro lobisomem cooperativo em seus próprios termos, para só então partir a caça daqueles como Greyback e como o monstro que matou seu pai.

Isla não havia insistido por uma resposta para uma pergunta que Alina nem sequer se lembrava mais, pelo que ela era grata. A sextanista mal podia acreditar que a solução para todos os seus problemas imediatos estava ali, conversando com uma mulher baixinha de cabelos curtos, cor rosa-chiclete, a apenas uns dez metros de si.

Alina teria atravessado a pequena distância através de seus colegas para abordar Remus Lupin sem nenhum pudor, mas foi nesse exato momento que os gritos começaram.

O teto encantado do Salão Principal - que sempre refletia o céu do lado de fora de Hogwarts - escureceu de repente e, ao mesmo tempo, Alina começou a sentir uma pressão externa em sua cabeça, como uma dor de cabeça invertida, de fora para dentro.

Colocou a mão nos ouvidos, tentando aliviar a pressão da força que, possivelmente, estava tentando dominar sua mente, pois o sentimento principal que sentia em seu peito era o de opressão e terror.

Aquilo não era o efeito de uma Legimência qualquer – infelizmente todos os alunos de Hogwarts estavam familiarizados com esse tipo de magia agora – parecia mais um ataque em massa, pois todos pareciam estar sentindo o mesmo que ela. Fazia sentido que os mais novos estivessem sendo mais afetados, a ponto de gritarem como se estivessem sendo atacados.

A pressão se intensificou e só então uma voz sussurrada soou, não em seus ouvidos, mas diretamente em seu cérebro, como se seu subconsciente tivesse adquirido consciência própria e agora estivesse tentando assumir o controle da sua mente por meio de uma persuasão quase sobrenatural.

Isso só poderia significar uma coisa: aquela era a voz verdadeira do Lorde das Trevas!

E então, de todos os momentos em que poderia acontecer, a mente de Alina escolheu a pior hora e o pior lugar para ter uma epifania:

A sonserina sempre fora uma criança cética, pois era também filha de pais céticos e gostava desse traço em particular de sua família. Antes de mais nada, os Laurioux eram conhecidos por sempre estarem inclinados a duvidar de tudo. Até mesmo antes de sua morte, as últimas palavras de seu pai questionavam o que os bruxos sabiam sobre a vida após a morte ou o que sabiam sobre a morte ainda em vida...

Quando os medibruxos disseram à Clement Laurioux que, caso sobrevivesse aos seus ferimentos, ele conseguiria encontrar uma maneira de lidar com sua provável licantropia, o homem apenas assentiu calado. O bruxo de origem francesa esperou os profissionais saírem, bem como seus irmãos e esposa, esperando até ficar a sós com sua herdeira, a única que precisava entender a sua última escolha.

Para Alina, naquela noite, a sua última noite com ele, seu pai havia soado cansado, mas lúcido. Ele repetiu o que sempre lhe dizia quando ela tentava se eximir da culpa por suas travessuras de criança, dizendo que não tivera escolha: “na vida sempre há escolhas, Alina”. Porém, dessa vez, o homem finalmente completou seu conselho “sempre temos escolha, mesmo que uma das opções seja a própria morte. Então seja sábia, minha criança e nunca deixe que terceiros decidam o seu destino por você”.

Desde a morte de seu pai, sempre esteve decidida a aplicar seu último conselho sem hesitar, então, ainda que discordasse de muitas ações do Lorde das Trevas, respeitava o fato dele não usar a maldição Imperius para angariar aliados para sua causa e estava ciente de que, se permanecesse ao seu lado na batalha, estaria ali por decisão sua e de mais ninguém.

Mas, ao ouvir aquela voz ressoar dentro de sua mente, sem convite, a fazendo se sentir incapaz de expulsá-la dali, pela primeira vez Alina se perguntou o que faria se, no futuro, Voldemort literalmente lhe tirasse até mesmo a opção da morte.

Seu pai havia abraçado seu destino em seus próprios termos e, enquanto sua mãe se desesperava na hora e o maldizia nos anos seguintes, a garota havia entendido completamente o que ele a quis ensinar.

Clement Laurioux poderia ter vivido como um lobisomem, mas escolheu morrer como um bruxo e por mais que ela, sua mãe e a maioria das pessoas discordassem de sua decisão, tinha sido uma escolha dele e somente dele. Uma escolha egoísta, impensada e típica de um homem cético, que acreditava que a esperança sem evidências concretas era uma doença, mas havia sido uma escolha própria, antes de tudo.

