Sonho Renascido escrita por Janus


Capítulo 33
Capítulo 33




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O estalo que ouviu foi muito alto quando Ayame atingiu a pedra e rolou por cima dela mais alguns metros, e o fato dela não gritar de dor ou raiva o deixou apavorado.

E com raiva!

Era a primeira missão classe B que faziam. Todos avisaram e insistiram para que tomassem cuidado pois seria bem diferente do que estavam acostumados. Em missões B o risco de se enfrentar ninjas era razoável, e geralmente ninjas nukenins de missões assim eram equivalentes a gennins com boa experiência, ou ate mesmo kages, dependendo da situação. Estes que eles enfrentavam eram considerados como no mesmo nível em que estavam. E Ayame se esqueceu disto.

Lembrou-se de como a hokage estava reticente em dar aquela missão para eles. Ayame quase ficou de joelhos dizendo que eles estavam prontos, mas estranhamente ela ficou olhando para ele, praticamente ignorando a chorona. Como se temesse que ele não estava pronto. Mas ela acabou dando a missão avisando para tomarem muito cuidado e acima de tudo para serem sábios para pedir ajuda ou fugirem se fosse o caso.

Mas como o sensei tinha dito depois, as palavras da hokage eram mais para que a própria ficasse um pouco mais tranqüila. Um mero efeito moral para esconder que ela estava preocupada com eles, mas que não tinha uma forma real de tira-los da missão por não serem capazes. Eles eram! E tinham que provar isso para eles mesmos agora.

Viu os clones dela desaparecerem, mostrando que ou ficou inconsciente ou talvez muito ferida. Ele apostava nas duas coisas. Seu sensei e Haruka estavam ocupados com o outro ao mesmo tempo em que protegiam as duas crianças longe dali, ficou para ele e Ayame a responsabilidade de deter este, e até que se deram bem no começo.

Saltou para trás e para o lado para escapar do chicote cheio de farpas. Tentava controlar o seu ódio como o sensei sempre explicava, mas não era nada fácil com a garota pelo qual tinha se apaixonado provavelmente ferida e desacordada. Ele precisava conscientemente usar apenas o termo ferida, tinha que não pensar em nada referente a gravidade.

- Kage Bunshin no Jutsu – disse ele fazendo um clone resistente que foi atrás da pedra levar Ayame para um local mais seguro e já fazer algo de primeiros socorros nela. Ele contudo tinha que ficar ali para garantir que seu inimigo não a seguisse.

Um inimigo que acabou sendo muito mais do que esperavam. Ele não tinha o braço esquerdo e no seu lugar tinha um espeto de ferro, quase que uma lança. Ambos acreditaram que ele seria do tipo corpo a corpo e quando começaram a lutar ele agia assim. Não foi difícil usarem os clones e ocasionalmente atingi-lo, mas não perceberam que ele os estava avaliando, talvez por nunca enfrentar dois gennins que pudessem fazer tantos clones ao mesmo tempo. Aquela lança que estava no lugar de seu braço provou ser perigosa, pois nem seus clones resistentes suportavam um golpe dela.

Por isso mesmo o mantiveram na defensiva usando shurikens e clones, e quando parecia que tinham identificado a sua forma de lutar Ayame arriscou usar o rasengan que tinham aprendido. Diferente do que houve com Naruto, Konohamaru os ensinou de cara a usar clones para criar aquele jutsu, assim aprenderam a criá-lo de forma relativamente rápida. Mas a impossibilidade de arremessá-lo o deixava limitado.

Mas era uma arma equivalente a aquela lança ao menos. Quando Ayame tentou, atingiu a lança e a repeliu, causando um impacto forte em seu ombro. Percebendo isso ela fez vários clones e todos começaram a fazer a rasengan, o que forçou o nukenin a mudar a estratégia e a mostrar seu pequeno truque, ou melhor, seus dois pequenos truques.

A lança firme se mostrou um chicote preso no cotovelo dele. Ele o girou em um grande circulo atingindo boa parte dos clones dela que desapareciam imediatamente porque também estava carregada com eletricidade – esse era o segundo truque, ele usava raiton! - Ele percebeu isso e gritou para ela pular, mas era tarde. Quando atingiu a original, o chicote se enrolou nela a fazendo gritar de dor devido a suas farpas afiadas e a eletricidade que descarregava. Ele a girou por duas vezes e a arremessou, a fazendo atingir a pedra.

