Sonho Renascido escrita por Janus


Capítulo 50
Capítulo 50




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Ele ficou ali observando a prisioneira ser removida de sua total imobilização ao qual foi submetida enquanto ele explorava e examinava sua mente, confirmando cada palavra do que ela e a outra tinham dito, e apenas conseguindo mais detalhes.

Na mente dela estavam os rostos dos ninjas do qual se referiam, mas não reconheceu nenhum deles. Esperava que seu auxiliar que estava desenhando seus retratos terminasse logo para que pudessem fazer uma extensa pesquisa e também enviar para as outras aldeias.

Assim que ela foi retirada da prisão que impedia que movesse qualquer músculo – na verdade era um tipo de jarro feito de ferro que deixava apenas sua cabeça do lado de fora – suas mãos foram presas por grilhões as suas costas e desta uma curta corrente foi conectada a um colar de aço em seu pescoço. Apesar dela ter colaborado e literalmente implorado para ser presa, ninguém queria correr qualquer risco desta vez.

Se tivessem qualquer indicativo para justificar uma desconfiança para aquela mulher que foi “resgatada” e salva da morte pela hokage, ela estaria presa desta mesma forma, ou até mesmo mais restrita. Pessoalmente acreditava ser um grande exagero tratar aquelas duas como nukenins de extrema periculosidade, mas já tinha se enganado antes, e não queria cometer outro engano. Desta vez, até prova em contrário, aquelas duas ficariam quase que totalmente imobilizadas nas mais seguras celas que possuíam.

Foi até sua mesa e transcreveu um completo e extenso resumo do que descobriu ou confirmou com seu interrogatório. Eram duas integrantes de um grupo de ladrões que acaram sendo coagidos a executarem um serviço por um ninja – segundo a descrição delas – que pelo que apurou de sua mente, era um dos que no final a ameaçaram de morte caso não se entregasse em Konoha.

A coerção foi impossível de ser resistida, uma vez que quase todos os integrantes do bando foram assassinados facilmente, restando apenas cinco vivos inicialmente. Esses cinco sobreviventes foram forçados a esperarem de tocaia nas proximidades da trilha que levava a aldeia da Folha por uma caravana que iria passar por ali. Atacaram esta caravana matando todos os integrantes e depois um deles recebeu ordens de cravar sua espada no peito de uma mulher que era desconhecida até então.

Parou por um momento com sua transcrição e ponderou sobre como prosseguir. Mesmo quando viu isso na mente de ambas as mulheres, ele se recusava a acreditar no que ocorreu. A mulher ordenou que fosse ferida de forma fatal!

Ela ordenou isso!

Ordenou que ele movesse a espada a atacando, e com isso ela fez movimentos de defesa com os braços, recebendo cortes fundos. E ainda ameaçou a pessoa com a espada para continuar ou morreria. Mas ordenar que fosse mortalmente ferida... Como ela podia ter tanta certeza de que iria sobreviver? Não duvidava que era uma excelente nukenin, talvez uma das mais habilidosas considerando como torceu o corpo pouco antes de ser atingida para garantir que a espada não danificasse as válvulas do coração e atravessasse justamente uma região deste que permitiria continuar a pulsar sem sofrer muitos danos adicionais. Mesmo assim, era algo difícil de se conceber.

Foi uma estratégia que merecia palmas e reconhecimento por todos! Como desconfiar de alguém que estava mortalmente ferida e parecia ser uma sortuda sobrevivente de um massacre?

Criaram uma perfeita cena do ocorrido. Cada detalhe... cada situação... escolheram ladrões para garantir que o tipo de ataque e ferimentos não teriam sido simulados, coisas que se fossem ninjas seria necessário fazer. Conseguiram os assassinos, as vitimas, os forçaram a cumprirem os seus papeis e com isso verdadeiramente criaram uma caravana de azar que foi morta por bandidos.

E a história da mulher, a tal Namiko – que devia ser um nome falso – perfeitamente delineada para se encaixar nos eventos. Sem contar que ela tinha um histórico que podia ser remontado até meses antes! Ela realmente tinha trabalhado naquele posto que muitos dos comerciantes da aldeia iam para comprar suprimentos, era lembrada ainda devido a ser uma excelente cozinheira. Foi investigada e vigiada por um ANBU então, e não fez uma única ação inesperada ou ato suspeito. Seria tudo isso a culminação de um plano iniciado meses antes?

