Sonho Renascido escrita por Janus


Capítulo 4
Capítulo 4




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 Era o início da noite do seu primeiro dia como genin e ofegava demais sem ser capaz de evitar. Fazer o jutsu não era propriamente difícil, a maneira de aprender era bem parecida com o do clone normal. Mas o sensei estava certo, fazer aquilo repetidas vezes consumia muito chakra. E também tinha o detalhe que um golpe forte fazia o clone se desfazer.

 - Kage bunshin no jutsu! – disse Minato fazendo dois clones aparecerem desta vez.

 Olhava incrédula para ele. Quanto chakra ele tinha? Ela ficou praticando a tarde inteira junto com ele e apesar de estar cada vez melhor, sabia que não ia ter forças para continuar. Na verdade estava esgotada. Devia ter feito como Ayame que percebeu que não seria o jutsu certo para ela e decidiu praticar o kinobori. Mas já estava bem machucada de tanto cair das árvores. Pelo menos ela aprendeu como pousar de pé não importando de que forma começasse a cair, como se fosse um gato.

 Os dois clones de Minato apesar de parecerem bem próximos ao original, não se moviam de forma coordenada. Tropeçaram nas próprias pernas e desapareceram assim que a cabeça deles atingiu o chão com força.

 - Já chega crianças – disse o sensei batendo palmas para chamar a atenção deles – vamos jantar. Ficaram o dia inteiro praticando e não vai ser de uma hora para outra que vão dominar estas técnicas.

 Ela se deixou cair na grama totalmente sem forças. Sentia como se tivesse feito vinte maratonas sem nenhuma pausa entre elas. Chegou a fazer um clone que se movia e parecia ser perfeito, mas seu chakra já estava esgotado e ele desapareceu em seguida. Depois disto não conseguiu mais nada, por mais que se esforçasse. Sentiu uma inveja enorme de Minato. Virou a cabeça para ele e o mesmo não parecia muito cansado. Isso era injusto!

 - Ayame-chan, eu disse para parar!

 Ela fez uma ultima corrida no tronco da árvore antes de parar. Mas não conseguiu ir mais alto do que antes. Estava cansada também.

 - Bem Haruka-chan – começou o sensei após se sentar do seu lado – você progrediu de forma impressionante em um dia, mas percebeu um detalhe, não é?

 - Não tenho chakra para isso...

 - Isso também – ele sorriu – mas não era bem o que eu queria dizer. Quanto melhor você controla o seu chakra, mais fácil é aprender a fazer jutsus novos. Aposto que pode dominar o kinobori facilmente. Quanto ao clone das sombras, tenho certeza que irá dominar a técnica, mas estará muito limitada com a quantidade de chakra que poderá usar. Creio que numa luta, o limite aceitável para você será dois clones. Então é melhor guardar isso para eventualidades, como uma fuga rápida.

 - Não é justo! Porque Minato-kun pode ficar fazendo esses clones sem parar e eu não?

 - Ele tem mais chakra, só isso – respondeu ele sorrindo – mas não se preocupe. Eu também nunca consegui superar aquele que fez deste jutsu a sua marca registrada. Naruto-niichan.

 - E-ele era seu irmão? - ela abriu a boca de espanto.

 - Não – ele se apressou em dizer rindo sem jeito – mas era como eu o chamava. De certa forma ele foi um irmão mais velho para mim. Não me tratou como um neto de hokage, e sim como uma pessoa. E... – ele fez um rosto de safado – foi ele quem inventou o jutsu erótico.

 - O grande herói de Konoha inventou o jutsu erótico? – ela sorriu pois ainda estava sem forças para fazer mais do que isso – isso não ensinaram na academia.

 - E nem ensinariam. Sabe, apesar de tudo o que falam dele, ele foi uma pessoa como eu ou você. E muito do que ele fez não foi por causa do bijuu dentro dele, mas sim apesar disto. Ele tinha limitações e vou dizer algo que acho que nunca devem ter te contado... ele era uma lástima para aprender. Foi o ultimo da turma, quase não se formou.. melhor eu parar por aqui antes de destruir toda a figura mítica dele... – ele piscou o olho para ela – entenda Haruka-chan. Não é porque não foi capaz de aprender algo em um dia ou porque foi superada pelo seu colega que deve desistir. Ele levou uma semana ou mais para aprender o kinobori. Nossa hokage aprendeu em alguns minutos. Pelo menos foi o que me falaram, mas não vejo motivos para duvidar.

