Sonho Renascido escrita por Janus


Capítulo 63
Capítulo 63




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/80537/chapter/63

Abriu os olhos devagar e os piscou algumas vezes. Sentia o odor do orvalho da manhã, bem como o frescor deste em seu rosto. E ao se mexer um pouco ficou levemente corada e deu um sorriso de moleca. O braço de Minato ainda estava sobre sua cintura.

Quando terminou o seu turno de vigia, ela resolveu ser um pouco safada e acabou deitando-se do lado de Minato, e colocou o braço dele sobre sua cintura. Em parte queria ver ele surpreso ao acordar naquela situação, e em parte queria se aquecer rapidamente quando fosse dormir. Uma pena que ele ainda não tinha acordado e perceber assustado em que situação estava.

Ela se mexeu um pouco começando a tirar seu cobertor quando o braço dele a apertou mais para si, lhe dando uma sensação de surpresa e de conforto ao mesmo tempo. Chegou até a ficar corada um pouco com aquilo.

- Que pena que você está dormindo ainda, Minato-kun – murmurou ela fechando os olhos.

- Você acha? – foi a resposta dele bem na sua orelha.

- Mi-minato-kun... – ela gaguejou e suprimiu um grito de susto quando sentiu seus lábios beijando de forma bem molhada a sua nuca. A brincadeira tinha se invertido. Agora ela era quem estava encabulada naquela situação.

Logo depois ele retirou o braço e se levantou, se espreguiçando um pouco. Ela ficou olhando para ele ainda deitada com os olhos um pouco arregalados.

- Eu acordei quando você colocou meu braço sobre seu corpo – ele sorriu – e como não sou bobo resolvi aproveitar.

- Podia ter aproveitado um pouquinho mais... – murmurou ela e logo em seguida ficou vermelha feito um pimentão. Mas o que estava dizendo? Ela estava interessada em namorar ele agora, não em...  quer dizer, talvez não ainda...

- Porque está tão envergonhada?

- NADA! – disse ela se levantando – nada mesmo.

Viu ele ir até a mochila pegar um cantil e colocar um pouco de água em um copo. Ele começou a escovar os dentes e usou esta água para enxaguar a boca, e o resto dela para lavar o rosto. Ayame por sua vez tinha feito o mesmo e agora estava um pouco ocupada penteando os seus cabelos, tentando se concentrar na tarefa que tinham de fazer.

Mas a verdade foi que ela tinha adorado a sensação quando ele a apertou para si e a beijou na nuca. Se ele tivesse ido mais longe...  Maneou a cabeça para parar de pensar naquilo. Se fossem fazer alguma arte ela preferia que fosse em Konoha.

Quinze minutos depois ela terminava de confirmar se o fogo estava bem apagado enquanto Minato colocava a mochila nas costas. Olhou mais uma vez para o céu totalmente azul e inspirou profundamente o ar da manhã. Era o ultimo tesouro e pelo jeito iria ser talvez fácil. Pelo menos não esperava agora ter que ficar lutando por ele.

Começaram a andar pela estrada em direção a mansão e logo depois duas ninkens se juntavam a eles. Elas ficaram correndo em círculos ao redor deles e pareciam alegres, até que uma delas assumiu a forma de Haruka e a outra pulou no seu colo, a derrubando em seguida. Ayame sorriu para a amiga que tinha uma forma toda única de brincar com a sua parceira.

- Já vi que estão bem dispostas hoje – disse ela observando-a afagar o pescoço da parceira.

- Claro que estamos. Nossa! O cheiro deste lugar é incrível, me excitou muito.

Ayame e Minato pararam de andar subitamente e olharam para ela impressionados. Tudo bem que quando ela se transformava em ninken podia ter habilidades extras como olfato e audição apurados, mas daí a ter as mesmas reações que estes...

- O que foi? – perguntou ela percebendo que a observavam.

- Haru-chan – começou Minato – as vezes parece que quando você se transforma em ninken não é uma mera mudança física.

Ela ficou um pouco corada e sorriu levemente.

