Sonho Renascido escrita por Janus


Capítulo 65
Capítulo 65




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Ringo observava curioso o céu. Tinha acabado de ver várias águias partindo de uma das construções no topo da aldeia rumo ao horizonte. Achou aquilo muito estranho, pois todas eram águias usadas para transmitir mensagens – tinha visto elas carregando estas presas as suas patas,

Logo elas ficaram fora do seu alcance e apesar de sua curiosidade, não quis perturbar Hanabi com isso. Os últimos dias ali tinham sido extremamente tranqüilos – e até maçantes – apenas ficando empolgado quando desciam até a aldeia abaixo reservada para os visitantes do exame para obter informações sobre o que estava ocorrendo.

Dois dias atrás soube que o time de Haruka tinha conseguido o ultimo tesouro, mas que dois outros times rivais atrás do mesmo item estavam próximos. Ontem não houve novidades neste sentido, de sorte que esperava que houvesse alguma informação hoje. Será que eles enfrentaram outro time? E se sim, o que teria ocorrido?

Bom, qualquer que fosse a resposta, iria saber logo. Retornou calmamente até onde estava o aposente que lhe foi reservado, ou melhor, reservado para HInata e onde ele também estava por fazer parte de sua comitiva.

Se bem que também era o seu protetor. Ainda custava encarar tal coisa. Ele, um mero gennin encarregado pela situação de ser também protetor da líder de seu clã, juntamente com Hanabi. Devia ser algo para se orgulhar, não fosse o fato de estar profundamente apavorado com a situação.

Entrou no quarto e ficou surpreso de ver tanto Hanabi quanto Hinata ali na sala sentadas nas poltronas enquanto olhavam atentamente para Konohamaru. Ele devia ter entrado ali quando estava fora.

- Oi Ringo-kun - disse ele – sente-se. Ainda não disse todas as novidades sobre o que ocorreu ontem.

Novidades? Seria sobre Haruka? Mesmo sem entender direito, ele se sentou em uma cadeira mais afastada do centro – já que só haviam dias poltronas ali – e ficou observando-o atentamente.

- Bem, como eu dizia, ele enfrentaram aquele time de Suna que também tinha dois tesouros, e não houve uma conclusão. Ayame-chan ficou ferida e um integrante do outro time também, e foi Haruka-chan quem fez isso – ele olhou diretamente para Ringo que demonstrou uma certa empolgação por ouvir aquilo, mas ficou acanhado em seguida – mas no final o resultado é confuso. Não se sabe se entregaram mesmo um dos tesouros para eles ou não.

- Porque esta dúvida? – questionou Hanabi.

- Porque ao fim da luta eles foram confrontados pelo outro time de Suna que observou a tudo, e este também pegou aparentemente um tesouro deles e um outro que estava com o outro time de sua aldeia. Mas segundo os registros da lista que receberam, só havia um tesouro do time de Konoha que era em comum com os outros dois.

- Então ninguém sabe se entregaram o tesouro verdadeiro para um deles ou se deram dois tesouros falsos? – perguntou Hinata começando a esboçar um sorriso.

- Exatamente – confirmou ele – mas se serve de pista... não pareceu que eles ficaram chateados depois que ambos os times partiram. De qualquer forma os apostadores vão ficar malucos com isso. Só vamos saber de verdade quando eles chegarem aqui.

- E quando será isso? – perguntou Hinata ansiosa.

- Bom, eles tem quatro dias para tanto. Estão enviando mensagens para os jounins observadores para lhes passarem esta informação.

Ringo imaginou que devia ser referente a isso a quantidade de águias que tinha visto voando alguns momentos antes.

- Então essa fase está finalmente acabando! – comentou Hinata juntando as mãos.

- Sim – concordou Konohamaru – a fase mais importante para eles está no fim.

- A mais importante não é a segunda? – questionou Ringo um pouco confuso.

- A segunda fase é mais para o publico assistir. Serve para avaliar a capacidade individual de cada um, mas não há nada que force aquele que se sagrar campeão na fase final a ser nomeado chuunin. Na verdade, esta decisão até pode ocorrer na fase de agora, mas logicamente só será comunicada ao fim do exame. Isso é uma avaliação, Ringo-kun, não um torneio.

- Entendo – murmurou ele um pouco pensativo.

