Por Detrás das Sombras escrita por they call me hell


Capítulo 2
Uma Solução Desesperada


Notas iniciais do capítulo

Gostaria de desenvolver melhor algumas coisas nesse capítulo, mas ele acabaria ficando muito mais longo do que já ficou. Então, decidi postá-lo assim mesmo e trabalhar o que quero ao longo dos próximos capítulos, aos poucos. Espero que goste! :)



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— 3 —

Uma Solução Desesperada

 

Através da lembrança obtida com Oliver, consigo chegar até o nome de Ludwig Primrose. Ele se torna uma pessoa de interesse por estar indiretamente ligado à empresa citada nos documentos do galpão, sendo amigo pessoal do seu fundador e ex-colega de trabalho no Departamento de Mistérios, o que me soa particularmente interessante. Vale a pena tentar cercar a Memphis pelos arredores, ao invés de me dirigir diretamente a ela e atrair atenção indesejada para a minha investigação. Entretanto, nem tudo é simples, como eu já previa: Primrose está encarcerado em Azkaban há quase vinte anos e por mais que eu tenha poder para interrogá-lo ou tirá-lo de lá, sendo uma investigadora do Ministério com um caso muito urgente, não posso fazê-lo sem a autorização e acompanhamento de um parente próximo. Com a morte de sua antiga esposa durante a guerra, apenas me resta uma hipótese.

Não foi difícil rastrear Sean Primrose. Ele deixava rastros em todo lugar que passava, o que me dizia que era alguém descuidado ou não se importava com isso. Na sua ficha no Departamento de Aurores, vejo que já foi suspeito de alguns pequenos golpes e foi preso uma vez por forjar um diploma de curso avançado em magia. Pelas notas do Auror que lidou com ele na época, sei que é um indivíduo com inclinação para a manipulação e contatos importantes, de inteligência muito acima da média.

 

O encontro na estação de King's Cross, onde o intercepto antes que possa partir para se sabe lá onde. Ela franze o cenho para mim, claramente desconfiado. Eu também estaria, no lugar dele, pois há gente poderosa que adoraria encontrá-lo para resolver algumas pendências.

— Sean Primrose? — questiono, colocando um sorriso amigável no rosto. O quero ao meu lado, não preciso da sua inimizade.

Ele concorda com um aceno.

— E você é…?

— Hermione Granger — estendo minha mão, a qual ele segura em um cumprimento breve. — Poderíamos conversar por um instante?

Ele dá de ombros, mas me acompanha para uma área privada da estação onde os funcionários do Ministério realizam inspeções em passageiros e bagagens suspeitas. Eu me sento em uma das poltronas, mas ele permanece em pé, como se quisesse dizer para que eu fosse breve.

— Vou ser objetiva com você, pois nós dois detestamos enrolações — começo, me aconchegando em meu lugar. — Sou investigadora no Esquadrão de Execução da Lei da Magia e você é a única pessoa que pode me permitir acesso ao seu pai. Preciso que venha comigo à Azkaban.

Ele ri. Primeiro, é uma risada baixa e muito sutil, mas em poucos minutos o vejo gargalhar divertidamente. Ergo uma das sobrancelhas para ele, pois não estou de brincadeira.

— Olha… Granger — ele respira fundo, deixando a risada de lado por um momento. — Eu não sei o que você pode querer com ele, mas eu estou fora. Tenho uma viagem a negócios e preciso embarcar. Te desejo boa sorte, pois ele não é um cara bacana e duvido muito que te dirá o que quer ouvir.

É a minha vez de rir, o que acaba por surpreendê-lo. Afasto minhas costas da poltrona e me inclino para frente, apoiando os cotovelos sobre as coxas.

— Olha… Primrose — debocho propositalmente. — Acho que você não entendeu muito bem. Estou sendo cordial e tentando fazer isso da melhor maneira, mas não há espaço entre as hipóteses para a sua negativa. Você irá comigo, queira ou não.

Sean cruza os braços na altura do peito, esperando que eu continue. Há um leve temor na sua face, eu posso vê-lo. Ele é um rapaz alto e muito elegante com sua camisa social preta e calça de mesma cor, cabelos castanhos muito claro e olhos verdes. Seu maxilar é um pouco quadrado, mas de uma forma que torna sua fisionomia agradável. A barba por fazer me diz que ele está com pressa, se esgueirando por aí como um rato em busca de uma toca segura.

— O Ministério ficará interessado no seu abuso de autoridade, eu suponho.

