Sonho Renascido escrita por Janus


Capítulo 39
Capítulo 39




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Finalmente a entrada da aldeia estava a vista. Os gennins estavam cansados e impacientes da longa viagem – que acabou ficando mais longa devido a terem de carregar os corpos dos nukenins mortos. Já os chunnins do time Moegi estavam mais controlados e até que apreciaram a demora adicional para voltar – menos Isaki que ainda se condenava pelo seu “fracasso”. Por mais que a sensei dela tenha tentado animá-la e mostrado que tinha feito bem mais do que esperava dadas as circunstancias, não conseguiu diminuir a sua frustração.

Na verdade, até Haruka ainda se sentia um pouco chateada com aquilo, ao mesmo tempo em que tinha certo orgulho pelo elogio de seu sensei referente a forma como ela agiu e pela inveja de seus colegas.

Mas a verdade era que apesar dos perigosos nukenins terem sido eliminados, não conseguiram trazer um deles vivo, o que poderia dar muitas respostas as duvidas que estavam surgindo. Mesmo os gennins do time seis estavam estranhando a quantidade de incidentes com ninjas que tinha ocorrido. No entanto, não era isso que incomodava Moegi, mas sim o fato de que seu alvo estando muito ferido ter decidido ir atrás do colega ao invés de se tratar. Sentia que seu objetivo era matar o companheiro para não obterem informações, e nesse sentido, acabou tendo sucesso.

Pararam logo após a entrada da aldeia e Isaki e Ayame que estavam na sua vez de arrastar a maca que tinham feito para carregar os corpos, largaram esta com cuidado e se espreguiçaram um pouco. Chegaram a comentar que tinha sido um bom exercício no fim das contas, mas Minato e Ayame ainda não entendiam bem porque o sensei deles não os deixou fazerem clones para carregar os corpos. Teria sido mais fácil rápido.

Era nisto que Minato pensava quando entrou pelo portão da aldeia e sorriu levemente. Estava em casa finalmente. E apesar de não ter feito muita coisa – quando se encontraram com a namorada de seu sensei, aquele a quem estavam enfrentando já tinha fugido – se sentia cansado. Deu alguns passos adiante e depois parou um pouco confuso. Os senseis de ambos os times estavam parados ainda no portão olhando as coisas ao redor com uma clara preocupação, e ele não entendia o porque.

- Sensei? – chamou ele se aproximando e tentando entender o que o perturbava.

- Tem muitos guardas no portão – murmurou ele lentamente – algo aconteceu. Moegi-chan, vai ver a hokage e relate o que houve, vou com meu time levar os corpos para serem estudados.

Ela deu um leve beijo na boca dele dizendo um “obrigada” e seguiu para o prédio da hokage, sendo acompanhada de seus chunnins. Minato e Haruka se entreolharam, imaginando que era a vez deles de arrastarem a maca improvisada onde os corpos estavam amarrados. Mas para a surpresa de ambos, o sensei deles pegou os corpos e os colocou um em cada ombro, e seguiu com eles em direção ao hospital sem dizer nada. Um pouco confusos os gennins o seguiram, e pelo caminho notaram que havia mesmo mais shinobis nas ruas do que o usual, e que não estavam meramente andando por ali, estavam de patrulha mesmo. Mas o que tinha ocorrido enquanto estavam fora?

Na entrada do hospital haviam guardas ANBUs que impediram a sua entrada direta. Seu sensei explicou para eles o que faziam e sob a vigilância de um deles, levaram os corpos até o necrotério onde depois de alguns exames iniciais feitos por alguns enfermeiros, terminaram sendo colocados em gavetas frias para serem conservados. Logo depois apenas Haruka e Shiromaru permaneceram no hospital para um exame de rotina devido ao combate que tiveram, sendo acompanhadas pelo sensei. Tanto Minato como Ayame precisaram ficar do lado de fora sem nenhuma explicação adicional. A mente de ambos ficava imaginando milhares de coisas para explicar a inusitada situação, chegaram até mesmo a comentar entre si se a hokage tinha sido atacada – uma vez que haviam muitos ANBUs no hospital e apenas pacientes podiam estar lá, sendo proibida qualquer visita.

