Sonho Renascido escrita por Janus


Capítulo 37
Capítulo 37




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Tinha sido sério! Sentiu seu braço estalar e a dor que emergiu de seu ombro direito não deixou dúvidas que estava deslocado. Permitiu seu corpo girar acompanhando a torção feita pelo seu oponente e vendo a chance, fechou as pernas ao redor de seu pescoço e com a mão esquerda pegou uma kunai de sua bolsa e atingiu violentamente a sua têmpora com o cabo desta, cortando qualquer possibilidade de reação imediata. No entanto precisava pensar no que fazer quando atingissem o chão.

Observou o solo se aproximando e calculou o que fazer. Só precisava se garantir de fazer no tempo correto. Libertou o pescoço dele do enlace de suas pernas e o afastou um pouco com a sua mão. Após isso pos os dois pés na sua nuca e relaxando os músculos dos braços esticou as pernas o mais rápido que pode, mas preveniu-se para deixá-las flexionadas, para não sofrer danos quando atingisse o solo. Ouviu o grito de desespero dele ferindo os seus tímpanos, bem como ele mover as mãos em pânico tentando agarrar seus tornozelos. Ele chegou mesmo a agarrar sua perna, mas foi tarde demais.

O rosto dele atingiu o solo levemente macio coberto de grama com força. Suas pernas foram flexionadas para amortecer o impacto, ao mesmo tempo que aumentava a pressão na cabeça dele quase ao ponto de partir o crânio – torceu para que isso não ocorresse ou todo esse cuidado teria sido inútil – quando sentiu que seu corpo parou de ir na direção do solo, esticou as pernas para dar um salto e posicionou-se a dois metros dele. Ficou com o corpo preparado para revidar a qualquer reação que pudesse ocorrer.

Sentia a dor de seu braço bem como a tensão dos músculos por estar em uma posição anormal. Mas não podia cuidar de seu braço deslocado agora, antes precisava ter a certeza de que o nukenin não ia mais reagir. Talvez devesse dar mais um golpe para ter certeza.

Um som distante de uma explosão tirou sua atenção do corpo caído de bruços a sua frente por alguns instantes, mas logo voltou a observá-lo. Talvez seus companheiros precisassem de ajuda. Rangeu os dentes levemente e saltou para cima dele, dobrando o joelho no salto e atingindo a sua espinha com violência. Não houve reação da parte dele, mas mesmo assim certificou-se o atingindo com a kunai que ainda estava na sua mão na região do rim. Percebeu que não houve contração dos músculos, como esperava. Só então largou a kunai e tentando relaxar os músculos do braço deslocado o máximo possível, usou o braço esquerdo para recolocar o ombro direito no lugar.

Não foi fácil, especialmente com a dor crescendo no ombro – estava imaginando que não fora apenas deslocado, alguma lesão devia ter ocorrido nos tendões ali – mas depois de alguns minutos sentiu que ele tinha voltado ao lugar. O ombro ainda doía muito – confirmando possíveis lesões – mas podia mover o braço e a mão novamente. No entanto sentia que os músculos do braço direito não estavam respondendo como antes.

Deu uma ultima olhada no oponente caído e ponderou sobre as ordens da sensei. Tinha que levar aquele nukenin vivo – se possível – e ignorar todo o resto. Significava que devia já levá-lo consigo e deixar seu time para trás. Mas não conseguia fazer isso. Ouviu mais um som distante e rangeu os dentes, se maldizendo pelas ordens. Elas eram importantes e tinham prioridade.

Maldizendo a si mesma ela pegou a corda de nylon que tinha na sua bolsa e amarrou as mãos do nukenin as costas. Fez o mesmo com seus tornozelos e o colocou nos ombros, xingando-o levemente por ser tão pesado. Deu uma ultima olhada na direção de onde ouvia sons de combate e partiu rumo a Konoha, se condenando intimamente e tentando de uma forma inútil tirar a sensação de que abandonava os seus companheiros de sua mente.

Isaki seguia pelas árvores tentando cobrir a maior distancia no menor tempo possível. Estava há quase três dias de viagem da aldeia, e mesmo sabendo que ainda levaria horas para anoitecer, já tentava imaginar o que fazer quando precisasse acampar. Seu prisioneiro quase a derrotou. Não fosse por sua capacidade de fazer genjutsos sem dúvida alguma estaria morta. Não era nenhuma expert nisso, apenas podia dar falsas impressões ao oponente. Mas tinha aprendido com sua sensei a como usar aquilo como ferramenta em uma luta, seja causando confusão nos sentidos do oponente, seja confundindo as suas percepções de profundidade, de forma a não ser capaz de mirar corretamente seus golpes. Essencialmente ela era usuária do taijutso, quando muito podia fazer uma bola de fogo de katon.