Continuou com o seu relatório, indicando que a mulher tinha ordenado ser ferida de forma fatal, porém que com sua habilidade foi capaz de orientar o ponto exato em que a espada deveria atingir, de forma a sobreviver enquanto a mesma permanecesse no corpo. A própria mulher agarrou a espada com as mãos e pulou de costas no chão, fincando a ponta que a tinha transpassado neste. Em seguida a mulher que mais tarde veio a ser conhecida como Namiko ordenou que todos fossem embora.

Sobre o destino da mulher, as prisioneiras desconheciam – o que não era o caso de Ibiki e nem de ninguém de Konoha agora – elas partiram junto com os homens, “correndo sem olhar para trás” como foi ordenado. Quando finalmente consideraram que estavam salvos, perceberam que um dos homens tinha desaparecido. Foi este homem que foi encontrado morto por uma genin de nome Miyoko com uma kunai cravada em sua testa. Segundo exames, a kunai não foi arremessada, mas presa ali com as mãos, o que reduzia a chance de um ninja ter feito aquilo. O motivo de ter sido morto era desconhecido.

Muitos dias depois, enquanto continuavam sua viagem para retornar a um local onde deixaram uma grande quantidade de minério de prata – que planejavam vender e com isso poder deixar o país, já que estavam muito apavorados – foram novamente surpreendidos por nukenins. Um deles era o mesmo que inicialmente os coagiu a participarem da ação, o outro era uma pessoa que não conheciam. Sem dizer nada, mataram os homens e as dominaram facilmente, as deixando desacordadas.

Elas não souberam por quanto tempo ficaram desacordadas, nem onde estavam quando despertaram, exceto que era uma carroça coberta que ficou constantemente se movendo.

Foram torturadas continuamente por aqueles dois. Sem perguntas, ameaças, nada, apenas tortura pura. Ambas ficaram o tempo todo amordaçadas, impossibilitando que implorassem para falarem o que queriam. Segundo sua avaliação na mente delas, aquela tortura deve ter durado um ou dois dias. Eles também não as desarmaram ou fizeram algum tipo de tortura psicológica ou sexual. Nem ao menos ameaçaram despi-las. Queriam ambas em estado de terror puro, fazendo uso de deslocamento de seus membros para que sofressem em agonia, retornando o membro deslocado para a posição correta depois de horas. Deslocavam um ombro e as deixavam sofrendo com a dor, depois recolocavam no lugar e deslocavam outra parte do corpo, como o cotovelo, ou os dedos, até mesmo as pernas. Não eram seriamente feridas desta forma, mas recebiam uma dose contínua de dor que quase as enlouqueceu.

Finalmente as jogaram para fora da carroça e as soltaram, dizendo que deviam correr por aquela trilha em frente e não parar até chegarem em Konoha, onde deviam se entregar e contar tudo o que sabiam, do contrário, continuariam com a tortura até elas morrerem de dor. Também disseram que provavelmente pessoas mascaradas iriam interceptá-las. Deveriam se entregar para esses se tal coisa ocorresse.

Não era a toa que imploraram para que os ANBUs as prendessem. O tratamento que estavam recebendo agora era quase vip comparado a isso.

Revisou seu relatório e alterou algumas palavras para que o texto ficasse melhor elaborado. Mas enquanto fazia isso ele novamente se perguntava qual o motivo de tudo aquilo. Porque fazer uma manobra genial daquelas e não obter nada em troca? E porque fazer questão de informar a eles que foram enganados daquela forma?

Felizmente não seria ele a decidir sobre isso, mas ele tinha a obrigação de tentar descobrir o motivo. A mulher ficou no hospital o tempo todo, e de lá ficou sob seus cuidados para um interrogatório leve. Ela não teve tempo ou oportunidade de fazer nada. Por acaso apenas queria dizer que podia invadir a aldeia sem ser percebida?

Se este era seu único objetivo, ela foi bem sucedida. Magistralmente bem sucedida.

Recolheu seu relatório e foi conversar com seu assistente, que estava dando os toques finais nos retratos. Ficou satisfeito quando os viu. Muito fieis as imagens que viu nas mentes delas. Pegou ambos e foi com todo material para o escritório da hokage. Como esta e Shikamaru estavam fora da aldeia, o chefe da ANBU estava no momento assumindo as obrigações principais, e estava lá já fazia alguns dias basicamente tentando descobrir de todas as formas o que realmente tinha ocorrido. Chegou a ouvir quando ele deu a ordem da mulher ser capturada uns dias atrás, e Shizune, os chuunins de Moegi e mais alguns shinobis partiram para buscá-la.

No entanto, com base no que ele obteve na mente daquelas mulheres, estava duvidando que alguém que fosse tão longe como essa Namiko iria se permitir ser capturada com vida.

