Sonho Renascido escrita por Janus


Capítulo 49
Capítulo 49




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Era tarde da noite quando ambos os guardas notaram a distancia alguém se aproximar. Pela forma como andavam, eram duas pessoas e pareciam que caminhavam abraçadas. Ficaram de prontidão mas logo depois relaxaram ao perceberem que eram dois gennins retornando.

Ao chegarem mais perto, viram que a moça que amparava o colega também estava mancando, mas estava em bem melhor estado que este. Ele tinha um corte feio no braço e muitas marcas de luxações bem como vários danos em suas roupas. A jovem também tinha arranhões e marcas, bem como alguns estragos menores na roupa, mas não havia duvida de que apenas ia naquela velocidade para não forçar demais o colega.

- Podemos usar o hospital ou temos que nos cuidar sozinhos? – perguntou ela para os guardas.

- Até o fim desta semana vocês são considerados gennins da aldeia – respondeu um deles – pode levar seu colega ao hospital para ser tratado ou pode até deixar ele aqui que podemos chamar um ninja médico para examiná-lo.

- Então me deixe aqui Hameri – disse o rapaz tentando aparentar estar melhor do que realmente estava – volte para ajudar Toru.

- Toru só vai observar de longe para não perder a trilha deles – disse ela o olhando séria – não vai ser idiota como você de tentar algo sozinho. Vamos – ela o puxou e continuou a andar – vai ser mais rápido eu o levar ao hospital.

Os guardas acompanharam ambos com o olhar e continuaram em suas posições. Caso o ferimento do rapaz fosse mais grave, um deles ajudaria a carregá-lo. Mas os gennins participantes da prova não precisavam saber disto sem necessidade. Suas ordens eram de deixá-los por conta própria o máximo possível.

Depois de atravessar a ponte de cordas, Hameri se esforçou mais para carregar o colega ferido, e mesmo este protestando, nada pode fazer quando ela usou sua poeira para deixá-lo em suas costas e com esta mesma poeira praticamente o prendeu ali.

Ela precisou de um pouco de tempo para lembrar onde tinha visto que era o hospital, mas acabou achando-o sem dificuldade. Ficava em um terraço mais ou menos na mesma altura que o escritório do raikage. Entrou na recepção e antes que dissesse algo, dois ninjas médicos apareceram e já retiravam seu colega de suas costas.

- Fisicamente ele parece bem – disse um deles com as duas mãos no seu braço ferido enquanto o avaliava – mas seus tendões estão muito estirados. Além disso, este corte dele no braço foi profundo. Vai precisar de um bom tempo para se recuperar totalmente.

- Quanto tempo? – perguntou ela ofegando um pouco.

- Dois a três dias – respondeu ele – é o tempo que quer que ele fique aqui?

Ela estranhou aquilo. Como assim o tempo que ela queria que ele ficasse ali?

- Não entendi.

- Vocês estão em uma missão – disse ele já começando a tratar de seu colega – e para quase todos os efeitos, terão o suporte que teriam em uma missão real de sua aldeia, ao menos por esta semana. Você pode deixar seu amigo aqui até ele se recuperar ou pode retirá-lo antes. Mas não iremos ter nenhuma responsabilidade a respeito de sua decisão – ele a encarou friamente – vocês é quem devem decidir.

- Então eu vou... ungh! – exclamou ele quando Hemari pisou no seu braço ferido.

- Quanto tempo para fechar a ferida e curar os tendões?

- Uma hora para o corte – respondeu o médico observando com interesse o rosto do gennin que estava ficando já verde da dor que sentia com ela pisando bem onde seus tendões estavam muito feridos – curar os tendões vai demorar mais tempo, mas ele deve ter uma recuperação razoável pela manhã. Ao menos poderá fazer jutsus.

- Nesse caso – ela sorriu olhando seu colega – eu volto talvez uma hora antes do amanhecer.