Mas saber como usar o que se tem era muito melhor do que ter um monte de habilidades e não ser boa em nenhuma. Isso lhe possibilitou se tornar uma kunoichi bem respeitada na aldeia, como seu oponente confirmou em primeira mão. Em nenhum instante ele realmente conseguia se focar onde ela realmente estava, embora todas as vezes tenha errado por pouco. Além disso, fazê-lo pensar que estava ficando com medo também a ajudou, embora sempre acabava esquecendo que quando alguém atinge o desespero pode ficar incrivelmente perigoso. Foi quando ele deslocou seu ombro. Não fosse seu pensamento rápido...

Parou de saltar por alguns instantes e observou detidamente seu prisioneiro. Ele respirava devagar mas notou que o ferimento que tinha feito no rim com a sua kunai ainda sangrava, provavelmente fazendo uma trilha de sangue indicando o caminho que tinha percorrido. Sentiu-se uma amadora. Sua preocupação em seguir as ordens da sensei tinha sido tanta que se esqueceu daquele detalhe de extrema importância.

Não tinha tempo para fazer uma sutura ali. Rasgou uma tira de pano da sua calça e improvisou uma bandagem com aquilo, contendo o sangue por algum tempo. Iria precisar fazer um curativo mais decente depois, mesmo porque no tempo que iria demorar para chegar até a aldeia ele poderia morrer se aquela ferida continuasse aberta. Mas para o momento iria servir.

Seguiu seu caminho ignorando o cansaço, a fome e a sede de seu corpo, apenas ocasionalmente ingerindo uma das pílulas de soldado para manter suas energias. Ao inicio da noite parou no alto de uma árvore e observou ao redor. Podia divisar bem o crepúsculo avermelhado a sua frente e a escuridão da noite do outro lado. Observou o seu prisioneiro e voltou a se preocupar com ele. Não tinha se movido ou ao menos despertado durante toda a viagem. A única coisa boa que tinha a seu favor era seu ferimento não estar mais sangrando – mas ia sangrar novamente quando removesse aquele curativo temporário para fazer um mais decente – e ainda estar vivo.

Precisava de um local para cuidar dele e seguir viagem em seguida. Não iria suportar ter abandonado seus companheiros por nada, caso ele morresse. Saltou mais algumas árvores procurando um local apropriado, talvez uma caverna ou uma clareira aberta, um local de onde pudesse observar aos arredores. Após procurar um pouco percebeu algo emergindo pela copa das árvores

Fumaça!

Era apenas uma fumaça esbranquiçada continua, provavelmente oriunda de uma chaminé ou fogueira de acampamento. Em ambos os casos seria útil para ela. Foi em direção a fumaça, avaliando que seu destino estaria há uns três quilômetros, mais ou menos.

Posicionou-se atrás de uma grande rocha e observou o local detidamente. A noite já tinha avançado escurecendo o céu completamente, sendo que apenas a luz da fogueira iluminava o local. Achou estranho não haver ninguém perto do fogo, e nem nada que indicasse um acampamento ali. Havia apenas a fogueira e nada mais. Aquilo não era normal pela sua experiência. Só podia supor que quem estava ali percebeu a sua aproximação e se escondeu ou fugiu. No entanto... teria que ser um ninja para ter feito isso, uma vez que sua aproximação tinha sido extremamente cautelosa. Teria ela ido logo para onde estariam mais nukenins?

Deixou o seu prisioneiro cair ao chão de forma não muito delicada e sentou-se encostando as costas na rocha. Por alguns momentos ficou divagando sobre como aquela rocha tinha ido parar ali, uma vez que estava longe de qualquer monte ou afloramento rochoso, mas não se permitiu pensar muito sobre isso. Estava em uma situação potencialmente arriscada e precisava decidir o que fazer agora. Olhou para o corpo inerte com os pulsos ainda presos caído no chão e ficou imaginando se ele não estaria fingindo estar inconsciente. Na verdade estava realmente acreditando nisto. A menos que estivesse em coma, deveria ter despertado nas varias horas em que ficou carregando-o pelas árvores.

Esta acabou sendo a missão mais difícil e perigosa que acabou fazendo. Inicialmente parecia ser algo não muito extremo, apenas aferir, localizar e se confirmado deter ataques de nukenins na fronteira do país. Sua sensei imaginava que seria um missão de classe A dada a descrição da forma de agir dos supostos oponentes.

Quando chegaram ao local dos relatos, confirmaram pelos rastros e pelos danos que ocorreram que eram ninjas sem sombra de duvida. Quando encontraram uma vila inteira com os prováveis residentes mortos já imaginavam que seriam nukenins. Afinal, não estavam em guerra contra nenhum outro pais e não havia noticias de rebelião em parte alguma. Quando finalmente os localizaram após muita busca e perseverança seguindo os parcos rastros que eles deixavam, viram que os nukenins eram mais do que esperavam.