Pobre rapaz. Ele acha que nunca ouvi isso antes. Harry adoraria tomar um chá com ele, se não tivesse coisas mais importantes para fazer.

— Eleanor também ficaria muito interessada em saber o seu paradeiro, eu acho — curvo os lábios em um sorriso e o vejo estremecer, sabendo que toquei a ferida certa. — A sua ficha diz muitas coisas, sabia? E com o caso em que estou trabalhando no momento, tenho autoridade o suficiente para segurá-lo numa sala de interrogatório pelo tempo necessário até que ela venha buscá-lo.

Ele pensa um pouco, mas sei que não poderá fugir agora. Eu não sei exatamente o que ele deve para essa mulher, mas deve ser uma quantia bem alta para deixá-lo ainda mais receoso.

— Certo, você venceu — ele ergue as mãos em redenção, aliviando sua expressão para um tom mais divertido. — Você quer fazer uma visitinha para o meu pai? Vamos fazê-lo. E depois disso eu pegarei o primeiro trem.

Me levanto, vitoriosa. Eu poderia ir muito além para persuadi-lo, mas fico feliz por não precisar. Passo por ele em passos lentos e sinalizo para que me siga até a área de aparatação.

— Se me permite — ele começa depois de alguns poucos minutos, quebrando o silêncio que havia sido estabelecido até então. — O que meu pai aprontou dessa vez?

— Dessa vez? — o olho por cima do ombro, blefando para ver se ele entrega algo que eu já não saiba.

— Bem, ele foi para Azkaban por um acidente no laboratório que deixou uma vítima. Duvido que esteja investigando sobre isso.

Balanço os ombros brevemente, concordando em silêncio.

— Não posso discutir o caso em que estou trabalhando com você. Não até que tenhamos a custódia do seu pai.

Detesto ir à Azkaban. O clima é sombrio mesmo com o banimento dos dementadores há alguns anos e tudo parece muito sujo, ainda que não esteja, pois as paredes são tão antigas que possuem uma cor amarelada que me causa náuseas. Esperamos na área de visitas até que um dos guardas escolte um senhor de cabelos muito bagunçados e grisalhos, cujos dedos das mãos se movimento incessantemente em algum tipo de mania exacerbada enquanto anda, olhando o chão. Ele nos vê assim que o guarda o deixa e fecha a porta, parando diante dela para nos supervisionar. Parece muito confuso, mas se ilumina quando reconhece o rapaz ao meu lado. Seus passos, então, são muito rápidos e ele toca a bochecha do filho para ter certeza de que não está alucinando.

— Você veio — sua voz rouca sussurra. Fico um pouco emocionada e desvio o olhar, querendo dar alguma privacidade para esse reencontro. — Sabia que viria um dia.

Percebo que seu filho, aparentemente, nunca o visitou. Isso me causa desconforto.

— É, pai — ele não esboça reação. — A moça quer te fazer algumas perguntas, sente-se.

Ele se senta, animado como uma criança que passou tempo demais em um castigo. Ocupamos todos a mesa de refeitório e Primrose, o mais velho, foca sua atenção em mim.

— É uma moça muito bonita, Sean. Você também está muito bonito, mas precisa perder um pouco de peso. É coisa da idade, eu suponho.

Umedeço meus lábios com a língua para esconder um riso. Independente do que houve entre eles, ainda são pai e filho, no fim das contas.

— É um prazer conhecê-lo, Sr. Primrose — começo, o deixando mais confortável. — Meu nome é Hermione Granger e sou investigadora no Esquadrão de Execução da Lei da Magia.

Os lábios dele se abrem em um pequeno “o”. O vejo piscar repetidamente e seus dedos ainda chacoalham, batendo na mesa devagar.

— Em que posso ajudar?

— Estou investigando um caso e acredito que o senhor possa me ajudar — sorrio para ele, utilizando a mesma tática inicial que utilizei com seu filho que nos assiste em completo silêncio. — O senhor conhecia Charles Greengrass, certo?

Ele balança a cabeça como se fosse negar, mas logo vejo que está apenas organizando suas ideias de alguma forma.

— Sim, claro — ele abre um grande sorriso para mim. — Charlie e eu trabalhamos juntos durante anos. É um ótimo pesquisador e cientista, o único com o qual podia conversar em pé de igualdade, se quer saber. Juntos conduzimos muitos experimentos, como aquele em que…

— Ela já entendeu, pai — Sean o interrompe, visivelmente ansioso para sair dali. — Seja objetivo.

