Sonho Renascido escrita por Janus


Capítulo 36
Capítulo 36




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Sua cabeça estava doendo, e muito! Nada que um jarro de vinho não pudesse curar, mas todos tinham acabado, restando apenas saquê. E infelizmente o saquê não iria curar sua cabeça. Pelo contrário, iria fazê-la doer mais ainda.

Empurrou a mulher com bafo mais forte que o dele que se agarrava nele e a viu cair no chão sentada, rindo descontroladamente. Ele também estaria rindo se não fosse sua cabeça. Todos ainda comemoravam o premio inesperado do assalto que tinham feito na madrugada, um baú cheio de pepitas ainda impuras de prata. E seria até fácil convencerem algum ferreiro a fundir aquilo tudo. Começaram a se embebedar assim que chegaram em sua toca – uma abandonada fazenda já fazia anos – e se divertiam fazendo coisas as vezes por demais infantis, como usar as pepitas para atirar em pássaros, como se fossem crianças, ou cortejar de forma educada as mulheres do bando, ou ainda imitarem a maneira de agir dos nobres, dando logicamente ênfase a um ponto ou outro para atiçar o humor.

Assim tinham sido as primeiras horas da comemoração, até que ele já muito tonto e sabendo estar bêbado decidiu simplesmente dormir. Quando acordou naquela manhã sua cabeça doía como nunca, e percebeu que o vinho tinha acabado, bem como haviam ainda um ou outro comemorando. Felizmente a maioria do bando já tinha despertado, e assim como ele, muitos estavam sofrendo da abstenção de álcool.

Ainda estava plenamente realizado com o que tinham obtido, mas sua mente já voltava a realidade. Ainda precisavam retirar o que era prata verdadeira das pepitas com um processo de fusão e ver o quanto realmente possuíam. Se tivessem sorte a verdadeira prata ali iria representar talvez vinte por cento de toda a carga – o que já seria uma fortuna e tanto – mas mesmo que não tivessem esta sorte toda acreditava que teriam o bastante para se divertir por talvez até um ano.

Andou cambaleando um pouco pelo celeiro abandonado que fedia a álcool e a odores daqueles seus companheiros que não tinham tomado nenhum banho ainda. Tinha certeza de que as mulheres assim que acordassem iriam se preocupar um pouco com isso – sabia por experiência própria que iria depender do quão bêbadas ainda estavam – mas a maioria dos homens teria que ser empurrada para o rio. Como ele não queria ser um deles, achou prudente já se lavar e recuperar o resto de sua inteligência, antes que as mulheres ladras daquele bando se unissem de novo para forçá-los a isso.

Até que isso era divertido. Um bando com dez homens e seis mulheres, sendo que as mulheres nada deviam aos homens seja em termos de executar um assalto ou em uma briga. Brigavam como eles, com golpes baixos e não perdendo a chance de atacar pelas costas. Infelizmente um bando grande como aquele tinha de tomar cuidado quando faziam seus trabalhos para não atrair atenção demais. Seria fácil algum lorde do pais de Fogo enviar soldados atrás deles caso ficasse evidente a ameaça que poderiam ser.  Ou até pior, podiam enviar ninjas atrás deles. Por sorte, até o momento apenas uns poucos faziam os assaltos e os outros apenas observavam a distancia, apenas atuando se algo desse errado. Assim ainda não se sabia de sua existência.

Ao menos, era o que acreditavam.

Chamavam-no de Hiro. Não era seu nome verdadeiro, mas era um nome que aprendeu e se acostumou a responder. Seu passado ele preferia deixar enterrado e morto, juntamente com a família que ele abandonou. Não sabia nada sobre eles agora, e preferia nunca saber.

Se jogou com a roupa do corpo no riacho nos fundos do celeiro e ficou imóvel ali esperando boa parte do mal cheiro que devia carregar desaparecer. Não queria agitar muito a água por ali pois com certeza iria levantar lama do fundo do riacho raso, o que o faria se sujar mais ainda ao contrário de se limpar.

