Sonho Renascido escrita por Janus


Capítulo 12
Capítulo 12




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Ringo caiu de joelhos ofegante no chão e olhava para seu oponente. Durante toda aquela manhã tentara o possível para atingi-lo, e foi bloqueado todas as vezes. E ele nem mesmo usou o Hakkeshou Kaiten.

- Você está mais preocupado em acertar do que em planejar como fazer isso – disse ele mantendo o rosto inexpressivo – nem precisei usar o byakugan para conter seus golpes.

- Perdoe-me, Neji-sama – disse o rapaz abaixando a cabeça envergonhado – irei me esforçar mais.

Sentiu um pequeno tapa na cabeça e ao olhá-lo novamente ele sorria para ele.

- É só um treino, treinos servem para praticar e aprender. Não o estou recriminando. Acabou de se tornar gennin, e já capturou um javali. Jamais alguém do nosso clã fez isso durante a avaliação do sensei.

Ele sorriu um pouco em retribuição e tentou se levantar.

- Kiba-sensei o matou, não fomos nós.

- Mas se quiser um conselho – ele o olhou estreitando os olhos – da próxima vez cave um buraco com estacas e o camufle. Depois tente direcionar o javali o local. Vai notar que é mais fácil assim.

Ficou olhando-o sentindo-se um idiota. Realmente era uma forma mais fácil de fazer aquilo do que tinham tentado, a de pular em cima dele.

- O-obrigado, Neji-sama. E agradeço pela oportunidade de treinar com o senhor.

- Concentre-se em usar mais os seus dons. Ele são muito úteis quando bem empregados. Não usamos força bruta, lembre-se disto.

- Sim senhor!

Ficou mais empertigado ainda ao ver quem tinha acabado de entrar no jardim. Seus joelhos tremeram inclusive. Tinha crescido naquele clã sendo bombardeado com historias de responsabilidades e tradição pela mãe e pelo pai. Chegava mesmo a sentir pânico quando cruzava com alguém mais importante da família e este o cumprimentava, de forma que temia dizer alguma coisa errada. Eram muito rígidos com os jovens, apesar de ouvir comentários que a atual líder tinha feito ações para reduzir aquilo, bem como diminuir o orgulho que os Hyuuga sentiam em relação as outras pessoas. Um orgulho que beirava a arrogância.

- Hinata-sama – disse ele se empertigando – b-bom dia!

- Já está assustando os jovens, Neji-san, logo cedo?

- Só praticávamos um pouco – respondeu ele sorrindo – o rapaz tem potencial, só precisa se manter mais calmo.

Olhava para ambos e sentia suar. Não era qualquer um do clã que estava ali, mas os que eram considerados os mais graduados. Neji por sua habilidade excepcional e Hinata por ser líder e também ser uma reconhecida jounin, apesar de já fazer muito tempo que não atuava em missões.

- Entendo o que quer dizer – ela sorria o olhando – relaxe, Ringo-kun, se ficar mais rígido vai acabar se quebrando.

- Sim senhora, senhorita... Hinata-sama!

Ela fechou a cara e fez uma careta. E ele percebeu isso, sabendo que tinha feito o oposto do que ela pediu. Mas como podia relaxar? Era a líder do clã, irmã mais velha da fantástica Hanabi, outra jounin do clã que atualmente só fazia missões classe “S”.

- Eu disse para relaxar – ela colocou as duas mãos sobre seus ombros e ele quase teve um infarto – respire fundo, feche os olhos.

Não conseguia fazer aquilo. Já tinha ficado apavorado quando Neji o tinha chamado para um treino amigável, sendo que agindo por impulso e para mostrar que era um Hyuuga valoroso, tinha posto tudo de si naquele treino. Seus braços e mãos doíam, seu corpo mal tinha forças para se manter em pé, se relaxasse iria simplesmente desabar. O que ia fazer agora? Iria causar vergonha para seu pai, que ficou satisfeito – pela primeira vez o viu sorrir por causa de algo que conquistara – quando disse que seu sensei o aprovara como gennin.

- Relaxa garoto! – gritou Neji o fazendo praticamente cair sentado no chão.

- Malvado! – disse Hinata para ele.

- Funcionou, não foi? – ele sorria, praticamente tentando segurar uma risada.

- Ringo-kun, não fique assim só porque estamos aqui. Somos uma família, temos tradições e um código de conduta, mas você não é um soldado aqui, é um gennin da aldeia da Folha. Agora pare de tentar ser um futuro adulto chato como Neji-san e sorria um pouco.

- Adulto chato? – Neji fez uma careta para ela – você me acha chato?

- Você é muito formal, mesmo quando está relaxado é formal. Me chame de Hinata-chan para provar que estou errada.

