Sonho Renascido escrita por Janus


Capítulo 51
Capítulo 51




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Havia muita umidade oriunda da vegetação rasteira do local, tornando a noite normalmente fria nesta época do ano, ainda mais gelada. Mesmo assim os três gennins da Grama seguiam correndo entre os caules altos do capim, todos usando kunais para abrir passagem mais facilmente e desta forma evitando que a umidade das plantas ficasse impregnada em suas roupas. Não fosse por isso, estariam congelados agora.

Aguardaram por toda a tarde pela chegada de seus perseguidores, sem sucesso. Parecia que tinham despistado a todos. Mas não queriam correr riscos. Assim que anoiteceu tornaram a seguir viagem. Foi também uma sorte terem se abrigado em uma plantação de pêssegos. Apesar de nenhum dos frutos estar do tamanho ou maturidade para serem consumidos, puderam caçar alguns coelhos e  marmotas, o que lhes garantiu um bom sustento. Agora continuavam a seguir rumo ao seu primeiro destino, acreditando que finalmente sua estratégia apressada tinha funcionado.

Eles estavam errados...

Quando começaram sua jornada no começo da noite, a Lua no céu dava uma certa iluminação, apesar de ainda estar longe de estar cheia. Conforme a noite foi avançando, nuvens começaram a cobrir as estrelas, de tal forma que agora o ultimo resquício de fraco luar tinha se esgotado. E como se fosse um sinal para algo que os esperava, começaram a ouvir um som se aproximando.

Eles não alteraram sua velocidade no começo, mas aquele som os estava perturbando. Era como se um enorme facão estivesse ceifando trigo – um som que todos conheciam bem, pois tiveram uma missão classe “D” precisando fazer isso. Mas a intensidade deste era bem mais alta.

Não demorou dez segundos até Soshi gritar para se abaixarem. Todos ouviram zunidos acima das cabeças, um claro indicativo de algo lançado contra eles. Agruparam-se formando um circulo, com as costas voltadas para o centro deste, enquanto que com as mãos pegavam kunais e olhavam ao redor, tentando perceber algo.

Ouviram um som ao norte, um agudo som de metal roçando em rocha, mas logo ele se silenciou. Pelo jeito, alguém queria assustá-los. Tentavam perceber alguém se movimentando ao redor, mas a grama alta sendo balançada pelo vendo causava sons em todas as direções. Quase cinco minutos aguardando naquela posição, Dekei lançou duas kunais a sua direita, bem onde ouviu um som mais alto e quase inconfundível de alguém se movendo por entre a grama. Mas as kunais nada encontraram em seu trajeto, exceto capim verde.

Aquilo que inicialmente parecia ser uma boa idéia, a de usar a grama alta ao lado da estrada para se locomoverem com maior segurança agora se voltava contra eles. Aparentemente seus oponentes sabiam onde eles estavam, e o inverso não era verdadeiro.

Soshi invocou varias corujas que imediatamente voaram para o alto, numa tentativa de localizar quem estava ali. Mas assim que elas chegaram a dez metros de altura começaram a cair. Horrorizado, viu que elas foram alvejadas por longas agulhas metálicas. Ele ficou rangendo os dentes devido a suas corujas terem sido mortas.

- Acalmem-se – disse Dekei respirando devagar – sabíamos que algo assim podia acontecer.

Os outros dois nada disseram, mas ficar calmo era o que não queriam fazer naquele instante. Não estavam gostando de alguém os estar acuando e tentar brincar com os seus nervos. Estavam sentindo uma vontade de mostrar para eles que não iam cair nesse truque. Permaneceram ali parados observando todas as direções, sentindo o sereno lentamente umedecer suas roupas, contando os segundos mentalmente, e ficando mais e mais irritados de nada ocorrer.