Ela tirou o pé de seu braço aliviando sua dor e se afastou devagar. Quando estava saindo pela porta de entrada, seu colega tentou protestar mas acabou engasgando com uma nuvem de poeira vinda ninguém sabia de onde, que entrou direto em sua boca.

- Não banque o teimoso Itheri – disse ela de costas – você não vai ser útil neste estado, e eu desconfio que ainda temos muito tempo para irmos atrás deles.

Ela ouviu ele tentar falar algo - provavelmente tentou xingá-la – mas apenas conseguiu tossir mais com sua poeira perturbando sua garganta. Agora sem precisar carregá-lo, ela podia sentir o quanto estava ferida. Não podia evitar de mancar com a perna esquerda, mas era uma luxação, nada comparado ao que houve com Itheri.

Percebeu que era observada por algumas pessoas que estavam andando ali a noite, e imaginou que conversavam entre si para saberem como ela ficou daquele jeito, com marcas no rosto, com sua saia rasgada, com vários danos menores da roupa e mancando levemente. Sem dúvida acreditavam que devia ter lutado com outro gennin candidato do exame.

Era verdade. Enfrentaram dois times rivais e lutaram pelo “direito” de perseguir o provável time que tinha roubado o livro da biblioteca, e percebendo que acabariam perdendo, ela decidiu recuar. Toru atendeu, mas o imbecil do Itheri resolveu ficar para trás para lhes dar proteção. Ela podia fazer isso com sua poeira, assim ele não teria ficado tão ferido. Mas ele era teimoso.

Mas pelo menos tinha um outro time em pior estado que eles agora.

Retornou a área onde estavam hospedados e ficou muito cuidadosa. Viu que as luzes dos quartos que podia ver daquele ponto estavam apagadas.

Todos eles já estavam atrás do time da Grama?

Não devia estar surpresa. Andou mais um pouco em direção ao seu quarto e ponderou se valia a pena invadir os quartos dos outros para tentar obter alguma informação, mas também precisava descansar. Seu chakra estava no fim depois de toda aquela luta, e não era bom arriscar começar outra agora, especialmente porque ainda era possível um ou outro time ter deixado alguém para trás para vigiar as coisas ou mesmo fazer o que ela pensou agora, invadir os quartos dos rivais.

Parou de andar pouco antes de chegar ao seu destino. Uma das luzes estava acesa! E justamente a do time de Konoha. Eles não partiram na perseguição como todos os outros?

Ficou pensando a respeito. Pegou um saco de poeira e o abriu a liberando e a direcionando para lá. Não estava interessada em ser sutil agora, apenas queria confirmar quem estava lá dentro. Fez a poeira entrar pelas frestas ao redor da porta e das janelas e quase que imediatamente ouviu os latidos da ninken. Fez a poeira se espalhar lá dentro para formar um mapa do que tinha no interior e confirmou que todos os três mais a cadela estavam ali dentro.

Imediatamente fez sua poeira retornar, contando que isto atraísse a atenção deles, e percebeu com um misto de satisfação – e de surpresa – que conseguiu seu intento. Antes mesmo de retirar toda a poeira de lá, a porta se abriu e o loiro saiu por esta, quer dizer... três loiros saíram pela porta, e quase que imediatamente a cercaram.

Ela não se incomodou com eles, apenas fez a poeira retornar ao seu saco de origem e voltou a prendê-lo em seu cinto. Depois cruzou os braços e olhou para o que estava na sua frente. Ele não tinha dito nada ainda, nem tinha feito qualquer ameaça de atacar.

Desviou o olhar para o quarto deles e não viu nenhuma movimentação especial ali. Ninguém nas janelas, e também não percebeu sombras na porta indicando alguém de tocaia. Depois de quase um minuto naquela situação ficou preocupada e até um pouco irritada. O que diabos eles planejavam fazer?

- Vai ficar ai apenas me olhando? – perguntou ela por fim.

