The Hurting. The Healing. The Loving. escrita por Minerva Lestrange


Capítulo 24
Capítulo 23




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Tudo nele e ao seu redor queimava. Tentou fazer sua mente se conectar ao próprio corpo, mas cada músculo seu doía de tal forma que precisou deixar de exigir muito. Se forçou a respirar fundo, ainda buscando a sensação das gotas da tempestade castigando sua pele e seus olhos, mas tudo parecia estranhamente quieto e confortável, como se paz de verdade o rodeasse.  

Bucky não se lembrava de ter sonhado, o que talvez tornasse essa sensação um tanto mais verossímil, mas fisicamente estava destruído. Tinha a impressão de que as sessões de tortura da Organização não chegavam naquele nível de consequências nem mesmo nos dias mais cruéis, o que era algo a se levar em consideração. 

Seu rosto e pescoço pareciam pesados demais, assim como os olhos que forçou a abrir mesmo que até esse pequeno movimento doesse. Fazia muito tempo que seu corpo não pedia por repouso como naquele momento. Não havia sido feito para aquilo, mas para resistir a praticamente qualquer coisa e sequer parecia correto não poder reagir imediatamente a uma possível ameaça, mas era neste estado que se encontrava. 

De forma embaçada, enxergou primeiramente o teto de madeira da cabana, quase suspirando aliviado que, ao menos isso, fosse conhecido. Ainda estava de dia, a julgar pela iluminação que ultrapassava a janela à esquerda, mas não quis se movimentar para julgar, uma escolha um tanto descuidada considerando sua natureza tão calculista. No entanto, estava cansado - talvez mais do que o comum para uma pessoa meramente esfaqueada. 

Estreitando os olhos para as vigas de madeira, recordou a exata sensação do metal frio perfurando sua pele e adentrando sua carne sem misericórdia, ainda incapaz de conceber de onde o ataque viera sem que percebesse absolutamente nada. 

Tudo se misturava à tempestade zunindo em seus ouvidos e encharcando até seus ossos… Além dela. Estava tão concentrado em Wanda, que não pensara no risco do desconhecido na escuridão. Sabia que algo tentava jogar com a mente dela, mas sequer deu atenção a isso, pois a mulher fora completamente tirada dos eixos enquanto clamava pela mãe. 

Recordava o tom com clareza, assim como os olhos perdidos, até que, por fim, ela se tornou a outra, totalmente culpada pelo que acontecera enquanto o encarava de maneira desesperada, algo que nunca tinha visto nos olhos dela. Não relacionado a ele, ao menos. 

Sem vontade alguma de se manter acordado, fechou os olhos novamente, a imagem da Feiticeira Escarlate muito viva em sua mente. Nunca a havia visto daquela forma, presenciado a transformação de Wanda ou, simplesmente, sentido sua magia naquele nível. Mas, mesmo ali, se sentia bastante impregnado por todo aquele poder. 

Porcamente acordado, mas mais atento, agora podia notar a cama macia em suas costas e, principalmente, a presença ao seu lado. Se forçando a abrir os olhos, virou o rosto lenta e dolorosamente apenas para ver a silhueta encolhida ao seu lado. 

Deitada sobre o edredom, Wanda usava uma bota baixa e roupas de verdade, invés de seu típico conjunto de moletom, o que estranhou. De costas para ele, só podia ver a ondulação dos cabelos ruivos escorrendo pelo travesseiro logo ao seu lado, mais claros em razão da iluminação atípica do ambiente. 

Ela sempre se colocava em qualquer ambiente de maneira forte, de um jeito ou de outro, ainda que não aparentasse assim. Engoliu em seco com dificuldade e só pode constatar que aquele estava longe de ser o sofá duro e pequeno em que dormia todas as noites ou o quarto de hóspedes vazio, no qual nunca mais pisara, mas o próprio quarto dela a julgar pelos pertences pessoais. 

Piscou novamente, tentando colocar a mente no lugar, mas tudo ao seu redor parecia lento demais e, mesmo quando decidiu cutucá-la, pois aparentemente dormia, tudo o que conseguiu foi levantar a mão incerta e deixar que caísse bruscamente na altura de sua costela com pouco controle sobre seus próprios movimentos. 

Com um sobressalto assustado, ela se voltou a Bucky de olhos arregalados, vistoriando-o rapidamente à procura de algo errado antes de suspirar, aliviada. 