Ficaram ali de braços cruzados por alguns minutos, tentando imaginar o que fazer a seguir, ou tentando imaginar quem poderia lhes contar o que estava acontecendo. Súbito Minato estalou os dedos e chamou Ayame para ir com ele. Ele tinha se lembrado de alguém que iria acabar dizendo alguma coisa.

Especialmente depois que falassem como Haruka tinha se dado bem enfrentando um nukenin perigoso como aquele.

- x –

A segurança estava reforçada no prédio da hokage, de tal forma que Moegi imaginava se tinha ocorrido algum ataque na aldeia, mesmo não tendo visto nenhum sinal de tal coisa. Só podia imaginar que havia alguma ameaça real por ali, e que acabaram decidindo ficar em alerta por algum tempo.

Apesar de não ter sido barrada na entrada, ela imaginava que talvez sua mestra estivesse ocupada, coisa que se confirmou quando viu dois guardas diante da porta de seu escritório. Ela apertou os lábios e ficou um pouco resignada, mas para a sua surpresa um dos guardas entrou pela porta assim que a viu e momentos depois saiu e a chamou com a mão, sendo que assim que ela passou por ele, notou que esse mesmo guarda impediu o resto de sua equipe de acompanhá-la.

- Mestra...? – murmurou ela vendo-a sentada na sua mesa com Koharu sentada diante dela. Shikamaru estava do lado desta, e também haviam alguns shinobis ali fazendo provavelmente a segurança. Felizmente seu murmúrio não interrompeu a conversa deles. Se o guarda a chamou para entrar era porque alguém ali queria falar com ela. E apostava que seria a hokage.

- ...mais ao norte, mas nenhum sinal de que tenham acampado pelo caminho. É como se estivessem fugindo desesperados – tinha terminado Shikamaru de falar e cruzou os braços em seguida.

Observou sua mestra olhar para baixo e apertar os lábios pensativa. Mas esta não tinha dito nada ainda.

- Conveniente demais – disse ela por fim olhando em sua direção e indicando com a mão para que esperasse um pouco antes de se dirigir a ela.

- Concordo – respondeu Shikamaru – mas os fatos falam por si. Por mais incrível que possa parecer, estou inclinado a acreditar que foi uma coincidência.

- A morte do viajante solitário no entanto não se encaixa nessa hipótese – disse Koharu em sua voz arrastada e insensível – estava muito distante da caravana para pertencer a ela. Estou desconfiada se foi realmente uma coincidência ou um elaborado plano para distrair nossas defesas.

- Você desconfia até de seu reflexo no espelho – alfinetou Sakura com um sorriso amarelo.

- É o meu trabalho – a anciã sorriu divertida – mas independente disto, gostaria que revisasse sua decisão referente ao exame chuunin.

- Não vou discutir isso de novo – a voz dela estava mais incisiva e um pouco rude – reconheço que o que houve tão próximo do exame começar é preocupante, mas até o momento parece mesmo que não foi nada direcionado a nós.

- Teremos certeza após interrogarmos a sobrevivente – tornou Koharu com claro desgosto – creio que deseja conversar com sua discípula – ela a olhou com aqueles olhos frios e Moegi sentiu calafrios com isso – ela está inteirada de... de tudo?

Havia um tom confidente naquela pergunta, e considerando a hesitação proposital que ela fez na frase, tinha certeza de que não era referente a esse excesso de segurança atual. Tudo o que? Do que ela estaria falando?

- Não – respondeu Sakura ainda de forma seca.

- Entendo - ela começou a se levantar e demonstrou o quanto isso lhe era difícil – vamos Shikamaru, não há mais o que possamos fazer aqui.

Aguardou pacientemente a anciã sair do recinto, e parecia que sua mestra não via a hora dela sumir de vista. Mas a simples presença dela ali já era um claro sinal de que algo estava muito errado. Quando ela saiu, os shinobis que ali estavam dentro também saíram ao um sinal da hokage e ambas ficaram sozinhas na sala.