-x-

Estava cansado de andar, e mesmo com a possibilidade daquele time estar ainda os perseguindo, ele queria descansar. Foi assim durante toda a tarde e noite do dia anterior, e também durante a madrugada.

Assim que encontraram aquele livro eles saíram depressa da aldeia, sem planejamento, sem um direção definida. Apenas queriam ficar longe dos outros para então terem algum tempo de decidir como deviam fazer. Pegaram as pressas alguns equipamentos e suprimentos, e praticamente correram para fora da aldeia.

Mas como perceberam, não conseguiram uma grande vantagem. Pouco mais de uma hora após terem feito uma parada para ler com mais calma o livro e identificar os locais no mapa aonde teriam de ir, foram atacados.

Tiveram sorte de escapar deles. Pelo que notaram era um dos times da aldeia da Nuvem quem os achou. Conseguiram despistá-los após uma longa e exaustiva luta e continuaram andando na direção da primeira aldeia que tinham localizado como origem de um dos tesouros que procuravam, “O Cristal que sacia a Sede”.

Infelizmente, isso não funcionou muito. Quando decidiram parar para descansar um pouco, um dos times de Suna os atacou, e pelo que disseram conforme os acuavam, todos os outros times sabiam que eles tinham as localizações do que procuravam, e ainda comentaram de como foram tolos não tendo simplesmente feito uma copia do que queriam e deixassem o livro no mesmo local de antes. Foi o desaparecimento dele que atraiu a atenção de todos.

Escapar deste time foi bem mais difícil, e pareceu a ele que na verdade eles desistiram de continuar atacando, como se não quisesse correr riscos.   

Havia um pequeno bosque a frente deles agora. Deram uma parada e Soshi invocou alguns pequenos pássaros para investigar se seria seguro atravessar. Se pudessem, iriam bem mais rápidos, apesar de que quem os seguisse teria esta mesma vantagem.

Depois de minutos eternos aguardando e observando a retaguarda temendo ver alguém se aproximando, os pássaros voltaram e informaram ao seu colega que estava tudo bem. Os três se embrenharam no bosque, mas decidiram garantir que não seria uma travessia tranqüila para os próximos que chegassem.

Chegaram a deixar algumas folhas do livro soltas pelo caminho, para atrasar quem podia os estar perseguindo. Nenhuma delas se referia aos presentes que o raikage recebeu – eles perceberam que os três tesouros que procuravam eram dele – mas talvez deixasse quem os perseguisse um pouco atrapalhado tentando localizar mais folhas.

Soshi preparou algumas armadilhas com tarjas explosivas conforme pulavam entre as árvores, Dekei amarrou vários fios de nylon em kunais e as cravou entre os troncos, formando fios quase invisíveis que deveriam atrapalhar – ou até derrubar – qualquer outro que passasse pelo bosque. Já ele colocou bombas de fumaça cuidadosamente em alguns galhos para que explodissem no caso destes balançarem um pouco.

Ao saírem do bosque, os três levaram um susto. Um grande lago estava ali, e não puderam fazer nada exceto cair nele. Mesmo assim, não ousaram fazer uma pausa. Nadaram pelo lago até chegarem a margem e após verificar um pouco seus equipamentos e removerem o excesso de água das mochilas, continuaram se movendo, tentando ser o mais rápidos possíveis durante todo o tempo.

Quando finalmente o cansaço ficou evidente, Soshi que estava a frente deles parou subitamente, coisa que os outros dois fizeram em seguida. Ficaram ali um do lado do outro tentando controlar a respiração.  Era também um bom local para uma parada, uma grande planície que permitia observar tudo ao redor, de forma que não havia como alguém se aproximar sem que fosse visto.

Estavam muito cansados, todos os três. E agora tinham de decidir o que fazer. Também estavam famintos por não terem comido nada desde o dia anterior.

- Jeedo -  chamou Soshi olhando para uma estrada próxima a eles – não vamos poder continuar assim.

Ele concordava com isso, mas não conseguia pensar em outra alternativa no momento. Mas a idéia que aquele time tinha dado ainda era valida.

- Acha que eu não sei? – respondeu um pouco irritado.

Jogou sua mochila no chão e pegou o livro de dentro dela. Estava molhado ainda pela queda que tiveram no lago, e no tempo em que ficaram se distanciando, a umidade acabou se espalhando por todas as paginas. Elas estavam começando ter seus ideogramas um pouco borrados bem como suas folhas estavam ficando difíceis de serem folheadas. Havia o risco dele ficar inútil se não fizessem algo.