Assim como seu pai, Alina não concordava com quase ninguém, era teimosa, pouco colaborativa e dificilmente mudava de ideia uma vez que colocava algo na cabeça. Mas, estranhamente, sabia respeitar todas as pessoas que eram igualmente capazes de se manter firmes em suas crenças, mesmo que isso a irritasse profundamente.

Porque, para ela, um mundo de divergências incessantes era mil vezes mais agradável do que um mundo homogêneo, em que apenas um ponto de vista importava.

Então, ao ouvir a voz do Lorde das Trevas em sua mente, lhe tirando qualquer direito de escolha, finalmente estava ouvindo a sua própria voz gritando para si “Causa nenhuma vale a pena renunciar a sua liberdade e nunca valerá, você sabe disso!”.

Acreditava que bruxos eram superiores aos trouxas e não gostava das coisas como eram antes, mas se pudesse voltar no tempo, não hesitaria em voltar para a época em que o Lorde das Trevas não passava de um conto assustador para uns e uma promessa de esperança para outros.

Estava mais do que óbvio que algumas coisas eram melhores e deveriam continuar somente no mundo do “E se”. Assim como o universo em que seu pai viveria ao seu lado, ainda que infeliz como um monstro, a era de Lorde Voldemort era uma dessas coisas que deveriam ter ficado apenas na imaginação.

No fim das contas, a mensagem do Lorde das Trevas fora clara, entregar Potter e ser recompensado ou não entregar e morrer ao lado do grifinório, ainda que Alina tivesse entendido algo mais em sua epifania.

Uma setimanista de sua casa sugeriu entregar o garoto de uma vez para o lorde, como esperado - havia mais medo do que ódio na voz de Pansy Parkinson - mas aquela fora uma tentativa boba de salvação, porque era óbvio que a maior parte da escola estava do lado de Potter.

Antes que mais alguém sugerisse mais algum plano descabido e desencadeasse uma batalha ali mesmo, a professora McGonagall pôs fim na agonia dos sonserinos e os enviou de volta as Masmorras, sob a supervisão de Argus Filch, os deixando de fora dos preparativos para a guerra contra Lorde Voldemort, os Comensais da Morte e seus aliados.

Ninguém se opôs àquela ordem, nem mesmo Alina e seu recém-descoberto desejo de assumir as rédeas de sua existência, então o velho aborto guiou os estudantes da Sonserina pelos corredores da escola apressadamente, resmungando para si mesmo por todo o caminho.

A maioria de seus colegas de casa seguiram calados, então Alina chamou um pouco de atenção ao parar no meio do corredor, esperar o último dos sonserinos passar, para então empurrar uma Isla confusa para um dos vãos onde as armaduras de Hogwarts ficavam enfileiradas.

— O que você pensa que está fazendo? Não me diga que está pensando em se aliar a Potter! — Isla questionou apressadamente e, em outros tempos Alina teria dispensado o comentário com um gesto de mãos, mas algo no tom da amiga lhe chamou a atenção.

— Por quê? Você está considerando a ideia? — Retrucou com suspeita. Não havia julgamento em sua voz, porque a verdade é que Alina não fazia ideia do que poderia ter se passado na cabeça de sua melhor amiga, enquanto a sua estivera obviamente entrando em parafuso! Isla pareceu notar a sinceridade da pergunta.

— Agora que o lorde está realmente aqui e que tudo está desmoronando e que não vamos ser punidas por falar o que pensamos... Eu odeio praticar a Cruciatus em primeiranistas, não poderia me importar menos com a origem do sangue da bisavó dos outros e eu realmente, realmente estou cansada de ouvir os nomes das pessoas com quem eu já saí ou quis sair serem anunciados na rádio na lista de desaparecidos!

A garota falou tudo em um só fôlego, com lágrimas nos olhos e, depois de alguns segundos esperando alguma resposta de Alina, a puxou mais para dentro do vão, quando percebeu a movimentação dos estudantes aliados de Potter se aproximar de onde estavam.

A outra garota a encarou sem reação, porque, a verdade é que Alina não fazia ideia do que poderia responder a amiga naquele momento.

— A sua lista de paqueras é realmente grande...

— Alina, eu estou falando sério, eu acho que a gente deveria... — Isla começou a falar, mas depois pareceu pensar melhor, então apenas tirou a gravata verde e prata e deixou sua capa escorregar de seus ombros em um gesto dramático. — Eu vou lutar contra o Lorde das Trevas, Alina e se você não está disposta a fazer isso também, agora é a hora perfeita para correr para as Masmorras e se manter segura lá com os outros.

