Sonho Renascido escrita por Janus


Capítulo 23
Capítulo 23




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Ela já tinha sido criança, e sabia que crianças fazem das suas. Também já tinha sido adolescente e sabia que eram até piores que crianças, ainda mais adolescentes ninjas. Primeiro ficou preocupada quando seu namorado tinha enviado um bunshin para pedir que fosse até o hospital examinar sua aluna e o aluno de Kiba. Pelo jeito os dois andaram levando um simples treino além da conta e se machucaram. Até ai nada de anormal, o estranho foi ele pedir a ela que fosse fazer o exame. Imaginou que talvez fosse porque a aluna em questão deveria ser Ayame.

Mas não, era Haruka. Achou estranho aquilo, porque teria chamado a ela para isso? haviam outros médicos competentes no hospital, e Haruka não tinha nada excepcional para ser mantido em sigilo, ao menos que fosse de seu conhecimento. Quando chegou no hospital, o clone de seu namorado desapareceu pouco depois de lhe dar um beijo de despedida e explicar o porque de não estar na aldeia. Ele estava avaliando Minato sobre como ele fazia aqueles clones mais resistentes no campo de treinamento. Acabou sabendo sobre Haruka por um clone da mesma, que disse que teria de ficar em observação no hospital por alguns dias. Isso o deixou preocupado o bastante para a chamar.

Ficar em observação por dias indicava lesões sérias, porém recuperáveis. Na recepção procurou pela ficha de entrada dela e logo viu quem devia ser o aluno de Kiba, o novo gennin do clã Hyuuga. Mas mesmo que ele tivesse atingido os sessenta e quatro pontos de chakra principais de Haruka, isso não justificava ela ficar em observação. Não havia mais dados na ficha, exceto que ambos estavam fora de perigo. Ficando um pouco nervosa por talvez seu namorado estar super protetor demais com os seus alunos, andou até a quarto onde ambos estavam e entrou ali sem muita cerimônia. Viu Haruka com uma tipóia no braço esquerdo e Ringo estava com vários pequenos ferimentos no rosto e no corpo. Aquilo tinha sido um treino ou um vale tudo?

- Moegi-sama! – disse Ringo quando a viu – o-o que está fazendo aqui?:

- Sou uma ninja médica – disse ela o olhando torto – o que acha que estou fazendo aqui?

Olhou ao redor da sala como se procurasse alguma coisa, e logo a viu deitada embaixo da cortina da janela. Shiromaru não ia se separar da parceira mesmo no hospital.

- Shiromaru – chamou ela batendo palmas – vem cá...

A ninken correu escorregando um pouco no piso encerado e logo estava no colo de Moegi, demonstrando estar bem feliz de vê-la.

- Me diga, Shiromaru, como Haruka está?

A cadela subitamente parou de se agitar e olhou para a parceira, soltando alguns ganidos de choro em seguida. Nada como perguntar ao parceiro de um Inuzuka como estava o companheiro. Eles não mentiam ou diminuíam as coisas. Claro que Haruka não era uma Inuzuka, mas tirando o fato de não ter o nome de família, ninguém – nem a própria Haruka - podia negar que sua relação com a parceira a deixava praticamente inclusa neste clã.

Deixando a cadela no chão, aproximou-se de Haruka e tocou o seu ombro levemente. Ela suprimiu um grito de dor, e Moegi percebeu como estava inchado. Tocou no ombro com a palma da mão e se concentrando, deixou o seu chakra fluir para determinar o estado dela. Haruka ficou em silencio todo o tempo, e até mesmo um pouco emburrada, como se não gostasse nem um pouco de ser tratada como uma coitada.

Logo percebeu que seu namorado tinha razão em ficar preocupado. Mas o que Ringo tinha feito no ombro dela? Havia uma grande lesão no músculo ao redor de um dos pontos de chakra do corpo que ficava naquela posição. Na verdade, até mesmo o osso estava levemente lesado.

- Que tal me dizer o que aconteceu? – pediu para Haruka enquanto movia sua mão para o braço dela.

- Já fui tratada! – retrucou ela um pouco irritada – porque vai me tratar de novo?

- Porque seu sensei me pediu – disse de forma séria – além disso, se não for educada, posso te deixar afastada de atividades ninja por tempo indeterminado.