Uma hora se passou e nada tiinha mudado. Apenas o sereno se transformou em uma neblina noturna que estava ficando mais e mais espessa. Suas pernas e músculos doíam de ficarem naquela posição por tanto tempo, mesmo sua audição dificilmente captava algo diferente agora, e mesmo se captasse, estavam em um estado de ansiedade muito elevado para interpretar corretamente.

- Para o chão! – gritou Soshi bem a tempo deles escaparem de uma nova onda de shurikens que zuniu acima deles – agora!

Sem esperar pelos seus companheiros, Soshi correu seguindo a mesma direção em que iam antes, arremessando shurikens a frente e um pouco para os lados. Seus colegas começaram a segui-lo e a lançar shuirkens lateralmente, na  esperança de atrapalhar ou impedir qualquer um que estivesse nessa área de atacá-los. Foram seguindo sentindo os caules atingindo os seus corpos, ferindo a pele dos rostos e até prejudicando sua visão desta forma até alcançaram a estrada, onde continuaram correndo por esta. Correram por quase uma hora, observando a retaguarda, mas a neblina já estava espessa o bastante para ocultar qualquer um que pudesse os estar seguindo.

Quarenta minutos depois, os três estavam ofegando e descansavam em uma bifurcação da estrada. Tentando nervosamente decidir o que fazer.

 - Eu não vi ninguém – disse Dekei Olhando a direção de onde tinham vindo – nem percebi nada. Soshi, ainda tem corujas?

- Não – disse ele – eles mataram todas as que eu tinha. Não tenho nenhuma ave para usar a noite, muito menos numa neblina dessas.

- Jeedo?

- Não posso ver através de neblina ou mato! Só no escuro. E não vi nada lá, mas o som era de metal raspando em algo sim.

Os três novamente ficaram sobressaltados. Aquele som de metal roçando em pedra estava sendo feito novamente, bem mais próximo e mais alto que antes.

- A nossa direita – disse Jeedo – e também sinto um odor vindo no vento, odor de seiva de grama.

Os outros dois olharam em direção a estrada para onde deviam seguir. O vento vinha de lá, portanto eles os tinham ultrapassado.

Mais do que isso! Eles deviam ter se antecipado enquanto estavam ali parados e agora aguardavam a frente deles. Se não tivessem parado para descansar, teriam sido tocaiados.

O som de metal novamente se fez ouvir, e desta fez Dekei arremessou varias kunais na direção que Jeedo indicou. Mas o som não parou, muito menos fez qualquer indicativo de que tinha se alterado.

- Jeedo? – chamou Dekei com os olhos arregalados.

- Ainda está no mesmo lugar – disse ele – ele pode estar deitado no chão fazendo esse barulho.

- Vamos acabar com isso – disse Dekei fazendo selos com as mãos – e erguendo o punho para cima, formando uma segunda pele de rocha ao redor de seu punho – cuidem deste barulho. E vou deixar os outros ocupados.

Ele não esperou resposta, nem os outros tinham interesse em fornecê-la. Dekei soltou sua mochila quase que ao mesmo tempo que Soshi. Jeedo ficou com a sua pois era nesta que o livto estava. Soshi arremessou shurikens na direção do som e Jeedo usou seu chakra para ampliar seus sentidos. Um recurso ainda novo e do qual ele era a primeira cobaia. A aldeia da Grama tinha grande interesse em criar rastreadores similares ao do clã Inuzuka de Konoha. Chegaram a desenvolver um jutsu que permitia que os sentidos fossem ampliados, mas ainda não sabiam as conseqüências disto a longo prazo. No entanto, diferente daqueles que tinham essa habilidade como algo de nascença, ele não tinha instintos animais equivalentes.

Quando estavam a menos de dez metros de onde vinha o som, este parou subitamente, e Jeedo chutou seu colega para desviá-lo de uma lamina muito afiada e enorme que por pouco não o decapitou.

Arremessou uma kunai na direção do vulto, mas este sumiu na neblina rapidamente. No entanto ele percebeu o que era aquela lamina.

