Sonho Renascido escrita por Janus


Capítulo 3
Capítulo 3




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 Segurava sua lança com displicência e permitia seu corpo encostar-se na fria parede do calabouço. Isso seria uma falta de disciplina a ser punida severamente, bem como uma abertura para ser atacado pela prisioneira que estava vigiando. Mas isso não o preocupava, Não preocupava nenhum dos dois guardas. A prisioneira não ia a lugar algum mesmo que quisesse. Estava com a espinha quebrada e nunca mais poderia andar. Na verdade ficou deitada todo o tempo desde que tinha chegado. Assim foi em seu julgamento, durante as refeições, e até para fazer as necessidades. Estava definitivamente inválida.

 Ele preferia que o shinobi que a capturou tivesse feito o favor de a matar também, assim não precisaria ficar vigiando um quase cadáver no calabouço úmido e frio. Na verdade achava um absurdo a burocracia os forçar a perder tanto tempo para condenar a morte uma mulher que não havia duvidas era a culpada pela tentativa de assassinato de um dos lordes feudais.

 Mas ele era pago para isso. Era um dos mais confiáveis carcereiros e tinha sido selecionado pela sua ficha exemplar em manter os prisioneiros seguros. Daquela vez no entanto se sentia insultado.

 Olhou pra a mulher atrás das grades deitada no colchão ralo no piso. Ela sibilava conforme respirava, mostrando que sua garganta e pulmões também estavam feridos. Já estava praticamente morta e era mesmo uma tortura desnecessária tentar garantir que ficaria viva para ser executada em alguns dias. Devia ser por uma questão de honra ou de vingança. Ela tinha conseguido esquivar-se de toda a segurança e ferido o lorde feudal. Por pura sorte não o fez mortalmente, e precisou fugir em seguida.

 - Takai-san – disse seu colega chamando a sua atenção – acho que ela não passa desta noite.

 Ele grunhiu alguma coisa ininteligível com irritação e ficou de frente para a cela com grossas barras de ferro observando a prisioneira. Não era medico mas podia ver muito bem que ela parecia se esforçar muito para respirar, isso era o que causava o silvo que ouvia. Devia estar com liquido nos pulmões de novo.

 - Vá procurar o médico – disse ele ao colega – se ela morrer sem tentarmos salvá-la vamos ter que dar muitas explicações.

 O guarda olhou para a prisioneira mais uma vez e se afastou sem pressa. Ambos gostariam que ela morresse logo para poderem fazer algo mas útil além de uma vigília sem sentido como aquela.

 - Está acordada, mulher? – começou ele a chamando – não pense que vai morrer fácil assim. Eles querem a sua cabeça separada do pescoço. Pessoalmente eu faria isso agora, mas precisamos justificar os salários dos carrascos, dos juizes e dos que cuidam da prisão – ele grunhiu uma risada – portanto o médico vai vir logo para limpar o seu pulmão de novo.

 Ela soltou algum tipo de gemido, uma das raras vezes em que se pronunciava.

 - Ora, ora... uma reação. Será que você está melhorando? Sei que é uma kunochi habilidosa, e mesmo na sua condição não deve ser subestimada, mas acho que não poder mover as pernas e ter este colar que bloqueia essa sua magia a deixa em situação muito difícil, não é verdade?

 Ela não esboçou outro som, parecia que prestava atenção na conversa ou devia estar na mesma condição catatônica de antes.

 - Por sua causa eu estou aqui neste calabouço úmido. Sinto meus ossos doerem de tanta umidade. Normalmente eu não reclamo. Ah, não... costumo vigiar prisioneiros realmente perigosos, daqueles que podem ser resgatados por amigos. E para estes minha missão é clara! Matar o prisioneiro antes que seja resgatado. O mesmo devia valer para você. Infelizmente minhas ordens foram diferentes desta vez. Devo te manter viva. Devo chamar os médicos sempre que sua condição ameaçar piorar. Não sabe o quanto me irrita os melhores médicos do castelo estarem a sua disposição.

 Ele bateu a lança com força nas grades da cela, tentando chamar a atenção da prisioneira.