- Fiquem vigiando – disse ele se sentando no chão e pegando lápis e papel seco de um saco plástico que possuía. Agora agradecia ao seu pai por ter feito aquilo para ele, realmente, nunca se sabe quando pode ser útil ter papel seco e lápis.

Começou a transcrever os textos dos tesouros que procuravam. Ao menos queira salvar o que lhes importava caso perdessem o livro por causa da água ou caso fosse tomado deles. Deviam mesmo ter feito isto antes, mas mal tiveram tempo para pensar direito nas opções ou em forma de agir.

Soshi chamou seus pássaros novamente para explorar a distancia, Dekei se mantinha afastado, segurando um conjunto de shurikens. Como todos os times da aldeia da Grama, eles já tinham especializações. Isso foi uma definição tomada anos antes, a de que todos os novos times teriam de ser os melhores possíveis desde o inicio. Já na academia, assim que começavam a desenvolver sua circulação de chakra os estudantes eram examinados para verificar a afinidade de elemento do chakra que possuíam e já recebiam treinamento nisto.

Assim, quando se formavam e iam para um time, os jovens gennins já começavam com uma certa vantagem em relação a outras aldeias, mas também tinham uma desvantagem que as vezes não ficava evidente. Sendo forçados a aprenderem jutsus mais avançados ainda sem o completo desenvolvimento de sua circulação de chakra, muitas vezes acabavam ficando incapacitados de continuarem com o desenvolvimento, ficando na idade adulta em um nível médio um pouco inferior. Ou seja, tinham gennins excepcionais mas jounins meramente normais, quando muito.

Na atual formação estavam tentando mudar isso um pouco, e o time selecionado para participar do exame representava esta mudança. Ainda tinham especialização de elementos ou até de certas habilidades, como Soshi que tinha um talento natural para fazer invocações. No segundo ano da academia lhe orientaram a como capturar, treinar e trabalhar com pássaros que ele invocaria mais tarde. Acabou se tornando um rastreador de habilidade única, tendo inclusive alguns pássaros que usava para ataque e outros que usava para vigilância, como as corujas que usava agora.

Faltava transcrever o texto de apenas mais um tesouro, e Jeedo pensava no que fazer assim que terminasse aquilo. Um descanso de meia hora como aquele servia apenas para alivio mental, mas não representava um verdadeiro descanso, bem como ainda precisavam se alimentar.

Quando terminou de escrever, dobrou o papel e colocou a folha no seu calçado. Recolocou o livro na mochila e ficou de pé, trincando os dentes quando sentiu agulhas nas suas pernas devido a estas terem ficado dormentes.

Não era uma boa situação a de ficarem na defensiva. Olhou a esquerda e percebeu que havia alguma coisa verde a distancia. Talvez uma plantação ou com sorte, um outro bosque. Falou com os seus companheiros e foram todos naquela direção. Seria tolice tentar se esconder para sempre, mas simplesmente ficar e enfrentar àqueles que os estavam seguindo não era uma opção melhor.

Ao menos, mesmo que perdessem desta vez, ainda teriam o necessário para cumprir com sua missão.

-x-

Em meio a várias escarpas ao norte do país do Trovão, uma mulher dentro de uma caverna tocava um selo em uma parte da parede, abrindo uma passagem ali do lado. Ela andou pelo longo corredor e desceu algumas escadas, chegando a cozinha da base. Foi até um dos armários e ao abri-lo praguejou um pouco quando viu que seu pote de biscoitos não estava lá.

Fechou a porta do armário com força e foi para a área dos dormitórios. Deu uma pequena examinada no seu quarto e ficou satisfeita de suas coisas estarem todas no mesmo lugar. Também tinha que agradecer estar abaixo da terra, não tinha que se incomodar com poeira acumulada.

Pegou um roupão branco bem felpudo e encaminhou-se até o fim do corredor, onde haviam os chuveiros. Tomou um delicioso banho quente por mais de uma hora e ao sair ainda perdeu algum tempo cuidando dos cabelos. Ao retornar ao seu quarto viu uma cobra em sua cama, mas quase não lhe deu atenção, chegando mesmo a jogar uma toalha molhada perto da cabeça desta.

- Não reclame – disse ela se dirigindo ao ofídio – é você quem está invadido minha privacidade.

A cobra sibilou alguns fonemas, quase como se estivesse nervosa.

- Vou assim que me aprontar – disse ela abrindo seu armário – e eu sei que o doutor não se incomoda de me ver nua, mas está um pouco frio aqui nesse buraco hoje.