— Está acordado. Finalmente. - Franziu o cenho sem entender e Wanda firmou os dedos em seu antebraço, fazendo com que um formigamento diferente ultrapassasse seu corpo, que ainda queimava como o inferno. De qualquer forma, não sabia como conseguia se manter acordado quando se sentia completamente esgotado. - Você dormiu por três dias. 

Engoliu em seco, mais com sede do que qualquer outra coisa, mas tomou tempo em observá-la antes de falar também rapidamente. Além das roupas diferentes do que via no dia-a-dia, parecia cansada, do tom pesaroso às olheiras sob os olhos esverdeados. Então, a viu se sentar, inclinando a cabeça em sinal de dúvida, sustentando o tom rouco de quem dormia realmente um pouco antes. 

— O quê…? - Sua voz arranhou e ele fechou os olhos novamente, desejando continuar assim, naquela paz que forjava para si mesmo. 

— Bucky. - A voz dela o despertou, parecendo alta em comparação ao ambiente, embora não tivesse certeza de nada disso, e Wanda se aproximou, segurando seu rosto e o virando com delicadeza para que a olhasse vagamente. - Você se lembra do que aconteceu? Me diga o que está sentindo. 

A luz do que parecia o entardecer adentrando fortemente pela janela a colocava sob uma iluminação que a favorecia de forma bastante perturbadora - ou talvez fosse o fato de que havia acabado de acordar, o que tornava os olhos esverdeados ainda mais claros. Franziu o cenho para si mesmo, tentando tirar a atenção das feições meio amassadas e os fios ruivos bagunçados ladeando o rosto, até que fez sua mente se lembrar da pergunta e confirmou, piscando demoradamente. 

— Sim, eu… - Seu timbre estava estranho, a voz falhando sem que pudesse prever, o que ela imediatamente percebeu. 

— Eu vou buscar água, você precisa se hidratar. 

Tão rápido que seu cérebro lento quase não notou, Wanda jogou as pernas para fora da cama e deu a volta, sumindo pela porta por um instante antes de voltar com uma jarra e um copo limpos. Só então pode perceber como a mesinha de cabeceira ao lado da cama se mostrava abarrotada de pequenos vidros desconhecidos, uma bacia com água e diversas toalhas limpas e dobradas, além de materiais comuns para curativos. 

Fez menção de se mover quando ela se aproximou com o copo, para tentar se colocar mais sentado contra os travesseiros às suas costas, mas a pontada de dor na região das costas foi tão forte que se encolheu em uma careta. 

— Não se mova. - Wanda segurou seu braço e ombro, o ajudando voltar à posição anterior, com cuidado - Seu ferimento abriu várias vezes… Por conta do veneno que a lâmina carregava. Só ontem conseguimos estancar e fazer com que continuasse assim por mais de seis horas. 

Ela se sentou na cama, agora no espaço que restava do lado esquerdo, e levou o copo à sua boca, ajudando-o a tomar em grandes goles. Não sentia nada além daquela queimação estranha, que o perpassava por inteiro, às vezes com mais intensidade do que outras. Depois de três copos, se sentiu repentinamente melhor, ainda que precisasse descansar a cabeça e tomar algum tempo para respirar. 

— Que tipo de veneno? - Conseguiu formular uma frase completa, com os olhos ainda fechados. 

— Não conseguimos identificar. Se não fosse o soro em seu corpo, não teria resistido por tanto tempo. - A voz dela era pesarosa e, por isso, teve de abrir os olhos para encarar o perfil bem delineado de cabeça baixa, brincando com os próprios dedos enquanto falava. - Me desculpe, Bucky. Você não deveria ter que passar por isso por minha causa. Ninguém deveria, na verdade.

É claro que Wanda se sentiria culpada. Era um fato que coisas questionáveis aconteciam ali, desde que chegara; e que algumas coisas fugiam do controle muito facilmente sempre que ela estava por perto, mas isso não a tornava automaticamente culpada por tudo. O mundo ao redor dela parecia estar testando seus limites, esticando a corda para ver até que ponto suportaria - especialmente, sem perder o controle. Por outro lado, ela não parecia compreender ou simplesmente aceitar que nem tudo podia ser controlado e ele era uma prova disso, pois provavelmente seus poderes não tiveram muito efeito nos últimos três dias.