Não houve resposta, mas ela estava percebendo movimentação ao redor. Notava manchas um pouco distantes a circundando. Ficou assim por mais cinco minutos até perceber que eles deviam estar se certificando de que estava sozinha realmente.

Era o que seu time devia ter feito antes de aceitar entrar naquela luta... Pelo jeito, eles pareciam ter mais experiência que ela.

- Não é uma armadilha – disse olhando ao redor tentando identificar onde as outras duas estavam – apenas quis me certificar de que estavam lá dentro e aproveitei para chamar a atenção também.

- E por que ia querer chamar nossa atenção?

Ela olhou na direção da voz e quase abriu a boca de susto. Era o loiro. Agora eram em quatro? Quantos clones ele podia fazer? Ela podia fazer um clone de terra e era só, e ainda gastava muito chakra para mantê-lo.

- Porque... quero propor uma aliança!

Os quatro ficaram surpresos com suas palavras, algo que ela já esperava. Na verdade ela própria estava um pouco surpresa. Seu único interesse em se aliar a eles era por terem alguém que podia rastrear aqueles que estavam com a informação que ambos precisavam.

- Acho que ainda não sabem sobre o que houve, não é mesmo? – prosseguiu ela movendo os olhos de um clone a outro, vendo como era impossível saber quem era o original – perceberam que não há nenhum outro time por aqui?

- Notamos isso sim – disse um dos clones atrás dela – e desconfio que vai nos contar o motivo quer nós perguntemos ou não.

Ele não parecia verdadeiramente curioso. Hameri ficou um pouco mais reticente com isso. Reticente e desconfiada.

- Um dos times encontrou uma forma de localizar os tesouros... um livro da biblioteca. Roubaram o livro e partiram. Descobri isso pouco depois, na verdade outros times já tinham descoberto e foram atrás deles – olhou para eles e ainda não pareciam muito surpresos. Será que eles já sabiam da história? – que tal conversarmos lá dentro?

Um deles cruzou os braços e a olhou um pouco mas desconfiado.

- Acho que esse pó que você controla deve ser mais eficiente em lugares fechados.

- Se isso o preocupa – ela levou as mãos ao seu cinto e o soltou, esticando a mão o segurando para ele – pode segura-lo enquanto estou lá dentro. Eu preciso carregá-lo com chakra antes de poder usar. E se não for o bastante – ela já estava ficando irritada sobre como ele estava cuidadoso – pode me amarrar também.

Um deles pegou o cinto e os outros três sumiram quase que imediatamente.

- Muito bem, vamos conversar.

Ela não estava disposta a uma luta, e sua oferta era verdadeira. Só esperava não ter o supremo azar de estarem procurando pelos mesmos tesouros. Ai sim seria impossível obter ajuda deles.

Quando ela entrou lá dentro, ficou novamente surpresa. O loiro estava lá com as duas outras. A ninken estava do lado da Inuzuka, como esperado, e o loiro que a seguiu entregou o cinto para ela e desapareceu em seguida. Então todos os que estavam lá fora eram clones?

- Que história é essa de livro? – perguntou a que tinha olhos verdes com os braços cruzados e a olhando de forma bem penetrante. Como ela soube tão rápido do que tinham conversado do lado de fora?

- Antes de falar sobre isso – interrompeu a Inuzuka pouco antes dela abrir a boca para responder – o pó que invadiu tudo aqui dentro... você o usou de manhã, certo? E também quando estávamos na sala de troféus.

Olhou para ela e apertou os lábios. Mas concordou com a cabeça.

- Eu estava espionando vocês – confessou – foi assim que eu soube que os tesouros eram lembranças do raikage – a morena abriu levemente os lábios, demonstrando uma certa raiva incontida – mas como estava ficando evidente que sua amiga ai – indicou a ninken com a cabeça – estava me percebendo, eu parei antes que pudesse me rastrear. Depois disto fui até a biblioteca para saber se havia ali alguma informação ou históricos sobre os objetos da sala de troféus. Foi quando eu soube que havia um livro a respeito disto, e que o mesmo tinha desaparecido de manhã.

