CelleXty Saga escrita por Basco Khassan


Capítulo 5
Bem-vindos...ao MASCARADE!




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Verão de 1996.

 

Às vésperas do Natal de 1996, a convivência com Saalim, não estava das melhores. Seu tio tinha dificuldades financeiras e alguns clientes haviam descoberto que o velho libanês tinha um parente mutante. Isso não ajudava em nada nos negócios. Saalim receava do sobrinho se transformar em algo assustador por causa dos seus poderes. Ele suspeitava que Basco tinha sido o responsável pela morte do rapaz que causara o atropelamento fatal de Thamine em São Paulo. A notícia da morte grotesca e aterrorizante havia sido noticiado em todos os jornais e Basco sempre se mantinha em silêncio ou mudava de assunto quando o tio lhe questionava sobre isso! Basco, percebendo o desconforto do tio, decide deixar Fortaleza e viver por conta própria. Mesmo tão jovem, começou a viajar e viver de bicos pelo Nordeste e pelo norte do país. Chegou a ir ao Amazonas e se aventurar pelo Acre, mas decidiu retornar para São Paulo meses depois. O jovem mutante esperava reencontrar a sua primeira adversária vampiresca e amante desde que voltou ao Brasil, a ardilosa Verônica. Ele ainda se sentia atraído pela jovem. Para sobreviver na capital paulista, o Filho do Nevoeiro começou a trabalhar em uma loja de departamentos em um shopping na cidade de Osasco, grande São Paulo. Nos finais de semana frequentava, vez por outra, a boates e casas noturnas góticas e undergrounds em locais afastados do grande centro comercial. Khassan não tinha muitos amigos. Na verdade, as poucas amizades que fizera desde que chegou à São Paulo se resumiam aos colegas de trabalho e a alguns atendentes das lanchonetes e bares que era freguês.

Sempre ao voltar para casa e tentar dormir, era visitado por estranhos pesadelos que se repetiam todas as noites. Geralmente envolvendo seu pai e o seu irmão mais velho. Basco possuía um bloqueio mental que não entendia e isso estava atrapalhando suas noites de sono. Suas memórias de infância haviam sido bloqueadas, aparentemente antes de ingressar nos Novos Mutantes. Magneto acreditava que alguém colocara aquelas “trancas psíquicas” por alguma razão, talvez o próprio rapaz reagindo a um grande estresse emocional quando ainda era criança. O certo é que flashs do passado vinham assombrando Basco. Por algum motivo ele havia perdido boa parte da memória de infância. Nem mesmo o mestre do magnetismo, com o auxílio da jovem vietnamita Karma, pode restaurá-las. Khassan nunca ligara muito para o fato até recentemente quando os pesadelos começaram a se tornar frequentes.

 

Outono de 1997.

 

Em uma noite de clima frio e uma suave brisa na escuridão, Basco foi visitar uma casa noturna das mais conhecidas das noites paulistas e que lhe trazia boas lembranças: o Mascarade!

 

Ele relembra de quando era figurinha carimbada no Mascarade, mesmo sendo tão jovem na época! Lá, em meio aos shows cybergoths da casa ele sentia-se como se estivesse em seu habitat natural. Ninguém ligava para suas roupas, acessórios... ou poderes. Ninguém parecia se importar se as pessoas ali eram mutantes ou humanos. O Mascarade era um refúgio para os excluídos, os desajeitados ou rebeldes e uma típica boate das tribos urbanas de São Paulo. O diferencial era que o espaço também ganhou o apelido carinhoso de “zona neutra” devido aos frequentadores do local respeitarem as diferenças de cada segmento e tribo local. Possuía três andares e um subsolo, cada uma com estilos, sons e públicos bem distintos! Várias bandas internacionais já haviam passado pelo Mascarade que com frequência aparecia na mídia alternativa nacional e internacional. Estar no Mascarade era como respirar a velha madeira de carvalho ou cedro dos Pubs ingleses ao adentrar seus salões. A acústica era uma das melhores do país em relação às casas noturnas, o que impedia que o som ambiente vazasse de um ambiente para o outro

O subsolo era o ambiente dedicado ao goticismo em toda a sua beleza. Toda a estrutura e decoração remetiam a Era Vitoriana. Alguns de seus quadros e adereços realmente eram deste período, presentes de colecionares e frequentadores assíduos do local. Descer aos porões do Mascarade era fazer uma volta ao passado. O salão dividia espaço com um pequeno, mas requintado palco para as apresentações de bandas ao fundo. No canto direito, pick-ups de som, ditavam o som quando invocadas e no quanto esquerdo o ambiente remetia a cenas de obras clássicas do terror e do alternativo como as criações de Tim Burton em seus móveis e um pequeno bar temático. Um ambiente chamava a atenção em particular. Tratava-se de uma sala à prova de som onde o público podia relaxar e ler excelentes obras literárias à disposição. Haviam rumores, porém, que o local também escondia segredos ainda mais profundos e que ali estariam enterrados a história e a alma do Mascarade. Esse era o espaço da boate predileto de Basco!

O primeiro andar trazia um clima modernista e psicodélico nas cores ousadas e o abuso do neon em sua decoração. Era como se o visitante estivesse em um ambiente único e estilizado a cada temporada que seguia sempre as últimas tendências da moda e cultura inglesa. Sua música eletrônica, atraía o Movimento Clubber de diversas regiões do país e do mundo. Em duas ocasiões a banda The Prodigy foi a protagonistas de shows memoráveis. O primeiro andar rivalizava até mesmo com outras casas noturnas similares deste ambiente como a Hell's Club, Over Night e a Arena.