- Bem Moegi-chan – começou ela abrindo a gaveta e já enfiando a garrafinha de saque na boca – me dê alguma boa noticia, por favor.

- Me desculpe – ela mordeu os lábios e ficou sem jeito – nós.. eu não consegui nenhum prisioneiro. Eles... eles preferiam morrer a se deixarem capturar.

Viu sua mestra deixar a cabeça cair e bater levemente na mesa. Pelo jeito, ela estava com vários problemas a cercando e queria desesperadamente alguma coisa para aliviar isto.

Por uma hora Moegi explicou como foi a missão e o que ocorreu nesta. Sakura ficou muito estranha quando soube que o nukenin foi atrás do prisioneiro de Isaki em vez de tentar fugir ou se tratar, e socou a mesa com raiva quando disse que no fim o prisioneiro dela acabou morrendo dos ferimentos.

Ficou observando sua mestra beber todo o resto da garrafa de uma vez e começou a se preocupar se ela acabaria por ficar como sua antecessora.

- O que houve na aldeia? – perguntou de forma delicada, já antecipando que ela talvez não fosse responder.

- Uma caravana foi atacada... ou melhor, foi chacinada no perímetro de defesa da aldeia – disse ela cruzando os braços e virando a cabeça para observar a grande janela de seu escritório – mas nenhum de seus integrantes era da aldeia, e muito menos conhecido.

- Então... o que faziam aqui? – questionou ela confusa sobre aquilo.

- Até onde apuraram era uma caravana seguindo viagem que deve ter sido atacada e fugiu de seus perseguidores. Identificaram partes da carga bem distante da aldeia e na rota onde muitos comerciantes e andarilhos usam, o que segundo Shikamaru, indica que a perseguição começou bem distante de nós. Na fuga acabaram entrando na trilha que chega a aldeia, onde os seus perseguidores os alcançaram. Quase todos estavam mortos quando foram localizados, ou melhor, estavam mortos quando o alarme foi dado. A melhor possibilidade segundo Shikamaru foi que os atacantes deviam ser bandidos bons em usar espadas e lanças, provavelmente antigos guardas do exercito do senhor feudal. Mataram todos com extrema rapidez e tiraram todos os valores que podiam carregar. Mas houve uma sobrevivente – Moegi arqueou os olhos ao ouvir isso – Shizune a esta observando agora. Ela teve muita sorte da espada não ter sido retirada, isso impediu que morresse de hemorragia.

- Eles deixaram uma espada para trás? – Ela ficou um pouco intrigada com isso.

- Ela ficou presa no solo. Deviam estar com muita pressa mesmo. E é isso que realmente me incomoda em todo esse incidente... porque estariam com pressa? Não deviam saber que a aldeia da Folha estava próxima, muito menos que ninjas seriam enviados para ver o que ocorria. No entanto... tudo indica que mataram a todos, pegaram o que queriam e correram desesperados em fuga, chegando a matar um viajante solitário pelo caminho. O grupo encarregado de persegui-los acredita que foram até a aldeia de Ryushin. De lá não há como saber para onde prosseguiram.

- Mas porque a aldeia ainda está em alerta?

- Apenas por precaução. Não me dou bem com Kahoru, mas concordo com ela que o incidente é muito estranho. Pode muito bem ser para nos distrair.

Viu sua mestra se levantar e espreguiçar-se um pouco, mostrando que devia estar sentada ali já fazia um bom tempo.

- Tem sido um problema atrás do outro nas ultimas semanas, quase como se houvesse uma conspiração para me impedir de ir ao exame chuunin.

- Mestra? Você... planeja ir ao exame? – estava surpresa com aquela confissão. Devia ser por isso que Kahoru estava ali, queria usar o incidente para que ela ficasse na aldeia. Mas considerando o que ouviu da conversa, não haviam argumentos fortes o bastante para isso.

- Bom, o raikage quer falar comigo, não? – ela sorriu divertida – alem disso, Minato vai estar lá... eu... preciso estar presente.