- Eu... – olhou para ela com os olhos abertos – claro, Hinata-sama... chan!

Ficou vermelho em seguida, olhando para baixo. Por sua vez Ringo achou constrangedor presenciar a cena. Achava que ele iria descontar a frustração nele.

A cena poderia ficar mais interessante, ou piorar de vez dependendo do ponto de vista, mas felizmente para Ringo – e provavelmente para Neji também – um jounin Hyuuga que estava de folga naquele dia dentro dos domínios do clã adentrou o jardim e aproximou-se de Hinata, cochichando no seu ouvido.

- Claro que pode deixá-lo entrar – disse ela com um sorriso que ele não conseguia acreditar - Nossa, é a primeira vez que ele me visita.

Sentiu a emoção na voz dela. Quem seria? Algum futuro pretendente de origem soberba tentando conquistar o coração daquela poderosa kunoichi? Só podia ser. Ela não era uma simples Hyuuga, era a líder do clã e era solteira ainda. Haviam comentários abafados que ouvia às vezes sobre aquela condição, de que ela não era capaz de esquecer um antigo amor da adolescência, e por isso sempre ficava sozinha se concentrando em missões e mais tarde em cuidar do clã quando assumiu esta posição. Seu pai que a auxiliava dando conselhos não admitia que a interpelassem sobre este assunto, deixando o resto do clã muito curioso sobre o que podia realmente estar ocorrendo. Estaria ela já casada secretamente com alguém que talvez o clã não aprovasse? Ou seria ela estéril e não podia ter filhos? Os boatos que tinha ouvido enquanto crescia iam do absurdo ao assustador, passando muitas vezes pelo ridículo.

Poucos minutos depois o visitante chegava, e sua surpresa foi tão grande que quase chegou a babar de tanto que sua boca ficou aberta. Esperava um shinobi imponente, ou talvez algum poderoso representante de outro clã. Não um gennin – sabia disto pela sua aparência jovem e a bandana na testa – entrando ali sorridente e indo na direção dela. Uma olhada rápida em Neji e viu que este cruzou os braços e sorria também. Mas quem era aquele desconhecido que tinha tão boa recepção por aqueles dois? Tinha certeza de que já o tinha visto na academia.

- Oi Minato-kun – disse ela o abraçando.

Abraçando? Abraçando um gennin comum? Ele estava vendo direito? Talvez tenha sido um idiota de endeusar pessoas e sempre se manter afastado destas por medo. Agora que as via como seres humanos suas convicções estavam virando lama.

- Bom dia, Hinata-mama.

Agora sim o tempo parou. Viu ele articulando palavras mas não ouvia sons, viu Hinata respondendo, mas também não havia nenhum som. Tudo parecia se mover em câmera lenta – mama? – ou talvez ele estivesse caindo em um abismo sem fim. Era isso! devia ter morrido durante o treino, talvez por ter feito alguma demonstração de como era inútil e tudo o que se passou depois fora uma alucinação de sua mente que tentava protegê-lo do inevitável, que estava na verdade morto – ele disse mama?! – sua respiração devia ter finalmente parado, seus músculos deviam estar relaxando – Hinata-mama?? – em resposta a falta de comandos de sua mente. Sentia também sua visão ficar nublada, provavelmente conseqüência de seu coração ter parado alguns minutos atrás – ele a chamou de Hinata-mama? – e agora devia estar caindo no abismo sem fim, um justo castigo para o que quer que tenha feito. Ainda com a mente turva pela provável morte que tinha sofrido, percebeu Neji movendo os lábios em sua direção. Devia o estar amaldiçoando por ser tão fraco, por ser uma vergonha para o clã e...

- Você está bem, Ringo-san?

- Hã?

- Ringo-kun? – agora era Hinata se voltando para ele – você está pálido.

Certo, não estava morto, tinha delirado mesmo. Devia estar mais exausto do que tinha pensado. O esgotamento do treino mais todo o seu nervosismo de antes pregou peça em sua mente. Sim, era isso mesmo.

- Estou bem, Hinata-sama – disse ele com a fala entrecortada – só cansado.

Ela o olhou com um olho mais aberto que o outro, como se estivesse tentando perceber alguma mentira, e fez sua cara mais convincente possível de que falava a verdade. Com sua mãe funcionava, tomara que funcionasse com ela também.

- Vou acreditar em você – ela piscou o olhou – Bem Minato-kun, vejo que está usando a roupa que lhe dei.

Ela deu aquela roupa para ele? Mas quem era esse sujeito para ter recebido aquele presente?

- Sim, Hinata-mama – ele disse de novo! Impossível! - Sou um gennin! Eu consegui! Desculpe não ter vindo antes, mas foi só nos formarmos e no dia seguinte o sensei já apareceu e...