Tirou a camisa e a torceu fortemente, a encharcando de novo e repetindo o processo. Fez o mesmo com a sua calça e depois de algum tempo repetindo isso saiu do riacho. Estava bem úmido e até com calafrios, mas estava também mais limpo. Iria tomar um banho realmente decente mais tarde, quando a cabeça permitisse.

Entrou de volta no celeiro e sentiu o verdadeiro odor que havia ali dentro. Precisou de força de vontade para não vomitar ali mesmo, e não acreditou que não tinha percebido aquilo antes. Um odor extremamente forte de álcool, suor, roupas mal cheirosas, e até de perfume barato – devia ser das mulheres – permeava todo o lugar.

Precisou respirar devagar e pela boca para suportar sem tossir ou engasgar. Quando finalmente começou a se acostumar foi andando pelo celeiro batendo palmas acordando os que ainda dormiam, e inutilmente tentando despertar os que tinham acabado de desmaiar de exaustão. A comemoração até que era justificada, mas não podiam ficar muito tempo sem vigias. Ninguém sabia se um dia aquela fazendo abandonada seria usada novamente, ou se outros ladrões ou até mendigos poderiam aparecer ali procurando por um teto para passar a noite.

Levou toda a manhã, mas o bando finalmente se lavou e ficou desperto o bastante para se organizarem. Dois dos homens foram fazer a primeira vigília do dia enquanto algumas mulheres foram fazer a comida deles. Outros homens foram procurar lenha para o fogo. Sua cabeça também já estava melhor quando ele e os outros que estavam sem fazer nada no momento foram até os engradados onde estavam as pepitas para vê-las melhor e fazer uma boa avaliação do quanto tinham e de como iam proceder para obter dinheiro com aquilo. Pegou algumas pepitas e bateu nelas com um pedaço de cano que acharam dentro de celeiro, as partindo em pedaços. Todos observavam os pedaços partidos avaliando o quanto era realmente prata ali, achando que seria fácil fundir aquilo. Alguns apontavam para uma parte mais amarelada e apostavam que seria ouro. Ouro e prata as vezes eram encontrados juntos nas minas.

Foi quando todos pularam de susto quando ouviram uma voz grave e firme ecoando dentro do celeiro.

- Preciso de alguns homens para um trabalho... – ele olhou na direção da voz e ficou impressionado com o que viu – e podem ser mulheres também – era um homem de estatura mais o menos similar a deles. Estava com o cabelo bem cortado e usava uma roupa um pouco justa no corpo – vou pagar o melhor preço que já receberam na vida.

Todos ainda observavam a figura ali, alguns se entreolhando tentando entender o que ocorria. Hiro por sua vez se perguntava como aquele homem tinha chagado ali passando pelos vigias. Só podia imaginar que tinha chegado de manhã quando todos estavam desacordados e se manteve oculto até o momento.

- Melhor preço? – disse um deles que se recuperou parcialmente do susto – e de quanto esta falando?

- O melhor preço de todos – sua voz estava sem alteração nenhuma – suas vidas – ele fez uma pausa aparentemente estratégica para avaliar o impacto de suas palavras – vou permitir que vivam se me atenderem.

Houve algumas risadas dos homens e até das mulheres zombando da ameaça. Hiro e alguns outros não riram. A maneira como ele estava vestido não lhes chamava a atenção, mas a bolsa que carregava na cintura sim.

Uma bolsa bem ao estilo que os ninjas carregavam.

Hiro pressionou os punhos e deu um passo lento para trás. Muitos ali ainda estavam um pouco embriagados, e até tontos devido ao consumo de álcool da véspera. Poderem estar de pé e aparentemente saberem o que estavam fazendo ainda era uma ilusão tola. Muitos poucos deles eram capazes de avaliar o real perigo que aquele homem podia representar.

Uma das mulheres acabou sendo a primeira a atacar com um dos facões que estava usando para cortar a carne para o almoço. Avançou para cima dele pelas costas com o facão seguro por ambas as mãos e tentou golpear a cabeça.

