Sonho Renascido escrita por Janus


Capítulo 66
Capítulo 66




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Já fazia dez minutos que tinha recebido a informação e dado a sua ordem, e nove desde que tinha aberto aquele pergaminho novamente e o relido novamente por pelo menos três vezes.

Podia ficar talvez o dia inteiro assim, com o pergaminho aberto a sua frente, sobre a sua mesa, com ele com a cabeça fixa neste, amparada por seus dois braços.

O filho do senhor feudal que fora encontrado ainda vivo foi submetido aos melhores especialistas do país. Mas mesmo após vários dias sob intenso tratamento, não havia nenhum prognostico sobre a possibilidade dele sobreviver.

Na verdade, nem ao menos se sabia se ele poderia algum dia recobrar a consciência ou se seria um mero vegetal. Talvez alguma coisa entre os dois.

Não podia ter sido pior.

Considerando a situação, era preferível que ele tivesse morrido, não ficado dias e dias agonizando, deixando seu pai desesperado de medo e ódio por todo este tempo.

Mas dois dias atrás, contudo, as coisas tomaram um outro rumo.

Novamente releu o pergaminho, conferindo o selo do senhor feudal, bem como sua assinatura, coisa que tinha feito já na primeira vez que o tinha recebido.

A ordem era clara. O filho de senhor feudal deveria ser sacrificado para que não continuasse sofrendo. E cabia a ele ser o executor, sendo o mais breve e misericordioso possível. E agora, da mesma forma que quando leu aquilo da primeira vez, ficou ponderando sobre os meios e a persistência que os conselheiros deveriam ter utilizado para convencê-lo disto. Um jovem que estava começando a ver o mundo como ele realmente era – bem diferente do pai – e até se esforçando para aprender como realmente dirigir uma nação seria extirpado da lista de ameaças dos conspiradores costumeiros, aqueles que queriam continuar com o seu nicho de poder obscuro, influenciando certas decisões do país para beneficio próprio.

E diferente do senhor feudal, esses eram bem versados sobre como as coisas funcionavam, como elas se desdobravam e em como as consequências podiam reverberar pelos degraus de poder. A sua principal ameaça ter sido atacada por uma jinchuuriki renegada devia ser uma resposta a suas preces. O rapaz não era tolo! Sabia do antro de corruptos que adorava cercar a nobreza. Por isso ele tinha interesse em aprender como as coisas funcionavam, para poder tomar decisões que evitassem que certos conselheiros pudessem ter influencia demais.

Mas agora isso acabou. A ameaça fora eliminada – ou melhor, seria eliminada assim que ele aceitasse executar a ordem – e o próximo na sucessão era a filha mais velha do senhor feudal. Uma moça treinada e preparada apenas para se casar com algum outro nobre apenas por conveniência ou para obtenção de algum tratado promissor. Com certeza os conselheiros iriam sugerir que a casassem com alguém que podiam controlar tão bem quando o pai desta. Na verdade, o pai dela subiu ao poder por causa de um evento parecido.

Finalmente, ele agarrou o pergaminho com a mão e o amassou em um monte de papel bem pequeno. Ate que enfim teve coragem de fazê-lo. No entanto, a ordem era clara e direta. Nada podia fazer para evitar isso. Mas a vantagem que ele tinha era não haver especificação de quando tal coisa devia ser feita.

Foi por isso que desde que tinha recebido aquela mensagem, ficou incomunicável para todos, ou ao menos era o que queria dar a entender. Ele recebia as mensagens, mas não respondia a nada. Queria dar àquele rapaz o maior tempo possível para que talvez um milagre ocorresse.

Já estava inteirado de que a jinchuuriki tinha vindo do país da Água, e que a mizukage também estava com problemas com o senhor feudal dela, que ainda morria de medo e recusava-se a permitir que esta deixasse de protegê-lo para auxiliar na captura ou destruição da ameaça.