Compelido pela postura derrotada da jovem, levou a mão ao joelho mais próximo, conseguindo colocar alguma força no gesto antes de ensaiar retirar a culpa que ela vinha alimentando por todos aqueles dias. No entanto, antes que pudesse realmente dizer qualquer coisa, a porta se abriu sem cerimônias e uma mulher de meia idade, cabelos negros e postura arrogante adentrou o quarto, olhando de um para o outro com olhos de águia muito maliciosos. 

— Bem, bem, bem… A Bela Adormecida acordou. - Wanda se levantou, cruzando os braços de maneira mais afrontosa, ainda que contrariada. 

— Quem é você? 

Havia percebido que Wanda sempre se referia a mais alguém cuidando dele, um ‘nós’ com o qual não se preocupara até então. A mulher, que utilizava um quimono preto transparente e longo sobre roupas comuns, se aproximou com uma xícara de algo com odor bastante questionável e um olhar examinador sobre ele.

— Ah… Já ouvi falar de você, Soldado Invernal… Há muito, muito, tempo atrás. - Os olhos estreitos eram quase maliciosos demais. - Sou Agatha. 

Ela sorriu sem desprendimentos e antes que pudesse pensar muito, a mão direita dela estava sobre sua testa, como que numa carícia junto aos fios de seus cabelos. Se tivesse forças, teria a afastado imediatamente, mas apenas franziu o cenho ante a sensação de uma energia diferente da de Wanda o rodeando. Não sabia identificar qual era a diferença, no entanto, apenas que parecia mais pesada e intrusa e não calma e sorrateira, como a que associava à energia escarlate da ruiva. 

— Tire suas mãos dele imediatamente. 

O tom de Wanda foi tão sério e colérico que Bucky teve de olhá-la para ter certeza que ouvira. Era um reflexo dos olhos de fundo escarlate, percebeu, assim como dos braços tensos. Se perguntou, então, o que a mulher fazia ali, se Wanda mal a suportava, embora não parecesse detestar tanto assim a ruiva, uma vez que apenas se afastou com um sorriso condescendente. 

— Ah, Wanda… Você sempre teve um fraco pelas mentes conturbadas.

Ante a declaração, viu a ruiva apenas apertar a mandíbula enquanto acompanhava a outra sair do quarto sem maiores empecilhos, batendo a porta. Fixou o olhar no teto novamente, se questionando o que ainda fazia ali. Por mais que se importasse com Wanda, e encarasse isso com cada vez mais naturalidade, aquela realidade não era para Bucky, não tinha nada a ver com ele, assim como parecia demais para compreender e lidar. Perante ela e a outra, que deveria ser uma bruxa tanto quanto, não deveria se intrometer, também definia aquele tipo de tom, considerou encarando a porta, se perguntando que tipo de passado elas tinham. 

Não demorou, porém, para que a dor se intensificasse por todo o seu corpo, como que o paralisando e silenciando sua mente. Antes, isso parecia ser tudo o que queria, mas, naquele momento, consciente de como aquilo parecia aproximá-lo da morte, soava perturbador. 

Por muito tempo, depois de recuperar o controle de suas vontades, se viu totalmente descuidado sempre que entrava em campo, sem se importar com as possíveis consequências de se ferir de verdade ou até morrer lutando. Naquele momento, porém, a ideia não soava tão animadora assim: apesar da eterna insatisfação com tudo e todos ao redor, sua vida vinha parecendo entrar nos eixos. Ao menos antes de tudo aquilo. 

Engoliu em seco e resolveu tentar se levantar, mas foi como se o corte em suas costas se rasgasse em dor ainda mais, por isso, voltou a cair sentado sobre o colchão, gemendo pela sensação insuportável antes que ela o cegasse e o jogasse, de vez, na própria escuridão.


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Notas finais do capítulo

Sim, agora os papéis se inverteram!

Depois de algum tempo de Bucky cuidando de Wanda, agora ela vai ter que cuidar dele um pouquinho. Todos aliviados que o homem está vivo e bem, apesar dos pesares? kkkk

E tivemos uma pequena participação especial, pra vocês verem como Wanda teve de deixar o orgulho de lado pra salvar ele ;)

Me deixem saber se estão gostando do desenvolvimento da história ♥



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