Sonho Renascido escrita por Janus


Capítulo 38
Capítulo 38




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- Fixe sua atenção no alvo, Ringo-kun, apenas isso. Esqueça todo o resto. Você fez isso antes e muito bem, mas se quer tornar isso uma técnica eficiente, precisa conseguir fazer isso em movimento.

Era difícil não prestar atenção no treinamento que seu colega estava recebendo, ainda mais sendo este orientado por uma das jounins mais respeitadas e até famosas de Konoha. Mas Jiro precisava ignorar as instruções e tudo o mais ao seu redor e continuar se concentrando em seu próprio treino. Mantinha as mãos abertas como se segurasse uma travessa invisível de bebidas e procurava se concentrar em acumular chakra nelas. Seu sensei tinha dito que não sabia se ele poderia fazer tal coisa, mas só iam descobrir depois que ele tentasse.

Yoshi descansava sentado no chão há poucos metros deles. Estava ofegando ainda depois de seu treino extremamente intensivo em taijutsu. Suas mãos e braços estavam roxas indicando a extensão de seu treinamento – ou o exagero “tolo” do mesmo, segundo Jiro acreditava – sendo que provavelmente teria de passar no hospital para algum tratamento das lesões. Já a sua “parceira” de luta parecia estar muito bem disposta para mais. Que segredo ela teria para estar com a pele ainda macia e quase sem marcas? Tudo bem que era uma Hyuuga e talvez a queridinha de Hanabi-sama, como Ringo tinha brincado, mas se as mãos de Yoshi estavam roxas de tanto bater, os braços dela deviam estar roxos de tanto bloquear.

Ringo moveu o braço esticando-o para a frente em baixa velocidade, quase como se ponderasse sobre o movimento que sua instrutora tinha dito. Fez e refez isso várias vezes. Depois começou a andar diante do boneco que personificava o oponente e a fazer o movimento conforme andava. Ainda fazia isso devagar, quase como se estivesse em câmera lenta. Depois de refazer isso por quase cinco minutos ele se arriscou a fazer em velocidade normal. Correu diante do boneco e girou o corpo, esticando o braço e com os dois dedos que normalmente usava para bloquear os pontos de chakra apontados para o alvo.

Mesmo se concentrando em impregnar suas mãos com seu chakra, ele viu o projétil sair dos dedos do colega e atingir o boneco em uma região próxima ao centro do ombro direito, do lado de uma marca circular que representava o ponto de chakra ali. Ele tinha errado novamente.

Não imaginava como ele conseguia fazer isso, mas não devia ser nada fácil projetar um disparo de seu chakra em direção a um ponto especifico do oponente estando em movimento. Pior! Na pratica ambos estariam sempre em movimento, ele e o oponente. Ringo iria sem duvida ficar meses e meses praticando aquilo – assim como ele ficaria meses ou até anos treinando o chicote de suiton caso conseguisse fazer o chakra ficar em suas mãos.

Hanabi ainda estava proibida de deixar a aldeia por conta de sua desobediência com o incidente dos nukenins no qual seu time se envolveu. A hokage tinha sido muito severa, uma vez que tal punição já se estendia por vários  meses. Aqueles dois antigos alunos dela ficariam presos por alguns anos em um regime leve e com certas regalias, como poder mover-se pela aldeia sendo vigiados por ANBUs, e executando tarefas “em prol da aldeia”. Nome bonito para trabalho forçado. Mas era bem melhor do que ser executado ou ficar na prisão por décadas. Ainda era preciso avaliar o que tinham feito em outros paises no período em que ficaram desaparecidos, mas até o momento não parecia que haveria alguma complicação.  Dessa forma, Hanabi ficou aproveitando essas férias forçadas para dar algum treinamento a Ringo, juntamente com sua pupila Hayako, uma jovem criança do clã Hyuuga que ainda estava na academia, e que iria levar ainda dois anos para terminá-la. No entanto era um assustador fenômeno no estilo de luta do clã. Hanabi a treinava algumas vezes, nada propriamente oficial ou definido, ela apenas costumava acompanhar como estava o progresso da menina, da mesma forma que começou a fazer com Ringo.