Não eram meros ninjas que fugiram cedo de suas aldeias ou que tiveram treinamento familiar. Eram oponentes extremamente capacitados, equivalentes a chuunins habilidosos ou jounins. Enfrentar os primeiros dois foi um grande desafio. Tinha que reconhecer que não estava habituada a enfrentar alguém tão habilidoso assim em um combate de vida ou morte – de certa forma, isso era devido ao longo período de relativa paz que as nações enfrentaram – e não gostou muito de precisar matar o oponente. Mas sentiu-se plenamente satisfeita quando o fizeram.

Depois foi que a missão ficou realmente difícil. Receberam um comunicado da hokage que deveriam procurar por mais nukenins na região, e que provavelmente seriam tão ou mais perigosos que aqueles dois primeiros. Além disso, ela solicitava que trouxessem um prisioneiro se possível, em vista de que estavam ocorrendo muitos incidentes com nukenins e nenhum deles estava sobrevivendo para um interrogatório. Era evidente que a hokage estava incomodada com isto.

Aquela grande crueldade rosa sabia muito bem que quando solicitava algo a sua discípula, esta encarava como ordem irredutível. Ela ia tentar cumprir aquilo ou mataria o time inteiro tentando.

Mas no fundo não podia reclamar. Estava plenamente satisfeita de Moegi ser a sua sensei, e de ter seus companheiros de time consigo. Lembrou-se vagamente da época em que eram o time nove, quando estavam aprendendo a trabalhar em conjunto, de suas diferenças, das missões iniciais que completaram e das brincadeiras e outras peripécias que aprontaram juntos, antes de se tornarem chuunins, antes de serem nomeados de time Moegi.

Levou a mão para a sua bolsa e pegou uma kunai com tarja explosiva. Pressentia algo se aproximando por detrás da rocha. Era um passo muito, mas muito leve, mas ela conseguia perceber isso. No entanto, não fez nenhum movimento para atacar. Aquelas passadas mais se pareciam com o de um animal. Provavelmente alguma criatura noturna da floresta, um lobo provavelmente.

Mas mudou de idéia quando ouviu arranhões do outro lado da rocha em que se ocultava e acompanhou com os ouvidos esse som subindo por ela. Fosse o que fosse, iria atacar por cima. Firmou as pernas e observou atentamente o alto da rocha, aguardando o aparecimento do que estava subindo ali. Ainda acreditava ser um animal, mas não iria ficar convicta disto.

Jogou a kunai com toda a força assim que divisou dois olhos brilhando lá em cima. Eram olhos de animal, não tinha duvidas. Chegou mesmo a pensar que tinha feito um ataque desnecessário, bem como teria desperdiçado um importante trunfo para ser usado depois. Mas mudou de idéia quando reparou que a criatura tinha agarrado a kunai com os dentes.

Com os dentes? Aquilo não era um animal selvagem, devia ser um animal treinado, talvez um... ninken?

A criatura saltou por cima dela e pousou nas suas costas. Isaki virou-se rapidamente pondo-se em guarda e ficou bestificada em seguida. Era um cachorro negro, e estava... abanando o rabo para ela?

Após alguns instantes em que ficou paralisada pela surpresa, o cachorro colocou a kunai no chão e desapareceu em uma nuvem de fumaça. Isaki apenas murmurou Shiromaru levemente com os lábios. Aquela era a Shiromaru! Mas o que estava fazendo ali?

Agora ouvia mais sons se aproximando, e bem rápido. Parecia que vinham de todas as partes. Apesar de confusa com o que viu antes, pegou shurikens de sua bolsa e se preparou, mas logo viu que não estava sendo atacada. Quatro cadelas idênticas se aproximavam, confirmando claramente que a primeira era mesmo Shiromaru, ou melhor, um clone dela. Devia ter desaparecido apenas para informar as outras copias – e a original – que tinha encontrado o provável invasor. Isaki começou a imaginar que a fogueira próxima devia ser um acampamento feito pelo time do namorado de sua sensei.

Duas das cadelas se aproximaram do seu prisioneiro e começaram a rosnar para ele. Uma outra se aproximou de seus pés e roçou a cabeça neles. A cadela restante ficou mais afastada, observando algum ponto em direção a floresta. Ela estava satisfeita de ter uma companhia amiga, mas também ficou preocupada e curiosa sobre o que eles estariam fazendo ali. Provavelmente uma missão nos arredores, ou mais provavelmente indo para uma. Pelo menos poderia pedir para Konohamaru ir ajudar o seu time enquanto seguia viagem rumo a Konoha com o prisioneiro.