Os três permaneceram em silencio e se entreolharam. Apenas a ninken a observava atentamente, pronta para saltar sobre ela se fizesse alguma ameaça.

- E porque quer fazer uma aliança agora?

Apesar de tentar segurar, ela não conseguiu deixar escapar alguns risos.

- Olhem como eu estou... – ela abriu as mãos – nós fomos atrás de quem devia estar com o livro – colocou as mãos na cintura e os encarou. - Do alto da montanha até que foi fácil perceber alguns pontinhos andando no vale e fomos conferir quem seriam. Era um dos times, mas não o que estávamos procurando.

- Ai vocês lutaram contra eles e perderam?

- Contra eles nós vencemos – disse ela estreitando os olhos para a moça de olhos verdes – mas contra o outro time da minha aldeia... – olhou para o lado e não terminou a frase.

Não estava disposta a dar detalhes. Quando se aproximaram o bastante, viram que aquele time estava recolhendo folhas rasgadas do chão, folhas que mais tarde ela soube que eram do livro, pois uma deles descrevia uma travessa de prata que tinha sido recebida de presente por um jounin da Nuvem. Também dizia de onde tinha sido o presente.

Mas naquele instante nem ela ou seus colegas sabiam disto. Eles os atacaram quase que imediatamente e eles puseram seu plano previamente traçado para situações assim. Os três se concentraram em um deles, tentando pô-lo fora de combate depressa. Mas quando estavam indo para o segundo da equipe, o time doze apareceu os atacando pelas costas. Deviam estar observando tudo a distancia e acharam que era um bom momento para atacar.

E estavam certos.

- Outro time?

- Enquanto lutávamos, o time doze nos atacou de surpresa. Eu e meu colega ficamos feridos depois disto e fugimos. Seria idiotice ficar. Ele está no hospital agora sendo tratado. Eu estava indo para meu quarto para descansar quando vi sua luz acesa.

- E decidiu nos chamar para uma conversa – disse o loiro.

- Mais ou menos. Achei que se batesse na porta ficaria estranho... mas eu queria saber se eram vocês que estavam aqui ou algum outro time revistando o quarto.

- E porque quer uma aliança?

- Vocês tem uma Inuzuka capaz de rastrear o livro, que acredito que esteja com o time da aldeia de Grama. E eu tenho o que é preciso para que possa começar a rastrear – respondeu pensando na folha que tinha.

- Não sou Inuzuka – disse ela a observando friamente.

Não era? Olhou para a ninken e depois para ela. Tinha certeza de que apenas os integrantes do clã Inuzuka de Konoha trabalhavam com ninkens.

- Bom, tanto faz desde que ela – indicou a cadela com a cabeça – puder seguir rastros. 

 - Ela pode seguir sim – a garota cruzou os braços e a encarou claramente irritada.

- Bem... então o que me dizem?

Tinha alguma coisa errada na forma deles agirem. Acabaram de saber que todos os times – ou quase todos – tinham saído da aldeia atrás de quem tinha roubado o livro e não estavam demonstrando nenhuma ansiedade? Será que tinham decidido desistir do exame?

- Vamos pensar a respeito – disse o loiro.

- Pensar?! – não estava acreditando. Estava preparada para um “não” ou um “vamos resolver sozinhos”, mas eles ainda iam pensar? – Pensar no que? Por acaso já desistiram do exame?

- Vai deixar o seu amigo no hospital? – inquiriu ele.

Ficou muda naquele instante. Acabou se esquecendo daquilo completamente.

- Vou pegar ele amanhã cedo, antes do amanhecer.

- Bom, então temos até lá para te dar a resposta, certo?

Pressionou os punhos e olhou para baixo. Era verdade. Não tinha razões para exigir uma resposta naquele instante.