Ah bem, uma Isla Danskin determinada a fazer algo em benefício de outra pessoa que não ela mesma era um evento raro e igualmente interessante, Alina tinha que admitir.

A questão de lutar ou não lutar contra Voldemort se resumia a apenas uma questão, havia um mundo onde coisas ruins aconteciam, mesmo que você tentasse impedi-las e havia outro mundo que precisava que coisas ruins acontecessem para poder existir.

Alina suspirou pesado, de olhos fechados e se controlou para não gritar de frustração, porque a resposta a intimação de Isla era óbvia: se não queria viver no mundo de Voldemort, a outra opção era Harry Potter, porque, por mais que isso soasse como uma decisão estúpida, escolher a morte, nesse caso, parecia exageradamente dramático.

— Merlin, não acredito que estamos mesmo fazendo isso... Potter é tão irritante! — Alina choramingou para si mesma, se permitindo um último momento de fraqueza antes de começar a levar aquela situação realmente a sério. — Mas pelo menos ele tem a decência de nos dar opções além de “faça o que eu quero ou morra”!

Isla deu uma risadinha de leve, mas depois olhou seriamente a amiga, enquanto segurava seus braços carinhosamente.

— Você tem certeza de que quer mesmo fazer isso? Uma vez na batalha, eles não vão pegar leve com a gente... — Isla sussurrou, ignorando o barulho de passos cada vez mais perto de onde estavam. Alina apenas deu de ombros, seguindo o exemplo da amiga, tirando a gravata e a capa antes de se juntar a batalha.

— O que mais eu posso fazer, hum? Potter tem ao seu lado provavelmente o único lobisomem que vai aceitar participar dos meus experimentos de graça! — Disse rindo, enquanto puxava a amiga para fora do esconderijo. — Vamos logo, antes que a gente seja colocada ao lado dos lufanos no campo de batalha!

***

De todas as invenções humanas, a guerra deveria ser a mais estúpida!

Correção, porque outros seres racionais também guerreavam: a guerra era a invenção mais estúpida de todas as raças, a qualquer tempo, em qualquer lugar! Como a intolerância e a divergência de opiniões podiam chegar a um ponto tal em que matar uns aos outros se tornava a única resposta?

Alina sentia a pele arranhada e levemente queimada em várias partes e sua boca tinha gosto de sangue e cinzas, mas estava de pé, com todos os membros inteiros e nos lugares certos, então se forçou a continuar andando e ajudando seus colegas como podia.

Agora os estudantes que a conheciam não fazia mais cara de surpresa quando a viam lutando ao seu lado ou ajudando a proteger uma das zonas que estavam cedendo diante do avanço dos bruxos do lado de fora.

Ninguém tinha tempo, ninguém se importava com o que ela pensava antes e certamente, para alguns, a única coisa que os estava mantendo de pé era o instinto de sobrevivência, mas, ainda assim, Alina se surpreendeu com algumas atitudes que estava vendo naquela mistura de escombros, gritos e feitiços.

Desviou a maldição de um Comensal que tentara acertar uma moça loira pelas costas e, em retorno, recebeu um agradecimento de um ruivo apressado, que sumira da mesma forma que apareceu, como se estivesse aparatando, mesmo que isso fosse impossível no castelo.

Não fazia ideia de como seriam as coisas caso Potter ganhasse, mas do seu lado, as pessoas ao menos se ajudavam, protegiam umas as outras e realmente se preocupavam com o fato de estarem lutando com estudantes, coisa que nem passava pela cabeça dos Comensais da Morte.

Eles não estavam soltando Expelliarmus ou feitiços estuporantes nos alunos de Hogwarts, porque, aparentemente o Lorde das Trevas não queria prisioneiros.

— Laurioux, o que está fazendo aqui? — A voz era familiar, mas levou um tempo para a menina saber de onde ela estava vindo.

Por Merlin, era Remus Lupin!

E de novo, estava na frente de um lobisomem e de novo não sabia o que fazer!

Tudo bem que dessa vez ao menos ela tinha a desculpa de que estava no meio de uma guerra, confusa sobre suas decisões dos últimos meses – estava completamente fora de si ao achar que Voldemort realmente era o melhor para o mundo bruxo! – mas ao menos dessa vez conseguiu voltar a si a tempo de dizer o que precisava dizer para o homem.