Colocou-se novamente de guarda quando ouviu um silvo de vento acima dela, e quase lançou shurikens quando alguém pousou em cima da rocha as suas costas. Logo depois ficou satisfeita de ter se segurado.

- Isaki-chan! – disse Haruka pulando para cima dela – que surpresa!

Isaki retribuiu o abraço da jovem kunoichi, mas logo a afastou e ficou observando seu prisioneiro. Notou surpresa que dois dos clones de Shiromaru estavam observando-o atentamente. Aquela cadela parecia estar bem experiente em reconhecer ameaças.

- Infelizmente estou no meio de uma missão. Preciso levar este prisioneiro para a aldeia o mais rápido possível.

- Hum... certo – ela estava um pouco confusa aparentemente. E não podia culpá-la – eu já devo chegar aqui.

Já devia chegar? O que ela quis dizer com aquilo? Quando se virou para perguntar, viu surpresa que ela desapareceu também, revelando ser um clone. Claro... todos naquele time faziam o clone das sombras. Haruka não podia fazer mais de duas copias de si mesma, e pelo que se lembrava era capaz de fazer varias copias de Shiromaru. Decerto ela fez um clone dela mesma para verificar quem teria se aproximado. Muito esperta esta garota. Também esclareceu como foi que sua aproximação tinha sido notada. Shiromaru devia tê-la sentido, mas não foi capaz de saber que era ela pois estava contra o vento – uma precaução extra que ela tinha tomado ao se aproximar da fogueira.

Agora que sabia que não estava em um local arriscado, Isaki pegou o seu prisioneiro e o carregou em direção a fogueira, o largando próximo a esta. Alguns segundos depois Haruka – provavelmente a verdadeira – chegava carregando as mochilas de seus companheiros. Por isso não havia sinal de acampamento ali. Haruka pegou tudo e escondeu quando Shiromaru deu o alarme. Só não deve ter apagado o fogo para atrair o invasor para aquele local.

- Onde estão os outros? – perguntou ela enquanto colocava as mochilas no chão.

- A ultima noticia que tive deles estavam enfrentando um nukenin. Não pude ficar para auxiliar pois tinha ordens claras de levar um prisioneiro. E o seu time, Haru-chan?

- Bom... – ela parecia encabulada – procurando por vocês...

- Como?

- A hokage nos enviou para dar apoio a vocês – ela parecia um pouco encabulada – ou melhor, para verificar se precisavam de ajuda para localizar seus objetivos.

A hokage tinha ficado louca? O time seis ainda era iniciante! Não duvidava que pudessem encarar uma missão difícil, mas uma missão classe A – ou até classe S – como a que estavam fazendo?

- Haruka – começou ela olhando ao redor e notando que os clones da Shiromaru estavam se espalhando novamente, provavelmente para vigiar os arredores – como assim dar apoio? Não desconsidero suas capacidades, mas acho que nossa missão é demais para vocês.

- Não sei os detalhes – ela olhou para o prisioneiro e franziu o cenho – só sei que tínhamos que nos encontrar com vocês. Estamos desde ontem os procurando. E esse seu prisioneiro está muito ferido.

- Sei disso. O que tem para primeiros socorros ai? Nem fui atrás de meu equipamento...

- Temos o básico, mas nenhum de nós é médico. Mas aprendi a suturar um corte profundo.

Ficou imaginando como ela podia saber que o prisioneiro estava com um corte destes uma vez que a atadura improvisada que tinha feito o cobria totalmente. Mas não deu muita importância. Aguardou ela abrir uma das mochilas e retirar uma caixa branca de lá. Ao abri-la, revelou o conteúdo da mesma. Agulhas e linhas para suturas e líquidos para esterilizar ferimentos. Perfeito! Acreditava que em uma hora – com a ajuda de Haruka – poderia cuidar dos ferimentos de seu prisioneiro e prosseguir viagem. Mas ainda se preocupava se poderia estar sendo seguida.

- Haruka, quantas copias de sua parceira você consegue fazer?

- Umas vinte  - respondeu ela já se adiantando e removendo a atadura que protegia o ferimento do rim do prisioneiro – e também um clone meu. Posso fazer até dois se precisar mesmo. Mas se vai pedir para eu mandar Shiromaru vigiar os arredores, não precisa – ela a olhou e sorriu – já estou fazendo isso. E logo o sensei e meus amigos devem voltar, isso se não acharam o resto de seu time.

- Duvido muito. Estou desde manhã atravessando a floresta com esse peso morto – ela quase chutou o prisioneiro – eles estão muito longe ainda. Nossa perseguição aos nukenins nos levou para além da fronteira. Pegamos eles fora do nosso país e por sorte consegui pegar esse daí enquanto Moegi-sensei e os outros cuidavam de seu companheiro que por sinal era mais perigoso ainda.