Todos arregalaram os olhos quando o desconhecido deu um passo para o lado e agarrou os pulsos da moça com a mão esquerda e com o joelho atingia a barriga da mesma, a forçando a se curvar.

- Bom, não preciso de todos...

Ele tomou facilmente o facão das mãos dela e o cravou na sua nuca, fazendo a lamina sair pela boca. O corpo já estava sem vida quando caiu no chão.

- Na verdade só preciso de cinco pessoas – ele cruzou os braços e seus olhos ficaram fitando o chão – o resto eu posso dispensar...

Alguns ficaram intimidados, outros ao verem a morte da companheira foram para cima dele. Hiro observou o desconhecido pegar algo da bolsa e ao mesmo tempo que se desviava do primeiro que o atacava, espalmava sua mão nas costas deste o empurrando com força contra uma das paredes carcomidas e desgastadas do celeiro. Ele estava enfrentando o segundo atacante quando o primeiro simplesmente explodiu espalhando uma onda de choque e uma chuva de sangue em todos ali dentro.

Hiro não ficou muito mais tempo parado observando. Percebendo que o desconhecido era provavelmente um ninja, saiu correndo dali. Mas não pôde ir muito longe. Sentiu um impacto nas costas e um estalo que devia ser de uma costela que se quebrou nesse impacto. Sentiu a pele do rosto ser esfolada ao roçar no piso coberto de poeira e palha do celeiro e ao parar de deslizar virou-se e viu ali o atacante. Ele sorria para ele.

- Acho que já tenho o primeiro voluntário. Alguém esperto que quer continuar vivendo.

Ele sorria ainda o observando enquanto que sem virar o rosto deu uma cotovelada em uma das outras mulheres do bando que tentou atacá-lo por trás. Era a mesma mulher que mais cedo estava agarrada nele.

- Acho que você não sabe ser sarcástica, estou certo? – comentou ele aparentemente se divertindo – então não vai servir para o trabalho.

Ele acertou uma joelhada no peito e uma nova cotovelada na sua nuca. Ela foi ao chão quase que imediatamente, e ele não terminou o serviço. Precisou cuidar de um dos homens que o atacou em seguida, agarrando sua cabeça e em um giro do corpo a torceu violentamente, partindo o seu pescoço e fazendo a cabeça dele virar-se para as costas.

- Tudo bem, já tenho um casal então, só preciso de mais três. Alguém ai sabe gritar como criança desesperada?

Ele estava com as mãos na cintura e olhava ao redor. Pelo que podia apurar, Hiro considerava que em menos de um minuto ele já tinha matado três ou quatro do bando e incapacitado mais dois – ele e a mulher – e compreendia em meio ao terror que sentia que isto era apenas porque ele tinha dito que precisava de alguns deles para fazer um serviço. Do contrario provavelmente todos iriam ser mortos.

Sentia o peito e a face arder muito, e também que suas pernas não lhe obedeciam direito. Foi se arrastando de costas para uma das paredes do celeiro, e enquanto fazia isso ele observava ou ouvia o desconhecido matar meticulosamente seus companheiros. Viu ele enrolar um tipo de corda ao redor do pescoço de outra das mulheres e o puxar violentamente, cortando este no processo e deixando apenas a coluna vertebral segurando a cabeça no lugar. O corpo dela caiu ao chão e o sangue se espalhou do corte que circundava o pescoço e empapou as roupas brancas que ela usava, bem como o piso arenoso do local.

Encostou-se em uma parede e ficou observando. Dois o atacaram agora ao mesmo tempo, e dando um salto enorme ele foi até o teto e... ficou andando lá em cima? Era um ninja mesmo, agora não tinha duvidas. E os sobreviventes que viram aquilo também não. Todos agora estavam correndo desesperados procurando por uma saída, mas nesse trajeto uma parede se ergueu diante deles quando estavam perto da porta. Tinha certeza de que o ninja devia ter feito aquilo.