- Calma rapaz – disse ela sorrindo – sei que deve ter acontecido muita coisa ao mesmo tempo, e sei bem como é a primeira vez com o sensei – ela fechou os olhos sorrindo levemente – eu lembro como tinha sido comigo. O nervosismo, os colegas desconhecidos, o medo de ser reprovada... Como foi com os seus colegas de time? Já fez amizade com eles?

- Olha – ele falava de uma forma tão impessoal para com ela, e até Neji parecia tranqüilo com isso... – não foi preciso. São as minhas amigas do orfanato.

- O terror mirim virou um time ninja? - exclamou Neji com os olhos arregalados – Iruka-sensei caducou finalmente.

Terror mirim? Já tinha ouvido essa expressão antes. Lembrava de uns comentários pelos corredores das casas do clã, sempre acompanhados de risadas. Mas nunca prestou muita atenção, achando ser alguma brincadeira.

- Pelo menos você sabe fazer algumas piadas – disse Hinata o olhando divertida.

- Foi um descuido – disse ele empertigado – segundo a líder do clã Hyuuga, eu sou muito sério para isso.

Suas convicções não estavam na lama não, tinham virado cinzas e agora eram varridas para baixo do tapete.

- Gracinha – ela riu um pouco – e quem é o seu sensei?

- Konohamaru-san, quer dizer, Konohamaru-sensei.

- Sensei perfeito para eles – comentou Neji novamente – o que aprenderam com ele? Uma novíssima versão do jutsu erótico?

Jutsu erótico? Não era aquele jutsu que as meninas da academia faziam para pregar peças nos meninos?

- A hokage nos proibiu de fazer isso – ele parecia um pouco sentido com aquilo.

- Preciso lembrar de dar um beijo nela – Neji sorriu novamente.

- Já aplicaram com você, não foi? – Hinata o olhava com os olhos demonstrando safadeza.

- Já tive o prazer de encarar isso, não nego. Mas me diga, Minato-kun, ele usou os guizos com vocês?

Neji-sama chamou aquele garoto de Minato-kun? Kun?!

- Não, foi proteger uma bandeira. Ele também nos ensinou o jutsu clone das sombras. E eu sou quem consegue fazer mais deles.

- Apropriado – disse ele movendo a cabeça levemente. Hinata por sua vez parecia que tinha recebido um presente muito lindo pela forma como ficou. Podia jurar que ela estava a ponto de chorar de felicidade. Mas o que era jutsu clone das sombras?

- Estou orgulhosa de você, Minato-kun – ainda bem que ele estava sentado, pois se não estivesse iria desabar no chão quando ela o beijou na testa – já comemorou? - ela tinha cruzado os braços agora, e por algum motivo obscuro, imaginava que ela talvez o convidasse para fazer alguma comemoração. Um ninguém, um mero garoto ninja, como era possível isso? - o Ringo-kun aqui também se formou gennin – ela o olhou de forma simpática – talvez possamos sair para jantar esta noite em comemoração. Afinal, você tem duas amigas que também precisam comemorar, uma delas pode ser par para ele. Ayame e Haruka, certo? Ainda me lembro delas.

O que quer que estivesse virando o mundo dele de cabeça par baixo, podia continuar a vontade agora. Uma comemoração e um possível encontro com Haruka ou Ayame? Duas das quatro lindas meninas da academia? E ainda possível graças a um convite da líder do clã? Agora desejava cair de vez naquele abismo, não importava se fosse delírio, uma total mudança de realidade ou um simples sonho.

- Desculpe Hinata-mama – desculpe? É brincadeira! – mas hoje a noite vou sair com a Ayame-chan para dançar.

O sonho virou pesadelo. Quem era que estava brincando com ele afinal? Qual o deus das profundezas abissais estava se divertindo o deixando insano?

- Dançar? – ela quase fez uma careta e demonstrou uma preocupação que ele estranhou e muito – você e Ayame... estão saindo?

Neji também a olhava preocupado. Qual era o problema em ele sair com Ayame? Desde que pelo menos a Haruka ficasse disponível, ele não reclamava.

- Bem... – ele moveu o pé de um lodo para o outro – acabei saindo com a Haruka-chan ontem e... – isso era totalmente injusto! Porque tinha um time só de garotos e ele tinha duas meninas? E ainda por cima estava saindo com ambas? – Ayame quer que eu saia com ela hoje para ficar tudo igual.

- Está namorando as duas?  - disse Neji com os olhos arregalados.

- Claro que não! Não estamos namorando, ontem só acompanhamos o Kiba no encontro dele. E para não deixar Ayame irritada vou sair com ela hoje...