Agora só ele estava lá para enfrentá-lo. Mas ao menos tinha duas coisas a seu favor. Na verdade, dois pequenos detalhes que não tinha demonstrado ainda. E quando o fizesse, precisava garantir que seria definitivo.

Ele criou dezenas de clones agora, como Ayame tinha feito antes. Normalmente ele evitava fazer aquilo, preferindo usar seus clones mais resistentes. Mas como estes não estavam sendo úteis ali, o jeito era usar quantidade agora.  O rosnado que o oponente fez lhe mostrou que ele não esperava que tivesse a mesma capacidade da amiga.

Ele fez o mesmo que tinha feito com Ayame, girou o chicote e o esticou como se fosse uma espada gigante, indo na direção dos clones e sem dúvida do verdadeiro que devia estar entre eles. Vários clones desapareceram conforme foram atingidos e eletrocutados e mais ou menos no meio deles, o chicote se enrolou em um deles. Sorrindo ferozmente, ele puxou o chicote ao mesmo tempo que uma grande carga elétrica era transferida por este, e para a sua descrença o garoto que ele tinha pegado se transformou em um tronco de madeira.

Furioso, deu um estalo no chicote para soltar o tronco. Assim que se desenrolou, o tronco girou e sua fúria virou incredulidade. O garoto estava atrás  do tronco. E não tinha com recolher o Chicote e lançá-lo de volta a tempo. Bloqueou o braço dele com a mão direita e sentiu dores no cotovelo esquerdo quando ele o chutou. O garoto se abaixou e por trás dele dois de seus clones que não tinham sido destruídos saltaram por cima dele, com uma resengan segura por ambos.

Felizmente seu chicote já podia ser usado de novo. Atingiu aquela bola luminosa e a mesma explodiu, destruindo ambos os clones e o cegando por instantes. Ele girou o chicote ao redor de seu corpo para deter qualquer ataque do inimigo que iria se aproveitar de sua falta de visão, mas novamente para sua surpresa ele não fez isso.

Ele tinha sumido!

Um pouco longe dali, atrás de uma grande rocha encostada em uma árvore, Ayame recuperava a consciência, bem como percebia que estava bem machucada desta vez. Ela ameaçou gritar de dor mas se conteve. Não sabia se era uma situação segura ou não. Viu Minato aplicando gases em seu peito e percebendo como doía respirar adivinho que devia estar com algumas costelas partidas.

- Onde ele está? – grunhiu ela com dor.

- Não sei. Fique quieta, Ayame-chan. estou tentando derrotá-lo. Se chamar a atenção dele vai ser difícil para mim.

- Tentando derrotá-lo? Você está... ah... – ela relaxou e encostou a cabeça no chão – você é um clone.

O clone olhou na direção onde o combate devia estar ocorrendo e estranhou o silencio. O original devia estar oculto planejando alguma coisa. Mas esse silêncio não durou muito. Logo o chicote começou a girar mais e mais rápido, começando a fazer um som agudo do ar circulando por suas farpas. O som chegava a causar arrepios.

- Apareça seu moleque! – gritava ele furioso, girando seu chicote e atingindo a grama e alguns arbustos do solo com violência.

Já havia um grande circulo formado na terra pelo chicote, de tanto ele o girar e atingir o chão algumas vezes, apenas para soltar faíscas elétricas e mostrar que não estava brincando. Exatamente o que Minato planejava. Ele queria o deixar irritado para cometer algum erro. A forma como agiu antes tinha sido no sentido de tanto ele quanto Ayame o subestimarem, o que tinha dado certo. Avaliando a situação ele sabia que seria pura estupidez um ataque direto, mas ainda que momentaneamente, ele imaginou que Ayame diria que Naruto – o eterno ídolo dela – faria isso.

Bom, ele não era Naruto, portanto ia fazer do seu jeito mesmo. Olhou para baixo observando ele girar o chicote. Era uma boa defesa, exceto que tinha um ponto fraco. E ele também estava achando que aquele oponente um pouco ruim dos olhos. Ainda não o tinha notado em cima daquela árvore?