Também sabia que a hokage e o kazekage estavam na aldeia da Nuvem para presenciar o exame chuunin. Mas a carta que tinha recebido da hokage indicava claramente que ela estava aproveitando isso para reunir-se com os outros e tratar sobre esta ameaça. Poderiam ter tido uma reunião de kages com isso, mas agora tudo o que foi capaz de fazer foi praguejar pela situação em que se encontrava de não poder mandar nenhuma resposta, sob risco de alguém da corte real descobrir que ele podia estar tentando encontrar uma forma de não obedecer a execução da ordem.

Aparentemente a ameaça da jinchuuriki já não se encontrava naquele país, tendo ido provavelmente para o país do Raio agora. Tudo indicava que ela iria atacar os nobres de cada país, um de cada vez. E não podia avisar ninguém disto ainda.

Apertou os lábios e ficou fitando o pedaço de papel amassado em sua mão. Se havia alguém que pudesse fazer algo pelo rapaz era a discípula da princesa lesma. Mas não podia simplesmente pedir para ela ir até ali para tratar dele. Ela era a kage de uma aldeia, e era bem conhecida por raramente sair de Konoha. Ademais, se ela tentasse salvá-lo e não conseguisse - o que era muito provável – daria aos conselheiros corruptos munição para uma indisposição com o país do Fogo.

Se ele fosse fazer algo, teria que ser em segredo absoluto. Precisava achar uma forma de primeiro explicar a situação para a hokage. Segundo, tentar convencê-la a tentar tratar do rapaz. E terceiro, caso não fosse possível salvá-lo, garantir que ninguém soubesse do ocorrido. Ela não poderia vir até onde ele estava para isso, portanto teria que enviá-lo para ela. E a única pessoa que podia confiar para isso seria o seu antecessor.

Ele já tinha mostrado disposição para isso, mas havia alguns inconvenientes ainda que necessitavam ser contornados. Precisaria montar um grupo pequeno e de total confiança, e neste grupo teria que haver alguns excelentes ninjas médicos para garantir o máximo possível que o paciente não piorasse durante a jornada. Mas estava um pouco difícil selecionar esses ninjas sem que a ausência deles atraísse a atenção. Sua escolha teria de ser a de escolher apenas um ninja médico e procurar alguém que poderia ser um auxiliar a altura e que fosse bem confiável.

Passou os últimos dois dias cuidando das necessidades para colocar seu plano em prática, mas o principal que era uma forma de se comunicar com a hokage sem que ninguém pudesse saber, ainda lhe escapava.

Ainda estaria ruminando sobre o que fazer caso alguns minutos atrás não tivesse recebido aquela informação tão inesperada quanto oportuna, a de que um time ninja de Konoha estava ali na aldeia verificando se tudo estava bem com o kage desta, uma vez que aparentemente nenhum contato estava sendo possível.

Era uma oportunidade única! Avisou para trazerem aqueles shinobis imediatamente a sua presença, e impedir qualquer um de falar com eles. Era uma aposta alta, mas era a única coisa que poderia fazer agora.

Ele deu autorização para entrarem quando bateram à porta, e ficou surpreso ao ver dois gennins ali, junto com dois adultos. Um daqueles adultos devia ser o sensei do time – um time ainda novato... mas até que era um excelente disfarce para não desconfiarem caso eles fossem levar o filho do senhor feudal até a hokage – mas não tinha ideia de quem seria a outra adulta.

- Tsuchikage-sama – disse o homem que pelas marcas do rosto devia ser um inuzuka – estamos aqui...

 - Eu sei – cortou ele erguendo a mão e o fazendo calar-se – sei por que está aqui, e... – olhou para os gennins que pareciam desconfortáveis – imagino que talvez eles não saibam tudo o que você veio avaliar.

Ele tinha dado uma boa ênfase na palavra, e o olhar do shinobi indicou claramente que ele tinha entendido.

- É verdade – respondeu ele – ocorreu algo que... – ele hesitou um pouco – o impede de responder ao contato da hokage?

- Antes que eu responda, me diga algo... você pode enviar uma mensagem que apenas a hokage possa ler, estou certo?