— Estou trabalhando numa cura, professor! — O homem pareceu confuso com sua declaração inesperada. Uma explosão, que soou assustadoramente perto, o distraiu, então ele apenas a empurrou de leve, em direção a uma área mais segura do castelo. Alina repetiu a informação. — Estou trabalhando em uma cura para a licantropia, professor!

Alina encarou o bruxo sem se mover do lugar e percebeu que dessa vez ele tinha entendido o que ela havia dito. Várias emoções passaram pelo rosto de Remus Lupin em segundos, a garota nunca sonharia em tentar decifrar metade daqueles sentimentos, porque ela provavelmente jamais tinha sentido metade daquelas coisas, mas conseguiu identificar os principais: havia confusão, descrença e por fim, alegria.

— Agradeço o esforço, senhorita Laurioux! Espero obter notícias sobre o seu progresso em breve. — Lupin respondeu com seu tom professoral, mas depois lhe deu uma piscadela marota, o que a deixou surpresa.

Foi quando Alina se lembrou que, aos 12 anos, apesar de todos os comentários maldosos de seus colegas – e seus próprios em alguns momentos - , ela tinha achado o professor Lupin um cara bem legal, isso até descobrir que ele era um lobisomem, claro.

Agora percebia que ele era um bom homem, independentemente de ser ou não um lobisomem.  

— Eu vou conseguir encontrar a cura, isso é uma promessa. — A garota falou com convicção, queria dizer mais coisa, não sabia bem o que, mas pensou melhor e decidiu seguir o caminho que ele a havia indicado antes.

Remus a observou ir embora e, por pelo menos um minuto naquela guerra terrível, em que seu coração batia com medo por sua esposa e por cada amigo que estava na batalha, ele se permitiu sentir esperança em um futuro melhor para si mesmo e para aqueles que amava, porque ali, na sua frente, estava a prova de que as crianças eram sim capazes de mudar e que elas definitivamente podiam quebrar o ciclo de preconceito que permeava o mundo bruxo.

Lupin se lembrava daquela sonserina do segundo ano e não pôde deixar de ficar surpreso em vê-la ali, lutando contra Voldemort naquela batalha. A garotinha de que se lembrava fizera questão de se mostrar arrogante e malcriada na classe do professor grifinório maltrapilho, como a maioria de seus colegas de casa lhe chamavam pelas costas, porém, suas tarefas e apontamentos bem-feitos contavam uma outra história. Ele sabia que, no fundo, ela e muitos outros sonserinos gostavam de suas aulas, ainda que não admitissem.

Nas primeiras semanas após a sua saída de Hogwarts, depois que Sirius finalmente ia dormir no seu quarto no Número 12, Remus às vezes se torturava pensando no que os seus estudantes deviam ter achado ao descobrirem sobre sua maldição... Ironicamente, ele sempre teve certeza de que todos os sonserinos haviam ficado enojados com a descoberta.

Perceber hoje que estava completamente errado foi uma grata surpresa! A garota queria curá-lo... Bem, aquilo era realmente um indício de que novos e bons tempos viriam pela frente.

Alina se afastou do professor Lupin, porque, depois da reação de gratidão do homem, ela foi tomada por um nó no peito que era um misto de orgulho e vergonha, que ela mal conseguia entender, quanto mais desatar!

Sentia muita vergonha pelas motivações erradas que haviam feito com que ela começasse toda essa obsessão com a cura para a licantropia, sendo que o caminho certo estava na sua frente o tempo todo: se pudesse curar aqueles que fossem amaldiçoados, nenhuma garotinha jamais teria que passar pelo que ela havia passado e pessoas como Lupin teriam uma nova chance de viver em paz!

E quanto aos lobisomens como Greyback, mesmo que eles amaldiçoem alguém, se suas vítimas puderem ser curadas, o terror que eles serão capazes de causar reduzirá drasticamente, pois monstros de presas e garras grandes não são exatamente uma novidade no mundo bruxo...

Por isso que, apesar da vergonha, Alina também sentia uma sensação boa com a decisão que havia tomado. Provavelmente levaria uma eternidade para desvendar os mistérios da licantropia e, talvez morresse com mais de cem anos sem nunca conseguir cumprir sua promessa a Remus Lupin, mas ao menos tinha decidido sozinha o que faria pelo resto de sua vida!

E, nesse exato momento, estava muito orgulhosa de sua escolha.


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Notas finais do capítulo

Desenvolvimento de personagem leva tempo, então vamos ser gratas e gratos as epifanias, que adiantam o processo. Obrigada, de nada.



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