- Era uma foice – disse ele ficando muito preocupado – é aquele time de Suna novamente.

- Bom olhos – disse uma voz na neblina – confesso que pensei mesmo desmontaram o livro e deixaram as folhas espalhadas no bosque.

Arremessou a kunai na direção do som, mas não percebeu nada ser atingido ou se desviando. Exatamente como tinha ocorrido na floresta. Como ele podia fazer isso?

Virou-se segurando duas kunais juntas em forma de cruz e praguejou quando se lembrou que aquilo podia ser bom para conter uma espada, não uma foice. Gingou o corpo para o lado e viu aquela lamina passar muito próxima a ele. Onde estava Soshi?

- Vamos brincar um pouco mais – disse seu oponente erguendo a foice novamente, mas agora ele a girou de forma horizontal, de forma que ele precisou apenas se garantir e dar um pequeno salto para trás. Um pequeno salto que logo depois precisou se transformar em vários saltos acrobáticos para escapar de varias agulhas que aparentemente foram lançadas pela lamina curva da foice.

- Eu só quero o livro... que tal simplesmente  me entregar? Sei que ele esta na sua mochila.

Ouviu um estrondo a distancia, provavelmente Dekei usando seus punhos de pedra. Viu o vulto de seu oponente mover a cabeça na direção do som e aproveitou para atacar. Arremessou uma bomba de fumaça que ele partiu imediatamente com a lamina, fazendo esta explodir. E aproveitando esta cobertura bateu as duas mãos com violência e efetuou um sopro de vapor que combinado a neblina fria gerou uma grande nuvem de vapor escaldante.

Em seguida ele saltou investindo com uma kunai em cada mão, encontrando apenas o vazio. Não acreditava que ele tinha se desviado.

- Soshi! – chamou ele preocupado.

Virou a kunai para a sua direita e a soltou imediatamente para evitar de ter a mão decepada. Precisava de uma espada para encarar aquela foice. Ou algo que o mantivesse afastado. Novamente bateu as mãos e soltou outra baforada de vapor, mas notou uma coisa que lhe fez suar frio, um frio bem maior que o orvalho da noite.

Ele se afastou do seu jato de vapor, mas não agiu como se este o tivesse queimado. Só havia uma explicação. Apurou seu olfato e confirmou o que devia ter percebido desde o começo.

Era um clone de terra. Isso significava que Soshi devia estar enfrentando o verdadeiro.

Agora que sabia o que ele era, era mais fácil de encarar. Aguardou ele se aproximar e fez vários selos com as mãos.

- Suiton: Mizu no Muchi (Chicote de água) – disse ele formando um chicote de água na sua mão e enrolando este na lamina que vinha contra ele novamente, reduzindo seus movimentos. Em seguida pegou duas tarjas explosivas e as amassou em forma de bolas, as soltando aos seus pés.

Não estava interessado em destruir o clone, apenas distraí-lo enquanto ia ajudar seu amigo. Assim que se afastou as tarjas explodiram cobrindo sua retirada. Apurou os sentidos para identificar o odor de Soshi e foi na direção dele. E acabou precisando saltar para trás para não ser perfurado por varias kunais lançadas.

- Sou eu Soshi – disse ele gritando.

- Onde diabos você estava?

- Brincando com o clone de terra dele – respondeu posicionando-se ao seu lado – e você porque não me respondeu?

Ouviram um estrondo distante, parecido com um trovão. Dekei devia estar mesmo muito ocupado com os dois colegas dele. Pelo jeito acertaram na divisão de tarefas.

- Eu não te ouvi – disse ele – de qualquer forma estava ocupado tentando ficar vivo.

Jeedo captou um odor, um odor diferente dos que conhecia. Significava que não era um clone agora. Percebeu também um silvo de ar à direita e empurrou o colega para ajudá-lo a escapar da lamina que meio segundo depois girava onde eles estavam.