- Sim... – respondeu ele curioso com a pergunta.

- Pois bem, vou ser direto. Não confio usar nenhum meio que tenho a disposição para isso. Certamente a mensagem que eu fosse enviar ficaria resguardada, mas alguém saberia que eu a enviei, e com certas mudanças no pais da Terra, agora há muitos nobres interessados nas decisões que tomamos aqui. Eles ainda não podem interferir, mas o fato de estarem podendo obter algumas informações como quando e com quem houve alguma comunicação é... preocupante.

O rapaz olhou para o lado, para os dois gennins e apertou os lábios preocupado. Sua suspeita era verdadeira, felizmente. Aquele time estava ali a mando direto da hokage, sem dúvida para saber se a suspeita que eles levantaram no último contato procedia.

- Vou começar lhe dando a resposta que sua hokage sem dúvida pediu para você obter – ele ficou ereto e prosseguiu em bom tom - Sim, um jinchuuriki atacou o país da Terra, matou vários nobres e quase conseguiu matar o filho do senhor feudal.

O choque no rosto de todos eles foi até maior do que ele esperava. A mulher chegou mesmo a parar de respirar ao ouvir aquilo, mas logo em seguida parecia que tinha se recuperado, chegando mesmo a transmitir uma aura um pouco ameaçadora, embora ele tenha sentido que não era nada dirigido a ele.

Não esperou algum deles se recuperar para perguntar algo. Ele voltou a sua mesa e pegando papel e um pincel, começou a escrever.

- Estou escrevendo o que eu quero que você transmita a sua hokage – disse ele conforme formatava os kangis – quando ler, vai entender bem o que está ocorrendo aqui. Este é um assunto de extrema urgência e sigilo. Só posso rezar para que sua kage concorde em me ajudar...

-x-

De uma forma um tanto inusitada, sentia-se como se fosse um velho diante de seus netinhos, ouvindo estes lhe contarem histórias.

A analogia era muito forçada, claro. De todos os pensamentos que alguém podia ter caso o observasse, este seria provavelmente o último que surgiria na mente de alguém. O que veriam seria uma pessoa com uma capa e capuz sentada a sombra de uma árvore rodeado por cobras que sibilavam para ele, cada uma na sua vez transmitindo as informações coletadas dos mais diversos locais, desde as cortes de nobres importantes até bares onde apenas bêbados e bandidos frequentavam. A única coisa realmente em comum com os locais de onde as informações vinham, era o fato de serem frequentados por pessoas que possuíam as informações que lhe interessava.

Mas não havia nada realmente excitante sobre tais informações, coisa bem diferente de alguns romances que tinha lido quando era ainda adolescente, em que o “herói” da história conseguia uma informação excepcional de forma as vezes até forçada.

A vida real contudo é muito mais entediante e sem sabor. A esmagadora maioria dos dados que estava obtendo seriam mais uteis para vendedores de roupas e comerciantes de especiarias, dados os detalhes sobre os gostos pessoais e até das comidas preferidas daqueles que foram vigiados atentamente por meses, ou em certos casos, até mesmo por anos.

Haviam informações uteis sim, mas eram mais registros inusitados sobre alguns eventos, indicando a causa destes – como o assassinado de uma professora de uma aldeia perto da fronteira cujo motivo real foi a descoberta dela ser uma espiã de contrabandistas – mas nada verdadeiramente útil para efetuar alguma chantagem ou servir como ferramenta de barganha.

Não... nada disso, e na verdade ele jamais esperou obter alguma informação voltada para isso. Barganhas, chantagens, formas de pressionar... isso eram ferramentas que tinham de ser construídas com base nas informações que recebia, não algo que vinha pronto, ainda mais considerando que quando ele era informado de algo muito importante, tal evento tinha ocorrido meses antes, indicando a clara perda de oportunidade para o usufruto do mesmo. E ademais, ele não tinha absolutamente nenhum interesse de que seu nome fosse ouvido por alguém, assim, era realmente impossível ele usar tais informações – quando as possuía – para chantagear quem quer que fosse.