Logo kunais choveram do teto e atingiram os que ainda estavam vivos, ou melhor, os estavam de pé. Alguns foram atingidos bem no alto da cabeça, e outros nos ombros.

- Três mulheres e dois homens – disse o ainda desconhecido que estava com as mãos na cintura e ainda andava pelo teto – deve ser o suficiente.

Viu ele se deixar cair e girar em pleno ar para pousar de pé no piso do celeiro e então começou a andar lentamente em sua direção, provavelmente por ser o único ali consciente. Sentiu o seu coração pulsar mais forte a cada passo que ele dava em sua direção, e acreditava estar a beira de um infarto quando ele se inclinou e olhou diretamente nos seus olhos.

- Bem meu caro, se está curioso, não era propriamente meu interesse em matar a todos, mas gosto que fique bem claro quando eu faço uma oferta. Se não quiserem o trabalho que tenho para vocês, vocês morrem. O que me diz?

Engoliu em seco e abriu a boca para falar algo, mas nada saia. Ele simplesmente não estava conseguindo respirar com tanto medo que estava sentindo. Foi preciso que seu instinto de preservação se fizesse valer para que algum som pudesse ser produzido pelos seus lábios.

- O... o que quer que façamos?

- Sábia escolha – murmurou ele – você e os quatro que estão vivos aqui dentro irão atacar e matar todos de uma caravana com uma exceção. Uma mulher. Irei dizer quem é essa mulher e como reconhecê-la. No entanto ela deverá ser gravemente ferida. Depois disto deverão correr como nunca na vida, e nunca mais voltar para este país.

Por quase um minuto ele ficou com os olhos piscando, tentando despertar sua mente ainda seriamente danificada pelo consumo de álcool ocorrido horas atrás. Tinha entendido perfeitamente o que o estranho tinha lhe pedido, mas não conseguia imaginar um motivo para tanto.

Na verdade estava se questionando do porque dele querer que eles fizessem aquilo, se o próprio já tinha demonstrado que era mais do que capaz de fazer o mesmo e sem duvida com muito mais eficiência e confiabilidade.

- Entendeu tudo o que eu disse?

Não havia ameaça em sua voz, e mesmo seu rosto estava inexpressivo, sem indicar raiva ou outra emoção. Ele simplesmente estava falando com ele, como se pedisse informação para um desconhecido. Voltou a piscar os olhos varias vezes, e sua cabeça chegou a tremer um pouco com os músculos do pescoço indecisos sobre que lado movê-la.

- Sim.. mas... – olhou para ele, tentando imaginar como deveria formular a pergunta – eu... nós vamos... matar todos? Porque nós?

- Porque eu quero assim – respondeu simplesmente – se não fizerem isso, vou atrás de vocês e mato a todos.

Desta vez Hiro pressionou suas pálpebras para seus olhos ficarem um pouco quietos. Mesmo ele estava irritado com este vicio que ele tinha desde criança, de piscar os olhos quando ficava confuso ou tentava entender algo estranho. Algum motivo ele tinha para obrigar estranhos a fazerem esse trabalho. E o pior era que não tinham escolha. Ou faziam ou morriam. E talvez morressem de qualquer jeito depois de fazer o trabalho.

- Será em uma semana – continuou ele – tempo o bastante para tratarem esses arranhões e enterrarem os mortos. Há sim – ele sorriu divertido – os que estão do lado de fora irei matar agora. Conte tudo para seus amigos aqui dentro ainda vivos. E seja convincente. Se um de vocês não fizer o que eu mandei, todos irão morrer.

Virou de costas e começou a andar devagar para a grande porta do celeiro.

- Mas... onde é o lugar? E quem devemos deixar vivo? – perguntou desesperado.

- Voltarei em alguns dias para dar os detalhes, bem como levá-los até onde deverão esperar pela caravana.

Ele não disse mais nada depois disto, simplesmente saiu andando pela porta sem olhar para trás, deixando Hiro sozinho ali dentro com os cadáveres de seus companheiros e com outros quatro sobreviventes – ainda desacordados – dos quais ele tinha a missão de explicar o que houve e convencê-los a executarem o que o estranho tinha mandado.