Não havia arvores, rochas nem nada onde estavam. Apenas grama baixa e a estrada um pouco atrás. A única coisa que os impedia de poderem investir diretamente contra seu oponente era a neblina, e o fato de que ele parecia saber como usar os sons a seu favor. Jeedo novamente ouviu um som de metal roçando em pedra, mas estava distante. Apesar de que parecia estar se aproximando mais e mais. Não demorou muito para perceber que ele devia estar na estrada, raspando a ponta de sua foice nas pedras que pavimentavam esta. Até poderia assustá-los se já não soubessem o que estavam enfrentando.

Ele tocou no cotovelo de Soshi e indicou com o dedo a direção certa. Ambos começaram a andar lentamente naquela direção. Jeedo preparava seu sopro de vapor e esperava que quando ele se desviasse, Soshi conseguisse acertá-lo.

- Vou usar as águias – murmurou Soshi enquanto mais e mais o som se aproximava deles.

- Elas enxergam no escuro?

- Só precisam voar em linha reta – disse ele.

Ele maneou a cabeça concordando. Ele ergueu a mão e quando a baixou, ambos atacaram ao mesmo tempo. Ele com o sopro de vapor e Soshi inicialmente com suas águias que o acertaram em cheio logo após se desviar do vapor. Logo em seguida Jeedo o atingiu com uma kunai na barriga. Mas para a sua surpresa apenas o viu sorrir, e agora que estava perto ele apenas captou o odor de solo remexido.

- CLONE! – gritou ele girando a cabeça ao redor com os olhos arregalados, crente de que era uma armadilha.

E era!

Viu o seu vulto por entre a neblina e novamente dobrou o corpo para escapar daquela lamina assassina. Sua mochila as costas não teve tanta sorte, sendo cortada e espalhando seu conteúdo no chão. Ele se aproveitou que a lamina estava agora às suas costas e girou o corpo lançando sua perna na sua direção, que foi prontamente bloqueada. Ainda assim ele não desistiu. Não ia permitir que ele se afastasse agora. Moveu o braço formando um soco com o punho e este passou perto de sua cabeça. Seu outro punho foi desviado pelo cabo da foice, novamente lançou sua perna direita e ele a segurou no joelho, a usando com apoio para pular um pouco para trás.

Ele pulou atrás dele, usando o braço esquerdo para desviar a foice que ainda não estava em posição de ataque e lançando a perna novamente contra o seu rosto. Foi ai que ele fez o que antes tinha julgado impensável. Ele largou a foice e a puxou pela manga da camisa, pegando-o de surpresa e atingindo o seu peito com toda a força de seu joelho.

Ele chegou a cuspir sangue com aquilo. Felizmente não recebeu um segundo golpe porque Soshi apareceu para cortar a seqüencia dele. Condenou-se em silencio pelo seu erro. Ele tinha sentidos apurados, mas não os estava utilizando. Realmente acabou ficando perturbado pela forma como tudo aquilo começou. Tinha que admitir que seu oponente ainda estava no controle da situação, e ainda tinha a opção de fugir da mesma forma que já tinha feito antes.

Quando se levantou ouviu ele fazendo um jutsu de doton, mas não conseguiu entender qual seria. Mas não demorou muito para perceber. Precisou parar de correr quando deu de cara com uma parede de pedra. Deu um salto para trás e fez selos com as mãos.

- Suiton: Mizu Rappa(Jato de Água).

Ele lançou um jato de água contra a barreira e abriu um buraco nesta pelo qual passou e viu Soshi o atacando, mas todos os seus golpes estavam sendo bloqueados. Como ele conseguia fazer isso no meio da neblina e naquela escuridão? Ele podia ver no escuro, Soshi não, mas movendo os punhos daquela forma não estava precisando. Não fosse aquela maldita neblina ele é quem estaria brincando de gato e rato com esse gennin da areia.