Agora todos eles estavam no jardim da casa de Hanabi – algo já não tão raro – se aprimorando em algumas habilidades. Kiba sabendo que só teriam alguma missão em uma semana pediu para todos se manterem em forma e se aprimorarem um pouco.

Na verdade era mais provável que o sensei deles quisesse algum tempo a sós para cuidar da vida amorosa, que deve ser subentendido como “manter a namorada e a mãe separadas”. Pelo boatos que surgiram, a namorada de seu sensei e a mãe deste tinham uma personalidade incrivelmente similar, ou seja, elas quase sempre discutiam e saiam na briga! Ringo não deu muitos detalhes sobre isso, apesar da certeza que tinham que devia conhecer bem mais a respeito, especialmente por já não ser segredo que ele e Haruka estavam se envolvendo mais seriamente. Com certeza Haruka contava para ele o que ocorria dentro do clã Inuzuka, da mesma forma que Ringo devia contar do seu clã para ela.

Com a supervisão de Hanabi, Ringo conseguiu desenvolver aquela habilidade de projetar golpes há quase cinco metros de distancia, mas precisava agora ser certeiro com isso. Apenas causar um pouco de dor e não bloquear o chakra do oponente não seria muito vantajoso. Da mesma forma, ele precisava se dedicar mais em seu treino. Como não iriam participar do exame chuunin, deviam se preparar melhor para quando seu sensei acreditar que estavam prontos, e ele esperava que isso fosse no próximo ano.

Achou que era melhor fechar seus olhos e se concentrar em sua tarefa, ou não iria conseguir nada. Apesar de poder desta forma se concentrar melhor, seus ouvidos o incomodavam com sons que sua mente tentava decifrar. Um som de arrasto lhe fez imaginar que Yoshi devia estar arrastando os pés no terreno arenoso, pois o som vinha da direção em que o viu antes de fechar os olhos. Podia ouvir Hanabi falando para Ringo focar diretamente no alvo e não perder tempo planejando muito. Também ouvia uma ou outra vez Hayako falar alguma coisa, mas o som era muito baixo e as vezes até cortado, além disso, os sinos a distancia também o perturbavam.

Sinos?

Abriu os olhos e notou que Hanabi olhava na direção em que ele ouvia o som destes sinos, assim como Ringo e Yoshi. Ele precisou de segundos para perceber o que chamava a atenção deles.

- O que houve? – perguntou Hayako se aproximando e olhando na mesma direção deles.

- Invasão de perímetro – murmurou Hanabi parecendo estar incrédula – Hayako, vá para a sua casa e fique por lá, vocês três que são gennins, venham comigo.

- Eu também quero ir!

- Nada disso menina! – exclamou ela arreganhando os dentes e fazendo uma expressão assustadora e bem firme -  Você está na academia e nem pode ser chamada de kunoichi ainda. Se quer fazer algo, avise ao Kiba que estou com os gennins dele. Yoshi, Jiro e Ringo, até o sensei de vocês assumir, quero que me acompanhem.

Ela não esperou resposta, saiu correndo e pulou a cerca do jardim, sendo que logo todos a seguiram. Jiro tentava se lembrar o que significava “invasão de perímetro”, e logo se lembrou. Alguém não autorizado havia entrado na área que os sensores da aldeia vigiavam, ou seja, havia um desconhecido andando próximo a aldeia. Provavelmente um andarilho perdido, ele imaginava. Na verdade ele torcia por isso. Não estava disposto a enfrentar ninjas inimigos experientes assim de forma inesperada, sem nem ao menos se preparar psicologicamente para isso.