- Onde você está? – gritou ele agora arremetendo o chicote ao chão e causando uma grande fissura neste. Pelo jeito ele não gostava de ser enganado.

Percebeu um movimento acima dele e girou o chicote para lá, apenas para ver ele destruir um clone. Logo outro apareceu, e mais um. Foi destruindo clone atrás de clone, e ficando alucinado com a quantidade deles. A cada segundo apareciam mais e mais clones, e ele arremetia o chicote para eles. O que não entendia era que vinham de todos os lados, mas se não estivesse tão furioso com sua frustração teria percebido que Minato tinha aproveitado enquanto ele girava o chicote em círculos para criar dezenas de clones e o cercar.

Ele começou a girar o chicote de novo, formando um circulo de dez metros de raio que destruía tudo que estivesse al alcance. Clones que tentavam pular eram facilmente destruídos. Até que ele viu pelo menos quatro pares clones pularem das árvores formando uma trajetória para cima dele. Cada par segurava uma rasengan com as mãos. Ele fiz o chicote girando ir para cima, formando um cone agora e os clones moveram o rasengan para que o chicote o atingisse. Ele arregalou os olhos percebendo o que ele pretendia fazer.

Quando o chicote atingiu um rasengan, o impacto o fez parar de girar e cair ao chão. Ele puxou o chicote de volta, apenas para perceber Minato surgir a direita dele sendo impulsionado por um clone. E enquanto ele se aproximava ele viu a primeira surpresa dele: Ele fazia um rasengan com a mão direita sem a ajuda de um clone. Tudo o que ele tinha feito antes tinha sido para enganá-lo. Pensou que como Ayame ele precisava de clones para fazer isso.

Conseguiu mover o chicote a tempo para lançá-lo na direção dele. Minato moveu o rasengan e este colidiu com o chicote, o que o fez perder o impulso e seus pés tocaram o chão. Ele saltou de novo para ir na direção do oponente e este puxava o chicote para trás para enviar de novo. Como não tinha desaparecido, agora ele sabia que este era o original.

Enviou o chicote quando Minato fazia outro rasengan. Mas ele não o usou no chicote desta vez. Usou o pé para empurrar o chicote para o chão e arremeteu a mão direita carregando a bola luminosa contra ele.

Agarrou o pulso dele com a mão direta e o jogou no chão, mantendo a mão dele presa com o peso de seu corpo. Ainda via a bola luminosa na palma da mão dele, e acreditava que finalmente tinha controlado a situação. Ia tentar enrolar o chicote no pescoço dele quando notou outro brilho. Virou o rosto e com a boca levemente aberta viu na mão esquerda livre dele outro rasengan.

Este era o segundo segredo que ele tinha escondido. Minato podia fazer o jutsu com as duas mãos, e ao mesmo tempo. Tudo graças ao controle de chakra que tinha recebido como herança do lado da mãe. Moveu a mão esquerda contra ele e nukenin precisou saltar para escapar.

Com uma rasengan em cada mão foi tentando atingi-lo. Ele era bem ágil e sem dúvida bem mais experiente que Minato em esquivas. Além disso tinha a vantagem do chicote. Sempre tentava usá-lo para o manter afastado. Até que de repente as bolas luminosas apagaram e ele acertou o peito de Minato com o joelho.

Viu o garoto arfando com um joelho no chão e suspirou aliviado. Tinha sido quase daquela vez.

- Foi por pouco, moleque, mas ainda sou o melhor por aqui, eu sou mais forte que você, mas experiente e mais habilidoso – disse ele sarcástico erguendo o braço esquerdo com o chicote pronto para acertar o seu pescoço e o decapitar.

Minato apenas sorriu levemente. Enquanto ele falava, ergueu sua mão direita do chão e assim que um brilho surgiu nela, a socou fortemente no solo, fazendo um brilho e uma cratera que surgiu ali abalando o solo ao redor – resultado dele ter feito uma rasengan - tirando o equilíbrio dele. Minato se ergueu já esticando a mão esquerda e fazendo outra rasengan com esta, enquanto que com a sua perna lhe dava uma rasteira. Foi só o tempo dele cair no chão que o jutsu ficou pronto e o acertou no ombro, destroçando seus ossos e músculos. Chutou sua barriga e quando ele se dobrou de dor acertou o cotovelo no seu pescoço, o deixando inconsciente.