Pegou uma kunai e a arremessou, atingindo-o no seu ombro de surpresa. Perfeito! Ele não era assim invencível. Correu na sua direção e assumiu o ataque, dando uma folga para Soshi. Mas como ocorreu com ele, o gennin estava conseguindo bloquear suas investidas, e agora sabia o porque disto. Desta distancia não era difícil ver os punhos se movendo.

Percebia a distancia Soshi tentar se posicionar para lançar algo, parecia ser uma kunai com tarja. Tentando facilitar o seu lançamento, continuou o seu ataque afastando mais o seu corpo. O gennin constantemente dava passos para trás, ora dava alguns pulos, ora meramente movia-se para o lado. Mas notou que ele sempre tentava deixá-lo entre ele e Soshi, para evitar que este fizesse algum lançamento. Percebendo isso, fez um ataque com sua perna que o forçou a dar um pulo para trás. Era a chance que Soshi precisava. Mas para o seu horror, aquilo era justamente o que ele queria. Sem perceber ele o conduziu de volta onde tinha deixado sua foice, e neste salto ele a pegou do chão novamente, bem no momento em que a kunai foi arremessada. Jeedo saltou para escapar da explosão, mas ela nem ocorreu. Usando a foice ele partiu a tarja ao meio ao mesmo tempo em que desviou a kunai na sua direção. Bloqueou esta com o braço e sentiu-a penetrar em sua carne. Mas nem teve tempo para pensar nos seus ferimentos. Ele tinha saltado em direção a Soshi que tentava se desviar de seu ataque.

O gennin de areia acertou um chute no braço de Soshi e em seguida desceu a foice em cima dele. Mesmo a distancia Jeedo viu que a foice não errou. Ela atravessou o ombro dele e ficou cravada no chão. Quando chegou próximo ele já havia removido a foice e ficou a distancia, segurando esta com as duas mãos e observando-o sorridente.

- Eu também domino o futton como você, Jeedo, e assim como você posso ver através da névoa. Mas aquela sua kunai me pegou mesmo de surpresa. De qualquer forma, eu já tenho o que queria. Enquanto nós estávamos dançando, meu colega pegou as folhas de sua mochila.

- Você controla suiton, fuuton e doton também? – murmurou Jeedo enquanto amparava seu colega caído, ficando preocupado com a quantidade de sangue que saía do ferimento.

Ele não respondeu, apenas despareceu na neblina. E acreditava que não ia voltar. Já tinha conseguido o que queria. Na verdade, deve ter conseguido mais do que queria, pois ele pegou as informações e agora seu time precisava cuidar dos feridos.

Observou a kunai ainda cravada em seu antebraço e com cuidado a removeu, suprimindo um grito de dor. Quando terminou de retirá-la, pensou que da próxima vez devia ser melhor a arrancar logo. Iria doer menos.

Pegou aquela kunai que tinha acabado de arrancar do seu braço e cortou ao redor do ombro de Soshi, retirando sua camisa e deixando o ferimento exposto para poder tratá-lo melhor. Com os farrapos ele fez uma pequena bola e a colocou na abertura do ferimento as suas costas, fazendo-o deitar-se por cima dela e a pressionar um pouco para deter o sangramento deste lado. Levou a sua mão para a abertura da frente e disse para ele pressionar bem. Em seguida foi correndo para onde sua mochila foi cortada e viu tudo ali bem mais espalhado do que estava antes, indicando que alguém tinha revirado aquilo. Pegou gazes e sutura e retornou em disparada para onde Soshi estava. Fez um atendimento de primeiros socorros e resistiu a tentação de suturar os cortes. Ele devia ter muitos vasos sanguíneos cortados por dentro. Precisavam achar algum medico depressa. Pediu para que ele esperasse ali e foi procurar Dekei. Se eles tinham pego o que queriam, Dekei também devia estar sem oponente agora, e esperava que não estivesse ferido também.

