Sonho Renascido escrita por Janus


Capítulo 22
Capítulo 22




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A tarde estava excepcionalmente seca naquele dia. Mesmo as nuvens que cobriam o céu não davam muito alivio aos trabalhadores do armazém de suprimentos que se deslocavam sobre as ruas da aldeia que refletiam o calor acumulado da parte da manhã. Alem disse, estavam muito secas e toda carroça que por lá passava levantavam uma pequena nuvem de poeira, que preguiçosamente invadia as casa pelas janelas abertas e destruía o trabalho de algumas donas de casa em manter o seu lar limpo.

Era uma aldeia pequena, chamada de vila por alguns. Basicamente todos eram empregados do armazém que distribuía produtos para vários locais servidos por aquela estrada, e dentre estes locais estava Konoha. Mas não era apenas isso que dava importância estratégica comercial a aldeia, era a sua localização. A estrada que passava próxima dava acesso a aldeias distantes, que não tinham outros locais próximos para obter suprimentos. De longe o que mais chamava a atenção eram as oito grandes construções de madeira, os depósitos do armazém utilizados para estocar produtos temporariamente antes de serem enviados ao seu destino. O comercio local se resumia a um açougue, uma padaria e um restaurante, todos pertencentes ao armazém. Qualquer estrangeiro que ali chegasse daria pouca importância ao local, que nem pousada possuía, mas para o pais do Fogo, sua importância na distribuição de suprimentos era reconhecida por um destacamento militar a menos de duas horas de distancia, sendo que duas vezes ao dia soldados passavam em frente a aldeia, apenas para verificar se tudo estava tranqüilo. Pessoas de fora também eram vigiadas quando ali se estabeleciam, mesmo que temporariamente. A vigília era discreta, e era mantida até a pessoa partir ou ficar evidente que era de confiança, coisa que demorava alguns anos. Essa era a situação da mais nova moradora da aldeia, uma mulher andarilha que empregou-se na cozinha do armazém. Mulher esta que tinha acabado de sair para a rua seca e um pouco empoeirada da aldeia.

Exibindo sua pele morena ao Sol, andou calmamente até os bancos defronte ao escritório armazém e sentou-se em um deles sem muita cerimônia. Estava com os ombros e os braços doloridos de tanto lavar pratos e de preparar comida para todos eles. Era um disfarce realmente muito bom este que usava, mas já estava ficando irritante. Quase sempre que fazia algo era disfarçada como cozinheira, e o pior era ainda ter dificuldade de largar o emprego. Os patrões realmente tinham um grande aumento de clientela quando ela cozinhava, ou naquele caso, os empregados ficavam mais felizes e reclamavam menos. Talvez se um dia no futuro ficasse cansada de tudo, acabaria assumindo aquela profissão.

Mas para o momento era hora de seu merecido descanso. O almoço tinha acabado, aqueles esfomeados repetiram o prato pelo menos uma vez e voltavam renovados a carregar as caixas, barris e sacos de mantimentos para dentro e para fora dos depósitos. Até que estava mais movimentado que o normal em relação as ultimas semanas em que estava ali esperando para cumprir a missão do doutor.

As fotos que tinha visto daquelas pessoas eram antigas, mas não acreditava ter dificuldades para localizá-las.  Só precisava ficar extremamente atenta para os objetivos a serem cumpridos. E o principal era não ser detectada. Não estava próxima de Konoha o bastante para levantar suspeitas, mas em uma aldeia em que ocasionalmente alguns comerciantes de lá faziam compras de suprimentos. Também não precisava ter pressa para cumprir sua missão. Alias, até que esta missão já tinha lhe rendido algo totalmente inesperado do doutor, e ainda ficava se perguntando o porque dele ter pedido para ela aprender tal coisa. Era realmente muito útil para o que devia fazer agora, mas ficava imaginando o que mais ele podia estar pretendendo com aquilo. Isso porque algo que ficou evidente enquanto o observava, era que ele parecia sempre ter interesses obscuros no que fazia.

