Jovens Afortunados escrita por Taigo Leão


Capítulo 13
XIII




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Alego!


Estou com um jornal local em mãos, aberto em um texto específico que foi publicado hoje. De autor desconhecido, mas com palavras tão belas. Eu li e reli mais duas vezes. Me diga, Alego, se você é o responsável por tal crônica.
Era sobre isso que estava falando da última vez em que me escreveu?
Me responda, Alego! A ansiedade está me matando! Se não fosse por meu estado atual, decerto ignoraria tudo que estipulamos e passamos até agora, e bateria em sua porta para lhe interrogar! Se dê como um homem de sorte!
Agora mais do que nunca, as cartas são necessárias em minha vida. Por favor, Alego, me escreva. Você encontrou a esperança?


Ansiosa,
Natasha.

 

 

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Natasha,

 

Meu anjinho!
Já fazem alguns dias! Como você está?
A verdade é que essa é a terceira vez em que começo essa carta, mas espero mesmo que dê certo agora.
Me diga como está e o que tem pensado... Me diga como estão as estrelas quando comparadas com a última vez em que você as viu. Me diga como anda o seu coraçãozinho.
Tentarei ao máximo não escrever sobre coisas vazias, mas saiba que, se o faço, é quando estou falando sobre mim. Tristemente essa é a minha realidade, então me perdoe por ser tão vazio, estou tentando ser melhor.
Hoje estou bem melhor! As tristezas passaram e a mudança chegou. Hoje sei o que perdi nos últimos meses de minha vida, e lhe encaminho uma confissão.
Preciso lhe falar sobre a forma como tenho vivido e o que tenho feito para viver. Quero lhe falar sobre a forma em que me arrastei para sair daquele grande buraco, sobre a forma que encontrei para afugentar a tristeza e a melancolia. Preciso lhe falar sobre o que tenho feito para viver e sobre como eu vejo a vida.
Preciso lhe contar toda a verdade.
Na última carta que lhe enviei, falei sobre como estava me sentindo vazio e como estava ignorando a existência de terceiros. Lhe falei sobre minha síndrome de fantasma, pelo que me lembro. Mas talvez eu esteja errado. De qualquer forma...
Agora os vizinhos não falam mais de mim, pois há um novo buchicho entre eles. Não sei bem ao que se referem, pois nenhum deles atrai a minha atenção, mas sinto que se trata de minha pessoa. Talvez você saiba o que é, e talvez eles estejam certos, mas acredito que a vida sorriu para mim desta vez.
Sim, meu anjinho, a crônica é de minha autoria.
Em verdade digo que se não fosse o homem da praça eu nunca publicaria tal crônica. Ele foi o responsável por minhas tentativas de escrever. E, se eu não estivesse na praça, não conheceria o homem que fez a publicação de meu texto. Além disso, meu anjinho, fui pago por isso! Você consegue acreditar?
Agora consigo me ver em um mundo totalmente novo, mas que sempre fez parte de mim. Agora consigo me imaginar como um escritor. Pois é isso que sou, um escritor amador, que, se for apto para escrever e redigir uma novela ou textos profundos como este, posso ser serializado a qualquer momento. Foi o que me disseram no jornal: "O que te separa do sucesso é apenas a tua mente e a tua criatividade."
Apenas passei por uma fase ruim, mas dela retirei algo. Posso estar errado, mas acredito que a tristeza é necessária em minha vida. Uma tristeza indolor, uma tristeza sem motivo. Nos meus melhores dias, a tristeza me leva consigo. Sempre fui suscetível a todo tipo de sentimento, e agora não pode ser diferente. Estou em paz e voltarei a escrever logo, mas, por favor, não me cobre. Não quero atingir expectativas, por isso deixei em acordo o anonimato. Não quero que olhem para mim por ser o Alego, criador da bela crônica. Não quero que olhem para mim porque tenho a capacidade de criar uma boa crônica. Quero que olhem para mim por ser quem sou, independente se isso é uma bagunça ou não. Este sou eu, e é isso que importa.


Com carinho,
Alego.

 

 

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Alego,


Que grande alegria, meu amigo!
Não consigo me conter de tanta alegria! Devo admitir que senti desde o momento em que coloquei os olhos nesta crônica. Decerto, eu sabia, a crônica foi feita por alguém especial, e tu, meu amigo, é o mais especial de todos os autores.
Eu vejo futuro em tuas linhas, mesmo não entendendo o bastante para falar como os críticos, mas sei que esse pode ser o início de uma grande carreira literária. Agora eu preciso lhe falar sobre como estive nos últimos di

*Carta interrompida*

Enquanto escrevia essa carta, Natasha foi interrompida por sua mãe.

 

 

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Doce Clara.