- E eu sou mais trapaceiro – disse Minato para o nukenin inconsciente.

Outra coisa que a hokage tinha dito era para não ter piedade de nukenins. Eles não iriam ter dele. Isso ele aprendeu bem, mas continuava não gostando. Um pouco distante, Ayame que tinha visto tudo sendo amparada pelo clone subitamente agarrou o clone pelo pescoço e lhe deu um beijo bem molhado na boca, em seguida sentou–se no chão e esperou o clone desaparecer. Coisa que ocorreu em seguida. Ficou ali esperando Minato chegar perto. Viu ele parar ao seu lado e quando se virou foi a vez dele a pegar de jeito e a beijar.

- Está ficando mais ousado! – disse ela com um sorriso um pouco perverso.

- E você está ficando com tudo o que o sensei fala do Naruto. Uma cabeça dura! – retrucou ele lhe dando um soco na testa – vamos ver se ele e Haruka-chan precisam de ajuda.

Ele colocou o braço dela por cima de seu ombro e a ajudou a se mover. Além das costelas ela também estava com a perna direita ferida e com alguns danos nos órgãos internos da barriga. Seria perigoso se ela lutasse daquele jeito, mas se a deixasse ali, ela iria tentar se mover sozinha, piorando sua situação.

- Minha cabeça está doendo! – chorou ela no seu ouvido.

Ele achou melhor a carregar pelo caminho e quando chegou mais perto viu que não precisaria se preocupar.  Haruka e o sensei deles tinham resolvido a situação e as crianças estavam abraçadas em Shiromaru e um clone desta.

Shiromaru tinha crescido bastante naqueles seis meses. Ainda estava longe do tamanho de Akamaru, mas ela já não cabia na cabeça da parceira. Na verdade as duas crianças estavam montadas nela e em seu clone. Minato chegou perto deles e colocou Ayame deitada no chão. Podia ver a marca roxa na barriga dela. Haruka se aproximou e levantou a camisa da amiga, para ver melhor os ferimentos. Logo depois a xingou por não tomar cuidado.

- Já chega vocês duas – disse Konohamaru observando o estado de Ayame – o que aconteceu com  o outro?

- Está desacordado e bem machucado lá atrás – disse Minato – não acho que vai a lugar nenhum.

- Ele pode usar as pernas? – percebeu que seu sensei o olhava de forma inquiridora, e temeu que talvez tivesse cometido algum erro.

- Bem... eu acertei uma rasengan em seu ombro...

Viu ele apertar os lábios e olhar a distancia, na direção em que ele tinha vindo.

- Fique aqui e crie clones para vigiar ao redor, eu já volto.

Sem dizer mais nada ele correu naquela direção. Preocupado, ele criou os clones que ele pediu e deixou um deles ajudando Haruka com os primeiros socorros da amiga. Teriam de enfaixar seu peito bem apertado para manter as costelas partidas no lugar, e também teriam que procurar ajuda médica bem rápido. Ele por sua vez ficou perto das crianças. Podia ver que elas pareciam a vontade brincando de cavalinho com a parceira ninken de Haruka, em nada lembrando aquelas duas desesperadas quando estavam em poder dos seqüestradores.

Mas ainda não entendia o porque de as terem seqüestrado. Na verdade elas nem eram a sua missão, simplesmente foi um acaso as encontrarem com os nukenins. Pela aparência, deviam ter de cinco a sete anos. Procurou um pouco ao redor e viu o queria, o outro nukenin que Haruka e seu sensei derrotaram. Foi até ele e constatou que estava morto. Mas os ferimentos dele não eram apenas de uma rasengan. Pelo jeito Haruka o atingiu também com seus golpes.

Voltou até onde suas amigas estavam e ficou observando a direção em que o sensei foi. Haruka já estava terminando de cuidar dos ferimentos de Ayame, e Shiromaru e seu clone trouxeram as crianças para mais perto deles.

- O Sensei está demorando – disse Haruka ficando preocupada.

- Eu sei – respondeu ele fazendo mais um clone para verificar o porque da demora – Ayame pode andar?

