Sonho Renascido escrita por Janus


Capítulo 40
Capítulo 40




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A porta da antiga casa se abriu lentamente e de forma mais lenta ainda, uma reticente Moegi saiu desta. Olhou para o céu sem nuvens que estava coalhado de estrelas e ficou um pouco estática ali, sem interesse de se mover.

Esperava qualquer coisa quando tinha recebido um bilhete do ANBU dizendo que a anciã queria conversar com ela. Qualquer coisa mesmo! Mas não esperava ficar tão chocada como ficou.

Virou o rosto para trás e viu Shikamaru passar pela porta e observá-la atentamente. Quando ele percebeu o seu estado de espírito ele meramente sorriu e fechou a porta atrás de si, dando dois passos e saindo da varanda da casa.

- Sinceramente – começou ainda de costas para ela – ainda estou surpreso com a decisão dela em lhe contar tudo.

- Você está surpreso? – ela quase chegou a gritar – imagine como eu me sinto!

- Ora... – ele lhe virou a cabeça e ainda estava com aquele sorriso, só que agora estava um pouco mais cínico – você assim como Shizune é o braço direito da hokage. É até justo que saiba de tudo agora. Mas é lógico que compreende que ela estava sem escolha. Até onde eu sei, apenas eu, Koharu-sama, Yamato-san e agora você sabem disso. Yamato-san estará sem dúvida alguma sempre próximo a ela, mas não poderá segui-la em oculto até a aldeia da Nuvem. Você é a escolha mais lógica para isso.

- E era preciso me revelar esse segredo que ela estava ocultando tão bem? Se ela acreditasse que eu precisasse saber, ela já me teria dito. Na verdade... – sua voz se transformou em um murmúrio - seria mais seguro para ela se eu não soubesse.

- Talvez – murmurou ele de volta no mesmo tom – mas com certeza não lhe daria ímpeto para ir contra ela se for preciso.

Pressionou seus punhos com força, quase cortando sua pele com as unhas. Era obrigada a concordar com isso. Agora que ela sabia, caso fosse necessário iria contra sua mestra para protegê-la. No entanto... sentia-se uma traidora por ter conhecimento do fato desta forma.

- Eu espero que vocês dois saibam das possíveis conseqüências de terem me contado isso, Shikamaru – ela o olhava sério, demonstrando raiva – eu não tenho interesse algum em fazer algo pelas costas de minha mestra e amiga.

- Se quer dizer que vai falar para ela que lhe revelamos tudo.. – ele colocou as mãos nos bolsos e começou a andar lentamente pelo quintal se dirigindo a pequena rua onde a casa ficava – nós esperávamos por isso. Só espero não ficar com o olho roxo quando ela for descarregar em mim.

Viu ele acenar com a mão se despedindo e desaparecendo na rua. Era lógico que eles esperavam isso dela. Que belo manipulador desgraçado era ele... Se quisessem alguém totalmente devotado a eles iriam procurar outra pessoa, muito provavelmente alguém muito experiente dentro da ANBU. No entanto – como a própria Koharu tinha dito – era melhor alguém que se preocupasse com Sakura mas que também se preocupasse com a aldeia. Alguém que devia decidir quando deixar Sakura agir – caso tal extremo fosse necessário – ou protegê-la e impedi-la de revelar o poder que carregava dentro de si.

E era isso que realmente os preocupava, o de alguém de fora descobrir tudo. E agora que pensava melhor no assunto... como é que ninguém nunca tinha descoberto? Sua mestra já tinha participado de algumas reuniões dos kages, e sem dúvida alguma algum ninja sensor devia tê-la examinado. Não por desconfiança direta, mas simplesmente para ser metódico. O que ela poderia estar usando para mascarar o chakra da kyuubi?

Respirou fundo para se controlar e expeliu o ar dos pulmões lentamente. O jeito agora era conversar com sua mestra sobre o assunto, e preparar seus ouvidos para a sessão de gritaria que ia vir depois disto.