Enquanto corria pela estrada, lembrou-se do que ele tinha dito, de que podia ver através da neblina por dominar o futton. Ele dominava o futton e não podia ver. Como ele conseguia? Talvez fosse conseqüência de um dos jutsos. Ele sabia que havia um que criava uma neblina em uma pequena área, mas não o tinha aprendido. Era a primeira coisa que ia estudar quando voltasse a sua aldeia.

Como da primeira vez, foi uma luta de tocaia. Eles tinham se aproveitado do terreno e do clima para acuá-los. Sentia-se trapaceado por isso, mas tinha que admitir que foi uma boa e eficiente estratégia. Eles queriam o livro, e quando o conseguiram foram embora. Bem profissional. Podiam ter aproveitado e acabado com ele também, mas seria um risco desnecessário. Reconhecia isso.

Mas não aceitava. Queria ir a forra quando possível. Súbito ele parou de correr quando chegou na bifurcação onde estavam antes. Procurou se lembrar da direção que Dekei seguiu e foi adiante, começando a chamar pelo seu nome.

Ele ficava mais e mais preocupado com Soshi conforme o tempo avançava. Ele devia estar com hemorragia interna e precisariam abrir seu corte para remover aquele sangue que devia estar se acumulando no seu ombro, ou morreria de gangrena. Infelizmente apenas aprendeu o básico de primeiros socorros. O lema de sua aldeia era tentar manter o companheiro vivo até chegar a uma ajuda médica. Nenhum dos times tinha algum conhecimento adicional sobre isso e muito menos ninjas médicos. Eles consideravam isso um desperdício de uma pessoa a mais para atacar e as perdas decorrentes eram consideradas aceitáveis.

- DEKEI! – gritou ele o mais alto que pode, desesperado por não o encontrar.

Ouviu uma voz distante respondendo. Foi em direção a esta e por muito pouco não caiu em um possível precipício. Dekei estaria lá embaixo?

- Dekei? – gritou ele novamente.

- Estou aqui – respondeu ele em voz normal. Pelo som devia estar a poucos metros abaixo – aqueles desgraçados me conduziram até aqui. Não acredito como fui burro! Eu devia ter aprendido a me mesclar com a terra.

- Faltam dois anos para isso, você sabe.

Pegou a corda de nylon de sua bolsa e a amarrou em uma kunai – sua penúltima kunai – e a jogou para baixo, esperando que Dekei a pegasse. Quando sentiu um puxar na corda, começou a puxar e após alguns minutos ele o tirou de lá.

- E Soshi? – perguntou ele.

Podia notar que ele tinha vários arranhões nos braços e rosto, suas roupas estavam bem rasgadas também.

- Gravemente ferido – disse ele – também perdemos o livro. Mas isso não importa agora. Temos que levá-lo a algum medico.

Os dois voltaram correndo com Jeedo mostrando o caminho. Quando chegaram onde Soshi estava, este tinha perdido os sentidos. Enquanto Dekei cuidava de remover a hemorragia de seu ombro, Jeedo procurou sua mochila novamente para pegar as armações da barraca e fazer uma maca improvisada. Não teriam tempo ou forma de pegar tudo o que foi espalhado. Ele apenas pegou algumas armas para repor as que usou e depois ambos começaram a carregar Soshi pela estrada. Ao chegarem na bifurcação, Dekei pegou a outras duas mochilas e vestiu uma, enquanto Jeedo vestia a outra, a que era de Soshi. Depois seguiram correndo pela estrada até o amanhecer. As vezes paravam para novamente aliviar a hemorragia do colega ferido, bem como usar anticépticos nos cortes para evitar que infeccionassem.

Foi por volta do meio dia que acharam uma aldeia de camponeses, com apenas uma experiente mulher idosa que era praticamente uma curandeira ali. Uma vez que a aldeia com um médico estava ainda há mais de um dia de viagem, eles não tiveram escolha senão confiar na mulher.

Ela pediu para que trouxessem algumas coisas, incluindo seiva de algumas arvores. Ela também viu a sutura que eles tinham e ficou satisfeita. Talvez ela fosse uma enfermeira quando mais jovem, pois claramente parecia ter experiência com aquilo.