- Bom, se me dão licença, vou falar com Moegi-chan. Parece que ela não gostou muito da conversa entre os kages hoje.

Ele se despediu e saiu do alojamento em seguida, deixando Ringo um pouco confuso sobre o que fazer agora. Estava interessado em praticar um pouco, mas sabia que Hanabi estava com toda sua atenção voltada para a irmã depois do que Konohamaru tinha dito sobre Kabuto para ela.

- Que tal darmos uma volta? – disse Hinata pegando-o de surpresa.

- Hinata-sama?

Ele fez uma pequena careta olhando em sua direção, tentando imaginar o que ela pretendia fazer realmente.

- Uma volta, Ringo-kun. Você sabe... – ela sorriu – andar um pouco, observar o comércio, comer algumas coisinhas, olhar as vitrines...

Ele olhou para Hanabi e esta apenas maneava a cabeça com um sorriso, obviamente já aceitando que iam sair para passear. Ele por sua vez tentava entender porque as mulheres pareciam se divertir tanto observando as coisas em lojas, ou apenas andando calmamente em alguma rua ou estrada.

- Sim, Hanabi-sama, eu sei. Bom, não há muito o que fazer agora mesmo.

- Depois podemos treinar um pouco – atiçou ela o olhando de uma forma um pouco sedutora – afinal, se Haruka-chan se tornar chuunin ela vai acabar te matando se você não a acompanhar.

Ele abriu a boca para tentar dizer algo, mas apenas gaguejou coisas sem sentido, e ficou totalmente sem fala quando Hanabi também tentava conter suas risadas com as mãos.

Isso era outra coisa que ele queria tentar entender nas mulheres adultas, especialmente as do clã. Porque achavam tão divertido ele ficar daquela forma?

-x-

- Duzentos e setenta!

- Por esse preço eu vou ter que tirar a comida da boca de meus filhos! – chorou o vendedor – é um tecido de pura seda como pode ver bem – ele suavemente acariciou a yakata demonstrando como seu tecido fluía suavemente nos dedos – as cores das flores são as mais belas que irá ver em toda essa região, isso se não em todo o país do fogo. É um material digno de alguém da nobreza. Como a senhora... – terminou ele com um sorriso.

Ataso apenas batia levemente o pé enquanto segurava a sacola de compras na mão direita, agindo como o educado irmão mais velho da mulher que negociava com o vendedor de kimonos, contendo sua impaciência frente a situação. Pior era não poder socar Masaki que mal disfarçava sua vontade de rir ao vê-lo assim. Como ele não antecipou isso quando Etsu ao definir os disfarces de todos – já que ela era uma obvia especialista nisto – escalou ele para ser justo o “irmão” de Heromi?

- Não adianta vir com essa conversa de infeliz. Duzentos e setenta ou então aguarde alguém que não conhece a diferença entre uma yakata comum e uma finamente trabalhada para vender por esse seu preço exorbitante.

Exorbitante? Era apenas trinta ryous mais caro do que ela estava pedindo. E tinham dinheiro de sobra para comprar. Porque ela estava bancando a pechincheira? E onde estava Chizuka e Etsu que tinham sumido no meio da feira dos comerciantes? Tomara que não tragam enormes bagagens.

- Duzentos e setenta e cinco! – exclamou o vendedor erguendo as duas mãos abertas perto de seu rosto.

Heromi ficou pensativa e tornou a sentir o tecido do kimono, e examinou mais detalhadamente a sua costura, a trama do tecido interno e depois viu milimetricamente toda a extensão do laço – coisa que foi uma eternidade para Ataso – por fim ela acabou concordando, mas seus lábios estavam muito pressionados, indicando que não estava assim muito satisfeita com a negociação.

Cinco minutos depois eles estavam andando pela viela atulhada de pessoas andando de um lado para o outro enquanto olhavam e negociavam os produtos nas outras barracas.

- Porque você perde tanto tempo pechinchando?

Heromi o olhou com um sorriso de moleca, e chegou a dar uma gargalhada antes de responder.

- Faz parte de diversão, não sabia? Ou acha que só por comprar eu fico satisfeita? Eu tenho que experimentar, fantasiar, sonhar com o que estou comprando, como vou usar, o que vão pensar de mim usando aquela roupa, se vou estar sexy, se vou estar comportada, se vou estar chamativa ou apenas vão pensar se quero aparecer. E depois, negociar preço faz a roupa parecer mais especial, porque tive que lutar por ela.