Começou a andar e manteve sua cabeça baixa, apenas olhando para a sua sombra projetada na rua pela Lua cheia, e pelo jeito desta sombra aquela era sem dúvida uma bela noite com o céu limpo. Seria ótimo para passear um pouco.  Pena que a aldeia ainda estava em alerta – o que significa que todo o comercio estava fechado agora – e para completar mais ainda, agora era a mais nova integrante do “clube dos conhecedores do segredo da hokage”. Talvez fosse mais fácil anunciar para todo mundo isso.

No entanto, não pode deixar de sorrir quando pensou no que ocorreria caso o raikage descobrisse. Ele sempre desconfiou que Konoha ainda tinha a Kyuubi e nunca fez questão de ocultar isso. Como ele reagiria se soubesse logo em quem ela estava?

Porem em seguida ela sentiu grandes calafrios, a ponto de parar de andar e ficar com os olhos fixos no vazio, a mente quase sem pensamentos. E se fosse justamente por isso que ele tinha feito aquele pedido para que ela fosse até a aldeia da Nuvem durante o exame chuunin?

Precisou de um grande esforço para evitar que seu corpo começasse a tremer ali mesmo, e de forma controlada se pos a andar novamente, indo direto para a casa de sua mestra. Esperava que ela estivesse ali e não no hospital verificando o estado da sobrevivente.

Seguiu com a cabeça olhando para o chão por todo o trajeto por vários minutos, tentando manter sua mente focada no que tinha de falar com ela. Imaginava como dizer a ela que ela sabia, e principalmente como sabia.

Quase sem perceber, estava diante da porta de sua casa. Imaginou por alguns instantes se Udon estaria por ali, mas realmente não importava. Pensou naquilo apenas para se distrair um pouco. Respirou profundamente e bateu na porta.

Antes que a porta se abrisse, pensou por um instante sobre o que devia fazer se Shizune estivesse ali, e em seguida estava até desejando que ela estivesse, pelo menos poderia adiar aquilo para o dia seguinte, ou até mesmo para a semana seguinte. Repentinamente ficou sem vontade de falar com ela – afinal, como se diz para quem se tem um respeito tão grande que tinham lhe contado um de seus maiores segredos? Isso se não era o maior de todos eles.

- Moegi-chan? – disse Sakura assim que abriu a porta – pode entrar.

Ela estava sorrindo como fazia normalmente. Logicamente estava mais tranqüila agora que estava fora do escritório e que as coisas voltavam a caminhar para a normalidade. Claro, ainda havia a questão da aldeia em alerta, mas era provável que no dia seguinte isso já fosse revogado.

- Shizune decidiu ajudar Satoki-kun a examinar os cadáveres dos ninjas que vocês trouxeram – falava ela enquanto a conduzia pelo corredor até a sala de estar – provavelmente para que eu não vá até lá – notou como ela foi um pouco sarcástica naquela frase - e se nada excepcional ocorrer, provavelmente o alerta será cancelado amanhã pela manhã.

Sakura sentou-se na poltrona encostada na parede e esticou bem os pés, como estivesse espreguiçando-se. Devia estar se sentindo um pouco cansada mesmo com tudo o que teve que investigar, analisar e decidir desde que a emergência atual tinha começado na véspera. Por um momento Ficou imaginando como teria de ser encarar uma surpresa destas, de várias pessoas mortas – e desconhecidas – aparecendo perto da aldeia e com chefes de divisões e outros jounins pedindo ou aguardando uma decisão de sua parte.

Claro que conhecendo sua mestra, o mais difícil para todos foi garantir que ela não fosse ver pessoalmente o que ocorria. Ao menos a explicação dela ser uma jinchuuriki respondia o porque da mesma evitar de ir a certos eventos e insistir em investigar coisas menores próximas.

Sentou-se no sofá que ficava um pouco de lado em relação a poltrona em que estava, e quase que imediatamente Sakura a olhou de forma séria.

- Você está muito rígida – começou ela a olhando – o que houve?