- Sim – disse ela lentamente – é verdade. Mas... – olhou de um lado para o outro, tentando encontrar algum argumento – eu... eu não gostaria de esperar tanto tempo assim. Se derem uma reposta bem mais cedo, ao menos eu terei tempo de decidir o que fazer caso escolham não aceitar a proposta.

- Apenas aguarde – disse o loiro lhe jogando seu cinto, praticamente encerrando o assunto.

Ela colocou o cinto ao redor de sua cintura e aproveitou para esfregar os dedos em um dos sacos ali, liberando uma pequena porção de poeira que ela direcionou com seu chakra para o canto da parte de cima da sala, bem onde tinha visto uma teia de aranha coberta com um pouco do mesmo pó. Com certeza era a mesma teia que lhe permitiu ouvir a conversa deles mais cedo.

Saiu do quarto deles sem olhar para trás, e resistiu a tentação de correr, mesmo já percebendo vibrações na poeira. Não estava fazendo sentido a forma deles agirem. Se tivessem a ameaçado, ou tentassem forçá-la a dizer ou entregar o que tinha que permitiria rastrear o time com o livro ela entenderia – e estava até preparada para isso – mas essa ação de esperar era muito confusa. Sua única conclusão era que eles já tinham feito uma aliança com outro time, ou talvez soubessem como rastrear quem tinha o livro, ou... não precisavam deste.

Ela não soube o que fizeram depois do salão dos troféus, pois preferiu parar de espionar antes que a ninken a denunciasse. Não foram até a biblioteca antes dela, disso tinha certeza. Então... para onde teriam ido a ponto de não perceber – aparentemente – que todos os outros times foram embora?

Entrou no seu quarto e trancou a porta, e imediatamente sentou-se no chão assumindo a posição de lótus, concentrando-se o máximo possível na poeira que deixou novamente no quarto deles.

Mas tudo o que percebia agora eram algumas vibrações agudas e secas. O que seria aquilo? Se ela pudesse realmente ouvir seria bem mais fácil, mas como tudo o que fazia era captar com seu chakra a vibração da poeira, precisava interpretar o que estava realmente percebendo. Podiam ser passos... não, passos são mais graves e as vibrações são mais lentas. Estas eram altas e rápidas. Talvez um tilintar de alguma coisa. Estariam eles comendo e o que captava seria o som dos talheres nos pratos?

Não tinha sentido cheiro de comida, se estavam comendo era algo frio, ou talvez estivessem preparando algo para comer, e o que captava era uma colher sendo usada para misturar alguma sopa. Era possível, mas achava um contra-senso fazerem isso logo depois dela fazer sua oferta. Se bem que ela podia perceber que estava com fome também.

Continuou se concentrando, tentando captar algo além daquele tilintar – ainda não sabia se era isso, mas era a sua melhor aposta – esporádico, até que finalmente captou a vibração da palavras.

- Vai querer alguns de meus jutsus selados, Minato-kun? - o timbre e a vibração sonora indicava que era aquela de olhos verdes que falava.

- Veja com a Haru-chan – respondeu ele com as palavras misturadas com uma vibração bem mais grave e muito continua – eu não preciso de clones para fazer o rasengan.

Ela conhecia aquela vibração que mais se parecia com algo rasgando. Era um zíper! Tinha certeza disto. Talvez a moça que tinha falado estivesse fechando sua mochila. Aguardou mais um longo tempo em que nada percebia, exceto alguns passos suaves – isso ela tinha certeza do que era – e um ou outro daquele tilintar.

- Acho melhor levarmos bastante tarjas – disse a outra, a Inuzuka, ou melhor, a que era parceira da ninken, já que tinha dito que não era daquele clã – não vamos poder nos reabastecer, certo?

- Vamos sim – era a voz do menino, do tal Minato – estou separando uma mochila para levarmos e deixarmos próxima quando tiver que atuar. Vamos poder pegar mais equipamento se precisarmos depois.

Equipamentos? Aquele som de tilintar...