- O que?! – ela se afastou e a olhou assustada – não pode fazer isso!

- Então me diga o que houve. Parece que foi atingida por uma haste de metal ou uma lança sem ponta.

Ela olhou para Ringo e depois para baixo. Parecia estar temerosa de contar a história.

- Eu acertei ela no ombro – disse Ringo – acho que usei muita força nos dedos...

- Você acha? – olhou para ele séria – se atingisse o coração dela desta forma ela poderia ter tido uma parada cardíaca.

Ele a olhou assustado. Pelo jeito não tinha percebido o que realmente fez.

- Na verdade, para a atingir assim, você deve ter quebrado os dedos...

- E quebrei – disse ele mostrando a mão engessada – nós estávamos só praticando um pouco de taijutsu, mas... não foi apenas uma simples prática...

Olhou para Haruka e esta virou o rosto para não a encarar.

- Eu queria um treino para valer, oras. Qual o problema disto? Está bem – ela suspirou – a gente se empolgou e a luta ficou muito séria. Fiquei surrando ele e reclamando que estava se segurando e de repente ele começou a me acertar os dedos em toda parte...

- Juukenhou Hakke – disse Moegi voltando a examinar a garota.

- É esse o nome dessa técnica? – perguntou ela.

- Sim, mas tem variações. Depende de quantos pontos são atingidos.

- Bom, ele me acertou um monte com os dedos e quando chegou no ombro eu voei longe, e ouvi um estalo forte...

- Foram meus dedos – cortou Ringo olhando para o chão.

- É.. depois disto viemos ao hospital.

Olhou para ela e para Ringo em seguida. Estava acreditando que ou Ringo não estava pedindo orientação aos mais experientes de seu clã, ou estes estavam menosprezando o treinamento dele. A explicação mais aceitável para o que houve seria ele acabar criando uma pequena bolsa de vácuo quando fosse atingir os pontos de chakra de Haruka, e este feito é devastador a curta distancia. Ele estava usando chakra demais no estilo do punho suave do clã. Até pode ser eficiente contra um oponente, mas sem aprimoramento, ia se machucar também, como acabou acontecendo.

- Não vou criticá-los por se deixarem levar – terminou de examinar Haruka e começou avaliar Ringo – eu mesma já me empolguei muitas vezes a acabei no hospital ou mandei colegas para cá. Mas a diferença neste caso é a gravidade. Ringo... esse golpe se fosse mais forte teria atravessado o ombro dela...

Ele ficou branco quando ouviu isso, e logicamente ficou temeroso.

- Acho que você está desenvolvendo por instinto uma habilidade que Hinata-san e Neji-san possuem. A capacidade de criar uma bolsa de vácuo e projetar isso para o oponente. Mas se não o fizer da forma correta, vai acabar se machucando ou até mesmo destruir suas mãos. Você também precisa ficar mais controlado enquanto usa o taijutsu típico de seu clã. Ele não é chamado de palma suave a toa... na verdade, se não o fizer desta forma, você fica ferido e esgota seu chakra. Claro que irá acabar com o seu oponente, mas não irá ajudar se ficar inválido por isso.

- S-sim, Moegi-sama...

- Pare de achar que estou lhe dando um sermão, é um conselho – ela tocou no seu rosto e sorriu para ele.

- E-eu sei, mas é que.. eu tenho receio de fracassar...

- Fracassar? – olhou para ele e sorriu mais ainda – Ringo, você tem um diferencial dos outros de seu clã, use isto a seu favor. Não fique tentando ser como eles, seja você mesmo. Acho que esse acidente foi devido a você tentar forçar usar o golpe padrão da palma suave, não foi? Bem, talvez você não possa fazer isso. Não é um crime ou uma falha. Você é apenas um pouco diferente. Ou talvez esteja acreditando que a força bruta acabe resolvendo. Não sou especialista nesse taijutsu, mas garanto que Neji-san vai sem dúvida ajudá-lo, se você pedir e explicar direito o que está acontecendo.

Ele abaixou a cabeça e ficou pensativo, talvez ponderando nas palavras dela.

- Meus pais esperam muito de mim – recomeçou ele com a voz mais baixa – sou um Hyuuga, e sempre me falaram que tenho obrigações para cumprir, que tenho de honrar o nome que carrego.