Ela parecia um pouco distraída quando disse aquilo, como se não quisesse dizer nada a mais. Era verdade que Minato iria estar lá fazendo o exame, mas acreditava que sua mãe verdadeira iria estar muito mais interessada em ir que sua mestra. Será que ela o encarava como se tivesse “adotado”?

Por mais que pudesse ser possível – afinal, ela também participou do programa de cuidar de um órfão por dia do orfanato – não acreditava em tal coisa. A não ser que Hinata não pudesse ir por algum motivo. Talvez ela só estivesse usando isso como desculpa para se encontrar com o raikage mesmo.

- Moegi – chamou ela interrompendo seus pensamentos – Shizune está acompanhando a recuperação da sobrevivente. Gostaria que fosse até lá e se inteirasse de qualquer coisa que ela possa ter descoberto. Eu vou até a sede da ANBU discutir se iremos manter o alerta da aldeia por mais algum tempo.

- Sim mestra – respondeu ela um pouco reticente – mas... não acha que Kahoru-sama está certa em se preocupar?

- Como eu já disse – ela sorriu – eu concordo com ela que o incidente é muito suspeito... mas se for algo que alguém está fazendo para me impedir de sair da aldeia – seu rosto ficou mais sério – então é um motivo a mais para que eu vá, não acha?

Havia uma certa lógica ali que não podia discutir. Mas se alguém queria que sua mestra não fosse presenciar o exame chuunin, até onde tal pessoa estaria disposta a ir para isso? Subitamente ela arregalou os olhos e ficou mais preocupada. Talvez não fosse devido ao exame, mas ao convite que o raikage tinha feito... teria sido por isso que ele tinha sido tão cuidadoso para fazê-lo? Haveria alguma ameaça a sua mestra caso ele enviasse alguma carta solicitando um encontro?

- Considerando o que andou ocorrendo, eu quero pessoas que eu conheça bem para cuidar deste assunto, Moegi-chan – prosseguiu ela aparentemente sem perceber que sua discípula estava mais aflita agora – faça o que eu lhe pedi. Irei mais tarde ao hospital e então podemos conversar mais.

- Eu... – estava hesitante sobre o que tinha pensado. Naquele momento, não duvidava que houvesse algum ANBU oculto na sala protegendo a hokage, e por isso mesmo não poderia tocar no assunto. Mas iria retornar a ele assim que pudesse – estou indo, mestra.

Saiu da sala rangendo os dentes para se controlar, e mal percebeu que seu time não estava aguardando por ela do lado de fora. Imaginou por algum tempo onde eles teriam ido, e provavelmente estavam na sede da ANBU se inteirando do que podia estar ocorrendo na aldeia. Sendo chuunins eles seriam melhores informados que os alunos de seu namorado, e talvez até se oferecessem para auxiliar no patrulhamento. Mas tinha certeza de que Satoki estaria adiantando-se para examinar os corpos que trouxeram e descobrir o que pudesse deles. Já que estava indo para o hospital, poderia ver com Shizune para deixá-lo encarregado daquilo. Já seu namorado talvez tenha ficado acompanhando Haruka no seu exame de rotina por ter lutado contra um nukenin, e considerando o tempo que ficou no escritório, já devia ter terminado e provavelmente a estava acompanhando até a sua casa. Isso a lembrava que ela própria e todo o seu time tinham de fazer esse mesmo exame.

Ele devia imaginar muito bem que sua mestra iria ter algo para ela fazer agora, e não ia perturbá-la com perguntas. Mas com certeza ele iria atrás da hokage para saber se ela tinha algo para ele fazer.

Quando foi dar o primeiro passo para seguir em direção ao hospital, um ANBU apareceu do seu lado e lhe entregou um pergaminho selado. Ela reconheceu o selo e ficou muito preocupada. Mesmo assim, o abriu sem demonstrar suas emoções e o leu atentamente, amassando o mesmo em seguida em um bolo de papel e o devolvendo ao ANBU.

- A hokage me incumbiu de uma tarefa – disse ela para o ANBU que aguardava uma resposta – irei para lá assim que possível, provavelmente no começo da noite.

