Jovens Afortunados escrita por Taigo Leão


Capítulo 16
XVI


Notas iniciais do capítulo

Me perdoem pela demora pra postar esse capítulo, estive meio doente nos últimos dias :((



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Natasha,


Meu anjinho, nem ao menos sei como iniciar essa carta. Ainda estou sem palavras perante a tua, que confesso ter sido um baque para mim.
Em minha ignorância, não fazia idéia de que se sentia dessa forma. Sempre pensei que vivia nas nuvens, de forma que nunca me passou pela cabeça que tua condição sempre foi como um pesadelo e um castigo pra você, na realidade, pensava se tratar de um martírio. Eu não fazia idéia, e, ignorante, dei crédito para minha imaginação. Mas após ler o que escreveu, acredito que te entendo um pouco mais. Ao menos o bastante para saber como tem sido difícil para você.
Esse é o ruim das deduções. Através delas acreditamos em coisas que podem não ser verdade, e mesmo assim aceitamos aquilo como nossa verdade. Agora sei que fui terrivelmente ludibriado.
Eu sempre soube que sua mãe era um pouco dura. Ela também sempre me pareceu um pouco fria, mas saber que ela te tratava dessa forma... Meu anjinho, são coisas demais para absorver.
Não quero que a odeie, pois se ela age desta forma com você é porque se preocupa, e talvez não saiba como tem sido duro para ti, ainda mais se você nunca lhe contou sobre como se sente. As pessoas nunca saberão o que há de errado se não formos francos com elas, meu anjinho. Então pense que, do seu modo, ela só queria o melhor para você. Talvez a última coisa que ela queira neste mundo é que você passe pelas coisas que ela passou, por isso aje de forma tão radical.
Não digo isso para que você volte atrás em tuas escolhas, pois acredito que você está certa em tudo que decidiu em sua vida, apenas sente frio na barriga porque é algo totalmente novo para ti. Você vai ficar bem.
Saiba que eu sempre levei minha vida da pior forma possível. Questionando cada uma de minhas decisões, e imaginando que, se tivesse tomado outra, minha vida não seria muito pior do que já consegue ser agora. Entretanto, algo que não posso negar é que sempre estive a par de todas essas decisões, pois elas foram tomadas pela minha própria pessoa, e isso me é válido afinal. Em momento algum deixei com que outra pessoa se passasse por mim ou fiquei apenas imaginando como seria minha vida se eu mesmo tomasse as rédeas, pois sempre estive a frente. Não posso entender claramente pelo que tem passado, eu posso apenas tentar imaginar algo parecido, pois me causa certa lástima saber que vivia dessa forma, sendo uma marionete, ou até mesmo se questionando sobre quem é a estranha que lhe encarava no espelho. Você se sentia assim?
Pois bem, agora devo dizer que se soubesse, tão cedo teria lhe dado mais apoio, e não deduzido a forma como você vivia. Eu teria lhe apoiado mais, meu anjinho. Teria ficado ao seu lado e deste lugar não sairia nem a força, pois não tenho outro lugar no mundo, a não ser ao seu lado.
Me diga, meu anjinho, se há algo que posso fazer para que se sinta melhor. Qualquer coisa, eu estou aqui para isso. Isso me exausta, mas gostaria de ser algo que te faça bem.
Confesso que há uma coisa que me chateou em sua carta, meu anjinho, que foi saber sobre a viagem. Me sinto aliviado, mas também culpado, e talvez eu esteja terrivelmente enganado. Não quero que fique aqui por mim. Não quero que fique aqui por Clara. Se diz que quer viver a sua vida, acredito que você deveria vivê-la onde seria melhor, e creio que um lugar como Paris é mil vezes melhor do que este vale esquecido. Então por favor, meu anjinho, não se questione quanto a isso. Talvez você deveria aceitar esse pedido, e relevar sobre as condições por ora. Acredito que sua mãe não conseguirá lhe controlar a distância. Siga a sua vida, e eu poderei seguir a minha. Saiba que tu não precisa ficar ao meu lado, pois se eu souber, mesmo que pela imaginação, que estás feliz, então eu claramente também estarei, pois nada importa mais do que tua própria felicidade, meu anjinho.


Com amor,
Alego.

 