- Isso até pode ser verdade – ela começou a tratar alguns de suas luxações. Haruka batia forte quando queria – mas é você quem decide como honrar o nome que carrega. Além disso, não é porque se nasce ave que é preciso voar. De qualquer forma, acho que você está se auto impondo um tipo de treinamento que não lhe é adequado. Não duvido que seria capaz de encarar qualquer um, mas sobreviver a luta faz parte, sabia?

Olhou em seus olhos, e pelo menos desta vez ele não parecia estar envergonhado.

- Se empenhe em descobrir o que esta fazendo de errado. É só o que posso lhe aconselhar. Tive problemas também para dominar o taijutsu de minha mestra, e a causa era por eu achar que tinha de ser feito de uma forma e estar completamente errada. De uma certa forma, minha capacidade de dar golpes incrivelmente fortes é similar a palma suave de seu clã. Não é força física que eu uso, mas uma explosão de chakra no momento certo. O que você fez com Haruka pode ter sido quase isso, uma minúscula explosão de chakra partindo de seus dedos, embora eu acredite mais que deva ser parecido com a bolsa de vácuo de Hinata-san.

Ele ficou em silencio quando ela terminou de tratá-lo. Pensou em fazer o mesmo com Haruka, mas apesar de ser uma lesão dolorida, não era grave. Ficaria uns dias com o ombro doendo, e até que seria bom ela já ir se acostumando com isso, considerando quem era seu sensei e que seu time era – no momento - basicamente especialista em lutas corporais. Deu uma ultima olhada nela e saiu da sala se despedindo, deixando-os sozinhos. Considerando como Haruka olhou para Ringo quando ele contou sobre ter medo de fracassar, sentiu que ela iria tentar falar com ele, mas não com Moegi presente.

Nunca imaginou que quando se tornou uma ninja medica sob a tutela de Sakura também teria de ser psicóloga de vez em quando, embora isso fosse mais uma atribuição de sensei. Seus gennins – hoje chuunins – mostraram isso para ela.

Saiu do hospital e ficou pensando no que fazer agora. Normalmente estaria junto a sua mestra para auxiliá-la, mas pelos próximos dias não haveria muito o que fazer exceto dimensionar as novas solicitações que chegavam aos seus cuidados. As coisas estavam muito tranqüilas para a aldeia ultimamente, sem grandes missões difíceis ou problemáticas. Claro, sua missão com seu time que levou várias semanas estava fora dessa classificação de “tranqüilidade”. De qualquer forma, sem ter um rumo definido para ir, acabou decidindo ir para o prédio da hokage. Pelo menos faria companhia para Shizune, e quem sabe teria um copo de saquê de presente no fim do dia?

Quando chegou lá viu um ANBU saindo do escritório e ao adentrar a sala sua mestra estava lendo uma carta a qual tinha acabado de romper o selo. Era um selo da ANBU. Pelo jeito, alguma coisa estava acontecendo. Não querendo interrompê-la, ficou afastada dela e com os braços cruzados encostada na parede. Viu-a abaixar o papel e com uma careta olhou para a frente, e logo em seguida olhou para ela quando a notou ali.

- Mestra?

- Vou ter uma missão em breve para você e seu time, Moegi-chan – disse ela em um tom de voz de preocupação.

- Qual missão?

- Bom, primeiro devo lhe por a par de alguns detalhes. Lembra-se da missão que Konohamaru-kun fez antes de se tornar sensei?

- Sim, mas não conheço os detalhes. Sei apenas que era capturar uma assassina perigosa.

- Exato. Ela foi resgatada da prisão e recebemos o encargo do senhor feudal de recapturá-la. Um time de ANBUs foi enviado a aldeia da Areia para obter alguma informação sobre o passado dela, uma vez que ela foi gennin de lá por um tempo, antes de ser declarada nukenin. De acordo com os dados que obtiveram entrevistando dois de seus antigos companheiros, identificaram alguns locais em que pode ser interessante investigar. Mas estes locais ficam no país do Trovão. Enviarei uma mensagem para a aldeia da Nuvem informando que você irá até o país deles tentar obter alguma pista que nos ajude a determinar o paradeiro dela.