- Konohamaru-sensei sempre diz para não abandonarmos nossos companheiros – murmurou ela a olhando de uma forma que parecia levemente a repreender.

- Também temos de ter confiança neles, Haruka... – retrucou de forma veemente, mas em seu intimo concordava com ela – confiança de que podem fazer o que precisam. Não ache que gostei disto...

Calou-se para não extravasar sua frustração. Quando tinham separado os nukenins que enfrentavam, sua sensei pediu para ela usar seu genjutsu para manter aquele que agora era seu prisioneiro distraído enquanto ela e os outros cuidavam do colega dele. Se conseguisse capturá-lo, deveria levá-lo diretamente a aldeia sem olhar para trás. Bem, ela conseguiu capturá-lo, mas cumprir com o resto da ordem foi como apunhalar o próprio coração.

Foi verificar o que mais havia dentro daquela caixa branca. Encontrou alguns remédios e até umas espátulas para fazer cauterização de emergência. Bastava aquecê-las e pressionar contra grandes cortes. Uma forma eficiente – e muito dolorosa – de conter grandes hemorragias causadas por extensos ferimentos. Chegou a pensar em usar aquilo no corte de seu prisioneiro. Mas estaria apenas o torturando para satisfazer sua raiva interior.

Arregalou levemente os olhos quando notou que Haruka havia virado a cabeça rapidamente em uma direção, e logo em seguida se pos de pé. Ela podia não ser uma Inuzuka de sangue, mas tinha uma parceira ninken e duvidava que não tivesse alguma ligação especial com ela. Estava apostando que Shiromaru havia percebido algo e Haruka soube disto através desta ligação.

- Tem algo nos rodeando – murmurou ela.

Pelo jeito, ganhou a aposta. Levou a mão a sua bolsa e pegou alguns shurikens. Shiromaru saberia se fosse algum de seus colegas de time, portanto quem ela tinha detectado era um desconhecido.

- Haruka – murmurou enquanto apurava seus sentidos para determinar onde poderia estar o que quer que Shiromaru tinha percebido – se eu der a ordem, quero que vá direto para a aldeia sem olhar para trás.

- Não vou te abandonar! – rugiu ela em resposta. Na verdade, parecia que havia um rosnado junto com sua voz.

- Se for o nukenin que minha sensei estava enfrentando, você não vai ter chance!

Pelo canto dos olhos, notou que ela ficou emburrada, mas logo em seguida fez um selo com as mãos. Segundos depois, Shiromaru veio correndo na direção delas e posicionou-se um pouco a frente de Haruka. Ela parecia farejar o ar, e depois de algum tempo virou-se em uma direção e começou a rosnar.

- Ninken Kage Bunshin no Jutso! – exclamou Haruka e três clones de Shiromaru apareceram. Haruka fez mais alguns selos com as mãos e as copias ficaram maiores, como se estivessem adultas. Isaki já estava surpresa com o tamanho de Shiromaru – pouco menos que a metade de Akamaru – mas ficou mais surpresa agora ao ver como a menina havia desenvolvido sua capacidade de usar a transformação na parceira. Quando se voltou na sua direção não a viu ali, apenas outra copia de Shiromaru, só que esta do tamanho normal.

- Haruka-chan – murmurou maneando a cabeça – não seja teimosa. Se quiser mesmo me ajudar encontre o seu sensei.

Ela não respondeu. Talvez não pudesse fazer isso transformada daquela forma. O pior era que só tinha Shiromaru para lhe dizer onde estaria o perigo que os estava rondando. Viu ela virar a cabeça e se inclinar de forma mais decidida, mas movendo-se para a direita, rosnando mais forte. Os clones dela em seguida correram naquela direção.

Pelo jeito Haruka pretendia determinar a posição de quem estava ali, e usar os clones de sua parceira para isso era uma boa estratégia. Mas ela não tinha uma quantidade excedente de chakra como Ayame ou Minato. Não ia poder manter tal coisa por muito tempo. Na verdade ela estaria mais tranqüila se um dos dois estivesse ali em vez de Haruka. Pelo menos qualquer um deles poderia fazer dezenas de clones para atrapalhar o oponente enquanto se mantinham seguros a distancia.

Ouviu um ganido onde os clones tinham ido, e Shiromaru que tinha ficado em posição de ataque recuou um pouco. Procurou onde Haruka que ainda devia estar transformada em ninken estava e não a achou. Esperava que ela tivesse se escondido. Foi quando reparou que seu prisioneiro também tinha desaparecido!

Aquela idiota! Ela pegou o prisioneiro? Que droga! Menina teimosa, mais até do que ela própria. Agora ela seria o alvo caso o que estivesse oculto por ali estivesse atrás dele.