Mas haviam exceções, algumas das quais eram até bem vindas, como esta sobre a hokage, de que ela foi ao exame chuunin em pessoa. Um fato muito inusitado mas ao qual ele iria aproveitar o máximo possível. Precisava no entanto de informações mais atualizadas e imediatas, e naquele momento sabia que não mais poderia usar suas cobras. Os shinobis sem dúvida estariam preparados para elas agora devido ao incidente ocorrido em Konoha.

E pensar que tal coisa ocorreu apenas porque sua “colega” tinha um discípulo agora, e foi justamente este discípulo que por um acaso do destino acabou capturando sua espiã.

Ironia ou não, precisava de outra forma de acompanhar de perto o que a hokage fazia. Era crucial para Heromi e os outros pudessem agir a contento e de forma eficiente em Konoha. Se ela recebesse qualquer aviso de que algo estava ocorrendo na aldeia, sem dúvida devia ter algum jutsu guardado para remover ou destruir seus objetivos ali. Ao menos sabia que apenas ela poderia ter tal recurso, e não precisava temer estar errado, pois a fonte desta informação era de confiança máxima.

Ergueu a mão esquerda e as cobras que o cercavam se afastaram, como se fossem dispensadas. A figura encapuzada apenas ficou ali parada concentrando-se em seus pensamentos, avaliando o risco que iria correr a partir de agora.

A verdade era que ele não estava pronto ainda, mas a oportunidade era realmente única! Haviam duas hyuugas acessíveis na aldeia da Nuvem, a hokage não estava em Konoha, e haveria em breve uma grande distração devido a fase final do exame chuunin que iria começar. E, se fosse necessário, ele poderia ampliar esta distração pessoalmente, mas não estava ainda considerando essa possibilidade.

Ainda assim, estaria contando com a sorte de uma destas hyuugas poder lhe dar o que ele precisava. Acreditava que Hinata podia ser a chave para descobrir como efetuar a ativação de um doujutso, mas também podia estar errado e tal método poderia não ser possível de ser duplicado. Mas não ia descobrir se não tentasse.

Virou a cabeça observando algumas montanhas distantes, onde se localizava a aldeia da Nuvem e suspirou levemente. Ficou anos se preparando e ampliando seus recursos para atingir o seu objetivo, e agora este finalmente ficou palpável. Talvez pudesse realmente realizar tudo o que tinha se auto imposto. Na verdade, ele estava se sentindo um pouco... triste por isso.

Afinal, aquilo acabou se tornando sua vida. Vivia para seu objetivo, dia após dia, semana após semana, projeto após projeto, plano após plano... cada ação, estudo, manipulação e espionagem que tinha feito na ultima década e meia foram única e exclusivamente direcionados para atingir sua meta.

E com tal meta agora finalmente visível... estava começando a se sentir um pouco vazio. Por estranho que pudesse ser, acabou por apreciar mais o esforço para atingir o objetivo do que o objetivo em si.

Sorriu levemente se recriminando pelos pensamentos inúteis. Não devia ficar triste quando atingisse seu objetivo final, porque não teria que se preocupar com mais nada depois disto. E se conseguisse coordenar tudo o que tinha de fazer, tudo estaria terminado inesperadamente em breve. Depois de anos e anos agindo devagar e com paciência, agora teria que fazer uma sequencia de ações que não seriam veladas de forma alguma, e uma delas incluía algo que ele pensou que nunca faria.

Na verdade era algo que ele chegou mesmo a desistir de fazer. E talvez nem o fizesse realmente... Talvez, já que ele estava precisando se adiantar e muito a todo o seu planejamento, talvez fosse hora de acelerar um pouco aquilo que ele estava dando para Etsu. Ela já podia executar uma quantidade considerável de suas técnicas, mas não aquelas bem exclusivas, que ele obteve com Orochimaru.