- Quando terei de partir?

Ela olhou para Shizune e ainda permanecia com o olhar preocupado. Parecia que tinha mais alguma coisa além de investigar alguns locais em uma terra estrangeira.

- Até o raikage dar uma resposta ao meu pedido, deve demorar cerca de dois dias. Você não vai partir até termos esta resposta.

Olhou-a curiosa. Não estava entendendo essa questão de pedido. Já tinha ido ao pais do Trovão antes executar uma missão e tinha partido até antes da mensagem informando sua presença ali ter sido enviada. Eles apenas destacaram um time deles para vigiar o seu enquanto cumpria com a missão. Não interferiram em nada, apenas deixaram claro que estavam presentes e próximos.

Olhou para Shizune e esta também parecia preocupada. Pelo jeito aquele seu mal hábito de ler as cartas por sobre a cabeça de sua mestra ainda era mantido.

- Algo a preocupa, mestra?

Ela a encarou com o semblante inexpressivo. Aquele rosto já lhe dava a resposta. Ela estava preocupada com alguma coisa sim.

- Um dos locais que você irá investigar será a própria aldeia da Nuvem. Pessoalmente não acredito que alguma informação seja obtida, mas temos que examinar todas as pistas possíveis. Desde que ela escapou da prisão,. Aparentemente não tentou fazer nada no nosso país. Não que isso seja estranho, Konohamaru-kun a deixou quase morta, e mesmo que sobrevivesse, dificilmente poderia andar novamente, pelo menos foi o prognóstico dos médicos do senhor feudal.

- A senhora mesma já fez milagres antes – disse para ela lembrando-se das várias horas em que auxiliou sua mestra no tratamento de Anko. Aquilo tinha sido uma incrível demonstração das habilidades que ela possuía, de como reparou a coluna vertebral da kunoichi dias depois de lesionada, permitindo que pudesse andar novamente. Pelo que ela tinha aprendido, não deveria ser possível, dada a necessidade de precisão na operação nos delicados nervos. Mas sua mestra o fez.

- Eu sei disso – tornou ela ainda mantendo-se séria – por isso acredito que quem a resgatou, talvez tivesse meios de curá-la ao menos parcialmente. Ainda estamos tentando identificar seus possíveis contatos, mas sabemos que pelo menos um deles está na aldeia da Nuvem.

- Agora entendo – disse ela olhando para o alto – o raikage não vai gostar de admitir que alguém da aldeia dele era o contato de uma assassina agindo no nosso país.

- É por isso que prefiro aguardar a resposta de meu pedido. As grandes nações estão em relativa paz desde a quarta guerra, apesar de algumas trocas de acusações referentes aos bijuus desaparecidos. Avise o seu time que vocês partirão em breve. Basicamente será uma missão classe C pela dificuldade esperada, mas pode se tornar facilmente de classe S, portanto quero que tome extrema cautela.

- Sim, mestra, tomarei.

- Ótimo. Tire esse tempo enquanto aguarda para descansar. A viagem até a aldeia da Nuvem será longa.

Ela agradeceu e saiu do escritório. Pelo menos conseguiu ficar quase duas semanas relaxando entre uma missão e outra. Seus chuunins já deviam estar sentindo coceira por ação, se os conhecia bem. E também já imaginava que iriam ficar um tanto decepcionados por terem agora uma missão que, não fosse pela delicadeza envolvida, seria entregue a um time de gennins, pois era basicamente o equivalente a entregar ou receber documentos importantes.

 

-x-

 

Seu braço estava bem melhor, sem dúvida. Ainda não devia forçar muito, mas o treino que estava tendo com Miyoko não era assim puxado o suficiente para isso. Era mais para manterem a forma e para ela exercitar uma coisa ou outra que tinha aprendido com o irmão.

Afastou a cabeça escapando por pouco de sua perna. Aquilo também era uma forma dela descarregar a frustração. Desde que tinha ido contar vantagem para as integrantes femininas do time seis, acabou ficando furiosa. Eles não só descobriram que era tudo uma simulação como também impediram que a hokage fosse seqüestrada inicialmente. E para piorar descobriu que Ayame podia fazer dezenas de clones. Miyoko estava mesmo irritada por isso.