Que droga! Foi só ela a ver se sentando sem estar relaxada e já percebeu que algo povoava sua mente. E para piorar Shizune não estava lá como tinha desejado antes, ou seja, não tinha nenhuma desculpa para não fazer o que queria quando foi ali.

- Mestra... eu... – engoliu em seco por duas vezes e suspirou em seguida – bom... eu estive falando com Koharu-sama... e... ela me disse...

Sentiu sua voz sumir no momento em que disse aquele nome. Os olhos de sua mestra estavam muito apertados e parecia que podia queimá-la só de olhar.

- Isso tem algo a ver com eu ir ao exame chuunin?

- Bem.. – coçou a cabeça e apertou os lábios – sim.

- Não acredito nisso – buffou ela jogando-se na poltrona. Ficou muito irritada pelo jeito, e não era para menos. Koharu era uma praga que parecia que nunca ia morrer de velhice. Até seu namorado já tinha comentado que só ia se interessar para valer em ser hokage quando ela finalmente se aposentasse ou fosse enterrada. Claro que foi em tom de brincadeira, mas no fundo ela estava tendo duvidas disto agora – e que motivos ela conseguiu te dar para que a convencesse a me falar sobre isso?

Sakura fechou os olhos e colocou as mãos atrás do pescoço, como se fosse tirar um cochilo. Era evidente que não estava acreditando que Moegi podia convencê-la do contrário. Bom, não foi para isso que ela tinha ido ali, e mesmo Koharu já acreditava que não tinha argumentos para tanto, por isso mostrou interesse em que ela fosse uma das pessoas encarregadas da segurança de sua mestra.

- Não foi para convencê-la a não ir que ela quis falar comigo – Sakura abriu um olho e a observou interrogativamente – ela queria que eu fizesse o possível para fazer parte de sua escolta caso sua decisão fosse irrevogável. E quanto aos motivos – ela se encolheu um pouco e a olhou um pouco de lado – ele me deu alguns... me deu nove motivos para ser exata...

A seriedade que ficou estampada no rosto de sua mestra era algo que ela nunca tinha visto antes, e muito menos estava acostumada. Sem dizer nada ela se levantou e foi até a pequena adega que tinha na parede. Abriu esta e retirou uma garrafa grande de saque dali.

- Vamos dar uma volta, Moegi-chan – murmurou ela agora com um sorriso amarelo – já que agora vai ser impossível você ficar fora disso – a encarou um pouco animada – têm coisas que precisa saber que nem Koharu sabe ou pode imaginar. E eu não faço nenhuma questão que ela ou Shikamaru saibam.

- x-

Moveu a sua mão lentamente para fechá-la ao redor do tubo metálico que dava rigidez a sua cama hospitalar. Aguardou por alguns instantes enquanto esperava por qualquer alteração no chakra ou na posição dos ninjas que a vigiavam e satisfeita por não ocorrer tal coisa, sorriu suavemente.

O chakra fluiu de sua mão de forma lenta e cuidadosa para o tubo metálico, formando um selo invisível para os olhos, mas era a marca essencial para aquele jutsu funcionar. Quando aprendeu isso de dentro da cela na base do doutor, imaginou que acabaria usando isso para uma fuga espetacular ou talvez até mesmo para um ataque surpresa. Naquela época não cogitava que podia ser incrivelmente útil em um trabalho sigiloso como o que ia fazer agora.

Agora que o selo estava feito, recolheu a mão e entrelaçou os dedos desta com a outra, concentrando-se em seguida. Primeiro tinha que contatar seu destino e depois fazer o jutsu. Meio segundo depois disto, seu corpo desapareceu da cama como se nunca tivesse estado ali.

Do lado de fora da aldeia, mais precisamente na escarpa onde estavam esculpidas as cabeças dos hokages de Konoha um corvo sentiu algo nas suas costas e em seguida pulou desesperado de seu pequeno ninho que tinha feito ali. Acima dele uma pessoa apareceu como que do nada, e imediatamente se agachou quase que sentando em cima dele.

