Comentários em Jovens Afortunados

Arrogante

15/11/2022 às 09:40 • I
O que acha que precisa ser melhorado?
Erros bobos

O que mais gostou no capítulo?
Poesia

É meu costume iniciar comentários pela parte chata, então cumpro esse ritual mencionando a falta de uso de "Há" para denotar tempo passado (você usa "a", o que é incorreto) e o trecho em que você fala sobre as janelas, que em vez de "sobre" está escrito "sob"; "Então o céu sob nós vale a pena ser visto nesse dia". "Sob" quer dizer "abaixo" e, bom, o céu fica pra cima.
 
Passando esses erros, que são bobos pra ser sincero, estou positivamente impressionado com a qualidade da sua escrita. Para começar, não é todo mundo que consegue fazer funcionar o formato de romance epistolar; o gênero "found footage" da literatura é complicado por uma série de motivos, e você conseguiu ignorá-los para entregar uma experiência intimista e de altíssima qualidade.
 
A história é simples, mas muito bem estruturada e com uma promessa de se aprofundar em temas mais profundos. Digo isso como uma pessoa que gosta de ação e acontecimentos marcantes, que normalmente não leria uma troca de cartas dramática entre duas pessoas tão diferentes, e mesmo assim fiquei empolgado para ler os próximos capítulos. E nem é pelos acontecimentos em si, mas sim como os protagonistas reagem a eles e como vão traduzi-los em suas cartas.
Alego e Natasha são pessoas tão... Tristes. Senti isso mais nela que nele, embora ele reclame mais da vida. Algumas frases que ela soltou denotam uma tristeza profunda, assim como evitar falar sobre o motivo pelo qual eles pararam de se falar e de como foi a viagem que a fez sumir por tanto tempo. Gosto dessa tristeza, desse desespero em combatê-la através de cartas.
 
A caracterização dos personagens é feita muito, muito bem. Gosto de sentir o que chama a atenção um do outro nas cartas recebidas, o que eles decidem responder ou não, o que escolhem contar sobre seus dias. A escrita, apesar dos erros que comentei, é linda. Poética, melancólica, tão bem caracterizada quanto os personagens. Tem cada frase. Minha favorita do capítulo foi "Penso que se retirasse da minha vida as pessoas que me aborrecem, não me sobraria quase ninguém." Tem tanta tristeza nesse simples enunciado, tanta solidão. É de tocar o coração do leitor, e eu me sinto tocado.


Arrogante

17/11/2022 às 07:56 • II
O que acha que precisa ser melhorado?
Diagramação

O que mais gostou no capítulo?
"(...) No momento em que descubro quem eu sou, eu já me tornei outra pessoa."

Esse capítulo foi difícil de parar de ler (e minha atenção é terrível de se concentrar em alguma coisa por muito tempo). A fluidez da prosa é impecável, uma sequência lógica e consciente de raciocínios e descrições que dá prazer de ler.
 
Sinto que o grande atrativo dessa história está no seu talento de revelar coisas ao leitor sem ferir a imersão – fazer com que Alego e Natasha conversem de forma simples de acompanhar, mas sem perder a realidade de uma troca comum de cartas. A apresentação do Jonathan foi um ótimo exemplo disso; ele chegou aos poucos, e aprendemos sobre ele só o que a Natasha não sabia, mas graças às nuances da tua prosa eu me senti sendo introduzido a um personagem sem nenhuma pergunta importante ficar sem respostas. Genial.
 
Adoro algumas das pérolas que você solta. Tantas frases bonitas, de se guardar no coração... Existe uma poesia tão forte nessas cartas. Tão bonita.
 
Dos dois, acho que me identificou mais com Natasha. Ela tem uma atitude de "não reclame, aja" que muito me agrada, e alguns comentários que ela faz sobre solidão e ser mal interpretada pelas colegas no exterior tocou algumas notas em meu peito. Alego continua a me fascinar com seu modo pessimista e macambúzio de ver a vida, os arroubos de sentimentalismo. Ele é complicado, mas o adoro como personagem.
 