Ou talvez para pensar em uma forma indolor de cometerem suicídio...

-x-

- Não devíamos tentar descobrir quem é que as está enviando para cá?

Outa a observou com um dos olhos abertos e o outro quase fechado, demonstrando sua incredulidade e já aproveitando e sendo um pouco sarcástico.  Qual parte da “reunião de nidificação de cobras” ela não tinha entendido?

Anko-sensei nem se preocupou em responder. Ainda estava agachada ao seu lado no galho da árvore observando a cena que se projetava diante deles. Em uma avaliação modesta, devia haver algo em torno de dez mil cobras ali se enroscando entre si. Eram tantas que tudo o que podiam ver era meramente um tapete de cobras que se mexia sem parar. A causa já tinha sido descoberta, e era até simples. As cobras de toda a região estavam se reunindo ali para se aquecerem no inverno que se aproximava, nidificando, ou seja, fazendo “ninhos”. Embora talvez o termo estivesse errado, ele pensava.

Não era algo assim raro – segundo a sensei – mas era totalmente desconhecido que existia um “ninho” delas naquela região. Ela também comentou vagamente que haviam espécies ali que normalmente passavam o inverno sozinhas em suas tocas. Ou seja, algo não estava correto. E considerando que a melhor conhecedora de cobras do grupo estava observando a tudo intrigada, provavelmente algo estava muito errado. Talvez a pergunta da colega não tenha sido assim idiota.

Levaram três dias para chegarem a aldeia que tinha solicitado auxilio com relação às cobras. Primeiro Umito e a sensei pareciam convencidos que devia ser algo relacionado a serpentes. Ambos invocaram algumas “amigas” sem pernas para explorarem os arredores e conseguirem alguma informação. Quando estas retornaram, notou como eles ficaram tensos, e foi só depois de Umito explicar sobre cobras e serpentes e de como esses dois tipos de seres acabaram ficando com um tipo de rixa foi que ele compreendeu o motivo desta preocupação.

Cobras eram a espécie de ofídio que Kabuto mais utilizava. Ele usava algumas serpentes, como Umito disse em relação a que seu tio tinha levado para a casa da hokage, mas já estavam imaginando que estas eram para espionagem. As fortes mesmo deviam ser cobras. Miara, o gigantesco ofídio que a sensei deles invocava era uma serpente, embora pudesse ser facilmente confundida com uma cobra.

Mas na pratica - como lhe explicaram - essa diferença era sutil. Eram todos ofídios, e mesmo neste mar de cobras que avistavam agora havia algumas espécies de serpentes.

- Sensei – chamou Umito – acho que Miyoko-chan está certa. Acho que alguém acabou convencendo estas cobras a virem se reunir por aqui.

Olhou para ela e percebeu que devia estar pensando a respeito. Provavelmente tentando descobrir qual seria o objetivo daquilo. Ele por sua vez não parava de pensar que Kabuto devia ter algo com aquilo. Afinal, eram cobras – em sua esmagadora maioria – que estavam lá.

Ela moveu a cabeça para cima, como se observasse o céu e ficou assim por vários minutos, se recusando a dar uma resposta e deixando os três gennins preocupados. Alguém tão faladora como ela ficar quieta era um sinal ruim. Outa desviou o olhar dela e observou seus companheiros de time. Umito estava de pé no tronco da arvore e com os braços cruzados. Miyoko estava na árvore ao lado, mas de cabeça para baixo com os olhos ainda fixos nas cobras.

- O inverno ainda está longe – murmurou a sensei pegando os três desprevenidos, de forma que todos eles tiveram de se conter para não deixar evidente que tinham levado um susto – e tem espécies ai que não hibernam no inverno. E tantas cobras em um lugar só não irão conseguir alimento para se sustentarem. Mas se isto está ocorrendo já há semanas... – ela desviou a cabeça do céu e observou novamente o ninho de cobras – temos um pequeno desastre ambiental em mãos aqui, alunos...