Sentiu uma dor maior no braço quando bloqueou seu cotovelo. Ela estava se soltando mais, talvez percebendo que ele agüentava. Não era como suas briguinhas de antes, quando ela destratava a hokage e ele movido pela raiva batia nela. Ela estava nervosa mesmo!

- Quer quebrar meu braço de novo? – disse ele dando um pulo para trás.

Ela parou de atacar e olhou para o vazio enquanto respirava mais fortemente. Se deixou cair sentada no chão e olhou para cima, os lábios semi-abertos mostrando seus dentes tencionados.

- Desculpe, Umito-kun... – disse ela fechando os olhos – estou com raiva de meu irmão. Disse que não vai interferir no treinamento de nossa sensei me ensinando raiton.

- Desenvolver jutsus com seu elemento de chakra é demorado – ele estendeu a mão para ela que a pegou, usando-a para se erguer – não há como ele lhe ensinar algo tão rápido.

- Eu sei, mas queria já poder ir praticando. Ayame e Haruka me superam em tudo! Eu não aceito isso. E ainda tem aquele fofo do Minato-kun no time delas... Que saudades da academia...lá eu era a melhor, estava na frente de todos.

- Está com falta daquele orgulho?

Ela o olhou feio e o mesmo se preparou para se defender, mas pelo visto ela estava mesmo muito chateada para briguinhas. Apenas cruzou os braços e bufou desistindo. Olhou para a direita, na direção onde sua sensei estava sentada embaixo de uma arvore comendo um dangô lentamente e pareceu pensativa.

- Anko-sensei já disse que não vai começar a me treinar nisso até completarmos algumas missões de classificação C. E onde está o Outa-kun?

- Esqueceu que ele disse que ia treinar com a madrasta hoje? – olhou para ela com os olhos abertos.

- Nem prestei atenção – respondeu ficando levemente corada – vamos recomeçar? Prometo me controlar mais desta vez.

- Antes quero falar uma coisa com a sensei.

Já fazia dias que ele estava adiando aquela conversa. Desde que a discípula da mulher que ele idolatrava tinha lhe aplicado uns testes e ficou claro que ele não tinha a habilidade natural para o controle de chakra necessário para aprender as habilidades da antiga senin das lesmas, que estava reticente de falar com sua sensei sobre a outra possibilidade que tinha.

Talvez ele não pudesse ser discípulo da senin das lesmas – apesar de que a própria hokage não aceitava que alguém a chamasse de senin, haviam alguns como ele que a consideravam desta forma – mas ainda podia seguir os passos para atingir o seu sonho. Tinha comentado isso com seu pai e este ficou muito preocupado com a idéia. Ser discípulo de Konohamaru – que também não era um senin e pelo que soube foi por esforço próprio que aprendeu algumas das habilidades de seu ídolo – estava fora de questão, e a própria Miyoko tinha dito que Ayame já estava no pé dele para ser discípula do mesmo. Assim só restava uma opção: Anko. Mas seu pai temia que ser discípulo dela e aprender as habilidades originais de Orochimaru podia não ser aconselhável. A lembrança de Orochimaru ainda causava receio nas pessoas da aldeia. Ele nada tinha contra ela, mas todos a consideravam estranha, e mesmo sua maneira de agir lembrava um pouco seu antigo sensei.

Além disso, havia outro detalhe... talvez ela não gostasse de saber que ele queria ser discípulo dela simplesmente porque não podia ser discípulo dos outros. E ela também nunca demonstrou interesse em ter um aluno nesse sentido. Além disso, ela era assustadora as vezes.

- Então é melhor falar logo antes que ela tire o seu cochilo, e você sabe como ela fica quando a interrompemos.

E como ele sabia. Era melhor encará-la logo. Mas já estava achando que ia se tornar um shinobi comum, provavelmente manuseando o katon como a maioria dos outros.

Andou até sua sensei com Miyoko o acompanhando logo atrás. Ela devia estar curiosa sobre o que ele queria lhe falar. Parou em frente a ela e aguardou que terminasse de apreciar o gosto da bola de dangô que tinha na boca.

- Deve ser um assunto especial para esperar eu engolir meu delicioso doce – murmurou ela de olhos fechados e com sorriso incipiente no rosto – mas se é para pedir por Miyoko-chan para eu treiná-la em raiton, esqueça. Ela não está pronta para isso ainda.