O olho em repreensão, pois cada detalhe conta e não quero que ele se irrite de alguma forma, e pare de cooperar conosco.

— Bem, conheço — Ludwig se corrige. — Aconteceu algo com ele?

— Não que eu saiba. De todo modo, ele é uma pessoa de interesse em um caso no qual estou trabalhando agora. Me diga, o senhor já ouviu algo sobre um “manifesto”?

O vejo pensar um pouco até que ri um pouco envergonhado.

— Manifestos são muito comuns no nosso meio acadêmico, precisaria de mais algumas informações para lhe dizer…

Abro minha bolsa e retiro de dentro dela uma cópia que fiz da carta encontrada anteriormente, a passando para ele.

— O senhor se lembra de algum grupo que se reunia periodicamente para discutir sobre um manifesto específico?

Primrose lê a carta rapidamente e suas mãos tremem. Só Merlin sabe as coisas pelas quais ele passou em vinte anos trancafiado ali para deixá-lo com uma aparência tão frágil. Vi suas fotos no arquivo do Ministério antes de procurar pelo seu filho e ele era um homem imponente, intimidador. Agora parecia um senhor muito cansado e fraco, com uma mente visivelmente perturbada.

— Oh, sim — ele abaixa a carta, a colocando sobre a mesa. — Como se chamava? Era algo como… não, não — seus olhos se perdem e posso quase senti-lo acessar o fundo de sua memória, revirando caixas e caixas que ficaram empilhadas durante todos esses anos sem serventia alguma. — O “Manifesto da Liberdade”, sim, era esse. Recebi um pergaminho parecido uma vez.

Fico aliviada. É disso que preciso, um pouco esperança.

— O senhor fez parte desse grupo?

Os seus ombros, até então encolhidos, se endireitam e ele assume uma posição muito diferente, cheia de confiança. Isso parece mais próximo do que vi em suas fotos antigas.

— É claro que não — seu tom é irônico e tem algo de engrandecimento pessoal nele. — Quantos bruxos acha que debatem suas ideias frívolas por aí como se fossem grandes coisas? Sou um grande bruxo, um cientista respeitável cuja carreira é muito mais grandiosa do que muitos deles. Não posso dar minha presença a qualquer reunião, Srta. Granger. Eles eram tolos! Homens tolos!

Sua última frase parece despertar uma raiva interior muito grande e com a sua alteração, o guarda se aproxima. Ergo minha mão para ele, dizendo que estamos bem, e ele para no lugar, mas sei que está pronto para intervir a qualquer momento.

— Eu concordo — tento acalmá-lo. — O perguntei apenas para confirmar, não se preocupe.

— Você acha que eu não sei que está tentando me manipular? — é a sua resposta arrogante enquanto se ergue sobre a mesa, apoiando as mãos nela para se sustentar. Elas não estão mais tremendo. — Eu não sei o que Charlie te disse, mas não sou louco, senhorita. Se veio espionar o meu trabalho, não encontrará nada aqui.

Sean ergue uma sobrancelha para mim e posso ouvi-lo dizendo "eu te avisei". Eu cheguei tão longe, não posso perder tudo agora.

— Não quero espionar seu trabalho, Sr. Primrose — digo, me recompondo para não deixá-lo me intimidar mais. — Porém, estão acontecendo ataques lá fora e eles parecem ter alguma ligação com o trabalho. Eu preciso da sua ajuda para resolvê-los. Só o senhor pode me ajudar.

Com seu ego bajulado, ele se acalma e se senta novamente, sorrindo de forma quase inocente. A mudança em sua fisionomia me assusta.

— Então... eu precisarei de um laboratório.

Seu filho olha para nós dois, intercalando vez ou outra. Parece não acreditar no que está ouvindo.

— Você não pode tirá-lo daqui — esbraveja, batendo as mãos sobre a mesa. — Ele é insano, não vê?

— Você também ficaria insano se estivesse tranficado aqui há tanto tempo — respondo, o olhando da mesma forma que me olha. — Não é apenas Londres ou a Inglaterra que está em perigo, Primrose. Se minha investigação estiver correta, tudo o que conhecemos está em risco. Eu não me importo com o seu julgamento sobre o seu pai, desde que ele possa me dar as respostas de que eu preciso.

Ele se levanta da mesa, mas não nos deixa de imediato, como pensei que faria.

— Eu espero que saiba o que está fazendo, Granger.

Não, eu não sei. Porém, é tudo o que posso fazer agora.

 


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