Recostou-se melhor no banco e chegou mesmo a abaixar a cabeça e com um leve sorriso deixou o calor da tarde lhe embalar lentamente para um estado de quase cochilo. Fazia isto todas as tardes, criando um hábito que não atrairia nenhuma suspeita de ninguém. Essa era outra de suas qualidades quando estava infiltrada em algum lugar, manter certos hábitos e não sair deles, e cuidar destes hábitos serem úteis, como este de quase cochilar naquele banco a tarde. Dali podia ver qualquer um que chegasse ou saísse da aldeia. E com sua habilidade de sentir chakra sabia quando um shinobi se aproximava ou se afastava. Nas ultimas semanas tinha sentido muitos deles passando pela estrada ou a distância, entre as árvores seguindo uma rota ignorada. Não era esse o motivo de estar ali, por isso não se incomodava. Também sabia que às vezes um ou outro ficava oculto em local relativamente próximo e parecia observar as coisas ali. Considerando que era uma aldeia onde os suprimentos eram adquiridos, deviam mesmo vigiar o que ocorria no local. Afinal seria uma porta de entrada perfeita para a aldeia oculta.

Assim não ficou alterada quando percebeu o chakra de dois shinobis se aproximando de forma a parecer que acompanhavam a distancia uma pequena caravana de comerciantes. Remexeu-se levemente quando estas carroças passaram pela sua frente e levantaram um pouco de poeira, mas permaneceu sentada com os olhos quase fechados, tentando retornar ao seu cochilo. Também não fez absolutamente nada diferente quando viu descer daquelas carroças uma das pessoas que eram o seu alvo.

Se tinha observado bem as coisas naquela aldeia enquanto esteve ali, esta pessoa iria falar com aquele homem que todos os dias observava da janela do escritório quem chegava diante do armazém. Tinha certeza de que ele procurava por alguém na aldeia, esperando provavelmente um contato. Já estava ali antes dela chegar de carona em uma carroça e perguntar se havia um emprego. Candidatou-se a ser cozinheira para os empregados do armazém e fez sucesso imediato, e graças aos hábitos que ela cuidadosamente cultivou ali, percebeu como as coisas ocorriam. Isso era muito útil para uma assassina como ela. Conhecer o local e o seu alvo era de extrema importância para um trabalho rápido e eficiente. Não devia matar ninguém daquela vez, mas ainda assim era importante conhecer bem o local. E nesse caso, acabou sendo mais importante do que esperava.

O doutor tinha dito que um antigo empregado dele estava fazendo um serviço para outra pessoa, e que estava agindo de uma forma um tanto incompetente. Não sabia se o homem que sempre olhava pela janela – seu nome era Ataru – era a pessoa que o contratou ou um mero contato, mas sabia sem sombra de dúvida que ele estava ali sob o pretexto de contatar alguém. Por dedução acreditava ser a mesma pessoa a quem ela devia dar um recado. Só que diferente dele, ela queria ser o mais discreta possível. Viu o comerciante que tinha descido da carroça seguir para dentro do escritório do armazém e espreguiçando-se um pouco, conseguiu abrir os olhos o suficiente para observar Ataru pela janela. Ele estava sentado em sua mesa sem olhar para as pessoas que chegavam. Uma forte evidencia de que quem ele queria ver tinha chegado finalmente.

Mas também notou outra coisa. As presenças que tinha sentido antes moveram-se para uma região atrás dela, provavelmente no telhado do armazém. Duvidava que a observassem, e teve a certeza de que acompanhavam a pessoa que tinha entrado no escritório agora. Que ótimo, mais dificuldades. Pelo menos ainda podia ficar ali por mais meia hora sem chamar nenhuma atenção. Olhou sonolenta ao redor e se deteve observando as carroças. Ainda não tinha visto aquelas por ali, deviam ser de Konoha. Mais um indicativo de que estava certa.

Colocou as pernas esticadas sobre o banco e se preparou para um cochilo verdadeiro. Com aqueles shinobis vigiando, seria idiotice tentar qualquer aproximação, e era até melhor deixar eles vigiarem Ataru. Era um típico velho gordo que podia passar despercebido em qualquer local, mas ela sabia que era uma ilusão. Velhos gordos e inúteis não tem chakra no nível dele. Ele era um ninja, e provavelmente dos bons. Não tinha sido meramente pela forma de agir que ela desconfiava dele. Já o comerciante era uma pessoa comum.