- Não aconselho – disse ela séria – ela pode perfurar os pulmões com essas costelas quebradas. Melhor fazer uns clones para carregá-la.

Olhou para as crianças que os observavam com um misto de gratidão e alegria, e achou que era hora de descobrir mais sobre elas.

- Muito bem, mocinhas, como se chamam?

- Eu sou Kiniha – disse a loira sorridente.

- Meu nome é Nihina – disse a de cabelos verdes claros.

- Eu sou Minato – disse ele – onde estão seus pais?

As duas se entreolharam e ele viu os lábios delas tremerem. Que ótimo! Ele tinha que fazer aquela pergunta...

- Calma! – disse ele rápido – qual o nome da aldeia em que moram?

- Vale Profundo – disse a loira, a que se chamava Kiniha.

- Não é longe daqui – disse Haruka – podemos levá-las de volta. E descobrir porque as seqüestraram.

- Eu pensei niss... – ele parou de falar quando recebeu a informação de seu clone – droga! – disse ele preocupado – Haruka, pegue nossas coisas, vou fazer mais uns clones para montar uma maca com galhos para Ayame e para levar as crianças. O nukenin não está mais onde o deixei, e não há sinal do sensei.

- Será que sensei não foi atrás dele?

- Eu não sei, mas é melhor nos movermos. Ayame precisa ser melhor tratada, e ainda têm as crianças conosco.

Agora ele percebeu que não tomou o devido cuidado. Devia ter imobilizado aquele arrogante, mas estava mais preocupado com Ayame. Ele provavelmente despertou e fugiu, ou muito provavelmente se retirou para cuidar das feridas e atacar de novo, e seu sensei devia estar perseguindo-o.

Dois de seus novos clones pegaram cada qual uma criança e a colocaram com as pernas entre seus ombros, os outros dois estavam acabando de colocar Ayame na maca que fizeram usando galhos e pano da mochila deles. Minato notou que Ayame não tinha esboçado nenhuma reclamação, o que já mostrava que seu estado era um pouco grave. Normalmente ela estaria xingando-o por a tratar como coitadinha.

Haruka voltou com as mochilas, incluindo a do sensei. Ele fez mais dois clones para carregar a do sensei e de Ayame, e em seguida eles partiram entre as árvores rumo a aldeia mais próxima, aquela onde passaram a noite anterior. As crianças não tiveram dificuldade em se acostumar com a forma de viagem. Uma hora depois o grupo entrava na aldeia. Haruka ficou tomando conta das crianças – junto com um de seus clones – enquanto ele levava Ayame para um médico ou o mais parecido possível que a aldeia devia ter.

Ele estava com sorte. Haviam dois médicos na aldeia, apesar de ser pequena. Na verdade era mais um médico e uma enfermeira, mas era melhor do que absolutamente nada. Houve uma certa confusão para ele explicar o que tinha ocorrido com a amiga, mas assim que perceberam que eram ninjas, não houve mais perguntas.

Levou quase duas horas até terminarem de cuidar dela. Precisaram fazer duas pequenas cirurgias para recolocar alguns ossos de volta ao local certo, bem como drenar o sangue que tinha se espalhado pelos vasos sanguíneos rompidos. Minato ficou bem mais aliviado quando viu a amiga – e aquela que já considerava intimamente como futura namorada – sair andando, ainda que mancando um pouco.

Juntos foram atrás de Haruka que já tinha cuidado de conseguir quartos em uma pousada e de dar de comida as crianças, bem como conseguir mais informações delas. Aparentemente os nukenins as seqüestraram para obrigar o avô delas a lhes fornecer algumas “pedras bonitas”, que foi como elas as chamaram. Pela descrição que deram devia ser alguma gema semi preciosa.

Era estranho nukenins procurados perderem tempo com resgates quando poderiam facilmente roubar tal coisa, a menos que ainda fosse preciso extraí-las. Seja como for, não iriam fazer nada até o dia seguinte, quando Ayame estaria melhor recuperada e provavelmente o sensei iria se encontrar com eles. Seus clones ainda estavam no local onde houve a luta entre Haruka, o sensei e o parceiro daquele que ele derrotou. Iam permanecer por mais algumas horas, tempo bastante para – ele esperava – o sensei voltar e ser informado por eles sobre onde foram.