Tinha que dar um beijo em Masaki depois, pensou ela quando se concentrava ao máximo para ter certeza de que sua aparição ali não atraiu a atenção de ninguém. Felizmente ela já esperava que naquele local não haveriam vigias. Estes ficavam bem mais acima e se concentravam em quem vinha do outro lado.

Não teria pensado naquilo caso Masaki não ficasse perguntando como ira contornar cada dificuldade que ia ter em sua empreitada para invadir a aldeia da Folha e obter as informações que queria. Foi graças a ele apresentar as dificuldades para cada estratégia que ela tinha montado que acabou chegando no seu plano atual. Primeiro o de entrar na aldeia sendo carregada pelos próprios moradores. Havia duas formas de se fazer isso. Uma seria sendo prisioneira, outra seria sendo alguém que precisava sobreviver para dar informações.

Para ambos os casos, o jutsu que aprendeu naquele pergaminho que o doutor tinha lhe dado lhe daria a liberdade tanto da prisão quanto de um quarto de hospital bem vigiado. Depois tinha que pensar em para onde iria ao usar o jutsu de teleporte. Primeiro pensou em jogar uma kunai de fora do perímetro de segurança da aldeia para que esta caísse bem perto dos muros. Mas ainda assim haveria a dificuldade de passar por estes muros e pela vigilância que haveria ao redor. Seria bem mais fácil se pudesse já estar dentro da aldeia.

Primeiro cogitou de criar um selo de chakra em alguma caixa que os comerciantes eventualmente trariam para Konoha. mas o risco de surgir prensada em algum deposito era grande. Por fim, observando a aldeia a distancia viu os pássaros que voavam na escarpa atrás desta. Foi só aguardar uma chance – e com muita paciência – para pegar um deles e fazer prender um selo no mesmo, permitindo que se teleportasse. Quando o fizesse, ou estaria no ar ou no ninho da ave.

Agora tinha que ser rápida. Não podia deixar o quarto de hospital vazio por mais de alguns segundos. Fez muitos selos com as mãos e ao fazer o ultimo, concentrou-se com extremo cuidado por alguns segundos. Um clone dela apareceu ao seu lado.

O clone lhe mandou um beijo e desapareceu em seguida. Ele iria ocupar seu lugar no hospital mantendo as aparências para os ninjas que a vigiavam, bem como também deveria enganar qualquer enfermeiro ou médico que fosse verificar seu estado. Ao menos, enquanto não decidissem fazer exames mais elaborados.

Pela rotina que avaliou enquanto fingia estar inconsciente na cama, a cada três horas aparecia alguém para medir sua temperatura, pressão, batimentos cardíacos e anotar alguma coisa – provavelmente os dados que estava coletando – em seu prontuário. Ela tinha agora esse tempo para obter tudo o que queria e depois retornar. Não queria arriscar que seu clone pudesse ser descoberto.

Claro que podia ter invertido o que fosse fazer, deixar seu clone ir atrás das informações enquanto ela descansava tranqüilamente no hospital. Mas caso acabe sendo descoberta durante isso, seria muito mais vantajoso estar fora do hospital para tentar fugir.

Agora tinha que improvisar um pouco. Estava apenas com o avental de pacientes do hospital – e estava um vento bem frio naquela montanha – e nenhum equipamento. Precisava saber onde estariam as fichas dos agentes shinobis da aldeia. Olhou para a parede da escarpa em que estava e procurou por alguma pedra solta. Quando pegou uma, carregou o seu chakra nela e a soltou, deixando-a cair como que naturalmente. Quando esta estava próxima ao solo, concentrou-se e se teleportou pouca coisa diante dela. A sua frente já havia uma casa – ou talvez um depósito – bem como uma pequena viela com iluminação. Fez outro conjunto de selos e se ocultou para poder sentir os arredores com mais calma.