- Shiromaru, onde está sua parceira? – perguntou em voz baixa para a cadela. Mas esta não indicou nenhuma resposta, continuava a fixar a cabeça em uma direção e a rosnar.

Pelo jeito, a parceira era tão teimosa quanto Haruka. Percebendo que a situação podia ficar muito perigosa para a gennin, Isaki decidiu se adiantar e investir. Correu na direção onde Shiromaru estava olhando e arremessou alguns shurikens. Duvidava que acertasse alguma coisa, mas pelo menos pretendia que seu desconhecido oponente fizesse algo para se revelar assim. Súbito, sentiu algo agarrar sua bolsa e em seguida perdeu o equilíbrio, caindo ao chão.

Viu assustada os dentes de Shiromaru cravados em sua bolsa, e logo em seguida ouviu zunidos acima dela.

Kunais!

Shiromaru a salvou! Não tinha percebido aquilo vindo na sua direção. Provavelmente ela mordeu sua bolsa pois sua roupa era muito agarrada ao corpo para tanto. Mas não duvidava que ela a morderia se fosse preciso para salvá-la.

- Obrigada mocinha – disse fazendo um pequeno afago na cabeça dela. Não sabia se era a original ou a própria Haruka transformada, mas não fazia nenhuma diferença naquele momento.

Levou a mão para a sua bolsa e percebeu horrorizada que só tinha um pequeno punhado de shurikens e uma kunai. Esqueceu-se completamente de que tinha usado quase tudo quando tinha enfrentado o nukenin. O jeito era retornar para onde Haruka deixou as mochilas do time seis e tentar pegar algo ali.

Ela pulou para ficar em pe e começou a correr de volta para perto da fogueira. Sabia que era um alvo nessa situação e foi percorrendo o caminho dando pequenos saltos, tentando esquivar-se de quaisquer kunais ou outra coisa que fosse lançado contra ela. Pelo menos por duas vezes ouviu algo passar próximo a ela. Também percebeu que não poderia simplesmente procurar por algo na mochila. Com certeza seria atingida. Assim quando passou ao lado destas, agarrou uma delas com a mão e prosseguiu até aquela grande rocha onde estava antes. Lhe daria uma proteção por um pequeno tempo, esperava que fosse o necessário para localizar algo útil ali dentro.

Assim que contornou a rocha ela se abaixou e arremessou o conteúdo da mochila para fora. Espalhou as coisas procurando alguma arma – pior que devia ser a mochila da Ayame por aquelas roupas. Se sobrevivesse a essa luta ela ia querer matá-la – e encontrou duas bolsas pesadas. Abriu uma delas e se deparou com varias kunais. Perfeito!

Pegou uma delas e ouviu ao mesmo tempo um som sólido acima de sua cabeça. Ao olhar nesta direção viu quem a estava atacando, e um rosnado próximo também indicou que Shiromaru continuava perto dela.

Era o companheiro do seu prisioneiro, o nukenin que sua sensei e os seus companheiros estavam enfrentando. Pela fraca iluminação da fogueira podia ver uma grande mancha marrom escuro no seu braço esquerdo, bem como marcas feias no rosto e nas pernas. Um de seus olhos estava fechado, e também havia um corte no lado esquerdo do rosto, profundo o bastante para mostrar as raízes dos dentes. Ele estava muito ferido pelo jeito, mas na sua mente Isaki temeu por sua sensei e amigos. Se ele ficou deste jeito mas ainda assim conseguiu persegui-la até ali, como ficaram os outros? Teria ele fugido ou derrotado eles?

Considerando que estava provavelmente cego de um olho e talvez com a visão do outro prejudicada, seu genjutsu seria inútil, mas ela precisava se certificar. Com um movimento rápido ela arremessou quatro kunais em sua direção, ao mesmo tempo em que se concentrava em fixar sua visão no seu olho, tentando imputar um genjutso para reduzir sua percepção de profundidade. Para sua surpresa ele saltou na sua direção girando o corpo e desviando algumas kunais com um movimento dos braços. Precisou saltar para trás para ter alguma distancia e preparar um novo ataque.

Mas não adiantou nada. Ele simplesmente impulsionou-se para sua direção assim que seu pé tocou o chão, desviando um de seus braços com um soco e agarrando seu pescoço em seguida. Ela mal percebeu que ele também a atingiu com uma joelhada no coração, a paralisando por alguns instantes.

Ele era incrivelmente rápido e ágil, mais até do que se lembrava quando o viu combatendo seus companheiros. Cometeu o erro de enfrentá-lo diretamente – devia ter girado o corpo no meio do salto e arremessar mais kunais contra ele – e agora estava a sua mercê. Sentia seus dedos cortando sua respiração e notou também que um de seus braços estava imobilizado. Em poucos segundos iria perder a consciência e talvez em dois minutos estaria morta caso não escapasse dele.