Fechou os olhos e se aconchegou o melhor que pôde no banco, mas quinze minutos depois seu principio de cochilo foi interrompido. Estava havendo uma discussão dentro do escritório. Aquele comerciante seria tão imbecil para chamar a atenção assim?

Seria muito suspeito ela não ficar curiosa sobre isso, e abrindo os olhos e olhando a janela descaradamente, tentou entender o que estava acontecendo. Parecia ser uma discussão acerca do preço combinado. Era meio raro haver aquelas discussões por ali, mas não propriamente estranhas. Apenas o teor acalorado desta era diferente. Ataru insistia que ele tinha combinado entregar duas caixas de cereais, e o comerciante – nem sabia seu nome ainda – dizia que era apenas uma, e só iria pagar por isso.

Ataru saiu de sua mesa e ela não podia mais vê-lo pela janela. Dando outra espreguiçada, se levantou e retornou calmamente para o refeitório, sem olhar para trás. Nada demonstrou quando agora uma das presenças tinha se movido para ficar mais distante, muito provavelmente na estrada. Mas a outra ainda estava em cima do armazém. Entrou no refeitório e foi até a cozinha. Suspirou levemente ao observar que seus colegas do armazém nem ao menos tiveram a decência de deixar as panelas com água para já amaciar os restos de comida.

- Porque eu insisto sabendo que eles não tem o mínimo de bom senso? – murmurou ela para a cozinha vazia.

Maneando a cabeça ela começou a enxaguar e a deixar as panelas com água amontoadas na pia. Depois de meia hora iria limpá-las de verdade. Até  começar a preparar o jantar teria ainda mais uma hora de tranqüilidade, e queria aproveitar bem este tempo.

Percebeu Ataru retornando a sua mesa, e enquanto enchia as ultimas panelas com água, notou que não se deteve nesta. Pela sua posição agora devia estar saindo do escritório e indo na direção das carroças que tinham acabado de chegar. Fato muito peculiar. Normalmente ele apenas ficava no escritório, fazia a negociação – ou confirmação dos pedidos – com os comerciantes permanecendo sentado em sua mesa e quando muito, saia desta para ir ao banheiro. Era um tanto quanto metódico, agindo como um perfeito contador que observa números e não pessoas. Não fosse, logicamente, seu hábito de olhar quem chegava ali pela janela.

Quando encheu as ultimas panelas, andou de volta até as primeiras, passando pela janela da cozinha e percebeu pelo canto dos olhos que Ataru estava lá perto das carraças, junto com o comerciante que foi falar com ele. Havia uma terceira pessoa com uma caixa nas mãos. Devia ser a caixa de cereais que gerou aquela discussão de antes. Mas para ela a caixa era uma mera desculpa. Acreditava que a discussão em si talvez fosse o contato que Ataru tanto andou aguardando. Um comerciante que quase sempre devia fazer compras ali entra direto no escritório, vai até a mesa de Ataru e começa uma discussão com ele naquele tom? Verdade que até podia ser comum para aquela pessoa, visto que nunca a tinha visto ali antes. Mas o fato dela ser seu objetivo lhe dava informações adicionais.

Enquanto já lavava as  panelas para deixá-las prontas para serem utilizadas para a preparação do jantar, não ficou nem um pouco surpresa de ver que não tinha demorado muito para a carroça ficar cheia com outras mercadorias – outra coisa interessante. Normalmente comerciantes gastavam pelo menos meia hora no escritório conferindo tudo o que iriam levar e mais um tempo verificando a qualidade das mercadorias mais delicadas. Esse daí entrou, discutiu lá dentro, saiu  com a caixa e logo depois o resto da carga foi entregue. Não era a toa que tinha um ninja em cima do telhado observando tudo. Aquele idiota estava sendo vigiado, coisa que o doutor tinha previsto. Ele a alertou detalhadamente sobre ele e seu companheiro. Ele os escolheu por serem pessoas comuns um pouco ambiciosas demais, mas tomou o cuidado de usá-los de forma adequada no papel que deviam fazer. Na verdade o trabalho que eles fizeram para ele tinha sido estupidamente simples, e agora seria a mesma coisa.