 Ela ficou olhando o céu já escuro enquanto conseguia finalmente respirar mais devagar. Já não sentia mais que tinha fracassado. Apenas não tinha os recursos que Minato tinha para continuar tentando. Saber os seus limites também era uma vantagem. Ela acabou de conhecer um deles.

 - Ele podia fazer quase mil clones quando dominou o jutsu - ela ficou novamente de boca aberta quando ouviu aquilo – mas acredite se quiser, ele repetiu três vezes na academia porque não conseguia dominar a técnica dos clones simples.

 Olhou para ele com os olhos semi-cerrados. Agora ele estava exagerando. Tudo bem que o grande Naruto era um humano com limites, mas daí a exagerar nos seus defeitos...

 - Pode ver nos registros escolares – ele adivinhou o que ela pensava – está tudo lá. Agora vamos comer antes que Ayame resolva continuar subindo nas árvores. Se ela quebrar o pescoço vou ter muito relatório para preencher.

 

-x-

 

 Que dia tinha sido. Estava de braços cruzados e observava escondido os seus alunos se mantendo afastados uns dos outros. Será que a tarefa era tão difícil assim? Talvez tenha errado ao criar uma competição entre eles.

 O grande cão branco ganiu ao seu lado, lhe chamando a atenção.

 - Estão mais para três idiotas – murmurou ele como que respondendo a alguma coisa.

 Estava até aliviado de não ser escolhido sensei de Minato, mas acabou sendo selecionado para um outro time, e isso lhe deu um certo incentivo. Ensinar uma nova geração de genins como ele, Hinata e Shino tinham sido ensinados. Mas agora ao fim do primeiro dia estava se arrependendo. Ou era um péssimo sensei, ou eles eram péssimos alunos.

 Bom, não tinha ensinado nada ainda. Apenas tinha posto as cartas na mesa. Iria avaliá-los e decidir se os aprovaria ou não. E no momento, não tinha nenhum interesse em aprová-los.

 A tarefa era difícil, reconhecia isso. mas não estava interessado em que a completassem, mas em sim em como o fariam. Apenas precisavam por  uma coleira em Akamaru. Cada um deles tinha uma. Quem a colocasse estaria aprovado. Era simples.

 Claro que havia um detalhe... para avaliar também o senso de trabalho em equipe deles, tinha dito que quem colocasse a coleira era o vencedor, e que os outros dois seriam reprovados. O que ele viu quando disse para começarem foi uma corrida entre eles para pegar seu companheiro, e não pouparam rasteiras ou trapaças entre si para deter a concorrência.

 - Não, sem chance – disse ele após Akamaru latir de novo – se não puderem fazer isso, melhor serem reprovados mesmo.

 Pior que nem vieram preparados direito. Nenhum deles sequer trouxe roupas mais quentes para passarem a noite, ou algum equipamento de pesca para pegar algo para comer. Nem ao menos trouxeram comida. Estavam o dia inteiro sem comer nada.

 Sorriu levemente. Isso lhe deu uma idéia.

 Afastou-se e encontrou um local tranqüilo para pensar melhor no que iria fazer. Aproveitou e pegou um bloco de ração de sua bolsa e a deu para seu companheiro. Enquanto este mastigava com gosto ficou arquitetando seu plano para tentar salvar aquele time. Se não desse certo, no fim do dia seguinte todos iriam voltar para casa.

  

-x-

 

 Ele espreguiçou-se esticando os braços ao máximo para os lados, como sempre fazia. No orfanato era comum acertar a parede ou derrubar alguma coisa quando fazia isso. Era normal. Mas não era normal a coisa macia que sentiu na sua mão direita. Quando olhou, viu Ayame ainda deitada em seu saco de dormir com a mão na cabeça e o olhando com os olhos semicerrados. Uma observada melhor e viu em que parte do peito dela sua mão acabou esbarrando.

 - Desculpa! – gritou ele de vergonha.

 - Se quer bancar o pervertido – disse ela com uma voz fria e de forma ameaçadora – pelo menos seja gentil e habilidoso, não trate meu seio como um saco de pancadas.

 Ficou vermelho de vergonha. Viu-a levantar-se e olhar para ele ainda daquela forma séria. Logo em seguida ela sorriu divertida.

 - Bobinho! Sei que foi sem querer. Do contrário já estaria com o olho roxo.