Já o segundo andar possuía uma atmosfera mais oitentista, tanto no ambiente quando nas músicas de várias bandas de heavy metal do passado, nacionais e internacionais. Uma escada lateral, pelo lado de fora, dava acesso a este local. Placas estilizadas indicavam o caminho para os novatos no mundo do metal extremos. Posters de diversas bandas decoravam o espaço obscuro que também possuía dias temáticos que variavam do heavy, passando pelo punk rock, death e/ou black metal tanto em ambiente quanto em apresentações.

Havia ainda um espaço bônus. Um salão menor em tamanho, mas com todo o charme dos anos 1940 a 1960 em sua decoração. Ele ficava ao lado do prédio principal junto ao estacionamento do local e era frequentado principalmente por motociclistas e por grupos de Rockabillys locais. Todo o segundo domingo do mês ocorria uma competição de dança com som ao vivo no bom e velho rock in roll deste período. Quando haviam eventos maiores usavam até mesmo parte do estacionamento como pista de dança. Seus frequentadores eram na maioria, mais velhos e que não se importavam em dividir o espaço com as demais tribos da cidade. Basco chegou a flertar com o ambiente quando assistiu a um show cover do Elvis Presley!

Já o terceiro andar era para poucos sortudos. Apenas grupos seletos podiam passar pelas enormes portas de madeira adornados com brasões de ouro e bronze ricamente detalhadas em um estilo babilônico. Era um espaço frequentado apenas pelos proprietários e seu círculo social interno...e restrito! Havia toda uma atmosfera de mistério sobre o terceiro andar. Histórias circulavam pela cidade que o Mascarade escondia muito mais do que aparecia na mídia alternativa e usava esse ar misterioso como uma forte campanha de marketing. Verdade ou não, o fato era que Khassan sentia-se em casa, quando adentrava aquela boate, fosse em qualquer um dos ambientes. Apesar se saber que aquele era uma “Zona Neutra”, nunca havia visto um mutante sequer em nenhum dos espaços da casa. Sempre achou aquilo, de certa forma, estranho, mas em um local como o Mascarade, o que seria de fato considerado normal, pensava?

Nos finais de semana, a boate também era repleta de adolescentes e abraçava a diversidade. De Góticos a Cybertrancers; de headbangers a punks, de Clubbers a Skatistas. Basco adorava dançar ao som do bom e velho estilo cybertrance e gothic industrial, mas naquela noite em especial o ambiente trazia algo diferente no ar. Havia mais do que os olhos humanos ou mutantes podiam ver e graças ao seu lado arcano, Nevoeiro também podia sentir. Era a chegada de uma diabólica mulher que todos conheciam apenas como Testament. Ela era diferente dos frequentadores habituais da casa noturna. De alta estatura, ostentava lábios carnudos e negros e um elegante moicano que contrastava com os tribais tatuados envolta da cabeça. Seus olhos eram penetrantes e o tom esverdeado parecia hipnotizar quem ousava encará-los. Piercings lhe cobriam sobrancelhas e orelhas e o espartilho de couro de cobra lhe deixava ainda mais sexy em seu corpo escultural. Trazia consigo um par de correntes presas à calça preta e que ornavam com os detalhes de prata na bota cano longo.

Testament não chegou ao Mascarade sozinha. Dois homens a acompanhavam. Sussurros e olhares temerosos entre os frequentadores lamuriavam seus nomes: Brahma e Jihad. O primeiro tinha baixa estatura, traços tipicamente indianos, extremamente magro e suas vestes também possuíam características hindus. Já o segundo parecia uma grande muralha com cerca de 2 metros de altura. A corrente de ouro no pescoço contrastava com seu traje negro como o mais puro carvão e que lembrava os antigos guerreiros árabes do Oriente Médio. Sua pele morena trazia certa palidez, mas seus músculos se sobressaiam ainda mais no tom pálido. O trio invadiu a boate Mascarade apenas com um objetivo: destruição!

A aparente vilã tenta capturar alguns jovens que se divertiam no primeiro andar. Ela queria que os escolhidos fizessem parte da sua Gangue Fantasma, servos leais desta bruxa mutante que usava o seu poder sobre a vontade e os feromônios de suas vítimas para dominá-los e obter favores. Ao se aproximar da pessoa escolhida e sussurrar suas palavras, as vítimas apenas a obedeciam sem questionar. Basco, que estava prestes a descer para o porão, decide adentrar o espaço Clubber e segui-la. Quando percebeu as intenções da mutante, tentou impedir a ação do trio! Tamanho foi o ódio por Khassan, que Testament tentou lançar sobre ele um encantamento com o dançar de suas mãos chamado de Amnésia Nocturna. Teria dado certo se a transformação de Basco em nevoeiro não anulasse os poderes de Testament. Khassan, então, cria um enorme nevoeiro escuro, tão intenso que confunde o trio. Brahma, capaz de entorpecer os sentidos com uma espécie de dança hipnótica e Jihad, que mutava seus braços em espadas afiadas. Os dois acabam matando um ao outro em meio à confusão e Basco parecia sentir prazer em suas mortes enquanto tomava fôlego e sentia as batidas rápidas do próprio coração. Há um pânico generalizado e a grande maioria do público consegue deixar a boate. Testament jamais tinha visto um mutante como Basco e decide fugir, por hora. O que Khassan não sabia era que aquele encontro já havia sido planejado há alguns dias por alguém que ansiava em revê-lo.

No terceiro andar do Mascarade uma velha conhecida de Basco também observava o desenrolar das ações. Nas sombras, seus lábios apenas demonstram um breve sorriso!


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