- Kiba-kun teve um encontro? Que maravilha – disse ela batendo palmas. Estavam falando do Kiba-sensei? Que piada! Ele tinha um byakugan e não tinha a menor idéia do que acontecia ao seu redor - tudo bem, Minato-kun, podemos comemorar outro dia – ela fazia carinho em sua cabeça.

Mais e mais ficava curioso sobre quem era aquele garoto. Estava mesmo se lembrando dele da academia, mas não estavam na mesma classe. Lembrava-se mais porque estava quase sempre junto de Haruka e Ayame, as duas moças que ele as vezes observava a distancia com o seu byakugan. Mas nunca imaginou que a líder do clã o conhecia e tinha tal tipo de relacionamento intimo com ele. E ele a chamava de Hinata-mama? Ele era filho dela? Não... não podia ser. Devia ser uma forma carinhosa de chamá-la, embora não conseguisse imaginar como aquela forma poderia ter ocorrido.

- Desculpe, Hinata-mama. Depois da minha primeira missão eu te compro um sorvete!

Ela riu divertida e fez mais carinho na cabeça dele. Um mero sorvete para ela? Precisava descobrir mais sobre ele, e rápido. Não tanto por esta relação com a Hinata, mas para poder se aproximar de uma daquelas duas lindas. Hum.. se tinha acompanhado seu sensei em um encontro este devia saber algo sobre ele e elas. Iria perguntar amanhã para ele. Afinal iriam na sua primeira missão também amanhã.

- Eu vou cobrar! – disse ela fazendo cara feia.

Ele se despediu dela com um outro abraço carinhoso e saiu do jardim. Hinata o observou com um sorriso e após alguns momentos falou de forma casual para Neji.

- Neji-san, quando foi a ultima vez que você saiu para dançar?

- Acho que faz mais de uma década... - respondeu ele intrigado.

- Comigo também – e se virou para ele – que tal sairmos hoje a noite para dançar um pouco? Relaxar, descontrair...

Ele dobrou a cabeça e apertou os olhos.

- Isso não tem nada a ver com Minato-kun ir dançar hoje, certo?

- Claro que não! – mas nem ele ficou convencido disso, quanto mais Neji – só para curtirmos um pouco, afinal, tanto eu como você andamos muito sozinhos estes últimos anos.

Ele virou na sua direção e pareceu que ficou um pouco preocupado. Será que tinha ouvido coisas que não devia? Era melhor sair educadamente antes de que realmente soubesse de algo que era melhor não...

- Pode me chamar do que quiser, mas quero ver o que esses dois vão fazer hoje. Você vai me levar para dançar, Neji... kun!

- Sim .. senhora – disse ele.

Ela saiu do jardim e Neji o observava atentamente.

- Ringo-san...

- Não ouvi nada, juro, e se ouvi, tratarei de esquecer devidamente e imediatamente de forma perfeita.

Ele espalmou a mão no rosto e murmurou alguma coisa que não foi capaz de entender.

- Quem era aquele sujeito, Neji-sama?

- Um órfão. Hinata-sama participou algumas vezes de um programa que eles têm para acompanhar um órfão por um dia. Minato-kun acabou ficando apegado a ela por causa disso. Ela sempre agiu como mãe para ele, por isso tem essa forma carinhosa de tratá-la. Não é nada muito excepcional.

- E como mãe ela esta querendo vê-lo em seu encontro com a amiga?

- Ringo!

- Desculpa! – ele arreganhou os dentes e fechou os olhos, aguardando uma reprimenda.

- Estamos perto do almoço, vá almoçar, passear com seus amigos, se divertir...

- Sim senhor!

- Não é uma ordem!

- Eu.. quer dizer.. sim...

- Apenas seja você mesmo. E não comente sobre isso com ninguém. Vai ser meio estranho para mim dizer que fui intimado a sair com Hinata-sama para dançar.

- E como vai explicar isso? O senhor vai ser visto lá.

- Eu... vou dizer que a convidei. Só isso.

Ele também saiu do jardim, e Ringo pensou que aquilo seria mais estranho do que dizer que ela o intimou para passearem. Mas se ele queria assim...

 

-x-

 

Olhava-se no seu pequeno espelho de mão, movendo-o para poder verificar como estava assentada a roupa no seu corpo – sua primeira providencia quando tivesse dinheiro o bastante seria comprar um espelho bem grande. Uma saia bem curta mas firme de forma que podia se mover a vontade sem o risco dela levantar, sapatos de salto baixo emborrachado, uma de suas meias ninja para dar um charme especial nas pernas e uma pequena jaqueta aberta cobrindo sua camiseta branca também curta. Que ótimo que a noite prometia ser agradável, nem fria ou quente.

- Não está muito arrumada para uma simples saída para dançar?