 Deu um beliscão na orelha dele e foi pegar algo sua mochila. Minato respirou mais aliviado. Tinha esquecido completamente de onde estava. Olhou para o outro lado e Haruka estava lá dormindo e ressonando levemente. Seu cobertor estava nos joelhos – ela sempre se mexia muito quando dormia – e o seu saco de dormir estava um pouco fora de suas costas.

 Mas como era de se esperar, a dorminhoca não tinha acordado ainda. Olhou para o céu e viu que talvez chovesse logo. Foi até a sua própria mochila e pegou sua garrafa de água para tomar um gole.

 - Ei!!! – gritou ele quando sentiu água caindo na sua nuca. Ao se virar viu Ayame ali com a garrafa na mão.

 - Isso é por ter se aproveitado de mim – disse ela rindo.

 Ele rosnou alguma coisa e pulou na sua direção, a agarrando na cintura e a jogando no chão. Esta não ficou parada e começou a socar as costas dele, as vezes agarrando seu cabelo. Ela gritou quando ele agarrou o cabelo dela e o puxou forte para trás.

 Com o corpo torcido enquanto tentava aliviar seus cabelos, viu os dedos dele indo para a sua cintura. Ficou em pânico e tentou se desvencilhar puxando a cabeça com força para a frente e até mesmo sentindo alguns fios de cabelo se partirem. Mas não deu tempo suficiente. No instante seguinte sentiu as cócegas na cintura e perdeu o fôlego e a concentração por completo, ficando imobilizada logo em seguida.

 Movia os pés em desespero enquanto ria sem parar com Minato com uma mão fazendo cócegas em seu ponto mais sensível do corpo e com a outra segurando seus pulsos as costas. Fazia tempo que ele não a vencia naquele jogo que faziam desde crianças.

 - Chega – disse ela entre os risos – desisto!.

 Ele a soltou e ficou respirando devagar.

 - É assim que vou acordar todo dia é? – murmurou Haruka ainda com os olhos pesados.

 - Tome cuidado, Haruka-chan – disse Ayame deitada enquanto se recuperava  da derrota que tinha sofrido – ou pode acordar com o Minato-kun apalpando os seus seios. Mas acho que ele vai esperar eles ficarem maiores para isso.

 Ele ficou vermelho novamente, ao passo que Haruka ainda com cara de sono olhou para o próprio peito, como se tentasse entender o que ela tinha dito. Olhou de volta para Minato que estava corado e fechou os olhos pensando em alguma coisa.  Por fim balançou a cabeça espantando o sono e foi pegar uma escova de dentes de sua mochila.

 Enquanto as duas cuidavam da higiene bucal e também dos cabelos – felizmente ele não tinha tanta necessidade assim de deixar os cabelos bem arrumados – ficou observando ao redor tentando imaginar onde o sensei deles estaria. Os tinha deixado treinando na véspera e apenas fez alguns comentários no fim do dia. Ele estava conseguindo fazer o clone das sombras muito bem, mas suas copias pareciam que não tinham cérebro. O que ele estava fazendo errado?

 - Bom dia crianças – disse a voz do sensei atrás deles, e todos se viraram na direção dele ao mesmo tempo.

 - Ora, ora – ele sorria – estão assustados? É bom mesmo. Estejam sempre alertas, crianças. Bom, antes de dizer a avaliação que vou fazer, isso aqui é para vocês.

 Ele jogou algo peludo e branco no meio dos três e ficaram observando aquilo. Era um coelho morto.

 - Tadinho – murmurou Ayame sentindo pena.

 - Esse coitadinho é o seu café da manhã – disse o sensei – a tarefa de vocês é tirar o couro, limpá-lo de suas entranhas e cozinhá-lo.

 As duas o olharam com cara de nojo – coisa que deixou Minato intrigado. Elas já tinham limpado galinhas na cozinha do orfanato antes. Qual era o problema?

 - Estão com pena só porque ele é fofinho? – disse ele com os braços cruzados – bem alunos, me deixem explicar.

 Ele olhou para trás e ele viu o que se aproximava. Era um clone do sensei com um grande galho de árvore. Ele se posicionou próximo aos troncos da área de treinamento e cravou o galho no chão. Depois disto desapareceu.

 - Minha avaliação será muito simples – começou ele tirando um pano preto do bolso e indo em direção ao galho – vou simular uma missão de proteção – ao chegar no galho, ele amarrou o pano neste e eles viram que era uma bandeira preta triangular muito comprida – esta bandeira é a missão de vocês. Terão cinco dias para se prepararem da maneira que bem entenderem. Poderão fazer armadilhas, poderão aprimorar os jutsus que lhes ensinei ontem, enfim, poderão usar tudo o que sabem. Ao fim deste prazo eu poderei aparecer a qualquer momento para destruir a bandeira. Se eu conseguir, vocês estão reprovados. Se durante estes cinco dias a bandeira ficar sem ninguém próximo a ela, eu vou me adiantar e destruí-la antes. Alguma pergunta?