Ao cair da noite, finalmente um de seus clones desfez o jutsu e ele soube que seu sensei estava a caminho. Ele tinha mesmo ido atrás do nukenin fugitivo, mas algo aconteceu. Ele o encontrou morto. Alguém o tinha matado e talvez fosse alguém que ele conhecesse, pois não havia sinal de luta. Ele tinha ficado horas investigando os arredores mas nada encontrou, mas percebeu que diferente do outro que tinham derrotado, este nada carregava nos bolsos, nem mesmo dinheiro. Talvez tivesse sido roubado por quem o matou.

Ele passou o recado para as amigas. A missão deles que era eliminar a ameaça daquelas nukenins estava completa e no dia seguinte ele ajudaria Ayame a voltar para a aldeia, Haruka iria junto com o sensei levar as crianças de volta a família e tentar descobrir mais sobre o que tinha ocorrido. Mas para Minato não havia muito mistério. Os nukenins apenas aproveitaram sua passagem para conseguirem algum dinheiro.

 

-x-

 

- Você demorou! – reclamou ele atiçando o fogo com um pedaço de galho e depois o colocou para queimar junto com os outros.

- E você ainda não fez o jantar, Masaki! – retrucou ela chutando terra para cima de suas calças. Ele olhou para aquilo e riu um pouco.

- Se alguém nos ver, vai acabar pensando que somos casados.

- Seria um bom disfarce – disse ela passando entre ele e o fogo e abrindo sua mochila. O brilho do fogo dava uma iluminação estranhamente erótica naquela pele morena dela. E muito provavelmente ela percebia isso, pois seus movimentos lentos pareciam mesmo ser de sedução – mas não estamos disfarçados aqui, não é mesmo? – ela e virou para ele com a boca semi aberta.

- Você é sem dúvida a mais perigosa mulher que já conheci – murmurou Masaki respirando fundo – e duvido que ficou assim graças a Kabuto.

- Atualmente tenho minhas dúvidas – ela ficou ereta com um espeto na mão que retirou da mochila – é verdade que eu já era considerada perigosa, tanto que quase me mataram. Mas eu não estou tão certa que o doutor não teve nada a ver com isso.

Observou ela ir até onde a caça que tinham feito de manhã estava embrulhada e poucos minutos depois ela voltou com um pedaço de carne já devidamente preparada e presa ao espeto e o fincou no chão bem perto da fogueira.

- E o meu? – ele a olhou com cara de choro.

- O seu? – ela pos as mãos na cintura e balançou o corpo um pouco – você é que devia estar com o seu e o meu já prontos para quando eu voltasse, seu preguiçoso!

- Eu fiquei ocupado... Kabuto mandou uma mensagem para você... – murmurou ele se erguendo e indo na mesma direção que ela tinha ido antes, onde estava a carne da caça deles.

Ele preparou um espeto para sim próprio e levou mais tempo que ela para temperar um pouco aquilo. Depois voltou para a fogueira e fincou o seu espeto bem próximo do dela. Notou que Etsu ainda o observava com os braços cruzados, aguardando que ele passasse o recado. Ficou imaginando o porque de Kabuto ter colocado ela e ele naquela missão sem sentido. Alias, mais uma missão sem sentido dele. Contratar nukenins para fazerem tarefas que eventualmente forçariam a um confronto com os ninjas de Konoha. Tinham que fazer isso até conseguirem catalogar os times normalmente enviados e suas prováveis capacidades. Coisa semelhante ao que ele fez na aldeia da Areia, mas ali ele teve acesso diretamente ao arquivo deles, foi mais fácil. No país do Fogo parecia que Kabuto evitava fazer grandes investigações ou introduzir seus asseclas na aldeia principal.

Reconhecia que a tarefa até que não era tão sem sentido assim. Era uma forma de se avaliar a força daquela aldeia. Até o momento, apenas dois times de gennins tinha atuado. Um que ele observou derrotarem aqueles que foram contratados e o outro que Etsu tinha ido observar o que iria ocorrer.

- Diga logo qual é o recado! – ralhou ela irritada por ele ainda não ter dito nada.