Quando lavava a quarta panela, olhou distraidamente pela janela para ver o movimento ali fora. Cumprimentou um colega que passava em frente e este mandou um beijo para a “cozinheira maravilhosa” que o lembrava da comida da mãe. Pensou mesmo que se talvez decidisse se aposentar, poderia abrir um restaurante um algum lugar tranqüilo. Depois de sorrir de forma encabulada para ele, observou as carroças e notou que ele devia estar se preparando para partir.

Em uma situação normal, iria agir apenas tarde da noite. Poderia facilmente alcançar o comerciante e entregar o recado a ele direta ou indiretamente. Mas considerando que tinha um shinobi o vigiando, teria de ser um pouco mais direta e muito mais discreta. Levou a panela cheia de sabão até a torneira, e enquanto a enxaguava, mordeu o dedo causando um pequeno sangramento e espalmou a mão no chão, executando um jutsu de invocação. Uma serpente de tamanho normal surgiu diante dela.

Esse tinha sido o pequeno presente que ele tinha lhe dado. Um contrato para invocar serpentes. E aquela serpente em especial era o espião que ela tinha de entregar na aldeia. Este mesmo espião deveria entregar o recado ao comerciante. Abriu um compartimento de sua pulseira e retirou um pequeno envelope lá de dentro. Retirou uma embalagem plástica em forma de cilindro de seu cinto e após enrolar o papel cuidadosamente, o colocou dentro deste. Depois o colocou diante da serpente que o engoliu.

Ela esticou o braço para ela e esta se enrolou neste, subindo até o seu pescoço e ficando com a cabeça atrás de sua nuca. Sem dizer nada ela ficou ereta e observou a janela novamente. A serpente se esgueirou por entre seus cabelos desde a nuca – para ficar imperceptível do lado de fora – e sibilou para indicar que podia ver o mesmo que ela.

- É aquela carroça – murmurou ela - a pessoa de camisa amarela.

A serpente sibilou novamente e se enrolou ao redor de seu peito até chegar a sua perna e de lá para o chão. Seguiu para a porta e após um momento observando ao redor, saiu da cozinha. Ela voltou a lavar as panelas e uma vez ou outra observava o movimento fora da janela. Cumprimentava um ou outro conhecido – outro habito que tinha definido em sua estadia ali. Seria fácil observar as coisas pela janela cumprimentando as pessoas que passavam diante desta – enquanto que pela periferia dos olhos ficava atenta a carroça. Já sentia Ataru entrar de volta no escritório. Para sua tranqüilidade, quando a carroça começou a se mover ela notou algo se enrolando nos aros da roda e desaparecendo dentro desta. Sua missão estava cumprida.

Quando terminou de lavar todas as panelas, se permitiu descansar um pouco. O ninja que tinha ficado em cima do armazém ainda estava ali. Decerto iria seguir Ataru quando este terminasse seu trabalho. O outro que estava mais distante acabou seguindo a carroça que tinha partido. Pelo jeito, seu tempo de estada ali ainda poderia render algumas informações. Ainda mais que podia usar aquele jutsu de invocação para invocar outra serpente e esta entregar uma mensagem ao doutor. Mas não tinha motivo algum para fazer isso agora. O risco de fazer isso antes era justificado. Agora podia esperar uma ocasião mais propicia para isso. De qualquer forma iria ainda ficar por ali mais três semanas, apenas para garantir não levantar nenhuma suspeita caso o espião do doutor fosse descoberto.

 

-x-

 

Dois, quatro – suas mãos se moviam rapidamente, seus dedos concentravam chakra e atingiam com perfeição os locais pré-determinados – oito – já sentia uma certa dor nas juntas dos dedos. Não praticava muito fazer aquilo, apesar de ser uma das especialidades do clã – dezesseis – sentiu um estalo nos dedos e parou com o treino.

Ainda estava usando muita força nos golpes. Iria acabar quebrando seus dedos daquele jeito. Olhou para eles e viu as juntas destes arroxeadas e percebeu o quanto estavam dormentes. Tinha os próximos dois dias livre para fazer o que bem quisesse, e decidiu praticar o jutsu de seu clã, no qual era ainda uma lastima.

Afastou-se do boneco que representava um ninja inimigo e colocou as mãos nos bolsos. Não queria que alguém visse o estado de seus dedos e o aconselha-se a ser mais paciente no treino. Não precisava disto. Na verdade nem queria treinar, mas passar o tempo enquanto tentava tomar coragem para decidir o que fazer.