 - Sei que está me ouvindo – disse com uma voz mais autoritária – e também sei que seu treinamento ninja a torna uma mestra para manipular as pessoas. Você tanto pode estar sem forças como pode estar esperando eu vá até ai para fazer alguma idiotice. Não vou ser tolo de entrar ai sozinho. Entrarei junto com o médico, e meu colega ficará com a lança pronta para ser usada. Pessoalmente espero que esboce alguma reação desta vez, assim podemos te matar sem precisar temer a ira do lorde feudal. E vai ser bom para você também. Vai ficar livre desse sofrimento mais cedo.

 Ele ficou observando os seus olhos castanhos. Não estavam observando o teto como sempre faziam, estavam voltados na direção dele. Ela o estava observando daquela vez. Mas porque? Sempre tinha ficado aérea e ignorado tudo a sua volta antes.

 Segurou a lança em posição de ataque e olhou ao redor, prestando atenção aos sons e a qualquer odor ou brisa que pudesse sentir. Ele não era considerado um dos melhores carcereiros a toa. O olhar da mulher na sua direção indicava algo. Além disso, ela não estava mais sibilando quando respirava, mas o fazia mais devagar e de forma controlada. Ela estava concentrada em algo, algo na sua direção.

 Olhou o corredor onde seu colega tinha passado minutos antes. No piso havia apenas as pegadas dele marcadas na umidade. Nenhum ninja poderia andar ali sem deixar rastros, pelo menos ele acreditava nisso. Olhou para o outro lado e viu a parede no fim do corredor. Nada excepcional. O que a mulher estaria observando?

 Foi quando se lembrou de um detalhe dos ninjas. Apertou os dentes e girou sua lança com ambas as mãos para cima, quase sofrendo um infarto quando viu esta ser bloqueada por uma pessoa que estava ali.

 Deu um salto para trás com a lança a frente, suas mãos em posição para movê-la rapidamente para os lados. O oponente desceu do teto e o observava genuinamente impressionado. Usava calças pretas e uma camiseta relativamente folgada. Tinha uma bolsa na cintura e segurava uma kunai na mão direita. Não tinha dúvidas que era um ninja.

 - Você é mesmo bom, Takai-san – disse ele com um sorriso – muito melhor do que qualquer outra pessoa que encontrei que não fosse um ninja.

 - Alarme! – começou a gritar – Alarme! O calabouço foi invadido!

 - Não há ninguém para ouvir – ele arremessou a kunai e esta foi prontamente desviada pela lança – já estão todos mortos. Não eram bons como você.

 Arreganhou os dentes tentando se controlar. Estava sozinho contra ele. Mas tinha uma vantagem que deveria aproveitar ao máximo. Estava em um corredor estreito, e contava dele o subestimar no manuseio de uma lança em um local assim.

 Ele avançou fazendo estocadas com a lança e o ninja adiantou-se desviando essa com o braço, como esperava. Moveu-se rapidamente para trás enganchando a ponta em forma de gancho desta no seu ombro, o que causou uma pequena ferida neste.

 - Como eu disse, você é...

 Ele não terminou a frase. Dobrou o corpo para se desviar de outra estocada e precisou contorcer-se andando nas paredes e teto para evitar se ser atingido pela parte afiada, pois Takai a movera formando círculos. Quando percebeu que ele tentava aproveitar a esquiva de forma a se aproximar dele, deu outro salto para trás cortando-o novamente.

 Agora ele o olhava mais surpreso ainda, e sem o sorriso sarcástico nos lábios. Usou as duas mãos para arremessar kunais e saltou na sua direção. Takai usou a lança para desviar aquelas que iam para o seu tronco e ignorou a dor causada pelas outras que atingiram seus ombros e coxas. Mantendo a lança girando a sua frente o obrigou a se afastar novamente.

 - Já esta me irritando – disse ele com raiva.

  Aproveitou para atacar estocando e girando a lança em todo o espaço confinado do corredor. Sua única opção seria atacar pelo centro, e para isso estava preparado, bem como possuía uma armadura de couro protegendo o seu coração. Uma kunai não o atravessaria facilmente.

 Ele arremessou outra kunai que não ia diretamente para o seu corpo, por isso a ignorou. Seu primeiro erro. A kunai cravou-se no teto acima ele e percebeu que havia um papel nesta. O brilho neste lhe mostrou o erro que tinha cometido. Saltou para trás, mas ainda assim foi pego na explosão e acabou caindo ao chão de costas.