Orochimaru... pensar nele o fez se sentir estranhamente bem e satisfeito. Quase podia sentir suas células se retorcerem de raiva dentro dele, por perceber que ele estava mesmo próximo de seu objetivo, um objetivo que sempre fugiu dele.

- Orochimaru-sama, você realmente nunca chegou tão longe, não é verdade? E você estivesse vivo ainda, teria adorado o corpo de Etsu... tão perfeito... tão bem desenvolvido... – deu um largo sorriso – e tudo isso sem pagar o preço de trocar de corpo a cada três anos! Tudo o que ela tem pertence a ela e não precisa pagar nenhum preço por isso agora. Claro... não foi preciso usar jutsos proibidos, apenas a boa e paciente medicina. Quase chego a sentir pena de você agora... se tivesse ido pelo caminho que eu segui, você não teria perecido, muito menos teria aquela obsessão pelos olhos dos Uchichas.

Ele sentia vontade de falar mais, mas calou-se. Sentia ainda aquelas células de seu antigo mestre agora mescladas ao seu corpo rugirem de frustração. Não seria sábio continuar com a humilhação agora. Orochimaru estava definitivamente superado, ele tinha certeza.

- Sakura-chan – murmurou ele agora de uma forma lenta e pausada – após este exame chuunin você irá receber um inesperado presente...

Havia um sorriso leve em seu rosto após dizer isso, mas não um sorriso malévolo como alguém poderia esperar, era mais um sorriso de ironia.

- x –

Primeiro sua boca ficou estática, totalmente congelada no momento em que ia dizer algo, depois seus olhos abaixaram lentamente e seu corpo tremeu levemente. O shinobi da aldeia da Nuvem por sua vez não se alterou, apenas terminou de empurrar a bonsai que ele tinha entregado dizendo que era um dos tesouros que tinha de localizar ao qual em seguida ele comentou que não era isso o que devia ser entregue.

Não era isso...

Não... era... isso?

Sua mente loucamente insistia em ter algum pensamento racional para ao menos mostrar aos seus colegas que não tinha sofrido um infarto. Ainda estava processando as palavras que o shinobi disse: “não era isso que devia ser entregue”, e apesar de ter compreendido o teor do que aquelas palavras transmitiam, sua consciência se negava sequer a admitir aquela possibilidade.

Eles foram enganados!

Uma hora atrás ele e seus colegas tinham finalmente retornado à aldeia da Nuvem, chateados e conformados – ou ao menos fingindo estar conformados - pela perda do Olho do Coiote, e ficaram muito mais incomodados quando viram Hameri e o resto de seu time ali, acenando para eles com ar de vitória. Não foi difícil descobrir que foram eles que haviam roubado o tesouro.

Ou melhor, que tinham recuperado o tesouro que era deles em primeiro lugar. Mas mesmo sabendo disto, ele se sentia quase que roubado. Eles se aproveitaram enquanto estavam enfrentando o time de Konoha para simplesmente pegarem o tesouro sem luta, sem “esforço”.

Mas não havia então o que fazer, eles já o tinham entregado. Só ficou satisfeito quando ela própria admitiu que seu time conseguiu dois dos três tesouros, como o dele. Mas ficou incomodado quando ela os seguiu até o local da entrega, quase como se antecipasse alguma coisa.

Agora, no entanto, nada disso passava pela sua mente. Tudo o que ele via era uma planta que ele lutou desesperadamente para conseguir e que estava sendo simplesmente descartada. Não podia aceitar aquilo... Tanzo viu eles procurando por toda a estufa a distancia, e saíram de lá com aquela planta. Tinha que ser o tesouro.

Finalmente seu corpo começou a reagir àquela informação recebida momentos antes. Seus músculos começaram a tremer levemente, seus lábios se abriram um pouco, quase formando algo próximo a uma ação de rosnar, e suas mãos se fecharam com uma força incrível, causando grandes estalos em seus ossos. Em seguida esmurrou os dois punhos na mesa ao mesmo tempo em que segurava a sua raiva e necessidade de gritar. Como assim não era o tesouro?