Estava com saudades de Haruka, tinha de admitir. O jantar com ela acabou sendo muito mais satisfatório do que ambos imaginavam. Primeiro a levou para comer ramen, e apesar de achar que no Ichiraku não ser o melhor restaurante para um encontro, ela adorou o fato de sua parceira poder ficar junto deles. E a mesma até mostrou o quanto gostava dele, ficando no seu colo o tempo todo em que ficaram ali. Só que depois, enquanto andavam pela aldeia, passaram pelo restaurante que tinha musica para aqueles que gostavam de dançar e ela sentiu vontade de uma dança, mas não tinha fome naquele hora. E só quem jantava ali podia ir para a pista de dança.

Ainda queria saber o que tinha dado na sua cabeça para dar aquela sugestão. E ela acabou adorando. Usaram sua habilidade ninja para andar em superfícies e ficaram na parede do lado de fora do restaurante, dançando ali. E até que tinha sido um bom treino. Pelo menos, até ela se empolgar e pular no seu colo lhe dando um beijo.

Parou de andar e respirou fundo. Ainda ficava corado quando se lembrava. Ele perdeu totalmente a concentração e os dois despencaram direto para uma moita do lado do restaurante. Até ai seria apenas cômico, não fosse o detalhe de que não se machucaram porque seu sensei e a companhia deste apararam os dois, evitando que atingissem o chão.

Só que... agora ele ficava imaginando... o que aqueles dois estariam fazendo na moita? E ainda por cima a sugestão da companhia de seu sensei.. de trocaram de lugar. Eles na parede e ele e Haruka na moita, que tinha o tamanho certo para os dois...

Tamanho certo...

Riu levemente e recomeçou a andar. talvez devesse convidar a Haruka para irem ao festival que ia ocorrer em uma aldeia vizinha. Muitas pessoas de Konoha estavam se preparando para ir, alguns shinobis já estavam até pedindo para a hokage não dar missões demoradas de forma a não perderem a oportunidade. No caso dele, ele pertencia a um time iniciante, dificilmente teria alguma liberdade para pedir tal coisa, mas poderia tentar falar com o seu sensei a respeito.

Tirou as mãos dos bolsos e viu que seus dedos já estavam com uma melhor aparência. Que bom que não tinha forçado muito. Ainda não conseguia deixar o golpe fluir naturalmente, ficava insistindo em forçar o impacto.

Cumprimentou alguns do clã que ele via enquanto andava e otmou ao menos uma decisão. Iria falar com o seu sensei. Seguiu pelas ruas da aldeia sem muita pressa até a casa dele, e quanto bateu na porta, lembrou-se de um pequeno detalhe...

- Oi Ringo-kun!

O detalhe era que Haruka morava na mesma casa de seu sensei...

- O-oi Haruka-chan... – murmurou ele – Kiba-sensei está?

- Ele saiu – ela o olhou e começou a dar um sorriso de moleca. Olhou para dentro da casa e se moveu lentamente para fora, encostando a porta. Depois foi até o ouvido dele e começou a murmurar de forma muito baixa – por acaso veio me convidar para sairmos de novo?

Sentiu um calor subir por sua garganta. Ela queria que ele a convidasse? Bem...

- Haruka-chan? Quem está na porta? – ouviu uma voz de mulher gritar de dentro da casa.

- Você sabe muito bem quem é, Tsume – retrucou ela com a voz normal – diferente do Kiba eu não esqueço que sempre apura seus ouvidos para saber o que acontece por aqui.

Ouviu uma gargalhada da mulher como resposta, e mais nada depois disto.

- Não ligue para ela. A propósito, Ringo-kun... – olhou para ele pensativa – que tal jantar aqui qualquer dia?

- J-jantar?

- Sua timidez é uma graça – ela começou a fazer desenhos circulares com seu dedo no ombro dele – mas gosto de pessoas decididas. Ainda tenho uma queda pelo Minato-kun, mas aquele nosso passeio me mostrou que você também é interessante...

- Eu... eu...