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Alego,


Grande tolo. Em nenhum momento disse que ficaria por sua causa, embora, talvez, tenha lido isso por todo o contexto. Ficarei por mim, e talvez, bem... Talvez um pouco por ti.
Decidi ficar porque, se partir, talvez eu definitivamente me torne uma escrava do dinheiro de mamãe e de toda essa vida luxuosa, de forma que nunca possa me libertar disso. Talvez essa realmente seja a oportunidade da minha vida, mas espero que pelo menos não seja a única. Eu quero ir à Paris, mas apenas quando sentir que me é necessário estar naquele lugar. Apenas quando puder me bancar naquele lugar e houver um real motivo para eu estar ali, e não apenas porque mamãe quer que eu esteja antes mesmo que eu tenha uma opinião formada sobre o assunto.
Imagine como seria ficar completamente sozinha, em uma terra distante, além do mar, sem ter um único ser com quem gostaria de conversar e me expressar... Acredito que na mesma intensidade com que acharia aquele um lugar maravilhoso, também acharia que não poderia haver um lugar mais triste para mim, se não distante de todos aqueles que eu conheço há tanto tempo. Não só as pessoas, mas seria como se estivesse deixando minha vida inteira para trás.
Estou tentando viver minha vida agora, meu amigo, então não se sinta culpado pelas minhas decisões, pois isso me desgasta muito, e me faz questionar cada uma delas ainda mais do que já questiono. Não sei se estou tomando a decisão certa, e poderei me arrepender profundamente tão logo. Mas, agora, aproveitarei cada segundo de minha vida, pois a tenho inteira para refletir sobre essas escolhas, e também toda essa vida para fazer essas escolhas, sendo elas boas ou ruins.
Agora caminho com minhas próprias pernas.
Mamãe está mais tranquila, ela disse que eu sou muito corajosa, embora eu tenha sentido certo sarcasmo em seu modo de se expressar. Não sei se isso é bom ou ruim, mas fico feliz que ela tenha se comunicado comigo. Talvez ela aja desta forma porque vendo minha decisão, se lembrou de como ela mesma era no passado; mas tive mais coragem, pois não aceitei essa vida de bom grado: Eu tenho minhas próprias batalhas internas antes disso.
Eu não sou a pessoa que gostaria de ser, mas estou trabalhando nisso.
Continuarei aperfeiçoando minha arte, e a cada momento também aperfeiçoo a mim mesma, até o dia em que irei desaparecer. Espero deixar bons quadros, para que assim as pessoas consigam admirá-los mesmo depois que eu me for, pois a arte é bela, meu amigo. A arte é eterna, ela não se dissipa. Então, de agora em diante, seremos arte um para o outro, o que acha?


Com amor,
Natasha.

 

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Natasha,


Meu anjinho, sei que deixarás bons quadros, pois você é boa o bastante para tal. Você é uma artista nata. O que precisa mesmo é de coragem e inspiração, e sei que logo você a encontrará. Apenas não se force a fazer estes quadros, pois acredito que se forem apressados, não lhe agradarão tanto quanto os outros, pois não há ninguém mais perfeccionista que você neste mundo.
Você sempre terá chances para buscar inspiração, pois ela poderá vir de qualquer lugar ou de qualquer situação, até mesmo de um simples pensamento. Então viva, meu anjinho, e ela lhe alcançará.
Tão logo também terás outra chance para mostrar ao mundo essa tua arte. Confesso que temi que sua mãe fizesse alguma loucura, como te mandar para lá contra a sua vontade. Sei que lhe parece loucura, mas vejo sua mãe de uma forma diferente de ti, de um jeito que, para mim, esse pensamento era coerente, mas agora, através de seu ponto de vista, acredito que ela apenas era um pouco dura assim como meu pai, e talvez até mesmo um pouco cega.
Não questionarei tuas decisões. Na verdade, tenho orgulho de ti e seguirei aqui, lhe dando todo o apoio que precisar. Além de que, se fosse necessário, sei que seria uma grande loucura, mas eu iria contigo até aquele lugar, pois não suportaria ficar longe de ti novamente.
Sabes que lhe considero uma grande amiga, e sinto a necessidade de compartilhar contigo toda minha vida. Por isso agora lhe trago duas coisas: a primeira é uma confissão, enquanto a segunda é uma novidade.
Quanto à confissão, preciso expô-la o mais rápido possível. É algo que está preso dentro de mim a algum tempo, mas finalmente poderei falar com você sobre isso. Preciso lhe dizer que estive presente em tua exposição.
Caminhei por aquele centro artístico e vi cada um de seus quadros. Eu os observei durante algum tempo antes de partir. Não fiquei por muito tempo, pois temia ser visto por você ou por algum conhecido. Minha presença foi curta e apressada, mas vi tanta beleza que fiquei maravilhado. Por isso digo: és uma grande artista, e isso sempre me foi certo. Talvez tu não tenha me visto por estar ocupada, ou também porque estive na exposição disfarçado, temendo lhe encontrar, afinal, o evento aconteceu logo após a infeliz carta que lhe enviei. Eu não sabia como poderia lhe ver depois daquilo, e até mesmo pensei que havia perdido tudo. Eu pensei que tinha te perdido para sempre, mas logo recebi o teu convite e também a carta, que reacendeu essa chama dentro de mim.
Nela tu me expôs como sentiu a falta de algum tipo de apoio para ti naquele lugar, um apoio especial, que não cabia nem a tua mãe ou a Clara. Mas agora acredite, meu anjinho, que havia um apoio, mesmo sem você saber. O que lhe faltava era um apoio que pudesse ver com teus olhos, mas eu estava ali, ao redor, e sempre estarei aqui, lhe apoiando, pois não há mais nada que eu queira fazer neste mundo.
A segunda notícia é que fui convidado a trabalhar no jornal que publicou minha crônica. Após escrevê-la não estive a escrever nada concreto, apenas tive idéias sem execução, mas no jornal, como redator, poderei averiguar alguns artigos e até mesmo outras crônicas. Dessa forma conseguirei me aperfeiçoar também, conhecendo outras pessoas que trabalham, de certa forma, no ramo literário, e estando em uma área que entendo e sou aficcionado. Fiquei realmente empolgado com o convite, e espero que dê tudo certo. Irei até a editora conversar com o redator chefe amanhã mesmo, e quem sabe, se tudo der certo, a vida volte a sorrir para mim.
Acredito que tudo pode ficar bem agora. Tanto para mim quanto para ti.


Com amor,
Alego.


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