Houve mais alguns sibilos da parte dela e a mulher se virou a encarando com o cenho franzido. Ficou tão ameaçadora que a cobra se encolheu um pouco. E encolheu mais ainda quando ela deu depois dois passos em sua direção.

- Ele vai esperar e ponto final! – chegou a bater o pé para dar mais ênfase – e se continuar me apressando, vou servir você no jantar de hoje. E não pense que eu esqueci que você partiu sem eu ter dado autorização. Ainda tinha coisas que eu queria dos arquivos de Konoha. Só que sua partida com a ficha chamou a atenção do guarda.

A cobra ficou quieta depois disto, enrolada ao redor do próprio corpo e meramente observando a mulher vestir-se. Ela tinha começado a perceber o que as outras também perceberam. Aquela mulher estava sendo tão ou mais ameaçadora de Kabuto. Ia ficar complicado caso ela quisesse algo que Kabuto não queria.

Finalmente depois de um longo tempo a mulher saiu do quarto, o que permitiu a cobra ficar um pouco mais tranqüila e fazer um jutsu reverso.

A mulher por sua vez foi andando pelos corredores e desceu dois níveis da base, passando por um tipo de sala de estar onde haviam poltronas e algumas mesas de centro. Também haviam jogos de tabuleiro por ali. Ataso e Masaki estavam lá jogando cartas.

- Ora, ora... então estavam se divertindo? – disse ela quando os viu.

Ataso meramente a observou com o olhar, quase sem se alterar – devia estar com uma boa mão para evitar perder sua concentração daquele jeito. Já Masaki arregalou os olhos para ela.

- Nossa... você está linda!

- Ora.. – ela sorriu lascivamente – obrigada. Pelo menos você reconhece que sou uma mulher, ao contrário do assexuado ai...

- Ei! – gritou Ataso abaixando suas cartas – eu apenas sou profissional! E você é minha companheira aqui.

- Isso não significa que eu não goste de elogios – ela continuou sorrindo.

- Você tem razão, Masaki. Essa mulher é mesmo uma bruxa perigosa, mais que Heromi.

- Chega disso – ela ficou séria – como foram as coisas?

Ataso a observou diretamente nos olhos, percebendo claramente que o assunto era sério e que agora ela não estava brincando. Ele colocou suas cartas viradas sobre a mesa e inspirou um pouco antes de responder.

- Deixamos duas mulheres vivas, como sugeriu. Foram presas pelos ninjas de Konoha e a essa altura já devem ter contado tudo para eles.

- E aquele idiota com a kunai?

- Bom... eu o matei com a própria kunai. Empurrei-a lentamente na sua testa, atravessando seu crânio de forma dolorosa. Levou uns dez minutos até ela for fundo o bastante para matá-lo. Depois o coloquei na carroça que íamos abandonar e a incendiei - Ataso sorriu levemente, indicando que tinha ficado feliz com a lembrança.

- Que bom que se divertiu – ela sorriu de volta.

- E você, Etsu? Deu certo o que queria fazer? – perguntou Masaki a observando, embora estivesse olhando mais o seu corpo bem realçado naquela saia curta e justa e na camiseta deixando sua barriga a mostra.

- Nem tudo... Joihey se mandou antes que eu desse permissão, o que me impediu de verificar tudo o que eu realmente queria.

- Quem? – perguntaram ambos quase que ao mesmo tempo.

- A cobra – respondeu ela intrigada. Porque eles sempre pareciam não saber a quem ela se referia?

- Conhece mesmo todas elas pelo nome?

- Qual a surpresa, Masaki? – ela chegou a dobrar a cabeça pela pergunta que considerava tola – se eu as invoco e converso com elas, como não saberia o nome de cada uma? Embora alguns deles sejam quase impossíveis de se pronunciar sem ter a língua bifurcada.

- Bom, Kabuto está aguardando nos seus aposentos particulares ansioso para conversar contigo – disse Ataso – e eu estou mais interessado em deixar Masaki apenas de sandálias.. ou nem isso.

Etsu sorriu e chegou a passar a língua pelos lábios observando Masaki, que ficou levemente corado com isso.

- Bem, se vocês chegam a apostar até este ponto... talvez eu entre no jogo quando terminar de falar com o doutor...

- Eu nunca sei quando você está brincando ou sendo seria nesses assuntos – comentou Masaki a olhando um pouco assustado.

- Nesse caso – ela o olhou com um claro desejo que até o taciturno Ataso sentiu ciúmes – as duas coisas...  até mais tarde, meninos.