- Se demorar muito para responder a Tsume vai vir aqui e te agarrar pelo pescoço – ela colocou as mãos na cintura agindo como se estivesse ofendida – uma linda moça como eu não devia precisar dar tantas indiretas...

- Com toda certeza! – ouviu a voz de Tsume gritar de dentro da casa de novo.

- Hã... – afinal de contas, porque sempre que estava com Haruka sentia que ela colocava uma coleira invisível nele? Ela sabia que ele ficava sem ação perto dela, que tinha uma certa timidez quando as coisas pareciam escapar de seu controle. Então porque...

Que idiota! Era justamente por isso. devia imaginar que alguém como ela que cresceu sendo uma aprontadora de pegadinhas com todo mundo – especialmente com os ANBUs - seria alguém bem decidida e com grande capacidade de se aproveitar das fraquezas dos outros. E ele apenas queria falar com o seu sensei para saber se haveria possibilidade de estarem livres no próximo mês para levar Haruka ao festival que iria ocorrer em uma aldeia próxima...

- Gostaria de ir comigo ao festival que vai...

- Claro que aceito! – disse ela o abraçando e o beijando forte na boca – pensei que teria de ir sozinha!

- O que? – olhou assustado para ela.

- Eu disse que aceito ir contigo no festival. Mas tenho primeiro que saber se vai dar para irmos. E você também!

Ele a convidou sem perceber? Nossa! Foi a mesma coisa com o jantar. Estava começando a achar que tinha dupla personalidade. Sempre que ficava se concentrando demais em pensamentos parecia que seu corpo agia por conta própria, nem ao menos tendo a decência de lhe comunicar o que fazia. Claro que não podia realmente reclamar disto, ainda mais seu corpo conseguindo um encontro com esta jovem kunoichi adolescente, que muito provavelmente iria se tornar uma bela kunoichi adulta.

Parou de pensar em tudo quando ela o agarrou novamente e desta vez forçou sua língua no beijo. Sem perceber ele correspondeu a ação dela e ficou desesperadamente tentando determinar o que tinha feito agora. Porem não conseguia nem imaginar o que poderia ser. Sentiu ela parar de beijá-lo e se afastar um pouco, mas ficando próxima a seu rosto e com um belo sorriso nos lábios.

- Ringo-kun – ela murmurou para ele – você sabe mesmo como elogiar uma menina... cuidado para não aceitar convites de nenhuma outra moça, ou vou ficar com ciúmes...

- Eu... eu...

Ela tocou o dedo nos seus lábios para que ele ficasse quieto e olhou na direção da porta fechada, talvez imaginando que Tsume devia estar próxima. Ele por sua vez estava em pânico! O que ele tinha dito que a deixou tão feliz assim? Que idiota! Precisava se lembrar o que era. Devia ter sem perceber descoberto as a palavras, a tonalidade, a exaltação e o momento correto para conseguir derreter o coração de qualquer bela menina que existisse.

Claro, ele simplesmente podia ter dito que ela estava bonita com aqueles shorts e a camiseta curta, ou até que estava bela...

- Apenas responda minha pergunta... gostaria de jantar qualquer dia aqui?

- Claro! – disse ele sem nenhum ressentimento e de maneira tranqüila. E desta vez estava plenamente consciente do que estava fazendo, apesar de sentir seu coração pulsar de forma incrivelmente rápida – eu não tenho o que fazer até depois de amanhã. Gostaria de apenas passear hoje?

- Hoje não vai dar...  – ela olhou por sobre o seu ombro e ele instintivamente olhou para trás. Viu Shiromaru cruzar correndo o quintal e passando por entre suas pernas, saltar direto para o colo de Haruka.

- E então Shiromaru? Você conseguiu?

Ela latiu duas vezes, e depois começou a lamber o rosto dela.

- Sabia que você conseguia – ela a colocou sobre a cabeça e fez um pouco de carinho na nuca dela – desculpe, Ringo-kun, eu estou praticando para Shiromaru entender o que eu quero. Pedi para ela levar uma coisa para Ayame-chan. Depois vou ver se ela recebeu direito.  Mas como eu dizia, hoje não vai dar. Vai vir uns membros do clã aqui hoje falar sobre algumas coisas... – ele abaixou a voz e parecia um pouco nervosa – e acho que eu vou ser um dos assuntos...