 - O que isso tem a ver com o coelho? – perguntou Ayame ainda olhando a criatura morta com pena.

 - Vocês vão ter que comer nesse tempo, não? O coelho é só uma das opções. Há um riacho há uns quatro quilômetros daqui – ele apontou para trás com o polegar – onde podem pescar algo com sorte. E tem animais pequenos na floresta também. Pássaros, coelhos, esquilos, toupeiras... Não acho que vão morrer de fome. Mas se alguém for até a aldeia pegar comida, os três serão reprovados no ato!

 Minato olhou para suas amigas e as viu ficarem pálidas. Pelo jeito era no que estavam pensando.

 - A partir do quinto dia vocês terão que defender a bandeira por vinte e quatro horas. Se conseguirem, receberão minha aprovação. Até lá só precisam se preocupar em cuidar de que algum de vocês fique sempre próximo a ela. Claro – ele sorria – quando algum de vocês se aventurar na mata para caçar, pode ser que sejam atacados, então é melhor planejarem bem o que e como vão fazer. Os jutsus de ontem poderão ser muito úteis se os desenvolverem. Cinco dias é mais do que suficiente para isso.

  - Mas o senhor só ensinou dois jutsus! – disse Haruka assustada.

 - Que ainda não dominaram – retrucou ele – bem crianças, estou indo agora. Estão por conta própria. Decidam o que fazer, mas aconselho a preparem a sua comida primeiro.

 Ele fez um selo com as mãos e desapareceu em seguida.

 - Clone das sombras – murmurou Minato que se admirava em como era impossível diferenciar a copia do original.

 - E agora? – disse Haruka preocupada.

 - Bom.. – Minato olhou para suas amigas – sei que estão com pena do bichinho aqui – as duas olharam para a criatura de pelo branco com tristeza nos olhos – mas vamos ter que fazer isso. Duvido que hajam muitas frutas por aqui.

 - Não tenho coragem de tirar o couro dele – disse Ayame.

 - Eu tiro – prontificou-se Minato fazendo uma expressão azeda – e tiro as entranhas também, mas vocês cozinham!

 - Sem problemas – disse Ayame – vou pegar madeira para fazer fogo. Haruka-chan, me ajuda?

 - Certo – disse ela enquanto dirigia-se a sua mochila para guardar suas coisas.

 Ele pegou uma faca de sua mochila e observou as amigas andando em direção as árvores. Não tinha dito a elas, mas não seria a primeira vez que fazia aquilo. Um ano antes ele tinha feito o mesmo. Na época sentia-se já um pouco velho para participar daquele programa em que algum adulto cuidava de um dos órfãos do orfanato por um dia e já tinha pedido a diretora para não participar mais. Especialmente porque acreditava que ia se formar daquela vez.

 Que decepção acabou tendo. Praticamente toda a turma tinha sido reprovada. Mesmo se lembrando agora ele sentia a tristeza por aquilo. Lembrava-se de quando iam para o orfanato, todos cabisbaixos. As duas tinham lagrimas nos olhos e ele não estava longe disto.

 Foi quando sentiu uma mão no seu ombro. Quando se virou viu a líder do clã Hyuuga ali. Ela sorria de forma compreensiva para ele.

 Virou o coelho de barriga para cima e inseriu a faca no abdome, fazendo um corte continuo até o pescoço, como tinha aprendido. E tinha aprendido aquilo com ela. Tinha-a chamado de Hinata-mama, como estava acostumado. E quase chorou quando disse que tinha sido reprovado.

 Foi interessante como aquela foi a vez em que ela mais agiu como mãe para com ele. Disse-lhe muitas coisas para lhe confortar, mas o mais importante – e até estranho se for pensar bem - foi o convite que tinha feito para juntos passarem uns dias fora da aldeia.

 Ele acabou aceitando, imaginando que era uma forma dela tentar alegrá-lo. Qual não foi sua surpresa quando percebeu a segunda intenção dela. Dar-lhe um treinamento de sobrevivência no meio da floresta. Naqueles dias em que ficou com ela acampando aprendeu a caçar pequenos animais, a identificar frutas e raízes comestíveis, a como se mover na floresta tomando o cuidado de sentir tudo ao redor, e a como preparar animais caçados, coisa que estava fazendo agora.