- Eu sei – respondeu – mas é um efeito inesperado de Shiromaru ser parceira de uma pessoa fora do clã. Se eu fosse uma Inuzuka eu devia poder transformá-la em uma cópia minha, mas acaba ocorrendo o inverso. Não tenho como explicar como o cheiro de orvalho pode me excitar quando sou ninken.

Ela ergueu uma das sobrancelhas e sorriu levemente. Logo depois os três continuaram andando calmamente pela estrada.

 Alguns minutos depois chegaram ao portão com os guardas e aguardaram um deles vir conversar com eles, coisa que não demorou muito.

- Vocês vieram muito cedo – disse o guarda os observando e demonstrando um certo receio – a senhora Toronei ainda não acordou, mas fui instruído a deixá-los entrar. Sigam-me.

Sem dizer nada, eles seguiram o guarda que segurava firmemente sua lança, em uma típica postura de estar preparado para utilizá-la a qualquer momento. Não duvidavam que ele fosse um antigo soldado do país da Terra que foi empregado ali. Talvez até pudessem invadir o local com relativa facilidade, mas caso precisassem encarar alguns destes guardas, não iria ser fácil. Esse foi o motivo de decidirem pela aproximação direta. Apesar de terem de lutar pelos outros tesouros, todos eles tinham alternativas mais sutis que exigiam mais paciência e determinação da hora certa de agir. Assim tinha sido com a Estrela do Coração e o Cristal que Sacia a Sede. Em ambos poderiam ter pego os tesouros sem luta. No primeiro caso bastaria apenas seguir a mulher e quando esta fosse dormir, roubar o colar dela. No segundo poderiam ter feito o mesmo com o homem que falou que o tesouro tinha sido roubado.

Mas em Toronei era certeza de que era melhor primeiro tentar uma aproximação mais pacífica graças ao que Shiromaru descobriu quando chegaram a mansão no noite anterior.

Seguiram por uma trilha bem pavimentada pelos jardins daquele terreno e Ayame olhava ao redor se maravilhando com a grande extensão de grama bem cortada e cuidada. Mais distante podia ver um tipo de jardim de flores e a sua direita uma fonte que parecia até ser um tipo de terma. Ao andaram um pouco mais passaram do lado da estufa onde as bonsais eram cultivadas e podia ver que já haviam pessoas ali dentro as regando. Daquela distancia também podia notar que havia uma quantidade imensa de plantas no interior.

Entraram na mansão e aguardaram no hall de entrada onde haviam pelo menos duas largas escadas que partiam deste. Ayame achou um pouco estranho os deixarem sozinhos, mas observando Shiromaru percebeu que não tinha sido exatamente assim. Só esperava que a senhora Toronei não tivesse dificuldade para andar. Ela devia estar bem idosa a esta altura.

Ayame olhou ao redor daquele hall e quase assobiou impressionada. As janelas eram enormes, de forma que parecia que o Sol entrava diretamente no local. Indo da porta e se dividindo pelas escadas havia um grande tapete azul que não demonstrava nenhuma mancha. O piso era de madeira e muito bem encerrado. A outrora princesa gostava de ostentar luxo. Diante de cada janela havia uma grande mesa onde haviam algumas bonsais estrategicamente colocadas e outros objetos de enfeite, a maioria sendo cristais lapidados e as vezes até mesmo artesanato feito de vidro. Alguns destes eram belas e perfeitas copias de objetos, mas em tamanho reduzido. Ayame se aproximou de uma das mesas e observou aquilo atentamente. Haviam vários objetos feitos de vidro – alguns até coloridos – sendo que um conjunto de louça a encantou, a fazendo lembrar-se momentaneamente de quando era criança e brincava de bonecas e de fazer comida. Um jogo de louça em miniatura daqueles iria deixar qualquer menina muito feliz. Também havia miniaturas de animais e de árvores. Havia até mesmo a miniatura em vidro de uma bonsai, o que a fez ficar um pouco pensativa.