Alguns minutos depois o grupo parava defronte ao portão de entrada da aldeia. Hanabi já utilizava o seu byakugan, assim como Ringo para verificar o que tinha causado o alarme.

- É no nordeste, Hanabi-sama – disse Ringo depois de um tempo observando ao redor.

- Estou vendo – respondeu ela, deixando tanto Jiro quanto Yoshi curiosos e preocupados – vamos gennins, tem serviço para nós fazermos.

Confuso com a afirmação dela – afinal, cuidar de invasões era para a patrulha da aldeia e até para os ANBUs que cuidavam da segurança. Eles sendo gennins deviam ficar apenas de prontidão. Mas como Hanabi era uma jounin e os chamando para dar apoio, eles tinham que atendê-la, ainda mais porque estavam a disposição.

Foi uma rápida viagem de poucos minutos pelas árvores. Jiro muitas vezes pensou em perguntar o que estava havendo, mas não conseguia ficar próximo o bastante de Ringo para uma conversa. Quando chegaram ao destino Yoshi e Jiro ficaram de boca aberta com o que viram. Primeiro Já tinham notado que estavam quase que no começo das áreas de treinamento, e imaginaram porque uma invasão – mesmo detectada tão distante – ainda estaria no mesmo local. Mas a resposta estava ali na frente deles. Pelo menos oito pessoas mortas, muito sangue e até partes de corpos espalhados. Nem os bois que puxavam as carroças foram poupados, um deles inclusive tinha sido decapitado.

- Mas o que houve aqui? – Murmurou Yoshi enquanto Hanabi e Ringo andavam um pouco adiante deles entre os cadáveres e sinais de evidente ataque.

- Evitem mexer nas coisas o máximo possível – disse Hanabi enquanto andava – para não prejudicar futuras investigações. O grupo de patrulha já passou por aqui e viu que não havia nada a fazer, estão agora procurando por quem deve ter feito isso. A nós cabe apenas manter o local intocado e verificar se há sobreviventes.

Jiro viu uma pessoa jovem, talvez da mesma idade que ele. Estava com metade do corpo embaixo do cadáver de um boi usado para puxar a carroça. Podia ver claramente que seu pescoço tinha sido cortado ali mesmo naquele local. Um assassinato a sangue frio. Ou melhor dizendo, aquilo tinha sido uma execução!

- Eles... não conheço nenhum deles – murmurou Jiro olhando tudo atônito – são de alguma caravana de passagem?

- Não existem caravanas de passagem próximas à aldeia – respondeu Hanabi examinando outra pessoa morta caída de bruços – qualquer caravana que se aproxime da aldeia tem esta como origem ou destino, e também não reconheço ninguém aqui. Não é uma caravana regular de Konoha. E considerando a carga deles, talvez nem sejam comerciantes. Até agora só vi mantimentos e equipamentos para uma longa viagem. Provavelmente estavam seguindo viagem para algum lugar.

Ela se ergueu e com o seu byakugan observou a estrada de onde eles deviam ter vindo. Jiro olhou na mesma direção tentando entender o que ela procurava. Seria pelos que fizeram aquilo? Provavelmente não. Como ela mesma tinha dito, a patrulha da aldeia já tinha passado por ali e agora devia estar procurando por invasores nas imediações. Já acreditava que deviam haver alguns ANBUs os observando a distancia, apenas para acompanhar o que faziam e dar apoio eventual caso ocorresse alguma surpresa. Lembrava-se bem do que ensinaram na academia sobre os ANBUs. Eles vigiavam a aldeia e os arredores, mas só se envolviam diretamente mediante ordens expressas ou em situações de emergência.

- Ela está viva! – gritou Ringo assustando-o completamente. Os três se voltaram na direção dele e se aproximaram para conferir o que ele tinha dito.