 Segurou a lança como uma vara para bloquear suas mãos que vinham para o seu pescoço. Conseguiu acertar a têmpora dele assim, e usando as pernas o chutou para longe. Mas esse também foi o seu segundo erro. Ele estava no chão e seu oponente estava afastado. Afastado o bastante para usar um jutsu.

 - Doton: Iwa Yado Kuzushi (Terra: Destruição da Cúpula de Pedra) – disse ele após fazer vários movimentos com as mãos. Ouviu um ruído acima dele e horrorizado viu as pedras do teto começaram a rachar e a cair.

 Usando sua lança como apoio, conseguiu se levantar antes de ser atingido por pedras maiores, mas quando se afastou, viu que estava preso. O teto tinha desmoronado e atrás dele o corredor terminava em um beco sem saída.

 Começou a andar em sua atual prisão e pensava no que fazer. Provavelmente seu oponente pensava que estava morto. E mesmo que não pensasse, não poderia chegar onde estava de forma silenciosa. Além disso sua prioridade devia ser a prisioneira. Não ia perder tempo com ele.

 Era nisso que pensava quando sentiu uma presença atrás de si e moveu a lança com ímpeto nesta direção, por puro instinto mirando onde deveria ser a barriga do oponente.

 Era ele! De alguma forma tinha passado pelas pedras que bloqueavam o corredor. Olhou para suas mãos e a lança que estas seguravam que estava firmemente cravada em sua barriga, chegando a ficar presa em algumas das pedras atrás dele.

 - Impressionante – falou ele pouco antes de se transformar em rocha e desfazer-se diante de seus olhos.

 Olhou aquilo impressionado. Sabia que ninjas podiam fazer coisas inacreditáveis, mas não sabia o quanto. Ele o tinha realmente matado ou não? Ficou pensando demais nisto quando percebeu que devia continuar em guarda. Quando tentou mover sua lança viu que esta estava presa nas rochas. Apoiou os pés nesta e tentou retirá-la.

 Foi quando sentiu uma nova presença atrás dele. Largou a lança e tentou acertá-lo com um soco de sua mão que estava calçada com luvas de metal, mas foi desviado facilmente e sentiu baques surdos e fortes em seu peito, deixando-o sem ar e incapaz de evitar cair no chão de joelhos.

 - Realmente você me deu trabalho – disse seu oponente – seu eu pudesse deixar testemunhas eu o deixaria aqui. Mas para seu azar não vai ser possível.

 - Doton: Iwa Yado Kuzushi (Terra: Destruição da Cúpula de Pedra) Novamente ele fez aqueles movimentos com as mãos, e agora todo o teto do corredor em que estava tremia e rachava.

 - Vai ser rápido, não se preocupe – disse ele ao mesmo tempo em que afundava no piso de pedra.

 Olhou para cima e viu as pedras caindo. Fechou os olhos e assumiu uma expressão de resignação. Falhara em suas ordens, mas tentou cumpri-las dando o máximo de si.

 Algumas das pedras menores machucaram suas costas. Uma grande caiu em seguida partindo os ossos do crânio e do pescoço. Sua morte fora instantânea.

 

-x-

 

 Olhou para a bagunça de seu quarto. O quarto que fora seu reduto por toda a vida. O quarto que dividia com mais três meninas. Nunca mais voltaria para ele. Pelo menos, era o que esperava.

 Quando se formou genin sabia que ia morar sozinha, que ia sair do orfanato. Teria um quarto só para ela cujo aluguel ou futura compra seria paga com as missões que faria. Chegou a ficar um pouco triste quando soube disto, afinal tinha sido o seu lar, o lugar onde guardava seus segredos, onde confidenciava coisas com as amigas, e onde também planejou muitas de suas travessuras.

 Pelo menos, era o que acreditava até o dia anterior. Se não fosse aprovada voltaria para àquele quarto. Se não fosse aprovada teria talvez mais uma ou duas chances de tentar novamente, e depois... teria que fazer outra coisa. Duvidava que pudesse continuar tentando quando estivesse com quinze anos. Não era justo! Ela tinha provado que era capaz, porque tinham que fazer isso?

 Olhou para suas colegas de quarto dormindo profundamente. Gostava de se exibir para elas com alguns truques ninja que tinha aprendido, ou de exibir sua habilidade em arremessar kunais usando as facas da cozinha.