- Nada disso, na verdade é outra coisa... a senhora...

- Senhora?! – abriu os olhos e olhou feio para ele – já não falamos sobre isso? A menos que eu tenha cabelos brancos ou seja casada, nada de me chamar assim!

- Mas você tem uns fios brancos do lado da orelha... – disse Miyoko apontando o dedo, e logo em seguida ela se agarrou nas suas costas para escapar do espeto de dangô que voou na sua direção – desculpa!

- Hã... – olhou para ela que estava uma fera com sua colega – bem, como eu dizia...

- Miyoko-chan, não abuse da sorte, ou eu já te escalo para fazer o exame chuunin agora mesmo e farei de tudo para ser sua avaliadora!

Sentiu ela tremer ainda agarrada nas suas costas. A maioria dos shinobis atuais comentava de como ela era cruel na época em que cuidava destes exames.

- D-desculpa, sensei – disse ela arreganhando os dentes – mas você tem fios de cabelo brancos sim! Não adianta fingir que não.

Ela mostrou os dentes e quando parecia que ia rosnar, apenas suspirou e recostou-se na arvore novamente.

- Tem razão – sua voz estava um pouco melancólica – estou ficando mesmo velha. Velha demais para muitas coisas. Mas não para dar uma surra em vocês dois! – olhou para eles e fechou um dos olhos e mostrando a língua, como se fosse uma adolescente. Até que era interessante esse seu jeito – agora que tal aproveitar que ainda estão vivos e me dizer o que quer?

- Bem.. eu... – não esperava que estivesse com aquele humor, como ia pedir isso a ela? – a senh... quer dizer, já teve algum interesse em ter um discípulo, sensei?

Ela o olhou abrindo um olho a mais que o outro, como se não estivesse acreditando no que tinha ouvido. Miyoko que estava atrás dele tomou coragem de sair da proteção de suas costas – ou talvez tenha ficado curiosa sobre o que ele estava pretendendo.

- Já passou pela minha cabeça uma vez ou outra – ela colocou as mãos na cabeça e se recostou de novo na árvore fechando os olhos em seguida. Parecia estar se preparando para tirar um cochilo – mas você sabe quem foi meu mestre, e ele não é bem visto na aldeia, nem por muita gente. Assim não é de se estranhar que ninguém se interessou por isso, mesmo sabendo que não sou como ele e que fiquei contra o mesmo. Porque pergunta?

- Bem... desde que vi a hokage-sama em ação uma vez, antes dela ser hokage, soube que ela era discípula de uma senin. E fiquei alimentando o sonho de me tornar um senin também. Pelo menos, de tentar ser um.

- Vai me dizer que pretende trocar de sensei com a atual princesa lesma? Ela já tem uma aluna, e não acho que tenha tempo de cuidar de mais um.

- Não, sensei, eu... queria saber se me aceitaria como discípulo...

A maneira como ela abriu os olhos assustada e o encarou o fez dar um passo para trás involuntariamente, chegando mesmo a pisar no pé de Miyoko quando fez isso. Mas ela não reclamou, provavelmente por estar assustada também.

- Você? – olhou para ele ainda incrédula – meu discípulo? Pensei que idolatrasse a Sakura-chan, e quisesse ser discípulo dela.

- Na verdade, quando me interessei em ser um senin, disse ao meu pai e ele... bom, ele riu da minha cara. Afinal eu era o filho de um comerciante de cereais e frutas, como podia sonhar em ser senin? De qualquer forma ele disse que primeiro eu devia ir para a academia, e ele e minha mãe ficaram surpresos quando me aceitaram...

- Direto ao assunto – cortou ela começando a ficar nervosa.

- Bom, não tenho o necessário para aprender suas habilidades – disse ele abaixando a cabeça – sempre a considerei como uma heroína, e lógico que queria ser seu aluno. Mas mesmo que consiga isto, não terei como aprender o que ela pode me ensinar.

Ela voltou a ficar mais calma e fechou os olhos.

- Então, sou sua ultima opção, certo? Porque o Konohamaru já tem seus alunos para ensinar, e apesar dele ter aprendido alguma coisa com Naruto, ele nunca foi realmente seu aprendiz.