Conforme se aproximava, Jiro divisou o corpo de uma mulher que pela textura da pele devia ser jovem. Estava deitada de bruços e com uma grande espada fincada no seu peito. Uma katana com excelente corte pelo que apurou quando ficou do lado do corpo. Podia ver ela respirar devagar e o sangue saindo um pouco do ferimento a cada respiração. Pela posição da espada não teve duvidas que o coração dela poderia ter sido perfurado, mas como ainda estava viva, provavelmente não o foi.

- Não toquem nela – disse Hanabi quase gritanto com uma forte voz de comando. Ela ainda estava com o byakugan ativo e olhava intensamente na direção da mulher – o coração dela foi atingido. Só está viva porque a espada está impedindo o sangue de sair do corpo.

- E como vamos tratar dela? – perguntou Yoshi com uma expressão indicando o quanto estava impressionado com o que ela tinha dito.

- Não vamos – respondeu ela – Yoshi, volte à aldeia e solicite uma equipe médica. Eles vão saber o que fazer.

Yoshi observou a mulher por alguns instantes, um pouco indeciso sobre que ação tomar.

- Yoshi! – chamou ela novamente.

- Sim, Hanabi-sama!

Ele desapareceu rapidamente entre as árvores rumo a aldeia. Hanabi ficou do lado da mulher moribunda e mandou que Jiro e Ringo verificassem se havia mais sobreviventes. Mas depois de vários minutos conferindo cada corpo localizado, viram que não. A mulher era a única, e provavelmente não seria sobrevivente por muito tempo. Jiro pensava em como iriam salvar a vida dela se ironicamente a única coisa que a impediu de morrer tinha sido a própria espada que a perfurou. Assim que a removessem, o sangue verteria em jatos pelo ferimento. Alem disso, pela posição e provável comprimento da lamina ele tinha certeza de que não só a tinha atravessado, mas estava cravada no solo através das costas dela.

Ele voltou a ficar do lado de Hanabi após examinar todos os corpos ao redor, aguardando para saber se iriam fazer mais alguma coisa.

- Jiro – disse ela após algum tempo em que ambos ficaram lado a lado em silencio – volte para a aldeia e tente descobrir com os comerciantes se estavam esperando algum carregamento hoje – fez uma pausa para tocar levemente a palma de sua mão próxima a onde a espada tinha perfurado o peito da mulher e continuou – antes de ir... tem certeza de que não conhecia alguma destas pessoas?

Ele maneou a cabeça de um lado para o outro. Todos eram desconhecidas para ele. Mas imaginou o porque dela perguntar.

- Muito bem, pode ir agora – disse ela de forma suave.

-x-

Estava se considerando como que punida por ter de ficar ali apenas aguardando. Diante dela estava a caixa agora aberta que Umito havia pegado do meio do mar de cobras – ou serpentes como ele e sua sensei iriam corrigi-la se a ouvissem falando aquilo – e um pouco mais adiante estavam as engrenagens de seu interior. Várias engrenagens – algumas danificadas e torcidas devido ao ataque de Umito para fazer aquilo parar de funcionar – estavam diante da caixa espalhadas pela mesa. Algumas peças redondas eram desiguais, se parecendo com um formato de ovo, o que devia ter gerado a vibração que atraiu aquelas criaturas.

Claro, ela não saberia o que era não fosse o relojoeiro que estava ali na sala com ela, incumbido de desmontar o aparelho e o analisar. Quando a caixa foi aberta pela sensei deles há poucas horas de chegarem na aldeia, ela viu que tinha um conjunto de engrenagens bem complexo, e sugeriu que um relojoeiro seria melhor indicado para ver como aquilo funcionava para a hokage, coisa que esta aprovou imediatamente.

- Confesso que quem montou isso é um excelente engenheiro, e com certeza com muitos contatos ou recursos – disse o idoso senhor com um monóculo para aumentar a visão que tinha das peças. Algumas eram muito pequenas, parecendo ser apenas parafusos.