Ela seguiu adiante passando ao lado deles, cuidando de garantir que seus quadris dessem uma torção maior que o necessário ao seu andar. Perceber que ambos a acompanhavam com os olhos satisfez o seu ego interior. Já fazia um tempo que não era vista como mulher por eles. Não que fosse sua exigência tal coisa, ela na verdade apreciava como eles eram profissionais quando era necessário, mas também ficava sentida quando em uma situação mais comum eles continuassem da mesma forma.

Saiu da sala e desceu mais um lance de escadas, chegando ao que ela mesma decidiu batizar de calabouço. Foi ali que ela ficou presa em uma das celas por horas enquanto aprendia aquele jutsu que o doutor disse mais tarde se chamar de teleporte. Mas para ela era meramente uma auto invocação. Apenas o nome dado por ele era pomposo. Mas precisava admitir que poder criar um selo unicamente com seu chakra que na verdade estava selando um jutsu de invocação era não só uma idéia genial, como muito complexa. Ela ainda não entendia bem como era capaz de fazer tal coisa, ou mesmo ser capaz de fazer qualquer tipo de jutsu elemental e possivelmente os de combinação destes elementos.

Porque ele teria lhe dado tanta habilidade e poder? Ficava a cada dia mais fascinada com isso. Na verdade, sua forma de poder entrar em Konoha foi mais um teste pessoal de suas habilidades. Ela queria averiguar se realmente tinha tamanho controle e flexibilidade de seu corpo para poder orientar como a espada teria que atravessá-lo.

Andou pelo estreito corredor com as portas das celas a esquerda e notou que todas elas estavam com as barras brilhando. Ele realmente estava pensando em manter algum prisioneiro ali? E se sim... porque se dar ao trabalho de deixar tudo limpo e bem cuidado?

Chegou ao fim do corredor e espalmou a mão na pesada porta feita de ferro. Era inacreditavelmente espessa e pesada, sendo que uma pessoa normal levaria alguns minutos para abri-la. Concentrou-se e fez seu chakra fluir pelos dedos de uma forma especifica, como o doutor tinha lhe ensinado. Depois de alguns segundos a porta começou a se mover lentamente para trás, sem necessidade dela precisar usar sua força para isso.

Aguardou a porta terminar de se abrir sozinha e passou por ela, tocando a mão em um selo na parede do outro lado o que fez a porta se fechar novamente. Até onde sabia, ela era a única alem do doutor que conseguia entrar ali sozinha, a área particular da base onde podia-se dizer que ele morava.

Andou mais um pouco pelo pequeno corredor e abriu uma porta de madeira que não possuía fechadura, apenas uma alça para auxiliar a abrir ou fechar. Passou por esta e a fechou atrás de si. Observou o local lindamente decorado e mais uma vez se mordeu de inveja pelo seu quarto não ser assim. E ali era basicamente seu escritório e área de convivência. Haviam belas cortinas decoradas onde deviam haver janelas caso estivessem em uma casa e não no subsolo. Um grande sofá de três lugares na parede com um abajur a sua esquerda e uma linda e fofa mesa de centro adiante deste, com seu tampo revestido em couro branco e detalhes costurados em vermelho. Novamente imaginou se tinha sido algo que ele tomou de alguém ou se tinha encomendado como fazia com outras coisas.

Deu alguns passos pela sala e sentiu vontade de tirar os calçados apenas para sentir a maciez do felpudo tapete de tapeçaria. Também era branco como muitos outros detalhes ali. O forro da cadeira da escrivaninha, os cantos da própria escrivaninha, as bases dos abajures que iluminavam o local com uma suave iluminação. Tinha que admitir, Kabuto tinha um excelente gosto. Não ficaria incomodada caso ele realmente no fim a transformasse em uma escrava obediente – isso se ela já não o era – ele parecia cuidar bem de seus objetos pessoais.

Ouviu um som abafado atrás de si e captou a sua presença em seguida. Como todas as outras vezes em que ele fez aquilo, ela não demonstrou ter ficado assustada ou preocupada. Meramente cruzou os braços e se virou o encarando usando sua eterna capa cobrindo seu rosto e seu corpo.

- Já falei que você gosta de tentar ser dramático? – perguntou ela com um sorriso ferino.

- Todas as vezes – disse ele suavemente – mas são velhos hábitos que eu possuo. E não tenho interesse em mudá-los.

Ela franziu o cenho e ficou encarando-o curiosa.

- Algo a incomoda?

- De certa forma sim... pensei que ia me dar um sermão ou me punir por ousar arriscar destruir este corpo que você teve tanto trabalho para refazer e aprimorar...