 Era conhecida apenas como Ayame. Não tinha nome de família, ninguém sabia quem eram os seus pais. Mas havia outras cinqüenta crianças na mesma situação, tinha sido fácil crescer daquele jeito com tantos colegas iguais.

 Fechou a sua mochila cheia de coisas. Isso não tinham ensinado na academia, que tinha que carregar o seu equipamento – que não era pouco – por todo o lado, e que uma mochila era o ideal para isso. também não imaginava que ficaria tão pesada. Colocou-a nas costas e a prendeu bem nos ombros e cintura. Era uma mochila que tinha pegado no arsenal, tinha compartimentos internos para manter separados os equipamentos e muitas bolsas do lado de fora para deixar outras coisas mais a mão. Também tinha um cinto que segurava uma bolsa que decidiu deixar as suas costas e outra bolsa presa na sua coxa direita, como todo ninja da aldeia o fazia. Tinha desmanchado sua bandana e a costurado na perna da coxa esquerda de sua calça. Queria ser diferente. Pensou em prendê-la no braço, mas outros já faziam isso. Na coxa por outro lado, nunca tinha visto ninguém a usar. Minato com certeza a usaria na testa, já Haruka ela tinha dúvidas, mas logo ia descobrir.

 Pensou de novo se devia levar o equipamento para acampar. O sensei disse para estar preparado para tudo, mas ainda achava que estava sendo previdente demais. De qualquer forma era melhor pecar pelo excesso.

 Antes de sair deu uma olhada em si mesma no espelho rachado do quarto – culpa dela quando ainda era mais jovem e treinava arremessar kunais ali – os cabelos negros estavam bem penteados e seus olhos com uma leve sombra estavam lindos. Talvez fosse a ultima vez que poderia se preocupar tanto com a aparência, era melhor aproveitar.

 Bom, era hora de ir com seus colegas. Tinha a vantagem que todos eles moravam no mesmo orfanato, assim era só ir no quarto deles e os chamar – ou acordar, se conhecia bem Haruka – e seguirem rumo a área de treino.

 - Adeus meninas – murmurou vendo suas colegas dormindo. Já tinha se despedido delas na véspera, dizendo que ia começar a sua vida de genin. Prometeu visitá-las de vez em quando.

 Abriu a porta e tomou um susto. Haruka e Minato já estavam lá esperando por ela.

 - Não disse que ela ia perder tempo se embelezando? – disse Haruka para Minato com um sorriso bobo.

 - Não acredito que acordou cedo – exclamou ela com os olhos arregalados.

 - Eu acordei ela – disse Minato – e não acredito que ela ronca.

 - Então é ela? - olhou para a morena e a viu ficar corada – pelo menos resolvemos o mistério dos roncos do orfanato...

 - É só quando durmo de bruços – retrucou ela de cara amarrada – e nem é alto assim...

 Os dois riram um pouco daquilo. Olhou para eles e viu que estavam preparados como ela. Haruka usava a bandana presa no braço direito – tinha feito bem em por a sua na coxa – Minato a usava na testa, e combinava bem com o rosto dele. Mas...

 - Onde arrumou esta roupa? – perguntou ela surpresa. Não estava usando o já desgastado conjunto azul, mas um preto e com faixas laranjas nos braços e pernas, bem como uma no centro to tórax.

 - Isto? – ele segurou na gola da camisa – Hinata-mama me deu. Disse que tinha guardado para quando eu fosse um genin. O que achou?

 - Até que é bonito – disse ela o observando bem. E ele estava mesmo bonito naquela roupa com os cabelos loiros com um clássico penteado liso e aqueles olhos azuis anil. Chegou mesmo a suspirar levemente. Talvez o “louraço” de sua vida não a decepcionasse afinal. Mas ela queria conquistar muita coisa antes de se preocupar com sua vida amorosa. Era difícil lutar contra seus hormônios, mas sabia que ia conseguir.

 Mas se não conseguisse, pelo menos teria um belo premio de consolação.

 - Ayame-chan?

 - Eu estou bem – disse ela virando-se de costas para eles e andando pelo corredor rumo as escadas antes que seu rosto vermelho a traísse – vamos indo. Ainda temos que passar na cozinha.

 Chegaram ao hall de entrada do orfanato e para a surpresa de todos, encontraram a diretora ali. A velha senhora os observava com um sorriso de tristeza, ao mesmo tempo em que parecia estar alegre.