Ela maneou a cabeça concordando, embora na verdade estivesse sendo apenas educada. Não devia ter aberto a boca na frente da hokage. Porque foi perguntar se podia ver como iriam analisar aquela coisa? Certo, estava curiosa sobre aquilo, e também estava com interesse de aprender certos segredos de investigação, especialmente para poder imaginar o que tinha ocorrido em alguns locais. Ficou fascinada sobre como a sensei tinha analisado o que estava ocorrendo ali naquele mar de cobras.

Mas também não imaginou que seria tão tedioso. A hokage sorriu e disse então que estava escalada para acompanhar a analise que ia ser feita, e que devia prestar um relatório depois disto.

Miyoko engoliu em seco quando ouviu aquilo.

Agora estava ali já fazia horas vendo o idoso senhor removendo cada engrenagem com uma pinça e a cada vez que fazia isso fazia um desenho da mesma em uma folha. Ele tinha várias folhas em branco e muitas já estavam preenchidas. Conforme ele desmontava o aparelho ia acrescentando detalhes ao esquema do mesmo. Essa parte era interessante, mas o tempo que demorava para se chegar  a isso não!

- Como assim “muitos contatos ou recursos”? – perguntou ela de repente após pensar melhor nas palavras dele.

Ele parou de observar a pequena engrenagem na ponta da pinça e a observou com um pequeno sorriso. Parecia com um velho que ia falar algo para os netos, considerando o seu sorriso.

- Uma boa pergunta jovem, estava achando que estava aqui mais de castigo do que para acompanhar o que eu fazia.

Ficou levemente corada com o seu comentário. Aquele velho era mais sagaz do que aparentava.

- Essas peças pequenas não são nada fáceis de se fazer – ele apontou para algumas das menores com a pinça na mão – elas não são feitas em moldes, alguém pacientemente as esculpiu lentamente, uma a uma. Além disso, a resistência que precisam ter é muito grande, bem maior que a de um mero relógio. Quem montou isso tinha muito recursos, muito dinheiro para pagar por tal coisa. E como ainda estou na metade do trabalho, só posso imaginar algum senhor feudal muito rico para ter encomendado tal coisa. Deve ter pedido as peças em separado para vários relojoeiros, mas me intriga quem poderia ter concebido todo o esquema disto – ele apontou para a caixa aberta com várias engrenagens ali dentro ainda para serem removidas uma a uma – sabe para o que estava sendo utilizado?

Apertou os lábios um pouco. O relojoeiro não sabia o que era aquilo, e sua sensei disse para não dar nenhuma informação direta se possível.

- Consegue imaginar?

- Ele tem muitos pêndulos e engrenagens pesadas ovais, o que faz uma grande vibração, mas todas as engrenagens estão montadas a compensar isso, ou seja, a caixa não vibra, podendo trabalhar por muito tempo. Considerando estas molas – ele mostrou varias espirais de metal no fundo da caixa – ele ainda não tinha chegado na metade de seu tempo de operação. E não duvido que pudesse funcionar por vários dias. Mas não é um medidor de tempo. Parece que serve apenas para gerar vibrações.

Ficou pensativa com o que ele disse. Agora sabia que fazer aquela coisa que ficou atraindo as cobras tinha sido bem caro, e que devia funcionar por um bom tempo. Talvez todas as horas em que ficou com o seu traseiro achatado enquanto aguardava a caixa ser desmontada valesse um pouco a pena.

- Quanto tempo demoraria para fazer essa coisa ai? – perguntou mais para distraí-lo enquanto pensava em como colocar isso no relatório que teria de fazer para a hokage.

- Uma pessoa sozinha? – murmurou ele retornando a observar a peça nas mãos e a desenhá-la detalhadamente no esquema que estava fazendo no papel a sua frente – vários anos. Só o projeto levaria meses. E mesmo que varias pessoas fossem contratadas para fazer as peças, não creio que ficasse pronto em menos de um ano.