Ele começou a rir daquela forma suave e comedida. Isso era uma das coisas que realmente não conseguia entender nele. No seu entendimento, ela era um objeto para ser usado por ele, não uma pessoa, muito menos um mero recurso. No entanto sempre lhe dava uma liberdade bem maior do que ela própria daria para alguém sob suas ordens. Era quase como se ele agisse como um vovô frente as traquinagens da netinha, nem de longe lembrando um gênio manipulador controlando seus subordinados como em um tabuleiro de xadrez.

- Tudo o que eu fiz e investi em você foi para ser utilizado, Etsu-chan. E você usou de uma forma que jamais imaginei. Foi tão eficiente, tão inesperado que me arrependo amargamente de ter-lhe dado uma tarefa tão leviana para fazer para mim, aproveitando que estaria na aldeia da Folha. Eu deveria ter-lhe pedido para capturar a kunoichi, não meramente obter sua ficha. Acho que mesmo que a insultei pedindo algo tão simples assim.

Ele pedindo desculpas para ela? Isso estava ficando mais e mais estranho.

- Eu também me revelei para eles – continuou ela verificando se isso o irritaria – eles sabem muito bem o que eu fiz e como fiz agora. E se aquele shinobi que me seguia sobreviveu o bastante, também sabem que Etsu ainda esta viva, e talvez associada com você, pois usei aqueles jutsus exclusivos seus, ou ao menos exclusivos para nós que temos contrato com os ofídios.

Novamente ele não se alterou, apenas maneou a cabeça levemente.

- Impetuosidade da juventude – disse ele ainda no tom alegre - eu já fui assim. Bom, isso talvez incomode mais a você do que a mim, porque ainda tenho planos que necessitam de sua atuação. Mas não creio que tenha dificuldade em se disfarçar. Não estou certo?

Agora foi ela quem maneou a cabeça, desistindo de vez de tentar compreender. Ele parecia nunca ficar decepcionado com ela, e isso já estava lhe dando nos nervos.

- Mas me diga... os médicos de Konoha fizeram um bom trabalho? Deixaram alguma cicatriz em você?

- Uma pequena no peito, mas não creio que fosse possível evitar isso.

- Deixe-me ver – pediu ela gentilmente.

Sem demonstrar nenhum constrangimento, ela removeu sua camisa e sua combinação, exibindo seu peito para ele. Ele  tocou no centro deste, onde se podia notar uma pequena marca horizontal e roçou o indicador nesta suavemente. Depois a induziu com a outra mão a se virar e fez o mesmo na marca que devia ter nas suas costas.

- Não será difícil remover isso na próxima operação que tenho planejada para você. E aproveitando... gostaria de alguma mudança cosmética? Eu já reparei que você é mais vaidosa que Heromi.

- É a segunda vez que me falam desta mulher. Quando irei conhecê-la?

- Se ela estiver cumprindo sua agenda, em mais dois ou três dias. Bem? – insistiu ele se referindo ao que tinha comentado antes.

Ela já tinha sofrido duas operações depois da primeira. Nenhuma delas teve o efeito visível em seu corpo que aquela, mas não foi difícil perceber o que ele tinha feito em cada uma delas. Na primeira a fez andar e lhe deu praticamente um novo corpo. Na segunda houve uma fantástico  aprimoramento em sua visão e no controle de seu chakra, lhe permitindo poder fazer inclusive jutsus de suiton e doton, e na terceira, apesar de não ser capaz de confirmar, sua capacidade de chakra parecia que tinha aumentado, bem como seus reflexos e resistência física. Em ambas as operações ela se recuperou em poucas horas. Na verdade para ela foi mais como tomar injeções – e talvez tenha sido justamente isso.

Llogicamente se ele tinha feito tudo isso com ela, também devia ter feito algo para ter seu total controle ou ele próprio devia ser muito superior a ela – e ela não duvidava nem um pouco das duas possibilidades.

- Olha.. – ela olhou para baixo – eu gostei do tamanho e da forma de meus seios, mas.... devido a isso meu centro de gravidade está um pouco mais alto do que antes. Isso me atrapalha um pouco quando estou fazendo taijutsus.

- Bem.. posso até fazê-los maiores e mais leves, se lhe agrada.

Ela arregalou os olhos e o encarou tentando ver se finalmente havia alguma coisa pervertida nele. Mas não. Era meramente uma pergunta para verificar o que iria satisfazer sua vaidade pessoal.

- Não estou a fim de ser uma sexy apel! – disse ela um pouco envergonhada – só deixe meu centro de gravidade mais perto do umbigo sem alterar muita coisa, está bem?

- Não será difícil – disse ele se afastando. Há propósito... havia umas folhas naquela ficha que não pertenciam a kunoichi que solicitei.