Do outro lado do hall, Minato e Haruka observavam a outra mesa com objetos diferentes. Esta também tinha algumas bonsais, mas possuía outras coisas interessantes de se olhar. Havia inclusive um jogo de facas ali que parecia ser de prata – ou ao menos folheada a prata – embora o formato e o tamanho delas mais se parecesse com facas de caça. Minato chegou a pegar uma delas para observar melhor os desenhos trabalhados em sua lamina. Cada uma das facas tinha um desenho diferente entalhado. Mesmo Haruka ficou interessada em observar cada um deles, retirando algumas delas do seu suporte e após observar bem o desenho as recolocando de volta.

Quase uma hora depois, eles ouviram um som de madeira rangendo vindo do alto e ao observarem naquela direção viram a senhora Toronei – bem idosa conforme tinham imaginado - mas para sua surpresa, movia-se com razoável desenvoltura para alguém que precisava da ajuda de uma bengala.

Os três a observaram com paciência e até um certo respeito enquanto ela descia todos os degraus da escada sem muita dificuldade, colocando um pé a frente do outro. Foi só quando puderam vê-la de frente que perceberam que o motivo dela usar uma bengala era aparentemente uma de suas pernas estar quebrada.

- Gennins de Konoha... – disse ela com um sorriso assim que os olhou diretamente – não esperava que fossem os primeiros a chegarem. Apesar de estar me esforçando, o renome de nossos produtos ainda não saiu do país do Trovão.

Ayame franziu o cenho por alguns instantes. Da forma como ela tinha falado, até parecia que sabia o que estava escrito na folha que tinham obtido com a secretária do raikage.

- Senhora Toronei? – começou Haruka com uma voz demonstrando respeito.

- Acho que o termo certo ainda é princesa Toronei Ami – disse Minato com um sorriso simpático.

- E ainda estão bem informados – ela sorriu para eles, mas não era propriamente um sorriso de simpatia, mas algo quase como de moleca – não creio que ficarão surpresos se eu disser que aguardava a sua chegada, ou melhor, a chegada de times de gennins. Gennins bem audaciosos, eu diria – completou ela depois de olhar uma das mesas com enfeites que ficava diante de uma das janelas do hall.

- Considerando que nos outros dois tesouros também estavam nos aguardando, ficaríamos surpresos se não fosse assim.

Ayame notou ela arregalar os olhos levemente, talvez impressionada deles já possuírem dois tesouros, ou talvez a surpresa tenha sido ela não entender o termo “tesouro”. De qualquer forma, a idosa princesa fez um sinal para a acompanharem e começou a andar pelo salão rumo a uma grande porta do lado oposto de onde entraram.

Assim que passaram por esta porta, viram-se em um grande corredor onde Shiromaru começou a ficar um pouco inquieta. Sua parceira fez um carinho em sua cabeça e depois disto ficou um pouco mais controlada. Ayame e Minato se esforçaram para não olharam para os lados e nem para trás. Depois de andaram até a metade, a mulher entrou em uma porta a esquerda e não puderam evitar de ficarem com a boca aberta. Eles tinham entrado na enorme estufa que tinham visto do lado de fora. Ali haviam prateleiras e prateleiras com bonsais de todas as variações, tamanhos e estágios de desenvolvimento. Também haviam varias pessoas regando estas plantas com muita água.

- Gostaria que me respondessem uma pergunta antes que eu diga o que querem.

- Estamos a disposição, princesa – disse Ayame se adiantando a Minato. Ela não estava disposta a descobrir se ia se controlar com ele sendo tão bonzinho e educado assim para outra mulher, mesmo sendo uma princesa e que provavelmente era parte do seu plano para ganhar alguns pontos com ela.

- Faz tanto tempo que não sou chamada assim... – ela parecia estar com a mente em outro lugar quando disse aquilo – bem, gostaria de saber porque vieram aqui abertamente solicitar a Grande Bonsai, sendo que poderiam muito bem tentar roubá-la sem que alguém percebesse que estiveram aqui.

As duas olharam para Minato, que obviamente fora quem tinha sugerido aquele plano de ação.

