Fazia algum tempo que não ia até aquela casa e era de uma falta de educação extrema aparecer sem ser convidada em plena véspera de Natal, mas o que podia fazer? A lua cheia seria dali a mais uma semana, então não tinha tempo a perder!

Bateu na porta com três toques curtos, uma pausa, então mais três toques seguidos pelos primeiros acordes do hino de Hogwarts.

Não sabia se o menino ainda se lembraria daquele código de meses atrás, mas não se importava em ensiná-lo tudo de novo, porque era sempre divertido vê-lo tão animado com a brincadeira. Ele devia estar com quase sete anos agora, estava crescendo rápido e logo, logo não precisaria mais ser lembrado do seu toque secreto na porta, a bruxa visitante estava certa.

A conversa dentro do chalé parou por alguns segundos. Alina logo ouviu passos leves, mas apressados em direção a entrada da casa.  A porta se abriu e uma cabeça pequena, de cabelos azuis, surgiu no vão de entrada, a brindando com um sorriso banguela e travesso.

— Eu me lembro de você... — O garotinho disse com falsa timidez, ainda sorrindo, sem abrir a porta completamente.

— Eu não tenho certeza se lembro de você... Mas você se parece muito com um amigo de cabelo rosa-chiclete que morava exatamente nessa casa! — Alina respondeu se colocando na altura do garotinho, que havia trocado os cabelos para cor de rosa, bem a tempo de ouvir um homem com uma voz familiar atrás da porta.

— Quem é, Teddy? — Remus Lupin perguntou sem nenhum traço de alarme na voz, o que só demonstrava que os tempos de guerra finalmente haviam ficado para trás naquela casa.

Alina se levantou e assistiu com satisfação a expressão do homem passar de confusão, para descrença e, por fim, alegria. Antes que ele pudesse lhe cumprimentar com seu velho tom professoral, a moça se adiantou e tirou um pequeno frasquinho do bolso do casaco, com um pouco de neve nos ombros.

— Eu sei que já falei isso outras vezes, mas você sabe... A décima terceira vez é a da sorte! — Disse mordendo os lábios, realmente nervosa com a possibilidade de Lupin ter se cansado de seus testes doidos. Talvez ter escolhido a época de Natal para mais uma tentativa não fosse assim uma ideia tão ruim...

Remus a olhou com uma cara de suspeita engraçada, aceitando mais uma tentativa de cura de licantropia com cautela. Colocou o frasquinho com um líquido índigo contra a luz, então respondeu uma pergunta baixa da cozinha do chalé, que Alina não conseguiu ouvir.

— Sim, Dora, coloca mais um prato na mesa, por favor. — Assim que percebeu que a esposa havia entendido, Remus se virou novamente para sua ex-aluna - e, bem, a essa altura do campeonato, só podia considerar Alina Laurioux como uma amiga improvável – e fez sinal para que ela entrasse. — Se isso me deixar com sarna de novo, você vai dormir na casinha do cachorro!

— Oba!!! Posso dormir na casa de Paddie também? — Teddy perguntou empolgado, agarrando a calça de flanela do pai, que agora flutuava o malão da visitante inesperada para dentro do chalé.

Alina riu da empolgação do garoto e da revirada de olhos discreta do seu professor favorito de Hogwarts, que havia feito da sua última temporada na escola, o seu ano de maior aprendizado.

Aquela pergunta não merecia resposta, primeiro porque a sonserina poderia transformar a casinha do cachorro dos Lupin em um ótimo forte a prova de adultos para a sua pessoinha favorita no mundo – bem, umas das, já que a filha de Isla, nascida no último verão, era uma forte concorrente a esse posto - mas, principalmente, porque a bruxa dessa vez tinha certeza de que, finalmente, havia cumprido a sua promessa.

Alina tinha certeza de que, muito em breve, Remus Lupin seria um homem completamente livre. E aquele seria o melhor Natal de todos!