 - Achavam que iam embora sem se despedir? – comentou ela.

 - D-diretora... – ela fazia uma careta com os lábios sem saber como agir naquele momento. A diretora sempre ficava maluca com as coisas que eles aprontavam as vezes, e tinha ficado pior depois que foram para a academia e aprenderam algumas técnicas ninja.

 Por outro lado, tinha sido a única que adorava quando faziam aquele jutsu que agora estavam proibidas de fazer.

 - Ora... - começou ela maneando a cabeça – sempre gritei e os puni por suas travessuras, mas nunca me esqueci que eram crianças como eu já fui um dia. E vou sentir falta de vocês... – seus olhos estavam mareados – serão os primeiros a partir.

 - Yuko-sama – começou Minato hesitante.

 - Não se preocupem comigo – continuou ela – apenas estou triste e contente porque são os primeiros a desbravarem o mundo por conta própria. Foram atrás de seus sonhos e conseguiram. Seus amigos tentaram, mas perceberam que não era bem o que queriam, ou simplesmente desistiram, mas vocês perseveraram e aqui estão. Meus pequenos ninjas. Os primeiros e talvez únicos genins que saíram deste orfanato.

 Ayame lembrou-se de quando tinha ido para a academia. Na verdade o primeiro a por isso na cabeça tinha sido o Minato. Outros acharam divertido ou excitante, ou até mesmo que seria uma experiência diferente – como ela – e o seguiram. No primeiro ano eram treze as crianças do orfanato estudando ali, no segundo apenas oito continuaram. No final apenas os três conseguiram. E isso porque foram persistentes após a primeira reprovação. Os outros desistiram.

 - Mas minha tristeza não é só porque estão partindo. Mas porque sua partida anuncia que em poucos anos este orfanato deixará de existir.

 - Como assim?

 - Haruka-chan – começou ela de forma meiga – este orfanato foi criado unicamente para cuidar dos órfãos da quarta guerra. Sempre houve alguns órfãos na aldeia, mas eram poucos e geralmente os clãs podiam cuidar deles ou eram cuidados pela ANBU ou pelo escritório do hokage. Mas nesta última guerra houve muitos órfãos. Tantos que era necessário a criação de um lugar apenas para cuidar de todos. Mas já se sabia desde o começo que quando todos fossem adultos, o orfanato seria desativado. Talvez nunca tenham percebido isso antes, mas toda esta construção, tudo aqui foi feito apenas para vocês. Os outros já estão estudando e decidindo o que querem fazer quando crescerem. Mesmos seus colegas que não continuaram na academia, alguns deles encontraram uma vocação mais adequada. É apenas por isso que fico triste. Depois de mais de uma década com vocês, os considerava meus filhos. E é como mãe que me despeço, e como eu gostaria que se despedissem.

 Eles se entreolharam por alguns segundos, mas Ayame foi a primeira a agir, logo seguida pelos outros. Pulou nos braços da diretora e a abraçou forte. Com o peso dos outros dois a idosa senhora caiu sentada no chão, mas não reclamou. Estava rindo e com um ou outro filete de lagrimas nos olhos.

 - Essas são as minhas crianças safadinhas... que tal me derem um ultimo presente daquele jutsu sem vergonha que fazem?

 - Estamos proibidas de fazer isso – disse Haruka assustada.

 - Eu não conto para ninguém – disse ela piscando o olho.

 As duas se entreolharam e sorriram de forma sapeca. Minato arregalou os olhos e se afastou.

 - Ei! Nem pensem nisto!

 Elas o ignoraram. Em um segundo fizeram o jutsu e ele cruzou os braços aborrecido. Se ele falasse algo, também seria reprovado, por isso elas sabiam que ele ficaria quieto a respeito.

 - Não sabia que a senhora era pervertida também, diretora – resmungou ele.

 - Já fui jovem, Minato-kun – ela sorria para ele – e poder ver homens nus lindos assim me fazem voltar àquela época.

 - Os homens ficavam pelados na sua época? – perguntou Minato com os olhos arregalados.

 A velha senhora apenas gargalhou sem ser capaz de responder a pergunta.

 - Agora chega meninas – ela ficou séria – vocês devem ter hora para chegar.