- Está preocupada?

- Claro que estou! – respondeu ela em tom diferente, mas ainda em voz baixa – depois do que houve naquela missão falsa, quer dizer, na missão simulada, Tsume disse que queria me adotar, porque agi como uma verdadeira Inuzuka. Mas... eu não sei... ela disse que não vai me forçar, mas já me considera como filha. E isso acabou se espalhando para as orelhas dos outros e... bom, eles vão vir aqui. Eu tenho tanto medo de começarem a ter expectativas sobre mim...

Não era bem sua especialidade, mas ele sabia muito bem o que era se sentir abaixo das expectativas de um clã.

- Não sei se posso te ajudar nisso, mas sei como se sente, acredite em mim. E diferente de você, eu não tenho a opção de falar que não nasci com o sangue da família. Quase sempre imagino que estou muito abaixo do mínimo aceitável em habilidades que esperam de mim. Mas também não acredito que você, uma bela kunoichi que tem tanta segurança de si mesma esteja preocupada em atender expectativas que talvez nem existam...

Viu ela ficar corada e arregalou os olhos. Ela ficou acanhada com o que ele disse?

- Desculpe – disse ele abaixando os olhos – não queria...

Ela toucou o dedo novamente nos seus lábios, o fazendo ficar quieto de novo.

- Ringo-kun, se continuar agindo assim, vai acabar me pedindo em namoro e vou acabar aceitando... – ele ficou vermelho na hora em que ela falou aquilo – mas não quero esse tipo de compromisso agora. Se eu morasse sozinha talvez até pensasse nisso, mas agora tenho essa dúvida toda na minha cabeça. Não me sinto uma Inuzuka, mas eu sinto que quero agradar a Tsume por tudo o que ela me fez, me entregando Shiromaru e até me cedendo moradia a troco de nada, apenas que eu me dedicasse a praticar com a minha parceira. Mas te prometo uma coisa... – olhou para ele diretamente nos olhos – quando eu não tiver mais esta duvida, você será o primeiro a saber.

Não entendeu bem o que ela quis dizer, mas sorriu de volta para ela. E o calor de seu rosto diminuiu o bastante para que ele não se sentisse mais acanhado.

- Como eu disse, hoje não vai dar, mas vamos fazer o seguinte... amanhã durante o dia vamos treinar um pouco de taijutsu juntos e saímos a noite, o que acha?

- Por mim, tudo bem...

- Então até amanhã – ela beijou-lhe novamente se despedindo, e ao mesmo tempo, sentiu que Shiromaru em sua cabeça lhe lambeu a testa, como se o beijasse também – desculpe mas daqui a pouco vou treinar com Tsume. É quase religioso para ela que eu treine pelo menos a cada dois dias quando estou em casa. Pelo menos até ficar bem definido quais jutsus eu posso fazer ou não.

Viu ela entrar na casa e começou a andar lentamente pelo quintal sentindo que havia um sorriso idiota no rosto. Apesar de tudo, acabou conseguindo o que queria, ou talvez um pouco mais. E quando não ficou muito tempo pensando no que fazer, até que conseguiu falar com ela de forma tranqüila.

E ainda conseguiu uma colega para praticar no dia seguinte.

Depois de mais dez passos, ele parou de andar e ficou preocupado. Praticar? Considerando como era Haruka na academia ela ia dar o máximo de si para se testar contra ele. Pelo jeito ia ter de aprender na marra a atingir os pontos de chakra sem quebrar os dedos ou iria acabar no hospital.


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Notas finais do capítulo

Queria aproveitar e agradecer as indicações que esta fic (e as outras) recebeu. Como não há email ou aviso a respeito, só as percebi quando olhei na pagina e vi o aviso de que tinha indicações. Obrigado novamente! Ajuda um pouco o ego ter essas considerações, pois indica que a fic está agradando.

Também notei outra coisa, logo a fic vai fazer dois meses de publicação e tem uma média de dois capitulos (e meio) publicados por semana. E acreditem, um dos motivos é vocês incentivando com reviews e indicações. Uma outra fic minha com 80 capitulos demorou quase 6 anos para terminar... nunca pensei que eu manteria um ritmo destes. Espero conseguir isso até o final.



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