Se posso fazer uma crítica, a diagramação vem sendo a única coisa a atrapalhar a leitura. Sei que está tentando emular o estilo de uma carta, mas o modo como os parágrafos ficam todos unidos entre si dificulta para os olhos.
 
No mais, excelente texto.


Resposta do Autor [Taigo Leão]: Fico muito feliz em saber que essa obra vale a pena ser lida, e mais ainda em saber que a poesia que coloquei nela faz sentido e agrada outra pessoa. Obrigado pelo apoio!! E espero que a história continue te agradando até o final :)


Arrogante

18/11/2022 às 10:12 • III
O que mais gostou no capítulo?
"(...) destinava apenas palavras vazias e secas, na esperança de cessar por vez as conversas."

Agora que já estou acompanhando a história há certo tempo, me sinto no dever de falar do que penso dos personagens e esse capítulo, bem escrito e bem pensado como foi, me serviu de exemplo perfeito. Sinto, de muitas formas, que esse foi o capítulo em que você mesmo explorou mais a personalidade de ambos.
 
Alego, na primeira carta desse capítulo, me pareceu um arquétipo do jovem solitário moderno: num trabalho de que não gosta, refugiando-se em pequenas interações sociais que tolera e sempre vendo o copo meio vazio. Na resposta a Natasha que se seguiu, porém, vi alguém que parece não perceber que é responsável por seus próprios problemas: o modo como ele afasta Natasha dizendo que ela não sabe como é a tristeza dele, mas ao mesmo tempo a puxa para perto falando da vontade que tem de se matar. Alego acabou me parecendo um personagem complexo, mas uma pessoa mesquinha e triste. Espero que ele encontre em Natasha um motivo para melhorar, mas algo me diz que isso não vai acontecer.
 
A própria Natasha, por outro lado, cresce em mim diariamente. Não sei se Jane Austen é uma referência literária para você, mas o jeito dela falar me levou de volta à Abadia de Northanger; aquele jeito leve, vagamente humoroso, mas carregado de uma tristeza forte demais para ignorar mas fraca demais para se fazer sentir. É belíssimo, assim como o modo de Natasha ver a vida. Ela é expansiva, apesar de isolada por escolha, e tem sempre boas palavras mesmo que não esteja se sentindo assim. Gosto muito dela como personagem, e ainda mais como pessoa. Queria ter uma amiga assim.
 
No mais, a história vai bem. Queria te parabenizar pela sensação de ler teus textos. É tão confortável, tão gostosinho.


Arrogante

20/11/2022 às 09:00 • IV
O que mais gostou no capítulo?
"Triste é o homem que não tem lamentações."

Meu DEUS o Alego é MUITO pedante.
 
Desculpe, mas isso foi o que mais tirei desse capítulo: ele é um pseudo e um pedante, do contra, um homem chato. Primeiro, ficar impressionado com as palavras de um aparente mendigo que só fez um longo discurso sobre "a sociedade" do modo como ele ficou demonstra uma mentalidade fraca e reclamona, além de facilmente influenciável – isso se ele próprio não inventou esse sujeito só para falar mal da alta classe sem ofender a Natasha. Admito que algumas frases ditas pelo Homem da Praça me conquistaram um pouco, incluindo a que destaquei nesse capítulo, mas de modo geral foi um discurso muito juvenil para se levar a sério...
 
...o que denota o quão lúcida a Natasha é, mesmo que iludida. Ela sentir que a diferença entre classes não é real só porque gosta do Alego demonstra uma incapacidade fundamental em entender como o mundo funciona. Ainda assim, ela fez bem em chamar o Alego de volta para o mundo real e alertá-lo sobre os perigos de se dar ouvidos à retórica de estranhos. Fico feliz por ela estar seguindo carreira e, imagino, cada vez mais realizada.
 
Me pareceu um capítulo decisivo, mas não sei o porquê. Talvez a introdução do Homem da Praça, ou talvez o início de algum atrito entre Alego e Natasha. Vejamos.