Eram kunais – rugiu sua mente. O tilintar que estava captando eram de metal batendo em metal. O som que kunais e shurikens faziam ao bater uns nos outros. Eles... eles estava selecionando seus equipamentos, preparando-se para...

Para saírem? Eles iam sair? Bom, se realmente não estavam interessados em sua proposta, era o que iam fazer mesmo. Será que ela acabou lhes dando alguma informação crucial? Agora se condenava por não ter se apressado para retornar ao seu quarto. Provavelmente perdeu a conversa que tiveram logo após ela os deixar.

- Aqui eu acabei – disse Minato – e vocês?

- Coloquei kunais, shrikens, armas e jutsus selados em todas as bolsas – disse a moça que ficava com o ninken. Ela sabia que elas se chamavam Haruka e Ayame, mas ainda não sabia quem era quem.

- E eu terminei de definir nossa rota no mapa, mas ainda não sei onde fica esse tal de Toronei. Não acho que seja uma aldeia ou cidade.

Rota? Ela disse rota?

- Pode ser o nome de alguma montanha ou lago?

- Não faço idéia. Mesmo nesse mapa que compramos aqui esse nome não aparece.

Toronei... porque eles queriam ir para esse lugar?

- Acho que vamos ter que perguntar em alguma pousada, ou até mesmo alguma taberna.

Mapas, rota marcada, separando equipamentos... não tinha dúvidas. Eles sabiam onde tinham que ir. Deviam ter achado outra maneira de identificarem os locais dos tesouros. Por isso estavam ali ainda... estavam se preparando – e muito bem pelo jeito – para partirem.

Novamente apenas o silencio imperava no quarto deles. Hameri estava ficando angustiada com isso. O que ela ia fazer? Itheri não estava ainda em condições de a acompanhar se os seguisse. Talvez devesse deixar uma mensagem para ele no quarto, mas e se a mensagem fosse encontrada por outra pessoa? Ou até por outro time? Tinha certeza de que alguns dos times voltaria por não localizar o rastro daqueles que estavam com o livro. E ainda tinha Toru, se bem que este podia avisar com alguns de seus gaviões que trouxeram para se comunicarem por longas distâncias.

- E quanto a proposta do time da Areia? – disse uma das moças, que ela acreditava agora se chamar Ayame.

- Vamos passar no quarto dela e avisar que rejeitamos a proposta – disse o rapaz simplesmente – e nem sabemos ainda quais tesouros eles precisam. Mas não duvido que pelo menos um deles é o mesmo que um dos nossos.

Ela também tinha essa certeza. Oito tesouros divididos em grupos de três para treze times. As chances de dois times terem objetivos totalmente diferentes era baixa. Bom, ela só tinha agora um trunfo... o fato de saber que eles tinham a informação, e podia ameaçar contar para os outros sobre isso.

Só que provavelmente talvez não acreditassem nela. Não estava com muita escolha realmente exceto o de segui-los sozinha. Mas com aquela ninken... eles iriam descobri-la.

Como eles fizeram para descobrir a localização dos tesouros? A única chance de seu time agora seria fazer o mesmo que eles fizeram, fosse o que fosse. Mas a informação ainda estaria no mesmo lugar?

Ouviu um farfalhar e batidas na janela. Ainda mantendo sua concentração na poeira para captar alguma coisa, ela foi ver a origem do som e surpresa viu que era um gavião. Abriu a janela deixando a ave entrar e retirou a mensagem presa em um pequeno cartucho em suas costas. Só podia ser de Toru.

Assim que a desenrolou, confirmou sua expectativa. Era dele mesmo. O time doze tinha lutado contra o time da Grama. Não conseguiram o livro. Mas confirmou que estava com eles. Gostaria de saber mais detalhes, especialmente o estado em que o time doze ficou depois da luta. Pelo que conhecia daqueles aproveitadores, provavelmente decidiram não se arriscar. Eles tinham um sensei muito estratégico, e acabou passando isso para o time. Eles sempre procuravam ter o terreno, a situação e até as escolhas a seu favor. Preferiam atacar de tocaia e quase sempre fugiam quando atacados de surpresa. Não tinha a menor idéia de como se comportariam caso não pudessem evitar uma luta que não queriam, mas não duvidava que Kotar com aquela foice não fosse perigoso.