Não sabia onde devia procurar, muito menos conhecia a geografia da aldeia. Mas sabia de uma coisa do seu tempo em que viveu na aldeia da Areia. As coisas mais importantes sempre estavam cercadas de shinobis. Assim, locais como a prisão, o prédio onde ficava a hokage, a milícia interna – ali era chamada de ANBU – e a sede onde estariam os arquivos seriam os locais onde haveria no mínimo mais de quatro shinobis juntos.

Claro que esses locais podiam dividir funções. Talvez os arquivos ficassem no mesmo prédio onde a hokage tinha seu escritório – afinal, seria mais pratico – mas tinha duvidas sobre isso. Era mais provável que fosse como em Suna, registros dos shinobis ativos eram feitos no escritório do kage e depois arquivados nas fichas correspondentes. Somente em casos específicos essa fichas seriam inteiramente levadas dos arquivos. Para investigações geralmente.

De onde estava percebeu dois locais com vários shinobis. Saltou para o alto da casa diante de si e sentindo os arredores, foi pela penumbra por sobre os telhados para o que ficava mais próximo de onde estava. Ali precisou se ocultar novamente pois sentiu um chakra se aproximando depressa. Ficou estática em seu disfarce enquanto essa presença se aproximava, passava próximo dela – coisa de vinte metros – e depois tornou a se distanciar.

Mais tranqüila agora ela se concentrou no prédio em frente ao que estava agora. Era circular, e notou uma grande janela no ultimo andar. Não acreditava que seria onde devia procurar o que queria. Apesar de haver muitos shinobis ali, a segurança que podia avaliar não era tão forte assim. Naquele momento não devia ter nada muito importante dentro do prédio. Imaginou que este devia ser o prédio onde a hokage ficava. O jeito agora era ir até o outro.

Sempre utilizando sua percepção, ela quase que percorreu um labirinto invisível para se aproximar do outro local evitando toda possibilidade de algum shinobi poder vê-la. Não temia a possível existência de outro ninja por ali que como ela pudesse sentir chakra. Em uma aldeia daquelas, sentir chakra não seria nem um pouco estranho. Ela só tinha de cuidar de não ser percebida onde seria estranho haver um chakra. Como a aldeia ainda devia estar em alerta – considerando como as ruas estavam vazias e como haviam patrulhas pulando de um lado para o outro e que a forçava a perder muito mais tempo do que esperava em seu percurso – não devia ser nem um pouco estranho alguém perceber ela pulando pelos telhados.

No entanto, considerando como eram raros os que podiam ter essa capacidade, e como provavelmente eles estariam nos muros e locais de entrada da aldeia, as chances de ser descoberta desta forma eram muito baixas. Uma confirmação disto foi não ter visto nenhum dos ninkens que Masaki tinha falado. Provavelmente estavam patrulhando do lado de fora da aldeia, não dentro desta. Estes sim poderiam dar algum alarme a seu respeito.

Desta distancia podia sentir melhor o chakra de todos que estavam ali dentro. Foi formando um mapa mental de onde sentia uma presença para com isso também formular um mapa do interior. Observava aqueles que se moviam para determinar onde haveria um corredor, portas, escadas, enfim, tudo o que fosse possível. Ia levar algum tempo, mas ao menos já tinha confirmado algo que lhe deixou satisfeita.

A segurança e a quantidade de shinobis ali dentro indicava que este era um local muito bem guardado e sem duvida devia ser vital para a aldeia. Caso os arquivos ficassem ali, deviam estar no subsolo.

Ficou por uma hora apenas parada em sua camuflagem determinando como era a planta do local baseando-se na movimentação que podia sentir. E aqueles que não se moveram por todo esse tempo também indicaram que deviam estar vigiando, fazendo algum estudo, ou registrando alguma coisa. Já tinha uma idéia de onde procurar pelos arquivos.

Agora era hora de usar outros truques. Aguardando um momento propicio, removeu sua camuflagem e invocou varias cobras. Murmurou suavemente o que queria que fizessem e fez um selo de chakra em cada uma delas. Seria impossível para ela entrar ali dentro sem ser vista, mas com as cobras seria diferente. O selo que fez nelas tanto servia para que ela pudesse se teleportar como para determinar onde estavam. Quando uma delas estivesse em uma sala que julgasse útil, ela só teria que usar o jutsu.