 Ela tinha lhe dado um treinamento que iria ser muito útil no futuro, quando fosse um genin. E ela tinha certeza de que ele ia conseguir. Ele gostava muito dela, e estranhamente nem se lembrava de quando a conheceu pela primeira vez. Devia ter sido quando ainda era muito pequeno. Também não se lembrava de quando a chamou de Hinata-mama pela primeira vez, mas sabia que ela apreciava isto.

 As vezes, ficava um pouco sentida quando a chamava de Hinata-sama, e não de Hinata-mama. Só nunca entendeu porque era solteira. Chegou a ouvir comentários entre outras pessoas da aldeia sobre ela, e quase sempre era quando falavam também de Naruto. Será que ela e ele tinham algum relacionamento? Aprendeu na academia quem tinha sido ele e o que tinha feito, junto com histórias dos outros senins e heróis da quarta guerra. Mas nunca lhe contaram o bastante para entender o porque dele ser considerado com tanto respeito. Ayame e Haruka com certeza sabiam. Adoravam fofocar e ficar sabendo da vida dos outros, e com certeza foram atrás de detalhes sobre ele. Haruka inclusive parecia que o idolatrava.

 Ele por sua vez ficava mais impressionado com as historias que contavam de Kakashi. Um ninja que parecia poder copiar qualquer jutsu. Ele gostaria de poder fazer isso. Especialmente com aquele jutsu de clone das sombras. Iria treinar mais ele, estava tão impressionado com o que o sensei fazia que queria poder fazer o mesmo. Haruka parecia que já o estava quase dominando. O ultimo clone que tinha feito no dia anterior era perfeito, não queria ficar para trás. Mas era melhor agora se concentrar na refeição.

 Com o corte inicial, usou a faca para soltar o couro do coelho, como se lembrava da lição aprendida. Deixou este estendido sobre o solo e colocou a carcaça do coelho em cima, abrindo a barriga em seguida. Cortou os órgãos internos nos locais certos e com um simples movimento as víceras estavam sobre o couro. Uma forma limpa de preparar a caça. Sorriu ao se lembrar da mão de Hinata-mama segurando a sua e lhe mostrando todos os movimentos. Agora podia simplesmente usar o couro como embrulho e enterrar aquelas partes. Pensou em manter o fígado, mas lembrou-se que Ayame detestava qualquer tipo de fígado, mesmo de aves. Pegou uma kunai de sua bolsa na cintura e a dez passos de onde estava abriu um buraco para enterrar o couro do coelho junto com as partes que ninguém iria comer – a não ser que estivessem famintos, o que não era o caso ali. Colocou a carcaça pronta sobre uma das toras e limpou as mãos com a água de sua garrafa.

 Depois ficou olhando na direção onde as meninas foram. Já deviam estar voltando... será que tinha acontecido alguma coisa? Ou se perderam mesmo?

 Olhou para a bandeira balançando ao vento e considerou a possibilidade de ir atrás delas. Mas desistiu da idéia logo em seguida. O sensei com certeza o estava vigiando, se saísse dali ele destruiria a bandeira. Mas podia aproveitar e treinar aquele jutsu. Se fizesse um clone, este poderia procurar pelas companheiras enquanto ele ficaria ali.

 

-x-

 

 - Vergonhoso – disse Kiba com os braços cruzados observando os seus três genins dominados por Akamaru  - realmente vergonhoso.

 Um deles tentou se arrastar de sob a pata do grande cão, mas um rosnado o fez ficar imóvel.

 - Sabem o que eu devia fazer agora, não sabem?

 Olhou para os três meninos com o rosto muito sério. Todos olharam de volta com tristeza, até mesmo com medo.

 - No entanto... fiquei muito surpreso hoje. Ontem queriam se matar e hoje quando me aproximei para dar uma pausa no teste vi que fizeram um acordo para os três juntos tentarem por a coleira em Akamaru. Talvez....

 Olhou para eles e viu uma esperança surgir naqueles rostos. Uma esperança de que talvez nem tudo estava perdido.

 - Me diga uma coisa, foi idéia sua, Jiro?

 O garoto de cabelos negros apertou os lábios antes de responder.

 - Eu dei a idéia – disse ele – não íamos conseguir nada daquele jeito. Se os três pusessem a coleira ao mesmo tempo, você teria que aprovar os três.