Agora tinha certeza que tinha acertado na escolha de roupas. Olhou de lado para Haruka e fez um bico para ela, quase a debochando. Ela teve a sua chance com o loiro, agora ia ser a sua vez. Mais do que deixar o Minato-kun sem jeito, ela queria que ele tentasse alguma coisa a mais, apenas para poder educadamente recusar. Claro que dependendo do que ele fizesse, podia até pensar no assunto. De qualquer forma ela já tinha uma certeza. Se ficasse bem satisfeita com a noite, ele ganharia um belo beijo, bem melhor do que Haruka lhe disse que tinha dado nele.

- Não tenho a menor idéia de quando terei uma chance para me divertir sem preocupações, quero aproveitar ao máximo! Você devia ter feito isso ontem.

Ela apenas lhe mostrou a língua e sentou-se emburrada na cama dela, voltando-se a se concentrar na revista que estava lendo antes. Agora era só esperar seu acompanhante chegar para poder sair.

Seguiu até o banheiro para escovar bem o seu cabelo e deixá-lo liso e perfeito. Queria que este balançasse bastante enquanto se movia. Apesar de ser raro haver músicas rápidas onde iam dançar – os únicos dois locais da aldeia em que se podia dançar era em um restaurante grande que tinha alguns músicos para alegrar os clientes ou na praça onde raramente ocorria alguma comemoração. E com certeza seria no restaurante. A outra opção seria sair da aldeia e viajar por algumas horas até chegar na aldeia mais próxima. Algo inviável para o momento, mesmo porque precisariam de passes para sair da aldeia para isso. O bom de ser no restaurante era que assim podiam aproveitar e jantar também, e não estariam fazendo companhia a nenhum outro casal, seriam só eles. Tinha pensado nesses detalhes na véspera, quando tinha proposto o acordo.

Seus cabelos estavam quase perfeitos quando bateram na porta. Ele era pontual! Preferiu deixar a amiga abrir a porta enquanto terminava sua sessão de narcisismo pessoal.

Coisa que ela não fez. Ouviu batidas na porta por três vezes ainda antes de com raiva sair do banheiro e ver a amiga lendo a revista sem nem se incomodar em atender.

- Não ouviu baterem na porta?

- É seu encontro – ela sorriu de forma perversa – portanto é sua responsabilidade.

Batendo o pé na laje conforme andava, ela abriu a porta e perdeu subitamente a expressão de irritação no rosto. Seu acompanhante estava uma graça com a mesma jaqueta que tinha usado para pegar Haruka na véspera mas com a calça que ela mesma tinha lhe dado de presente alguns meses atrás. Pelo jeito ele quis agradá-la, e com isso já tinha garantido um selinho de cumprimento.

Afastou-se dele e observou ele ficar intrigado e levemente vermelho com o beijo que tinha dado. Que gracinha que ele ficava encabulado.

- Boa noite, Ayame-chan – disse ele por pouco não gaguejando – boa noite, Haruka-chan.

- Boa noite, Minato-kun, pega logo sua princesa e suma com ela daqui! – disse ela demonstrando irritação.

Ayame mostrou a língua para ela e saiu com Minato o puxando pela mão escadas abaixo. Ao chegarem na rua ela riu levemente. Só ver a raiva no rosto de Haruka já tinha valido a pena se produzir tanto.

- O que houve com Haruka-chan? – perguntou ele a olhando.

- O que acha? – ela girou o corpo se exibindo para ele – Inveja, lógico.

- Você está bonita, Ayame-chan...

Seu rosto indicava que ele estava mesmo apreciando-a, e seus olhos delatavam onde estava focando a visão para falar aquilo. Seu corpo, seus atrativos para os homens. E longe de se sentir ultrajada, sentiu seu rosto esquentar. Estava mesmo gostando de ser vista por ele com olhos mais malandros, e não os olhos de um irmão com o qual cresceu e tinha uma relação muito grande e íntima.

- Obrigada, Minato-kun – disse com a voz mais macia do que gostaria, e corou levemente – vai ficar ai babando ou me levar para algum lugar?

- Babando? – ele ficou mais vermelho que ela – Ayame-chan...

- Sou uma garota Minato-kun – ela o cortou rapidamente – gosto que me achem bonita. Mas você está com um olhar que está achando mais do que isso.

Ele ficou totalmente vermelho agora, e ela sentiu pena dele. Mas não queria sair para deixá-lo envergonhando o acanhado perto dela. Alias, acanhado era o que ela não queria mesmo que ele ficasse. Só se sentia satisfeita quando sua companhia se divertia tanto quanto ela.

- Desculpe – disse ela o abraçando – não queria te fazer se sentir envergonhado. Vamos indo.