Cogitou de perguntar mais sobre aquilo ao doutor quando o visse de novo. Haviam certas limitações no uso, isso era evidente. Os selos que ela criava com chakra puro não iam durar muito, e para que durassem ao menos uma hora, ela tinha que gastar muito chakra. Aquele selo que deixou na cama do hospital para poder voltar tinha sido bem custoso. Felizmente seu clone poderia reforçá-lo caso fosse necessário.

Aguardou as cobras se infiltrarem dentro do prédio – ela já tinha consumido duas de suas três horas. Imaginava que teria de voltar e aguardar  rotina da enfermeira. Mas pretendia marcar um local dentro do prédio para já procurar pelos arquivos.

Demorou para uma delas chegar ao subsolo sem ser notada. Quando pressentiu esta em uma sala vazia, fez o jutsu para ir até lá e a primeira providencia foi criar um selo no teto da sala. Depois disto olhou ao redor e conteve o ímpeto de praguejar. Estava totalmente escuro ali.

Concentrou-se fixando-se unicamente na sala. Era muito arriscado usar quase toda sua habilidade em uma área tão pequena, mas era a única forma de identificar qualquer selo que pudesse estar ali, seja de uma armadilha, de tranca ou até mesmo fuuinchitsu. Mas não identificou nada.

Não era a sala dos arquivos, disso tinha certeza, mas estava confusa sobre para que aquela sala poderia servir. Não ia arriscar fazer nada para iluminar o local. Voltou a se concentrar em onde as cobras estavam para determinar outro local propicio para ir. Ao menos àquela sala iria servir para uma fuga mais rápida caso fosse necessário, e ao pensar nisso percebeu que ainda devia ter quarenta minutos antes que alguém entrasse no quarto do hospital.

Acabou indo para outras duas salas depois de algum tempo, nenhuma delas era a que queria, e ainda não tinha idéia da real finalidade do prédio em que estava. Pelo jeito, as salas onde teria informações deviam ser aquelas onde haviam shinobis andando. E para piorar as coisas ela percebeu outra coisa na sala atual. Ouviu passos no corredor e viu uma sombra mover-se pela luz que entrava por baixo da porta. O que a incomodou foi que não sentiu chakra algum, ou seja, era uma pessoa não treinada. Podia acabar caindo em uma sala com pessoas assim e seria descoberta.

Enquanto pensava camuflou-se no teto da sala e ponderou um pouco no que fazer. Algo que não tinha cogitado quando planejou tudo foi o de andar praticamente nua pela aldeia – a roupa de hospital nada mais era do que uma forma pratica de dar dignidade aos pacientes, mas voltadas a permitir acesso de forma rápida e eficiente ao corpo dos mesmos. E andar pelo teto com uma roupa folgada e fácil de abrir daquelas realmente estava incomodando. Sem contar outro detalhe importante: O que ocorreria caso causasse alguma mancha naquela roupa? Inclusive precisava se lembrar de limpar os seus pés depois. Ia ser estranho uma paciente de hospital desacordada aparecer com os pés sujos.

Seu tempo estava se esgotando. Acreditava que o local que procurava devia estar onde sentia o chakra de shinobis que não tinham se movido desde o momento em que passou a estudar aquele prédio. Deviam ser guardas, sem dúvida. E guardas protegem locais importantes. Como poderia criar uma distração que primeiro tirasse o guarda do local e segundo... não fosse suficiente para que alguém desse algum alarme?

Não podia esperar pela troca de turnos, e não podia deixar para o dia seguinte. Não poderia fingir ainda estar desacordada até lá. Eles sem dúvida iriam dar alguma droga que agisse como estimulante para que despertasse. Não duvidava que queriam interrogá-la para terem informações sobre o que houve com a caravana.