- Não vou negar isso – ele já estava se conformando – na academia eu já soube da dificuldade que seria me tornar aluno da hokage, e me decidi então que se não pudesse ser com ela, seria contigo. Mas se mesmo assim não quiser, eu tentarei aprender por conta própria.

Ela se levantou devagar, espreguiçando-se um pouco e o olhou diretamente nos olhos, naquela expressão dela que parecia transmitir safadeza ou que estava prestes a aprontar alguma coisa.

- Se não quiser ensinar ele, pode me ensinar? – disse Miyoko de repente, mas ainda se mantinha atrás das costas dele - Não vou deixar Ayame debochar de mim se ela se tornar aprendiz de girinos!

Ela nada disse, mas deu um passo para ficar do lado deles.

- Posso ter três alunos, mas apenas um aprendiz – disse em voz pausada – Miyoko-chan, se tudo o que quer é superar sua amiga, não irá aprender da forma correta. Na verdade irá aprender muito pouco, é por isso que acho que ainda não está pronta para aprender a usar raiton. Foi por causa de uma impaciência assim que Sasuke abandonou a aldeia e foi atrás de meu antigo sensei.

Percebeu que Miyoko tremeu um pouco. Todos já tinham ouvido sobre Sasuke e do que ele tinha feito, inclusive alguns achavam que tinha sido ele o responsável direto pela morte de Naruto na quarta guerra.

- Me desculpe, Anko-sensei.

- Quanto a Umito-kun – ela o olhou sorrindo levemente – bom, quer mesmo ser meu discípulo?

Ele olhou-a determinado. Era o seu sonho poder aprender as técnicas de um senin. Preferia que pudesse ser com a hokage, mas já que não era possível, não tinha nenhum arrependimento se pudesse ser com Anko.

- Sim, Anko-sensei, eu quero.

Ele arregalou os olhos quando ela agarrou sua cabeça e lhe beijou na boca. Aquilo foi um sim? Depois disto passou o braço ao redor de seu pescoço e ficou desmanchando o seu cabelo.

- Muito bem, rapazinho, acaba de arrumar uma mestra... e a primeira coisa que vai ter de aprender será o de perder o medo de cobras!

Pelo jeito foi um sim mesmo. Ela era mesmo estranha... será que ele ia ficar assim também? Sentiu que sua vida talvez fosse tomar um rumo interessante.

No fim do dia, ele chegou em casa cansado e com alguns ferimentos um pouco inesperados para um dia de treino. Sua mãe estava terminando de fazer o jantar e ele aproveitou para tomar um banho. Além de aprender as coisas que um gennin aprendia,  sua sensei também iria lhe dar um treinamento extra referente as habilidades que ela conhecia. Ainda achava impressionante nunca ter percebido que ela queria um discípulo. Mas isso ficou evidente durante o dia, conforme ela começou a treiná-lo para aumentar a flexibilidade de seu corpo. Iria demorar vários meses para ele perceber alguma diferença nisso, mas para perceber o efeito que isto teria no fim do dia tinha sido imediato! Quase todos os seus músculos doloridos. Sentia que iria gritar de dor quando estes relaxassem e precisasse movê-los no dia seguinte.

Mas já ai estava o treinamento. Ele devia sempre deixar seus músculos relaxados, para evitar que enrijecessem.

Após se secar e vestir uma nova roupa, chegou a mesa de jantar e a comida já estava posta na mesa. Ele estava mesmo com fome daquela vez. Seu pai já estava ali se servindo, e o cumprimentou assim que ele se sentou.

- Boa noite, pai – cumprimentou de volta – pensei que ia sair hoje.

- Seu tio vai aproveitar e trazer os mantimentos que eu pedi – respondeu ele – assim não vou precisar sair este mês – ele riu – mais um mês na excitante profissão de vender as necessárias porções de comida para manter nossa aldeia funcionando. E seu dia, como foi?

- Eu... bom... falei com Anko-sensei...

A cara dele se fechou quando ouviu aquilo. Ele não aprovava tal coisa, mas sabia que era mais um sentimento de repulsa que sentia por Orochimaru.

- Vai ser mesmo discípulo dela?