- Falando assim parece até uma arte ninja.

- Não deixa de ser verdade – disse Masaki sorrindo levemente.

- Que seja – bufou Ataso ainda irritado – e onde estão aquelas duas? – começou ele olhando ao redor.

- Deixe elas se divertirem. Não temos nada para fazer senão esperar, e nem sabemos quanto tempo ficaremos por aqui.

Ele apenas apertou os lábios desgostoso. Tinha se acostumado com uma vida de ação, agir de forma oculta, objetiva, visando apenas sua missão, a tarefa a ser cumprida. Verdade que estavam ali apenas aguardando Kabuto entrar em contato conforme ele tinha pedido a eles, mas ele preferia estar no meio de um bosque acampando e aproveitando o tempo para praticar e ficar em forma, não ficar agindo como uma pessoa comum acompanhando a “irmã” passear.

Depois de quase duas horas eles saíram daquele mar de pessoas andando de um lado para o outro, e Ataso se sentiu incrivelmente aliviado. Ele odiava multidões. Odiava mesmo precisar sair para comprar algo, e odiava esperar. Era uma característica que ele tinha desde antes de se tornar ninja, e muito antes de se tornar um nukenin. No entanto, o período em que acompanhou Etsu quando esta fazia suas peripécias para entrar em Konoha, e agora acompanhando as tres juntas em uma grande aldeia a um dia de viagem de lá o levava a se lembrar daquela época em sua juventude quando ainda tinha dezessete anos e era mais sociável.

Sim, ele ficava irritado em multidões, mas quando ele precisava ir era muito objetivo, pegando o que precisasse e fugindo rapidamente. Também saia com os amigos para meramente passear um pouco, e muitas vezes os surpreendeu com habilidades totalmente inesperadas para alguém um tanto anti social como ele já estava sendo naquela época.

- Vamos comer alguma coisa? – perguntou Masaki.

- Por mim tudo bem – disse Ataso – estou com fome mesmo.

- Muito bem – concordou Heromi – provavelmente elas vão nos achar em breve.

- Por que acha isso?

- Você vai ver, Ataso – disse ela sorridente.

Seguiram em direção onde havia alguns restaurantes e após uma nova dose necessária de paciência aguardando Heromi ver o anuncio de alguma comida que lhe agradava, finalmente se sentaram em uma mesa para poderem satisfazer a fome que aumentava.

Mas ainda antes de fazerem algum pedido, Ataso sentiu duas mãos segurarem os seus ombros e ouviu uma voz as suas costas.

- Então iam nos deixar morrendo de fome?

Ele nem se virou, pois reconheceu a voz imediatamente. Momentos depois Chizuka e Etsu se sentavam a mesma mesa que eles. E mesmo sabendo que estavam disfarçadas e tendo-as visto desta forma já fazia alguns dias, ainda lhe era estranho ver Chizuka com o cabelo loiro curto com dois finos laços de cada lado de sua franja e Etsu ruiva com um rabo de cavalo. Além disso, ambas usando vestidos simples e carregando bolsas davam um visual totalmente diferente do que tinha se acostumado nelas.

- Como nos achou? – perguntou ele quase sem pensar. E observando o olhar de zombaria de Etsu ele logo se lembrou. Ela era uma sensora, podia sentir o chakra deles facilmente.

- Já pediram? – perguntou a recém-chegada.

- Ainda não. Na verdade, acho que os homens é que devem ser corteses e pedirem algo para servir as acompanhantes, certo? – disse Heromi olhando diretamente para Ataso.

Desta vez, ele evitou de ficar emburrado. Pior do que ter de agir como um irmão mais velho era acabar se sentindo como tal.

- Muito bem, Heromi gosta de peixe, tenho certeza de que foi por isso que ela escolheu este lugar. Vou pedir dois obunes. E enquanto esperamos, onde estiveram?

- Estávamos conhecendo a aldeia – disse Chizuka – achamos uma pousada maior e mais em conta do que aquela onde estamos agora, e fica do lado de uma terma.

- Não estou surpreso...

- Me diga uma coisa Ataso – começou Masaki – o que você tem contra algum conforto? Tenho certeza que preferia estar ao relento, enfrentando mosquitos, caçando sua comida e se lavando em algum rio gelado toda manhã.