Começou a sentir um calafrio. Porque alguém... alguém não! Ela sabia muito bem quem devia ser o dono daquilo. Porque Kabuto investiria tanto tempo e dinheiro para atrair cobras para um lugar? E simplesmente o largando como um chamariz? Não fazia sentido. Não era sua especialidade ficar cogitando coisas, mas depois de várias horas sentada ali sua mente já tinha divagado muito. Foi quando a porta da sala se abriu com violência chamando a atenção de ambos ali. Miyoko imediatamente saltou para ficar entre a porta e o relojoeiro, pronta para interceptar quem quer que fosse o invasor, mas relaxou quando viu que era Umito.

- Miyoko-chan – disse aparentemente um pouco ofegante – vamos!

Ele não esperou resposta, virando sob os calcanhares e disparando pelo corredor. Um pouco confusa, ela olhou o homem ali que estava tão surpreso quanto ela e o seguiu. Conseguiu alcançá-lo na saída do prédio, e ele logo pulou para um telhado próximo, seguindo em direção ao portão da aldeia.

- O que houve? – perguntou em voz alta. Agora ela percebia que as ruas da aldeia estavam sendo esvaziadas, e que muitos shinobis estavam saltando ao redor indo para algum lugar.

- Dentro do prédio você não deve ter ouvido – disse ele sem olhar para ela – tivemos uma invasão de perímetro. Anko-sensei está nos esperando na entrada da aldeia.

Invasão de perímetro? Estavam sendo atacados?

Não teve tempo de pensar em mais nada, pois ambos chegaram onde sua sensei os aguardava. Outa já estava do lado dela também os aguardando.

- Sensei – começou ela confusa e um pouco aflita.

- Fique calma – retrucou ela enquanto se afastava para dar passagem a uma carroça médica que partia pelo portão sendo escoltada por um time ninja – até onde eu sei parece que houve um incidente no perímetro da aldeia, mas não sei os detalhes. Só me disseram que aparentemente não é uma invasão, mas pode ser também uma distração para nos pegar de surpresa.

Viu vários shinobis montando guarda na entrada da aldeia, e alguns times ninjas um pouco mais adiantados que o seu se movendo a distancia. Estava imaginando o que eles iriam fazer naquela situação.

Sua sensei por outro lado olhava diretamente em direção ao prédio da hokage. Ela percebeu isso e olhou para o mesmo lugar. No entanto, fora alguns poucos moradores se apressando para ir para casa e shinobis pulando ou correndo pelas ruas, não viu nada.

- Sensei, o que está procurando? – perguntou ela não escondendo sua curiosidade.

- Por nada – murmurou ela olhando para baixo – vamos crianças, nossa tarefa é circular até um quilometro ao redor da aldeia e avisar caso localizamos qualquer estranho.

Ela seguiu até a guarita dos shinobis que ficavam de guarda no portão e retornou em seguida com três bambus com um pavio na parte de trás, distribuindo um para cada um.

- Se acharem qualquer coisa suspeita, usem esses sinalizadores e corram de volta para aldeia o mais rápido possível, entenderam?

Ela estava séria, e eles perceberam isso. Com certeza não queria arriscar seus alunos, mas ainda assim eles tinham uma tarefa a cumprir. Os três menearam as cabeças concordando e partiram em seguida seguindo sua sensei. Quando ficaram a distancia estipulada se separaram, começando a circular a aldeia. Miyoko saltava algumas arvores e observava ao redor, tentando ver se achava alguma coisa ou alguém andando por ali. Imaginava que era uma tarefa inútil, pois com certeza deviam haver ninjas mais habilidosos explorando mais a frente. Caso alguém chegasse ali tão perto da aldeia, devia ser muito habilidoso, e meros gennins como ela nada poderiam fazer.

Bom, podiam dar o aviso. Ela acabou pegando aquele bambu e o observou um pouco. Era pesado, e devia ter muita pólvora dentro. Era praticamente um lançador de fogos de artifício, mas com certeza de uma cor especial para chamar a atenção. decidiu prende-lo no mesmo cinto que mantinha sua bolsa na cintura para ter acesso a ele mais facilmente e continuou com a sua patrulha.