Oh, minha amiga! Estou lhe escrevendo pois ainda não posso falar ao telefone, mas me sinto mais forte para escrever uma carta longa, então me deixe tentar!
Escrevo para me comunicar, mas também, porque preciso muito que me ajude. Preciso que me dê uma luz! Uma orientação! Por favor, doce Clara, é tudo que lhe peço, pois você é a minha única esperança!
Hoje estou melhor. Ainda não estou totalmente recuperada, mas já consigo caminhar pela casa e cuidar de meu jardim sem tanto apoio de minha doce Ama. Mamãe só não deixa com que eu saia de casa ainda.
Me sinto feliz novamente, doce Clara, pois até mesmo sinto vontade de voltar a abrir a janela. Uma pena que a do outro lado se mantém fechada. – Espero que o coração que está do outro lado não tenha se fechado também... –
Se não acreditas como estou mais contente agora, saiba que a última carta que mandei para Alego não foi entregue por Dan, e sim por mim! Encarei meus medos e fui até sua porta, passando a carta pela portinhola das correspondências e voltando para casa em seguida.
Pode se perguntar por qual motivo não bati na porta e a entreguei em mãos. Sei que achas uma bobagem a forma como tenho convivido com Alego, mas o conhecendo, sei que, se eu o visitasse assim, inesperadamente, os dois não diriam nada, pois além da timidez e de todo o sentimentalismo, ainda há a intriga e o clima de separação que fatalmente paira sobre nós agora, nos assombrando. Para entender a situação como estamos, lhe digo que em sua última carta, Alego me revelou que havia tentado escrevê-la por três vezes, falhando nas duas anteriores. Se nos falta coragem para escrever, imagine para falar.
Também tive vergonha, pois não estou totalmente recuperada. Minhas olheiras estão péssimas, e não quero que ele me veja assim, fraca. E por fim, tive medo. Medo de o encarar de frente e medo de mamãe souber que eu estive ali naquele estado, ainda mais depois de sua proibição para que eu saia de casa.
Não zombe de mim, doce Clara, pois as coisas do coração são demasiadas complicadas para explicar, ou até mesmo únicas o bastante para não fazer sentido para você, embora faça total sentido para mim.
O destino sorriu para mim, como têm sorrido desde minha juventude, doce Clara, mas sinto que foi um sorriso temeroso. Sinto tanto frio na barriga que não sei se poderei receber de braços abertos esse tipo de graça. Eu não estou pronta para isso, é como se aceitar não fosse a coisa certa a se fazer. Você me entende?
Estava escrevendo uma carta para Alego, onde revelaria o estado que em que estive e porque não estive a falar com ele durante esse tempo, mas fui interrompida por mamãe, que entrou aqui de repente, me assustando, e agora não sei como posso falar com ele novamente.
Mamãe quer que eu viaje para Paris, onde "poderei viver como uma verdadeira artista."
Após uma ligação que recebeu de Clemence, ela veio até mim, eufórica, dizendo que eu precisava ir, pois ele queria minha companhia naquele lugar.
Clemence ajudou muitos artistas famosos, e disse para mamãe que, com a mentoria certa, eu poderia chegar lá. Além de que, introduzida nesta realidade, vivendo entre os grandes, eu me desenvolveria ainda mais. "Minutos aqui valerão mais do que todos os anos neste bairro que vocês moram.", foi o que disse à mamãe. "Paris é mágica. Paris é arte. Aqui ela terá inspiração como nunca terá em outro lugar.".
Mas o que me chateou não foi somente a ideia de sair desse lugar para tão longe, – além do mar! – e completamente sozinha.
Tudo bem que quando fui para a casa de minha avó, me sentia sozinha. Aqui também me sinto, então acredito que a solitude faz parte de mim. Mas ao menos lá e aqui tive por perto pessoas para me ajudar a amenizar isso. Em Paris, quem terei? Serei apenas eu, em um lugar distante e desconhecido, do qual não poderei desistir assim, sem mais ou menos. Tenho a certeza de que Paris é mágica, mas não tenho a certeza se quero presenciar essa magia nessas condições.
O que também me marcou foram as palavras que mamãe me disse, com mais ânimo do que eu mesma naquele momento: "Se há uma chance de tu ser alguém na vida, é naquele lugar."
Quem eu sou se não sou alguém aqui onde estou? Me diga, doce Clara.
Eu sou resumida a quadros? Devo largar tudo que sou por uma possível carreira medíocre?
Desde cedo aprendi a não considerar as bobagens que mamãe me diz, então tentei não me importar tanto com isso, mas essa última frase me deixou um amargo questionamento sobre minha pessoa.
Sinto que se partir assim, deixarei a mim mesma para trás. Será como se uma nova eu tomasse o controle da minha vida. Uma Natasha artística, talvez até mesmo interessante. Seria essa uma Natasha melhor do que eu? Como se fosse a Natasha que mamãe sempre quis. Uma bem sucedida. É chegada a hora desta Natasha tomar as rédeas de minha vida? Se for, espero que ela seja ao menos um pouco feliz...
Em alguns momentos da minha vida, senti como se houvesse várias versões de mim. Seguindo isso, sempre procurei a Natasha ideal para cada tipo de situação. Foram poucas, pouquíssimas vezes em que a verdadeira "eu" se sentiu confortável o suficiente para se mostrar. Talvez seja a hora dessa outra versão tomar o controle da situação.
Há algo além disso tudo que não posso deixar para trás. Não é como se estivesse abandonando apenas a mim, mas ainda não tenho a coragem para escrever sobre isso. Não até ter a certeza.
Eu daria tudo. Tudo mesmo, para ter essa certeza agora.
Não quero parecer ingrata, tanto para Clemence ou para mamãe, pois essa oportunidade é algo que muitas pessoas matariam para ter. Ir para o exterior assim, de repente, e sem se preocupar com os custos. Tudo isso é bom demais para ser verdade – ou deveria ser. –, mas por que sinto como se fosse algo errado?
Sei que mamãe sempre fez tudo que achou ser o certo para mim, mas acho que tudo isso está sendo muito rápido e indo longe demais.
Agora estou um pouco melhor, mas não me ligue, doce Clara. Você pode me escrever uma carta, compartilhando de meu gosto. Eu gostaria que fizesse isso. Faça como for, mas, por favor, não venha me visitar ainda, pois mamãe se zangaria com isso.
Não estou 100%, embora finja que sim.


Com amor,
Natasha.


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