 - Ainda é cedo – Ayame falava enquanto observava que ainda estava escuro do lado de fora – ainda vamos pegar comida na cozinha e depois partiremos.

 - É, não sabemos se vai ter comida onde vamos, ou se vamos ter tempo de comer – acrescentou Minato – vamos pegar alguns bolinhos de arroz e talvez até mesmo fazer um bento.

 - Vamos fazer três – disse Ayame olhando para ele – ou mais. Acho que vamos dormir por lá também. De qualquer forma, não vamos voltar a morar aqui, já sabemos disto. Só não pegamos todas as nossas coisas porque ainda não sabemos para onde iremos.

 - Vou deixá-las guardadas para vocês – disse a velha e simpática senhora – e quanto a refeição, vou com vocês ajudá-los. Afinal talvez seja a última comida que pegam daqui.

 - Se tem uma coisa que sempre foi gostosa aqui, é a comida do orfanato – disse Minato de forma alegre.

 Uma hora depois os três saíram do orfanato cada um com uma grande caixa quadrada na mão. Não era só o almoço, mas jantar e ceia que estavam levando. Dentro havia gelo para conservar a comida por um bom tempo. Só precisavam lembrar de deixar protegido do Sol.

 Na entrada da aldeia perguntaram aos vigias como chegar ao campo de treinamento nove. Ouviram a explicação e foram andando sem pressa para lá. Eram por volta das oito horas da manhã quando eles avistavam três toras de madeira formando um semicírculo em uma pequena clareira que surgiu após andarem pelo meio de muitas árvores. Devia ser aquele o local. E não estavam tão próximos da aldeia como esperavam. Estavam na verdade bem distantes.

 - Bem, aqui estamos, espero... – disse Ayame.

 - Se erramos de local vamos descobrir logo – disse Minato soltando a mochila das costas e pulando em cima de uma das toras, sentando-se nesta em seguida – ah... Que bom poder tirar esse peso dos ombros.

 As outras fizeram o mesmo que ele, mas preferiram sentar-se no chão. Colocaram os bentos na sombra das toras, e Ayame fez o mesmo com o do Minato. Agora era só aguardar a chegada do sensei.

 Não foi preciso esperar muito, apenas meia hora. Ele tinha dito para estarem ali na parte da manhã, mas não tinha especificado o horário. Ele saiu por entre as árvores e se aproximou deles devagar. Diferente deles, ele não trazia nenhuma mochila as costas, coisa que deixou Ayame irritada. Então era para estarem preparados para tudo? Pelo jeito ele não estava. Vantagem de ser sensei, imaginava. Sabia o que ia ocorrer e por isso não precisava trazer coisas que sabia que não iria usar.

 - Bom dia, meus genins. Vejo que se prepararam – ele olhou para as mochilas deles no chão e depois para as caixas com comida – isso quer dizer que meu trabalho ficou bem mais difícil do que eu esperava...

 Ele deixou a frase no ar, dando a entender que ia dizer mais alguma coisa. Por isso todos ficaram quietos.

 - Sei que me atrasei um pouco, mas eu quis aproveitar e ver como os outros senseis estavam agindo. A maioria já está avaliando os genins. Confesso mesmo que pensei em fazer a prova dos guizos com vocês hoje.

 - Prova dos guizos? – perguntou Minato olhando para ele.

 - Sim, estes guizos aqui – ele mostrou dois guizos presos com barbantes e os balançou um pouco, fazendo-os tilintar – é uma tradição entre os alunos treinados pelo meu avô e seus discípulos subseqüentes. Desde os primeiros senins lendários, o quarto hokage, Kakashi-sama que vocês com certeza devem conhecer mais como “copy-ninja”, e por fim, a nossa atual hokage e Naruto, que foram ambos alunos de Kakashi-sama. É muito eficiente para fazer a primeira avaliação dos genins.

 Os três ficaram quietos quando ele disse aquilo. Os senins lendários foram avaliados com aquilo? Inclusive Naruto?

 - Parece que chamei a atenção de vocês – comentou ele os observando -  na minha vez não cheguei a ser avaliado desta forma. Meu sensei não foi um dos que foram avaliados assim. Mas como foi meu avô quem começou, seria justo eu aplicar em vocês. Assim se algum dia um de vocês tiver seus alunos, poderão continuar com esta tradição. Pessoalmente eu não gostaria que ela acabasse.