Os três a olharam tentando entender o que ela queria dizer com aquilo.

- Não entenderam, não é? – ela sorriu para eles – olhem para essas criaturas – ela esticou o braço e apontou para elas – imaginem a quantidade de roedores, anfíbios, pequenos animais ou até de aves que seriam necessárias para alimentá-las. É verdade que a maioria se alimenta uma vez por semana, algumas uma vez por mês dependendo do tamanho da criatura que caçaram. Notaram como está silenciosa esta mata? – olhou para eles – segundo os aldeões, isso começou faz algumas semanas, tempo bastante para elas terem dizimado todas as aves e outras pequenas criaturas daqui. Agora... o que irá acontecer com os locais de onde elas vieram? – olhou para eles e aguardou que lhe dessem uma resposta.

- Vai... ter uma superpopulação de ratos? – arriscou-se Miyoko.

- Não só de ratos... mas de tudo o que elas comem. Elas não estão lá, e se não voltarem, irão perecer de fome ou devorar umas as outras, o que dará na mesma. Não vai ser nesse ano, mas no próximo teremos um desastre nas plantações. As criaturas de que elas se alimentam irão logo esgotar a comida de onde vivem e o outro lugar para procuraram alimento será nas fazendas. Até outra espécie de predador como as águias e gaviões se multiplicarem para equilibrar tudo de novo, teremos pelo menos de cinco a dez anos de fome por aqui. Evitar isso não é uma missão comum, e se tiver alguma classificação será de nível D, com certeza – ela os olhou e sorriu – mas é um serviço que evitará muitas mortes, bem como um desastre. Alias, é uma missão para o nosso lorde feudal em pessoa.

Outa ficou empertigado. Tinha que admitir que seria uma missão complexa mas não perigosa – e afinal, era possível fazer isso?  - e talvez longa, mas sem duvida de extrema importância para a economia e estabilização social do país do Fogo.

- E como vamos fazer isso? – perguntou Miyoko – você e Umito-kun vão ficar ali no meio delas e discursar explicando o perigo que estão correndo?

A sensei a olhou de forma enviesada e a gennin colocou uma perna para trás, se preparando para sair correndo. Fazer pirraça com Anko-sensei não era a coisa mais sábia do mundo, mas era incrível como Miyoko sempre acabava fazendo isso.

- Primeiro temos que saber porque estão vindo para cá e porque continuam aqui – disse Umito salvando a companheira de ficar algumas horas com uma serpente enrolada no pescoço – se já não há aves ou outras criaturas que elas possam caçar, porque não foram embora para outro lugar procurar comida?

- Exatamente – respondeu a sensei com um sorriso de aprovação. Claro, se ele fosse seu discípulo com certeza também poderia ter pensado nisso. Mas seu conhecimento sobre cobras e serpentes era o bastante apenas para não pisar em alguma por acidente quando acampava na floresta – algum voluntário para isso?

Desta vez, apenas ele e Miyoko a olharam intrigados. Como assim voluntário? Claro que seria o Umito. Nenhum deles sabia conversar com cobras.

- Só você e Umito-kun entendem a língua delas, sensei – respondeu ele.

- Não. Nós podemos entender as serpentes que invocamos. São diferentes destas da natureza. Nenhum de nós aqui presentes vai poder conversar com estas cobras e saber o que fazem aqui. Em outras palavras... alguma sugestão de como fazer o que Umito-kun disse?

Os três começaram a pensar e a olhar ao redor, tentando obter alguma idéia sobre o que fazer. Outa se sentou com os joelhos cruzados sobre o galho e ficou ruminando sobre como descobrir aquilo. Talvez pudessem entrar no meio das cobras e ver se havia alguma coisa por ali as atraindo, mas considerando que seria impossível se mover por ali sem pisar em pelo menos dez delas com um dos dedos do pé, não seria a coisa mais inteligente a se fazer. Sem contar que duvidava que existisse um ninja vivo capaz de se esquivar de tantas cobras ao mesmo tempo caso elas atacassem.