No fim da tarde eles voltaram com o que ela tinha pedido, e ficaram surpresos – e um pouco enojados – ao verem seu colega com as feridas bem abertas para que ela pudesse suturar as veias do ombro rompidas no golpe. Também viu que ela usou uma faca quente para cauterizar o ferimento por dentro. Ainda bem que Soshi estava desacordado, ou teria enlouquecido de dor.

Ela pegou as seivas que eles trouxeram e as misturou comum pouco de água e algumas ervas que tinha. Depois queimou tudo até virar uma pasta cinzenta e usou esta nas feridas. Só depois disto que ela suturou os cortes os deixando agora apenas com a aparência de uma grande cicatriz na frente e nas costas.

Já era noite novamente quando ela terminou, e disse que ele ia viver, mas precisaria de alguns dias para andar novamente. Depois disto os expulsou do quarto para que ele descansasse.

Uma vez que teriam que ficar por ali, Jeedo finalmente decidiu conferir se a folha que tinha transcrito ainda estava em sua sandália. Ficou contente de a encontrar lá e a recolocou no local. Depois disto comeram um pouco aproveitando a hospitalidade deles e pagaram por isso fazendo alguns serviços como rachar lenha ou ajudar a carregar alguns sacos de trigo para o armazém.

Quando terminaram essas pequenas tarefas, ficaram sentados na varanda da casa onde seu colega estava se recuperando, observando as estrelas do céu. Apesar de nada falarem, ambos pensavam na mesma coisa. Foi o seu segundo encontro contra o time de Suna, e como no primeiro foram dominados o tempo todo. Mas não foi apenas isso... eles pareciam ser bem mais superiores do que podiam ter imaginado. Manipularam Dekei o atraindo até um precipício, e aquele com a foice também os manipulou, direcionando suas ações o tempo todo, culminando com a quase morte de seu colega.

Para Jeedo, não havia duvidas que o ferimento tinha sido intencional. Ele poderia te-lo morto, mas deixando-o ferido daquela forma os obrigou a tratarem dele primeiro antes de pensaram em tomar outra providencia, como a de ir atrás do livro. Se ele o tivesse matado, estariam querendo vingança, pouco se importando com o exame.

No entanto, não precisavam mais do livro. E Jeedo esperava mesmo que tivessem dificuldades para lê-lo todo borrado e com sorte com as paginas coladas.

-x-

- Já fazem dois dias, Minato-kun – disse Ayame na sua orelha enquanto caminhavam em um passo devagar pela estrada mal cuidada e que por isso mesmo exigia um andar mais cuidadoso devido a ser noite e a lua ser crescente – acho que eles estão nos enganando.

Ele apenas alterou a posição de suas mãos que seguravam as alças da mochila que ele carregava. Era o único a carregar uma pois isso deixava suas colegas livres para uma pronta reação no caso de um ataque, ou mesmo para o caso da suspeita deles sobre  o time da aldeia da Areia se confirmar.

- Está pensando no assunto ou me ignorando? – reclamou ela pondo as mãos na cintura.

- Um pouco de cada – disse ela sorrindo para ela – De qualquer forma, memorizamos a localização de dois tesouros e apenas estamos mantendo guardada a folha com a lista dos outros para lhes entregar quando cumprirem com a parte deles.

- Que ainda não fizeram – retrucou ela.

- Já não é hora de substituir seu clone?

Ela bufou irritada. Imaginava que ela seria a primeira a ficar sem paciência, e não ia demorar para Haruka começar a lhe falar o mesmo. Mas ele tinha uma razoável idéia de quanto tempo o serviço de inteligência de uma aldeia levaria para vasculhar seus registros para saber se possuíam a resposta para algo ou não. E esse tempo iria se encerrar em mais um dia. Considerando mais algumas horas para o gavião a localizar, o tempo limite que eles tinham seria ao meio dia do terceiro dia. Ou seja, amanhã.