Ainda se lembrava do que ela tinha feito no braço de Itheri.

Ouviu batidas na porta e com a surpresa acabou perdendo a concentração e liberou seu controle sobre a poeira. Mas não fazia diferença. Já sabia quem estaria lá.

Ao menos agora tinha uma outra opção. Tentar pegar o livro do time da Grama. Ali somente ela não seria páreo para os três gennins de Konoha, ainda mais cansada e um pouco ferida.

- Até que decidiram rápido – começou ela os olhando após abrir a porta e fingindo decepção ao ver os três equipados e o garoto com uma mochila nas costas – ou... vieram falar de outra coisa?

- Conversamos um pouco – disse o rapaz – e talvez possamos fazer algum tipo de acordo, mas vai depender primeiro de que tesouros seu time está procurando.

Arregalou os olhos e seu coração deu um pulo. O que eles teriam conversado quando ela ficou ocupada lendo a mensagem de Toru?

- E então? – instigou a moça que estava de braços cruzados e parecia mesmo contrária a idéia de uma aliança.

- Então o que?

- Seus tesouros – insistiu o loiro olhando-a nos olhos.

Pensou um pouco. Uma luta do qual não sabia o resultado ou a possibilidade de pelo menos poder pegar um dos tesouros?

- Lua dos coiotes, Kathar e Grande Bonsai – disse ela cruzando os braços.

- Nós também estamos atrás da Grande Bonsai – disse ele.

- Minato-kun!

- Ora, é verdade – disse ele para a que tinha exclamado – mas não adianta ela saber disso se não souber onde procurar, não é mesmo?

- Nós também não sabemos – disse a outra – a não ser que ela saiba onde ou o que é Torenei.

- Eu não sei – disse ela apertando os lábios – mas acho que sei onde descobrir. O que pagariam pela informação?

- A localização dos seus outros dois tesouros – disse ele.

- Isso se ainda estiverem lá quando formos atrás. Os outros estão com quase um dia de vantagem.

Ele sorriu divertido para ela e isso indicou que havia alguma coisa que ela não devia ter percebido ainda.

- Porque não está preocupado? – disse ela – alias... – abriu os olhos tentando fingir surpresa agora – vocês... sabem onde está a Grande Bonsai?

- Sabemos onde procurar – disse ele – o livro que pegaram da biblioteca diz de onde os tesouros vieram. Nós sabemos para onde eles foram levados.

Agora ela não precisava fingir surpresa, ela era genuína. Por isso estavam calmos quando contou a história para eles. O livro devia contar de quem o raikage ganhou as lembranças. O que eles devem ter obtido foi para quem – ou onde – elas foram entregues.

- Não vão precisar de mim para rastrear o time com o livro...

- Não, mas como já dissemos, precisamos saber onde fica Torenei. Se nos disser, lhe contamos onde procurar pelos seus tesouros. Mas já aviso que se forem atrás da Grande Bonsai vamos nos enfrentar.

- Aceito – disse ela depois de pensar um pouco.

Ela se virou e foi na direção de sua mochila, pegando um pergaminho com um gavião selado. Liberou-o e começou a escrever um bilhete.

- O que vai fazer?

- Bem, podemos usar qualquer recurso, certo? – disse ela quanto escrevia – vou pedir informações para Suna. Acho bem provável que possam responder. Devemos ter a resposta amanhã a tarde.

- Não gostaria de esperar tanto tempo – disse aquela que devia ser Ayame.

- Não precisa, o falcão vai me achar onde eu estiver. Talvez demore um pouco mais. Mas podemos já nos por a caminho de um dos tesouros. Tenho certeza de que parte do caminho iremos usar a mesma... hum.. estrada.