Foi só depois de quase duas horas que percebeu um detalhe... sua sensei não disso por quanto tempo iriam fazer aquilo. Como saberia se tudo estava bem ou não? Que droga! Porque não tinha prestado mais atenção naquelas aulas chatas da academia referente a proteção da aldeia durante invasões? Devia haver algum sinal para indicar isso, mas não se lembrava qual seria.

Sinos eram invasão de perímetro, e sirenes era uma invasão na própria aldeia. Na verdade, estava duvidando que houvesse algum sinal de “tudo bem”.  Continuou pulando entre as árvores, as vezes descendo destas e observando o solo. Mas – felizmente – nada lhe chamava a atenção. Vários minutos depois ela chegou a uma escarpa – a mesma de onde estavam as cabeças esculpidas dos hokages – e decidiu fazer o caminho de volta. Provavelmente iria cruzar com Outa no caminho agora, já que ele estava numa área ao lado da sua para investigar.

Mas parou de patrulhar quando observou uma coluna de fumaça a distancia. Era branca, e na verdade mal conseguia ver ela – se parecia com uma nuvem rala muito baixa – mas de onde estava não teve duvidas que era fumaça vinda do solo, mas parecia estar bem distante. Curiosa – e preocupada com aquilo – ela voltou a escarpa onde tinha parado antes e a escalou para poder ver melhor.

Conseguia reconhecer agora o que tinha naquela direção. Era onde uma estrada secundária serpenteava pela floresta indo para outras aldeias. Não era a estrada que vinha para konoha, e ficava muito distante também. Ficou pensando um pouco a respeito e apertando os lábios correu escarpa abaixo decidida a investigar aquilo.

Fumaça àquela hora do dia não era normal, alem disso não havia ponto de acampamento por ali. Ela conhecia aquela estrada bem pois era a que usavam como referencia quase sempre que saiam em missões da aldeia – ela levava a vila onde sua sensei adorava comprar dangos – para terem certeza de que não estavam se desviando do caminho.

Levou duas horas para chegar lá, e acreditou que iria ser punida por ter decidido fazer aquilo sem avisar ninguém. Bom, podia culpar sua impaciência por isso, embora a verdade foi que ela nem se tocou daquilo. A aldeia teve uma invasão de perímetro e sua sensei a mandou fazer uma patrulha. Certo, tinha visto algo suspeito, mas devia ter avisado sua sensei daquilo, não investigado sozinha.

Estava bem longe do perímetro da aldeia – e do provável incidente que tinha ocorrido ali – e acreditava que nenhum ANBU tinha ido ali. Diminuiu o ritmo pouco antes de chegar a estrada e se ocultou nas arvores, tentando observar da forma mais silenciosa e oculta possível o que estava gerando aquela fumaça. Praguejou quando percebeu que ainda haviam algumas árvores no caminho. Saltou mais algumas e finalmente viu a estrada, bem como algumas coisas espalhadas por ela, o que a intrigou.

Ficou encolhida entre a folhagem da arvore enquanto tentava ver o que seriam aqueles objetos. Primeiro identificou uma caixa destroçada com pó branco ao redor – devia ser farina ou açúcar, talvez até sal – depois percebeu alguns sacos rasgados e outros intactos. Parecia que era a carga de uma carroça que soltou, mas ainda não tinha visto de onde vinha a fumaça, apesar de que seu nariz já lhe dizia que era cheiro de madeira queimada.

Desceu alguns galhos para poder ver mais da estrada e então ela viu o que estava ali. Era uma carroça tombada, ou melhor, metade de uma carroça tombada, sendo que a outra metade eram agora cinzas queimando lentamente. Ainda dava para perceber a roda dependurada nas chamas fracas. Era isso que estava fazendo a fumaça que ela viu. Será que ela acabou chegando no tal “incidente” que iniciou tudo aquilo?