Foi chutada em seguida de forma que foi lançada longe por ele, e vagamente imaginou que devia ser porque ele estava sendo atacado pela parceira de Haruka, considerando os sons de latidos e rosnados que ouvia. Sentiu seu corpo bater no solo duro e arenoso e girar algumas vezes, demonstrando o quanto estava debilitada naquele instante. Levou ainda alguns segundos para conseguir se mover e se erguer novamente, segundos em que ficou pensando no que estaria ocorrendo com Shiromaru e o nukenin. Estava na verdade aflita caso ela fosse ferida, pois Haruka talvez sentisse isso e acabaria se envolvendo diretamente, e aquele oponente mesmo ferido como estava já mostrou que era muito perigoso.

Havia apenas uma Shiromaru enfrentando ele quando conseguiu se recuperar o bastante para ficar de pé novamente. Não havia sinal de Haruka ou de algum clone próximo. Pelo jeito a cadela tinha alguma vantagem por provavelmente o nukenin não saber onde atingi-la para debilitá-la, como tinha feito consigo. Mas sem a orientação de Haruka ela iria sem dúvida ser derrotada ou talvez até podia ser morta. Ela tinha que intervir, e rápido.

Ainda estava com a bolsa de Ayame que tinha pegado em suas mãos. Pegou mais kunais ali e as arremessou contra ele, gritando para a cadela se afastar. Ela sabia que o aviso iria prevenir o nukenin também, mas não podia evitar. Não queria ferir a cadela que a estava protegendo, provavelmente obedecendo as ordens de sua parceira para tanto.

Viu ele saltar por sobre as kunais novamente em sua direção, mas desta vez ela estava preparada. Conforme ele se aproximava, ela dobrou os joelhos e saltou na sua direção, arremessando mais algumas kunais e em seguida girando o corpo de forma a atingi-lo com a sua perna. Como esperava, ele usou o braço para desviar das que iam atingi-lo, mas não esperava que ele usasse a sua mão para agarrar o seu tornozelo. Novamente ela o subestimou. Não devia enfrentá-lo a curta distancia. Enquanto ele tentava usar a mão como apoio para tentar atingi-la, ela concentrou-se novamente em usar um genjutso nele. Não soube se deu certo ou não pois ele começou a gritar de dor assim que uma mancha preta agarrou o seu pescoço.

Ele estava tão concentrado nela que acabou esquecendo novamente de Shiromaru – ou talvez seu genjutsu tivesse dado certo e ele não percebeu ela se aproximando. De qualquer forma ela conseguiu se libertar e o chutar em direção ao chão. Shiromaru o soltou e ficou afastada. Isaki estava começando a gostar de lutar em parceria com um ninken.

Desta vez ele estava furioso, e talvez até ensandecido. Seu olho fixou-se na cadela e ele foi para cima dela. Isaki estava um pouco distante – e sem mais kunais na bolsa – para intervir naquele momento. Mas acabou não precisando. Viu ele desviar o ataque para escapar de shurikens que foram lançadas contra ele, e ao mesmo tempo sentiu seu coração gelar. Aquilo só podia ser lançado pela Haruka. Ela esperava que ela estivesse distante com o prisioneiro.

- Saia daqui Haruka! – gritou ela sem nem procurar descobrir onde ela estava, mas era um pouco tarde. Viu uma mancha avermelhada pousar ao lado de Shiromaru e encarar o nukenin em posição de combate. Ele apenas dobrou os joelhos se preparando para saltar em sua direção.

Haruka por sua vez estava... sorrindo? O que tinha dado nela? Viu ela flexionar os joelhos e fazer alguns selos com a mão ao mesmo tempo em que ele se lançou contra ela. Tudo o que Isaki podia fazer era correr na sua direção e conseguir impedir que ele a ferisse muito antes de tirá-la das mãos dele, isso porque tinha certeza de que a garota ia sofrer o mesmo que ela quando subestimou o quão rápido ele podia se aproximar.

Mas estacou onde estava quando viu o que ela fez. Ela se transformou em ninken mas havia algo diferente agora. Assim que ela fez isso, viu ambas – ela e Shiromaru – se lançarem como um raio na direção dele, na verdade, mais rápido do que ele. Por isso ela estava sorrindo! Ela sabia que podia se mover naquela velocidade e que ele não poderia detê-la. Mas não ia adiantar muito apenas mordê-lo. Ela teria que causar...