Ataso não respondeu imediatamente. Chamou um funcionário do restaurante e fez o pedido dos obunes antes. Ainda aguardou este se afastar o suficiente antes de dar sua resposta.

- Antes de conhecer Kabuto eu tinha me isolado de tudo. Não foi por causa de que algo terrível ocorreu em minha vida e que me mudou para sempre – ele fez vários gestos espalhafatosos quando disse isso – eu apenas fiquei sem nenhum interesse em continuar daquela forma. Ao fim de uma missão não quis voltar para a aldeia da Pedra e fiquei andando sem rumo.

- Eles não te procuraram?

- Ah, me procuram sim, Chizuka. Me procuraram, me acharam, tentaram me convencer a voltar, tentaram me forçar a voltar... – não havia muita emoção no que ele dizia, para ele não era algo propriamente doloroso, era apenas irritante a lembrança de como não o deixavam em paz – até que decidiram me capturar. Foi quando virei um nukenin.

- Simples assim?

- Sim. Simples assim, Etsu.

- Não acho que foi só isso – Etsu o olhava diretamente nos olhos – do que exatamente você se cansou? Da vidinha monótona? Se fosse verdade que você apenas quer se isolar então continuaria como um eremita sem nunca ter se juntado a Kabuto.

Os outros viraram os rostos na sua direção, aguardando uma resposta, e pela primeira vez em muito tempo ele se sentiu acuado. Foi um idiota em começar a falar aquilo. Devia ter dito simplesmente que gostava de isolamento e encerrar o assunto.

- Não gosto de aglomeração de pessoas, mas não quer dizer que quero ficar totalmente sozinho. E quanto a sobre o que eu me cansei... – ele hesitou, tomando um pouco de fôlego para continuar – a verdade é que eu não queria mais ser um mero funcionário na aldeia. Queria algo de maior importância, talvez até escolher as missões que fosse fazer.

- Queria ser mercenário como eu fui – disse Etsu com um sorriso um pouco lascivo.

- Sim, mas não exatamente assim como você. Não sou assim um bom negociante para acordar preços ou trabalhos, e não gosto muito de restrições quando vou fazer uma tarefa. Antes esses limites eram desafiadores, mas ficaram irritantes depois.

- Sinceramente, não vejo muita diferença entre trabalhar para uma aldeia e para Kabuto – comentou Masaki estalando os ombros – não nesse sentido de não ter restrições.

- Eu percebi isso depois que concordei em trabalhar para ele. Mas ao menos eu tenho liberdade para agir do meu jeito. Como quando eu a tirei daquela prisão – ele olhou para Etsu – eu só precisava trazê-la e eliminar testemunhas. O como fazer isso ficou totalmente por minha conta.

- Ainda acho que não é só isso. Não tem nenhuma garota envolvida nesta história?- perguntou Heromi.

- Não – respondeu ele quase esboçando um sorriso.

- Você queria mais emoção – disse Etsu o olhando divertida – algo difícil, ameaçador, algo que nem soubesse como poderia cumprir.

- Por que diz isso?

- Porque você está sempre irritado com algo, sempre bocejando e de mal humor. Está sempre entediado.

 Franziu o cenho na direção dela e chegou a piscar os olhos algumas vezes, surpreso com o que ela tinha dito.

- Não nego que isso é verdade. Depois que deixei a aldeia, o futuro incerto era um desafio. Voltar para uma vida meio planejada, com tudo meio definido não me atraiu. Achei que trabalhando para Kabuto eu acabaria tendo isso constantemente. Mas me enganei.

- E porque ainda está com ele? – perguntou Masaki – não acho que tenha medo de que ele te mate.

- É pessoal – disse ele abaixando a cabeça e ocultando um sorriso.

Não precisava dizer isso a eles, porque provavelmente todos imaginavam tal coisa. Kabuto planejava algo já fazia um longo tempo, e quando fosse executar o que quer que fosse, seria algo muito inesperado e sem dúvida monumental. Ele apenas aguardava para estar presente quando fosse ocorrer.

Os obunes chegaram finalmente, e todos começaram a se servir com vontade.

- Só não entendi porque tenho que fingir ser o irmão de Heromi – disse ele após comer um pouco.