- Podíamos roubar sim – disse ele de forma amistosa – mas não seria muito educado fazer isso com uma princesa que recebeu asilo no país do Trovão.  Além disso, quando viemos para cá ontem a noite para verificar quais seriam as nossas opções, percebemos que o raikage ao contrário dos outros locais, decidiu dar uma proteção extra para a sua pessoa. Proteção na forma de um shinobi, que alias acho que está camuflado... Haru-chan?

- Lá em cima – ela apontou com o dedo para o alto.

- Como vocês...? - Ela ficou surpresa quando ele disse aquilo.

- Ninkens podem farejar chakra – disse Minato de forma educada. Ocasionalmente ela sente o chakra do jounin que está nos acompanhando de forma oculta, mas ontem ela percebeu mais chakras ao redor. Achamos que não podia ser algum rival já aqui dentro pois não estaria sozinho.

- Estou impressionada – ela olhou para cima e acenou levemente. Segundos depois alguém desceu do alto aparecendo praticamente do nada e pousou diante deles. Não podiam ver seu rosto que estava coberto, mas a bandana era claramente da vila da Nuvem.

- Se tentassem roubar, meus guardas iriam agir – disse ela – e o raikage forneceu um protetor para garantir que os danos não fossem exagerados. Mas ele não iria impedi-los de obter a Grande Bonsai, apenas de evitar que não houvesse estragos na estufa ou na mansão.

- Então ela esta aqui – disse Minato olhando ao redor.

- Garoto esperto – ela sorriu novamente – muito bem crianças, fiquei encantada com vocês tentarem uma forma política de obterem o que querem. Já sabem que o que procuram está por aqui. Vocês tem uma hora para achá-la, do contrário... bem, terão que usar outros meios para obtê-la.

Como que para endossar aquilo, o ninja que tinha aparecido diante deles cruzou os braços e os encarou detidamente com os seus olhos verdes.

- Mesmo com nós dois fazendo todos os clones possíveis, não vamos examinar nem um décimo das plantas que estão aqui em uma hora, Minato-kun – disse Ayame em voz baixa.

- É só achar a maior delas – disse ele no mesmo tom.

Ficou um pouco confusa com o que ele disse, mas depois entendeu o que ele queria dizer.

- Kage bunshin no jutsu – disse Ayame criando quase uma centena de clones, logo seguida por Minato. Haruka também não se fez de rogada e fez o máximo de clones possíveis de sua parceira, se transformando em ninken logo em seguida. Instantes depois a grande estufa estava com copias de todos eles por todos os lados, observando rapidamente as bonsais e ignorando aquelas que estavam molhadas.

A princesa observava aquilo extremamente impressionada, e não era a única. Mesmo o ninja enviado para garantir que os gennins participantes do exame não causassem muitos problemas a velha amiga do raikage estava incrédulo com o que tinha visto. Um time de ninjas em que todos os integrantes podiam fazer muitas quantidades do clone das sombras. Que bom que eram aliados.

- Tanto trabalho para dar uma dificuldade que exigia cérebro e paciência... – murmurou ela para o ninja ao seu lado – e o primeiro time que aparece não só já resolveu a charada como pode se dar ao luxo de procurar lembranças.

- Eles ainda vão ter que manter a Grande Bonsai com eles – murmurou o ninja observando atentamente os clones se movendo – não creio que aquele gennin de Suna que invadiu sua propriedade seja amigo deles.

Não demorou muito para ouvirem um latido seguido de  um uivo. Os clones acabaram desaparecendo segundos após isso e a princesa aguardou o que iria ocorrer. Alguns minutos depois eles voltavam a se posicionar diante dela, e nas mãos no jovem loiro estava uma bonsai bem grande dentro de um vaso de cerâmica. Eles não teriam como colocar isso dentro de uma mochila.

- Quanto a senhora está cobrando por esta bonsai? – perguntou ele indicando a planta em suas mãos.

Ela estreitou os olhos na direção dele e ficou um longo tempo observando a planta em suas mãos. Era uma bonsai feita com um galho de macieira, esmeradamente tratada para se parecer com uma miniatura desta árvore. Já tinha mais de um século de idade, tendo sido cultivada inicialmente pelo avô de seu finado marido.