Ela o pegou na mão e o puxou inicialmente, e depois foram andando com um casal pelas ruas indo para o restaurante. Reparou em como muitos dos adultos os olhavam. Algumas senhoras sorriam, ao passo que certos homens olhavam para ela com indisfarçável indicativo de seus desejos. Aquele famoso acompanhar uma mulher bonita com os olhos enquanto ela passava andando. De qualquer forma não tinha do que reclamar. Em um aldeia onde ninjas pipocavam, nenhum deles seria idiota de se engraçar de forma errada para com uma mulher ou adolescente bonita andando mesmo que desacompanhada. Ainda mais uma que estava com uma bandana presa na coxa, e ainda por cima com um acompanhante que também tinha uma bandana na testa. Só tinha achado ruim que teve de por a bandana mais baixo na perna, para não ser coberta pela saia.

Ao chegarem no local, ela deixou sua bolsa em uma mesa – apenas os clientes podiam dançar no pequeno salão, o que ”infelizmente” os obrigava a jantar ali também – para marcar seu lugar e não quis perder tempo. A música que estavam tocando era lenta e haviam uns poucos casais dançando. Ela queria aproveitar aquela musica com ele. Uma bela desculpa para dançarem juntinhos.

E logo ela sorria sentindo-se realmente satisfeita. As mãos dele pareciam bem quentes no seu quadril, e o bom de uma dança lenta era que se podia conversar um pouco, coisa que ela gostava.

- Arrumou tudo na sua casa? – começou ela puxando assunto.

- Nem tudo. Não sei onde guardar o equipamento ninja, deixei tudo na mochila mesmo.

- Fizemos a mesma coisa. Acho que vou perguntar ao sensei o que ele faz com os dele.

Deu um pequeno grito de susto – na verdade foi um murmúrio – quando ele a girou rápido acompanhando a harmonia da musica. Ficou impressionada com aquilo. Mas com quem que ele andou praticando?

- Está me surpreendendo – disse ela sem conter um sorriso – esta me conduzindo, não acompanhando. Já fez isso antes muitas vezes – e estreitou os olhos – com quem?

- Com Miyoko-chan – disse ele e a mesma quase mordeu a língua para se controlar. A Miyoko e Minato andaram saindo? E ela nunca soube a respeito? Quem essa antiga amiga pensava que era para invadir o seu território?

Pensando bem... ela tinha decidido para si mesma que não queria romances, porque estava se incomodando com isso?

- Você aprendeu bem...

- No ano passado saímos por quase três meses para dançar. Ela adora isso mesmo - disse ele casualmente.

Miyoko estava entrando em uma lista de possíveis oponentes a serem cruelmente torturadas. Balançou a cabeça e sorriu. No ano passado não tinha esse tipo de interesse nele. E mesmo agora tinha que admitir que era mais um desejo de adolescente. Mas se ela ousasse voltar a se aproximar dele nesse sentido ia ver uma coisa.

Achou melhor mudar de assunto, e rápido. Não queria perguntar o que ele e Miyoko andaram fazendo além de dançar, e estava ali para se divertir. Começou a conversar sobre a expectativa para o dia seguinte, sobre a primeira missão que provavelmente seria algo banal como talvez cuidar de um jardim, lavar animais, talvez até procurar animais perdidos... e rezavam para que a hokage não os mandasse pintar uma casa achando que eram especialistas nisto devido ao numero de vezes que fizeram isso no prédio da ANBU. A musica já tinha se alterado duas vezes mas matinha o ritmo lento, e ela sentia a fome começar a cutucar seu estômago.

Abaixou a cabeça e a grudou no ombro dele enquanto dançavam. Estava mesmo satisfeita. Alguém ia ganhar um belo beijo de despedida. Agora era murmurar levemente no seu ouvido dizendo que estava com fome para ele educadamente a levar para a mesa e...

Sentiu um arrepio em seu corpo inteiro. Ele... ele tinha dado um beijo em sua orelha! Que ousado! Sentiu sua a respiração se acelerar e apesar de se conter, não conseguiu evitar de fazer suas mãos se apertarem mais firmemente no corpo dele, o que muito provavelmente foi a causa de um segundo beijo mais demorado e claramente com toque de língua na mesma orelha.

Ela queria que ele fizesse alguma coisa para educadamente falar para parar. Mas isso que ele tinha feito... a tinha deixado com calor e uma vontade muito grande de retribuir. Afastou a cabeça de seu ombro e o encarou de frente com a boca levemente aberta. Seus olhos fixavam-se nos seus, e ele estava claramente temeroso. Esse é o problema quando se reprimem sentimentos, eles podem escapar quando menos se espera. Ela queria lhe dar um beijo de agradecimento. Chegou mesmo a começar a se aproximar dele devagar, tanto que ambos tinham parado de dançar. Infelizmente seu treinamento ninja lhe deu capacidade de perceber coisas na periferia dos olhos que seriam cruciais para exercer suas atribuições, e algo que ela percebeu quando se aproximou dele foi dois Hyuugas olhando na direção deles.