- Se quer se passar despercebido em algum lugar – começou Etsu a falar – deve personificar corretamente a pessoa que está representando. Se viéssemos aqui como um bando de conhecidos vindos de lugar nenhum havia a chance de chamarmos a atenção de alguém. Desta forma isso é mais difícil. Eu e Chizuka-chan somos irmãs, e eu estou acompanhando você que é meu namorado. Sua irmã veio junto para passear e também com o namorado dela – ela virou o rosto para Masaki – uma boa explicação para sermos vistos juntos com certa freqüência. Ademais, você com seu jeito é perfeito para ser o irmão mais velho dela.

- Verdade! Você foi incrivelmente convincente fingindo a falsa paciência de um irmão mais velho que não suporta a irmã perder tanto tempo fazendo compras – disse Heromi.

- Aposto que ele não estava representando – disse Chizuka.

- Por isso que eu disse que ele era perfeito para o papel – cortou Etsu rindo – o segredo de um bom disfarce são os detalhes. Ninguém vai duvidar que você seja o irmão dela agora.

Ataso apenas rosnou algumas palavras sem sentido enquanto todos riam.

-x-

Ainda estava na cama observando o teto do quarto da pousada que alugou, sem vontade de se levantar. Pelo menos não precisou enfaixar o peito para manter sua costela no lugar. Apenas teria que usar uma proteção por algum tempo para evitar que a mesma ferisse sua carne, e logicamente teria que mover o tronco com cuidado. Uma grande sorte apenas uma costela ter se partido no golpe do loiro. Por outro lado, foi um terrível azar perderem um dos tesouros. Ele devia saber que Hameri iria aproveitar qualquer oportunidade para recuperá-lo. Só não conseguia entender como ela os achou.

Enquanto seus colegas ficaram na aldeia mais próxima para descansarem e tratarem de seus ferimentos, ele gastou um dia inteiro correndo como nunca seguindo a estrada, procurando por qualquer evidencia deles, qualquer sinal que indicasse que tivessem passado por algum lugar, qualquer pista possível. Mas nada. Apenas se cansou. Talvez até os tivesse ultrapassado. Mas não encontrou sinal de acampamento em parte alguma.

Só podia imaginar que não foram diretamente para a aldeia, mas para outro local, talvez com a intenção de despistá-los. Talvez até ainda precisassem pegar outro tesouro, e estiveram seguindo-os por todos estes dias aguardando uma oportunidade. Mas duvidava disto. Tanzo teria percebido se fosse o caso. Era um excelente rastreador e estava se especializando na furtividade, embora ainda tivesse um longo caminho a percorrer.

No fim ele acabou desistindo e foi tratar suas próprias feridas, cuidando de enviar uma mensagem para seus colegas dizendo onde o poderiam encontrar. Também teve sorte de haver um ferreiro na aldeia em que ficou para descansar e se tratar para cuidar de sua foice que ficou com um palmo de sua ponta destruída naquela bola luminosa da moça. Aquele jutsu era realmente assustador. Uma tremenda sorte ele aparentemente não poder ser arremessado.

Respirou profundamente e ergueu-se da cama. Guardou seus poucos pertences de volta na sua pequena mochila e a colocou nas costas. Apenas cuidou de sua higiene matinal e acertou a conta na recepção pela noite. Não tinha interesse algum de partir antes de seus colegas chegarem, e já estava mesmo conformado com a perda do Olho do Coiote. Não podia perder tempo procurando por ele com o time de Konoha que sem dúvida viria ao seu encalço o mais cedo possível para recuperar o tesouro. Ao menos deixou este escondido próximo da aldeia. Não quis arriscar deixá-lo com dois colegas feridos.

Seguiu até o ferreiro onde tinha deixado sua foice e este estava terminando de amolá-la. Sabia que o ideal seria reforjá-la, mas não podia esperar dias para que ela ficasse perfeita novamente. A emenda teria que agüentar.

Depois de uma hora aguardando, examinou a foice e ficou muito satisfeito. Não se percebia nenhum sinal de emenda, apesar de saber que ela estava ali. Teria que tomar cuidado caso atingisse alguma rocha com ela agora. Alem disso, ela não estava mais balanceada como antes. Movendo-a lentamente percebeu que a ponta estava mais pesada.