- Ora, ora – disse Hameri não contendo seu sorriso de satisfação – parece que não fomos apenas nós que fomos passados para trás.

Kotar olhou na sua direção com os olhos ainda arregalados pela surpresa e o rosto contorcido pela raiva. Aquilo realmente não era a tal Grande Bonsai? E o que ela quis dizer com aquilo?

- O que quer dizer? – urrou ele sentindo as mãos de seus colegas o segurando para evitar que o mesmo pulasse em cima dela, coisa que seria imediatamente impedida pelos guardas estrategicamente colocados ali durante a recepção dos times que iriam entregar os tesouros, ou ficar em extrema decepção por não os terem ou obterem os tesouros incorretos.

- Exatamente o que você ouviu – respondeu ela mantendo o mesmo tom de deboche – vimos vocês lutando contra o time de Konoha e não acreditamos que isso ai – ela se dirigiu a planta que agora estava perigosamente perto de cair da mesa onde os tesouros deviam ser apresentados – era a verdadeira Grande Bonsai. Fomos atrás deles e acabamos também sendo enganados. Ou melhor.... nós acabamos nos engando sozinhos.

Ela pegou algo do seu cinto e jogou na mesa. Kotar olhou e viu que era um tipo de escultura de cristal – ou vidro – de uma bonsai.

- Pensamos que era isso aí, mas estávamos errados. Mas ao menos entregamos dois tesouros. Vocês só pegaram um...

Seus colegas viram sua cabeça tremer levemente, bem como ele morder seus lábios tentando se controlar. Mas ele não disse mais nada. De uma forma controlada ele saiu andando do local e seus colegas o seguiram, e por mais de duas horas apenas ficaram em silencio ao seu lado após este se sentar em um banco de um dos jardins da aldeia da nuvem.

Apatia!

Talvez a melhor palavra que pudesse descrever o estado atual daquele time de Suna.

Depois da raiva, da frustração e do quase desespero, tudo o que sobrou agora era apatia.

Nenhum deles conseguia ainda aceitar o fato de que tinham apenas um dos tesouros, e principalmente que a tal Grande Bonsai não era o que trouxeram. Foram muito bem enganados, era preciso admitir isso. Aqueles gennins lutaram como insanos para proteger aquela planta. E o tempo todo em que Kotar relembrava como tinha sido aquela luta, mais e mais ele se considerava idiota por não ter percebido que havia algo errado naquela ação que poderia ter destruído o tesouro.

Não percebeu porque tudo indicava que eles preferiam destruir o tesouro a entregá-lo. Não percebeu porque seus sucessos anteriores acabaram lhes dando uma confiança excessiva. Eles acharam mesmo que estavam imbatíveis, sempre atacando de tocaia, nas sombras, conduzindo os oponentes – como o sensei lhes ensinou – mantendo o controle da situação durante todo o tempo.

Seu maior erro foi não ter abandonado o primeiro confronto com aquele time logo no começo, quando eles começaram a agir de forma diferente. Eles não estavam na posição correta para um ataque, mas ele foi em frente assim mesmo, acreditando que podia manipula-los, que como fizeram com todos os outros poderiam isolar um por um e assim os derrotar.

Mas um time que podia fazer tantos clones nunca está realmente “isolado”. Esse foi seu erro tático.

- Kotar...

- Já acabou – murmurou ele – ao menos entregamos um dos tesouros. Agora temos de decidir qual de nós irá participar da fase final.

Estava resignado. Tinha recebido uma missão e a cumpriu parcialmente. Como isso seria considerado na avaliação deles, não tinha ideia.

- Não temos o que decidir. Se aqueles três estiverem na fase final, e é bem provável que estejam, só você com sua foice tem chance de vencer um deles.

Ele não respondeu. Encarar aquele loiro de novo em um combate frontal e direto era suicídio considerando as técnicas que ele usava. Sua única chance seria a de imprimir vantagem bem no começo, fazendo-o ficar na defensiva. Se isso falhasse, acabaria derrotado. Mas, por outro lado, em uma arena não havia lugar para ele se esconder como o fez na floresta, e mesmo que ele tenha uma fantástica visão, sua neblina iria atrapalha-lo.