Estava começando a acreditar que teria de agir de forma mais direta e que seria impossível fazer tudo aquilo sem ninguém perceber como tinha planejado antes. Foi quanto teve uma idéia. E mesmo que alguém acionasse algum alarme ou fizesse algum relatório, não iriam associar com uma possível invasão.

Sorrindo levemente, concentrou-se para cancelar o jutsu de seu clone e retornou ao hospital em seguida. Assim que fizessem a rotina de acompanhar seu estado iria voltar já praticamente com seu plano em ação.

- x -

Deu um bocejo involuntário – o terceiro em menos de cinco minutos - e maneou a cabeça para espantar o sono. Fez a anotação no caderno ao seu lado e retirou a placa de vidro do microscópio.

- Também deu positivo – disse ele para Shizune que se ocupava com a biópsia do rim do nukenin que Haruka tinha derrotado.

- Não estou surpresa – disse ela também com a voz cansada – agora não mais.

Nem ele estava. Ambos os nukenins estavam com uma dose maciça de drogas. Aquele que Isaki tinha capturado inicialmente tinha muitos estimulantes e supressores de dor. Por isso tanto seu genjutsu como seus golpes pouco fizeram contra ele. Só quando quase o matou que conseguiu capturá-lo. Já o outro não sabia bem o que pensar.

Não eram apenas drogas estimulantes ou outras que são úteis em combates que ele tinha nas células do corpo. Alguns dos compostos que identificaram tinham um efeito de aceitação hipnótica, ou seja, o deixava propicio a aceitar sugestões. Será que foi por isso que ele acabou indo atrás de Isaki em vez de se esconder e cuidar dos ferimentos?

Não queria pensar nisso, mas era perturbador. Significava que havia outra pessoa envolvida ainda. Alguém que administrou a droga e estimulou o nukenin a ir atrás de Isaki e de seu companheiro capturado.

Mais perturbador ainda era que esses compostos não estavam muito espalhados pelos órgãos do corpo, ao contrário dos outros. O que indicava que foi inoculado neste depois, aproximadamente entre duas a quatro horas antes de sua morte.

Ouviu a cadeira em que Shizune estava estalar e olhou na sua direção. Ela estava esfregando os olhos com os dedos e parecia suprimir também um bocejo. Em seguida pegou os fragmentos de rim que examinava e os colocou na caixa apropriada para serem preservados. Satoki imaginou que ela ia sugerir para encerrarem por aquele dia.

Se ela não o fizesse, ele o faria! Estava realmente exausto. E ainda imaginava o que ia enfrentar em casa, caso sua irmã ainda estivesse acordada. Shizune tinha dito que foi ela quem localizou a provável rota de fuga dos atacantes da caravana ao se deparar com uma carroça e um corpo na estrada.

- Acho que você está querendo um descanso, não é mesmo? – ela sorriu para ele.

A pergunta o deixou encabulado. Claro que ele queria descansar. Mas também não queria fazer uma desfeita e a deixar continuar sozinha noite adentro. Ela já estava trabalhando desde manhã cedo acompanhando o estado da paciente que estava bem vigiada e protegida dentro do hospital, bem como fazendo de tudo para a hokage não ir até ali pessoalmente. E pelo que Satoki conhecia dela, se Shizune não estivesse ali seria a hokage quem estaria fazendo aqueles exames.

No entanto, as vezes não entendia porque ela parecia tão super protetora com relação a hokage de Konoha. Ela era a melhor médica de todos ali, e sem duvida iria fazer os mesmos exames que eles fizeram e talvez até já direcionados para obter algo especifico.

- Não vou negar que estou cansado  - respondeu de forma devagar – mas também confesso que estou curioso para ver se tem mais algo para descobrir.

Ela concordou com a cabeça. Espreguiçou-se um pouco e levantou-se da cadeira.

- Bom, acho que é o bastante para hoje. Sakura-chan deve estar dormindo agora, eu espero. Vamos embora. Só quero verificar o prontuário de nossa hospede antes de sair.

- Eu te acompanho – prontificou-se ele.