Sem dizer nada o ANBU sumiu em uma nuvem de fumaça. Moegi respirou fundo e seguiu rumo ao hospital para se inteirar com sua sempai sobre a tal sobrevivente, bem como de mais detalhes a respeito deste ataque a uma caravana desconhecida perto da aldeia.

- x –

- Todos eles foram mortos? – questionou Ayame com a boca aberta.

Minato também não estava acreditando muito naquilo, mas não havia motivo para Tsume mentir para eles.

- Foi o que eu ouvi – disse a matriarca com clã Inuzuka entornando o copo de vinho na boca. Ainda estava toda contente do que tinham lhe contado sobre Haruka e de como ela auxiliou Isaki.

Como Minato tinha imaginado, ela estava bem expansiva para responder suas perguntas agora. Mas era melhor não perguntar muito mais. Já sabiam que uma caravana tinha sido atacada perto da aldeia e que nenhum dos mortos era da mesma. Mas isso logicamente suscitava mais perguntas. Olhou para Ayame e viu que esta estava louca para perguntar mais coisas, mas parecia que também se controlava.

Súbito, Tsume moveu a cabeça em direção a porta e sorriu alegremente. Em um salto ela saiu das almofadas da sala e pousou diante da porta, abrindo esta em seguida. Shiromaru entrou pela porta correndo e Haruka entrou em seguida, dando um forte abraço nela.

- Minha kunoichi poderosa! – disse ela em voz grave e forte, ao mesmo tempo em que ouviam alguns ossos dela estalarem – oh.. oi Konohamaru.

Tanto Minato como Ayame ficaram surpresos deles ter entrado logo após Haruka. Não esperavam que ele fosse ali.

- Então vocês estavam aqui? – ele os olhou torto e depois olhou para Tsume – imagino que já saibam o que houve na aldeia...

Os dois ficaram encabulados, mas Tsume apenas sorriu e liberou Haruka de seus braços.

- Eles vão ser chuunins em breve – disse ela enquanto fechava a porta – não vejo problema nenhum em saberem.

- Isso nós vamos ver no exame – retrucou ele sorrindo – não preciso dizer para não comentarem o que souberam com ninguém.

- Sim sensei – disseram ambos ao mesmo tempo.

- Ei! – chamou Haruka – eu ainda não sei o que houve!

- E eu também não – ele pos as mãos na cintura e sorriu – Tsume? Já que estou aqui pode me inteirar das coisas? Não tive tempo para isso ainda.

Tsume riu e se jogou nas almofadas novamente, sendo imitada por Haruka. Logo em seguida Shiromaru deitou-se se encostando do lado da parceira e ouviram atentamente o relato dos eventos do dia anterior.

Desta vez ela contou mais coisas do que antes – provavelmente porque Konohamaru estava lá – eles não sabiam sobre o viajante solitário assassinado, nem que Miyoko o tinha descoberto. Também ficaram sabendo que houve um sobrevivente que estava no hospital, devia ser por isso que haviam ANBUs ali.

Ao fim do relato, o sensei apenas maneou a cabeça como se concordasse com algo e ficou pensativo por algum tempo.

- Vou ser sincero com vocês crianças – começou ele – a Sakura-neechan ter dado essa missão para nós de apoiar o time da Moegi-chan tão próximo do exame foi inesperado. Ela não faria isso se não estivesse pressionada. E isso de agora me deixa preocupado. Se mais alguma coisa ocorrer, pode ser que vocês não possam participar.

Os três ficaram em silencio. Mesmo Tsume que estava alegre até então ficou com o rosto bem sério. Mas nada disse. O que indicava claramente que ela concordava com ele.

- Que droga... – murmurou Ayame.

Minato não disse nada. Estava pensando seriamente a respeito. Já tinha sido uma surpresa enorme para ele o sensei os inscrever no exame. Ele mesmo achava que não estavam prontos ainda. Mas ele acabou ficando empolgado, e mesmo com os mais velhos e experientes falando que não era um evento “divertido” e que na verdade podia ser mortal, ainda assim ele ficou mais e mais desejoso de participar. As missões mais difíceis e complexas que foi recebendo ele acreditava que eram preparatórias para isso. Mas tinha que reconhecer que seu sensei estava certo. Se a aldeia pudesse vir a ser ameaçada, eles seriam necessários ali.