- Desta vez não irei cobrar – disse ela – afinal me venceram em meu próprio jogo, embora eu esperasse algo que mais tarde exercitasse meus guardas – ela firmou a bengala a diante de si e a segurou com ambas as mãos, os olhando a todos de frente – boa sorte crianças. Creio que vão precisar.

Os três se inclinaram fazendo uma pequena reverencia e saíram calmamente da estufa. A princesa não tinha duvidas de que iriam diretamente embora, sem se deter em parte alguma da mansão.

Afinal, antes mesmo de ela ter se encontrado com eles da primeira vez, os mesmos já tinham pegado o que queriam.

-x-

- Depois de tudo aquilo que passamos vai soltar eles?

Anko observou bem a sua aluna e muniu-se de uma grande dose de paciência para não invocar Miara para correr atrás dela.

- Quer arrastar uns trinta prisioneiros por vários dias até chegarmos em Konoha? – retrucou a encarando firmemente – como vai alimentá-los, vigiá-los e mantê-los com um mínimo de saúde?

Viu-a apertar os punhos resignada. Logicamente não tinha pensado naquilo.

- Mesmo assim, soltar esses ladrões seria um erro...

- Qual foi a parte de “somos mercenários” que você não entendeu? – disse cruzando os braços e a encarando seriamente – não somos bons samaritanos. Konoha cobra pelos serviços que executamos. Ninguém está nos pagando para levá-los conosco, e eu que não estou a fim de cozinhar para alimentá-los.

- E que tal os levarmos até a fronteira do país do Arroz e entregá-los aos guardas que estão lá? São só algumas horas de caminhada.

Franziu o cenho por alguns instantes. Até que a idéia não era para ser descartada. Só precisavam manter o velho e o líder do bando com eles para interrogá-los. Mas havia um problema técnico nisto.

- Primeiro temos que nos livrar destas pulseiras – murmurou ela fechando os olhos por recordar daquilo novamente.

Os próximos cinco minutos foram preenchidos por Miyoko matraqueando de forma a descarregar toda a sua raiva por Anko nunca ter imaginado como aquelas bijuterias eram resistentes. Precisariam de uma serra para arrancar aquilo dos pulsos, ou talvez simplesmente invadir o bordel onde ela tinha roubado aquilo para o disfarce que tinha planejado e obter a chave.

Mas entrar ali usando aquilo nos pulsos não seria muito sábio. Também era por isso que não podiam se aventurar agora na maioria das vilas daquela região. Ela esperava que Outa encontrasse algo para cortá-las.  

- Certo, certo... não pensei neste detalhe, cometi um grande erro.. está contente agora? – disse quase rosnando para Miyoko – estamos com essas coisas nos pulsos e não vamos poder tirar por enquanto. O que mais você quer para me perdoar?

Miyoko a olhou de forma séria e sorriu levemente em seguida, o que deixou Anko um pouco preocupada.

- Quero três caixas dos seus dangôs preferidos – disse ela – ou quando voltarmos a Konoha vou contar a todo mundo o que aconteceu conosco.

- Você não ousaria...

Um olhar mais atento em seus olhos lhe mostrou que ela falava sério, o que a deixou sem escolha senão concordar.

- Se falar isso para o Umito-kun eu te esfolo, fervo em salmoura e te sirvo para Miara!

Ela não respondeu, apenas sorriu divertida e virou-se em direção ao fogo do acampamento. Para piorar, tendo Outa achado alguma vila para roubar algo para cortar aquelas pulseiras ou não, ele deveria chegar em algumas horas. Ela não seria tola de soltar aqueles prisioneiros e ficar próxima a eles. Assim que ele voltasse, pegariam os dois que realmente lhes interessavam e iriam o mais rápido possível para longe dali, onde fariam um novo acampamento e teriam mais sossego para cuidarem daquela questão que estava em seus pulsos.