Pagou o ferreiro pelo serviço e decidiu comer algo para o desejum matinal. Quase tres horas depois seus colegas se encontraram com ele em uma lanchonete e depois de almoçarem – e se lastimarem pela perda de um tesouro, começaram a andar pela estrada de forma mais acelerada em direção ao tesouro escondido.

Ele o tinha colocado em um balde de madeira grande e tampado este com um pano, e depois o enterrado diante de uma árvore da estrada. Não podia deixá-lo lá por muito tempo ou morreria sem a luz do Sol, mas foi apenas por um dia. Eles pegaram o tesouro e começaram a andar rumo a aldeia da Nuvem, com Kotar segurando a planta com as mãos.

Durante todo o trajeto Tomoko e Tanzo se revezavam observando a retaguarda, sempre esperando a todo instante se deparar com aquele time de Konoha. Conversaram bastante entre si sobre como encará-los, e a conclusão mais óbvia seria a de evitar a todo custo enfrentar diretamente aqueles dois que podiam fazer clones, mas mesmo assim não estavam encontrando uma forma de vencê-los com as táticas que sempre utilizaram. Qualquer um deles podia resistir o suficiente para receber ajuda dos colegas antes de ser dominado.

A única forma seria separar um deles e cuidar do mesmo sem a presença dos outros, e por motivos óbvios esse seria a Inuzuka, pois com aquele ninken ela podia localizar qualquer um dos outros.

Mas eles acreditavam que enquanto mantivessem o passo acelerado, ficariam a frente deles, e chegariam a aldeia antes de serem interceptados.

-x-

Trincou os dentes de dor enquanto a pinça puxava lentamente o fragmento de metal de seu braço esquerdo. Esperava que essa fosse a ultima. No outro canto da sala Haruka observava a colega suportando aquela dor. Minato estava com Shiromaru do lado de fora da clínica, aguardando terminarem de remover os fragmentos da foice que ficaram cravados no braço de Ayame.

- Pronto minha cara – disse o médico – acho que acabou agora. Seus músculos devem se recuperar em alguns dias, mas até lá, não mova este braço. Tem certeza que não quer que eu o engesse?

- Tenho – disse ela aliviada por ter terminado. Até encontrarem aqueles fragmentos de metal em seu braço no raio X, não tinha imaginado que sua rasengan tinha danificado a foice daquele gennin. Pelo jeito deve ter sido apenas a ponta desta.

- Teimosa como sempre – disse Haruka com os braços cruzados.

O médico pegou a vasilha de metal com os fragmentos que tinha removido do braço dela e a recolheu juntamente com seus instrumentos, saindo da sala em seguida, mas avisando que voltaria em breve.

- Ainda não chegamos na aldeia – retrucou ela se sentando na maca – pode ser que eu precise usar este braço.

- A rasengan torceu todos os seus músculos do ombro para baixo, não ouviu o médico? Foi sorte seu braço não ter sido arrancado!

- Não exagere. Já é muita vergonha eu ter sido atingida por meu próprio jutsu – ela olhou para seu braço coberto de hematomas roxos e pretos e suspirou – nunca mais vou fazer isso.

Haruka a ajudou a ficar de pé, e observou com cuidado as expressões de seu rosto conforme movia o braço para colocá-lo na tipóia que tinham feito durante o trajeto até ali. Ela não chegou a demonstrar muita dor, o que a deixou um pouco aliviada.

Deixou seu braço relaxado e lentamente moveu seus dedos, sentindo uma grande dor no meio do braço por isso. Um ninja médico poderia curá-la com algum tratamento intensivo, mas até lá teria que suportar aquilo.

Como tinha prometido, o médico voltou carregando um vidro com um liquido oleoso, e após explicar que era um analgésico, aplicou este no braço dela, causando-lhe ondas e até algumas convulsões de dor. Para sua sorte – e a do médico, já que ela estava quase que querendo matá-lo – isto começou a fazer efeito em pouco tempo.

- É só um paliativo para suportar o primeiro dia – explicou ele - depois seus músculos vão se recuperar. Agora se deite e relaxe um pouco enquanto o anestésico faz efeito – disse ele – e você, cuide para que sua amiga relaxe um pouco – disse para Haruka - Só quero que fique em observação por um tempo e depois eu a dispenso caso não surjam imprevistos.