Ela sorriu para eles. Talvez até arriscasse pegar a Grande Bonsai deles, mas no momento sua prioridade era os outros dois tesouros. E eles não iam contar nada até terem a informação – que ela rezava que Suna pudesse fornecer.

- Muito bem, vamos esperar seu amigo sair do hospital. E quanto ao outro membro do time?

- Vou mandar um falcão para ele apenas aguardar onde está. Se Suna não tiver a informação ele vai ser minha ultima esperança, mas se tiver... bom, eu o chamo. E também vocês vão ficar mais seguros, afinal eu não estou na minha melhor forma e meu colega no hospital está pior ainda.

Ela só achava estranho ele ter oferecido a localização de dois tesouros pelo preço de um. Talvez quisesse que estivessem ocupados procurando estes dois enquanto eles iam atrás da Grande Bonsai.

- Khatar é uma espada – disse ele – uma espada de samurai. E a Lua dos Coiotes é uma pérola que foi usada como olho em uma estátua de coiote.

Se ele queria convencê-la de que realmente sabia onde estavam aqueles tesouros, tinha acabado de conseguir.

-x-

Ainda não sabia se ela estava furiosa ou incrédula. Talvez um pouco de cada.

- Ora... não precisa ficar assim tão chateada, Chizuka.

- Chateada? – ela colocou as mãos na cintura e abriu bem os olhos na sua direção – chateada? Fiquei lá embaixo lutando contra um exercito e você estava aqui transando com o cara? E acha que estou apenas chateada?

- Eu não chamaria isso de transar - ela riu – acho que ele não estava no clima... De qualquer forma achei que seria interessante esta humilhação. O filho do senhor feudal “violentado” por uma mulher. Mas como ele não correspondeu eu fiquei mesmo tirando sua pele.

Ela grunhiu levemente e olhou em direção ao corpo que apesar de tudo ainda respirava fracamente. Não devia durar muito, mas era impressionante ele ainda viver depois de ser arremessado contra uma parede de pedra sólida, onde muito provavelmente quebrou metade dos ossos do corpo.

- Vista alguma coisa pelo menos... – rosnou ela emburrada.

- Ficou envergonhada?

- Não, apenas fiquei irritada porque não me esperou para brincar também.

- Não estava brincando com os soldados lá embaixo?

- Eu estava me divertindo! E acho que você acabou curtindo mais que eu.

- Tudo bem – Heromi sorria enquanto procurava por sua roupa na sala totalmente revirada – da próxima vez que nosso alvo for um rapaz bonitão, você pode arrancar a roupa dele e tentar ver se ele pelo menos se diverte um pouco antes de morrer. Comigo não deu muito certo...

Ela foi até o terraço e pulou para o solo. Heromi vestiu sua camisa e pegou o resto de seu traje. Pulou logo em seguida atrás da parceira e enquanto andavam, terminou de se vestir.

- Acabou aqui no país da Terra?

- Sim – disse ela olhando a lua crescente no céu – até que esse daqui deu bem mais trabalho que os outros... demorou horas desta vez. Houve algum sobrevivente?

- Alguns – disse ela ainda emburrada – não me incomodei de pegar todos desta vez.

- Perfeito. Vamos voltar para a base. Acho que Kabuto vai ficar satisfeito com tudo e também com a sua performance. Quem sabe ele não resolva criar mais alguns jinchuurikis?

- Inveja?

- Nem tanto – disse ela a olhando estreitando os olhos – mas acho que seria uma experiência interessante. De qualquer forma, é melhor se preparar para ficar um longo tempo descansando. Assim que as nações ninja assimilarem o que aconteceu, vão te caçar por todos os lados. E não pense que enfrentar ninjas vai ser como enfrentar soldados – ela a olhou muito séria – eles ainda sabem como cuidar de jinchuurikis.

Ela nada disse, apenas continuou andando ao seu lado demonstrando uma certa tristeza por tudo ter acabado agora.


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