- E o que fazemos agora? – Perguntou Haruka abraçando sua parceira.

- Nada. Descansem e ajam normalmente como fariam após retornar de uma missão. Vou tentar falar com ela ainda hoje, mas tenho duvidas se vou conseguir.

Ele não disse mais nada referente ao assunto, apenas se despediu de Tsume. Minato e Ayame também fizeram menção de sair depois disto, mas Tsume decidiu convidá-los para jantar como comemoração pela volta segura deles a aldeia, bem como para presentear Haruka por ela ter usado o jutsu que ficou meses treinando. Desnecessário dizer que a mesma ficou muito encabulada. Como nenhum deles tinha comida em casa e não estavam dispostos a cozinhar – muito menos comprar – acabaram aceitando. Além disso, Ayame estava louca para tomar outro banho naquela banheira enorme que eles tinham.

- x -

Seus olhos se moveram pelas pálpebras fechadas de forma rápida e depois mais lentamente, mas não se abriram. Preferiu sentir como estava e o que havia ao seu redor. Sentia o ardor do ferimento em seu peito que atravessava todo o seu corpo e ia até as costas, mas também percebeu que um bom trabalho tinha sido feito ali. Estava totalmente fora de perigo. Apesar de seus lábios um pouco ressecados estarem inertes, ela sorria por dentro. Seu plano tinha funcionado perfeitamente como esperava. Masaki a tinha chamado de louca, e tinha toda razão. Mas era por isso que era conhecida no submundo como uma das melhores assassinas que iam a fundo para cumprir com a missão. Quem mais iria assassinar sete pessoas e se permitir ser atingida no coração apenas para poder ser levada para dentro de uma aldeia oculta?

Não era a primeira vez que fazia algo similar, embora tenha ido bem longe desta vez. Mas não tinha escolha. Para ser considerada como “vitima”, precisava ser convincente, e uma espada no coração devia convencer a qualquer um.

Ainda se lembrava claramente da expressão no rosto daquele inútil quando precisou gritar para que ele a atingisse com a espada. Ela sabia muito bem como torcer o corpo para que esta atingisse o local que queria, ele só precisava a acertar com força. Não podia atingir a si própria pois sem duvida algum ninja investigador da aldeia iria notar que as marcas deixadas não seriam compatíveis com o ocorrido. Não... ela precisava ter representado tudo do começo ao fim, sem simular ou plantar nenhuma evidencia falsa. Assim Ela e Masaki primeiro localizaram uma caravana propicia para ser sacrificada, e depois os perseguiram pela estrada cuidando para que fossem seguindo o caminho que desejavam. As cinco pessoas que Ataso tinha contratado estavam esperando no lugar certo, só teriam que matar qualquer um que ainda se mexesse e depois um deles devia atacá-la com a espada para deixar marcas de defesa em seus pulsos e braços e depois perfurá-la com uma estocada segurando as duas mãos. Simples.

Os investigadores iram encontrar indícios de que a caravana estava fugindo de alguém, e as marcas no solo, na espada e em seus braços indicariam que ela era apenas uma vitima com muita sorte. A única coisa que poderia estragar a historia muita bem orquestrada seria os contratados serem capturados. Mas sabia que Masaki e Ataso cuidariam disto, bem como fariam algo para indicar o provável local onde os atacantes teriam ido.

Ela apenas não gostou de um daqueles idiotas que Ataso arrumou ter usado uma kunai, mas quando viu o que foi usado para cortar o pescoço do rapaz já era tarde. Apenas pediu para que Ataso se divertisse desmembrando o idiota, bem como usasse aquela kunai de alguma forma para que ela fosse encontrada e alguém da aldeia descobrisse que não tinha sido um ninja que a tinha usado.