Se Umito ou Outa não fossem tão jovens, seria fácil fingirem que tanto ela quanto Miyoko estavam em débito com eles, mas isso não iria funcionar. Ainda bem que esse tipo de punição só existia ali naquela região. Deu uma ultima olhada em Miyoko e ficou satisfeita dela – por enquanto – estar mais calma. Olhou para o alto das árvores e divisou ali Umito vigiando os prisioneiros. Foi incrível ele conseguir ter invocado Miara com poucos meses de treinamento, mas tinha que reconhecer que assim como ela tinha feito em relação a Orochimaru, ele se esforçou muito para aprender o que estava lhe ensinando. Se não tomasse cuidado até Miyoko poderia aprender algo com ele deste jeito.

Satisfeita pelas coisas ali estarem no momento sob controle, começou a andar calmamente se afastando do fogo e na direção oposta de onde estavam os mineiros capturados, encaminhando-se para os que no fim das contas eram os únicos que deviam ter alguma informação que talvez fosse de seu interesse. E se tivesse sorte, iria conseguir obter aquilo antes de precisarem partir.

Embora duvidasse que pudesse realmente intimidar aquele homem apenas com ameaças. Mas podia tentar usar alguma surpresa para ver sua reação.

- Pensei que ia gostar de usar suas próprias algemas – disse ela parando em frente a dupla aprisionada e que estavam sentados com as costas para uma pequena rocha – ou prefere que eu tire sua camisa?

- Justiça poética? – disse ele de uma forma até jocosa – mas creio que no meu caso tirar a camisa não tenha o mesmo efeito de quando eu estava tirando o seu top. Só me recrimino de ter ido atrás da menina muito cedo... – ele apertou os lábios fazendo uma careta – nem te vi direito. Mas se existir o milagre de ocorrer uma próxima vez, vou prender também as pernas da mulher.

Ela sorriu levemente, mas prestava atenção nos braços deles, atenta para qualquer movimento que indicasse que podiam ter se soltado.

- Dohabi, estou certa? Acho que foi assim que te chamaram.

- Boa memória – ruminou ele agora sem o humor de antes – minha oferta era verdadeira, sabia? Deve ter visto quantas gemas brutas temos acumuladas e que não conseguimos passar adiante.

- Se eu fosse quem você pensava... talvez eu estivesse arrependida agora. Mas sou uma kunoichi e meu interesse nem é propriamente em você ou na sua operação, mas no seu amigo aqui do lado. Acho que o chamou de Gefa, certo?

O idoso olhou de lado para ele e Dohabi se encolheu um pouco. Pelo visto ele não gostou dela saber desse detalhe.

- Nele? – Dohabi ergueu um dos olhos e encarou o companheiro – acho que com a sua artrite ele não vai te satisfazer muito...

Ele dobrou o corpo quando recebeu uma joelhada na barriga. Enquanto tossia podia-se notar como tinha ficado surpreso com a rápida reação e movimento dela. Mas o que Anko notou foi que o velho ali mal se alterou.

- Gefa-sama... porque eu acredito que se investigar sobre você talvez descubra que é um nukenin?

- Acha que eu me deixaria ser preso pelos seus alunos se fosse?

- E como sabe que eles são meus alunos?

- Vi muita coisa em minha idade. Sua bandana indica que é de Konoha, e se está com três adolescentes com tais habilidades, é obvio que são ninjas. Uma mulher adulta com três adolescentes ninjas usando essas bandanas  só podem ser um time da aldeia da Folha.

Ela maneou a cabeça levemente concordando com ele. Depois sorriu mais abertamente e se sentou diante deles cruzando as pernas e pondo os braços para trás.

- Como conheceu Kabuto?

A maneira como seus olhos se abriram já tinha lhe dado toda a resposta que precisava. Ele ficou surpreso com a sua pergunta, muito mais do que seria de esperar caso ele apenas conhecesse aquele nome.

- Não sei do que está falando!

- Em sua longa vida, com certeza soube que temos meios de arrancar a informação de sua cabeça. E na sua idade duvido que consiga resistir a isso ou ficar sem alguns efeitos colaterais. Não acho que vai querer ser um vegetal deitado em uma cama mal podendo se mover, certo?