- Essas cobras que vocês invocam, elas não podem falar com essas daí da natureza?

Outa viu tanto a sensei como Umito olharam para Miyoko com os olhos arregalados, e esta rapidamente ergueu as mãos em defesa própria dizendo que era só uma sugestão, não uma piadinha da mesma. Mas ao contrário do que ela pensava, eles não estavam irritados com ela, mas sim surpresos, como a sensei confirmou ao falar que tinha sido uma excelente idéia.

Logo ela e Umito saltavam para ficarem perto de onde as cobras estavam e invocavam novamente algumas amigas. Outa observou eles falando com as serpentes invocadas e pareceu-lhe que houve uma certa discussão ali. Viu a sensei pondo as mãos na cintura e abrindo e fechando a boca de forma que parecia que gritava, mas estava distante demais e ainda contra o vento para que ele ouvisse algo além de lamentos. Depois os dois voltaram para onde estavam antes e esperaram. Ficaram assim por duas, talvez três horas, aguardando as serpentes voltarem. Quando viram algo saindo ficaram logo animados, e até aliviados, pois eram as serpentes que estavam aguardando. Desta vez, apenas Umito desceu e conversou com elas, e depois de algum tempo elas sumiram e ele voltou para junto deles.

- Segundo a Nidi, tem alguma coisa vibrando ai no meio delas – explicou ele assim que chegou – e é bem potente. Algumas das cobras vieram quase que do centro do país.

- Vibrando?

- Sim, Outa-kun. Ofídios não ouvem, pelo menos não como nós. Eles percebem a vibração do som pelo ar e podem ser atraídos por isso. Tem algo ai no centro destas cobras que os está atraindo desta forma. Só se afastam quando a fome fica insuportável.

Anko pressionou os punhos e bufou desgostosa. Aquilo mudava tudo! Não era mais um evento misterioso da natureza, mas algo que alguém havia feito –pelo menos, era a primeira opção que existia – e eles precisavam desfazer antes que as conseqüências surgissem.

- E como vamos entrar lá no meio delas e pegar esta coisa, sensei?

- Não estou propriamente preocupada com isso agora, Miyoko-chan – seu rosto estava muito sério, coisa que Outa percebeu facilmente – Outa-kun, marque-nos para poder nos invocar caso haja necessidade. Miyoko-chan, quero que patrulhe do lado sul, eu irei para o norte. Se quem colocou tal coisa para atrair as cobras estiver observando, pode nos atacar de surpresa. Umito, eu vou invocar Miara e você irá com ela encontrar esse objeto que está atraindo as cobras e desligá-lo ou quebrá-lo. Não me importa como, mas faça ele parar de funcionar. Outa-kun – olhou para ele fixamente – você fica aqui. Se perceber qualquer um se aproximando, nos invoque e todos nós iremos direto para Konoha, sem paradas. Entenderam?

Levou algum tempo para responderem, especialmente devido a precisarem digerir a ultima parte. Eles iam fugir caso alguém estivesse por ali?

- Anko-sensei... – começou Umito, mas não teve tempo de completar a frase.

- Eu não sei se Kabuto tem algo com isso – adiantou-se ela – mas não vou arriscar vocês com essa possibilidade. Vamos fazer nosso serviço se for possível e partir imediatamente, fui clara? Outa-kun, assim que Umito retornar, invoque a mim e a Miyoko em seguida.

Os três manearam as cabeças concordando. Em seguida cada qual foi executar a tarefa atribuída, sendo que Outa ficou no mesmo lugar, apenas observando os outros. Viu a sensei invocar aquela gigantesca serpente e Umito súbir na cabeça dela. Até que era estranho vê-lo ali agora, considerando que poucos meses antes até ele morria de medo de chegar perto daquela criatura. Após isso, a sensei e Miyoko foram em direções opostas e Umito seguiu com a serpente para o meio das cobras, e ele finalmente foi capaz de avaliar qual era a extensão daquela área que elas ocupavam. Aquela serpente gigante foi se afastando e se afastando, até ficar no centro daquele emaranhado, mostrando que comparada a aquilo, ela era muito pequena. Ele nem conseguia ver Umito na cabeça dela desta distancia. Mas não estava ali para olhar o que os outros faziam, seu trabalho era observar ao redor e verificar se alguém estava por perto.