Ayame fez um clone e este mostrou a língua para Minato, ficando parada na estrada e aguardando os dois gennins do outro time que ficaram na retaguarda a alcançar. Junto com eles estava um outro clone de Ayame. Quando os dois se cruzassem, o que foi criado agora iria substituir aquele que iria desfazer o jutsu.

A explicação que deram para Hameri e Itheri foi a de que duas horas era o tempo limite que Ayame podia manter um clone, mas a verdade era que ela fazia isso para se inteirar de qualquer informação que o clone teria obtido com eles.

Ele andou um pouco mais devagar observando o horizonte escuro. Apesar do luar fraco não tinha dificuldade de identificá-lo observando onde as estrelas desapareciam, formando um contorno do relevo. Notava que haviam montanhas de ambos os lados, portanto estavam se aproximando da ravina. Ravina que já tinham decidido não atravessar. Iriam escalar as montanhas de um dos lados e ir por esta. Não iriam se arriscar a serem atacados ali.

Depois disto, em mais quatro dias chegariam ao seu primeiro destino.

- Espere! – disse ela parando subitamente e com os olhos abertos – eles receberam outra mensagem do colega deles.

Minato a observou serio e apertou os lábios. Seu clone devia ter desaparecido e com isso ela recebeu àquela informação. O colega em questão se chamava Toru, conforme Hameri tinha explicado. Ele estava seguindo a distancia o time da Grama, verificando se teria alguma oportunidade de roubar o livro, embora na verdade estivesse simplesmente observando se este iria ou encontrar um dos tesouros antes deles ou talvez ser novamente atacado.

- E..?- disse ele, demonstrando que estava interessado.

- O outro time de Suna atacou aqueles que tinham o livro. Parece que conseguiram obtê-lo. Foi há poucas horas atrás. Ele está vindo se encontrar com esses dois agora – ela olhou para trás, mas estavam distantes para os verem – ele não é idiota para tentar atacá-los sozinho, muito menos tentar segui-los.

- Amanha ao meio dia – disse ele de uma forma um pouco distraída e recomeçando a andar.

- O que? – ela correu um pouco para alcançá-lo – o que quer dizer com isso?

- É até quando iremos esperar – respondeu ele – se eles não conseguirem a resposta até lá, cada um segue o seu caminho.

- Mas eles vão nos seguir – disse ela arregalando os olhos – um dos nossos tesouros é o mesmo que eles querem, e nós temos a lista com a localização de todos. Podem até contar para os outros times sobre isso.

- Não vão não – disse ele sorrindo – vou dar a folha para eles, logicamente sem nenhuma informação dos tesouros que nós queremos. Isso deve deixá-los ocupados e também pode torná-los alvos para os outros, caso... – ele sorriu – alguém espalhe isso.

Ela ficou um pensativa, chegando mesmo a andar mais devagar por causa disto.

- Quer dizer que sabendo ou não o que Toronei significa, eles vão saber onde procurar dois de seus tesouros? Vai dar isso de graça para eles?

- É vantajoso para nós – tornou ele – e não adianta saber o que é esse Toronei sem saber o resto. E eles não tem a menor idéia do que é a Grande Bonsai. De qualquer forma, não quero me tornar alvo de todo mundo por causa desta lista. E tenho certeza de que mais cedo ou mais tarde a secretária do raikage vai dizer para alguém que ela está conosco. Provavelmente quando o prazo para todos serem expulsos da aldeia se encerrar.

- Você planejou isso desde o começo, não foi? – ela o olhou fazendo uma careta – se por acaso não tivéssemos nenhum tesouro em comum iria acabar mesmo nos convencendo a nos aliar a eles, só para eles ficarem com a lista.

Ele não respondeu, apenas permaneceu sorrindo.

- Adoro namorados inteligentes – murmurou ela lentamente.


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