Arrogante

26/11/2022 às 17:19 • V
O que mais gostou no capítulo?
Progressão

Cada vez mais a história se afasta do estabelecimento de personagens e desbrava as perigosas águas de uma narrativa mais convencional. Gosto de como você pincela o cotidiano de ambos e revolve a correspondência ao redor de um acontecimento na vida de um deles (nesse caso, o quadro encomendado por Clemence) para ilustrar algumas coisas sobre Alego e Natasha. É uma boa estrutura, entretém sem perder a poesia.
 
Esse capítulo me fez pensar no episódio O Dilema do Ouriço de Neon Genesis Evangelion; a necessidade de contato e proximidade contra os dissabores do contato em si. Claro que a história focou-se mais no sucesso de Natasha como pintora (o que acho que vai render problemas no relacionamento dela com o Alego), mas o início da narrativa aqui foi um resumo tão triste da amizade dos dois que não consegui superar durante toda a leitura.
 
Obrigado pelo bom trabalho.


Arrogante

27/11/2022 às 16:48 • VI
O que acha que precisa ser melhorado?
Jonathan

O que mais gostou no capítulo?
"No fim, não somos nada mais que testemunhas dos belos feitos dos que já se foram."

Devo admitir que a segunda metade desse capítulo, a carta endereçada ao Jonathan, se estendeu por mais do que meus gostos acharam necessário. Sinto que o Jonathan é um personagem inexistente no sentido de que não tive o suficiente dele para conhecê-lo, e por isso toda a comiseração pela morte dele me pareceu exacerbada e, até certo ponto, vazia. Entendo o que ela significa para os personagens principais, mas não encontrei como leitor os motivos para me unir ao Alego no luto – especialmente porque ele parecia mais concentrado em falar de si mesmo que do amigo morto. Não senti que aprendi muito sobre o Jonathan.
 
A carta da viúva, por outro lado, foi lindíssima. Carregada de força, fraseada elegantemente, pingando de melancolia. Foi uma ótima forma de caracterizar a tristeza avassaladora da perda, o que ela significou para a Lizavieta (que belíssimo nome) e o sofrimento tanto da morte em si quanto a comunicação cortada entre Alego e Jonathan. Fica aqui o voto de ver mais um pouco disso nas cartas da Natasha, de quem já sinto falta.


Arrogante

02/12/2022 às 21:08 • VII
O que mais gostou no capítulo?
"Se tu se contenta com pouco, sempre receberá pouco, e não tudo que as pessoas tem para lhe oferecer."

Belíssimo capítulo. As considerações sobre o fim da vida e o efeito da morte foram interessantes, adicionando certo grau de profundidade aos temas trabalhados nessa história. Confesso que pensar na morte me toca bastante por motivos pessoais, e um pouco dessa emoção eu reconheci no teu texto.
 
Gostei de como as primeiras respostas do Alego depois da notícia da morte do Jonathan foram curtas, espelhando o desânimo dele. Excelente sacada.
 
Essa questão de o Alego não poder visitar a Natasha foi realmente intrigante. Senti um tipo diferente de tensão entre os dois, e não toda relacionada ao constrangimento de uma visita sem motivo. Será que vai rolar alguma coisa menos platônica entre ambos. Fica a esperança.
 
Obrigado pela leitura.


Arrogante

04/12/2022 às 20:53 • VIII
O que mais gostou no capítulo?
Tristeza e humilhação

Ouso dizer que esse foi o capítulo que você melhor escreveu até agora. A forma como transcreveu a tristeza e a humilhação do Alego foi tão específica, tão pungente, que só posso imaginar que passou por algo parecido ou que conhece bem o drama de ser demitido. Sua prosa poética é um deleite de se ler, e mesmo inspirando tanta dor com a descrição do ocorrido eu consegui suspirar, feliz, pelo simples prazer de ler algo tão bem escrito.
 
Sinto que o toque de gênio nessa situação toda foi a demissão ter vindo do filho do patrão, e não do patrão em si. A caridade, a humanidade, qualquer gentileza parece ofensiva quando estamos mal. Você conseguiu canalizar isso tão bem! Parabéns, mesmo, pela escrita. E obrigado pelo material de leitura.