- Ele pediu pra você verificar o que houve com o seu espião que ele não deu noticias até agora.

- Meu espião? – ela colocou a mão no queixo e o coçou um pouco, depois sorriu como se tivesse lembrado de algo e mordeu o dedo, espalmando o chão em seguida terminando um jutsu de invocação.

Atônito, ele viu que ela tinha invocado uma serpente, como Kabuto fazia. Achou aquilo muito estranho. As serpentes de Kabuto eram renegadas, ninguém mais iria poder invocá-las pois deveria ser impossível alguém fazer contrato com elas, e Etsu não poderia invocar as outras porque iriam denunciar imediatamente a localização de Kabuto assim que descobrissem. Portanto...

Etsu tinha sido treinada por Kabuto para poder fazer aquilo!

Viu ela deixar a serpente se enrolar da sua mão e ouvir o seu sibilar. Depois de um longo tempo naquele monologo sibilante, Etsu disse algo sobre não ser culpa dela e que devia ter tomado mais cuidado. Depois ficou mais um longo tempo em silencio apenas ouvindo – já não tinha duvidas, Etsu tinha algo de especial para Kabuto ter permitido que usasse suas cobras – ao fim do qual deixou a serpente se enroscar no seu pescoço e a aparentemente relaxar ali, quase como se fosse cochilar.

- Kabuto lhe ensinou isso?

- O que? – ela o olhou surpresa, como se estivesse concentrada em algo – ah, sim. Isso e outras coisas interessantes. Ele tem sido um professor para mim desde que me... hum.. acho que a melhor palavra seria desde que ele me “construiu” de novo. Me ensinou até um jutsu útil para fugir da prisão ou poder ir rápido para outros locais.

Olhou para o chão para ocultar sua expressão de surpresa. Até onde sabia, ele nunca tinha feito isso com nenhuma outra pessoa. O que aquela mulher teria de especial para isso? Imaginou que muito provavelmente iria usá-la em algo em que tal coisa seria necessária, embora apenas Kabuto soubesse o que seria. Quando sentiu que estava controlado, olhou para ela e a mesma ainda parecia muito pensativa.

- Acho que vou fazer uma missão por conta própria – murmurou ela com um sorriso.

- Não acho que Kabuto vá gostar disso, e acredite... não vai querer conhecê-lo quando está decepcionado.

- Não tenho medo dele. Sei muito bem que ele pode me matar ou me transformar em marionete quando bem entender – ela sorriu para ele – mas algumas coisas que meu espião aqui andou ouvindo merecem ser mais bem investigadas.

- Por exemplo?

- Uma curiosidade é sobre a hokage de Konoha. Parece que ela gosta de falar sozinha... mas é de pouca importância. Outra é sobre um gennin cujo nome ela andou repetindo muito no tempo em que Nothe esteve por lá.

- Quem?

- Ele! – ela apontou com o dedo para a cabeça da criatura que ainda estava no seu pescoço – mas o mais importante... é que tem outra pessoa em Konoha que pode invocar ofídios... – ela olhou para a serpente que estava no pescoço quando esta sibilou de novo – na verdade... duas outras. Estou curiosa agora sobre isso.

Masaki também estava. Já tinha sido um absurdo para ele Etsu poder invocar aquelas criaturas, e agora havia mais outras duas que podiam fazer isso?

- Melhor mandar uma mensagem para Kabuto explicando sobre isso. – disse ele cruzando os braços. - Não acho que ele aceite que nos desviemos de nossa missão.

- Não vamos nos desviar tanto. Apenas vamos continuar com ela até um ou os dois que tem essa habilidade aparecerem. Então verei se posso descobrir mais a respeito.

- Por falar nisso, como foram aqueles dois idiotas que você estava vigiando?

- Mortos – disse ela andando para o seu espeto e o girando para a carne assar do outro lado – um foi morto pelo time, e o outro eu tive de matar. O tolo resolveu fugir e estava indo direto para o local onde fizemos o primeiro contato. Mas houve uma compensação um tanto inesperada...