Ele nada respondeu, mas Dohabi o olhava impressionado, fato que chamou a atenção de Anko.

- Seu silencio me diz muita coisa, Gefa-sama. E a surpresa de seu suposto empregador me diz outras. Por um acaso é ele – indicou com o polegar na direção de Gefa – que conseguiu esse seu contato no país do Trovão para contrabandear os rubis?

- Foi... – murmurou ele levemente – mas estamos juntos nisso faz quase dez anos. Muito antes deste contato.

- Você andou fazendo uns serviços extras, não é mesmo? – ela inclinou o corpo para a frente para olhar Gefa nos olhos mais de perto – alguns pedidos de engrenagens complexas e pagou isso com pedras brutas de rubi. Acho que fez isso em várias vilas.

- Se sabe tanto, porque perde tempo me interrogando? – disse ele mantendo um olhar duro em sua direção.

- Porque até arregalar os seus olhos, não tinha a menor idéia de que você poderia ser realmente quem eu estava procurando. Apenas fiz uma aposta. Parece que ganhei.

Novamente ele ficou em silencio, sem retrucar as afirmações dela.

- Sabe... acho que Kabuto entrou em contato contigo primeiro. Não consigo imaginar como pode ter ocorrido, mas se já contrabandeava pedras brutas antes, talvez tenha sido dessa forma. Não sei realmente e não me interessa agora. O que quero saber é onde posso achar Kabuto.

- Não faço idéia – disse ele com um leve sorriso agora.

- Imaginei isso. Portanto só me resta tentar apostar que seu atual fornecedor de rubis é ele, o que me leva de novo a você, Dohabi-san.

- Eu?

- Não finja surpresa. Se Gefa-sama está com artrite tão forte assim que o impede de continuar passando seu contrabando adiante, e também o fez optar por não enfrentar meus gennnis, ele não pode ir até o país do Trovão obtê-las. Como tem recebido essas pedras?

O olhar dele ficou duro ao mesmo tempo em que se encolheu um pouco.

- Vai ter que ser do jeito mais difícil – murmurou ela.

Ela se levantou deixando-os ali e foi até a sua mochila de mão onde pegou um pergaminho, papel e uma pequena caneta. Escreveu um longe texto no papel e em seguida abriu o pergaminho rompendo seu sele e fazendo surgir uma águia onde ela prendeu o papel em uma de suas pernas e a soltou em seguida, observando-a voar entre as copas das árvores e desaparecer no céu noturno. Se o objetivo deles estava no país to Trovão, poderiam tranquilamente passar em Konoha a caminho de lá, e talvez até deixasse seus gennins assistindo ao exame na aldeia da Nuvem enquanto investigasse mais a respeito.

Voltou a se encaminhar em direção aos dois e ficou parada ali diante deles. Queria vigia-los de perto até Outa retornar.

- Avisou Konoha que vai nos levar para sermos interrogados? – perguntou Gefa com um olhar frio e calculista.

- Não... pedi permissão para escoltar os dois até a aldeia da Nuvem. Caso não saiba, Kabuto está sendo procurado por todas as nações. Será mais fácil eles os interrogarem e já partirmos de lá em direção a onde ele possa estar se escondendo.

Ficou satisfeita ao ver os dois demonstrarem grande preocupação quando ouviram aquilo. Mas ela pessoalmente tinha um motivo bem mais prático para os levar até ali. Sakura estava lá, assim como Shikamaru e até Hinata. Os tres tinham motivos de sobra para ir atrás de Kabuto pessoalmente. Mas era a hokage quem iria dar autorização ou não para isso.

Claro, considerando-se que aqueles dois pudessem dar alguma informação útil. Tinha dúvidas se Kabuto poderia ser rastreado tão fácil assim.

-x-

- Mas que missão chata você pegou! – comentou ela colocando sua cabeça sobre a barriga dele como se esta fosse um travesseiro – e ainda temos que aguardar do lado de fora da aldeia deles pela resposta...