Coisa que ele fez em seguida. Desviou sua mente completamente do que os outros faziam e olhava para todos os lados, e isso era algo que o perturbava. Quando os outros estavam ali com ele, não se sentia ameaçado, mas agora que estava sozinho, qualquer farfalhar de folhas, qualquer lufada de vento chamava a atenção. começou a andar pelo galho e até pulou para outras arvores próximas, sempre sendo cuidadoso e observando bem as coisas ao redor. Depois de algum tempo, começou ir onde ouvia as folhas farfalharem. Nada encontrou, exceto ocasionalmente ninhos de aves vazios – provavelmente as cobras tinham caçado os donos destes – ou apenas folhas balançando na brisa. Em pelo menos uma ocasião ficou assustado pois achou que tinha ouvido uma respiração, mas tal coisa não se repetiu. Mas por prudência, ficou afastado do local mas com este bem a vista.

Voltou a olhar na direção em que Miara estava, já ficando preocupado de Umito não ter terminado o serviço. O que será que era essa coisa que estava atraindo os ofídios?

Levou mais quinze minutos – no total já tinha se passado quase uma hora desde que a sensei tinha dado as instruções – até que ele percebeu que estavam retornando. Ficou mais relaxado quando Umito chegou onde ele estava carregando uma grande caixa preta – que estava perfurada em vários lugares – e logo após pular da cabeça da serpente para a arvore, esta desapareceu. Outa imediatamente usou sua habilidade para invocar as outras duas, tomando o cuidado para desta vez nenhuma delas aparecer fora do galho da árvore.

- E então? – disse Anko olhando a caixa que estava nas mãos de Umito.

- Não sei o que é, mas demorei um bocado para tirar as cobras que estavam enroladas nesta caixa. Muitas já até haviam morrido, e depois que me livrei delas usei o Senei Jashu para fazer o que tinha aqui dentro parar de funcionar.

Anko sorriu satisfeita e balançou a caixa um pouco, fazendo um ruído metálico como se varias engrenagens de metal batessem umas nas outras.

- Muito bem alunos – disse ela olhando ao redor e observando as cobras em seguida – as cobras já estão começando a se dispersar. Vai levar algum tempo, e acho que provavelmente metade destas daqui podem acabar morrendo de fome. Vamos voltar para Konoha agora e fazer o nosso relatório, bem como sugerir a hokage para que ela peça ao senhor feudal para enviar alguma divisão de seus soldados para ajudar a espalhá-las.

Em seguida todos partiram sem olhar para trás. Anko parecia estar apressada em sair de lá. Uma hora depois disto, no local onde Outa imaginou ter percebido uma respiração, Etsu removia sua camuflagem e cruzando os braços observou as cobras. Uma vez que o objeto que as atraia não existia mais, agora elas estavam lentamente procurando se afastar umas das outras. Depois disto sorriu suavemente, ficando satisfeita com o resultado de sua pesquisa particular. Ela confirmou o que tinha ouvido, sobre haver mais dois que como ela e o doutor podiam invocar os ofídios. Mas ainda tinha muitas perguntas em sua mente a este respeito, perguntas que esperava responder em breve, caso Ataso tivesse conseguido reunir os voluntários de que necessitava para fazer o que planejava.

Deu uma ultima olhada nas cobras e fazendo um movimento com as mãos, desapareceu do local.


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Notas finais do capítulo

Sei que demorei, e talvez continue assim por algum tempo. Tem muita coisa para eu fazer atualmente. Devo ter outro capitulo talvez no ano novo, assim, boas festas a todos.



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