- Pode deixar, vou mantê-la nessa cama – disse Haruka sorrindo.

Ayame não disse nada, mas arreganhou os dentes para ela enquanto o médico saía da sala.

- Bem, já que tenho que ficar aqui parada com você me pajeando – Haruka fez uma careta para ela ao ouvir isso – me diga, Haruka-chan, está acontecendo alguma coisa contigo?

- Comigo? – ela apontou para o próprio peito – por quê?

- A maneira como você lutou, usando as mãos daquele jeito...

Haruka ficou calada repentinamente, mantendo os olhos para baixo pensativa. Ayame nunca tinha visto a amiga agir daquela forma, movendo as mãos como se tivesse facas nesta para atingir o oponente. Percebeu isso naquela luta no subsolo daquela casa onde pegaram o primeiro tesouro, quando ela usou a mão para causar um enorme rasgo tanto na roupa quanto na carne do adversário, arrebentando suas unhas no processo. Mas tinha ficado definitivamente evidente agora, onde ela agiu como se tivesse patas em vez de mãos.

- Eu não sei – murmurou ela erguendo os braços e abrindo suas mãos, mostrando as unhas que ela tinha cortado devido a terem ficado imprestáveis depois da ultima luta – mas o mais estranho foi que na hora em que fiz isso eu senti minhas unhas cortando aquele gennin, como se fossem muito mais duras do que o normal. Talvez seja algum reflexo de me transformar em ninken.

- Não é porque está querendo instintivamente ser uma Inuzuka?

Ela não respondeu, mas ficou observando-a nos olhos, claramente pensando a respeito. Haruka sempre demonstrou ter medo de ser adotada porque nunca poderia ser uma Inuzuka verdadeira. Mas era fato bem conhecido que todos naquele clã não se incomodavam nada com isso.

- Eu realmente não sei – murmurou ela abaixando a cabeça – só sei que não fui muito eficiente agindo como uma... acabei com todas as minhas unhas.

- Não foi eficiente? Você quase escalpelou o gennin! – disse Ayame movendo um pouco o corpo para ficar mais confortável. A dor em seu braço já tinha diminuído muito, mas ainda sentia pontadas terríveis quando tentava mover os dedos.

- Eu sei... mas ainda me sinto estranha ao lembrar disto. Pelo menos acho que vou ter tempo para descobrir o que andou ocorrendo comigo, já que temos todos os tesouros e estamos retornando. E antes que eu me esqueça – ela colocou as mãos na cintura e a encarou como se fosse uma mãe brava – você é uma ladra!

- Sou uma kunoichi, o que é quase a mesma coisa – ela riu divertida – mas valeu a pena eu pegar aquela lembrança.

- É... valeu sim. Só temos que tomar cuidado na volta para não sermos surpreendidos.

Ayame concordou com a cabeça. Estava percebendo que seu braço já estava bem melhor agora, até se arriscando a tocá-lo levemente. Se precisasse enfrentar alguém naquelas condições não seria nada útil. Nem podia fazer o clone das sombras com o braço assim. Foi mesmo uma idiotice continuar alimentando a rasengan com chakra quando ela foi atingida pela foice, mas lhe serviu como aprendizado. Ela não podia fazer tal coisa sem se ferir, mas não seria perigoso se um de seus clones o fizesse. No fim acabou descobrindo algo que se desenvolvesse direito, poderia se tornar em um tipo de bomba rasengan.

Seu futuro namorado podia ter uma grande vantagem sobre ela por poder fazer o jutso com uma só mão e ainda por cima com as duas mãos ao mesmo tempo, mas agora ela podia criar uma variação só dela.

Uma hora depois eles deixaram a clinica e seguiram pela estrada com certa tranqüilidade. Optaram por seguir uma rota menos direta de volta a aldeia, para evitar a possibilidade de armadilhas caso qualquer um dos times de Suna descobrisse que eles ainda tinham a verdadeira Grande Bonsai. Acreditavam que chegariam a aldeia da Nuvem em quatro dias ou menos.


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Notas finais do capítulo

Como já comentei, ando muito ocupado com meu trabalho, de forma que a digitação/desenvolvimento de capitulos está sendo feita na medida do possível. Ainda não tenho previsão de quando postarei o proximo, mas pretendo manter o limite maximo de duas semanas.