Ficou de boca aberta. As duas manchas negras que eram Haruka transformada e Shiromaru agarraram os ombros dele e giraram por sobre ele como se tivesse agarrado uma barra de madeira. Sentindo uma certa pena – pois imaginava o que os dentes delas teriam feito nos músculos dos ombros dele – ficou observando o nukenin ir para trás com o impulso de ambas de cair no chão em um baque surdo, ressoando o som de costelas partidas também. Aquele golpe.. não, aquele jutsu que ela usou literalmente acabou com ele. Provavelmente ia ser difícil ele mover os braços agora, mas ainda assim era perigoso. Haruka se aproveitou de um momento único para fazer aquilo.

Mas ela não tinha acabado ainda. Assim que ele atingiu o solo, ela reverteu a transformação e arremessou uma kunai com tarja que se cravou em sua barriga. Viu ele com o olhar desesperado tentar usar as mãos para tirar aquilo, mas elas não lhe obedeciam direito. O estrago feito nos ombros tinha sido mesmo grande. Isaki apenas cobriu os olhos se protegendo instintivamente da explosão.

Não perdeu tempo observando o corpo destroçado ali. Foi direto para onde Haruka estava para ver se ela estava bem. Já podia sentir o cheiro de carne queimada, e ficou levemente enojada pensando se teria que carregar aquele corpo também para a aldeia. Hum... bom, Haruka fez aquilo, nada mais justo que ela fizesse isso.

- Como você está?

Ela respirava de forma ofegante, e parecia assustada com o que houve.

- Haruka?

- Eu... – ela se virou sobressaltada em sua direção – estou bem. Apenas... bom, eu pensei que ele poderia tirar a kunai.

- Está tudo bem, Haru-chan – disse ela de forma tranqüilizadora pondo a mão no seu ombro – você fez o que precisava fazer. Mas me enganou por um tempo. Pensei que tinha ido embora levando o prisioneiro.

- Desculpe... é assim que fazemos quando somos atacados. Eu fico afastada e deixo Shiromaru atrapalhar os movimentos do atacante enquanto meus colegas o enfrentam. As vezes apareço como um curinga, mas minha função é mais de rastreadora. Ele devia estar muito cansado para não ter conseguido se desviar de nenhuma de nós – ela abraçou a parceira e lhe fez alguns carinhos – esse jutsu estou aperfeiçoando faz tempo, é a primeira vez que uso.

- Duvido que a maioria dos ninjas pudesse se desviar disto nesta situação – disse Isaki sorrindo para ela – mas tome cuidado, se ele tivesse desviado nem você ou sua parceira poderiam evitar se serem atingidas pelas costas.

Ela maneou a cabeça concordando.

- Mas você estava lá para cuidar dele caso isso ocorresse, e tinha dois clones de Shiromaru distantes preparados para agir nesse caso também.

Realmente, aquela menina era esperta.

- Muito bem, onde está o meu prisioneiro?

- No mesmo lugar – ela fez um sorriso de sapeca e correu onde o prisioneiro estava antes. Assim que chegou ali, pegou algo do chão e revelou o prisioneiro no mesmo local, protegido por um jutsu de ocultamento.

Era uma menina muito esperta.

Isaki se aproximou e observou o prisioneiro na mesma posição de antes. Então franziu o cenho e o tocou. Levou a mão até o seu pescoço para verificar seu pulso e em seguida urrou de raiva, chegando a chutá-lo várias vezes.

Ele estava morto!

Tudo aquilo para nada. Abandonou sua sensei e amigos, ficou horas carregando ele pela mata, arriscou a vida da aluna de namorado de sua sensei e no fim o prisioneiro morreu, provavelmente por hemorragia interna, pelo que podia apurar observando a área roxa ao redor do ferimento. Haruka tinha removido a bandagem para suturar o corte, o que pode ter reaberto alguns vasos sanguíneos, mas foi interrompida pela aproximação do nukenin. Devia ter sido isto que causou a morte dele agora.

- Isaki-chan...

- Tudo bem Haruka – murmurou ela – não foi sua culpa. Pelo menos agora eu posso voltar e ver se minha sensei e amigos estão bem.

Há uma distancia segura, Masaki observava a duas kunoichis enrolando os cadáveres em panos. Ficou surpreso com a atuação da jovem, e como tinha imaginado a mais velha estava muito cansada e lenta de tanto carregar o prisioneiro. Nenhuma das duas percebeu quando ele se esgueirou para o lado dele e enfiou uma lamina no ferimento de forma a abrir a ferida e causar muito mais danos internos. De certa forma sentia pena de Hatomi. Sabia que ele tinha poucas chances de vitória – já tinha sido um milagre ele conseguir escapar daqueles três com sua ajuda - mas ao menos ele as distraiu o bastante para garantir que não iam levar um prisioneiro de volta. Agora era só esperar alguns dias para Etsu fazer o que pretendia – ela era realmente louca, não tinha duvidas – e retornar para casa.


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