Na verdade ele estava curioso com essa mulher que tinha escapado quase que por milagre da morte certa. Como ninja médico estava muito interessado em saber como a hokage a tinha operado para garantir sua sobrevivência e recuperação. Esperava que não fosse algo muito confidencial como o que ocorreu quando ela tinha operado Anko. Ele tinha acesso aos dados clínicos, ao método que ela usou, ao tratamento feito. Mas não tinha idéia de como ela conseguiu ser tão precisa na cirurgia. Seria preciso dedos incrivelmente firmes e uma visão muito excepcional para tanto.

Já no caso da mulher em questão, era necessário um controle de chakra muito preciso. E nisso todos sabiam que a hokage era muito competente.

Após guardar as provetas e demais coisas do laboratório, seguiram rumo ao quarto onde estavam dois ANBUs vigiando do lado de fora. Ele aguardou Shizune falar com eles e quando um deles abriu a porta, a acompanhou dentro do quarto. No entanto notou algo estranho em um dos ANBUs. Ele virou a cabeça em direção a Shizune e depois de manter essa posição por algum tempo, voltou a olhar para frente. Quase como se quisesse dizer algo e em seguida tivesse mudado de idéia.

Viu a mulher deitada na cama e não pode deixar de notar como era bonita, mesmo com algumas marcas de ferimentos pequenos no rosto. Também podia notar marcas de cortes profundos – devidamente tratados – no seu braço direito que estava fora do lençol. Provavelmente a enfermeira o deixou assim após medir sua pressão e temperatura.

Shizune lia o prontuário e virava as folhas cuidadosamente, comparando cada medição e informação anotada ali.

- Tudo bem com ela? – perguntou quando acreditou que ela estava se demorando muito avaliando aquilo.

- Sim – respondeu lentamente – apenas que seus batimentos cardíacos estavam mais acelerados na ultima medição.

Viu ela apertar os lábios abaixar a prancheta. Ficou algum tempo assim pensativa e olhou para a mulher deitada na cama com o cenho franzido. Como ela tinha sido operada do coração, uma alteração na sua freqüência cardíaca podia ser preocupante. Podia ser o indicio de um principio de arritmia ou até de insuficiência circulatória.

Ela colocou a mão sobre o peito dela e se concentrou um pouco, provavelmente usando seu chakra para analisar a paciente. Ficou assim por um longo tempo ate que removeu a mão e maneou a cabeça de um lado para outro, como se estivesse incomodada.

- Sempai? – arriscou ele começando a ficar preocupado.

- Não é nada, Satoki-kun. Apenas estou desconcertada. Sei que Sakura-chan é uma médica que pode muito bem já ter superado nossa mestra, mas mesmo assim fico assombrada com a recuperação desta mulher. Mas o mesmo ocorreu com Anko. Deve ser de seu corpo jovem. Bom, vamos indo.

Saíram do quarto e novamente ele teve a impressão que um dos ANBUs talvez quisesse dizer algo, mas novamente se manteve calado.

Na verdade, ele estava indeciso. Sabia que tinha que relatar qualquer incidente que ocorresse, mas não queria que seu colega que estava vigiando a mulher do lado de fora de prédio através da janela tivesse problemas. Algumas horas antes os dois que estavam na porta ouviram um ruído dentro do quarto, e ao entrarem viram ali dentro outro ANBU, o que vigiava a mulher. Este disse que por alguns instantes parecia que a mulher não estava lá dentro, mas assim que abriu a janela viu que ela estava. Nenhum dos três achou isso excepcional. Talvez a mulher tivesse se movido enquanto dormia dando essa impressão ou pode ter ocorrido uma simples ilusão de ótica com reflexos no vidro.

Talvez estivesse apenas cansado no fim das contas. Acabou decidindo esquecer aquilo e não comentar nada.


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Notas finais do capítulo

Referente ao teleporte que Etsu está usando, não há duvidas que é similar ao do quarto hokage, e que funciona da mesma forma. Kabuto já ensinou muita coisa para Etsu.



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