- Hinata-sama? – murmurou ela parando de se aproximar e virando o rosto.

Minato fez o mesmo e murmurou o esperado Hinata-mama. Conhecia ela das vezes em que apareceu no orfanato – e de tanta coisa que Minato falava sobre ela – mas não a esperava encontrar ali, e ainda mais acompanhada. Pelo jeito ela veio dançar também com um namorado – a menos que tenha se casado desde a ultima vez que a viu – ou amigo e os percebeu ali.

Sentiu-se encabulada agora, sem vontade de continuar o que queria. Aproximou-se do ouvido dele e disse que estava com fome. Ele assentiu e começaram a andar para a mesa em que tinha deixado sua bolsa, mas para sua surpresa, ouviu o que não esperava.

- Minato-kun! – era a vez dela.

- Hinata-mama! – respondeu ele e ambos se abraçaram.

Um abraço bem carinhoso na verdade. Ela estava mesmo contente de vê-lo, e fazia por merecer o tratamento de mama da parte dele.  

Mas esperava francamente que ela não agisse como mamãe ali. Sair para passear com alguém com a mãe do lado não era assim o mais desejado dos programas. Provavelmente iam apenas conversar um pouco, e ela não poderia fazer a desfeita de se afastar ou parecer chateada com aquilo.

- Não sabia que vinha aqui hoje – tinha comentado Minato.

- Bom, você me deu a idéia quando me visitou hoje – idéia? Ela veio ali porque Minato lhe disse o que ia fazer? – e senti vontade de dançar um pouco também – ela olhou para o seu acompanhante e este sorriu levemente – Neji-kun, aquela é Ayame-chan, amiga de Minato-kun. Ayame-chan, Minato-kun me disse que vocês passaram no teste do sensei, parabéns!

- Obrigada – disse ela com um sorriso falso que sentia que ia rachar seu rosto. Ela não podia ter ido até ali só para ver o que o Minato estava fazendo, não podia! – prazer em conhecê-lo, Neji-sama.

- Igualmente, Ayame-san – disse ele de forma cordial.

Hinata começou a conversar com Minato e a comentar como ele dançava bem, o que lhe indicou que ela os observava já fazia um tempo. Um tempo? Será que ela viu quando ele beijou sua orelha? Será que estava pensando que eram namorados? Que ele estava a fim dela? Que ela tinha interesse velado nele? Que...

Pulou de susto ao sentir um toque no seu ombro. Era Neji que se moveu até as suas costas sem que percebesse. Ele se aproximou e murmurou no seu ouvido.

- Sei que está chateada de ter sido interrompida. Nem eu ou Hinata-sama queríamos atrapalhá-los, mas quando ela viu você se aproximando do rosto dele, não conseguiu se controlar. Minato-kun é quase como um filho para ela.

- N-não estamos namorando – murmurou ela para ele.

- Mas têm uma relação muito íntima – ele sorriu – não se preocupe, vou convencê-la a ir embora logo. Mas vai ter um preço...

- Qual preço?

- Quando formos, termine o que tinha começado antes de ser interrompida.

Olhou para ele e este sorria de forma displicente. Tinha gostado dele.

- Prometo! – disse ela sorrindo também.

Logo em seguida ele se aproximou de Hinata e cochichou algo em seu ouvido. Esta o olhou um pouco surpresa e olhou para ela, que ficou vermelha na hora. O que será que ele tinha dito? Em seguida olhou para Minato que também estava um pouco confuso. Depois deu um sorriso amarelo e riu levemente. Disse algo a Minato sobre precisar sair em breve e que iria deixá-los aproveitar a noite, mas o cobrou que ainda devia uma comemoração com ela por ter se tornado gennin. Beijou-lhe na testa para se despedir e para sua surpresa, lhe deu um grande abraço, quase igual ao que dava nele, como se ela fosse uma filha.

Filha? Ela não estava pensando... ah, não! Que coisa. Olhando para Neji, este também não parecia muito satisfeito com as ações da acompanhante. Mas numa coisa concordava totalmente. Minato devia ser quase como um filho para ela, para a mesma agir assim e não perceber. Até que estava se sentindo contente de estar “aprovada” pela “mãe” dele, mas não queria que fossem empurrados assim um para o outro.

Viu ambos se afastarem e tratou de pegar o Minato e irem para a mesa depressa. Estava mesmo com fome, e da forma como ele ficou, muito contente de a ter visto ali e depois muito triste por se despedir, temia que podia ficar chateado o resto da noite, e ela não queria isso.