- Temos tempo para decidir isso com calma ainda – murmurou ele – além disso, com certeza Hameri irá participar, e no confronto direto aquela sua técnica de poeira é muito perigosa. De qualquer forma, estou muito mais interessado agora em saber o que era realmente a Grande Bonsai.

- Eles devem chegar até o fim do dia – disso Tomoko cruzando os braços e olhando para baixo, em direção onde estava a longa ponte de cordas que era a única entrada para a aldeia – só temos de esperar.

Os outros olharam na mesma direção e ficaram algum tempo vigiando a entrada. Mas como não sabiam o momento certo, acabaram por desistir. Foram até os seus alojamentos para descansarem um pouco e ponderarem sobre tudo o que houve.

Não eram novatos no exame chuunin, assim como Hameri e o time dela. Mas no ano anterior – que ainda tinha um tipo de divisão de três fases - eles perderam ainda na primeira, sendo incapazes de obter a informação exigida. O time rival deles tinha conseguido, mas foram derrotados facilmente na segunda fase por um time da aldeia da Névoa.

Na verdade, Hameri quase morreu ali.

 Estranhamente, ficou sabendo pelo seu sensei poucos meses antes deste exame de agora que o time dela quase foi considerado apto para ser promovido a chuunin, ou melhor, quase que Hameri acabou se tornando uma chuunin, mesmo seu time tendo sido derrotado. Não entendia como era essa escolha ou que critérios usavam para definir a promoção, mas estava evidente que a “vitória” não era propriamente um deles.

Desta vez parecia que iam conseguir uma vitória esmagadora frente aos concorrentes. Mas tiveram essa vitória literalmente usurpada de suas mãos. E o pior foi que o time da Hameri novamente se mostrou superior ao deles. Entregaram dois tesouros ao passo que eles só conseguiram um. No fim, Kotar sentia que acabou fracassando novamente.

Era noite alta quando os três saíram correndo do alojamento, e isso porque Tanzo viu que o time de Hameri tinha acabado de sair em disparada também rumo ao local onde os tesouros deviam ser entregues. Não tinham dúvidas de que eles também estavam curiosos sobre qual era a verdadeira Grande Bonsai.

Chegaram à barraca montada especialmente para isso em poucos minutos, e lá estavam eles... os gennins de Konoha. Eles os olharam um pouco curiosos a principio – a garota de olhos verdes chegou mesmo a se preparar para atacar, mesmo com o braço em uma tipoia, mas logo relaxaram.

Na mesa ele viu que haviam cinco tesouros entregues, e sentiu um calafrio em sua espinha sobre a possibilidade daquele time ter todos os três que faltavam. Sem esconder sua ansiedade, ele ficou ali próximo à entrada – quase do lado de Hameri – vendo o shinobi lentamente pegar o pergaminho com a descrição do que eles tinham de pegar e começar a dizer o nome de cada tesouro aguardando que eles entregassem o objeto correspondente.

Primeiro foi um belo colar – ou pingente – em forma de estrela com algum desenho mais elaborado no centro, o segundo o fez perder o folego. Era o que ele, seus colegas e até o outro time de Suna aguardavam, a Grande Bonsai.

Ficou estupefato quando viu a morena colocar a mão na sacola e retirar dali uma faca?! E entregar para o shinobi. Este removeu a faca de seu coldre e observou esta um pouco, e em seguida a colocou com a pilha de tesouros aceitos.

A Grande Bonsai era uma faca?! Ainda não podia acreditar naquilo. Como alguém podia batizar uma faca com esse nome?

Ainda quase sem respirar, viu eles entregando mais um tesouro – três?! – e recebendo os parabéns do shinobi por ter sido o único time a entregar todos os tesouros solicitados.

- Essa faca era a Grande Bonsai? – disse Hameri do seu lado quase em tom de grito, e foi quando Kotar reparou que ela também não estava acreditando naquilo.