 - Pensamento inteligente, mas pelo jeito não planejaram como fazer, não é? Dois podiam ter distraído Akamaru enquanto o terceiro tentava por a coleira.

 - Mas ai só um ia ser aprovado – disse Yoshi.

 - Verdade, foram minhas regras. Bem alunos, vim aqui para fazer uma pausa no teste. Notei ontem que não vieram totalmente preparados para cá. Apenas trouxeram equipamentos de combate, nada para passar a noite, para cozinhar, para caçar, nem comida trouxeram.

 - Não sabíamos que ia ser assim.

 - Eu disse para virem preparados, Ringo! – disse de forma dura – e preparados não é apenas armas. Quando vamos a uma missão, ficamos varias dias fora. Onde acha que dormimos, que comemos, que fazemos tudo o que precisamos? Acha que vamos de cidade em cidade?

 Os três se entreolharam. Pelo jeito ele tinha pegado os piores genins da turma. Será que os outros estavam com este tipo de problema também?

 - Akamaru, solte eles.

 O grande cão saltou para o lado de seu mestre e amigo e sentou-se despreocupado. Os três genins se sentaram onde estavam, observando-os atentamente aguardando o que iria ocorrer.

 - Vou dar uma pequena pausa no teste. Vocês estão famintos, com frio, doloridos de ter de dormir no chão e ao relento e com certeza desesperados por um banho. Então hoje eu posso fazer duas coisas: Ou continuo com o teste que com certeza não vão passar, ou posso dar uma pausa e lhes ensinar um pouco de técnicas de sobrevivência. O que escolhem?

 - Como técnica de sobrevivência vai nos ajudar? – perguntou Ringo coçando os cabelos curtos e cortados ao estilo dos Hyuuga.

 - COMIDA SUA BESTA! – disse ele sem paciência com tal ímpeto que os três se abraçaram de susto – Comida, água, abrigo, fogo... nossa... acha que técnica de sobrevivência é algum jutsu de defesa para sobreviver a um inimigo?

 Ele espalmou a mão no rosto quando viu os três se entreolharem encabulados. Eles não deviam estar pensando naquilo. Não poderiam...

 - Não acredito que recebi três aprendizes de Naruto como genins – murmurou ele para si mesmo.

 Tirou a mão do rosto e os observou. Ainda estavam sentados aguardando.

 - Ringo, use seu byakugan para localizar algum animal próximo. Pode ser um coelho ou passaro. Até um esquilo serve.

 - E o que vamos fazer? – perguntou Yoshi enquanto o colega obedecia ao pedido.

 - Caçar – disse ele – ou melhor, vocês vão caçar e eu vou observar. Quero ver se sabem trabalhar em conjunto como tentaram agora há pouco com Akamaru. E nem pensem em tentar por a coleira nele hoje. Meu teste está suspenso.

 - Caçar? – perguntou ele surpreso.

 - Sim, caçar, montar acampamento, fazer fogo, preparar um lugar para passar a noite. Vão aprender a fazer tudo isso hoje. Na minha época aprendíamos isso na academia.

 - Aprendemos – retrucou Jiro – mas só a teoria...

 Olhou para ele com um certo desdém. Jiro era o típico sabe tudo de uma escola mas era péssimo para aplicar o que tinha aprendido na pratica. Uma pena que esse tipo de ensinamento não era considerado como matéria essencial para um ninja. Desconhecia a existência um que não soubesse ou não precisasse de tais conhecimentos.

 Na sua opinião, qualquer genin antes de se formar tinha que saber caçar e preparar um acampamento, no mínimo.

 - Pode ser um javali? – disse Ringo.

 - Javali? Onde?

 Ele apontou com o dedo para a sua direita e ele apurou o faro naquela direção. Akamaru fez o mesmo, mas nenhum dos dois sentiu nada. Era raro um javali aparecer tão próximo da aldeia. Talvez fosse um desgarrado de algum comerciante de animais. Pensou um pouco a respeito. Olhou para os seus alunos e imaginou que chances teriam contra um javali. Uma mera kunai não ia ferir um animal destes mortalmente, e eles revidavam com fúria insana quem os ameaçava. Na verdade um genin que tinha acabado de se formar enfrentar um javali era quase uma missão de classe “B”.

 Mas eles eram em três... Se fossem espertos, poderiam dar conta.

 - Querem comer carne de javali hoje? – disse com um sorriso para eles – eu vou dar as dicas, mas são vocês quem vão ter de caçá-lo e prepará-lo.


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