- Eu já sou seu aluno, pai, e o senhor não ficou preocupado com isso.

- Aluno de uma jounin é uma coisa, mas ser discípulo dela é outra. Sei que não é justo, e que ela não é como o mestre dela, mas tenho péssimas lembranças dele e do que ele fez com muitas pessoas. Algumas eram amigos de meu pai. Soube até que ele fez experiências com bebês antes de fugir daqui.

- Pai, não vou e nem pretendo ser discípulo de Orochimaru.

- Eu sei disso – ele deixou os hashi no prato e cruzou os braços olhando para ele – apenas entenda que eu não vou ser o único a me sentir assim. Os outros mais velhos que ainda se lembram dele vão ter essa aversão. Enfim, se é o que deseja, não direi mais nada. Apenas quero deixar claro minha opinião a respeito.

- O senhor já a deixou desde o primeiro dia quando eu disse que queria ser aluno de um dos senin.

- É, eu sei... – ele pegou os hashi novamente e levou um bocado de arroz a boca – mas no fundo estou orgulhoso de você, e também com muito medo. O que decidiu fazer na vida envolve muitos perigos. Só não morra antes de me arrumar um neto, e se possível, não antes de mim – olhou para ele sorrindo – filhos devem enterrar os pais, não o contrário.

- Vou tentar pai – disse ele pegando sua comida – quando o tio volta?

- Acho que em mais dois dias. Espero que ele relaxe um pouco nessa viagem, nas ultimas semanas ele tem ficado distraído, errando nas contas e na pesagem dos produtos. Acho que andou aprontando de novo e tem medo de alguém ir atrás dele para assumir alguma paternidade.

Ambos riram daquilo. Seu tio era um mulherengo conhecido, e tinha o hábito de dar em cima das muito jovens que eram mais fáceis de se encantar. Já tinha arrumado muitos problemas por ser assim, mas parecia que tinha tomado juízo há alguns anos.

Estavam na metade do prato quando sua mãe chegou para se juntar a eles. E ela era a prova de que não era apenas seu tio que gostava das mais jovens. Sua mãe tinha metade da idade de seu pai, e ele nunca negou que gostava de moças. Mas quando se casou com ela, ela própria disse que ele sossegou, e que esperava que o irmão dele fizesse o mesmo. Conversaram sobre o mesmo assunto de antes, e sua mãe também ficou reticente de sua decisão. Deixaram claro que não era por ser Anko a sua sensei naquilo, mas por ser as técnicas de Orochimaru. Pelo jeito, ele teria uma certa provação a frente. Mas já tinha se decidido. Ele iria tentar ser o novo senin das cobras. Ou ao menos chegar ao nível de sua sensei. 

Quando estavam quase terminando o jantar, sua mãe sugeriu em tom de brincadeira que uma vez que ele podia se mover rápido pelas arvores, podia ir se encontrar com seu tio e pedir a ele para comprar alguns tecidos finos, pois ela queria fazer um novo kimono. Mas seu pai disse que ele já devia estar voltando do armazém, e se tivesse de fazer um desvio no trajeto, acabaria deixando algumas das mercadorias que trazia se estragarem.

Ele ajudou a mãe a lavar os pratos e as panelas – e já sentia as dores em seus músculos pelo treino do dia. Pelo menos nenhum dos dois perguntou sobre alguns dos seus ferimentos leves. Já estavam acostumados com ele retornar para casa daquele jeito algumas vezes.

Acabou indo dormir cedo. Ficou um bom tempo deitado na cama pensando sobre sua decisão esperando o sono chegar. Sabia que as pessoas ainda lembravam com rancor de Orochimaru, mas sabia também que seu pai e mãe estavam evitando tocar no assunto principal. Não era Orochimaru o problema, muito menos Anko, mas sim Kabuto! Ele era o sucessor do lado perverso que ele demonstrou quando traiu a aldeia. Anko era vista como quando ele era antes disto. Eram dois lados de uma mesma moeda, sabia disto e não havia como negar. Mas ele duvidava que eram as técnicas dele que lhe davam um ar perverso. E até que estava excitado de um dia aprender aquelas técnicas. Talvez um dia ele conseguisse desfazer a má lembrança que ele deixou na maioria das pessoas.

Talvez...


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