- Sim – disse o loiro com um pequeno sorriso cínico – a descrição era: “Uma grande faca de caça ornamentada com um desenho em relevo de uma bonsai”. Achei que se deixasse isso ilegível, nós iriamos ter uma grande vantagem. Não sei porque acabaram batizando ela de Grande Bonsai, mas deve ter algo a ver com a história que houve entre o raikage, a princesa e o senhor Toronei.  

- Cheguei a pegar isso na mão e nem me interessei em tirar do coldre... – murmurou Hameri olhando para baixo.

- Na verdade – começou a falar o shinobi que recebia os tesouros – essa faca foi feita por um dos mais lendários artesãos deste país. Ele era renomado por fazer katanas e espadas incríveis e resistentes, mas fazia coisas mais simples para dar de presente aos amigos. Essa faca foi dada a Toronei. É tão resistente e mortal quanto qualquer espada, e quando o raikage, na época um gennin estava protegendo uma princesa naquela região, esta faca foi a arma que ele usou para derrotar seus adversários. Foi o próprio raikage quem a batizou, baseado no desenho de sua lateral – ele ergueu a faca e mostrou a lateral para todos verem, onde uma perfeita representação de uma árvore, nesse caso, uma bonsai pelo vaso que possuía, podia ser facilmente vista.

- Isso eu não sabia – disse o loiro – bom, Ayame-chan, vamos para o hospital e deixar esse seu braço curado de vez – depois olhou para os dois times que ainda estavam ali parados, pensando que provavelmente nunca teriam encontrado esse tesouro sem aquela descrição que aquele loiro dos diabos fez questão de deixar ilegível – nos vemos na fase final.

- Um momento – disse o shinobi e conversou um pouco com eles, mas neste momento, Kotar não mais prestava atenção.

Ainda levemente apático, viu os três se afastarem, e mal percebeu a ninken farejar seu pé por alguns momentos antes de acompanhar sua parceira.

- Íamos ser enganados de qualquer jeito – comentou Tomoko olhando para ele.

Não chegou a responder, mas concordava com ela. A menos que tivessem a sorte de ter conversado com alguém – talvez ali naquela mansão onde a Grande Bonsai estava – dificilmente teriam imaginado que era uma faca que procuravam. Tinha que admitir que neste ponto, aquele time foi muito esperto e oportunista.

- Vocês eu não sei, mas eu vou dormir – disse Hameri lhes dando as costas e partindo.

Kotar a observou com certa frieza conforme ela se afastava. Não duvidava que ela seria um difícil oponente na próxima parte deste exame. Mas o fato de que todos os três de Konoha também estariam lá era preocupante. Se tivesse sorte, ele enfrentaria algum outro oponente em sua primeira luta. E isso o lembrou de que fora dois integrantes do time de Hameri e três do time de Konoha, não sabia quem seriam os outros dois classificados.

- Quando saberemos quem iremos enfrentar na próxima fase? – perguntou ele para o shinobi que estava guardando os tesouros recebidos.

- Depois que os nomes dos participantes forem indicados pelos times que entregaram os tesouros, haverá um sorteio para classificar a ordem das lutas. Isso deve ser feito até amanhã ao meio dia.

- E... – ele ficou confuso – para quem devemos indicar os participantes?

Ele o olhou arqueando os olhos e quase demonstrou irritação.

- Como eu lhe expliquei esta tarde – disse ele em tom de reprimenda – e acabei de repetir agora para esse time que acabou de sair, seu time deve selecionar o participante e indicar este para a secretaria do raikage. Não prestou atenção?

Sentiu-se corar levemente. Ele devia ter dito isso enquanto ele estava alterado quando soube que não tinha o tesouro certo para entregar, e quando repetiu agora para o time de Konoha, ele novamente não se incomodou com o que ele falava.

- Eu... não... desculpe.

O shinobi apenas bufou e continou a recolher os tesouros. Kotar e seus colegas saíram em seguida retornando aos seus alojamentos.


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