Pediram um prato de lagosta para dividirem por sugestão dele – dividir? Sentiu-se paquerada quando ele sugeriu aquilo, especialmente porque lagosta era sua comida favorita e já fazia anos que não experimentava – e conversaram um pouco sobre o incidente. Felizmente – ou talvez infelizmente, pois sentia um certo pesar quando se lembrava – ele não tocou no assunto do que ela queria fazer quando se aproximou de seu rosto.

- Você disse a ela que estaríamos aqui hoje? – começou ela tentando parecer casual.

- Sim, fui dizer que era um gennin, e ela queria comemorar conosco, mas eu já tinha um compromisso, e disse a ela.

Ficou tocada. Ele rejeitou comemorar com a mulher que tratava carinhosamente de mãe por ela? Por causa de um encontro quase que arranjado? Que graça que ele era quando demonstrava essas coisas. Tinha subido muito em seu conceito durante o teste com o sensei, sempre limpando e ajudando a preparar a comida, dividindo o treinamento e ajudando ela e Haruka a treinar, dando dicas do que descobria enquanto aprendia a fazer o clone das sombras. Sem isso ela não teria aprendido tão rápido. Mas agora subiu quase que o dobro.

- Mas você me parece triste...

- Só um pouco chateado – ele se virou para o salão onde as pessoas aproveitavam a musica para dançar – sempre que ela estava comigo parecia um pouco triste com algo, e é sempre sozinha. Deve ser difícil liderar um clã, apesar de eu não ter a menor idéia do que ela faz. Talvez seja coisa parecida com o trabalho da hokage. Fiquei muito contente dela estar passeando, se divertindo com um amigo. Queria mesmo que pudesse ficar mais.

Sob este ponto de vista, ela concordava com ele. Não duvidava que ele sentia que devia muito àquela mulher, alguém que o tratou como filho sempre que podia. Ela própria teve situações assim quando cuidavam dela. Em outra oportunidade, iria sugerir para que ele convidasse ela também, algo parecido como que houve com o sensei e o Kiba. Mas agora ele estava ali disponível para ela, e não queria dividi-lo. Mesmo com a mulher que agia como mãe.

Nem que ela fosse a mãe verdadeira dele ela ia fazer isso. Não naquela noite. E também tinha uma pequena promessa que ia adorar cumprir.

Quando a lagosta chegou, ela atacou a comida, lembrando-se de como estava com fome. E chegou a ficar acanhada quando ele fez menção de lhe dar comida na boca. Foram só umas poucas vezes, mas achou a ousadia dele grande. Infelizmente tinha se esquecido completamente de educadamente rejeitar algum avanço dele.

Ele a levou até em casa sendo um bom acompanhante, e aquela – apesar do pequeno susto que teve – tinha sido uma excelente noite para ela. Divertiu-se, viu o quanto seu loiraço podia corresponder aos seus interesses, e depois de muito tempo tinha voltado a comer uma lagosta. Ficaram ao pé das escadas que davam para o seu apartamento e ela o olhou atentamente. Tinha uma promessa para cumprir e ia cumprir. O segurou da mesma forma que fazia quando estavam dançando e tentou fazer a mesma expressão do rosto que tinha feito então. E foi se aproximando do rosto dele. Ele correspondeu ao beijo, e ela literalmente se esqueceu de manter aquilo em um beijo simples, talvez um pouco ousado, mas simples.

Eles se beijaram por bom tempo, até que ele mesmo interrompeu o beijo, para sua surpresa e tristeza. Mas ele estava certo. Era um passeio entre amigos, algo sem compromisso.

Pelo menos, não ainda!

- Obrigada pela noite, Minato-kun – disse ela de forma meiga – adorei mesmo.

- Eu também gostei – disse ele.

Ela lhe deu mais um beijo suave para se despedir de vez e subiu as escadas. Entrou no seu apartamento e foi direto para a sua cama sentar-se nela. Tinha um olhar aéreo, meio bobo, distraída. Estava lembrando-se do que sentiu quando ele a beijou na orelha, das emoções que tinham começado a fluir pelo seu corpo naquele momento. Não fosse a presença de Hinata, talvez tivesse se declarado a ele.

- Vocês fizeram alguma coisa? – perguntou desesperada Haruka que a tinha ficado observando desde que tinha entrado, e não tinha dito nada.

Ela olhou lentamente para ela e sorriu com uma safadeza enorme.

- Ainda não – disse ela.

Contou em detalhes como tinha sido a noite, da mesma forma que a amiga tinha feito. E deliciou-se com os ataques de ciúmes velados que ela sentiu. Especialmente na parte do beijo na orelha.


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Notas finais do capítulo

Bom, apesar de estar apertada a definição, o que ficou claro é que todos querem Haruka com a cadelinha. Só falta definir onde ela vai morar com a nova amiga.



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