Claro que havia alguns problemas... não duvidava que provavelmente iriam tentar extrair informações dela. Mas se o doutor tinha falado a verdade, não iriam fazer isso.

Etsu permaneceu imóvel enquanto sentia o que podia nos arredores. Sentia algumas presenças graças a sua capacidade de perceber chakra. Haviam duas pessoas provavelmente do lado de fora do quarto em que estava, ou talvez dentro deste, mas deviam estar bem perto de onde estaria a porta ou a janela. Mas sentia outra presença mais distante. Sem dúvida um ninja para vigiá-la. Ouvia alguns sons ocasionalmente como passos ou sons metálicos de prováveis instrumentos cirúrgicos sendo colocados em alguma bandeja. Isso indicava que devia estar no hospital e que havia uma boa segurança para ela, como esperava.

Ficou deitada na cama imóvel por algumas horas usando suas capacidades para sentir tudo ao redor. Se tivesse sorte, a própria hokage iria acabar aparecendo ali para vê-la mais tarde, embora duvidasse disto. Havia se informado bem nos bares e em aldeias ao redor e sabia que ela era uma médica de excelente reputação. Na verdade ficou imaginando se a própria havia tratado de seus ferimentos.

Mas provavelmente não. Ela não seria tola de se arriscar assim. E mesmo que fosse, com certeza haveriam conselheiros para dissuadi-la disto.

Um som de passos junto com mais duas presenças de chakra se aproximando lhe chamou a atenção. E pelo que percebia destes chakras, deviam ser de ninjas médicos. Fluíam de forma muito suave e eram mesmo tranqüilizadores. Teve a certeza disto quando eles pararam diante dos outros dois que ela imaginava estariam guardando a porta do quarto e ouviu uma voz abafada em seguida.

Não entendeu o que falavam, mas provavelmente deviam querer saber se haviam notado algo, ou talvez até estivessem se identificando. Logo ouviu o trinco da porta se abrir e aquelas duas presenças entraram.

Continuou como estava antes, imóvel e respirando lentamente, como se estivesse em um sono profundo. Tinha de deixar todos os músculos do corpo relaxados para se fazer passar por alguém inconsciente. Felizmente isso era agora extremamente fácil devido ao treinamento que tinha recebido do doutor. Enquanto agisse da forma que esperavam, mesmo sendo médicos não iam perceber que estava fingindo.

Não demorou muito e sentiu uma mão tocar o seu peito, exatamente onde tinha sido atingida pela espada. Logo em seguida sentiu um fluxo de chakra ali. Deviam estar avaliando como ela estava.

- Foi mesmo um excelente trabalho sempai – ouviu a voz de uma mulher falando. Parecia ser de uma mulher jovem, e pela posição da origem da voz, acreditava ser da mesma pessoa que tocava o seu peito agora – talvez nem fique uma cicatriz.

Ela gostou de ouvir isso. Ainda era vaidosa, e uma cicatriz no peito – mesmo que pequena – iria irritá-la sempre que a visse.

- Obrigada – disse uma outra voz, essa um pouco mais madura. Talvez tivesse já seus quarenta anos ou estivesse próximo a isto – ela tem uma pele muito macia, e uma resistência impressionante, devo admitir. Mais até do que muitos ninjas que conheço.

Sabia que não poderia ter ocultado isto. Lembrou-se de quando foi removida para uma carroça e onde começaram o seu tratamento. Tinha permanecido desperta o tempo todo para garantir que iria sobreviver, mas logicamente quando a sedaram, não pode evitar de perder os sentidos.

- Não é a toa que está viva. O que descobriu sobre ela?

- Acho que ela tem entre dezoito e vinde e dois anos – realmente? Ia dar um beijo no doutor quando voltasse. Imaginava que parecia mais jovem quando ele a tratou, mas tão jovem assim? – saúde invejável e músculos bem flexíveis. Pelo tom da pele eu diria que ela é da terra do raikage. A ANBU acredita que seu nome é Namiko, pelo que apuraram dos pertences recuperados da caravana.

- E quanto a sua opinião pessoal?