- Eu sei. Aquilo é parte do que eu queria ver pessoalmente.

- A ficha de Anko? - parecia que aquela era a primeira vez que ele estava sendo um pouco sarcástico com ela – e justamente as folhas que Orochimaru-sama censurou?

Sama? Orochimaru-sama? Ora vejam só... talvez sem perceber ele já tinha dado uma bela informação para ela. Esse tal de Orochimaru que ela tinha visto o nome no restante da ficha dela realmente tinha alguma coisa a ver com ele.

- Você sem duvida sabe que é possível ler estas informações cobertas por tinta.

- Sim  - podia ver o sorriso pela penumbra de seu capuz – se fossem ideogramas cobertos por tinta, não meramente tinta na sua totalidade.

- Já tentou ler?

- Nem me arrisquei – ele retirou as folhas em questão de dentro de sua capa e as lançou em sua direção, sendo que as pegou sem dificuldade – Orochimaru-sama preparou esta ficha muito tempo atrás, para o caso de tentarem usar Anko para localizá-lo.

- Porque ele simplesmente não destruiu a ficha?

- Ele destruiu – seu sorriso estava mais evidente, assim como o humor em sua voz – estas folhas ele preparou especificamente para ocupar o lugar das originais. Pode imaginar o porque disto?

- Obviamente para levar qualquer um que conseguisse extrair algo disto para uma armadilha.

- Excelente, Etsu-chan. Estou orgulhoso de sua rápida sagacidade. Mas estou curioso... porque pegou essa ficha em especial?

- Bem... como você e eu, ela pode fazer esses jutsus ligados as cobras. E ela tem um discípulo também.

- Um... discipulo? – ele parecia genuinamente surpreso - Ora, ora... parece que você tem um rival então, não é mesmo?

Levou um tempo para ela assimilar aquilo. Rival? Pela primeira vez, Etsu começou a considerar a possibilidade de que Kabuto não a estava preparando para ser sua ferramenta a ser utilizada em algum esquema ou ardil. Ele a estava considerando como... sua discípula?

Seria isso mesmo?

- Bem.... se você me considerar como sua aluna... então você estaria certo. Por acaso é isso o que eu sou?

Ele não respondeu, apenas gargalhou de uma maneira que a impressionou. Foi como se ele finalmente se soltasse totalmente, sem controlar cada aspecto de suas ações ou atitudes. Foi isso e não sua estranha risada que a deixou um pouco assustada – pela primeira vez – diante dele.

- Não deixa de ser verdade, não é mesmo? Afinal eu lhe ensinei isso, como um sensei faria para seu aluno. Mas porque o interesse nela? Por acaso quer saber algo sobre meu passado?

- Misaki me disse algo sobre você, mas sendo sincera... eu quero saber tudo a seu respeito. Sobre isso você sempre foi evasivo.

Seu olhar estava inexpressivo agora, e seus olhos penetrantes. Ele poderia facilmente matá-la se quisesse, e ela duvidava que fosse capaz de impedir isso.

- No meu quarto alem da porta atrás de você, existe aquilo que seria o mais próximo de um diário que mantenho. Talvez seja o que está procurando. Mas lógico... sem saber sobre Orochimaru-sama talvez não entenda muito do que eu registrei ali, ou o motivo de minhas ações.

Sem continuar, ele caminhou em sua direção e passou do seu lado, indo pra o quarto que tinha dito antes.

- E onde eu poderei saber sobre Orochimaru?

- Em Konoha – disse ele – foi a aldeia onde ele nasceu. Mas eu tenho planos para você agora Etsu-chan. Não vou lhe dar permissão para invadir a aldeia novamente por enquanto. Quero que descanse e volte a estudar jutsus da biblioteca, ou então passe o seu tempo como quiser. E a propósito... vista sua camisa antes de sair. Não quero que nossos amigos pensem que estivemos fazendo alguma coisa meio privativa aqui.

Ela ouviu a porta se fechar atrás dela e ficou pensando no que ele tinha dito. Se para entendê-lo teria que saber mais sobre Orochimaru, então talvez Masaki fosse sua melhor opção para o momento, já que estava confinada ali agora.

Mas ainda estava incomodada com o tratamento que andou recebendo. Seus instintos diziam que Kabuto era alguém obcecado com algo, desesperadamente interessado em atingir algum objetivo. E não conseguia ainda entender como lhe dar tal treinamento e alterar seu corpo para ser um tipo de super kunoichi podia auxiliá-lo nisto. No entanto, estava começando a acreditar que ela seria fundamental para tanto. Fosse o que fosse.


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