Ela deixou a frase no ar, provavelmente apenas para atiçar sua curiosidade, e já o tinha conseguido. Não só porque queria saber, mas também porque apreciava quando ela falava daquela forma, o tom suave da voz, uma expressão com mais ênfase nos esses. Viu ela se afastar do fogo e se sentar cruzando as pernas, e a estranhamente parecer brincar com a serpente, a deixando se enrolar no seu braço, e depois no outro, como se fosse um tipo de animal de estimação.

- Qual compensação? – perguntou ele um pouco rápido demais.

Ela o olhou e sorriu jovialmente, mantendo a boca levemente aberta. Aquela mulher era um demônio! Sempre usava seu toque de sedução para causar distração nele.

- O shinobi que perseguia nosso pobre amigo chicote é o mesmo que me “matou”. Foi bom saber que ele é provavelmente o líder e sensei do time de gennins que foi enviado para deter os nukenins. Algum dia espero ter a chance de enfrentá-lo de novo, só por diversão.

Diversão? Não entendeu muito bem o que ela quis dizer.

- Não quer dizer vingança?

- Não – ela estava agora mais distraída brincando com a serpente – quero dizer diversão mesmo. Não sou mais aquela pessoa que ele venceu, agora sou uma mera ferramenta para o doutor, um objeto que ele vai dispor da maneira que bem entender. Sei disso e não tenho nenhum problema ou arrependimento a respeito. Muito menos alimento qualquer esperança de mudar isso. Já tive minha vida e morri nela. E foi uma boa vida, tenho que admitir. Divertia-me gastando tudo o que ganhava sendo mercenária, me excitava nas missões em que me disfarçava quase sempre de cozinheira quando tinha de assassinar alguém, ou quando usava formas indiretas de cumprir com os objetivos. Até fiz serviços de proteção como qualquer ninja de aldeia oculta. O que tenho agora é um mero bônus do qual pretendo também aproveitar o máximo possível. Vivi sempre sabendo que teria um fim trágico, e isso não vai mudar.

Ficou um pouco impressionado com ela, com sua maneira de viver e suas convicções. Ela era simples, direta e não se preocupava como a maioria das pessoas sobre o amanhã ou alimentava desejos. Ela apenas tentava viver da melhor maneira que lhe agradasse.

- Como você gosta de carne mal passada, a sua já está pronta – disse ela o olhando divertida. - Muito bem Nothe, já se divertiu – ela falava com a serpente – pode voltar para casa e não estranhe se o doutor te invocar.

Momentos depois de falar isso, a criatura desapareceu em uma nuvem de fumaça.

- E agora que ele não está aqui para nos ouvir, tem mais uma coisa interessante que ele disse sobre a hokage, e é por isso que quero fazer uma missão a mais – disse ela o olhando com uma expressão determinada agora – parece que tem “algo” dentro dela, algo que deixou Nothe apavorado.

- Algo? E o que seria esse algo?

- Eu não sei, mas estou interessada em descobrir. Na verdade fiquei muito curiosa sobre isso. Espero que quando o doutor souber me mande dar uma olhada usando minha sensibilidade para perceber chakra.

Masaki a olhou fechando um olho. Duvidava muito que era esse o real motivo. Mas o que haveria em Konoha que ela quisesse descobrir? Pensou um pouco e sorriu quando imaginou a resposta possível.

- Acho que você quer uma chance de saber mais sobre o shinobi que a venceu uma vez. Não iria dispensar sua amiga sem pernas apenas para que Kabuto não soubesse que ficou curiosa...

Ela não respondeu, mas sorriu com certa satisfação. E ele não teve mais duvidas de qual seria seu real interesse. Mas ela iria descobrir que tentar invadir uma aldeia daquelas não seria fácil, muito menos chegar perto do local onde estariam guardadas as fichas....

Mas...

- Você não precisa ir para Konoha para saber mais sobre aquele shinobi! – exclamou ele compreendendo – basta perguntar nos lugares certos, e tenho certeza de que conhece os locais certos, ou pelo menos sabe como encontrá-los – ficou um pouco pensativo – afinal, foi você quem em poucos dias achou um local para contratarmos nukenins para nossos planos...

- Eu não disse que ia para Konoha – disse ela quase rindo – dá para saber de muita coisa apenas freqüentando os bares certos. Porque homens sempre pensam da maneira mais difícil?

Masaki começou a ficar corado, se sentindo um idiota.


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