 - Como funciona? – Haruka estava curiosa.

 - Simples – ele jogou os guizos para o alto e os pegou com a mão - os genins devem pegá-los do sensei. O genin que não tiver um guizo até o fim do dia, está reprovado.

 - Então o senhor fica com três guizos e teríamos que pegá-los?

 - Não três, mas dois guizos. E sim, teriam que pegá-los, e poderiam usar qualquer meio para isso.

 - Mas são dois guizos e somos em três...

 - Essa é a avaliação – ele estava com o olhar frio naquele momento – mas vou contar o segredo.  O importante não é realmente obter os guizos, mas avaliar o que fazem para isso. Se trabalham em equipe, se um tenta obter vantagem sobre o outro, se lutam entre si...  - olhou para eles com um sorriso - mas não é a avaliação que farei com vocês, por isso estou explicando-a. Mas a minha prova será similar.

 - Pensei que ia nos ensinar jutsus – disse Haruka demonstrando preocupação.

 - E vou. Tudo ao seu tempo. Vou ensinar alguns jutsus, mas também irei avaliá-los, é uma das minhas funções. Vocês já começaram com uma grande vantagem sobre os outros. Não só já se conheciam antes da formação do time como já faziam traquinagens juntos. Portanto um teste de trabalho de equipe e confiança entre vocês seria inútil. Assim só me sobra avaliar a capacidade e a vontade de todos. O teste dos guizos não me daria essa resposta.

 - Não sei porque, mas isso me lembra de como provas com consulta são difíceis... – comentou Minato coçando a cabeça.

 As duas olharam para ele mas ficaram quietas. Ambas concordavam.

 - Bem, vocês conhecem o básico dos básicos – disse ele voltando a se aproximar – agora vamos ver se aprendem algo difícil. Acho que todos aprenderam a fazer clones, certo?

 - Truque para distrair o inimigo – disse Haruka – aprendemos sim.

 - Mas talvez não saibam como pode ser útil um uso avançado disso – disse a voz dele mas estava atrás deles agora. Quando se viraram viram um outro sensei ali de braços cruzados.

 - Belo truque – disse Minato – mas é fácil saber quem é o verdadeiro.

 - Mesmo? – ele sorriu – então me mostre.

 Ele saltou de cima da tora e agarrou o sensei que estava atrás deles nos ombros.

 - Esse é o verdadeiro – disse ele olhando para o outro – clones são só ilusões.

 - Me pegou – disse o que devia ser falso dando dois passos e pegando um dos troncos com as mãos e o levantando – ou será que não?

 Olhou aquilo não acreditando. Se o que estava tocando era sólido, como o outro podia segurar a tora?

 - Clone elemental – disse Haruka com a boca torta, sem ficar impressionada – aposto que é doton.

 - Quase isso. Kage bunshin no jutsu – disse ele e mais dez clones apareceram.

 Dez clones que provaram que eram sólidos. Seja pegando nas mãos deles, seja agarrando seus narizes, seja derrubando as toras.

 - C-como?

 - Clone das sombras, Haruka-chan – disse ele fazendo todas as cópias desaparecerem em seguida – nem mesmo o byakugan pode determinar o verdadeiro. Na pratica o clone que vocês aprenderam é uma forma de distração, mas o kawirimi é melhor. Mas o clone das sombras é sólido, e pode até mesmo fazer jutsus. Tem suas limitações, mas pode ser de grande auxilio se usado corretamente. Mas como eu disse ontem, é um dos jutsus que precisa do praticante certo para ser usado. E é um dos jutsus que quero que pratiquem por hoje. Logo saberemos quem de vocês pode fazê-lo e quem não pode. Um dos problemas é que ele consome bem mais chakra que o clone normal. Não será útil para vocês se os deixarem esgotados. Amanhã eu vou dizer qual será a avaliação que vou fazer. Se aprenderem a fazer este jutsu, pode vir a ser bem útil na avaliação. Mas aviso que entre fazer e dominar a técnica existe uma grande diferença!

 Os três prestavam toda a atenção possível nele. Depois daquela demonstração, estavam loucos para aprender, ou pelo menos fazer o possível para tentar.


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Notas finais do capítulo

Para quem leu a fic Sonho Morto, a mulher resgatada da prisão é a mesma que Konohamaru capturou.