Apurou um pouco os olhos e procurou ao redor, mas não achou mais nada interessante, apenas mais sacos e caixas – haviam também rolos de tecido – espalhados. Munindo-se de coragem ela desceu da árvore e se aproximou da parte não queimada da carroça. Só podia deduzir que algum viajante tinha sido atacado ou sofreu um acidente.

Quando contornou os destroços ela tremeu um pouco e teve a resposta sobre o que talvez tivesse ocorrido ali. Havia um homem caído no chão do lado da carroça, mas o que lhe chamou a atenção não foi o corpo, mas sim a kunai cravada em sua cabeça.

Sabia que ia levar uma reprimenda pelo que fez, mas seria muito pior agora se simplesmente decidisse voltar para contar o que encontrou. Houve uma invasão de perímetro e estavam procurando pelos possíveis invasores, e ela encontrou uma pessoa que tinha sido assassinada com uma arma que normalmente ninjas usavam. Qual a possibilidade dos “invasores” terem feito aquilo?

Pegou o bambu de seu cinto e pulando para o alto da árvore mais próxima o disparou. E ficou por ali aguardando alguém chegar. Felizmente não esperou muito, logo dois ANBUs estavam lá parando em frente a mesma carroça. Ela desceu da arvore deixando-os um pouco apreensivos – ela tinha se ocultado bem – mas logo relaxaram quando viram que era.

- Eu não devia estar aqui – começou ela antes que eles falassem – mas vi a fumaça e vim investigar. Só espero não ter dado um alarme falso...

- Você fez bem – disse um deles examinando o cadáver – até agora não tínhamos encontrado nada, estávamos quase cancelando o alerta. Parece que os atacantes foram nesta direção.

- Atacantes? – murmurou ela involuntariamente.

- Miyoko – disse o outro ANBU de forma séria – agradecemos a sua ajuda, mas esse assunto está acima das capacidades de gennins. Caso você precise se envolver mais no assunto, será informada a respeito. Agora, volte para a aldeia e informe a sua sensei.

Ela ficou um pouco emburrada, mas acatou o pedido. Começou a andar pela estrada apenas para observar melhor a carga espalhada por esta – e também porque não queria ir embora tão depressa, afinal, ela quem encontrou o lugar, devia ter o direito de ver o que iam fazer – mas apenas viu coisas comuns que carroças de comerciantes carregavam. Nada de excepcional. Deu uma ultima olhada para trás e ambos os ANBUs pareciam bem interessados no cadáver, pois examinavam seus bolsos e com cuidado pareciam que o revistavam. Provavelmente para obter alguma identidade.

Com um suspiro ela dirigiu-se de volta a aldeia.

Ao anoitecer o alerta foi cancelado, e uma raivosa Miyoko suava na cozinha de sua sensei enquanto preparava o jantar dela e de seus colegas. Sua sensei apreciou sua iniciativa, mas não gostou nada dela ter tomado aquela decisão sendo que tinha a opção de obter apoio de um colega de time que estava relativamente próximo. Não foi nenhuma punição terrível, exceto que ela detestava cozinhar. Mas até que tanto Anko como seus colegas gostaram de sua comida. Ela só não esperava ter que virar a cozinheira “oficial” do time quando saíssem em missão e estivessem acampando.

E apesar de muito insistir, sua sensei não disse nada sobre o que tinha ocorrido. Ela ainda não tinha “autorização” para falar. Talvez pudesse explicar mais tarde. Seja lá o que tenha ocorrido, devia ser bem sério para fazerem tanto segredo.


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Notas finais do capítulo

Eu ainda estou bem enrolado com minha vida profissional, portanto não tenho previsão nenhuma para o proximo capitulo. mas ao menos consegui alguma coisa. Só peço que quem acompanha a história tenha paciencia.



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