Houve um silencio demorado antes dela responder. Etsu sabia muito bem que a circunstancia em que ela apareceu na aldeia era muito delicada e passível de toda sorte de suspeitas. Mas esperava que tivessem descoberto mais do que o nome falso que estava usando.

- Não sei bem o que achar. Não fosse o incidente de ontem, eu não veria nada suspeito nela, apenas uma grande inveja de seu corpo – ela suspirou e a outra pessoa riu levemente – ela já trabalhou no armazém em que alguns comerciantes daqui costumam comprar mercadorias. Segundo a investigação da ANBU, ela é do pais da Grama e costuma vir ao pais do Fogo para visitar os avós e eventualmente acaba trabalhando um pouco para levar dinheiro para casa. Parece que a vida esta um pouco difícil onde ela vive.

Perfeito! Tinha sido bom ter se empenhado no primeiro disfarce que usou quando o doutor quis que ela entregasse aquele espião na aldeia. Agora podia continuar usando ele, mesmo porque já tinha sido investigada um pouco. Se tentasse usar outro agora, poderia ser descoberta. Os investigadores de Konoha estavam de parabéns. Tinham deduzido tudo o que ela desejava.

E sem ser nem um pouco modesta, ela cumprimentou a si mesma por ter se empenhado em tornar toda a representação perfeita. Mas tinha que se controlar. Não era hora de estar “consciente” para eles ainda. Isso devia ser no dia seguinte.

Sentiu que a mão foi retirada de seu peito e percebeu que agora ela estava abrindo seu olho esquerdo, provavelmente para examiná-la. Agora é que teria que por em prática o seu autocontrole.

Quando o olho foi aberto, percebeu que a moça jovem devia ser a de cabeço laranja, um quase ruivo, e a outra com o cabelo cheio devia ser a mais velha. Mas considerando bem, ela adoraria estar conservada assim quando envelhecesse. Ela devia se cuidar bem. Pena que o timbre de sua voz denunciava sua real idade.

Ao contrário do que tinha previsto, ela não acendeu uma lanterna em seu olho. Não entendeu bem o motivo, mas não se preocupou. Houve um tempo em que ambas ficaram em silencio, mas ela ouviu seus passos no quarto e o barulho de folhas de papel sendo viradas.

- Ela esta bem cicatrizada... – notou algo diferente no tom de voz dela quando disse isso – para quem foi operada ontem. Sua recuperação é impressionante.

- Concordo, mas é porque Sakura-chan tem pressa de que ela seja interrogada. Em uma situação normal não teríamos acelerado tanto a sua recuperação.

Ela contava com aquilo. Mais uma vez estava certa nas suas lembranças de como as coisas funcionavam em uma aldeia ninja.

Não disseram mais nada depois disto. Ouviu ambas fazerem mais alguns sons pela sala e depois saíram sem dizer nada. Deviam estar satisfeitas. Agora iria continuar relaxada e consciente para quando a noite estivesse alta efetuar o seu plano principal. Tinha que fazer isso agora, enquanto achavam que estava debilitada e recuperando-se. Só esperava que nenhum daqueles ninjas fosse capaz de sentir chakra, ou seu disfarce seria descoberto e teria muita dificuldade para obter o que queria.

Sem contar em como seria difícil sair da aldeia. Mas também tinha um plano para esta eventualidade. Não estava disposta a encarar o doutor caso fracassasse – não por que o temesse, mas por orgulho mesmo. Tinha levado um bom tempo para convencê-lo a deixá-la se infiltrar na aldeia, e o mesmo só aceitou quando explicou como ia fazer isso. Ele ficou impressionado com a sua ousadia, mas permitiu que pudesse usar todos os recursos possíveis para isso. Ele não tinha o mesmo interesse que ela – ela queria saber sobre os dois shinobis que podiam invocar ofídios como ela, e como bônus queria descobrir o que Nothe tinha percebido na hokage, pois sentia que havia algo interessante ai. Já Kabuto queria a ficha de uma kunoichi da aldeia. Esse seria o mais difícil, tinha certeza.


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