- Questões políticas – respondeu ele sorrindo e desviando-se um pouco da sombra de Akamaru. Ele queria pegar um pouco de Sol agora para espantar a noite fria da mente – mas ainda assim é uma missão. Embora no quesito periculosidade seja uma missão D, a importância é quase classe A.

Já faziam doze horas desde que tinham chegado a aldeia da Grama e entregaram o pergaminho àquele que representava o líder desta, e lhes foi dito para aguardarem a resposta fora da aldeia por questão de segurança. Como o kage deles não estava lá, apenas algum acontecimento extraordinário poderia permitir a permanência de estranhos na aldeia durante sua ausência. Ou em outras palavras: Ninguém tinha coragem de dizer que eles podiam ficar ali sem consultar o kage antes, assim, ficaram acampados do lado de fora.

Não que realmente incomodasse Nayuko ou Kiba. Ambos estavam apreciando muito poderem ficar ao ar livre sem ninguém os incomodando – tirando logicamente os alunos de Kiba, mas estes podiam ser ocupados facilmente com alguma tarefa que servisse de aprendizado, como a de agora em que eles tinham que ficar de vigia.

- Eu só queria entender qual foi a mensagem que entregamos para eles demorarem tanto para dar uma resposta.

Ele não respondeu. Preferiu acariciar a testa dela enquanto ficava com a cabeça em sua barriga. Não conseguia imaginar o motivo de enviarem uma mensagem daquelas para ser entregue pessoalmente, a não ser que houvesse algum documento importante dentro do cilindro onde estava o pergaminho, e não apenas uma carta. Não seria a primeira vez que uma missão destas seria usada como disfarce para tal coisa.

- Vai ficar ai quieto?

Ele moveu sua barriga para cima e para baixo rapidamente, fazendo ela soluçar involuntariamente.

- Está querendo briga é?

Ela se levantou e pulou para cima dele, tentando segurar suas mãos. Mas ele acabou entrando na brincadeira e começou a fazer o mesmo com ela, sendo que toda vez que conseguia prendê-la por alguns segundos, tentava lhe fazer cócegas. Poderiam ficar assim por muito tempo caso ambos não notassem alguém se aproximando.

Eles rapidamente ficaram de pé e olharam na direção em que cada um por seus próprios meios percebia alguém se aproximar. Não ficaram surpresos de ver que era Jiro, mas Kiba quase abriu a boca surpreso quando viu que ele estava com o braço esquerdo levantado e empoleirado neste estava uma águia.

Quando ele chegou mais perto esticou o braço direito e entregou um pequeno pedaço de papel enrolado. Era evidente que ele não o tinha lido, mas Jiro já tinha conhecimento suficiente para saber que receber um aviso daqueles por tal meio indicava algum assunto de urgência, muito provavelmente uma ordem para voltarem imediatamente para a aldeia ou – algo raro – alguma missão adicional aproveitando a posição geográfica atual deles.

Ele leu a mensagem e ficou com o olhar duro por alguns instantes. Em seguida dobrou o papel e o colocou no bolso.

- Pode solta-lo – disse ele para seu aluno – temos uma nova missão no país da Terra. Vamos para a aldeia da Pedra.

Jiro fez um movimento com a mão e a águia partiu imediatamente.

- Aldeia da Pedra? – murmurou Nayuko  para ele – e a missão aqui?

- Já enviaram uma ave para avisar que caso ainda estejamos por aqui, não poderemos esperar mais – respondeu ele.

Ela olhou para Jiro que parecia curioso com a situação.

- E o que vai dizer para os seus alunos?

- Metade da verdade. Jiro – chamou ele -  chame Yoshi e recolham suas coisas. Vamos partir logo.

Ele acenou com a cabeça e partiu correndo em direção ao colega. Kiba por sua vez ficou um pouco pensativo sobre o que falar para eles. Pelo menos com Nayuko ali, não tinha receio por eles. Ela conseguiria protegê-los se os mandasse fugir. Ele só desejava que não conseguisse descobrir absolutamente nada de anormal no caminho.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!